Bento XVI Homilias 10100


Domingo, 17 de Outubro 2010: CAPELA PAPAL PARA A CANONIZAÇÃO DOS BEATOS: STANISLAW KAZIMIERCZYK SOLTYS (1433 - 1489)

ANDRÉ (Alfred) BESSETTE (1845 - 1937) CÁNDIDA MARÍA DE JESÚS (Juana Josefa) CIPITRIA y BARRIOLA (1845 - 1912)

MARY OF THE CROSS (Mary Helen) MacKILLOP (1842 - 1909) GIULIA SALZANO (1846 - 1929) BATTISTA CAMILLA DA VARANO (1458 - 1524)

17100
Praça de São Pedro






Prezados irmãos e irmãs!

Renova-se hoje na Praça de São Pedro a festa da santidade. É com alegria que dirijo as cordiais boas-vindas a vós que viestes, também de muito distante, para participar nela. Dirijo uma saudação particular aos Cardeais, aos Bispos e aos Superiores-Gerais dos Institutos fundados pelos novos Santos, assim como às Delegações oficiais e a todas as Autoridades civis. Conjuntamente, procuremos acolher aquilo que o Senhor nos diz nas Sagradas Escrituras, há pouco proclamadas. A liturgia deste domingo oferece-nos um ensinamento fundamental: a necessidade de rezar sempre, sem desanimar. Às vezes cansamo-nos de rezar, temos a impressão de que a oração não é útil para a vida, que é pouco eficaz. Por isso, somos tentados a dedicar-nos às actividades, a empregar todos os meios humanos para alcançar as nossas finalidades, e deixamos de recorrer a Deus. Jesus, ao contrário, afirma que é necessário rezar sempre, e fá-lo mediante uma parábola específica (cf.
Lc 18,1-8).

Ela fala acerca de um juiz que não tem medo de Deus e não tem consideração por ninguém, um juiz que não tem uma atitude positiva, mas procura unicamente o próprio interesse. Não teme o juízo de Deus e não tem respeito pelo próximo. A outra personagem é uma viúva, uma pessoa que vive em situação de debilidade. Na Bíblia, a viúva e o órfão são as categorias mais necessitadas, porque indefesas e desprovidas de meios. A viúva vai ter com o juiz e pede-lhe justiça. As suas possibilidades de ser ouvida são praticamente nulas, porque o juiz a despreza e ela não consegue fazer qualquer pressão sobre ele. Nem sequer pode apelar-se a princípios religiosos, uma vez que o juiz não teme a Deus. Por isso, esta viúva parece desprovida de qualquer possibilidade. Mas ela insiste, pede sem se cansar, é inoportuna, e assim finalmente consegue obter um resultado do juiz. Nesta altura, Jesus faz uma reflexão, recorrendo a um argumento a fortiori: se um juiz desonesto, no final, se deixa convencer pela oração de uma viúva, quanto mais Deus, que é bom, atenderá quem a le recorre. Com efeito, Deus é a generosidade em Pessoa, é misericordioso e portanto sempre disposto a acolher as orações. Por conseguinte, nunca devemos desesperar, mas insistir sempre na oração.

A conclusão do trecho evangélico fala da fé: «Quando o Filho do Homem vier, acaso encontrará a fé sobre a terra?» (Lc 18,8). Trata-se de uma interrogação que quer suscitar um aumento de fé da nossa parte. Com efeito, é claro que a oração deve ser expressão de fé, pois caso contrário não é verdadeira oração. Quem não crê na bondade de Deus não pode rezar de modo verdadeiramente adequado. A fé é essencial como base da atitude da oração. Foi aquilo que fizeram os seis novos Santos, que hoje são propostos à veneração da Igreja universal: Stanislaw Soltys, André Bessette, Cándida María de Jesús Cipitria y Barriola, Mary of the Cross MacKillop, Giulia Salzano e Battista Camilla Varano.

São Stanislaw Kazimierczyk, religioso do século XV, pode ser também para nós exemplo e intercessor. Toda a sua vida estava vinculada à Eucaristia. Em primeiro lugar na igreja do Corpus Domini em Kazimierz, na hodierna Cracóvia onde, ao lado da mãe e do pai, aprendeu a fé e a piedade; onde emitiu os votos religiosos na Congregação dos Cónegos Regulares; e onde trabalhou como sacerdote e educador atento ao cuidado dos necessitados. Porém, estava ligado de maneira particular à Eucaristia, através do amor fervoroso por Cristo presente sob as espécies do pão e do vinho; vivendo o mistério da morte e da ressurreição, que se cumpre na Santa Missa de modo incruento; através da prática do amor ao próximo, cuja fonte e sinal é a Comunhão.

