Gênesis (CNB) 39

A mulher de Putifar

39 1 José foi levado para o Egito. Putifar, um egípcio, ministro do faraó e chefe da guarda do palácio, comprou-o dos ismaelitas que o tinham levado para lá. 2 Mas o Senhor estava com José, e ele se tornou um homem bem sucedido, morando na casa de seu Senhor egípcio. 3 O patrão notou que o Senhor estava com ele e fazia prosperar tudo o que empreendia. 4 José conquistou as boas graças do patrão e ficou a seu serviço. O patrão o nomeou administrador de sua casa, confiando-lhe todos os seus bens. 5 E a partir desse momento, o Senhor abençoou, em atenção a José, a casa do egípcio e derramou sua bênção sobre tudo o que possuía em casa e no campo. 6 O patrão entregou tudo nas mãos de José e não se preocupava com coisa alguma, a não ser com o que comia.
Ora, José tinha um belo porte e era bonito de rosto.
7
Aconteceu, depois, que a mulher de seu patrão pôs nele os olhos e lhe disse: “Dorme comigo”. 8 Ele recusou, dizendo à mulher de seu patrão: “Em verdade, meu Senhor não me pede contas do que há na casa, confiando-me todos os bens. 9 Ele próprio não é mais importante do que eu nesta casa. Nada me proibiu senão a ti, por seres sua mulher. Como poderia eu fazer tamanha maldade pecando contra Deus!” 10 E embora ela insistisse diariamente com José, ele se recusou a dormir ou ficar com ela.
11
Certo dia, José entrou na casa para seus afazeres, e nenhum dos domésticos estava em casa. 12 A mulher agarrou-o pelo manto e disse: “Dorme comigo”. Mas ele largou-lhe nas mãos o manto e fugiu correndo para fora. 13 Vendo que lhe tinha deixado nas mãos o manto e escapado para fora, 14 ela se pôs a gritar e a chamar os empregados, dizendo: “Vede! Trouxeram-nos esse hebreu para abusar de nós. Ele me abordou para dormir comigo, mas eu comecei a gritar em alta voz. 15 Quando percebeu que levantei a voz e gritei, largou o manto aqui comigo e fugiu correndo para fora”. 16 A mulher ficou com o manto de José até o marido voltar para casa. 17 Então falou-lhe nos mesmos termos, dizendo: “Esse escravo hebreu que nos trouxeste abordou-me querendo abusar de mim. 18 Quando levantei a voz e comecei a gritar, largou o manto aqui comigo e fugiu para fora”.
19
Ao ouvir o que a mulher contava – “Assim é que me tratou teu escravo” – o marido ficou furioso. 20 Mandou prender José e lançou-o no cárcere onde se guardavam os presos do rei. E José ficou no cárcere.
21
Mas o Senhor estava com José e concedeu-lhe seu favor, atraindo-lhe a simpatia do carcereiro-chefe. 22 Este confiou a seus cuidados todos os que se achavam presos. Era ele que organizava tudo quanto lá se fazia. 23 O carcereiro-chefe não se preocupava com coisa alguma que lhe fora confiada, porque o Senhor estava com José e fazia prosperar tudo o que fazia.

