Gênesis (CNB) 13
13 1 Abrão subiu do Egito ao deserto do Negueb, com a mulher, com todos os bens e em companhia de Ló. 2 Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro. 3 Do Negueb voltou para Betel, de parada em parada, até o lugar onde tinha acampado antes, entre Betel e Hai. 4 Chegando ao lugar onde antes tinha erguido um altar, Abrão invocou o nome do Senhor.
5 Ló, que acompanhava Abrão, também tinha ovelhas, gado e tendas. 6 A região já não bastava para os dois; o tamanho de seus rebanhos não permitia mais que morassem no mesmo lugar. 7 Surgiram discórdias entre os pastores que cuidavam da criação de Abrão e os pastores de Ló. Naquele tempo, os cananeus e os fereseus ainda viviam nessa terra. 8 Abrão disse a Ló: “Não deve haver discórdia entre nós nem entre nossos pastores, pois somos irmãos. 9 Estás vendo toda esta terra diante de ti? Pois bem, peço-te, separa-te de mim. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para a esquerda”.
10 Levantando os olhos, Ló viu que toda a região em torno do Jordão, até a altura de Segor, era por toda a parte irrigada; era como um jardim do Senhor, como o Egito. (Isso era antes que o Senhor destruísse Sodoma e Gomorra.) 11 Ló escolheu, então, para si a região em torno do rio Jordão e dirigiu-se para oriente. Assim os dois se separaram. 12 Abrão permaneceu na terra de Canaã, enquanto Ló se estabeleceu nas cidades próximas do Jordão, armando suas tendas até Sodoma. 13 Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos e pecavam gravemente contra o Senhor.
14 O Senhor disse a Abrão, depois que Ló se separara dele: “Levanta os olhos e, do lugar onde estás, contempla o norte e o sul, o oriente e o ocidente. 15 Toda esta terra que estás vendo, eu a darei a ti e à tua descendência, para sempre. 16 Tornarei tua descendência como a poeira do chão. Só quem puder contar os grãos de poeira do chão contará também a tua descendência. 17 Levanta-te e percorre esta terra de ponta a ponta, porque será a ti que a darei”. 18 Abrão desarmou suas tendas e foi morar junto ao carvalho de Mambré, perto de Hebron, onde ergueu um altar para o Senhor.
14 1 No tempo de seu reinado, Amrafel, rei de Senaar, Arioc, rei de Elasar, Codorlaomor, rei de Elam, e Tadal, rei de Goim, 2 declararam guerra contra Bara, rei de Sodoma, Bersa, rei de Gomorra, Senaab, rei de Adama, Semeber, rei de Seboim e contra o rei de Bela (que é Segor). 3 Estes últimos se haviam concentrado no vale de Sidim (que agora é o mar Morto). 4 Durante doze anos haviam servido a Codorlaomor, mas no décimo terceiro ano se rebelaram. 5 No décimo quarto ano veio Codorlaomor com os reis aliados e derrotou os refaítas em Astarot Carnaim, os zuzitas em Ham, os emitas na planície de Cariataim 6 e os hurritas nos montes de Seir até El-Farã, junto ao deserto. 7 Voltando, vieram a En-Mispat (que é Cades) e devastaram todo o território dos amalecitas e o dos amorreus, que moravam em Asasontamar.
8 Saíram-lhes ao encontro os reis de Sodoma, Gomorra, Adama, Seboim e Bela (que é Segor). Puseram-se em ordem de batalha, no vale de Sidim, 9 contra Codorlaomor, rei de Elam, Tadal, rei de Goim, Amrafel, rei de Senaar e Arioc, rei de Elasar. Eram quatro reis contra cinco.
10 Havia no vale de Sidim muitos poços de betume. Postos em fuga, os reis de Sodoma e Gomorra caíram neles, enquanto os sobreviventes fugiram para a montanha. 11 Os vencedores saquearam todos os bens e provisões de Sodoma e Gomorra e se retiraram. 12 Levaram também consigo Ló, sobrinho de Abrão, que morava em Sodoma, com todos os seus bens. 13 Um dos fugitivos foi informar a Abrão, o hebreu, que morava junto ao carvalho do amorreu Mambré, irmão de Escol e Aner, aliados de Abrão. 14 Quando Abrão soube que seu parente fora seqüestrado, mobilizou trezentos e dezoito escravos nascidos em sua casa e perseguiu os reis até Dã. 15 Dividiu a tropa e caiu sobre eles de noite, ele com os seus escravos, derrotando-os e perseguindo-os até Hoba, ao norte de Damasco. 16 Recuperou todos os bens, seu parente Ló com todos os bens, as mulheres e sua gente.