O Irmão André Bessette, originário do Québec, no Canadá, e religioso da Congregação da Santa Cruz, conheceu muito cedo o sofrimento e a pobreza. Estes levaram-no a recorrer a Deus mediante a oração e através de uma intensa vida interior. Porteiro do Colégio de Notre Dame em Montréal, ele manifestou uma caridade incondicional e esforçou-se por aliviar as angústias daqueles que o procuravam para se lhe confiar. Muito pouco instruído, contudo compreendeu onde se encontrava o essencial da sua fé. Para ele, crer significava submeter-se livremente e por amor à vontade divina. Inteiramente impregnado pelo mistério de Jesus, ele viveu a bem-aventurança dos corações puros, a da rectidão pessoal. Foi graças a esta simplicidade que ele conseguiu fazer com que muitos vissem Deus. Mandou construir o Oratório de Saint Joseph du Mont Royal, do qual permaneceu o guardião fiel até à sua morte, ocorrida em 1937. Ali foi testemunha de inúmeras curas e conversões. «Não procureis libertar-vos das provações», dizia ele, «mas sobretudo pedi a graça de as suportar bem». Para ele, tudo falava de Deus e da sua presença. Possamos nós, no seu seguimento, procurar Deus com simplicidade, para O descobrir sempre presente no coração da nossa vida! Possa o exemplo do Irmão André inspirar a vida cristã no Canadá!

Quando o Filho do Homem vier para fazer justiça aos eleitos, encontrará porventura a fé sobre a terra? (cf. Lc 18,18). Hoje podemos dizer que sim, com alívio e determinação, ao contemplar figuras como a Madre Cándida María de Jesús Cipitria y Barriola. Aquela moça de origem simples, com um coração no qual Deus depositou o seu selo e que depressa a levaria, com a guia dos seus directores espirituais jesuítas, a tomar a firme decisão de viver «só para Deus». Decisão que manteve fielmente, como ela mesma recorda quando estava prestes a morrer. Viveu para Deus e para aquilo que Ele mais deseja: alcançar a todos, levar a todos a esperança que não vacila, e de maneira especial àqueles que mais têm necessidade. «Onde não existe lugar para os pobres, também não há lugar para mim», dizia a nova Santa que, dispondo de meios escassos, contagiou outras Irmãs a seguirem Jesus e a dedicarem-se à educação e à promoção da mulher. Assim nasceram as Filhas de Jesus, que hoje encontram na sua Fundadora um modelo de vida muito alto para imitar, e uma missão apaixonante para continuar nos numerosos países aonde chegaram o espírito e os anseios de apostolado de Madre Cándida.

«Recordai-vos quem foram os vossos mestres, pois deles podeis aprender a sabedoria que conduz à salvação através da fé em Jesus Cristo». Durante muitos anos, inúmeros jovens em toda a Austrália foram abençoados com mestres que inspiraram no corajoso e santo exemplo de zelo, perseverança e oração de Madre Mary McKillop. Quando era jovem, ela dedicou-se à educação dos pobres, no difícil e exigente campo rural da Austrália, inspirando outras mulheres a agregarem-se a ela na primeira Comunidade religiosa feminina nesse país. Ela atendia às necessidades de cada pessoa que lhe era confiada, sem ter em consideração as condições ou a riqueza, oferecendo-lhe uma formação intelectual e espiritual. Apesar dos numerosos desafios, as suas preces a São José e a sua devoção inabalável ao Sagrado Coração de Jesus, a Quem dedicou a sua nova congregação, infundiram nesta santa mulher as graças necessárias para permanecer fiel a Deus e à Igreja. Através da sua intercessão, que hoje os seus seguidores possam continuar a servir a Deus e a Igreja com fé e humildade!

Na segunda metade do século XIX na Campânia, no sul da Itália, o Senhor chamou uma jovem professora da escola primária, Giulia Salzano, e fez dela uma apóstola da educação cristã, fundadora da Congregação das Irmãs Catequistas do Sagrado Coração de Jesus. Madre Giulia compreendeu bem a importância da catequese na Igreja e, unindo a preparação pedagógica ao fervor espiritual, a ela se dedicou com generosidade e inteligência, contribuindo para a formação de pessoas de todas as idades e condições sociais. Repetia às suas irmãs de hábito que desejava fazer catecismo até à última hora da sua vida, demonstrando ela mesma que, se «Deus nos criou para O conhecer, amar e servir nesta vida», nada se deveria antepor a esta tarefa. O exemplo e a intercessão de Santa Giulia Salzano sustentem a Igreja na sua perene missão de anunciar Cristo e de formar consciências cristãs autênticas.

Santa Battista Camilla Varano, monja clarissa do século XV, testemunhou até ao fundo o sentido evangélico da vida, especialmente perseverando na oração. Tendo entrado no mosteiro de Urbino com 23 anos, inseriu-se como protagonista naquele vasto movimento de reforma da espiritualidade feminina franciscana, que tencionava recuperar plenamente o carisma de Santa Clara de Assis. Promoveu novas fundações monásticas em Camerino, onde foi várias vezes eleita abadessa em Fermo e em São Severino. A vida de Santa Battista, totalmente mergulhada nas profundidades divinas, foi uma ascensão constante no caminho da perfeição, com um amor heróico a Deus e ao próximo. Foi assinalada por grandes sofrimentos e consolações místicas; com efeito, como ela mesma escreve, tinha decidido «entrar no Sacratíssimo Coração de Jesus e afogar no oceano dos seus sofrimentos dolorosíssimos». Num período em que a Igreja padecia um relaxamento dos costumes, ela percorreu com determinação o caminho da penitência e da oração, animada pelo desejo ardente de renovação do Corpo místico de Cristo.

