
Bento XVI Homilias 9907
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Queridos irmãos e irmãs!
Voltei de bom grado entre vós para presidir esta solene celebração eucarística, aceitando o vosso repetido convite. Voltei com alegria para me encontrar com a vossa comunidade diocesana, que por diversos anos foi de modo particular também a minha e que é para mim sempre querida. Saúdo-vos a todos com afecto. Saúdo, em primeiro lugar, o Senhor Cardeal Francis Arinze, que me sucedeu como Cardeal Titular desta Diocese; saúdo o vosso Pastor, o querido D. Vincenzo Apicella, ao qual agradeço as bonitas palavras de boas-vindas com as quais me recebeu em vosso nome. Saúdo os demais Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, agentes de pastoral, os jovens e quantos estão activamente comprometidos nas paróquias, movimentos, associações e nas várias actividades diocesanas. Saúdo o Comissário da Prefeitura de Velletri, os Presidentes Municipais da Diocese de Velletri-Segni e as outras Autoridades civis e militares, que nos honram com a sua presença.
Saúdo quantos vieram de outras partes, em particular da Alemanha, da Baviera, para se unirem a nós neste dia de festa. Laços de amizade unem a minha terra natal com a vossa: disto dá testemunho a coluna de bronze que me foi oferecida em Marktl am Inn em Setembro do ano passado, por ocasião da viagem apostólica na Alemanha. Recentemente foi-me oferecida, como já disse, por cem municípios da Baviera, quase uma similar desta coluna que será colocada aqui em Velletri, como ulterior sinal do meu afecto e da minha benevolência. Ela será o sinal da minha presença espiritual entre vós. A este propósito desejo agradecer os doadores, o escultor e os presidentes municipais que vejo aqui presentes com tantos amigos. Obrigado a todos vós!
Queridos irmãos e irmãs, sei que vos preparastes para esta minha visita através de um intenso caminho espiritual, adoptando como lema um versículo muito significativo da Primeira Carta de João: "Nós reconhecemos e cremos no amor que Deus nos tem" (1Jn 4,6). Deus caritas est, Deus é amor: com estas palavras inicia a minha primeira Encíclica, que diz respeito ao centro da nossa fé: a imagem cristã de Deus e a consequente imagem do homem e do seu caminho. Alegro-me por terdes escolhido como guia do itinerário espiritual e pastoral da Diocese precisamente esta expressão: "Nós reconhecemos e cremos no amor que Deus nos tem". Acreditamos no amor: esta é a essência do cristianismo. A nossa assembleia litúrgica de hoje não pode deixar de se centralizar sobre esta verdade essencial, sobre o amor de Deus, capaz de imprimir à existência humana uma orientação e um valor absolutamente novos. O amor é a essência do Cristianismo, que torna o crente e a comunidade cristã fermento de esperança e de paz em todos os ambientes, atentos especialmente às necessidades dos pobres e dos necessitados. E é esta a nossa missão comum: ser fermento de esperança e de paz, porque cremos no amor. O amor faz viver a Igreja, e dado que ele é eterno, fá-la vivê-lo sempre até ao fim dos tempos.
Nos domingos passados, São Lucas, o evangelista que mais que os outros se preocupa por mostrar o amor que Jesus tem pelos pobres, ofereceu-nos diversos temas de reflexão sobre os perigos de um excessivo apego ao dinheiro, aos bens materiais e a tudo o que nos impede de viver em plenitude a nossa vocação para amar Deus e os irmãos. Também hoje, através de uma parábola que provoca em nós uma certa admiração porque se fala de um administrador desonesto que é elogiado (cf. Lc 16,1-13), vendo bem, o Senhor reserva-nos um sério e muito saudável ensinamento. Como sempre o Senhor inspira-se em acontecimentos da vida quotidiana: narra sobre um administrador que está para ser despedido pela desonesta gestão dos negócios do seu patrão e, para garantir o seu futuro, procura com astúcia pôr-se de acordo com os devedores. É sem dúvida um desonesto, mas astuto: o Evangelho não no-lo apresenta como modelo para seguir na sua desonestidade, mas como um exemplo a ser imitado pela sua habilidade previdente. De facto, a breve parábola concluiu-se com estas palavras: "O senhor elogiou o administrador desonesto por ter procedido prudentemente" (Lc 16,8).
Mas que nos quer dizer Jesus com esta parábola? Com esta conclusão surpreendente? À parábola do administrador infiel, o evangelista faz seguir uma breve série de afirmações e de advertências sobre a relação que devemos ter com o dinheiro e com os bens desta terra. São pequenas frases que convidam a uma opção que pressupõe uma decisão radical, uma constante tensão interior. Na realidade, a vida é sempre uma opção: entre honestidade e desonestidade, entre fidelidade e infidelidade, entre egoísmo e altruísmo, entre bem e mal. É incisiva e peremptória a conclusão do trecho evangélico: "Servo algum pode servir a dois senhores; ou há-de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro". Com efeito, diz Jesus: "É preciso decidir-se.
Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16,13): Mamon é uma palavra de origem fenícia que evoca segurança económica e sucesso nos negócios; poderíamos dizer que na riqueza é indicado o ídolo ao qual se sacrifica tudo para alcançar o próprio sucesso material e assim este sucesso económico torna-se o verdadeiro deus de uma pessoa. É necessária portanto uma decisão fundamental entre Deus e mamon, é necessária a escolha entre lógica do lucro como critério último no nosso agir e a lógica da partilha e da solidariedade. A lógica do lucro, se é prevalecente, incrementa a desproporção entre pobres e ricos, assim como uma exploração destruidora do planeta. Quando, ao contrário, prevalece a lógica da partilha e da solidariedade, é possível corrigir a rota e orientá-la para um desenvolvimento equitativo, para o bem comum de todos. Na realidade, trata-se da decisão entre o egoísmo e o amor, entre a justiça e a desonestidade, ou seja, entre Deus e Satanás. Se amar Cristo e os irmãos não é considerado como uma espécie de acessório e superficial, mas antes como a finalidade verdadeira e última de toda a nossa existência, é preciso saber fazer opções básicas, estar dispostos a renúncias radicais, e se necessário ao martírio. Hoje, como ontem, a vida do cristão exige a coragem de ir contra a corrente, de amar como Jesus, que chegou ao sacrifício de si na cruz.
Podemos então dizer, parafraseando uma consideração de Santo Agostinho, que por meio das riquezas terrenas devemos conquistar as verdadeiras e eternas: de facto, se há quem está pronto a qualquer tipo de desonestidade para se garantir um bem-estar material sempre aleatório, muito mais nós cristãos nos devemos preocupar por prover à nossa felicidade eterna com os bens desta terra (cf. Sermo 359, 10). Mas, a única maneira de fazer frutificar para a eternidade os nossos talentos e capacidades pessoais assim como as riquezas que possuímos é partilhá-las com os irmãos, mostrando-nos deste modo bons administradores de quanto Deus nos confia. Diz Jesus: "Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito" (Lc 16,10-11).
Da mesma opção fundamental que se deve fazer todos os dias fala hoje na primeira leitura o profeta Amós. Com palavras fortes, ele estigmatiza um estilo de vida típico de quem se deixa absorver por uma busca egoísta do proveito de todos os modos possíveis e que se traduz numa sede de lucro, num desprezo dos pobres e numa exploração da sua situação em próprio benefício (cf. Am 4,5). O cristão deve rejeitar com energia tudo isto, abrindo o coração, ao contrário, a sentimentos de generosidade autêntica. Uma generosidade que, como exorta o apóstolo Paulo na segunda Leitura, se exprime num amor sincero a todos e se manifesta na oração. Na realidade, é um gesto grandioso de caridade rezar pelos outros. O Apóstolo convida em primeiro lugar a rezar pelos que desempenham tarefas de responsabilidade na comunidade civil, porque ele explica das suas decisões, se tendem para realizar o bem, derivam consequências positivas, garantindo a paz e "uma vida calma e tranquila com toda a piedade e dignidade" para todos (1Tm 2,2). Portanto, nunca falte a nossa oração, contributo espiritual para a edificação de uma Comunidade eclesial fiel a Cristo e à construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Queridos irmãos e irmãs, rezemos em particular para que a vossa comunidade diocesana, que está suportando uma série de transformações, devido à transferência de muitas famílias jovens provenientes de Roma, ao desenvolvimento do sector "terciário" e ao estabelecimento nos centros históricos de muitos imigrados, conduza uma acção pastoral cada vez mais orgânica e partilhada, seguindo as indicações que o vosso Bispo está a oferecer com evidente sensibilidade pastoral. Em relação a isto, revelou-se oportuna como nunca a sua Carta Pastoral do passado mês de Dezembro com o convite a colocar-se na escuta atenta e perseverante da Palavra de Deus, dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e do Magistério da Igreja. Coloquemos nas mãos de Nossa Senhora das Graças, cuja imagem está conservada e é venerada nesta vossa bonita Catedral, todos os vossos propósitos e projectos pastorais. A protecção materna de Maria acompanhe o caminho de vós aqui presentes e de quantos não puderam participar na nossa Celebração eucarística de hoje. De modo especial, vele a Virgem Santa sobre os doentes, os idosos, as crianças, e sobre quantos se sentem sós e abandonados ou se encontram em particulares necessidades. Maria nos livre da ambição das riquezas, e faça com que erguendo para o céu as mãos livres e puras, demos graças a Deus com toda a nossa vida (cf. Colecta). Amém!