17 Quando Abraão voltava, depois da vitória contra Codorlaomor e os reis aliados, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Save (que é o vale do Rei).
18 Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como sacerdote de Deus Altíssimo, 19 abençoou Abrão, dizendo:
“Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo,
Criador do céu e da terra.
20 Bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou teus inimigos em tuas mãos”.
E Abrão entregou-lhe o dízimo de tudo.
21 O rei de Sodoma disse a Abrão: “Entrega-me as pessoas e fica com os bens”. 22 Abrão, porém, respondeu ao rei de Sodoma: “Levanto minha mão para o Senhor, o Deus Altíssimo, Criador do céu e da terra, e juro: 23 nem um fio, nem uma correia de sandália, nem coisa alguma tomarei do que é teu, para que não digas: ‘Enriqueci Abrão’. 24 Nada para mim! Apenas o que os guerreiros comeram e a parte devida aos homens que me acompanharam, Aner, Escol e Mambré; só eles receberão cada qual sua parte”.
15 1 Depois desses acontecimentos, o Senhor falou a Abrão numa visão, dizendo: “Não temas, Abrão! Eu sou teu escudo protetor; tua recompensa será muito grande”. 2 Abrão respondeu: “Senhor Deus, que me haverás de dar? Eu me vou sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco”. 3 E acrescentou: “Como não me deste descendência, um escravo nascido em minha casa será meu herdeiro”. 4 Então veio-lhe a palavra do Senhor: “Não será esse o teu herdeiro; um dos teus descendentes será o herdeiro”. 5 E, conduzindo-o para fora, disse-lhe: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz!” E acrescentou: “Assim será tua descendência”. 6 Abrão teve fé no Senhor, que levou isso em conta de justiça. 7 E disse-lhe: “Eu sou o Senhor que te fez sair de Ur dos Caldeus, para te dar esta terra em posse”. 8 Abrão lhe perguntou: “Senhor Deus, como poderei saber que eu vou possuí-la?” 9 E o Senhor lhe disse: “Traze-me uma novilha de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, além de uma rola e uma pombinha”.
10 Abrão trouxe tudo e cortou os animais pelo meio, menos as aves, dispondo as respectivas partes uma na frente da outra. 11 Aves de rapina se precipitavam sobre os cadáveres, mas Abrão as afugentava. 12 Quando o sol já ia descendo, um sono profundo caiu sobre Abrão, que foi tomado de grande e misterioso terror. 13 E o Senhor disse a Abrão: “Fica sabendo que tua descendência viverá como estrangeiros numa terra que não lhes pertence. Serão reduzidos à escravidão e oprimidos durante quatrocentos anos. 14 Mas eu farei o julgamento da nação que os escravizará, e depois sairão dali com grandes riquezas. 15 Quanto a ti, irás reunir-te em paz com teus pais e serás sepultado depois de uma velhice feliz. 16 Na quarta geração, eles voltarão para cá, pois a culpa dos amorreus ainda não se completou”. 17 Quando o sol se pôs e a escuridão chegou, apareceu um braseiro fumegante e uma tocha de fogo, que passaram por entre as partes dos animais esquartejados. 18 Naque-
le dia, o Senhor fez aliança com Abrão, dizendo: “A teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio, o Eufrates: 19 terra dos quenitas, dos quenezitas, dos cadmonitas, 20 dos heteus, dos fereseus, dos?refaítas, 21 dos amorreus, dos cananeus, dos?gergeseus e dos jebuseus”.
16 1 Sarai, mulher de Abrão, não lhe havia dado filhos. Mas ela tinha uma escrava egípcia chamada Agar. 2 Sarai disse a Abrão: “Já que o Senhor me fez estéril, une-te à minha escrava, para ver se, por meio dela, eu possa ter filhos”. Abrão atendeu ao pedido de Sarai. 3 (Isso foi quando Abrão habitava na terra de Canaã fazia dez anos.) Sarai, esposa de Abrão, tomou a escrava egípcia, Agar, e deu-a como mulher a Abrão, seu marido. 4 Ele uniu-se a Agar e ela concebeu. Percebendo-se grávida, começou a olhar com desprezo para a sua Senhora. 5 Sarai disse a Abrão: “Tu és responsável pela injúria que estou sofrendo. Fui eu mesma que pus minha escrava em teus braços, mas ela, assim que ficou grávida, começou a desprezar-me. O Senhor seja juiz entre mim e ti”. 6 Abrão disse para Sarai: “Olha, a escrava é tua. Faze dela o que bem entenderes”. Então Sarai a maltratou tanto que ela fugiu. 7 Um anjo do Senhor encontrou-a junto à fonte do deserto, no caminho de Sur, 8 e disse-lhe: “Agar, escrava de Sarai, de onde vens e para onde vais?” Ela respondeu: “Estou fugindo de Sarai, minha Senhora”. 9 E o anjo do Senhor lhe disse: “Volta para tua Senhora e põe-te sob as suas ordens”. 10 E o anjo do Senhor acrescentou: “Multiplicarei a tua descendência de tal forma que ninguém a poderá contar”. 11 Por fim o anjo do Senhor disse:
“Olha, estás grávida, darás à luz um filho e o chamarás Ismael,
porque na tua aflição o Senhor te escutou.
