AUDIÊNCIAS 2002

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Castelgandolfo, 10 de julho de 2002

Todas as criaturas louvem ao Senhor



1. No capítulo 3 do Livro de Daniel encontra-se inserida uma luminosa oração litânica, um verdadeiro e peculiar Cântico das criaturas, que a Liturgia das Laudes nos propõe várias vezes, em diversos fragmentos.

Ouvimos agora a parte fundamental, um grandioso coro cósmico, emoldurado por duas antífonas que o resumem: "Bendito sois no firmamento dos céus, digno de louvor e glória eternos! Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor, a ele glória e louvor eterno!" (vv. 56-57).

Entre estas duas aclamações desenvolve-se um solene hino de louvor, que se exprime com o convite repetido "bendizei": formalmente, trata-se apenas de um convite a bendizer a Deus dirigido a toda a criação; na realidade, trata-se de um cântico de agradecimento que os fiéis elevam ao Senhor por todas as maravilhas do universo. O homem faz-se voz da criação inteira para louvar e agradecer a Deus.

2. Este hino, cantado por três jovens hebreus que convidam todas as criaturas a louvar a Deus, nasce numa situação dramática. Os três jovens, perseguidos pelo soberano da Babilónia, encontram-se imersos na fornalha ardente devido à sua fé. E contudo, mesmo se estavam prestes a sofrer o martírio, eles não hesitam em cantar, em rejubilar, em louvar. O sofrimento áspero e violento da prova desaparece, parece que se dissolve na presença da oração e da contemplação.

É precisamente esta atitude de abandono confiante que suscita a intervenção divina.

De facto, como afirma a sugestiva narração de Daniel, "O anjo do Senhor, porém, tinha descido até Azarias e seus companheiros, na fornalha, e afastava o fogo. Mudou o lugar da fornalha em lugar onde soprava como que uma brisa matinal: o fogo nem sequer os tocou e nem lhes causou qualquer mal nem a menor dor" (vv. 49-50). Os pesadelos desaparecem como o nevoeiro ao sol, os receios dissipam-se, o sofrimento é eliminado quando todo o ser humano se torna louvor e confiança, expectativa e esperança. Eis a força da oração quando é pura, intensa, abandono total a Deus, providencial e redentor.

3. O cântico dos três jovens faz desfilar diante dos nossos olhos uma espécie de procissão cósmica, que parte do céu povoado de anjos, onde também brilham o sol, a lua e as estrelas. Lá de cima Deus derrama sobre a terra o dom das águas que estão acima dos céus (cf. v. 60), isto é, as chuvas e a brisa matinal (cf. v. 64).

Contudo, eis que começam também a soprar os ventos, a explodir os relâmpagos e a irromper as estações com o calor e com o gelo, com o fervor do verão, mas também com a geada, o gelo, a neve (cf. vv. 65-70.73). O poeta insere no cântico de louvor ao Criador também o ritmo do tempo, o dia e a noite, a luz e as trevas (cf. vv. 71-72). No final o olhar poisa também sobre a terra, partindo dos cumes dos montes, realidades que parecem unir terra e céu (cf. vv. 74-75).

Eis que então se unem no louvor a Deus as criaturas vegetais que germinam na terra (cf. v. 76), as nascentes que trazem vida e frescor, os mares e os rios com as suas águas abundantes e misteriosas (cf. vv. 77-78). De facto, o cantor evoca também "os monstros marinhos" ao lado dos peixes (cf. v. 79), como sinal do caos aquático primordial ao qual Deus impôs regras para serem observadas (cf. Sl Ps 3-4 Jb 38,8-11 Jb 40,15 Jb 41,26).

Depois é a vez do grande e variado reino animal, que vive e se move nas águas, na terra e nos céus (cf. Dn Da 3,80-81).

