Discursos Bento XVI 26112


AO TERCEIRO GRUPO DE BISPOS DA FRANÇA POR OCASIÃO DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» 30 de Novembro de 2012

30112
Sala do Consistório
Sexta-feira, 30 de Novembro de 2012




Senhor Cardeal
Queridos irmãos no episcopado

Conservo sempre viva a recordação da minha viagem apostólica à França por ocasião das celebrações do sesquicentenário das aparições de Nossa Senhora em Lourdes. Sois o terceiro e último grupo de bispos da França em visita ad limina. Agradeço, Eminência, as cordiais palavras. Dirigindo-me a quantos vos precederam, abri uma espécie de trilogia cujo indispensável suporte poderia ser o discurso que vos dirigi em Lourdes em 2008. A análise deste conjunto inseparável certamente será útil e orientará as vossas reflexões.

Vós sois responsáveis de regiões nas quais a fé cristã se radicou muito cedo e deu frutos admiráveis. Regiões ligadas a nomes célebres que trabalharam muito para o enraizamento e crescimento do Reino de Deus neste mundo: mártires como Potino e Blandina, grandes teólogos como Ireneu e Vicente de Lérins, mestres de espiritualidade cristã como Bruno, Bernardo, Francisco de Sales e muitos outros. A Igreja na França insere-se numa longa estirpe de santos, doutores, mártires e confessores da fé. Sois os herdeiros de uma grande experiência humana e de uma riqueza espiritual imensa que, consequentemente, são sem dúvida para vós fonte de inspiração na vossa missão de pastores.

Estas origens e este passado glorioso, sempre presentes no nosso pensamento e tão queridos ao nosso espírito, permitem-nos alimentar uma grande esperança, firme e corajosa ao mesmo tempo, no momento de enfrentar os desafios do terceiro milénio e de ouvir as expectativas dos homens da nossa época, aos quais só Deus pode dar uma resposta satisfatória. A Boa Nova que temos o dever de anunciar aos homens de todos os tempos, línguas e culturas, pode ser sintetizada em poucas palavras: Deus, criador do homem, no seu filho Jesus faz-nos conhecer o seu amor pela humanidade: «Deus é amor» (cf. ), Ele quer a felicidade das suas criaturas, de todos os seus filhos. A constituição pastoral Gaudium et spes (cf. n. 10) enfrentou as questões-chaves da existência humana, sobre o sentido da vida e da morte, do mal, da doença e do sofrimento, tão presentes no nosso mundo. Ela recordou que, na sua bondade paterna, Deus quis responder a todas estas questões e que Cristo fundou a sua Igreja para que todos os homens as pudessem conhecer. Portanto, um dos problemas mais graves da nossa época é a ignorância da prática religiosa na qual vivem muitos homens e mulheres, inclusive alguns fiéis católicos (cf. Christifideles laici, cap. V).

Por este motivo a nova evangelização, a favor da qual a Igreja se comprometeu decididamente a partir do concílio Vaticano II e com base na qual o motu proprio Ubicumque et semper delineou as principais modalidades, apresenta-se com uma particular urgência, como sublinharam os padres do Sínodo que se concluiu recentemente. Ela pede que todos os cristãos digam a razão da esperança que os anima (cf.
1P 3,15), ciente de que um dos obstáculos mais temíveis da nossa missão pastoral é o não conhecimento do conteúdo da fé. Trata-se na realidade de uma dupla ignorância: um desconhecimento da pessoa de Jesus Cristo e uma ignorância da sublimidade dos seus ensinamentos, do seu valor universal e permanente na busca do sentido da vida e da felicidade. Além disso, esta ignorância provoca nas novas gerações a incapacidade de compreender a história e de se sentir herdeiros desta tradição que modelou a vida, a sociedade, a arte e a cultura europeias.

No actual Ano da fé, a Congregação para a Doutrina da Fé, na nota de 6 de Janeiro de 2012, deu indicações pastorais desejáveis para mobilizar todas as energias da Igreja, a acção dos seus pastores e dos seus fiéis, a fim de animar em profundidade a sociedade. É o Espírito Santo que «rejuvenesce a Igreja com a força do Evangelho e renova-a continuamente» (Lumen gentium LG 4). Esta nota recorda que «qualquer iniciativa para o Ano da fé deseja favorecer a redescoberta jubilosa e o testemunho renovado da fé. O objectivo das orientações oferecidas nela é convidar todos os membros da Igreja a comprometer-se a fim de que este Ano seja uma ocasião privilegiada para compartilhar o bem mais precioso que o cristão possui: Cristo Jesus, Redentor do homem, Rei do Universo, “autor e consumador da fé” (He 12,2)». O Sínodo dos bispos propôs recentemente a todos e a cada um os meios para levar a cabo esta missão. O exemplo do nosso divino Mestre é sempre o fundamento de toda a nossa reflexão e da nossa acção. Oração e acção, estes são os meios que o nosso Salvador nos pede ainda e sempre que utilizemos.