12 Ele será semelhante a um jumento selvagem,
sua mão estará contra todos, e a mão de todos contra ele.
Ele habitará separado de todos os seus irmãos”.
13 Ela invocou, então, o nome do Senhor que lhe havia falado: “Tu, o Deus que olha para mim”, pois ela disse: “Aqui cheguei a ver Aquele que olha para mim”. 14 Por isso aquele poço se chamou poço de Laai-Roí (isto é, “d’Aquele que vive e olha para mim”). Fica entre Cades e Barad.
15 Agar deu a Abrão um filho. Abrão pôs o nome de Ismael ao filho que Agar lhe deu. 16 Abrão tinha oitenta e seis anos quando Agar deu à luz Ismael.
17 1 Abrão tinha noventa e nove anos, quando o Senhor lhe apareceu e lhe disse: “Eu sou o Deus Poderoso. Anda na minha presença e sê íntegro. 2 Quero estabelecer contigo minha aliança e multiplicar sobremaneira a tua descendência”.
3 Abrão prostrou-se com o rosto em terra, e Deus lhe disse: 4 “De minha parte, esta é a minha aliança contigo: tu serás pai de uma multidão de nações. 5 Já não te chamarás Abrão: Abraão será teu nome, porque farei de ti o pai de uma multidão de nações. 6 Eu te tornarei extremamente fecundo. De ti farei nações e terás reis como descendentes. 7 Estabeleço minha aliança entre mim e ti e teus descendentes para sempre, uma aliança eterna, para que eu seja Deus para ti e para teus descendentes. 8 A terra em que vives como estrangeiro, toda a terra de Canaã, eu a darei como propriedade perpétua a ti e a teus descendentes. Eu serei o Deus deles”.
9 Deus disse a Abraão: “De tua parte, guardarás a minha aliança, tu e tua descendência, para sempre. 10 Esta é a minha aliança que devereis observar, aliança entre mim e vós e tua descendência futura: todo varão entre vós deverá ser circuncidado. 11 Circuncidareis a carne do prepúcio: esse será o sinal da aliança entre mim e vós. 12 No oitavo dia do nascimento serão circuncidados todos os meninos, de cada geração, mesmo os filhos dos?escravos nascidos em casa ou comprados de?algum estrangeiro, e que não fazem parte de tua descendência. 13 Seja circuncidado tanto o escravo nascido em casa como o comprado a dinheiro. Assim trareis em vossa carne?o sinal de minha aliança para sempre. 14 O incircunciso, porém, aquele que não circuncidar a carne de seu prepúcio, seja eliminado do povo, porque violou minha aliança”.
15 Deus disse ainda a Abraão: “Quanto à tua mulher, Sarai, já não a chamarás Sarai, mas Sara, \Princesa. 16 Eu a abençoarei e também dela te darei um filho. Eu a abençoarei, e ela será mãe de nações; dela nascerão reis de povos”.
17 Abraão prostrou-se com o rosto em terra e começou a rir, dizendo consigo mesmo: “Será que um homem de cem anos vai ter um filho e que, aos noventa anos, Sara vai dar à luz?” 18 E, dirigindo-se a Deus, disse: “Quem dera que ao menos Ismael pudesse viver em tua presença”. 19 Mas Deus respondeu: “Na verdade é Sara, tua mulher, que te dará um filho, a quem chamarás Isaac. Com ele estabelecerei minha aliança, uma aliança perpétua para sua descendência. 20 E também a respeito de Ismael atendo a teu pedido: eu o abençoarei e o tornarei fecundo e extremamente numeroso. Será pai de do-
ze chefes, e dele farei uma grande nação. 21 Quanto à minha aliança, porém, eu a estabelecerei com Isaac, o filho que Sara te dará no ano que vem, por este tempo”. 22 Tendo acabado de falar com Abraão, Deus subiu e o deixou.