4. O último actor da criação que entra na cena é o homem. Primeiro, o olhar alarga-se a todos os "filhos do homem" (cf. v. 82); depois, a atenção concentra-se em Israel, o povo de Deus (cf. v. 83); a seguir, é a vez de quantos se consagraram totalmente a Deus não só como sacerdotes (cf. v. 84), mas também como testemunhas de fé, de justiça e de verdade. São os "servos do Senhor", os "espíritos e as almas dos justos", os "mansos e humildes de coração" e, entre eles, sobressaem os três jovens, Ananias, Azarias e Misael, que deram voz a todas as criaturas num louvor universal e perene (cf. vv. 85-88).

Ressoaram constantemente os três verbos da glorificação divina, como numa ladainha: "bendizei, louvai, exaltai" o Senhor. Esta é a alma autêntica da oração e do cântico: celebrar o Senhor sem parar, na alegria de pertencer a um coro que engloba todas as criaturas.

5. Gostaríamos de concluir a nossa meditação dando voz aos Padres da Igreja, como Orígenes, Hipólito, Basílio de Cesareia e Ambrósio de Milão, que comentaram a narração dos seis dias da criação (cf. Gn Gn 1, 1-2, 4a) precisamente em conexão com o Cântico dos três jovens.

Limitamo-nos a citar o comentário de Santo Ambrósio, o qual, ao referir-se ao quarto dia da criação (cf. Gn Gn 1,14-19), imagina que a terra fala e, ao falar sobre o sol, encontra todas as criaturas unidas no louvor a Deus: "Bom é deveras o sol, porque serve, ajuda a minha fecundidade, alimenta os meus frutos. Ele foi-me dado para o meu bem, está submetido comigo às canseiras. Geme comigo, para que chegue a adopção dos filhos e a redenção do género humano, para que possamos ser, também nós, libertados da escravidão. Ao meu lado, juntamente comigo louva o Criador, juntamente comigo eleva um hino ao Senhor nosso Deus. Onde o sol bendiz, ali bendiz a terra, bendizem as árvores de fruto, bendizem os animais, bendizem comigo as aves" (Os seis dias da criação, SAEMO, I, Milão-Roma 1977-1994, págs. 192-193).

Ninguém é excluído da bênção do Senhor, nem sequer os monstros do mar (cf. Dn Da 3,79). Com efeito, Santo Ambrósio prossegue: "Até as serpentes louvam o Senhor, porque a sua natureza e o seu aspecto revelam aos nossos olhos alguma beleza e mostram ter a sua justificação" (Ibid., págs. 103-104).

Com mais razão nós, seres humanos, devemos acrescentar a este concerto de louvor a nossa voz feliz e confiante, acompanhada por uma vida coerente e fiel.



Saudações

Dirijo uma saudação cordial a todos os peregrinos de língua portuguesa, pedindo à Virgem Mãe que guarde a vida e a família de cada um como canto de louvor perene a Deus e bênção generosa para quantos cruzam o seu caminho.

Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas aos peregrimos de língua italiana. Saúdo-vos em particular a vós, queridos habitantes de Castelgandolfo, que me acolheis também este ano com grande amizade... Penso na próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Toronto, no fim deste mês. Peço-vos também que rezeis, a fim de que este importante acontecimento eclesial dê os frutos espirituais desejados.

Dirijo, por fim, uma saudação aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Exorto os jovens aqui presentes, em particular os representantes das Agesci de Grumo Nevano e de Caltanissetta, a dar testemunho da fé em Cristo, que vos chama a ser "pedras vivas" no edifício da Igreja.

Convido-vos, queridos doentes, a oferecer o cansaço do vosso sofrimento a Jesus Crucificado, para assim cooperar na vossa redenção e na do mundo. E também vós, queridos novos casais, estai conscientes de que a vossa união esponsal é um reflexo do amor que liga Cristo à Igreja.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Castelgandolfo, 17 de julho de 2002

Glorificação de Deus Senhor e Criador


1. O Salmo 148 que agora elevámos a Deus constitui um verdadeiro "cântico das criaturas", uma espécie de Te Deum do Antigo Testamento, um aleluia cósmico que envolve tudo e todos no louvor divino.

