
Discursos João Paulo II 2001
Beatitude
Estimados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
1. Sinto-me feliz por vos receber hoje, a vós, pastores da Igreja Caldeia, vindos do Iraque, do Irão, do Líbano, do Egipto, da Síria, da Turquia e dos Estados Unidos da América, com o vosso Patriarca, Sua Beatitude Rafael I Bidawid, para esta visita ad limina Apostolorum. Apraz-me saudar-vos com as palavras com que começa a segunda Carta de Pedro: "Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que receberam, pela justiça do nosso Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador, uma fé tão preciosa como a nossa: graça e paz vos sejam dadas em abundância pelo conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, nosso Senhor" (2P 1,1-2). Permiti que eu agradeça de modo particular àqueles de vós que, depois de longos anos de serviço e de doação de si mesmos, puseram a sua tarefa episcopal à disposição do Sínodo patriarcal. Com São Paulo, "dou graças incessantemente por vós ao meu Deus, pela graça que Ele vos concedeu em Jesus Cristo; porque em todas as coisas fostes enriquecidos nele; em toda a palavra e em toda a ciência. Assim foi confirmado entre vós o testemunho de Cristo" (1Co 1,4-6).
2. Neste momento, recordamo-nos de que o sangue de numerosos mártires tornou fecunda a vossa antiga e venerável Igreja Caldeia dos primeiros séculos da era cristã. Ela brilha através dos seus grandes poetas e mestres, das suas escolas de teologia e de exegese, como a de Nisibe. Os seus ascetas e monges enriqueceram-na com uma tradição mística e com uma rara profundidade espiritual: é suficiente mencionar Santo Efrém, Doutor da Igreja, chamado a harpa do "Espírito Santo", que pode resumir em si tudo o que a Igreja na vossa região ofereceu à Igreja universal!
3. A Igreja Caldeia que está no Iraque vive actualmente um período difícil e as causas desta crise são numerosas, tanto no seu interior como no exterior. Mas não é precisamente nos tempos de crise que nós, Bispos, devemos ouvir "o que o Espírito diz às Igrejas" (Ap 2,7)?
Queridos Irmãos, manifesto-vos mais uma vez o meu pesar pelas vossas comunidades que estão no Iraque, provadas como toda a população do País, que há anos sofre as privações pelo embargo que lhe foi imposto. Suplico o Senhor para que ilumine as inteligências e os corações dos responsáveis das nações, a fim de que se empenhem em favor da instauração de uma paz justa e duradoura nesta região do mundo, e para que terminem todos os atentados à segurança das pessoas e ao bem dos povos. O dia de jejum para o qual convidei todos os fiéis católicos será uma ocasião propícia para que toda a Igreja, experimentando a privação dos alimentos, se aproxime mais dos homens que sofrem. Nesse dia, pediremos a Deus que assista o vosso povo e que abra o coração dos homens aos sofrimentos injustamente infligidos a muitos dos seus fiéis.