A nova evangelização será eficaz se comprometer profundamente as comunidades e as paróquias. Os sinais de vitalidade e o compromisso com os fiéis leigos na sociedade francesa já constituem uma realidade que anima. No passado os compromissos dos leigos foram numerosos, penso em Pauline-Mari Jaricot, da qual celebrámos o sesquicentenário do falecimento, e na sua obra para a difusão da fé, tão determinante para as missões católicas no secúlos XIX e XX. Os leigos, com os seus bispos e sacerdotes, são protagonistas na vida da Igreja e na sua missão de evangelização. O concílio Vaticano ii em vários documentos (Lumen gentium, Apostolicam actuositatem, entre outros) sublinhou a especificidade da sua missão: permear as realidades humanas com o espírito do Evangelho. Os leigos são o rosto do mundo na Igreja e, ao mesmo tempo, a face da Igreja no mundo. Conheço o valor e a qualidade do apostolado multiforme dos leigos, homens e mulheres. Uno a minha voz à vossa para lhes expressar os meus sentimentos de estima.

A Igreja na Europa e na França não pode ficar indiferente diante da diminuição das vocações e das ordenações sacerdotais nem dos outros tipos de chamadas que Deus suscita na Igreja. É urgente mobilizar todas as energias disponíveis a fim de que os jovens possam escutar a voz do Senhor. Deus chama quem ele quer e quando quer. Todavia, as famílias cristãs e as comunidades fervorosas permanecem terrenos particularmente favoráveis. Portanto, estas famílias, estas comunidades e estes jovens estão no centro de cada iniciativa de evangelização, não obstante um contexto cultural e social marcado pelo relativismo e pelo hedonismo.

Sendo os jovens a esperança e o futuro da Igreja e do mundo, não quero deixar de mencionar a importância da educação católica. Ela desempenha uma tarefa admirável, muitas vezes difícil, graças a uma dedicação incansável dos formadores: sacerdotes, pessoas consagradas ou leigos. Além da transmissão do saber, o testemunho de vida dos formadores deve permitir que os jovens assimilem os valores humanos e cristãos a fim de se dedicarem à busca e ao amor pelo verdadeiro e o que é bom (cf. Gaudium et spes GS 15). Continuai a encorajá-los e a abrir-lhes novas perspectivas para que beneficiem também da evangelização. Os institutos católicos estão claramente em primeiro lugar no grande diálogo entre fé e cultura. O amor pela verdade que eles irradiam já em si é evangelizador. São âmbitos de ensino e de diálogo, e também centros de pesquisa, que devem ser cada vez mais desenvolvidos e ambiciosos. Conheço bem a contribuição que a Igreja na França deu à cultura cristã. Estou informado — e encorajo-vos neste sentido — sobre a atenção que dedicais para cultivar o rigor académico e para tecer laços mais intensos de comunicação e de colaboração com as universidades de outros países, quer para que beneficiem dos âmbitos nos quais vós representais uma excelência, quer para que aprendais deles, a fim de servir cada vez melhor a Igreja, a sociedade e o homem todo. Realço com gratidão as iniciativas tomadas nalgumas vossas dioceses para favorecer a iniciação teológica dos jovens estudantes de disciplinas profanas. A teologia é uma fonte de sabedoria, de alegria, de maravilha que não pode ser reservada só aos seminaristas, aos sacerdotes e às pessoas consagradas. Proposta a numerosos jovens e adultos, ela confortar-los-á na fé e tornar-los-á, sem dúvida alguma, apóstolos corajosos e convincentes. Por conseguinte, é uma perspectiva que poderia ser amplamente proposta aos institutos superiores de teologia, como expressão da dimensão intrinsecamente missionária da teologia e como serviço da cultura no seu significado mais profundo.

No que diz respeito às escolas católicas que modelaram a vida cristã e cultural do vosso país, elas hoje têm uma responsabilidade histórica. Âmbito de transmissão do saber e de formação da pessoa, de acolhimento incondicional e de aprendizagem da vida em comum, gozam muitas vezes de um prestígio merecido. É necessário encontrar os percursos a fim de que a transmissão da fé permaneça no centro do seu projecto educativo. A nova evangelização realiza-se mediante estas escolas e através da obra multiforme da educação católica que estão na base de numerosas iniciativas e movimentos, em relação aos quais a Igreja manifesta a sua gratidão. Educar para os valores cristãos é a chave da cultura do vosso país. Ao abrir à esperança e à liberdade autêntica, ela continuará a proporcionar-lhe dinamismo e criatividade. O fervor conferido à nova evangelização será o nosso melhor contributo para o desenvolvimento da sociedade humana e a melhor resposta a qualquer tipo de desafios, que todos devem enfrentar neste início do terceiro milénio.