Assim comenta um exegeta contemporâneo: "O salmista, chamando-os pelo nome, ordena os seres: em cima o céu, dois astros segundo os tempos, e, separadas, as estrelas; de um lado as árvores de fruto, do outro os cedros; num plano os répteis, e noutro as aves; aqui os príncipes e além os povos; em duas filas, talvez dando as mãos, jovens e moças... Deus estabeleceu-os atribuindo-lhes um lugar e uma função; o homem acolhe-os, dando-lhes lugar na linguagem, e assim dispostos os conduz à celebração litúrgica. O homem é "pastor do ser" ou liturgo da criação" (L. Alonso Schökel, Trinta Salmos: poesia e oração, Bolonha 1982, pág. 499).

Sigamos também nós este coro universal, que ressoa no firmamento do céu e que tem como templo todo o cosmos. Deixemo-nos conquistar pelo alcance do louvor que todas as criaturas elevam ao seu Criador.

2. No céu encontramos os cantores do universo estrelar: os astros mais distantes, as esteiras dos anjos, o sol e a lua, as estrelas reluzentes, os "céus dos céus" (cf. v. 4), isto é, o espaço estrelar, as águas superiores que o homem da Bíblia pensa que estão conservadas em depósitos antes de caírem como chuva sobre a terra.

O aleluia, ou seja, o convite a "louvar o Senhor", ressoa pelo menos oito vezes e tem como meta final a ordem e a harmonia dos seres celestes: "estabeleceu-lhes leis a que não faltam" (v. 6).

O olhar dirige-se depois para o horizonte terrestre onde se segue uma procissão de cantores, pelo menos vinte e dois, isto é, uma espécie de alfabeto de louvor, espalhado no nosso planeta. Eis os monstros marinhos e os abismos, símbolos do caos aquático sobre o qual a terra está fundada (cf. Sl Ps 23,2), segundo a concepção cosmológica dos antigos semitas.

O Padre da Igreja, São Basílio, observa: "Nem sequer o abismo foi considerado desprezível pelo salmista, que o acolheu no coro geral da criação, aliás, com uma linguagem própria, também ele completa harmoniosamente o hino ao Criador" (Homiliae in hexaemeron, III, 9: ).

3. A procissão continua com as criaturas da atmosfera: o fogo dos relâmpagos, o granizo, a neve, o nevoeiro e o vento da tempestade, considerado um veloz mensageiro de Deus (cf. Sl Ps 148,8).

Entram depois em cena os montes e as colinas, consideradas popularmente as criaturas mais antigas da terra (cf. v. 9a). O reino vegetal está representado pelas árvores de fruto e pelos cedros (cf. v. 9b). Ao contrário, o mundo animal está presente através das feras, dos animais, dos répteis e das aves (cf. v. 10).

E por fim, eis o homem que preside à liturgia da criação. Ele é definido de acordo com todas as idades e distinções: crianças, jovens e idosos, príncipes, reis e nações (cf. vv. 11-12).

4. Confiemos agora a São João Crisóstomo a tarefa de lançar um olhar de conjunto sobre este imenso coro. Ele faz isto com palavras que reenviam também para o cântico dos três jovens na fornalha ardente, por nós meditado na última catequese.

O grande Padre da Igreja e patriarca de Constantinopla afirma: "Devido à sua grande rectidão de alma os santos, quando se preparam para dar graças a Deus, costumam chamar muitos para participar no seu louvor, exortando-os a empreender juntamente com eles esta bonita liturgia. Também os três jovens na fornalha ardente fizeram isto, quando chamaram toda a criação para louvar o benefício recebido e para cantar hinos a Deus (Da 3).

Também este Salmo faz o mesmo, chamando as duas partes do mundo, a que está no alto e a que está em baixo, a sensível e a inteligente. Assim fez também o profeta Isaías, quando disse: "Cantai, ó Céus, exulta de alegria ó terra... porque o Senhor consola o seu povo" (Is 49,13). E o Saltério exprime-se de novo assim: "Quando Israel saiu do Egipto, a casa de Jacob dum povo estranho, os montes saltaram como carneiros, as colinas como cordeiros" (Ps 113,1 Ps 113,4). E em Isaías: "As nuvens façam chover a justiça" (Is 45,8). De facto, os santos, considerando-se eles próprios insuficientes para louvar o Senhor, dirigem-se a todas as partes envolvendo todos na hinologia comum" (Expositio in psalmum CXLVIII: ).