23 Abraão tomou o filho Ismael, bem como todos os escravos nascidos em sua casa ou comprados a dinheiro, todos os varões de sua casa, e circuncidou-lhes a carne do prepúcio naquele mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado. 24 Abraão tinha noventa e nove anos quando circuncidou a carne de seu prepúcio. 25 Seu filho Ismael tinha treze anos quando foi circuncidado. 26 Naquele mesmo dia foram circuncidados Abraão e seu filho Ismael, 27 juntamente com todos os homens de sua casa, tanto os que nela nasceram como os comprados de estrangeiro.
18 1 Depois o Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada da tenda, no maior calor do dia. 2 Levantando os olhos, Abraão viu, perto dele, três homens de pé. Assim que os viu, saiu correndo ao seu encontro, prostrou-se por terra 3 e disse: “Meu Senhor, se mereci teu favor, peço-te, não prossigas viagem sem parar junto a mim, teu servo. 4 Mandarei trazer um pouco de água para lavar vossos pés e descansareis debaixo da árvore. 5 Farei servir um pouco de pão para refazerdes as forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que passastes junto a vosso servo”. Eles responderam: “Faze como disseste”.
6 Abraão entrou logo na tenda onde estava Sara e lhe disse: “Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa uns pães e assa-os”. 7 Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro bem bonito e o entregou a um criado para que o preparasse sem demora. 8 A seguir foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado e serviu tudo para eles. Enquanto comiam, Abraão ficou de pé, junto deles, debaixo da árvore.
9 Eles lhe perguntaram: “Onde está Sara, tua mulher?” – “Está na tenda”, respondeu ele. 10 Um deles disse: “No ano que vem, por este tempo, voltarei a ti, e Sara, tua mulher, já terá um filho”. Sara ouviu isso na entrada da tenda, atrás dele. 11 Ora, Abraão e Sara já eram velhos, muito avançados em idade, e ela já não tinha as regras das mulheres. 12 Por isso, Sara se pôs a rir em seu íntimo, dizendo: “Acabada como estou, terei ainda tal prazer, sendo meu marido já velho?” 13 E o Senhor disse a Abraão: “Por que Sara riu? Pois ela disse: ‘Acaso ainda terei um filho, sendo já velha?’ 14 Existe alguma coisa impossível para o Senhor? No ano que vem, por este tempo voltarei e Sara já terá um filho”. 15 Sara negou que tivesse rido: “Não ri”, disse ela, pois estava com medo. Mas ele insistiu: “Sim, tu riste”.
16 Os homens levantaram-se e voltaram os olhos em direção de Sodoma. Abraão os acompanhava para deles se despedir. 17 O Senhor disse consigo: “Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer? 18 Pois Abraão virá a ser uma nação grande e forte, e nele serão abençoadas todas as nações da terra. 19 De fato, eu o escolhi para que ensine seus filhos e sua casa a guardarem os caminhos do Senhor, praticando a justiça e o direito, a fim de que o Senhor cumpra a respeito de Abraão o que lhe prometeu”. 20 Então o Senhor disse: “O clamor contra Sodoma e Gomorra cresceu, e agravou-se muito o seu pecado. 21 Vou descer para verificar se as suas obras correspondem ou não ao clamor que chegou até mim”.
22 Partindo dali, os homens se dirigiram a Sodoma, enquanto Abraão ficou ali na presença do Senhor. 23 Então, aproximando-se, Abraão disse: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? 24 Se houvesse cinqüenta justos na cidade, acaso os exterminarias? Não perdoarias o lugar por causa dos cinqüenta justos que ali vivem? 25 Longe de ti proceder assim, fazendo morrer o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio! Longe de ti! O juiz de toda a terra não faria justiça?” 26 O Senhor respondeu: “Se eu encontrar em Sodoma cinqüenta justos, perdoarei por causa deles a cidade inteira”. 27 Abraão prosseguiu e disse: “Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza. 28 Se dos cinqüenta justos faltarem cinco, destruirás por causa dos cinco a cidade inteira?” O Senhor respondeu-lhe: “Não a destruirei se achar ali quarenta e cinco justos”. 29 Insistiu ainda Abraão e disse: “E se forem só quarenta?” Ele respondeu: “Por causa dos quarenta, não a destruirei”. 30 Abraão tornou a insistir: “Não se irrite o meu Senhor, se ainda falo. E se não houver mais do que trinta justos?” Ele respondeu: “Também não o farei se encontrar somente trinta”. 31 Tornou Abraão a insistir: “Já que me atrevi a falar a meu Senhor: e se houver apenas vinte justos?” Ele respondeu: “Não a destruirei, por causa dos vinte”. 32 E Abraão disse: “Que meu Senhor não se irrite, se falar só mais uma vez: e se houver apenas dez?” E ele respondeu: “Por causa dos dez, não a destruirei”.