4. Ao longo dos dois mil anos transcorridos, o Senhor não deixou de amar e de olhar para a vossa Igreja, permanecendo fiel à sua promessa: "Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28,20). Esta fidelidade amorosa do Senhor para com os seus é, de certa forma, o espelho no qual os Bispos podem discernir a sua própria fidelidade, como a recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos pôs em evidência, realçando que eles são chamados a viver a santidade "no exercício do seu ministério apostólico, com a humildade e a força do Bom Pastor" (Mensagem da X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, n. 14). Como já tive a ocasião de recordar, o cargo do episcopado "não é um ministério no sinal do triunfalismo, mas antes, da Cruz de Cristo" (Discurso aos novos Bispos, nomeados entre Janeiro de 2000 e Junho de 2001, n. 2), que faz de vós servos dos vossos irmãos seguindo o exemplo daquele que foi o Servo de todos. Nos vossos relatórios quinquenais, o Bispo aparece como servidor da unidade quando apoia os sacerdotes, seus colaboradores, no exercício do ministério apostólico, e os reúne no mesmo dinamismo missionário que tem sempre a sua origem na fraternidade sacramental, ou seja, na comunhão mais profunda do mistério de Cristo. Com eles, o Bispo tem a preocupação de incluir todos os fiéis, segundo os seus próprios carismas, nas orientações pastorais que dá à sua Igreja, para que ela realize a sua missão primária, que é anunciar o Evangelho. O Bispo é também servo da unidade quando, com os seus irmãos Bispos da mesma região ou do mesmo rito, ou de ritos diferentes, se dedica a desenvovler colaborações e a discernir os sinais dos tempos. Dado que são os pastores do rebanho, tendo a preocupação de residir regularmente nas suas dioceses, como recorda oportunamente o Código dos Cânones das Igrejas Orientais (cf. cânn. 93 e 204), o Patriarca e os Bispos dão um testemunho a todo o povo, garantindo com prudência e equidade a missão que lhes é confiada, tendo a preocupação de levar uma vida conforme com o seu ministério.
5. Justamente, a vossa Igreja sente-se orgulhosa dos seus sacerdotes, religiosos e fiéis: eles são a sua força viva nas provas e seria oportuno não os desencorajar. Desejo também agradecer aos sacerdotes. Transmiti-lhes as saudações afectuosas do Papa, que dá graças por tudo o que realizam com o seu ministério. Eles vivem entre os seus irmãos, em condições por vezes difícieis, a fim de lhes anunciar a Boa Nova da salvação, celebrar os sacramentos da Nova Aliança e conduzi-los através das vicissitudes do tempo presente para a pátria celeste. Eles prestam uma atenção especial à situação dos jovens, apoiando a sua esperança cristã e ajudando-os a conquistar um lugar na sociedade. Tornam-se vizinhos também de todos os que deixaram os seus países de origem e vivem a condição precária de refugiados ou imigrados. Oxalá continuem com coragem a sua tarefa apostólica, sem se cansar de praticar o bem (cf. 2Tm 3,13)!
Em muitas das vossas dioceses, os jovens desejam tornar-se sacerdotes. É um sinal da vitalidade espiritual das comunidades onde vivem. Insisto sobre as possibilidades e a responsabilidade que representam para vós, Bispos, estas vocações dos jovens, e sobre a necessidade urgente de os acompanhar com discernimento até à ordenação. O Seminário patriarcal inter-ritual, que está em Bagdade, deve constituir uma preocupação importante do vosso ministério episcopal; é importante que ele seja orientado por uma equipa de sacerdotes competentes e estimados, capazes de transmitir aos seminaristas o depósito da fé, e de os abrir à compreensão e à contemplação do mistério cristão. O facto de o Seminário formar seminaristas de diferentes ritos faz ter esperança no futuro da Igreja, permitindo que os futuros sacerdotes aprofundem, em primeiro lugar, a sua tradição aceitando com estima e benevolência as dos outros ritos, com vista às colaborações necessárias, e se abram também às possíveis colaborações com os fiéis de outras Igrejas e Comunidades eclesiais.
Oxalá os religiosos e as religiosas que dão a sua preciosa colaboração à vida das vossas dioceses sejam igualmente recompensados! Numa grande proximidade pastoral com o povo, eles testemunham corajosamente os valores evangélicos, de acordo com os seus votos religiosos, e dão provas de uma grande disponibilidade para o serviço da missão, colaborando com os sacerdotes diocesanos. Empenhados com frequência no serviço da educação das crianças e dos jovens, bem como na assistência aos doentes e aos pobres, são testemunhas da ternura de Deus pelo povo que sofre.