5. Também nós somos convidados a associar-nos a este coro imenso, tornando-nos voz explícita de cada criatura e louvando a Deus nas duas dimensões fundamentais do seu mistério. Por um lado, devemos adorar a sua grandeza transcendente, "porque só o Seu nome é excelso, a sua majestade está acima do céu e da terra", como diz o nosso Salmo (v. 13). Por outro lado, reconhecemos a sua bondade condescendente, porque Deus está próximo das suas criaturas e vem, sobretudo, em ajuda do seu povo: "Ele enalteceu o poder do seu povo... povo da sua amizade" (v. 14), como ainda afirma o Salmista.

Face ao Criador omnipotente e misericordioso aceitemos, então, o convite de Santo Agostinho para o louvar, exaltar e celebrar através das suas obras: "Quando observas estas criaturas e por isso te regozijas e te elevas até ao Artífice de tudo e, através do intelecto, contemplas os atributos invisíveis das coisas criadas, então eleva-se a sua confissão sobre a terra e no céu... Se as criaturas são belas, quanto mais não o será o Criador?" (Exposições sobre os Salmos, IV, Roma 1977, págs. 887-889).

Saudações

Saúdo cordialmente quantos me escutam de língua portuguesa, e desejo-lhes todo o bem no Senhor. Em particular saúdo os portugueses anunciados vindos do Arciprestado de Santa Comba Dão, da Diocese de Viseu e um grupo de visitantes de Lisboa.

Ao dar-vos as boas-vindas, faço votos de que leveis desta visita a Roma mais viva a certeza de que o Senhor Jesus vos acompanha e vos assiste com abundantes graças, que imploro para vós e vossas famílias, com a Bênção Apostólica.



Saúdo cordialmente os peregrinos provenientes de Banská Bystrica, de Bánovce e de Bebravou, na Eslováquia.

Caros peregrinos, aproveitai este período de férias e de lazer não só para o descanso, mas também para a renovação espiritual.

É de bom grado que vos abençoo a vós e os vossos entes queridos. Louvado seja Jesus Cristo.
É-me grato saudar os peregrinos de língua inglesa, presentes na Audiência de hoje, especialmente os que provêm da Irlanda, Escócia e Estados Unidos da América. Sobre todos vós, invoco cordialmente a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo. Feliz Verão!



Saúdo os peregrinos de expressão espanhola, em particular o grupo das jovens de quinze anos e os estudantes de Santa Cruz da Serra e de Santiago. Convido-vos a todos a ler com entusiasmo o hino de louvor a Deus que, como num livro magnífico, está escrito na criação. Muito obrigado!



Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo a Associação La Piccola Famiglia, de Roma, e os numerosos participantes no Campeonato de "Tiro a volo", que nestes dias se realiza no Vale do Aniene. E saúdo também os Alunos Oficiais da Academia das Finanças. Caríssimos, enquanto vos agradeço a vossa presença, faço votos de coração a fim de que as iniciativas que promoveis difundam os valores da paz e da solidariedade fraterna.

Concedo-vos a todos a minha Bênção apostólica!

E agora, uma saudação especial aos jovens, aos doentes e aos novos casais.

Caros jovens, ao encontrar-me convosco, penso na já iminente Jornada Mundial da Juventude. Rezai a fim de que ela seja uma ocasião propícia para experimentar a alegria de ser autênticas testemunhas de Cristo. Encontram-se aqui presentes numerosos doentes, a quem saúdo com grande afecto. Caríssimos, convido-vos a encontrar alívio no Senhor que sofre, que continua a sua obra de Redenção na vida de cada pessoa. A vós, dilectos novos casais, exprimo os bons votos de que o vosso amor seja cada vez mais profundo e mais verdadeiro.