29907
Queridos irmãos e irmãs!
Estamos reunidos em volta do altar do Senhor para uma circunstância ao mesmo tempo solene e feliz: a Ordenação episcopal de seis novos Bispos, chamados a desempenhar funções diversas ao serviço da única Igreja de Cristo. Eles são Mons. Mieczyslaw Mokrzycki, Mons. Francesco Brugnaro, Mons. Gianfranco Ravasi, Mons. Tommaso Caputo, Mons. Sergio Pagano, e Mons. Vincenzo Di Mauro. Dirijo a todos a minha cordial saudação com um abraço fraterno. Dirijo uma saudação particular a Mons. Mokrzycki que, juntamente com o actual Cardeal Stanislaw Dziwisz, serviu durante muitos anos como secretário o Santo Padre João Paulo II e depois da minha eleição para Sucessor de Pedro, também foi meu secretário com grande humildade, competência e dedicação. Com ele saúdo o amigo do Papa João Paulo II, o Cardeal Marian Jaworski, ao qual Mons. Mokrzycki dará a sua ajuda como Coadjutor. Saúdo também os Bispos latinos da Ucrânia, que estão aqui em Roma para a sua visita "ad limina Apostolorum". O meu pensamento dirige-se também aos Bispos greco-católicos, alguns dos quais encontrei na passada segunda-feira, e à Igreja ortodoxa da Ucrânia. Desejo a todos as bênçãos do Céu pelas suas fadigas que visam manter activa na sua Terra e transmitir às futuras gerações a força restabelecedora do Evangelho de Cristo.
Celebramos esta Ordenação episcopal na festa dos três Arcanjos que na Escritura são mencionados pelo nome: Miguel, Gabriel e Rafael. Isto faz-nos recordar que na antiga Igreja já no Apocalipse os Bispos eram classificados como "anjos" da sua Igreja, expressando deste modo uma correspondência íntima entre o ministério do Bispo e a missão do Anjo. A partir da tarefa do Anjo pode-se compreender o serviço do Bispo. Mas o que é um Anjo? A Sagrada Escritura e a tradição da Igreja deixam-nos entrever dois aspectos. Por um lado, o Anjo é uma criatura que está diante de Deus, orientada, com todo o seu ser para Deus. Os três nomes dos Arcanjos terminam com a palavra "El", que significa "Deus". Deus está inscrito nos seus nomes, na sua natureza. A sua verdadeira natureza é a existência em vista d'Ele e para Ele. Explica-se precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são mensageiros de Deus. Trazem Deus aos homens, abrem o céu e assim abrem a terra. Exactamente porque estão junto de Deus, podem estar também muito próximos do homem. De facto, Deus é mais íntimo a cada um de nós de quanto o somos nós próprios. Os Anjos falam ao homem do que constitui o seu verdadeiro ser, do que na sua vida com muita frequência está velado e sepultado. Eles chamam-no a reentrar em si mesmo, tocando-o da parte de Deus. Neste sentido também nós, seres humanos, deveríamos tornar-nos sempre de novo anjos uns para os outros anjos que nos afastam dos caminhos errados e nos orientam sempre de novo para Deus. Se a Igreja antiga chama os Bispos "anjos" da sua Igreja, pretende dizer precisamente o seguinte: "os próprios Bispos devem ser homens de Deus, devem viver orientados para Deus. "Multum orat pro populo" "Reza muito pelo povo", diz o Breviário da Igreja a propósito dos santos Bispos. O Bispo deve ser um orante, alguém que intercede pelos homens junto de Deus. Quanto mais o fizer, tanto mais compreende também as pessoas que lhe estão confiadas e pode tornar-se para elas um anjo um mensageiro de Deus, que as ajuda a encontrar a sua verdadeira natureza, a si mesmas, e a viver a ideia que Deus tem delas.