6. Os fiéis têm sede da Palavra de Deus mas também de uma sólida formação doutrinal e espiritual para crescer na experiência de Deus e para encontrar força e coragem, a fim de serem testemunhas autênticas do Evangelho na vida quotidiana, na vida familiar, profissional e social. Convido-vos a desenvolver em todas as partes que for possível programas de formação dos leigos que correspondam a esta expectativa. De igual modo, os leigos poderão participar, de modo específico e original, mediante o testemunho da sua vida e o anúncio de Cristo Salvador, na obra da nova evangelização, manifestando respeito e vontade de dialogar directamente com os crentes de outras religiões entre os quais vivem.
7. Queridos Irmãos, acabais de celebrar aqui em Roma um Sínodo da vossa Igreja patriarcal e dou graças por este trabalho fraterno que vos proporciona um apoio recíproco, e vos ajuda a considerar em conjunto as necessidades da Igreja e a avaliar os progressos comuns, para prosseguir com coragem as renovações necessárias para as vossas comunidades, no espírito das suas grandes tradições e na fidelidade ao Concílio Ecuménico Vaticano II.
Peço-vos que dediqueis uma especial atenção às estruturas da comunhão no âmbito da vossa Igreja particular. Numa Igreja oriental católica, a Assembleia sinodal é um dos lugares privilegiados da comunhão fraterna, que permanecerá sempre a fonte da vossa eficácia apostólica, segundo o mandamento do Senhor: "É por isto que todos saberão que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jn 13,35). Em nome do Senhor, exorto-vos a superar qualquer forma de proselitismo, para unirdes cada vez mais as vossas forças. Tudo se realize na sinceridade fraterna, para que procureis constantemente a vontade do Senhor e os interesses pessoais não prejudiquem o serviço pastoral que desempenhais! O Patriarca é "pai e chefe" da vossa Igreja. Com efeito, é a ele que cabe dar o exemplo e favorecer a comunhão no seio do episcopado, chamado a trabalhar pelo bem de todos. Peço ao Espírito Santo que restabeleça entre vós um clima verdadeiramente fraterno e confiante, a fim de vencer as dificuldades actuais. Desejo ardentemente que, na mesma perspectiva, deis um vigor renovado ao trabalho do Encontro inter-ritual dos Bispos do Iraque, que deve ser convocado com intervalos regulares, a fim de realizar uma obra comum, real e eficaz, ao serviço da evangelização.
Encorajo-vos a prosseguir as boas relações com os nossos irmãos cristãos de outras confissões, tendo a preocupação de suscitar novas iniciativas de oração e de testemunho comuns, e invoco com fervor para todos os discípulos de Cristo o dom da unidade pela qual o Senhor rezou com tanto ardor. Sei que mantendes boas relações com as Autoridades religiosas dos vossos países. Conscientes da importância que reveste hoje o diálogo inter-religioso, ao serviço da compreensão e da paz entre todos os homens, e no espírito do convite que fiz recentemente a todos os responsáveis das religiões do mundo de se encontrarem mais uma vez em Assis, prossegui com todos este diálogo quotidiano!
8. Deveis enfrentar concretamente a urgência pastoral dos vossos fiéis que se encontram na diáspora. Sei que sentis como uma grande dificuldade o fenómeno da emigração, que empobrece as comunidades locais e que coloca as pessoas em situações de desenraizamento, fenómeno ainda muito acentuado devido às sanções económicas contra o Iraque. Só podeis enfrentar este drama de modo colegial, na convicção de que o futuro da Igreja Caldeia também se edifica na diáspora.
Tende a certeza de que a Santa Sé e as Igrejas particulares espalhadas no mundo vos ajudarão a garantir as necessidades pastorais da diáspora, para a qual vos compete realizar o acompanhamento pastoral necessário!
9. Beatitude, estimados Irmãos no episcopado e no sacerdócio, levai a todos os fiéis da Igreja Caldeia das vossas Dioceses as saudações cordiais do Sucessor de Pedro, e transmiti o meu afectuoso encorajamento aos sacerdotes e aos diáconos, assim como aos religiosos e às religiosas, tão dedicados ao serviço dos seus irmãos! A protecção materna da Virgem Maria, que acabámos de festejar na sua Imaculada Conceição, vos acompanhe todos os dias na vossa missão! A todos concedo de coração a Bênção apostólica.