Queridos irmãos no episcopado, confio todos vós, assim como o vosso trabalho pastoral e o conjunto das comunidade que vos foram confiadas, à solicitude materna da Virgem Maria que vos acompanhará na vossa missão ao longo dos anos vindouros! E como afirmei antes de deixar a França em 2008: «Acompanhar-vos-ei de Roma e quando me detiver junto da reprodução da Gruta de Lourdes, que se encontra nos jardins do Vaticano há mais de um século, pensarei em vós. Que Deus vos abençoe!».





AOS TRABALHADORES DO MUNDO DO ESPECTÁCULO ITINERANTE Sábado, 1 de Dezembro de 2012

11212
PROMOVIDO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES Sala Paulo VI


Prezados irmãos e irmãs

Estou feliz por dar as boas-vindas a todos vós, e agradeço também as vossas boas-vindas! Viestes aqui tão numerosos, para vos encontrardes com o Sucessor de São Pedro e para manifestar, também em nome de muitos que trabalham no mundo do espectáculo itinerante, a alegria de ser cristãos e de pertencer à Igreja. Saúdo e agradeço ao Cardeal Antonio Maria Vegliò, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes que, em colaboração com a Diocese de Roma e com a Fundação Migrantes, da Conferência Episcopal Italiana, organizou este evento. Obrigado Eminência! Estou grato também aos vossos representantes, que nos ofereceram os seus testemunhos e um bonito pequeno espectáculo, assim como a quantos contribuíram para preparar este encontro, que se insere no Ano da fé, ocasião importante para professar abertamente a fé em Senhor Jesus.

O que distingue antes de tudo a vossa grande família é a capacidade de usar a linguagem particular e específica da vossa arte. A alegria dos espectáculos, o júbilo recreativo do jogo, a graça das coreografias e o ritmo da música constituem precisamente uma forma imediata de comunicação para nos pormos em diálogo com crianças e adultos, suscitando sentimentos de serenidade, alegria e concórdia. Com a variedade das vossas profissões e a originalidade das exibições, vós sabeis causar admiração e suscitar maravilha, oferecer ocasiões de festa e de diversão sadia.

Estimados amigos, precisamente a partir destas características e com o vosso estilo, sois chamados a dar testemunho daqueles valores que fazem parte da vossa tradição: o amor pela família, o cuidado dos mais pequeninos, a atenção aos portadores de deficiência, a solicitude pelos enfermos, a valorização dos idosos e do seu património de experiências. No vosso ambiente conservam-se vivos o diálogo entre as gerações, o sentido da amizade e o gosto pelo trabalho de grupo. Acolhimento e hospitalidade são-vos próprios, assim como a atenção a dar respostas aos desejos mais autênticos, principalmente das jovens gerações. As vossas profissões exigem renúncia e sacrifício, responsabilidade e perseverança, coragem e generosidade: virtudes que a sociedade contemporânea nem sempre aprecia, mas que contribuíram para formar, na vossa grande família, gerações inteiras. Conheço também os numerosos problemas ligados à vossa condição itinerante, como a instrução dos filhos, a busca de lugares adequados para os espectáculos, as licenças para as representações e as autorizações de residência para os estrangeiros. Enquanto formulo votos a fim de que as Administrações públicas, reconhecendo a função social e cultural do espectáculo itinerante, se comprometam a favor da tutela da vossa categoria, encorajo tanto vós como a sociedade civil a superar todos os preconceitos e a procurar sempre uma boa inserção nas realidades locais.

Caros irmãos e irmãs, a Igreja alegra-se pelo compromisso que demonstrais e aprecia a fidelidade às tradições, das quais vos sentis justamente orgulhosos. Ela mesma que, como vós, é peregrina neste mundo, convida-vos a participar na sua missão divina através do vosso trabalho quotidiano. A dignidade de cada homem exprime-se também na prática honesta das profissionalidades adquiridas e na observância daquela gratuidade que permite não se deixar determinar por vantagens económicas. Assim também vós, enquanto prestais atenção à qualidade das vossas realizações e dos espectáculos, não deixeis de velar a fim de que, mediante os valores do Evangelho, possais continuar a oferecer às jovens gerações a esperança e o encorajamento de que elas precisam, sobretudo em relação às dificuldades da vida, às tentações do desânimo, do fechamento em si e do pessimismo, que impedem captar a beleza da existência.