Tudo isto se torna ainda mais claro se olharmos agora para as figuras dos três Arcanjos cuja festa a Igreja celebra hoje. Antes de tudo está Miguel. Encontramo-lo na Sagrada Escritura sobretudo no Livro de Daniel, na Carta do Apóstolo São Judas Tadeu e no Apocalipse. Deste Arcanjo tornam-se evidentes nestes textos duas funções. Ele defende a causa da unicidade de Deus contra a soberba do dragão, da "serpente antiga", como diz João. É a perene tentativa da serpente de fazer crer aos homens que Deus deve desaparecer, para que eles se possam tornar grandes; que Deus é um obstáculo para a nossa liberdade e que por isso devemos desfazer-nos dele. Mas o dragão não acusa só Deus. O Apocalipse chama-o também "o acusador dos nossos irmãos, que os acusava de dia e de noite diante de Deus" (Ap 12,10). Quem põe Deus de lado, não enobrece o homem, mas priva-o da sua dignidade. Então o homem torna-se um produto defeituoso da evolução. Quem acusa Deus, acusa também o homem. A fé em Deus defende o homem em todas as suas debilidades e insuficiências: o esplendor de Deus resplandece sobre cada indivíduo. É tarefa do Bispo, como homem de Deus, fazer espaço para Deus no mundo contra as negações e defender assim a grandeza do homem. E o que se poderia dizer e pensar de maior sobre o homem a não ser que o próprio Deus se fez homem? A outra função de Miguel, segundo a Escritura, é a de protector do Povo de Deus (cf. Da 10,21 Da 12,1). Queridos amigos, sede verdadeiramente "anjos da guarda" das Igrejas que vos serão confiadas! Ajudai o povo de Deus, que deveis preceder na sua peregrinação, a encontrar a alegria na fé e a aprender o discernimento dos espíritos: a acolher o bem e a recusar o mal, a permanecer e tornar-se sempre mais, em virtude da esperança da fé, pessoas que amam em comunhão com Deus-Amor.
Encontramos o Arcanjo Gabriel sobretudo na preciosa narração do anúncio a Maria da encarnação de Deus, como nos refere São Lucas (Lc 1,26-38). Gabriel é o mensageiro da encarnação de Deus. Ele bate à porta de Maria e, através dela, o próprio Deus pede a Maria o seu "sim" para a proposta de se tornar a Mãe do Redentor: dar a sua carne humana ao Verbo eterno de Deus, ao Filho de Deus. Repetidas vezes o Senhor bate às portas do coração humano. No Apocalipse diz ao "anjo" da Igreja de Laodiceia e, através dele, aos homens de todos os tempos: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele" (Ap 3,20). O Senhor está à porta à porta do mundo e à porta de cada um dos corações. Ele bate para que o deixemos entrar: a encarnação de Deus, o seu fazer-se carne deve continuar até ao fim dos tempos. Todos devem estar reunidos em Cristo num só corpo: dizem-nos isto os grandes hinos sobre Cristo na Carta aos Efésios e na Carta aos Colossenses. Cristo bate.
Também hoje Ele tem necessidade de pessoas que, por assim dizer, lhe põem à disposição a própria carne, que lhe doam a matéria do mundo e da sua vida, servindo assim para a unificação entre Deus e o mundo, para a reconciliação do universo. Queridos amigos, compete-vos bater à porta dos corações dos homens, em nome de Cristo. Entrando vós mesmos em união com Cristo, podereis também assumir a função de Gabriel: levar a chamada de Cristo aos homens.
São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os seus discípulos em missão, com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada a de curar. O bom Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada, torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho, já em si é curar, porque o homem precisa sobretudo da verdade e do amor. Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta os demónios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre. Na narração de Tobias esta cura é referida com imagens legendárias.
No Novo Testamento, a ordem do matrimónio, estabelecido na criação e ameaçado de muitas formas pelo pecado, é curado pelo facto de que Cristo o acolhe no seu amor redentor. Ele faz do matrimónio um sacramento: o seu amor, que por nós subiu à cruz, é a força restauradora que, em todas as confusões, dá a capacidade da reconciliação, purifica a atmosfera e cura as feridas. Ao sacerdote é confiada a tarefa de guiar os homens sempre de novo ao encontro da força reconciliadora do amor de Cristo. Deve ser o "anjo" curador que os ajuda a ancorar o seu amor no sacramento e a vivê-lo com empenho sempre renovado a partir dele. Em segundo lugar, o Livro de Tobias fala da cura dos olhos cegos. Todos sabemos quanto estamos hoje ameaçados pela cegueira para Deus. Como é grande o perigo de que, perante tudo o que sabemos sobre as coisas materiais e que somos capazes de fazer com elas, nos tornamos cegos para a luz de Deus. Curar esta cegueira mediante a mensagem da fé e o testemunho do amor, é o serviço de Rafael confiado dia após dia ao sacerdote e de modo especial ao Bispo. Assim, somos espontaneamente levados a pensar também no sacramento da Reconciliação, no sacramento da Penitência que, no sentido mais profundo da palavra, é um sacramento de cura. A verdadeira ferida da alma, de facto, o motivo de todas as outras nossas feridas, é o pecado. E só se existe um perdão em virtude do poder de Deus, em virtude do poder do amor de Cristo, podemos ser curados, podemos ser remidos.