Estimados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Como já vos foi comunicado na carta de convite, o encontro de hoje deseja confirmar, uma vez mais, o interesse e a preocupação com que a Santa Sé acompanha a situação na Terra Santa compartilhando, através de uma especial proximidade espiritual, o drama daquelas populações, desde há muito tempo provadas por actos de violência e de discriminação. Outrossim, este encontro quer dar testemunho da solicitude de toda a Igreja pelos cristãos na Terra Santa, em particular pela comunidade católica, assim como manifestar o compromisso de todos na continuidade da sua presença milenária nessa região e oferecer a sua contribuição para a obtenção da justiça e da reconciliação entre quantos, nesses lugares, encontram a raiz da sua própria fé.
Infelizmente, estamos aqui reunidos num momento que não hesito em definir "dramático", tanto para as populações que residem nessas regiões, como para os nossos Irmãos na fé. Com efeito, eles parecem esmagados pelo peso de dois extremismos diferentes que, independentemente dos motivos que os alimentam, estão a desfigurar o rosto da Terra Santa.
Por ocasião do início do Ano de 2000, os Patriarcas e os Responsáveis das Comunidades cristãs da Terra Santa lançaram aos seus fiéis e aos cristãos do mundo inteiro uma mensagem de fé, de esperança e de caridade; uma mensagem espiritual que, da gruta de Belém, com coragem e determinação, convidava todos os habitantes da Terra Santa e do mundo inteiro a viverem na justiça e na paz.
Como quereríamos que esta mensagem fosse imediatamente escutada e praticada! Como gostaríamos que não fosse mais necessário repeti-la! Como nos agradaria ver os nossos Irmãos judeus e muçulmanos caminhar juntamente connosco, num solidário pacto de amor, para devolver à Terra Santa a sua verdadeira índole de "encruzilhada de paz" e de "terra de paz".
A vós, caríssimos Irmãos no Episcopado da Terra Santa, cabe a onerosa tarefa de continuar a ser testemunhas da presença do amor de Deus nessas terras e portadores da sua mensagem nos ambientes em que a maioria da população é islâmica ou judaica.
Na vossa mensagem por ocasião do início do Ano jubilar (4 de Dezembro de 1999), ao realçardes que a vossa vocação consiste em "ser cristãos na Terra Santa, e não num outro país do mundo", convidastes todos a não se deixarem dominar pelo medo e a não perderem a esperança diante das dificuldades: "Perante toda a espécie de problemas lê-se na vossa mensagem emocionante permaneçamos firmes, com o sustentáculo do Espírito de Deus e do seu amor... A vida no terceiro milénio exige de nós uma profunda reflexão e uma maior consciência da nossa identidade e missão, a fim de aceitarmos aquilo que Deus deseja para nós, hoje e amanhã, na nossa Terra Santa".
Também neste dia, como já fiz durante o encontro que tive convosco em Amã no dia 21 de Março de 2000, vos convido a ter confiança no Senhor, a permanecer unidos a Ele na oração, a fim de que Ele, vossa luz, vos ajude a orientar a grei que vos confiada.
A presença aqui no meio de nós, de alguns Irmãos que representam o Episcopado do mundo inteiro, testemunha que não estais sozinhos nesta vossa difícil tarefa. A Igreja inteira compartilha as vossas preocupações, apoia os vossos esforços quotidianos, está próxima dos sofrimentos dos vossos fiéis e, através da oração, mantém viva a esperança. Sim, neste tempo de Advento, toda a Igreja brada: Senhor, vem visitar-nos com a tua paz: a tua presença enche-nos de alegria!