Intérprete de sonhos no cárcere

40 1 Sucedeu, depois, que o copeiro e o padeiro do rei do Egito ofenderam seu Senhor, o rei do Egito. 2 O faraó encolerizou-se contra os dois ministros, o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros, 3 e os lançou no cárcere da casa do chefe da guarda – o cárcere onde José estava preso. 4 O chefe da guarda indicou-lhes José para servi-los. Passaram algum tempo no cárcere.
5
Certa noite, o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros do rei do Egito, que estavam presos no cárcere, tiveram um sonho, cada qual com significado diferente. 6 Ao entrar, pela manhã, José os encontrou com o rosto abatido. 7 Perguntou então aos ministros do faraó, que com ele estavam presos na casa de seu Senhor: “Por que estais hoje com o rosto mais triste?” 8 Eles responderam: “Tivemos um sonho e não há quem o interprete”. José disse: “Por acaso não cabe a Deus a interpretação dos sonhos? Contai-me os sonhos”.
9
O chefe dos copeiros contou o sonho a José, dizendo: “No meu sonho, vi diante de mim uma videira 10 com três ramos, e, logo que as folhas saíam, florescia e as uvas amadureciam. 11 Como eu segurava em minhas mãos a taça do faraó, colhi os cachos, espremi as uvas na taça do faraó e a pus em suas mãos”. 12 José lhe disse: “Este é o significado do sonho: os três ramos são três dias. 13 Dentro de três dias o faraó levantará tua cabeça: ele te reconduzirá a teu cargo, e porás a taça do faraó em suas mãos, como antes o fazias, quando eras copeiro. 14 Mas, quando as coisas te correrem bem, lembra-te de mim e faze-me o favor de me recomendar ao faraó para que me tire desta prisão. 15 Com efeito, fui seqüestrado da terra dos hebreus e, mesmo aqui, nada fiz para me trancarem na prisão”.
16
Quando o chefe dos padeiros viu que José explicava bem o sonho, disse-lhe: “Eu também tive um sonho: carregava sobre a cabeça três balaios de pão branco. 17 No balaio de cima havia toda sorte de guloseimas preparadas pelos padeiros para o faraó, e as aves comiam do balaio que eu levava sobre a cabeça”. 18 José respondeu: “Este é o significado: os três balaios são três dias. 19 Dentro de três dias o faraó levantará tua cabeça: ele te pendurará numa árvore para as aves comerem tua carne”.
20
Ora, realmente, ao terceiro dia o faraó celebrava o aniversário e ofereceu um banquete a todos os servidores e, de fato, “levantou a cabeça” do chefe dos copeiros e do chefe dos padeiros entre os servidores: 21 reconduziu o chefe dos copeiros ao cargo de servir a taça ao faraó; 22 e quanto ao chefe dos padeiros, mandou enforcá-lo, conforme a interpretação que José lhe havia dado.
23
Mas o chefe dos copeiros não pensou mais em José; esqueceu-o.

Os sonhos do faraó

41 1 Passados dois anos, o faraó teve um sonho: achava-se às margens do rio Nilo 2 e viu subir dele sete vacas bonitas e gordas para pastar na várzea. 3 Mas atrás delas subiam do rio outras sete vacas feias e magras, que se colocaram junto às sete que já estavam à margem do rio. 4 As vacas feias e magras devoraram as sete vacas bonitas e gordas. Nisso o faraó acordou. 5 Depois adormeceu e sonhou pela segunda vez: viu sete espigas bem graúdas e belas saindo do mesmo caule. 6 Mas atrás delas brotaram sete espigas chochas, ressequidas pelo vento leste. 7 As sete espigas chochas engoliram as sete espigas graúdas e cheias. Então o faraó acordou e viu que era um sonho.
8
Pela manhã, com o espírito perturbado, mandou chamar todos os adivinhos e sábios do Egito. Contou-lhes os sonhos, mas não houve quem os interpretasse ao faraó. 9 Então o copeiro-mor falou ao faraó e disse: “Hoje devo recordar minha falta. 10 O faraó esteve irritado contra os servos e os mandou encarcerar na casa do chefe da guarda, a mim e ao chefe dos padeiros. 11 Na mesma noite, ambos tivemos um sonho, cada qual com um sentido diferente. 12 Havia lá conosco um jovem hebreu, escravo do chefe da guarda. Contamos os sonhos, e ele os interpretou, dando a cada um a sua interpretação. 13 Aconteceu tal como nos interpretou: eu fui reconduzido ao cargo e o outro foi pendurado”.

José interpreta os sonhos do faraó

14 O faraó mandou chamar José, e depressa o tiraram da prisão. José barbeou-se, mudou de roupa e apresentou-se ao faraó. 15 O faraó disse a José: “Tive um sonho, e não há quem o interprete. Ouvi dizer que, apenas ouves um sonho, logo o interpretas”. 16 José respondeu ao faraó: “Não eu, mas Deus dará uma resposta plausível ao faraó”.
17
Então o faraó contou a José: “Em meu sonho estava de pé, às margens do rio, 18 e vi?subir do rio sete vacas gordas, de bela aparência, que se puseram a pastar na várzea. 19 E logo atrás delas subiram outras sete vacas miseráveis, de aparência muito feia, tão magras e feias como nunca tinha visto em todo o Egito. 20 E as vacas magras e feias devoraram as sete primeiras vacas gordas, 21 mas entraram-lhes no ventre sem que se notasse diferença alguma, pois seu aspecto continuou tão ruim como antes. Nisto acordei. 22 Depois vi em sonho que saíam do mesmo caule sete espigas cheias e bonitas. 23 Atrás delas surgiram sete espigas mirradas, chochas e ressequidas pelo vento?leste. 24 E as sete espigas chochas engoliram as sete espigas bonitas. Contei o sonho aos adivinhos, mas não há quem me revele o sentido”.
25
José disse ao faraó: “O sonho do faraó constitui uma unidade. Deus deu a conhecer ao faraó o que vai fazer. 26 As sete vacas bonitas são sete anos e as sete espigas bonitas são sete anos. Pois o sonho constitui uma unidade. 27 As sete vacas magras e feias que subiam atrás das outras são outros sete anos, e as sete espigas chochas e ressequidas pelo vento leste correspondem a sete anos de fome. 28 É como eu disse ao faraó: Deus lhe fez ver o que vai fazer. 29 Virão sete anos de grande fartura em todo o Egito. 30 Depois virão sete anos de carestia, que farão esquecer toda a fartura na terra do Egito, e a fome acabará com o país. 31 Esquecerão que houve fartura no país, por causa da fome que seguirá, pois será terrível. 32 A repetição do sonho por duas vezes significa que da parte de Deus o fato já está decretado e que ele se apressará em executá-lo.
33
Portanto, o faraó procure um homem inteligente e sábio e o ponha à frente do Egito. 34 Nomeie o faraó fiscais pelo país e recolha a quinta parte das colheitas do Egito durante os sete anos de fartura. 35 Reúnam todos os víveres dos anos bons que virão e, por ordem do faraó, armazenem o trigo e o guardem como provisão nas cidades. 36 Esses mantimentos servirão de provisão ao país para os sete anos de fome que virão sobre o Egito, a fim de que o país não pereça de fome”.