"Permanecei no meu amor", diz-nos hoje o Senhor no Evangelho (Jn 15,9). No momento da Ordenação episcopal Ele di-lo de modo particular a vós, queridos amigos. Permanecei no seu amor! Permanecei naquela amizade com Ele cheia de amor que Ele neste momento vos doa de novo! Então a vossa vida dará fruto um fruto que permanece (Jn 15,16). Para que isto vos seja concedido, todos rezamos por vós neste momento, queridos irmãos. Amém.
21107
DURANTE A SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
Praça do Plebiscito
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Autoridades
Caros irmãos e irmãs
Foi com grande alegria que aceitei o convite para visitar a comunidade cristã que vive nesta histórica cidade de Nápoles. Ao vosso Arcebispo, Cardeal Crescenzio Sepe, transmito o meu abraço fraterno e um agradecimento especial pelas palavras que, também no vosso nome, me dirigiu no início desta solene Celebração eucarística. Enviei-o para junto da vossa Comunidade, porque conheço o seu zelo apostólico, e estou feliz por constatar que vós o estimais pelos seus dotes de mente e de coração. Saúdo com afecto os Bispos Auxiliares e o presbitério diocesano, assim como os religiosos, as religiosas e as demais pessoas consagradas, os catequistas e os leigos, de modo particular os jovens activamente comprometidos nas várias iniciativas pastorais, apostólicas e sociais. Cumprimento as ilustres Autoridades civis e militares que nos honram com a sua presença, a começar pelo Presidente do Conselho dos Ministros, pelo Presidente da Câmara Municipal de Nápoles e pelos Presidentes da Província e da Região. A todos vós, congregados nesta Praça diante da monumental Basílica dedicada a São Francisco de Paula, cujo quinto centenário da morte se celebra no corrente ano, dirijo o meu pensamento cordial, que de bom grado faço extensivo a quantos nos acompanham através da rádio e da televisão, especialmente às comunidades de clausura, às pessoas idosas, àquelas que se encontram nos hospitais, nas prisões e àqueles com os quais não me poderei encontrar nesta minha breve permanência napolitana. Em síntese, saúdo toda a família dos fiéis e todos os cidadãos de Nápoles: amados amigos, estou no meio de vós para compartilhar convosco a Palavra e o Pão da Vida. E o mau tempo não nos desencoraja, pois Nápoles é sempre bonita!
Meditando sobre as Leituras bíblicas deste domingo e pensando na realidade de Nápoles, fiquei impressionado com o facto de que hoje a Palavra de Deus tem como tema principal a oração, aliás, "a necessidade de rezar sem jamais se cansar", como diz o Evangelho (cf. Lc 18,1). À primeira vista, esta poderia parecer uma mensagem não muito pertinente, fictícia e pouco incisiva em relação a uma realidade social com tantos problemas como a vossa. No entanto, reflectindo sobre ela, compreende-se que esta Palavra contém em si uma mensagem que certamente vai contra a corrente, mas destinada a iluminar profundamente a consciência desta vossa Igreja e desta vossa Cidade. Resumi-la-ia deste modo: a força, que silenciosamente e sem clamores, muda o mundo e o transforma no Reino de Deus, é a fé e a expressão da fé é a oração. Quando a fé está repleta de amor a Deus, reconhecido como Pai bom e justo, a oração faz-se perseverante e insistente, tornando-se um suspiro do espírito, um brado da alma que penetra o Coração de Deus. Deste modo, a oração torna-se a maior força de transformação do mundo. Diante de realidades sociais difíceis e complicadas, como certamente é também a vossa, é necessário revigorar a esperança, que se alicerça na fé e se exprime numa prece infatigável. É a oração que conserva acesa a chama da fé. Como pudemos ouvir no final do Evangelho, Jesus pergunta: "Quando o Filho do homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?" (Lc 18,8). Trata-se de uma pergunta que nos faz pensar.
Qual será a nossa resposta a esta inquietante interrogação? Hoje, queremos repetir em conjunto e com coragem humilde: Senhor, a vossa vinda ao meio de nós nesta celebração dominical encontra-nos congregados com a chama da fé acesa. Acreditamos e confiamos em Vós! Aumentai a nossa fé!