Gentis Senhoras, Ilustres Senhores
1. Também neste ano tenho o prazer da vossa agradável visita. Este encontro cordial oferece-me a oportunidade de exprimir a cada um de vós a minha viva satisfação pela realização do já tradicional "Concerto de Natal no Vaticano". Trata-se de uma manifestação artística e musical significativa, tornada um encontro esperado e familiar, que se insere bem entre as diversas iniciativas promovidas na nossa cidade de Roma por ocasião do Santo Natal.
Desejo pleno sucesso para o vosso concerto natalício e faço votos para que seja portador de alegria, serenidade e paz para todos os que nele participarem.
2. As Festividades natalícias evocam sentimentos de solidariedade e de atenção ao próximo e vós, muito oportunamente, ao idealizar este encontro quisestes assinalá-lo com uma finalidade bem definida, de ordem benéfica e espiritual. Quisestes, de facto, relembrar à opinião pública uma necessidade muito sentida na comunidade cristã da Cidade: a falta de Igrejas e de lugares de culto, especialmente em alguns lugares da periferia.
Com a vossa manifestação quereis recolher fundos para financiar, concretamente, projectos de Igrejas e adequadas estruturas de acolhimento. Graças a vós, também os fiéis poderão exprimir melhor a sua fé, contando com equipamentos idóneos para as suas reuniões de oração, de catequese e outras actividades pastorais e sociais.
3. Gentis Senhoras e ilustres Senhores! O voso concerto, como em cada ano, apresenta-nos canções antigas e modernas, muitas delas inspiradas na grande solenidade cristã do Natal.
O Natal é recordação alegre do que se realizou no decurso daquela noite de há dois mil anos e que continua a suscitar nos crentes comoção e admiração. Deus fez-se menino para estar mais próximo do homem de todos os tempos, mostrando-lhe a sua ternura infinita. Possa esta grande festividade cristã ser ocasião propícia para todos descobrirem e experimentarem quanto Deus ama o homem, cada homem e todos os homens!
Apresento os meus sinceros parabéns aos organizadores e aos promotores, aos artistas e aos dignos assistentes, assim como a todos aqueles que, através da televisão, assistirem a este concerto natalício.
Confirmo estes votos com uma especial Bênção Apostólica, que de boa vontade dirijo também às vossas famílias e a todos os que vos são queridos.
Dirijo as minhas cordiais boas-vindas a todos vós e agradeço-vos a benevolência com que me conferistes o título de Doutor honoris causa da vossa Universidade. Aceito-a com gratidão, em consideração da cordial recordação do Primaz do Milénio, a quem é dedicado o vosso Ateneu, de maneira especial porque durante este ano, por ocasião do centenário do seu nascimento, se reavivam de maneira especial as recordações deste grandioso pastor e homem de Estado. Aceito este título também pela esperança que nutro, isto é, pela esperança de que a Universidade dedicada ao Cardeal Stefan Wyszynski cuja história é breve, mas dotada de raízes antigas se desenvolva sob todos os aspectos e se torne um centro científico e cultural cada vez mais dinâmico e importante na Polónia.
Antes de compartilhar convosco a reflexão que nasce na minha alma por ocasião deste dia, quero saudar o Senhor Cardeal Primaz, Grão-Chanceler da Universidade, e o Reitor Magnífico. Estou grato pelas palavras que eles me dirigiram. Com um pensamento cordial, também vos abraço a todos: o Senado, os professores, os funcionários administrativos, os estudantes e as pessoas que vos acompanham. Muito obrigado pela vossa presença e pela vossa proximidade espiritual.