José, reabilitado, vice-rei do Egito

37 Essas palavras agradaram ao faraó e a todos os seus servidores. 38 E o faraó disse aos servidores: “Poderíamos por acaso encontrar outro homem como este, dotado do espírito de Deus?” 39 E disse para José: “Uma vez que Deus te revelou essas coisas, não há pessoa tão inteligente e tão sábia como tu. 40 Serás tu quem governará o meu palácio; a teu comando, todo o povo te obedecerá. Só pelo trono serei maior do que tu”. 41 E o faraó disse ainda a José: “Olha, eu te ponho à frente de todo o Egito”. 42 O faraó tirou o seu anel da mão e o colocou na mão de José. Mandou vesti-lo com vestes de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro. 43 Depois o fez subir no seu segundo carro e proclamar à?sua frente: “De joelhos!” Assim, José foi posto à frente de todo o Egito.
44
O faraó disse a José: “Eu sou o faraó, mas sem ti ninguém moverá a mão nem o pé em todo o Egito”. 45 O faraó deu a José o nome de Safenat Fanec e deu-lhe em casamento Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On. José viajou por todo a terra do Egito. 46 José tinha trinta anos quando se pôs a serviço do faraó, rei do Egito. José saiu da presença do faraó e percorreu todo o Egito.
47
Durante os sete anos de fartura o país conheceu grande fertilidade. 48 José recolheu a produção dos sete anos em que houve fartura no Egito e armazenou-a nas cidades, depositando em cada uma a produção dos campos que a rodeavam. 49 José chegou a reunir trigo em tamanha quantidade como as areias do mar, de maneira que desistiu de contá-lo, porque ultrapassava toda medida.
50
Antes de chegar o primeiro ano da fome, José teve dois filhos com Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On. 51 Ao primeiro deu o nome de Manassés, pois dizia: “Deus me fez esquecer todos os meus sofrimentos e a família de meu pai”. 52 Ao segundo chamou Efraim, dizendo: “Deus tornou-me fecundo na terra de minha aflição”.
53
Terminados os sete anos de fartura no Egito, 54 começaram a vir os sete anos de fome, como José havia dito. Em todos os países grassava a fome, mas no Egito inteiro havia o que comer. 55 E quando também todo o Egito começou a sentir fome, o povo se pôs a clamar ao faraó, pedindo pão. O faraó disse à população: “Dirigi-vos a José e fazei o que ele vos disser”. 56 Quando a fome se estendeu a todo o país, José abriu todos os armazéns e começou a vender o trigo aos egípcios, pois a fome se agravara também no Egito. 57 De toda a terra vinham ao Egito comprar alimento de José, pois a fome era dura em toda a terra.

Jacó manda os filhos ao Egito

42 1 Ao ver que havia cereais no Egito, Jacó disse aos filhos: “Por que ficais aí parados olhando uns para os outros? 2 Ouvi dizer que no Egito há trigo. Descei até lá e comprai trigo para nós, a fim de nos mantermos vivos e não morrermos”.
3
Assim, dez dos irmãos de José desceram para comprar trigo no Egito. 4 Jacó, porém, não deixou Benjamim, irmão de José, ir com os irmãos, com medo que lhe acontecesse alguma desgraça. 5 Os filhos de Israel chegaram com outros que também vinham comprar cereais, pois havia fome em Canaã.
6
José governava o país e era ele quem vendia cereais a toda a população. Quando chegaram, os irmãos de José prostraram-se diante dele com o rosto em terra. 7 Ao ver os irmãos, José os reconheceu, mas comportou-se com eles como um estranho e lhes falou com rispidez. “De onde estais vindo?”, perguntou. Eles responderam: “De Canaã, para comprar víveres”. 8 José reconheceu os irmãos, mas eles não o reconheceram.