As Leituras bíblicas que ouvimos apresentam-nos alguns modelos nos quais nos devemos inspirar nesta nossa profissão de fé, que é sempre também uma profissão de esperança, uma vez que a fé é esperança, pois abre a terra à força divina e à força do bem. Trata-se das figuras da viúva, que encontramos na parábola evangélica, e a de Moisés, de que fala o livro do Êxodo. A viúva do Evangelho (cf. Lc 18,1-8) faz pensar nos "pequeninos", nos últimos, mas também em numerosas pessoas simples e justas, que sofrem devido às prepotências, se sentem impotentes diante do perdurar do mal-estar social e são tentadas pelo desânimo. Jesus reitera-lhes: observai com que tenacidade esta pobre viúva insiste e, no final, é ouvida por um juiz desonesto! Como poderíeis pensar que o vosso Pai celestial, bom, fiel e poderoso, que deseja somente o bem dos seus filhos, não vos haverá de render justiça no tempo devido? A fé assegura-nos que Deus ouve a nossa oração e nos atende no momento oportuno, não obstante a experiência quotidiana pareça desmentir esta certeza. Com efeito, diante de certos acontecimentos de crónica, ou de numerosas dificuldades da vida, de que os jornais nem sequer chegam a falar, brota espontaneamente do coração a súplica do antigo profeta: "Até quando, Senhor, pedirei socorro, sem que me escuteis.
Até quando clamarei: "Violência!", sem que me salveis?" (Ha 1,2). A resposta a esta premente invocação é uma só: Deus não pode mudar as situações sem a nossa conversão, e a nossa verdadeira conversão tem início com o "clamor" da alma, que implora perdão e salvação. Por conseguinte, a oração cristã não é expressão de fatalismo nem de inércia mas, pelo contrário, é o oposto da evasão da realidade, do intimismo consolatório: é força de esperança, máxima expressão da fé no poder de Deus, que é Amor e não nos abandona. A oração que Jesus nos ensinou, culminada no Getsémani, tem a índole da "competição", ou seja da luta, porque se põe com determinação ao lado do Senhor para combater a injustiça e vencer o mal com o bem; é a arma dos pequeninos e dos pobres de espírito, que rejeitam qualquer tipo de violência. Aliás, respondem-lhe com a violência evangélica, dando assim testemunho de que a verdade do Amor é mais forte que o ódio e a morte.
Isto sobressai também da primeira Leitura, a célebre narração da batalha entre os israelitas e os amalecitas (cf. Ex 17,8-13). O que determinou a sorte daquele árduo conflito foi precisamente a oração dirigida com fé ao Deus verdadeiro. Enquanto Josué e os seus homens enfrentavam os adversários no campo, Moisés estava no cimo da colina com as mãos levantadas, na posição da pessoa em oração. Estas mãos erguidas do grande comandante garantiram a vitória de Israel. Deus estava com o seu povo, desejava a sua vitória, mas condicionava esta sua intervenção às mãos levantadas de Moisés. Parece incrível, mas é assim: Deus tem necessidade das mãos erguidas do seu servo! Os braços levantados de Moisés fazem pensar nos braços de Jesus na Cruz: braços abertos e pregados, com que o Redentor venceu a batalha decisiva contra o inimigo infernal. A sua luta, as suas mãos elevadas para o Pai e abertas para o mundo exigem outros braços, outros corações que continuem a oferecer-se com o seu próprio amor, até ao fim do mundo. Dirijo-me de maneira particular a vós, dilectos Pastores da Igreja que está em Nápoles, enquanto faço minhas as palavras que São Paulo dirige a Timóteo e que pudemos ouvir na segunda Leitura: permanecei firmes naquilo que aprendestes e estai convictos disto. Anunciai a palavra, insisti em todas as ocasiões, oportuna e inoportunamente, admoestai, repreendei e exortai com toda a magnanimidade e doutrina (cf. 2Tm 3,14 2Tm 3,16 2Tm 4,2). E como Moisés na montanha, também vós perseverai na oração pelos fiéis e com os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais, para que em conjunto possais enfrentar todos os dias a boa batalha do Evangelho.
E agora, interiormente iluminados pela Palavra de Deus, voltemos a considerar a realidade da vossa Cidade, onde não faltam energias sadias e gente boa, culturalmente preparada e com um profundo sentido da família. Porém, para muitos não é simples viver: há numerosas situações de pobreza, de carência de alojamentos, de desemprego ou subemprego, de falta de perspectivas futuras. Além disso, há também o triste fenómeno da violência. Não se trata apenas do repreensível número de crimes cometidos pela "camorra", mas inclusive do facto de que a violência infelizmente tende a tornar-se uma mentalidade difundida, insinuando-se no tecido da vida social, nos bairros históricos do centro e nas periferias novas e anónimas, com o risco de atrair especialmente os jovens, que crescem em ambientes onde prosperam a ilegalidade, a clandestinidade e a cultura do arranjar-se.
Então, como é importante intensificar os esforços em vista de uma séria estratégia de prevenção que vise a escola e o trabalho, e que ajude os jovens a gerirem o tempo livre! É necessária uma intervenção que empenhe todos na luta contra todas as formas de violência, começando a partir da formação das consciências e transformando as mentalidades, as atitudes e os comportamentos de todos os dias. Formulo este convite a todos os homens e mulheres de boa vontade, enquanto se realiza aqui em Nápoles o encontro entre os líderes religiosos para a paz, que tem como tema: "Para um mundo sem violência Religiões e culturas em diálogo".