A definição do Cardeal Stefan Wyszynski como grande Pastor é, habitualmente, associada à obra da preparação da Igreja na Polónia, para o ingresso no novo milénio do cristianismo. Portanto, quando falamos dele como homem de Estado, geralmente temos em mente a sua firme decisão em relação ao ateísmo comunista: graças a esta sua atitude a Igreja, em condições de dura provação, conseguiu manter a sua posição na Nação e a justa orientação do seu desenvolvimento interior. Parece que este modo de considerar a sua pessoa, embora seja correcto sob todos os pontos de vista, hoje exige um determinado aprofundamento. É necessário salientar o facto, que parece ser raramente realçado, de que o Cardeal Stefan Wyszynski, quer como pastor quer como homem de Estado, sublinhava vigorosamente o papel da cultura entendida em sentido lato, na formação do rosto espiritual da Igreja e da Nação. Aliás, ele jamais separava estes dois campos na influência exercida pela cultura. Esta problemática devia estar-lhe muito a peito dado que, no ano do Milénio, em 1966, ele disse: "Em virtude do trabalho da Igreja e da inspiração que ela oferece à arte e a todos os tipos de criatividade, os estudos sobre o nosso passado cultural estão sempre abertos e devem ser muito encorajados. O actual empobrecimento do pensamento... realça uma desventura da cultura, experimentada como consequência do abandono das inspirações religiosas" (Varsóvia, 23 de Junho de 1966).
O passado cultural, o património do esforço criativo do pensamento e das mãos de gerações animadas pelo espírito de fé, enraizado no Evangelho, é o fundamento da identidade da nação polaca. O Primaz do Milénio indicava justamente a necessidade de estudar este património, de conhecer os fundamentos que, há mil anos, foram lançados sob a inspiração que, de geração em geração, traz consigo a comunidade eclesial, unida em redor de Cristo, repleta do Espírito Santo, a caminho da casa do Pai. Não é porventura esta a primeira tarefa da universidade? Mais ainda, não é esta a missão de uma Universidade dedicada ao Primaz do Milénio? Assim como a sede primacial de Gniezno salvaguarda a tradição religiosa de Santo Adalberto, também a vossa Universidade defenda o património cultural que, nesta tradição, encontra a sua fonte. Sede fiéis ao apelo do Cardeal Stefan Wyszynski, a serdes solícitos no que diz respeito à cultura.
Nos últimos tempos, falei várias vezes aos representantes dos centros universitários polacos, sobre a urgente necessidade não só da formação intelectual da jovem geração, mas também de formar nela o espírito de um patriotismo sadio, que consiste precisamente numa incessante descoberta das raízes da própria identidade humana, nacional e religiosa, e no esforço de participação na criação deste património, a partir do qual nasce a realidade do presente. A consciência de quem sou e a capacidade de assumir as responsabilidades por aquilo que sou permitirão às gerações futuras dos jovens polacos beber com plena abertura, mas sem um sentido de confusão, do rico património da cultura europeia e mundial. Permitir-lhes-á discernir entre os valores autênticos e perenes do espírito humano e os fugazes sucedâneos do bem, que adquirem forma no imperativo cultural dos dias de hoje.
Na época do Cardeal Stefan Wyszynski, era necessário realçar a importância da cultura e da ciência para a sobrevivência da Nação, diante dos perigos do totalitarismo. Na continuidade desta obra, em relação às outras ameaças que o novo século apresenta, parece que é preciso ir mais além. Observemos o processo de unificação dos países da Europa e da globalização de numerosos sectores da vida no mundo. Este processo não se pode realizar sem ter em consideração as tradições espirituais e culturais das nações. Por conseguinte, é necessário fazer com que ele se verifique com uma participação positiva e criativa das pessoas e dos ambientes responsáveis na cultura, na conservação e no desenvolvimento da herança plurissecular que lhes é própria.