Caros irmãos e irmãs, demos graças ao Senhor pela dádiva da santidade, que resplandece na Igreja e hoje transparece no rosto destes nossos irmãos e irmãs. Jesus convida também cada um de nós a segui-lo para ter como herança a vida eterna. Deixemo-nos atrair por estes exemplos luminosos, deixemo-nos orientar pelos seus ensinamentos, a fim de que a nossa existência seja um cântico de louvor a Deus. Que nos obtenham esta graça a Virgem Maria e a intercessão dos seis novos Santos que hoje, com alegria, veneramos! Amém.





Domingo, 24 de Outubro de 2010: CAPELA PAPAL NO ENCERRAMENTO DO SÍNODO DOS BISPOS PARA O MÉDIO ORIENTE

24100
Basílica Vaticana




Venerados Irmãos
Ilustres Senhores e Senhoras
Prezados irmãos e irmãs

À distância de duas semanas da Celebração inaugural, reunimo-nos novamente no dia do Senhor, ao redor do Altar da Confissão da Basílica de São Pedro, para concluir a Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos. Nos nossos corações há uma profunda acção de graças a Deus, que nos concedeu esta experiência verdadeiramente extraordinária, não só para nós, mas para o bem da Igreja, do Povo de Deus que vive nas terras entre o Mediterrâneo e a Mesopotâmia. Como Bispo de Roma, desejo comunicar este reconhecimento a vós, venerados Padres sinodais: Cardeais, Patriarcas, Arcebispos e Bispos. Agradeço de modo particular ao Secretário-Geral, aos quatro Presidentes Delegados, ao Relator-Geral, ao Secretário Especial a todos os Colaboradores que nestes dias trabalharam sem se poupar.

Hoje de manhã deixamos a Sala do Sínodo e viemos «ao templo para rezar»; por isso, refere-se directamente a nós a parábola do fariseu e do publicano, narrada por Jesus e citada pelo Evangelista São Lucas (cf.
Lc 18,9-14). Também nós poderíamos ser tentados, como o fariseu, a recordar a Deus os nossos méritos, talvez pensando no compromisso destes dias. Mas, para subir ao Céu, a oração deve partir de um coração humilde, pobre. E portanto também nós, no final deste acontecimento eclesial, queremos antes de tudo dar graças a Deus, não pelos nossos méritos, mas pelo dom que Ele nos concedeu. Reconheçamo-nos pequenos e necessitados de salvação e de misericórdia; reconheçamos que tudo provém dele e que só com a sua Graça se realizará aquilo que o Espírito Santo nos disse. Só assim poderemos «voltar para casa» verdadeiramente enriquecidos, mais justos e mais capazes de trilhar os caminhos do Senhor.

A primeira Leitura e o Salmo responsorial insistem sobre o tema da oração, ressaltando que ela é tanto mais poderosa no Coração de Deus, quanto mais aquele que reza estiver em condições de necessidade e de angústia. «A oração do humilde penetra as nuvens», afirma o livro de Ben Sirá (Si 35,21); e o salmista acrescenta: «O Senhor está perto dos contritos de coração / e salva aqueles que estão com o espírito abatido» (Ps 34,19). Dirijo o pensamento a numerosos irmãos e irmãs que vivem na região médio-oriental e que se encontram em situações difíceis, às vezes muito pesadas, quer pelas dificuldades materiais, quer pelo desânimo, pelo estado de tensão e às vezes de medo. Hoje, a Palavra de Deus oferece-nos também uma luz de esperança consoladora, quando a oração personalizada que «não desiste enquanto o Altíssimo não tiver julgado os justos e restabelecido a equidade» (cf. Si 35,21-22). Também este vínculo entre a oração e a justiça nos faz pensar em muitas situações no mundo, em particular no Médio Oriente. O grito do pobre e do oprimido encontra um eco imediato em Deus, que deseja intervir para encontrar uma saída, para restituir um futuro de liberdade e um horizonte de esperança.