Prezados irmãos e irmãs, o amado Papa João Paulo II visitou Nápoles pela primeira vez em 1979: era, como hoje, domingo 21 de Outubro! Depois, veio aqui pela segunda vez, em Novembro de 1990: uma visita que promoveu o renascimento da esperança. A missão da Igreja consiste em nutrir sempre a fé e a esperança do povo cristão. É isto que está a realizar com zelo apostólico também o vosso Arcebispo, que recentemente escreveu uma Carta pastoral com um título significativo: "O sangue e a esperança". Sim, a verdadeira esperança nasce somente do Sangue de Cristo e do sangue derramado por Ele. Há sangue que é sinal de morte; mas há sangue que exprime amor e vida: o Sangue de Jesus e dos Mártires, como o do vosso amado Padroeiro São Januário, é manancial de vida nova. Gostaria de concluir, fazendo minha uma expressão contida na Carta pastoral do vosso Arcebispo, que reza assim: "A semente da esperança é talvez a menor, mas pode dar vida a uma árvore frondosa e produzir muitos frutos".
Em Nápoles esta semente existe e actua, apesar dos problemas e das dificuldades. Oremos ao Senhor para que faça crescer na comunidade cristã uma fé autêntica e uma esperança sólida, capaz de contrastar com eficácia o desencorajamento e a violência. Certamente, Nápoles tem necessidade de intervenções políticas adequadas, mas antes ainda de uma profunda renovação espiritual; precisa de fiéis que voltem a depositar plena confiança em Deus e, com a sua ajuda, que se comprometam para difundir os valores do Evangelho na sociedade. Peçamos para isto a ajuda de Maria e dos vossos Santos Protectores, em particular de São Januário.
Amém!
51107
Venerados e dilectos Irmãos
Depois de ter comemorado todos os fiéis defuntos na sua celebração litúrgica, encontramo-nos segundo a tradição nesta Basílica vaticana para oferecer o Sacrifício eucarístico em sufrágio pelos Cardeais e Bispos que, ao longo do ano, chamados pelo Senhor, deixaram este mundo. Recordo com carinho fraterno os nomes dos saudosos Purpurados: Salvatore Pappalardo, Frédéric Etsou-Nzabi Bamungwabi, António Maria Javierre, Ângelo Felici, Jean-Marie Lustiger, Edouard Gagnon, Adam Kozlowiecki e Rosalio José Castillo Lara. Pensando na pessoa e no ministério de cada um deles, não obstante o pesar da separação, elevemos a Deus sentidas acções de graça pelo dom que neles Ele ofereceu à Igreja e por todo o bem que, com a sua ajuda, eles conseguiram realizar. De igual modo, confiemos ao Pai eterno os Patriarcas, os Arcebispos e os Bispos defuntos, expressando também para eles o nosso reconhecimento em nome de toda a Comunidade católica.
A prece de sufrágio da Igreja "apoia-se", por assim dizer, na oração do próprio Jesus, que pudemos ouvir no trecho evangélico: "Pai, quero que onde Eu estiver, estejam também comigo aqueles que Tu me enviaste" (Jn 17,24). Jesus refere-se aos seus discípulos, de modo particular aos Apóstolos, que estão ao seu lado durante a última Ceia. Contudo, a oração do Senhor estende-se a todos os discípulos de todos os tempos. Com efeito, pouco antes, Ele disse: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim" (Jn 17,20). E se ali rezava para que todos sejam "um só... para que assim o mundo creia" (Jn 17,21), aqui podemos igualmente ouvir que Ele reza ao Pai a fim de poder ter consigo, na morada da sua glória eterna, todos os discípulos mortos no sinal da fé.
"Aqueles que Tu me enviaste": esta é uma bonita definição do cristão como tal, mas que obviamente pode ser aplicada de modo particular a quantos Deus Pai escolheu entre os fiéis, em vista de os destinar para seguir o seu Filho mais de perto. À luz destas palavras do Senhor, o nosso pensamento neste momento dirige-se, de maneira especial, aos venerados Irmãos pelos quais nós estamos a oferecer a presente Eucaristia. São homens que o Pai "enviou" a Cristo. Tirando-os do mundo, daquele "mundo" que "não O conheceu" (Jn 17,25), chamou-os a tornarem-se amigos de Jesus. Esta foi a graça mais preciosa de toda a sua vida. Sem dúvida, foram homens com diferentes características, tanto pelas vicissitudes pessoais como pelo ministério exercido; porém, todos receberam em comum o elemento mais importante: a amizade com o Senhor Jesus. Receberam-na como sorte na terra, como sacerdotes, e agora, para além da morte, participam nos céus desta "herança incorruptível, imaculada e indefectível" (1P 1,4). Durante a sua existência temporal, Jesus fez-lhes conhecer o nome de Deus, admitindo-os à participação no amor da Santíssima Trindade. O amor do Pai pelo Filho entrou neles, e deste modo a própria Pessoa do Filho, em virtude do Espírito Santo, permaneceu em cada um deles (cf. Jn 17,26): uma experiência de comunhão divina que, por sua natureza, tende a ocupar a existência inteira, em vista de a transfigurar e preparar para a glória da vida eterna.