Há poucos dias, eu disse aos estudantes congregados na Basílica de São Pedro: "A Europa tem necessidade de uma nova vitalidade intelectual. Uma vitalidade que proponha projectos de vida austera, capaz de compromisso e de sacrifício, simples nas suas legítimas aspirações, clara nas suas realizações e transparente nos seus comportamentos. É necessária uma nova audácia do pensamento, livre e criativo, pronto para enfrentar na perspectiva da fé, as interrogações e os desafios que nascem da vida, para dela fazer emergir com clareza as verdades últimas do homem... Sois como que um símbolo da Europa... que deveis construir em conjunto" (Homilia aos estudantes dos Ateneus universitários de Roma, 11.12.2001, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 22 de Dezembro de 2001, pág. 7, nn. 4-5). Hoje, dirijo-vos estas palavras a vós, aos representantes da Universidade dedicada ao Cardeal Stefan Wyszynski, esperando que ela, mediante o honesto compromisso científico dos seus professores e estudantes, contribua para formar o rosto espiritual não apenas da Polónia, mas de toda a Europa. Trata-se de uma tarefa grandiosa poderia parecer até mesmo ambiciosa mas é uma missão para a qual são chamados todos os ambientes científicos europeus, devedores à tradição cristã. Assumi esta vocação com confiança. A juventude da vossa instituição pode constituir a vossa força, a fonte de renovadas energias que brotam do novo modo de enfrentar os problemas com que os outros ambientes científicos se confrontam há muitos séculos. Aproveitai as oportunidades que vos são oferecidas pela juventude, pela juventude da instituição e a juventude do espírito!
Estes são os meus bons votos para toda a Universidade dedicada ao Cardeal Stefan Wyszynski: que ela se desenvolva, palpitante de vida criativa, se insira com vigor no futuro da Polónia e da Europa, modelando a sua forma espiritual e conservando toda a riqueza do seu património cristão. As bênçãos divinas acompanhem o vosso trabalho criativo e educativo.
Gostaria de saudar ainda os representantes da juventude de Varsóvia, que trouxeram um presente singular: a fotografia dos oito mil participantes no encontro de oração, que se realizou no dia 22 do passado mês de Setembro, nos Campos de Wilanów. Agradeço-vos esta expressão de lembrança e de benevolência, e sobretudo o dom das vossas preces. Abençoo-vos de coração, a vós e todos os jovens de Varsóvia e da Polónia inteira.
O Cardeal Primaz pediu-me que, por ocasião do nosso encontro, benzesse a réplica da imagem de Nossa Senhora de Czestochowa, que continuará a sua peregrinação por todas as paróquias de cada uma das dioceses da Polónia. E é de bom grado que o faço. Sei como é grande o bem espiritual que ela proporciona! Trata-se de um ponto de referência particularmente fecundo para a obra do Milénio, realizada pelo Cardeal Stefan Wyszynski. Abençoo-vos do íntimo do coração, assim como as pessoas que, diante desta imagem, pedirem para ser confirmadas na fé, na esperança e na caridade. A protecção da Senhora de Jasna Góra vos acompanhe, a vós e todos os meus compatriotas na Polónia. Deus vos recompense!
Senhor Presidente
Ilustres Autoridades civis
e académicas
Veneráveis Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs
É-me grato receber-vos a todos vós, que viestes apresentar-me o dom da árvore de Natal, que neste ano provém dos montes Cárpatos orientais, centro da bela e querida Roménia. Obrigado por este gesto significativo, que muito me emociona. Quero agradecer também as outras árvores de Natal, que servirão para embelezar vários ambientes do Vaticano.
A vossa presença traz-me à mente os dias intensos, que tive a alegria de passar na vossa amada Terra, por ocasião da inesquecível Visita Apostólica de há dois anos. Lembro-me com intensa emoção do encontro com o Patriarca Teoctisto e com a Igreja ortodoxa da Roménia; recordo também com afecto o venerado Cardeal Alexandru Todea e a ardorosa Comunidade católica. É de bom grado que aproveito esta oportunidade para renovar a todo o povo da Roménia a expressão da minha gratidão pela amável hospitalidade que, nessa circunstância, me foi reservada.
Senhor Presidente, enquanto lhe agradeço a sua amável presença e os cordiais sentimentos que, em nome de todos, me quis manifestar, desejo realçar a presença activa da Roménia, durante o ano que está para terminar, na Presidência da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa. Entre as decisões tomadas com a colaboração do seu País, agrada-me citar as decisões relativas ao tema dos valores espirituais e da liberdade religiosa. Deus continue a abençoar os esforços da Nação romena, para que não cesse de desempenhar com fidelidade o seu papel de "ponte" entre as várias tradições culturais e religiosas da Europa, favorecendo assim a paz e a compreensão entre todos os homens.