Esta confiança no Deus próximo, que liberta os seus amigos, é testemunhada pelo Apóstolo Paulo na epístola hodierna, tirada da segunda Carta a Timóteo. Vendo já próximo o fim da vida terrena, Paulo traça um balanço: «Combati o bom combate, terminei a minha carreira, conservei a fé» (2Tm 4,7). Amados irmãos no Episcopado, para cada um de nós este constitui um modelo que devemos imitar: que a Bondade divina nos conceda fazer nossa uma semelhante síntese! «O Senhor — continua São Paulo — assistiu-me e deu-me forças para que, através de mim, a mensagem do Evangelho fosse plenamente anunciada e chegasse aos ouvidos de todos os pagãos» (2Tm 4,17). Trata-se de uma palavra que ressoa com força especial neste domingo em que celebramos o Dia Missionário Mundial! Comunhão com Jesus crucificado e ressuscitado, testemunho do seu amor. A experiência do Apóstolos é paradigmática para cada cristão, especialmente para nós, Pastores. Compartilhamos um momento forte de comunhão eclesial. Agora, despedimo-nos e cada um voltará para a sua própria missão, mas sabemos que estamos unidos, que permanecemos no seu amor.

A Assembleia sinodal que hoje se encerra teve sempre presente o ícone da primeira comunidade cristã, descrita nos Actos dos Apóstolos: «A multidão daqueles que se haviam tornado fiéis tinha um só coração e uma só alma» (Ac 4,32). Trata-se de uma realidade experimentada nos dias passados, em que compartilhamos as alegrias e as dores, as preocupações e as esperanças dos cristãos do Médio Oriente. Vivemos a unidade da Igreja na variedade das Igrejas presentes naquela Região. Orientados pelo Espírito Santo, tornamo-nos «um só coração e uma só alma», na esperança e na caridade, sobretudo durante as Celebrações eucarísticas, fonte e ápice da Comunhão eclesial, assim como na Liturgia das Horas, celebrada todas as manhãs num dos sete Ritos católicos do Médio Oriente. Assim valorizamos a riqueza litúrgica, espiritual e teológica das Igrejas Orientais católicas, mas também a da Igreja latina. Tratou-se de um intercâmbio de dons preciosos, do qual beneficiaram todos os Padres sinodais. É desejável que esta experiência positiva se repita também nas respectivas comunidades do Médio Oriente, favorecendo a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas dos outros Ritos católicos e, por conseguinte, a abrir-se às dimensões da Igreja universal.

A oração comum ajudou-nos também a enfrentar os desafios da Igreja católica no Médio Oriente. Um deles é a comunhão no interior de cada uma das Igrejas sui iuris, assim como as relações entre as várias Igrejas católicas de diversas tradições. Como nos recordou a hodierna página do Evangelho (cf. Lc 18,9-14), temos necessidade de humildade, para reconhecer os nossos limites, os nossos erros e omissões, para podermos formar verdadeiramente «um só coração e uma só alma». Uma comunhão mais plena no interior da Igreja católica favorece também o diálogo ecuménico com as demais Igrejas e Comunidades eclesiais. A Igreja católica reiterou também nesta Assembleia sinodal a sua profunda convicção de dar continuidade a este diálogo, a fim de que se realize completamente a oração do Senhor Jesus, «para que todos sejam um só» (Jn 17,21).

Aos cristãos no Médio Oriente podem aplicar-se estas palavras do Senhor Jesus: «Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai conceder-vos o Reino» (Lc 12,32). Com efeito, embora sejam pouco numerosos, eles são portadores da Boa Nova do amor de Deus pelo homem, amor que se revelou precisamente na Terra Santa na Pessoa de Jesus Cristo. Esta Palavra de salvação, revigorada com a graça dos Sacramentos, ressoa com eficácia particular nos lugares onde foi escrita pela Providência divina, e é a única Palavra capaz de interromper o círculo vicioso da vingança, do ódio e da violência. De um coração purificado, em paz com Deus e com o próximo, podem nascer propósitos e iniciativas de paz nos planos local, nacional e internacional. Nesta obra, para cuja realização é chamada toda a comunidade internacional, os cristãos, cidadãos a pleno título, podem e devem oferecer a sua contribuição com o espírito das bem-aventuranças, tornando-se construtores de paz e apóstolos de reconciliação em benefício de toda a sociedade.

Desde há demasiado tempo, no Médio Oriente perduram os conflitos, as guerras, a violência e o terrorismo. A paz, que é dom de Deus, constitui também o resultado dos esforços dos homens de boa vontade, das instituições nacionais e internacionais, de modo particular dos Estados mais empenhados na busca da solução dos conflitos. Nunca podemos resignar-nos com a falta da paz. A paz é possível. A paz é urgente. A paz é a condição indispensável para uma vida digna da pessoa humana e da sociedade. A paz é também o melhor remédio, para evitar a emigração do Médio Oriente. «Pedi, vós todos, a paz para Jerusalém» — diz-nos o Salmo (Ps 122,6 [121], 6). Oremos pela paz na Terra Santa. Rezemos pela paz no Médio Oriente, comprometendo-nos a fim de que tal dádiva de Deus, oferecida aos homens de boa vontade, se difunda no mundo inteiro.