José coloca os irmãos à prova

9 José lembrou-se dos sonhos que teve a respeito deles e lhes falou: “Vós sois uns espiões. Viestes ver os pontos fracos do país”. 10 Eles disseram: “Não, Senhor! Teus servos vieram comprar mantimentos. 11 Todos nós somos filhos do mesmo pai, somos gente honesta; teus servos não são espiões”. 12 Ele lhes replicou: “Não é verdade, viestes ver os pontos fracos do país”. 13 Eles disseram: “Nós, teus servos, éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai na terra de Canaã. O mais novo ficou com o pai e um \dos doze já não existe”.
14
José insistiu: “Sois mesmo o que vos disse: uns espiões. 15 Mas vou pôr-vos à prova quanto a isso. \Eu juro pela vida do faraó, não saireis daqui enquanto não vier vosso irmão menor. 16 Mandai um de vós buscar vosso irmão, e vós outros ficareis aqui presos. Assim provareis se o que dizeis é verdade. Caso contrário, pela vida do faraó, \juro, sois uns espiões!” 17 E mandou metê-los na prisão durante três dias.
18
No terceiro dia José disse-lhes: “Deveis fazer o seguinte para salvardes a vida – pois eu temo a Deus –: 19 se realmente sois gente honesta, fique um dos irmãos aqui no cárcere, e vós outros ide levar o trigo que comprastes para alimentar vossas casas. 20 Mas trazei-me o vosso irmão mais novo, para que eu possa provar a verdade de vossas palavras e vós não preciseis morrer”.
Eles aceitaram fazer assim 21
e diziam uns aos outros: “É justo sofrermos estas coisas, pois pecamos contra o nosso irmão. Vimos sua angústia quando nos pedia compaixão e não o atendemos. É por isso que nos veio esta desgraça”. 22 Rúben lhes disse: “Não vos adverti para que não pecásseis contra o menino? Mas vós não me escutastes, e agora nos pedem contas do seu sangue”.
23
Eles não sabiam que José os entendia, pois lhes falava por meio de intérprete. 24 Então José se afastou deles e chorou. Pouco depois voltou e falou com eles; escolheu Simeão e mandou amarrá-lo à vista deles. 25 José mandou que lhes enchessem de trigo os sacos, colocassem neles o respectivo dinheiro e lhes dessem provisões para o caminho. E assim se fez.
26
Eles carregaram o trigo sobre os jumentos e partiram. 27 Quando, no lugar onde pernoitaram, um deles abriu o saco para dar ração ao jumento, viu que o dinheiro estava na boca do saco. 28 Ele disse aos irmãos: “Devolveram-me o dinheiro, está aqui no saco”. Então perderam a coragem e muito preocupados diziam uns aos outros: “Que será isso que Deus está fazendo conosco?”
29
Retornando junto ao pai Jacó, na terra de Canaã, contaram-lhe tudo o que havia acontecido e disseram: 30 “O homem que governa aquela terra falou-nos com dureza e nos tratou como espiões do país. 31 Nós lhe dissemos: ‘Somos gente honesta, não somos espiões. 32 Éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai; um desapareceu e o menor está no momento com o pai na terra de Canaã’. 33 E nos disse o homem que governa o país: ‘Nisto saberei se sois gente honesta: deixai comigo um de vós, levai mantimentos para matar a fome de vossas famílias e parti. 34 Trazei-me depois o irmão mais novo. Assim saberei que não sois espiões, mas gente honesta. Então vos devolverei o irmão e podereis circular pelo país’”.
35
Quando esvaziaram os sacos, encontraram a bolsa de dinheiro em cada saco. Vendo as bolsas com o dinheiro, tanto eles como o pai ficaram com medo. 36 Jacó, o pai, lhes disse: “Ides deixar-me sem filhos! José desapareceu, Simeão já não está aqui e quereis levar Benjamim também? Tudo se volta contra mim!” 37 Rúben disse ao pai: “Poderás matar meus dois filhos se não te devolver Benjamim. Confia-o a mim, que eu o devolverei a ti”. 38 Ele lhe respondeu: “Meu filho não descerá convosco. Seu irmão morreu, só resta ele. Se na viagem, que ides fazer, lhe acontecer uma desgraça, de tanta dor fareis descer este velho de cabelos brancos à morada dos mortos”.