Não obstante a vida itinerante vos impeça de fazer parte estavelmente de uma comunidade paroquial e não facilite a participação regular na catequese e no culto divino, também no vosso mundo se torna necessária uma nova evangelização. Faço votos a fim de que possais encontrar, no seio das comunidades nas quais permaneceis, pessoas acolhedoras e e disponíveis, capazes de ir ao encontro das vossas necessidades espirituais. No entanto, não esqueçais que a família é o âmbito principal de transmissão da fé, a pequena igreja doméstica chamada a fazer conhecer Jesus e o seu Evangelho, e a educar em conformidade com a lei de Deus, a fim de que cada um possa alcançar a plena maturidade humana e cristã (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio
FC 2). As vossas famílias sejam sempre escolas de fé e de caridade, centros de comunhão e de fraternidade.

Prezados artistas e trabalhadores no mundo do espectáculo itinerante, repito-vos aquilo que afirmei no início do meu Pontificado: «Não há nada de mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade... Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta» (Homilia na Santa Missa para o início do Pontificado, 24 de Abril de 2005). Ao assegurar-vos a proximidade da Igreja, que compartilha o vosso caminho, confio todos vós à Santa Virgem Maria, a «estrela do caminho» que, com a sua presença materna, nos acompanha em cada momento da vida.

Queridos amigos, o vosso carisma consiste em transmitir aos outros a alegria, o sentido da festa e da beleza. Que a vossa alegria encontre a sua fonte em Deus, e que ela seja fortemente associada à confiança nele e no seu amor, uma alegria cheia de humildade e de fé. Portanto, tornai-vos imitadores de Deus e caminhai na caridade (cf. Ef Ep 5,1-2), levando a todos a alegria da fé.

Dilectos amigos, vós propagais ao vosso redor uma atmosfera jubilosa e aliviais o peso do trabalho quotidiano. Sede também homens e mulheres dotados de uma vigorosa interioridade, abertos à contemplação e ao diálogo com Deus. Rezo a fim de que a vossa fé em Cristo e a vossa devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria possam sustentar-vos na vossa vida e no vosso trabalho.

Estimados amigos, o vosso mundo pode tornar-se um laboratório no âmbito das grandes temáticas do ecumenismo e do encontro com as pessoas pertencentes a outras religiões. Que a vossa fé vos oriente para serdes testemunhas autênticas de Deus e do seu amor, comunidades unidas na fraternidade, na paz e na solidariedade.

Prezados amigos profissionais do espectáculo itinerante, na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, no parágrafo dedicado aos emigrantes, eu manifestei o meu desejo de que «se façam eles mesmos anunciadores da Palavra de Deus e testemunhas do Senhor ressuscitado, esperança do mundo» (n. 105). Hoje, com grande confiança, reitero também a vós este desejo, e aos agentes de pastoral que vos acompanham com dedicação admirável.

A cada um de vós e às vossas famílias e comunidades, concedo de coração a Bênção Apostólica. Obrigado!



AOS PARTICIPANTES NA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ» Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2012

31212
Sala do Consistório




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Prezados irmãos e irmãs

Estou feliz por vos acolher por ocasião da vossa Assembleia Plenária. Saúdo o Cardeal Presidente, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu, assim como ao Monsenhor Secretário, aos Oficiais do Dicastério e a todos vós, Membros e Consultores, reunidos para este importante momento de reflexão e de programação. A vossa Assembleia celebra-se durante o Ano da fé, depois do Sínodo dedicado à nova evangelização, assim como no quinquagésimo aniversário do Concílio Vaticano II e — daqui a poucos meses — da Encíclica Pacem in terris, do Beato Papa João XXIII. Trata-se de um contexto que por si só já oferece múltiplos estímulos.

Como nos ensinou o Beato Papa João Paulo II, a doutrina social faz parte integrante da missão evangelizadora da Igreja (cf. Encíclica Centesimus annus
CA 54) e, com maior razão, deve ser considerada importante para a nova evangelização (cf. ibid., 5; Encíclica Caritas in veritate ). Recebendo Jesus Cristo e o seu Evangelho, não apenas na vida pessoal, mas também nas relações sociais, tornamo-nos portadores de uma visão do homem, da sua dignidade, liberdade e relacionalidade, que é caracterizada pela transcendência, tanto no sentido horizontal como vertical. Da antropologia integral, que deriva da Revelação e do exercício da razão natural, dependem a fundação e o significado dos direitos e dos deveres humanos, como nos recordou o Beato João XXIII, precisamente na Pacem in terris (cf. n. 9). Com efeito, os direitos e os deveres não têm como fundamento único e exclusivo a consciência social dos povos, mas dependem primariamente da lei moral natural, inscrita por Deus na consciência de cada pessoa e, portanto, em última análise, da verdade acerca do homem e da sociedade.