33 Tendo acabado de falar a Abraão, o Senhor partiu, e Abraão voltou para sua tenda.
19 1 De tarde, os dois anjos chegaram a Sodoma. Ló estava sentado à porta da cidade. Ao vê-los, Ló se levantou, saiu-lhes ao encontro, prostrou-se com o rosto em terra 2 e disse: “Meus Senhores, rogo-vos que venhais à casa de vosso servo para lavardes os pés e pernoitardes. Amanhã cedo, ao despertar, seguireis vosso caminho”. Mas eles responderam: “Não, nós vamos passar a noite na praça”. 3 Ló insistiu muito com eles, de modo que foram com ele para casa, onde lhes preparou um jantar e alguns pães, e eles comeram. 4 Ainda não foram dormir, quando os homens da cidade, os habitantes de Sodoma, cercaram a casa; moços e velhos, vieram todos sem exceção. 5 Chamaram Ló e lhe disseram: “Onde estão os homens que vieram à tua casa esta noite? Traze-os cá até nós, para termos relações com eles”. 6 Ló saiu à porta, fechou-a atrás de si 7 e lhes disse: “Por favor, meus irmãos, não façais semelhante maldade. 8 Vede, tenho duas filhas ainda virgens. Vou trazê-las para fora. Podeis fazer com elas o que bem entenderdes; mas nada façais a estes homens, pois vieram acolher-se sob o meu teto”. 9 Eles lhe disseram: “Fora daqui! Este indivíduo veio como imigrante e pretende ser juiz? Pois bem. Vamos te fazer algo pior do que a eles”. Avançaram violentamente sobre Ló e já estavam para arrombar a porta. 10 Mas os hóspedes intervieram, puxaram Ló para dentro de casa e fecharam a porta. 11 Feriram de cegueira os homens que estavam fora, desde o menor até o maior, de modo que não podiam mais encontrar a porta.
12 Os dois homens disseram a Ló: “Se tens aqui ainda algum parente, genro, filho ou filha, tudo o que tens na cidade, tira-o daqui. 13 Vamos destruir este lugar, pois grande é o clamor contra ele diante do Senhor. Ele nos enviou para destruir a cidade. 14 Ló foi então falar com os genros que estavam para casar-se com suas filhas e lhes disse: “Levantai-vos e saí deste lugar, porque o Senhor vai destruir a cidade”. Mas os genros julgaram que estivesse brincando.
15 Ao raiar da aurora, os anjos insistiram com Ló, dizendo: “Levanta-te, toma tua mulher e as duas filhas que tens, para não morreres também tu por causa do castigo da cidade”. 16 Como ele hesitasse, os homens tomaram-no pela mão, a ele, a mulher e as duas filhas – pois o Senhor tinha compaixão dele –, fizeram-nos sair e deixaram-nos fora da cidade. 17 Uma vez fora, disseram: “Trata de salvar tua vida. Não olhes para trás, nem pares em parte alguma desta região, mas foge para a montanha, se não quiseres morrer”. 18 Ló respondeu: “Não, meu Senhor, eu te peço! 19 O teu servo encontrou teu favor, e foi grande tua bondade comigo, conservando-me a vida. Mas receio não poder salvar-me na montanha, antes que a calamidade me atinja e eu morra. 20 Eis aqui perto uma cidade onde poderei refugiar-me. É um povoado. Permite que me salve ali. É bem pequena, mas salvaria minha vida”. 21 E ele lhe disse: “Pois bem, concedo-te também este favor: não destruirei a cidade de que falas. 22 Refugia-te lá depressa, pois nada posso fazer enquanto não tiveres entrado na cidade”. Por isso foi dado àquela cidade o nome de Segor, \Pequena.
23 O sol estava nascendo quando Ló entrou em Segor. 24 O Senhor fez então chover do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. 25 Destruiu as cidades e toda a região, junto com os habitantes das cidades e até a vegetação do solo. 26 Ora, a mulher de Ló olhou para trás e tornou-se uma estátua de sal.
27 Abraão levantou-se bem cedo e foi até o lugar onde antes tinha estado com o Senhor. 28 Deixando pairar seu olhar na direção de Sodoma e Gomorra e da região toda, viu levantar-se do chão uma densa fumaça, como a fumaça de uma fornalha. 29 Mas Deus, ao destruir as cidades da região, lembrou-se de Abraão e salvou Ló da catástrofe que arrasou as cidades onde Ló havia morado.