Segunda viagem ao Egito

43 1 Ora, a fome grassava pela terra. 2 Acabadas as provisões trazidas do Egito, o pai lhes disse: “Voltai para comprar para nós alguns mantimentos”.
3
Mas Judá respondeu-lhe: “Aquele homem nos jurou: ‘Não me apareçais sem vosso irmão’. 4 Se deixas ir conosco nosso irmão, desceremos para te comprar as provisões. 5 Se não o mandas, não vamos descer, pois aquele homem nos disse: ‘Não apareçais sem o vosso irmão’”.
6
E Israel disse: “Por que me fizestes esse mal, contando àquele homem que tínheis outro irmão?” 7 E eles lhe responderam: “Aquele homem nos interrogou insistentemente sobre nós e nossa família e nos perguntou: ‘Vosso pai ainda está vivo? Tendes algum outro irmão?’ E nós respondemos segundo as perguntas. Podíamos acaso saber que ele ia nos dizer: ‘Trazei vosso irmão’?”
8
E Judá disse ao pai Israel: “Deixa ir comigo o menino para que possamos pôr-nos a caminho e conservar-nos vivos; do contrário, morreremos nós, tu e nossos filhos. 9 Responsabilizo-me por ele, de mim tu o reclamarás. Se não o trouxer de volta, colocando-o em tua presença, serei culpado para sempre diante de ti. 10 Se não nos tivéssemos atrasado tanto, já estaríamos de volta pela segunda vez”.
11
Disse-lhes o pai Israel: “Sendo assim, fazei o seguinte: escolhei para bagagem alguns dos melhores produtos desta terra e levai-os como presente a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, especiarias, resina, terebinto e amêndoas. 12 Levai convosco o dobro de dinheiro para devolver o que foi posto nos sacos, pois talvez tenha sido um engano. 13 Tomai vosso irmão e retornai para junto desse homem. 14 E o Deus Poderoso faça que esse homem vos mostre compaixão, para que deixe voltar convosco o irmão que ficou ali e também Benjamim. Quanto a mim, se tiver de ser privado de meus filhos, que seja”. 15 Levaram consigo presentes, o dobro de dinheiro e Benjamim, desceram para o Egito e apresentaram-se a José.
16
Assim que José viu Benjamim com eles, disse ao mordomo: “Faze entrar estes homens em casa; mata um animal e prepara-o, pois estes homens comerão comigo ao meio-dia”. 17 O mordomo fez o que José lhe tinha ordenado e os introduziu na casa de José.
18
Enquanto entravam na casa de José, cheios de temor diziam entre si: “É por causa do?dinheiro da outra vez, colocado em nossos sacos, que nos trazem aqui. É um pretexto para nos espoliar e cair sobre nós, fazendo-nos escravos com nossos jumentos”. 19 Aproximando-se do mordomo, falaram-lhe à entrada da casa, 20 dizendo: “Perdão, Senhor! Nós já viemos aqui uma vez para comprar mantimentos. 21 Ao chegarmos ao lugar onde na volta passamos a noite, abrimos os sacos e vimos que o dinheiro de cada um estava na boca do respectivo saco. Nós o trouxemos de volta, 22 com outra quantia igual para comprar provisões. Não sabemos quem pôs o dinheiro no saco”. 23 “Ficai tranqüilos – disse-lhes o mordomo – não temais! Foi vosso Deus, o Deus de vosso pai quem vos pôs este tesouro nos sacos. Eu recebi vosso dinheiro”. E mandou trazer-lhes Simeão.
24
Depois de fazê-los entrar na residência?de José, deu-lhes água para lavarem os pés e?deu também ração aos jumentos. 25 Eles prepararam os presentes, esperando que José viesse ao meio-dia, pois haviam sido avisados de que comeriam ali.
26
Quando José chegou em casa, eles lhe apresentaram os presentes que haviam trazido consigo, prostrando-se por terra diante dele. 27 Perguntou-lhes se estavam bem e lhes disse: “Vosso velho pai, de quem me falastes, está bem? Ainda vive?” 28 Eles lhe responderam: “Teu servo está bem, nosso pai ainda vive”,?e inclinaram-se profundamente. 29 José ergueu os olhos e viu Benjamim, seu irmão, filho?de sua mãe, e disse: “É este vosso irmão mais novo do qual me falastes?” E acrescentou: “Deus te seja favorável, meu filho”. 30 Ficou todo comovido por causa do irmão e estava?prestes a chorar. Entrou por isso apressadamente nos aposentos, onde desatou em prantos.
31
Depois de lavar o rosto, reapareceu, fazendo esforços para se conter e disse: “Servi a comida”. 32 Serviram separadamente a José, aos irmãos e também aos egípcios que com ele comiam, pois os egípcios não podem comer com os hebreus, por ser isso coisa abominável para eles. 33 Assentaram-se diante dele por ordem de idade, desde o mais velho até o mais novo, olhando espantados uns para os outros. 34 José mandou servir-lhes porções de sua mesa, mas a porção de Benjamim era cinco vezes maior do que a dos outros. Eles beberam e ficaram muito alegres em sua companhia.