Embora a defesa dos direitos tenha alcançado grandes progressos no nosso tempo, a cultura contemporânea, caracterizada entre outros por um individualismo utilitarista e por um economicismo tecnocrático, tende a desvalorizar a pessoa. Ela é concebida como um ser «fluido», sem uma consistência permanente. Não obstante esteja imerso numa rede infinita de relações e de comunicações, paradoxalmente, o homem de hoje parece muitas vezes um ser isolado, porque é indiferente a propósito da relação constitutiva do seu ser, que é a raiz de todos os demais relacionamentos, a relação com Deus. O homem contemporâneo é considerado em chave predominantemente biológica, ou como «capital humano», «recurso», parte de uma engrenagem produtiva e financeira que lhe é sobranceira. Se, por um lado, se continua a proclamar a dignidade da pessoa, por outro, novas ideologias — como a hedonista e egoísta dos direitos sexuais e reprodutivos, ou a de um capitalismo financeiro desregrado, que transgride sobre a política e desestrutura a economia real — contribuem para considerar o trabalhador dependente e o seu trabalho como bens «menores» e para ameaçar os fundamentos naturais da sociedade, especialmente a família. Na realidade o ser humano, constitutivamente transcendente em relação aos demais seres e bens terrenos, goza de um primado real que o põe como responsável por si mesmo e pela criação. Concretamente, para o Cristianismo, o trabalho é um bem fundamental para o homem, em vista da sua personalização, da sua socialização, da formação de uma família, da contribuição para o bem comum e para a paz. Precisamente por este motivo, a finalidade do acesso ao trabalho para todos é sempre prioritária, inclusive nos períodos de recessão da economia (cf. Caritas in veritate ).

De uma nova evangelização do social podem derivar um humanismo novo e um renovado compromisso cultural e projectual. Ela ajuda a destronizar os ídolos modernos, a substituir o individualismo, o consumismo materialista e a tecnocracia, com a cultura da fraternidade e da gratuidade, do amor solidário. Jesus Cristo resumiu e cumpriu os preceitos num novo mandamento: «Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros» (Jn 13,34); aqui está o segredo de toda a vida social plenamente humana e pacífica, assim como da renovação da política e das instituições nacionais e mundiais. O Beato Papa João XXIII motivou o compromisso em prol da construção de uma comunidade mundial, com uma autoridade correspondente, movendo precisamente a partir do amor, e exactamente do amor pelo bem comum da família humana. Assim lemos na Pacem in terris: «Existe, evidentemente, uma relação intrínseca entre o conteúdo histórico do bem comum e a configuração e o funcionamento dos Poderes públicos. Porquanto, assim como a ordem moral requer uma autoridade pública para a obtenção do bem comum na convivência humana, postula também, consequentemente, que esta autoridade seja capaz de conseguir o fim proposto» (n. 71).

Sem dúvida, a Igreja não tem a tarefa de sugerir, sob os pontos de vista jurídico e político, a configuração concreta de tal ordenamento internacional, mas oferece a quantos têm esta responsabilidade, aqueles princípios de reflexão, critérios de juízo e orientações práticas que possam garantir a urdidura antropológica e ética em volta do bem comum (cf. Encíclica Caritas in veritate ). De qualquer modo, na reflexão é necessário recordar-se que não se deveria imaginar um superpoder, concentrado nas mãos de poucos, que dominaria sobre todos os povos explorando os mais frágeis, mas que qualquer autoridade deve ser entendida, antes de tudo, como uma força moral, faculdade de influir segundo a razão (cf. Pacem in terris PT 27), ou seja, como autoridade participada, limitada por competência e pelo direito.

Agradeço ao Pontifício Conselho «Justiça e Paz» porque, juntamente com outras Instituições pontifícias, se propôs aprofundar as orientações que ofereci na Caritas in veritate. E isto, quer mediante as reflexões para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional, quer através da Assembleia Plenária destes dias e do Seminário internacional sobre a Pacem in terris, que terá lugar no próximo ano.

A Virgem Maria, Aquela que com fé e amor acolheu em si o Salvador para O oferecer ao mundo, nos oriente no anúncio e no testemunho da doutrina social da Igreja, a fim de tornarmos mais eficaz a nova evangelização. Com estes votos, é de bom grado que concedo a minha Bênção Apostólica a cada um de vós.



À COMUNIDADE DO VENERÁVEL COLÉGIO INGLÊS DE ROMA Sala Clementina, Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2012

31222


Amados Irmãos Bispos
Monsenhor Hudson
Estudantes e Funcionários do Venerável Colégio Inglês

É com grande prazer que vos dou as boas-vindas ao Palácio Apostólico, a Casa de Pedro. Saúdo o meu Venerável Irmão, Cardeal Cormac Murphy-O’Connor, ex-Reitor do Colégio, e agradeço ao Arcebispo Vincent Nichols as suas amáveis palavras, pronunciadas em nome de todos os presentes. Também eu me recordo, com profunda acção de graças no meu coração, dos dias que passei no vosso país em Setembro de 2010. Com efeito, naquela circunstância tive a alegria de me encontrar com alguns de vós no Oscott College, e rezo a fim de que o Senhor continue a despertar muitas e santas vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa na vossa pátria.