Outra contribuição que os cristãos podem oferecer à sociedade é a promoção de uma autêntica liberdade de religião e de consciência, um dos direitos fundamentais da pessoa humana que cada Estado deveria respeitar sempre. Em numerosos países do Médio Oriente existe a liberdade de culto, enquanto o espaço da liberdade religiosa é, não poucas vezes, bastante limitado. Ampliar este espaço de liberdade torna-se uma exigência para garantir a todos os fiéis pertencentes às várias Comunidades religiosas, a verdadeira liberdade de viver e professar a própria fé. Este tema poderia tornar-se objecto de diálogo entre os cristãos e os muçulmanos, diálogo cujas urgência e utilidade foram reiteradas pelos Padres sinodais.

Durante os trabalhos da Assembleia foi muitas vezes ressaltada a necessidade de repropor o Evangelho às pessoas que o conhecem pouco, ou que até se afastaram da Igreja. Evocou-se frequentemente a urgente necessidade de uma nova evangelização, inclusive para o Médio Oriente. Trata-se de um tema muito difundido, sobretudo nos países de antiga cristianização. Também a recente criação do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização corresponde a esta profunda exigência. Por isso, depois de ter consultado o Episcopado do mundo inteiro e após ter ouvido o Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, decidi dedicar a próxima Assembleia Geral Ordinária, em 2012, ao seguinte tema: «Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam — A nova evangelização para a transmissão da fé cristã».

Estimados irmãos e irmãs do Médio Oriente! A experiência destes dias vos assegure que nunca estais sozinhos, que vos acompanham sempre a Santa Sé e toda a Igreja que, tendo nascido em Jerusalém, se difundiu no Médio Oriente e em seguida pelo mundo inteiro. Confiamos a aplicação dos resultados da Assembleia Especial para o Médio Oriente, assim como a preparação da Geral Ordinária, à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja e Rainha da Paz. Amém!





                                                                                  Novembro de 2010


Quinta-feira, 4 de Novembro de 2010: SANTA MISSA PELOS CARDEAIS, ARCEBISPO E BISPOS FALECIDOS DURANTE O ANO

41110
Altar da Cátedra da Basílica Vaticana



Senhores Cardeais
Amados irmãos e irmãs!

«Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto». As palavras que ouvimos há pouco na segunda leitura (
Col 3,1-4) convidam-nos a elevar o olhar para as realidades celestes. De facto, com a expressão «as coisas lá do alto» São Paulo refere-se ao Céu, porque acrescenta: «onde Cristo está sentado à direita de Deus». O Apóstolo quer referir-se à condição dos crentes, daqueles que «morreram» para o pecado e cuja vida «já está escondida com Cristo em Deus». Eles estão chamados a viver quotidianamente no senhorio de Cristo, princípio e cumprimento de todas as suas acções, testemunhando a vida nova que lhes foi doada no Baptismo. Esta renovação em Cristo verifica-se no íntimo da pessoa: enquanto continua a luta contra o pecado, é possível progredir na virtude, procurando dar uma resposta plena e imediata à Graça de Deus.

Por antítese, o Apóstolo indica depois «as coisas da terra», evidenciando assim que a vida em Cristo impõe uma «escolha», uma renúncia radical a tudo o que — coisas inúteis — mantém o homem ligado à terra, corrompendo a sua alma. A busca das «coisas lá do alto» não significa que o cristão deve descuidar as suas obrigações e tarefas terrenas, mas não deve perder-se nelas, como se tivessem um valor definitivo. A chamada às realidades do Céu é um convite a reconhecer a relatividade do que é destinado a passar, face àqueles valores que não conhecem o desgaste do tempo. Trata-se de trabalhar, de se empenhar, de conceder-se o justo repouso, mas com o desapego sereno de quem sabe que é apenas um viandante a caminho rumo à Pátria celeste, um peregrino; num certo sentido, um estrangeiro rumo à eternidade.

A esta meta última já chegaram os saudosos Cardeais Peter Seiichi Shirayanagi, Cahal Brendan Daly, Armand Gaétan Razafindratandra, Thomáš Špidlik, Paul Augustin Mayer, Luigi Poggi; assim como os numerosos Arcebispos e Bispos que nos deixaram ao longo deste último ano. Desejo recordá-los com sentimentos de afecto, dar graças a Deus pelos seus dons concedidos à Igreja, precisamente através destes nossos Irmãos que nos precederam no sinal da fé e agora dormem o sono da paz. O nosso agradecimento torna-se oração de sufrágio por eles, para que o Senhor os acolha nas bem-aventuranças do Paraíso. Oferecemos pelas suas almas eleitas esta Santa Eucaristia, estreitando-nos em volta do altar, sobre o qual se faz presente o Sacrifício que proclama a vitória da Vida sobre a morte, da Graça sobre o pecado, do Paraíso sobre o inferno.

Apraz-nos recordar estes nossos venerados Irmãos como Pastores zelosos, cujo ministério foi sempre marcado pelo horizonte escatológico que anima a esperança na felicidade sem sombras que nos foi prometida depois desta vida: como testemunhas do Evangelho, inclinados para viver aquelas «coisas lá do alto», que são o fruto do Espírito: «amor, alegria, paz, magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si» (Ga 5,22); como cristãos e Pastores animados por fé profunda, pelo grande desejo de se conformar com Jesus e aderir intimamente à sua Pessoa, contemplando de modo incessante o seu rosto na oração. Por isso eles puderam saborear a «vida eterna», da qual nos fala a página do Evangelho de hoje (Jn 3,13-17) e que o próprio Cristo prometeu a «todo o que nele crer». De facto, a expressão «vida eterna» designa o dom divino concedido à humanidade: a comunhão com Deus neste mundo e a sua plenitude no mundo futuro.