Última prova

44 1 José deu ao seu administrador esta ordem: “Enche os sacos destes homens de víveres quanto couber e põe o dinheiro?de cada um na boca do saco. 2 Põe também minha taça, a taça de prata, na boca do saco do mais moço, juntamente com o dinheiro do trigo”. O mordomo fez o que José lhe havia ordenado.
3
Ao amanhecer, deixaram partir os hebreus com seus jumentos. 4 Estando eles ainda não muito longe, pois apenas tinham saído da cidade, José disse ao seu administrador: “Sai em perseguição desses homens e dize-lhes quando os alcançares: ‘Por que pagastes o bem com o mal? 5 Não é por acaso esta a taça em que bebe meu patrão? É com ela que ele se põe a adivinhar. Fizestes mal em agir assim’”.
6
Quando os alcançou, repetiu-lhes o mordomo estas mesmas palavras. 7 Eles responderam: “Por que fala assim o meu Senhor? Longe de teus servos fazer uma coisa dessas! 8 Até o dinheiro achado na boca de nossos sacos te trouxemos de volta da terra de Canaã, como então iríamos furtar ouro ou prata da casa de teu Senhor? 9 Morra aquele de teus servos em cujo poder se encontrar a taça, e nós sejamos reduzidos a escravos de teu Senhor”. 10 E ele respondeu: “Quanto ao que dizeis, fica assim: aquele com quem se encontrar a taça será meu escravo, e vós outros estareis livres”. 11 Cada um descarregou depressa o saco em terra e o abriu. 12 Começando pelo mais velho e acabando pelo mais novo, o mordomo os examinou e a taça foi encontrada no saco de Benjamim.
13
Então, num gesto de dor, eles rasgaram as vestes, carregaram de novo os jumentos e voltaram à cidade. 14 Quando Judá chegou com?os irmãos à residência de José que ainda ali estava, prostraram-se com o rosto em terra. 15 José lhes perguntou: “O que foi que fizestes? Não sabíeis que um homem como eu é capaz de adivinhar?” 16 Judá respondeu: “O que podemos dizer a meu Senhor? Como falar, como mostrar nossa inocência? Deus descobriu a culpa de teus servos. Tanto nós como aquele em cujo poder foi encontrada a taça nos tornamos agora teus escravos”. 17 Ele, porém, respondeu: “Longe de mim fazer isso! Aquele com quem se encontrou a taça será meu escravo. Quanto a vós, voltai em paz junto de vosso pai”.
18
Aproximou-se então Judá e, com confiança, disse: “Perdão, meu Senhor! Permite ao teu servo falar uma palavra aos teus ouvidos, sem que se acenda tua cólera contra mim. Pois tu és como o próprio faraó. 19 Foi meu Senhor quem perguntou a seus servos: ‘Ainda tendes pai e algum outro irmão?’20 E nós respondemos: ‘Temos um pai já velho e temos o irmão mais novo, nascido em sua velhice. Este tinha um irmão, que morreu; ele é o único filho que resta de sua mãe, e seu pai o ama com muita ternura. 21 Tu disseste a teus servos: ‘Trazei-o a mim para que eu possa vê-lo’. 22 Nós te dissemos: ‘O menino não pode deixar o pai. Se o deixar, o pai morrerá’. 23 Mas tu disseste a teus servos: ‘Se não vier convosco o irmão mais novo, não me apareçais aqui’. 24 Quando, pois, voltamos para junto de teu servo, nosso pai, contamos-lhe tudo o que meu Senhor tinha dito. 25 Mais tarde disse-nos o pai: ‘Voltai para comprar alguns mantimentos’, 26 e nós lhe respondemos: ‘Não podemos ir, a não ser que o irmão mais novo vá conosco. Se o irmão não nos acompanhar, não poderemos apresentar-nos àquele homem’. 27 E o teu servo, nosso?pai, respondeu: ‘Bem sabeis que minha mulher me deu apenas dois filhos. 28 Um deles saiu de casa e eu disse: um animal feroz o devorou. Até agora não apareceu. 29 Se me levardes também este e lhe acontecer alguma desgraça,?fareis descer de desgosto meus cabelos brancos à morada dos mortos’. 30 Se eu voltar agora?para teu servo meu pai, sem o menino, a quem está intimamente afeiçoado, 31 quando der pela falta do menino, morrerá. E nós teremos feito descer, de tristeza, à morada dos mortos teu servo de cabelos brancos, nosso pai. 32 Eu, teu servo, me tornei responsável pelo menino ao tirá-lo do pai e disse: ‘Se não o trouxer de?volta, serei eternamente culpado perante meu pai’. 33 Deixa, pois, que teu servo fique como escravo de meu Senhor em lugar do menino, para que ele possa subir de volta com os irmãos. 34 Do contrário, como poderei voltar para junto de meu pai sem o menino? Não gostaria de ver meu pai atingido pela desgraça”.