Através da graça de Deus, a comunidade católica na Inglaterra e no País de Gales é abençoada com uma longa tradição de zelo pela fé e de lealdade à Sé Apostólica. Praticamente na mesma época em que os vossos antepassados saxões edificavam a Schola Saxonum, estabelecendo assim uma sua presença em Roma, próxima do túmulo de Pedro, são Bonifácio dedicava-se à evangelização dos povos da Germânia. Assim, como ex-sacerdote e Arcebispo da Sede de München und Freising, que deve a sua fundação a este grande missionário inglês, estou consciente de que a minha ascendência espiritual está vinculada à vossa. Ainda antes, naturalmente, o meu predecessor, Papa Gregório o Grande, sentiu-se impelido a enviar Agostinho de Canterbury ao vosso litoral, para lançar as sementes da fé cristã no solo anglo-saxão. Os frutos daquele empreendimento missionário são demasiado evidentes ao longo de seiscentos e cinquenta anos de história de fé e de martírio que distingue o Hospício Inglês de S. Tomás Becket e o Venerável Colégio Inglês que dele nasceu.

Potius hodie quam cras, como são Ralph Sherwin respondeu quando lhe pediram para prestar o juramento missionário, «melhor hoje do que amanhã». Estas palavras manifestam adequadamente o seu desejo ardente de manter acesa na Inglaterra a chama da fé, à custa de sacrifício pessoal. Aqueles que verdadeiramente encontraram Cristo são incapazes de manter o silêncio acerca dele. Como o próprio são Pedro disse aos anciãos e escribas de Jerusalém, «Não podemos deixar de falar daquilo que vimos e ouvimos» (
Ac 4,20). São Bonifácio, santo Agostinho de Canterbury e são Francisco Xavier, cuja festa celebramos hoje, assim como muitos outros santos missionários mostram-nos como o amor intenso pelo Senhor comporta um profundo desejo de levar outras pessoas a conhecê-lo. Também vós, no seguimento das pegadas dos mártires do Colégio, sois homens escolhidos por Deus para propagar a mensagem do Evangelho nos dias de hoje, na Inglaterra e no País de Gales, no Canadá e na Escandinávia. Os vossos predecessores enfrentaram uma possibilidade concreta de martírio, e é bom e justo que venereis a memória gloriosa daqueles quarenta e quatro ex-alunos do vosso Colégio que derramaram o seu sangue por Cristo. Sois chamados a imitar o seu amor pelo Senhor e o zelo com que O deram a conhecer, potius hodie quam cras. Podeis depositar com confiança as consequências e os frutos nas mãos de Deus.

Portanto, a vossa primeira tarefa consiste em conhecer vós mesmos Cristo, e o tempo que passais no seminário oferece-vos uma oportunidade privilegiada para o fazer. Aprendei a rezar diariamente, de modo especial na presença do Santíssimo Sacramento, ouvindo com atenção a palavra de Deus e permitindo que o coração fale ao coração, como diria o beato John Henry Newman. Recordai-vos dos dois discípulos do primeiro capítulo do Evangelho de São João, que seguiam Jesus e queriam saber onde Ele morava e, como eles, respondei com prontidão ao seu convite: «Vinde ver» (cf. 1, 37-39). Permiti que o fascínio da sua pessoa capture a vossa imaginação e aquecer o vosso coração. Ele escolheu-vos para ser seus amigos, não seus servos, e convida-vos a participar na sua obra sacerdotal de realização da salvação do mundo. Ponde-vos completamente à sua disposição e permiti que vos forme para qualquer tarefa que Ele possa ter em mente para vós.

Ouvistes falar muito da nova evangelização, da proclamação de Cristo naquelas regiões do mundo onde o Evangelho já foi anunciado mas onde, em maior ou menor medida, as brasas da fé arrefeceram e agora devem ser novamente ateadas para se tornarem uma chama. O mote do vosso Colégio fala sobre o desejo de Cristo, de trazer o fogo sobre a terra, e tendes a missão de servir como seus instrumentos para reavivar a fé nas vossas respectivas terras. Na Sagrada Escritura, o fogo muitas vezes serve para indicar a presença divina, quer se trate da sarça ardente a partir da qual Deus revelou o seu Nome a Moisés, da coluna de fogo que guiou o povo de Israel no seu caminho da escravidão para a liberdade, ou das línguas de fogo que desceram sobre os apóstolos no Pentecostes, permitindo que eles partissem, no poder do Espírito, para proclamar o Evangelho até aos extremos confins da terra. Do mesmo modo como uma pequena chama pode incendiar uma grande floresta (cf. Tg Jc 3,5), assim o testemunho fiel de poucos pode fazer libertar o poder purificador e transformador do amor de Deus, a fim de que se propague como um relâmpago numa comunidade ou numa nação. Portanto, como os mártires da Inglaterra e do País de Gales permiti que os vossos corações ardam de amor por Cristo, pela Igreja e pela Missa.