A vida eterna foi-nos aberta pelo Mistério pascal de Cristo e a fé é o caminho para a alcançar. E isto sobressai das palavras dirigidas por Jesus a Nicodemos, referidas pelo evangelista João: «Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também tem de ser levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que n’Ele crer tenha a vida eterna» (Jn 3,14-15). Há aqui uma referência explícita ao episódio narrado no livro dos Números (cf. Nb 21,1-9), que realça a força salvífica da fé na palavra divina. Durante o êxodo, o povo judeu revoltou-se contra Moisés e contra Deus, e foi punido com a chaga das serpentes venenosas. Moisés pediu perdão, e Deus, aceitando o arrependimento dos Israelitas, ordena-lhes: «Faz uma serpente ardente e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido, olhando para ela, viverá». E assim aconteceu. Jesus, no diálogo com Nicodemos, revela o sentido mais profundo daquele acontecimento de salvação, relacionando-o com a própria morte e ressurreição: o Filho do homem deve ser elevado no madeiro da Cruz para que todo o que n’Ele crer tenha vida. São João vê precisamente no mistério da Cruz o momento no qual se revela a glória real de Jesus, a glória de um amor que se doa totalmente na paixão e na morte. Assim a Cruz, paradoxalmente, de sinal de condenação, de morte, de falência, torna-se sinal de redenção, de vida, de vitória, na qual, com o olhar da fé, se podem entrever os frutos da salvação.

Prosseguindo o diálogo com Nicodemos, Jesus aprofunda ainda mais o sentido salvífico da Cruz, revelando com sempre maior clareza que ele consiste no imenso amor de Deus e no dom do Filho unigénito: «De facto, Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único». Esta é uma das palavras centrais do Evangelho. O sujeito é Deus Pai, origem de todo o mistério criador e redentor. Os verbos «amar» e «dar» indicam uma acção decisiva e definitiva que expressa a radicalidade com que Deus se aproximou do homem no amor, até à doação total, até ao limiar da nossa última solidão, descendo ao abismo do nosso extremo abandono, ultrapassando a porta da morte. O objecto e o beneficiário do amor divino é o mundo, ou seja, a humanidade. É uma palavra que cancela completamente a ideia de um Deus distante e alheio ao caminho do homem, e revela, ao contrário, o seu rosto verdadeiro: Ele deu-nos o seu Filho por amor, para ser o Deus próximo, para nos fazer sentir a sua presença, para vir ao nosso encontro e levar-nos ao seu amor, de forma que toda a vida seja animada por este amor divino. O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e doar a vida. Deus não dita leis, mas ama sem medidas. Não manifesta a sua omnipotência no castigo, mas na misericórdia e no perdão. Compreender tudo isto significa entrar no mistério da salvação: Jesus veio para salvar e não para condenar; com o Sacrifício da Cruz Ele revela o rosto de amor de Deus. E precisamente pela fé no amor superabundante que nos foi dado em Jesus Cristo, nós sabemos que também a menor força de amor é maior do que a máxima força destruidora e pode transformar o mundo, e por esta mesma fé nós podemos ter uma «esperança certa», a esperança na vida eterna e na ressurreição da carne.

Amados irmãos e irmãs, com as palavras da primeira leitura, tirada do livro das Lamentações, pedimos que os Cardeais, os Arcebispos e os Bispos, que hoje recordamos, generosos servos do Evangelho e da Igreja, possam agora conhecer plenamente como «é bom o Senhor com quem n’Ele tem confiança, com a alma que o procura» e experimentar que «com Ele está a misericórdia e nele é abundante a redenção» (Ps 129). E nós, peregrinos a caminho rumo à Jerusalém celeste, esperamos em silêncio, com esperança firme, a salvação do Senhor (cf. Lm 3,26), procurando caminhar pelas sendas do bem, amparados pela graça de Deus, recordando sempre que «não temos aqui cidade permanente, mas vamos em busca da futura» (He 13,14). Amém.





VIAGEM APOSTÓLICA A SANTIAGO DE COMPOSTELA E BARCELONA (6-7 DE NOVEMBRO DE 2010)


Santiago, Sábado, 6 de Novembro de 2010: SANTA MISSA POR OCASIÃO DO ANO JUBILAR COMPOSTELANO

61110

Plaza del Obradoiro em Santiago de Compostela



Amadíssimos Irmãos em Jesus Cristo!