30 Ló subiu de Segor e foi morar nas montanhas com as duas filhas, pois tinha medo de ficar em Segor. Instalou-se numa gruta com as duas filhas. 31 A mais velha disse à mais nova: “Nosso pai já está velho e aqui não há homens com quem possamos casar-nos, como faz todo mundo. 32 Vamos embriagar nosso pai com vinho e dormir com ele, para ter filhos dele”. 33 Embriagaram o pai, naquela noite, e a mais velha foi dormir com ele sem que ele nada percebesse, nem quando ela se deitou nem quando se levantou. 34 No dia seguinte a mais velha disse à mais nova: “Ontem à noite dormi com o pai. Vamos embriagá-lo também esta noite, e tu vais dormir com ele para gerar descendência de nosso pai”. 35 Também naquela noite embriagaram o pai, e a mais nova dormiu com ele. Ele, porém, nada percebeu, nem quan-
do ela se deitou, nem quando se levantou. 36 Assim as duas filhas de Ló ficaram grávidas do próprio pai. 37 A mais velha deu à luz um filho a quem chamou Moab, que é o antepassado dos atuais moabitas. 38 Também a mais nova deu à luz um filho a quem chamou Ben-Ami, que é o antepassado dos atuais amonitas.
20 1 Abraão partiu dali para a região do deserto do Negueb e habitou entre Cades e Sur, vivendo como migrante em Gerara. 2 Abraão dizia de Sara, sua mulher: “Ela é minha irmã”. Então Abimelec, rei de Gerara, mandou que lhe trouxessem Sara. 3 Mas, durante a noite, Deus apareceu a Abimelec num sonho e lhe disse: “Vais morrer por causa da mulher que tomaste, pois ela tem marido”. 4 Abimelec, que não se havia aproximado dela, respondeu: “Meu Senhor, matarias mesmo gente inocente? 5 Acaso não foi ele que me disse: ‘Ela é minha irmã’? E não foi ela que me disse: ‘Ele é meu irmão’? Agi com consciência reta e mãos inocentes”. 6 E Deus lhe disse no sonho: “Bem sei que?fizeste isto de boa fé. Por isso te impedi de?pecares contra mim e não consenti que a tocasses. 7 Portanto devolve a mulher a seu marido, pois sendo ele um profeta, rogará por ti e viverás. Mas se não a devolveres, fica sabendo que deverás morrer, tu com todos os teus”.
8 De manhã, ao despertar, Abimelec chamou todos os seus servidores e contou tudo o que acontecera, e os homens ficaram com muito medo. 9 Depois chamou Abraão e lhe disse: “Que foi que nos fizeste? E que fiz de errado contra ti para atraíres sobre mim e meu reino um tão grande pecado? Fizeste comigo o que não se deve fazer”. 10 E Abimelec perguntou a Abraão: “O que pretendias ao fazer isso?” 11 Abraão lhe respondeu: “Eu pensei comigo: ‘Certamente não há temor de Deus neste lugar e vão matar-me por causa de minha mulher’. 12 Além do mais, ela é realmente minha irmã, filha de meu pai mas não de minha mãe, e se tornou minha mulher. 13 Desde que Deus me fez emigrar da casa de meu pai, eu pedi a ela: ‘Faze-me o favor de dizer em todos os lugares aonde chegarmos que sou teu irmão’”. 14 Abimelec tomou então ovelhas e bois, escravos e escravas e os deu a Abraão. Devolveu a Abraão a sua mulher Sara 15 e lhe disse: “Tens minha terra à tua disposição; mora onde bem entenderes”. 16 E para Sara disse: “Olha, dei a teu irmão mil moedas de prata. Sirvam-te elas como reparação moral diante de toda gente, e assim estarás justificada”. 17 Abraão intercedeu por Abimelec, e Deus curou Abimelec, sua mulher e suas servas, para poderem ter filhos. 18 (Pois o Senhor tinha tornado estéreis todas as mulheres na casa de Abimelec, por causa de Sara, mulher de Abraão.)
21 1 O Senhor deu atenção a Sara, como havia prometido, e cumpriu o que lhe dissera. 2 Sara concebeu e deu a Abraão um filho na velhice, no tempo que Deus lhe havia predito. 3 Abraão deu o nome de Isaac ao filho que lhe nascera de Sara. 4 Abraão circuncidou o filho Isaac no oitavo dia, como Deus lhe havia ordenado. 5 Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac. 6 E Sara disse:
“Deus me fez sorrir,
e todos os que souberem vão sorrir comigo”.