Quando visitei o Reino Unido, constatei pessoalmente que existe uma grande fome espiritual entre as pessoas. Levai-lhes o alimento autêntico que deriva de conhecer, amar e servir Cristo. Anunciai-lhes com amor a verdade do Evangelho. Oferecei-lhes a água viva da fé cristã e orientai-as para o pão da vida, a fim de que a sua fome e a sua sede sejam saciadas. Mas sobretudo, permiti que a luz de Cristo resplandeça através de vós, levando uma vida de santidade, seguindo as pegadas dos números e grandes santos da Inglaterra e do País de Gales, santos e santas que deram testemunho do amor de Deus também à custa da própria vida. O Colégio do qual fazeis parte, o ambiente em que viveis e estudais, a tradição da fé e o testemunho cristão que vos formou: tudo isto é santificado pela presença de muitos santos. Aspirai por ser incluídos no seu número!

Tende a certeza da minha recordação afectuosa nas preces por vós e por todos os ex-alunos do Venerável Colégio Inglês. Faço minhas as saudações ouvidas muitas vezes dos lábios de um grande amigo e vizinho do Colégio, são Filipe Neri, Salvete, flores martyrum! Enquanto confio cada um de vós e todos aqueles para junto dos quais o Senhor vos envia, à intercessão amorosa de Nossa Senhora de Walsingham, concedo-vos de bom grado a minha Bênção Apostólica como penhor de paz e de alegria no Senhor Jesus Cristo.



AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL 7 de dezembro de 2012

7122
Sala dos Papas do Palácio Apostólico
Sexta-feira, 7 de dezembro de 2012






Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Professores

É com grande alegria que vos recebo, no final dos trabalhos da vossa Sessão Plenária anual. Saúdo de coração o vosso Presidente, D. Gerhard Ludwig Müller, a quem agradeço as palavras que me dirigiu em nome de todos, assim como o novo Secretário-Geral, Pe. Serge-Thomas Bonino.

A vossa Sessão Plenária realizou-se no contexto do Ano da fé, e estou profundamente grato pelo facto de a Comissão Teológica Internacional ter manifestado a sua adesão a este acontecimento eclesial através de uma peregrinação à Basílica Papal de Santa Maria Maior, para confiar à Virgem Maria, praesidium fidei, os trabalhos da vossa Comissão e para rezar por todos aqueles que, in medio Ecclesiae, se dedicam a fazer frutificar a inteligência da fé, para o benefício e a alegria espirituais de todos os fiéis. Obrigado por este gesto extraordinário. Exprimo o meu apreço pela Mensagem que redigistes por ocasião do corrente Ano da fé. Ela esclarece oportunamente o modo específico como os teólogos, servindo com fidelidade a verdade da fé, podem participar no impulso evangelizador da Igreja.

Esta Mensagem retoma os temas que desenvolvestes mais amplamente no documento «A teologia hoje. Perspectivas, princípios e critérios», publicado no início deste ano. Reconhecendo a vitalidade e a variedade da teologia depois do Concílio Vaticano II, este documento tenciona apresentar, por assim dizer, o código genético da teologia católica, ou seja, os princípios que definem a sua própria identidade e, por conseguinte, garantem a sua unidade na diversidade das suas realizações. Com esta finalidade, o texto esclarece os critérios para uma teologia autenticamente católica e, portanto, capaz de contribuir para a missão da Igreja, para o anúncio do Evangelho a todos os homens. Num contexto cultural onde alguns são tentados ou a privar a teologia de um estatuto académico por causa do seu vínculo intrínseco com a fé, ou a prescindir da dimensão crente e confessional da teologia, com o risco de a confundir e de a reduzir às ciências religiosas, o vosso documento recorda de modo oportuno que a teologia é inseparavelmente confessional e racional, e que a sua presença no interior da instituição universitária garante, ou deveria garantir, uma visão ampla e integral da própria razão humana.