Formulo-vos votos especiais a vós, veneráveis Irmãos no Episcopado, bem como a toda a Comunidade cristã, para que ofereçais o testemunho coerente dos valores espirituais da vida, do amor e da paz que o Natal de Cristo difunde no mundo inteiro. O Natal inspire em vós, aqui presentes, assim como em todos os romenos, a alegria e a paz transmitida por Jesus, que nasceu da Virgem Maria.
A todos, boas-festas de Natal e de Ano Novo!
Com estes bons votos, é de coração que vos abençoo a todos.
: Senhor Embaixador
1. Sinto-me feliz por acolher Vossa Excelência, para a apresentação das Cartas que o credenciam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Bulgária junto da Santa Sé.
Estou-lhe grato pelas palavras de cordialidade que me dirigiu e agradecer-lhe-ia se transmitisse o meu obrigado a Sua Excelência o Senhor Presidente da República pelos seus amáveis bons votos, assegurando-lhe a retribuição das minhas preces pela sua pessoa e pelo povo búlgaro.
2. Como Vossa Excelência quis observar, embora as relações diplomáticas entre a Bulgária e a Santa Sé tenham sido apenas recentemente instauradas de novo, em contrapartida os vínculos entre a Igreja católica e o povo búlgaro remontam ao primeiro milénio da nossa era, à época da conversão da Europa oriental à fé cristã, sob o impulso decisivo dos dois irmãos Cirilo e Metódio.
Traduzindo a Bíblia na língua local, adaptando a liturgia bizantina e o direito, eles realmente semearam a Boa Nova em terras eslavas e deram origem a uma cultura original, alimentada pela tradição cristã, que hoje em dia é reconhecida por todos os povos eslavos como uma matriz da sua identidade. Numa época em que a Europa conhecia profundas divisões, devidas às rivalidades políticas entre os dois impérios, bizantino e carolíngio, e em que a própria Igreja conhecia a desunião, eles trabalharam não só como ardorosos servidores da unidade na Igreja, mas inclusive em favor da Europa, da qual vieram a tornar-se, juntamente com São Bento, os Padroeiros celestiais.
3. O seu exemplo indica-nos o caminho a seguir nos nossos dias: o do diálogo entre as culturas e entre os povos, respeitando cada um na sua identidade e nas riquezas que lhe são próprias, mas também abrindo-se, para além de todo o tipo de nacionalismo fechado, ao conhecimento e ao reconhecimento do outro. Trata-se de um caminho de paz exemplar, que exige a renúncia às forças do poder e a toda a vontade de dominação, em ordem a trabalhar em conjunto pelo bem comum. Este é também um caminho de verdade que, com frequência, exige o reconhecimento das faltas recíprocas, cometidas no passado. É inclusivamente um caminho de justiça, que requer tanto a reparação das injustiças e dos prejuízos causados uns aos outros, como a vigilância sobre o respeito dos direitos e dos deveres de cada um.
O mundo de hoje, novamente tentado pelos ataques e pela violência cega do terrorismo, tem grande necessidade de ouvir a voz dos homens promotores do diálogo e dos artífices da paz, e desejo ardentemente que assim seja em relação ao dia 24 do próximo mês de Janeiro, quando se hão-de reunir em Assis, para uma jornada de oração em favor da paz, os Responsáveis religiosos do mundo inteiro. Alegro-me, outrossim, por saber que a sua Nação - cuja posição original de ponte entre a Europa oriental e a Europa ocidental a definiu, de certa forma, como terra de encontro e de tolerância - assumiu o dever de trabalhar, no concerto das nações e especialmente no contexto do continente europeu, em benefício da paz e da cooperação entre os povos.
Discursos João Paulo II 2001