José dá-se a conhecer aos irmãos

45 1 Então José não pôde mais conter-se diante de todos os que o rodeavam e gritou: “Mandai sair toda a gente”. E assim, ninguém mais ficou com ele quando se deu a conhecer aos irmãos. 2 José rompeu num choro tão forte, que os egípcios o ouviram e até mesmo a casa do faraó. 3 E José disse a seus irmãos: “Eu sou José! Meu pai ainda vive?” Mas os irmãos não conseguiam responder nada, pois ficaram estarrecidos diante dele. 4 José, cheio de clemência, disse aos irmãos: “Aproximai-vos de mim”. Tendo eles se aproximado, ele repetiu: “Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito. 5 Entretanto, não vos aflijais, nem vos atormenteis por me terdes vendido a este país, pois foi para conservar-vos a vida que Deus me enviou à vossa frente. 6 De fato este é o segundo ano de fome no país, e durante outros cinco não haverá semeadura nem colheita. 7 Deus me enviou à vossa frente para assegurar-vos a sobrevivência no país e preservar-vos as vidas para uma libertação grandiosa. 8 Portanto não fostes vós que me enviastes para cá, mas Deus. Ele me constituiu tutor?do faraó, administrador de todo o palácio e governador de todo o Egito.
9
Voltai depressa para dizer a meu pai: ‘Assim diz teu filho José: Deus me constituiu administrador de todo o Egito. Desce, pois, para junto de mim sem tardar. 10 Habitarás?na terra de Gessen e estarás perto de mim com os filhos e netos, com as ovelhas e bois e tudo o que tens. 11 Lá eu te sustentarei, pois ainda restam outros cinco anos de fome, para que não venhas a cair na indigência com a família e tudo o que tens’. 12 Com os vossos próprios olhos estais vendo, e meu irmão Benjamim o vê com os seus que sou eu mesmo que vos falo. 13 Contai a meu pai quanto é o meu prestígio no Egito e tudo o que vistes, e apressai-vos em trazer para cá meu pai”.
14
Então abraçou seu irmão Benjamim e pôs-se a chorar. Benjamim também chorava abraçado a José. 15 Em seguida beijou todos os irmãos, chorando enquanto os abraçava. Depois os irmãos conversaram com ele.
16
Correu pela casa do faraó a notícia: “Chegaram os irmãos de José”. Isto trouxe satisfação ao faraó e a seus servidores. 17 E o faraó disse a José: “Dize a teus irmãos: ‘Fazei o seguinte: carregai os animais e retornai à terra de Canaã. 18 Buscai vosso pai e vossas famílias e voltai a mim. Eu vos darei as terras mais férteis do Egito e comereis o que há de melhor no país’. 19 Tu, transmite a teus irmãos esta ordem: “Levai do Egito carros para transportar os filhos e as mulheres, e voltai quanto antes para cá, trazendo vosso pai. 20 Não tenhais pena de deixar vossos bens, pois o que de melhor há no Egito será para vós”.
21
Assim fizeram os filhos de Israel, e José lhes deu carros, segundo a ordem do faraó, e provisões para a viagem. 22 Deu-lhes também a cada um mudas de roupa e a Benjamim trezentas moedas de prata e cinco vestes. 23 Enviou também ao pai dez jumentos carregados com o que de melhor havia no Egito e dez jumentas carregadas de trigo, de pão e víveres para a viagem do pai. 24 Depois, ao despedir-se dos irmãos, quando iam partir, disse-lhes: “Não fiqueis perturbados pelo caminho”.
25
Saíram, pois, do Egito e chegaram à terra de Canaã, para junto do pai, 26 e lhe comunicaram a notícia: “José ainda está vivo. Ele é o governador de todo o Egito”. Mas Jacó ficou perplexo, pois não podia acreditar neles. 27 Eles, então, contaram tudo o que José lhes dissera. Depois, ao ver os carros que José lhe mandava para transportá-lo, reanimou-se o espírito de seu pai Jacó. 28 E Israel disse: “Basta! Meu filho José ainda vive! Irei vê-lo antes de morrer”.