Entre os critérios da teologia católica, o documento menciona a atenção que os teólogos devem reservar ao sensus fidelium. É muito útil que a vossa Comissão se tenha concentrado também sobre este tema, que é de importância particular para a reflexão acerca da fé e para a vida da Igreja. O Concílio Vaticano II, reiterando o papel específico e insubstituível que compete ao Magistério, ressaltou no entanto que o conjunto do Povo de Deus participa da missão profética de Cristo, realizando assim o desejo inspirado, expresso por Moisés: «Quisera Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito!» (
Nb 11,29). A este propósito, a Constituição dogmática Lumen gentium ensina: «A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cf. ), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé de todo o povo quando este, “desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis”, manifesta o consenso universal em matéria de fé e de moral» (n. 12). Este dom, o sensus fidei, constitui no fiel uma espécie de instinto sobrenatural que tem uma conaturalidade vital com o próprio objecto da fé. Observemos que precisamente os simples fiéis trazem consigo esta certeza, esta segurança do sentido da fé. O sensus fidei é um critério para discernir se uma verdade pertence ou não ao depósito vivo da tradição apostólica. Apresenta também um valor propositivo, porque o Espírito Santo não cessa de falar às Igrejas e de as orientar para toda a verdade. Hoje, no entanto, é particularmente importante especificar os critérios que permitem distinguir entre o sensus fidelium autêntico e as suas imitações. Na realidade, ele não é uma espécie de opinião pública eclesial, e não é pensável que possa mencioná-lo para contestar os ensinamentos do Magistério, uma vez que o sensus fìdei não pode desenvolver-se autenticamente no crente, a não ser na medida em que ele participa plenamente na vida da Igreja, e isto exige a adesão responsável ao seu Magistério, ao depósito da fé.

Hoje, este mesmo sentido sobrenatural da fé dos crentes leva a reagir com vigor também contra o preconceito, segundo o qual as religiões, e de modo particular as religiões monoteístas, seriam intrinsecamente portadoras de violência, sobretudo por causa da pretensão que elas manifestam da existência de uma verdade universal. Alguns consideram que apenas o «politeísmo dos valores» garantiria a tolerância e a paz civil, e estaria em conformidade com o espírito de uma sociedade democrática pluralista. Neste sentido, os vossos estudos sobre o tema «Deus-Trindade, unidade dos homens. Cristianismo e monoteísmo» é de profunda actualidade. Por um lado, é essencial recordar que a fé no Deus único, Criador do céu e da terra, encontra as exigências racionais da reflexão metafísica, que não é debilitada mas fortalecida e aprofundada pela Revelação do mistério do Deus-Trindade. Por outro, é necessário ressaltar a forma que a Revelação definitiva do Mistério do único Deus adquire na vida e na morte de Jesus Cristo, que vai ao encontro da Cruz como «Cordeiro conduzido ao matadouro» (Is 53,7). O Senhor atesta uma rejeição radical de todas as formas de ódio e violência a favor do primado absoluto do agape. Por conseguinte, se na história houve ou há formas de violência perpetradas em nome de Deus, elas não devem ser atribuídas ao monoteísmo, mas a causas históricas, principalmente aos erros dos homens. Ao contrário, é precisamente o esquecimento de Deus que imerge as sociedades humanas numa forma de relativismo, que gera inevitavelmente a violência. Quando se nega a todos a possibilidade de se referirem a uma verdade objectiva, o diálogo torna-se impossível e a violência, declarada ou escondida, torna-se a regra dos relacionamentos humanos. Sem a abertura ao transcendente, que permite encontrar respostas às interrogações sobre o sentido da vida e a maneira de viver de modo moral, sem esta abertura o homem torna-se incapaz de agir em conformidade com a justiça e de se comprometer em prol da paz.

Se a ruptura da relação dos homens com Deus acarreta um profundo desequilíbrio nos relacionamentos entre os próprios homens, a reconciliação com Deus, levada a cabo pela Cruz de Cristo, «nossa paz» (Ep 2,14), é a nascente fundamental da unidade e da fraternidade. É nesta perspectiva que se insere também a vossa reflexão sobre o terceiro tema, que é o da doutrina social da Igreja, no conjunto da doutrina da fé. Ela confirma que a doutrina social não constitui um acréscimo extrínseco mas, sem descuidar a contribuição de uma filosofia social, extrai os seus princípios fundamentais das fontes da própria fé. Esta doutrina procura tornar efectivo, na grande diversidade das situações sociais, o novo mandamento que o Senhor Jesus nos deixou: «Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros» (Jn 13,34).

Oremos à Virgem Imaculada, modelo de quantos ouvem e meditam a Palavra de Deus, para que vos obtenha a graça de servir sempre jubilosamente a inteligência da fé a favor da Igreja inteira. Enquanto vos renovo a expressão do meu profundo agradecimento pelo vosso serviço eclesial, asseguro-vos a minha proximidade constante na oração e concedo a todos vós a minha Bênção Apostólica.



Discursos Bento XVI 26112