Dou graças a Deus pelo dom de poder estar aqui, nesta maravilhosa praça cheia de arte, cultura e significado espiritual. Neste Ano Santo, venho como peregrino entre os peregrinos, acompanhando tantos que vieram até aqui sequiosos da fé em Cristo ressuscitado. Fé anunciada e transmitida fielmente pelos Apóstolos, como São Tiago o Maior, o qual se venera em Compostela desde há tempos imemoráveis.

Agradeço as palavras gentis de boas-vindas de D. Julián Barrio Barrio, Arcebispo desta Igreja particular, e a amável presença de Suas Altezas Reais os Príncipes das Astúrias, dos Senhores Cardeais, assim como dos numerosos Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio. Dirijo também a minha saudação cordial aos Parlamentares europeus, membros do intergrupo «Caminho de Santiago», assim como às distintas Autoridades nacionais, autóctones e locais que quiseram estar presentes nesta celebração. Tudo isto é sinal de deferência para com o Sucessor de Pedro e também do sentimento profundo que Santiago de Compostela desperta na Galiza e nos demais povos da Espanha, que reconhece como seu Padroeiro e protector. Uma calorosa saudação também para as pessoas consagradas, seminaristas e fiéis que participam nesta Eucaristia e, com uma emoção particular, aos peregrinos, forjadores do espírito genuíno de Santiago, sem o qual pouco ou nada se entenderia do que aqui se realiza.

Uma frase da primeira leitura afirma com singeleza admirável: «Era com grande poder que os Apóstolos davam testemunho da Ressurreição do Senhor» (
Ac 4,33). De facto, no ponto de partida de tudo o que o cristão foi e continua a ser não há uma gesta ou um projecto humano, mas Deus, que declara Jesus justo e santo face à sentença do tribunal humano que o condenou blasfemo e subversivo; Deus, que tirou Jesus Cristo da morte; Deus, que fará justiça a todos os que foram injustamente humilhados pela história.

«Nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo, que Deus tem concedido àqueles que lhe obedecem» (Ac 5,32), dizem os apóstolos. Assim eles deram testemunho da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o qual conheceram quando pregava e fazia milagres. A nós, queridos irmãos, compete-nos hoje seguir o exemplo dos Apóstolos, conhecendo o Senhor cada vez mais e dando um testemunho claro e forte do seu Evangelho. Não há maior tesouro que possamos oferecer aos nossos contemporâneos. Assim imitaremos também São Paulo que, no meio de tantas tribulações, naufrágios e saudades, proclamava exultante: «Trazemos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que tão excelso poder se reconheça vir de Deus e não de nós» (2Co 4,7).

Juntamente com estas palavras do Apóstolo dos gentios estão também as palavras do Evangelho que acabamos de ouvir, e que convidam a viver a partir da humildade de Cristo que, seguindo em tudo a vontade do Pai, veio para servir, «para dar a vida em resgate por muitos» (Mt 20,28). Para os discípulos que querem continuar a imitar Cristo, servir os irmãos já não é uma mera opção, mas parte essencial do seu ser. Um serviço que não se mede pelos critérios mundanos do imediato, do material e vistoso, mas porque torna presente o amor de Deus a todos os homens e em todas as suas dimensões, e dá testemunho d’Ele, inclusive com os gestos mais delicados. Ao propor este novo modo de se relacionar na comunidade, baseado na lógica do amor e do serviço, Jesus dirige-se também aos «chefes dos povos», porque onde não há abnegação pelo próximo surgem formas de prepotência e de exploração que não deixam espaço para uma autêntica promoção humana integral. E desejo que esta mensagem chegue sobretudo aos jovens: precisamente a vós, este conteúdo essencial do Evangelho indica-vos o caminho para que, renunciando a um modo de pensar egoísta, de curto alcance, como tantas vezes vos propõem, e optando pelo de Jesus, possais realizar-vos plenamente e ser sementes de esperança.

É isto que nos recorda também a celebração deste Ano Santo Compostelano. E é isto que no segredo do coração, sabendo-o explicitamente ou sem ser capazes de o expressar com palavras, vivem tantos peregrinos que caminham até Santiago de Compostela para abraçar o Apóstolo. O cansaço de andar, a variedade das paisagens, o encontro com pessoas de outras nacionalidades, abrem-nos ao mais profundo e comum que une os seres humanos: pessoas em busca, necessitadas de verdade e de beleza, de uma experiência de graça, de caridade e de paz, de perdão e de redenção. E no mais profundo de todos os homens ressoam a presença de Deus e a acção do Espírito Santo. Sim, Deus ilumina todos os homens que rezam, fazem silêncio no seu interior e afastam as vontades, desejos e afazeres imediatos, Deus ilumina-os para que encontrem e reconheçam Cristo. Quem vem como peregrino a Santiago, no fundo, fá-lo para se encontrar sobretudo com Deus que, reflectido na majestade de Cristo, o acolhe e abençoa ao chegar ao Pórtico da Glória.