Jacó emigra para o Egito

46 1 Israel partiu com tudo o que tinha. Ao chegar a Bersabéia, ofereceu sacrifícios ao Deus de seu pai Isaac. 2 Deus falou a Israel em visão noturna, dizendo-lhe: “Jacó! Jacó!” E ele respondeu: “Aqui estou!” 3 E Deus lhe falou: “Eu sou Deus, o Deus de teu pai. Não tenhas medo de descer ao Egito, pois lá farei de ti uma grande nação. 4 Eu mesmo descerei contigo ao Egito e de lá te farei subir, e é José que te fechará os olhos”.
5
Jacó levantou-se e deixou Bersabéia. Os filhos de Israel puseram o pai Jacó, as crianças e as mulheres sobre os carros que o faraó enviara para os transportar. 6 Levaram também consigo os rebanhos e os bens que possuíam na terra de Canaã, e Jacó se encaminhou para o Egito com toda a descendência: 7 os filhos e netos, as filhas e netas, toda a descendência, ele os levou consigo para o Egito.

Lista dos descendentes de Israel

8 Eis aqui os nomes dos israelitas, Jacó e os filhos, que entraram no Egito.
O primogênito de Jacó, Rúben. 9
Filhos de Rúben: Henoc, Falu, Hesron e Carmi.
10
Filhos de Simeão: Jamuel, Jamin, Aod, Jaquin, Soar e Saul, filho da cananéia.
11
Filhos de Levi: Gérson, Caat e Merari.
12
Filhos de Judá: Her, Onã, Sela, Farés e Zara; porém, Her e Onã morreram na terra de Canaã. Filhos de Farés: Hesron e Hamul.
13
Filhos de Issacar: Tola, Fua, Jasub e Semron.
14
Filhos de Zabulon: Sared, Elon e Jaelel.
15
São esses os filhos que Lia deu a Jacó em Padã-Aram, além da filha Dina. Total de seus filhos e filhas: trinta e três pessoas.
16
Filhos de Gad: Safon, Hagi, Suni, Esebon, Eri, Arodi e Areli.
17
Filhos de Aser: Jamne, Jesua, Jessui, Beria e a irmã Sera. Filhos de Beria eram Héber e Melquiel.
18
São esses os filhos de Zelfa, a escrava que Labão havia dado à sua filha Lia, e que ela deu a Jacó: dezesseis pessoas.
19
Filhos de Raquel, mulher de Jacó: José e Benjamim. 20 No Egito José teve Manassés e Efraim, nascidos de Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On.
21
Filhos de Benjamim: Bela, Bocor, Asbel, Gera, Naamã, Equi, Ros, Mofim, Ofim e Ared.
22
São esses os filhos de Raquel, os que ela deu a Jacó: catorze pessoas ao todo.
23
Filhos de Dã: Husim.
24
Filhos de Neftali: Jasiel, Guni, Jeser e Salém.
25
São esses os filhos de Bala, a escrava que Labão deu à filha Raquel. Ao todo, deu sete pessoas a Jacó.
26
O total das pessoas que emigraram com Jacó para o Egito, descendentes dele, sem contar as mulheres dos filhos, era de sessenta e seis pessoas. 27 Os filhos de José nascidos no Egito eram dois. A casa toda de Jacó, que emigrou para o Egito, constava de setenta pessoas.

Encontro de Jacó com José e o faraó

28 Jacó enviou Judá na frente para avisar José e fazê-lo vir ao seu encontro em Gessen. Quando chegaram à terra de Gessen, 29 José mandou atrelar seu carro e dirigiu-se a Gessen ao encontro de seu pai Israel. Logo que o viu, lançou-se ao seu pescoço e, abraçado, chorou longamente. 30 Israel disse a José: “Agora que vi teu rosto, posso morrer, pois ainda estás vivo”. 31 José disse aos irmãos e à família do pai: “Vou subir para informar ao faraó e lhe dizer: ‘Vieram meus irmãos com toda a família de meu pai, que estavam na terra de Canaã. 32 São pastores e têm rebanhos de ovelhas e bois, e vieram trazendo tudo consigo’. 33 Por isso, quando o faraó vos chamar e vos perguntar qual a vossa profissão, 34 respondereis: ‘Nós, teus servos, somos proprietários de rebanhos desde a infância até agora, como o foram nossos pais’. Assim podereis habitar na região de Gessen”. (Os egípcios, de fato, abominam todos os pastores de ovelhas.)


Gênesis (CNB) 39