7 E acrescentou:
“Quem teria dito a Abraão
que Sara haveria de amamentar filhos?
Pois eu lhe dei um filho na velhice”.
8 Entretanto, o menino cresceu e foi desmamado. Abraão fez um grande banquete no dia em que Isaac foi desmamado. 9 Mas Sara viu o filho que a egípcia Agar dera a Abraão brincando com seu filho Isaac. 10 E disse a Abraão: “Manda embora essa escrava e seu filho, pois o filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac”. 11 Abraão ficou muito desgostoso com isso, por se tratar de um filho seu. 12 Mas Deus lhe disse: “Não te aflijas a propósito do menino e da escrava. Atende a tudo o que Sara te pedir, pois é por Isaac que terás uma descendência que levará teu nome. 13 Mas também do filho da escrava farei uma nação, por ser descendência tua”. 14 Abraão levantou-se de manhã, tomou pão e um odre de água, que deu a Agar e lhe pôs aos ombros. Depois entregou-lhe o menino e despediu-a. Ela foi-se embora e andou vagueando pelo deserto de Bersabéia. 15 Quando acabou a água do odre, largou o menino debaixo de um arbusto 16 e foi sentar-se em frente dele, à distância de um tiro de arco. Pois dizia consigo: “Não quero ver o menino morrer”. Assim ficou sentada em frente do menino e chorava em alta voz. 17 Deus ouviu o choro do menino e, de lá dos céus, o anjo de Deus chamou Agar, dizendo: “Que tens, Agar? Não tenhas medo, pois Deus ouviu o choro do menino do lugar onde está. 18 Levanta-te, toma o menino e segura-o pela mão, porque farei dele uma grande nação”. 19 Deus abriu os olhos de Agar, e ela viu um poço d’água. Encheu então o odre de água e deu de beber ao menino.
20 Deus estava com o menino, que cresceu e ficou morando no deserto, tornando-se um jovem arqueiro. 21 Morou no deserto de Farã, e sua mãe escolheu para ele uma mulher egípcia.
22 Por aquele tempo, Abimelec e Ficol, chefe do exército, vieram dizer a Abraão: “Deus está contigo em tudo o que fazes. 23 Portanto, jura-me por Deus, aqui mesmo, que não me enganarás, nem a meus filhos, nem a meus descendentes, e que terás comigo e com a terra na qual estás andando a mesma lealdade que eu tive contigo”. 24 E Abraão disse: “Eu juro”.
25 Ora, Abraão queixou-se a Abimelec por causa de um poço de água de que se haviam apoderado os servos de Abimelec. 26 “Não sei quem fez isso”, respondeu Abimelec. “Como não me informaste de nada, só hoje fiquei sabendo”. 27 Abraão tomou, então, ovelhas e bois e os deu a Abimelec, e assim firmaram aliança entre si. 28 Abraão separou sete ovelhinhas do rebanho, 29 e Abimelec perguntou-lhe: “Para que servem essas sete ovelhinhas que separaste?” 30 Abraão respondeu: “Para que as recebas de minha mão e elas me sirvam de prova de que eu cavei este poço”. 31 Por isso o lugar foi chamado Bersabéia, porque ali os dois fizeram juramento.
32 Tendo feito aliança em Bersabéia, Abimelec e Ficol, chefe do exército, partiram de volta à terra dos filisteus. 33 Abraão plantou em Bersabéia um tamarindeiro e ali invocou o nome do Senhor, o Deus Eterno. 34 Abraão residiu muito tempo na terra dos filisteus.
22 1 Depois desses acontecimentos, Deus pôs Abraão à prova. Chamando-o, disse: “Abraão!” E ele respondeu: “Aqui estou”. 2 E Deus disse: “Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas, dirige-te à terra de Moriá e oferece-o ali em holocausto sobre o monte que eu te indicar”.
3 Abraão levantou-se bem cedo, encilhou o jumento, tomou consigo dois criados e o seu filho Isaac. Depois de ter rachado lenha para o holocausto, pôs-se a caminho para o lugar que Deus lhe havia ordenado. 4 No terceiro dia, Abraão levantou os olhos e viu de longe o lugar. 5 Disse então aos criados: “Esperai aqui com o jumento, enquanto eu e o menino vamos até lá. Depois de adorarmos a Deus, voltaremos a vós”.