Daqui, como mensageiro do Evangelho que Pedro e São Tiago assinaram com o seu sangue, desejo dirigir o meu olhar para a Europa que peregrinou até Compostela. Quais são as suas grandes necessidades, receios e esperanças? Qual é a contribuição específica e fundamental da Igreja para a Europa, que percorreu no último meio século um caminho rumo a novas configurações e projectos? A sua contribuição centra-se numa realidade tão delicada e decisiva como esta: que Deus existe e que é Ele quem nos deu a vida. Só Ele é absoluto, amor fiel e indeclinável, meta infinita que resplandece por detrás dos bens, verdades e belezas admiráveis deste mundo; admiráveis mas insuficientes para o coração do homem. Compreendeu bem isto Santa Teresa de Jesus, quando escreveu: «Só Deus basta».

Foram uma tragédia na Europa, sobretudo no século XIX, a afirmação e a divulgação da convicção de que Deus é o antagonista do homem e o inimigo da sua liberdade. Com isto pretendia-se obscurecer a verdadeira fé bíblica em Deus, que enviou ao mundo o seu Filho Jesus Cristo, para que ninguém pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jn 3,16).

O autor sagrado afirma categoricamente, face a um paganismo segundo o qual Deus é invejoso do homem ou o despreza: como poderia ter Deus criado todas as coisas se não as amasse, Ele que na sua plenitude infinita de nada precisa? (cf. Sg 11,24-26). Como se poderia ter revelado aos homens, se não quisesse velar por eles? Deus é a origem do nosso ser e o fundamento e o ápice da nossa liberdade; não o seu opositor. Como se pode fundar sobre si mesmo o homem mortal e como pode o homem pecador reconciliar-se consigo mesmo? Como é possível que se tenha feito silêncio público sobre a realidade primária e essencial da vida humana? Como pode o que é mais determinante nela ser limitado à mera intimidade ou relegado à penumbra? Nós homens não podemos viver nas trevas, sem ver a luz do sol. E, então, como é possível que se negue a Deus, Sol da inteligência, força das vontades e imã dos nossos corações, o direito de propor esta luz que dissipa todas as trevas? Por isso, é necessário que Deus ressoe jubilosamente no céu da Europa; que esta palavra santa nunca seja pronunciada em vão; que não seja invertida, fazendo-a servir para fins que não lhe são próprios. Deve ser proferida santamente. É necessário que a sintamos assim na vida de todos os dias, no silêncio do trabalho, no amor fraterno e nas dificuldades que os anos trazem consigo.

A Europa deve abrir-se a Deus, ir ao seu encontro sem receio, trabalhar com a sua graça por aquela dignidade do homem que tinham descoberto as melhores tradições: além da bíblia, fundamental nesta ordem, também as da época clássica, medieval e moderna, das quais nasceram as grandes criações filosóficas e literárias, culturais e sociais da Europa.

Este Deus e este homem são os que se manifestaram concreta e historicamente em Cristo. A esse Cristo que podemos encontrar pelos caminhos até chegar a Compostela, porque neles há uma cruz que acolhe e orienta nas encruzilhadas. Essa cruz, supremo sinal do amor levado até ao extremo, e por isso dom e ao mesmo tempo perdão, deve ser a nossa estrela orientadora na noite do tempo. Cruz e amor, cruz e luz foram sinónimos na nossa história, porque Cristo se deixou pregar nela para nos dar o supremo testemunho do seu amor, para nos convidar ao perdão e à reconciliação, para nos ensinar a vencer o mal com o bem. Não deixeis de aprender as lições desse Cristo das encruzilhadas dos caminhos e da vida, no qual Deus vem ao nosso encontro como amigo, pai e guia. Ó Cruz bendita, brilha sempre em terras da Europa!

Permiti que daqui eu proclame a glória do homem, que admoeste contra as ameaças contra a sua dignidade pelo expulsão dos seus valores e riquezas originários, pela marginalização ou morte infligidas aos mais débeis e pobres. Não se pode prestar culto a Deus sem velar pelo homem, seu Filho; e não se serve o homem sem perguntar quem é o seu Pai, sem responder à pergunta sobre ele. A Europa da ciência e das tecnologias, a Europa da civilização e da cultura, deve ser ao mesmo tempo a Europa aberta à transcendência e à fraternidade com outros continentes, ao Deus vivo e verdadeiro a partir do homem vivo e verdadeiro. É com isto que a Igreja deseja contribuir para a Europa: velar por Deus e pelo homem, a partir da compreensão que Jesus Cristo oferece de ambos.

Queridos amigos, dirijamos um olhar de esperança para tudo o que Deus nos prometeu e nos oferece. Que Ele nos dê a sua força, estimule esta Arquidiocese compostelana, vivifique a fé dos seus filhos e os ajude a seguir com fidelidade a sua vocação de difundir e revigorar o Evangelho, também noutras terras.

Que São Tiago, o amigo do Senhor, obtenha abundantes bênçãos para a Galiza, para os demais povos da Espanha, da Europa e de muitos outros lugares ultramarinos, onde o Apóstolo é sinal de identidade cristã e promotor do anúncio de Cristo!





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