É consolador e salutar, na oração pelos defuntos, meditar sobre a confiança de Jesus no seu Pai e assim deixar-se envolver pela luz tranquila deste abandono absoluto do Filho à vontade do seu "Abbá". Jesus sabe que o Pai está sempre com Ele (cf. Jn 8,29) e que juntos são um só (cf. Jn 10,30) Ele sabe que a própria morte deve ser um "baptismo", ou seja, uma "imersão" no amor de Deus (cf. Lc 12,50), e vai ao encontro dela com a certeza de que o Pai realizará nele a antiga profecia que ouvimos hoje na primeira leitura bíblica: "Dar-nos-á de novo a vida em dois dias / ao terceiro dia levantar-nos-á / e viveremos na sua presença" (Os 6,2). Este oráculo do profeta Oseias refere-se ao povo de Israel e expressa a confiança no socorro do Senhor: uma confiança que por vezes o povo, infelizmente, desmentiu por inconstância e superficialidade, chegando mesmo a abusar da benevolência divina. Ao contrário, na Pessoa de Jesus, o amor a Deus Pai torna-se plenamente sincero, autêntico e fiel. Ele assume em si toda a realidade do antigo Israel e leva-a ao seu cumprimento.
O "nós" do povo concentra-se no "eu" de Jesus, nomeadamente nos seus reiterados anúncios da paixão, morte e ressurreição, quando revela de maneira aberta aos discípulos aquilo que o espera em Jerusalém: deverá ser rejeitado pelos chefes, aprisionado, condenado à morte e, no terceiro dia, ressuscitado (cf. Mt 16,21). Esta singular confiança de Cristo passou para nós mediante o dom do Espírito Santo à Igreja, do qual começamos a fazer parte com o Sacramento do Baptismo. O "eu" de Jesus torna-se um novo "nós", e o "nós" da sua Igreja, quando se comunica àqueles que são incorporados nele mediante o Baptismo. E esta identificação é revigorada em quantos, por um especial chamamento do Senhor, foram configurados com Ele na Ordem sagrada.
O Salmo responsorial pôs nos nossos lábios o anseio arrebatador de um levita que, longe de Jerusalém e do templo, deseja ali regressar para estar novamente diante do Senhor (cf. Ps 41,1-3). "A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! / Quando poderei contemplar a face de Deus?" (Ps 42,3 [41], 3). Esta sede contém uma verdade que não atraiçoa, uma esperança que não desilude.
Trata-se de uma sede que, também através da noite mais obscura, ilumina o caminho para a fonte da vida, como cantava com expressões admiráveis São João da Cruz. O Salmista reserva espaço às lamentações da alma, mas no centro e no final do seu hino admirável um estribilho repleto de confiança: "Por que estás triste, minha alma, / e te perturbas? Confia em Deus: ainda O hei-de louvar. / Ele é o meu Deus e Salvador" (Ps 42,6). Na luz de Cristo e do seu mistério pascal, estas palavras revelam toda a sua verdade maravilhosa: nem sequer a morte pode tornar vã a esperança de quem crê, porque Cristo entrou em nós no santuário do céu e quer conduzir-nos para lá, depois de nos ter preparado um lugar (cf. Jn 14,1-3).
Com esta fé e esta esperança, os nossos queridos e saudosos Irmãos recitaram tal Salmo numerosas vezes. Como sacerdotes, experimentaram toda a sua ressonância existencial, assumindo também sobre si as acusações e os desprezos de quantos, a quem crê, dizem na hora da prova: "Onde está o teu Deus?". Agora, no final do seu exílio terrestre, eles chegaram à pátria. Seguindo o caminho aberto pelo seu Senhor ressuscitado, não entraram num templo construído pelas mãos do homem, mas no próprio céu (cf. He 9,24). Ali, juntamente com a Bem-Aventurada Virgem Maria e com todos os Santos, possam eles contemplar finalmente nisto consiste a nossa oração o rosto de Deus e cantar eternamente os seus louvores. Amém!
Bento XVI Homilias 9907