6 Abraão tomou a lenha para o holocausto e a pôs às costas do seu filho Isaac, enquanto ele levava o fogo e a faca. Os dois continuaram caminhando juntos. 7 Isaac falou para seu pai Abraão e disse: “Pai!” – “O que queres, meu filho?” respondeu ele. O menino disse: “Temos o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” 8 Abraão respondeu: “Deus providenciará o cordeiro para o holocausto, meu filho”.
Os dois continuaram caminhando juntos. 9 Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão ergueu ali o altar, colocou a lenha em cima, amarrou o filho e o pôs sobre a lenha do altar. 10 Depois estendeu a mão e tomou a faca a fim de matar o filho para o sacrifício. 11 Mas o anjo do Senhor gritou-lhe do céu: “Abraão! Abraão!” Ele respondeu: “Aqui estou!” 12 E o anjo disse: “Não estendas a mão contra o menino e não lhe faças mal algum. Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu único filho”. 13 Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num espinheiro. Pegou o carneiro e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho. 14 Abraão passou a chamar aquele lugar “O Senhor providenciará”. Hoje se diz: “No monte em que o Senhor aparece”.
15 O anjo do Senhor chamou Abraão pela segunda vez, do céu 16e lhe falou: 16 “Juro por mim mesmo – oráculo do Senhor – já que agiste deste modo e não me recusaste teu único filho, 17 eu te abençoarei e tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Teus descendentes conquistarão as cidades dos inimigos. 18 Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste”.
19 Abraão retornou até aos criados e, juntos, puseram-se a caminho de Bersabéia, onde Abraão passou a residir.
20 Depois desses acontecimentos, Abraão recebeu uma notícia nestes termos: “Também Melca deu filhos a Nacor, teu irmão. 21 Hus é o primogênito e os irmãos são Buz, Camuel, pai dos arameus, 22 Cased, Azau, Feldas, Jedlaf e Batuel”. 23 Batuel foi o pai de Rebeca. São esses os oito filhos que Melca deu a Nacor, irmão de Abraão. 24 Também?sua concubina, de nome Roma, deu à luz Tabé, Gaam, Taás e Maaca.
23 1 Sara viveu cento e vinte e sete anos 2 e morreu em Cariat Arbe, que é Hebron, na terra de Canaã. Abraão veio fazer luto por Sara e chorá-la.
3 Depois levantou-se de junto da falecida e assim falou aos heteus: 4 “Sou estrangeiro e hóspede no vosso meio. Cedei-me em propriedade entre vós um lugar de sepultura onde possa sepultar minha esposa que morreu”. 5 Os heteus responderam a Abraão: 6 “Por favor, escuta-nos, Senhor! Tu, que és um chefe poderoso entre nós, sepulta a falecida no melhor dos nossos sepulcros. Ninguém de nós te negará uma sepultura para tua falecida”.
7 Abraão levantou-se, prostrou-se diante dos donos daquela terra, os heteus, 8 e disse-lhes: “Se deveras quereis que sepulte minha falecida esposa, atendei-me e pedi por mim junto a Efron filho de Seor, 9 para que me ceda a gruta de Macpela, que lhe pertence e que está nos fundos de seu terreno. Que a venda a mim pelo seu preço, como propriedade funerária em vosso meio”. 10 Efron estava sentado entre os heteus. Efron, o heteu, respondeu a Abraão em presença dos heteus e de todos os que vieram até a porta da cidade: 11 “Por favor, escuta-me, Senhor! Eu te dou de presente o campo, com a gruta que nele se encontra. Dou-o na presença de meus compatriotas. Sepulta a tua falecida”.
12 Abraão tornou a prostrar-se diante dos donos daquela terra 13 e assim falou a Efron, para que todos ouvissem: “Faze o favor de escutar-me: eu te pagarei o preço do terreno. Aceita-o para que possa sepultar ali minha falecida”. 14 Efron respondeu a Abraão: 15 “Escuta-me, Senhor! O que é para mim e para ti um terreno no valor de quatrocentos siclos (\quatro quilos) de prata, para sepultar tua falecida?”
16 Abraão concordou com Efron e pesou diante dos heteus a prata que este havia pedido: quatrocentos siclos de prata, segundo seu peso no mercado. 17 E assim o campo de Efron em Macpela, em frente de Mambré, tanto o terreno como a gruta que se encontra nele e todas as árvores dentro dos limites do terreno, 18 tornaram-se propriedade de Abraão, na presença dos heteus e dos que vieram até a porta da cidade. 19 Depois, Abraão sepultou sua mulher Sara na gruta do campo de Macpela, em frente de Mambré, que é Hebron, na terra de Canaã. 20 Assim o terreno com a gruta passaram dos heteus para Abraão, como propriedade funerária.
Gênesis (CNB) 13