                                                                            Agosto de 2002

JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Castelgandolfo, 7 de agosto de 2002




A Viagem Apostólica à Cidade da Guatemala e à Cidade do México

1. No Domingo passado, durante o Angelus, quis voltar espiritualmente a Toronto, onde se realizou a XVII Jornada Mundial da Juventude. Hoje, desejaria deter-me sobre as etapas que se seguiram na minha viagem apostólica à Guatemala e ao México, onde o Senhor me concedeu a alegria de proclamar Santos e Beatos filhos ilustres do continente americano.

Sinto, em primeiro lugar, a necessidade de renovar o meu profundo reconhecimento às Autoridades políticas, administrativas e militares e a todos os organismos institucionais dos respectivos Países pelo acolhimento e hospitalidade, que me reservaram a mim e aos meus Colaboradores.

O meu pensamento de gratidão alarga-se aos Bispos, aos sacerdotes, aos religiosos e às religiosas, aos voluntários e às famílias que com generosa disponibilidade se empenharam a acolher os peregrinos e a fazer com que tudo se realizasse do melhor modo possível. A colaboração comum contribuiu para que cada etapa da minha peregrinação se distinguisse por um clima espiritual de alegria e festa. Mas o meu mais sentido e afectuoso agradecimento dirige-se ao povo cristão que afluiu em grande número para se encontrar comigo na Guatemala e no México. Na participação intensa destes irmãos e irmãs pude ver a fé que os anima, a afeição filial ao Sucessor de Pedro e o entusiasmo da sua pertença à Igreja católica.

2. A ocasião da minha visita à Cidade da Guatemala foi a canonização de Frei Pedro de São José de Betancur que, originário de Tenerife, atravessou o oceano para ir evangelizar os pobres e os indígenas em Cuba, depois nas Honduras e, em seguida, na Guatemala, que ele gostava de chamar a sua "terra prometida". Foi um homem de intensa oração e destemido apóstolo da misericórdia divina. Da contemplação dos mistérios de Belém e do Calvário, ele tirou a energia para o seu ministério. A oração tornou-se fonte do seu zelo e coragem apostólica. Humilde e austero, soube reconhecer nos irmãos, sobretudo nos mais abandonados, o rosto de Cristo, e para quantos se encontravam em necessidade foi "homem que se fez caridade". O seu exemplo é um convite a praticar o amor misericordioso para com os irmãos, especialmente os mais abandonados. A sua intercessão inspire e ampare os crentes da Guatemala e de todo o mundo a abrir o coração a Cristo e aos irmãos.

3. A última etapa da minha peregrinação foi a Cidade do México, onde, na Basílica de Guadalupe, em dois encontros diferentes, tive a alegria de elevar às honras dos altares três filhos daquela amada terra: São Juan Diego, o indígena ao qual a Virgem apareceu no monte Tepeyac; os beatos João Baptista e Jacinto dos Anjos, que em 1700 derramaram o seu sangue para permanecerem fiéis ao Baptismo e à Igreja católica.

Juan Diego, o primeiro índio a ser canonizado, foi um homem de grande simplicidade, humilde e generoso. Está intimamente ligado à Virgem de Guadalupe, cujo rosto mestiço manifesta um terno amor maternal a todos os mexicanos. O acontecimento guadalupano constituiu o início da evangelização no México, um modelo de evangelização perfeitamente inculturada, que mostra como a mensagem cristã pode ser aceite sem ter que renunciar à própria cultura.

Os beatos João Baptista e Jacinto dos Anjos são fruto da santidade da primeira evangelização entre os índios Zapotecas. Pais de família íntegros, souberam cumprir os seus deveres inspirando-se sempre nos ensinamentos do Evangelho, sem abandonar a cultura indígena tradicional. A sua existência constitui um modelo exemplar de como se podem alcançar os cumes da santidade, permanecendo fiéis à cultura ancestral, iluminada pela graça renovadora de Cristo.

Estes fiéis discípulos de Cristo, filialmente devotos de Maria, a Virgem de Guadalupe, Mãe e Rainha da América, cuja recordação acompanhou constantemente esta minha visita pastoral, amparem o impulso missionário dos crentes na América ao serviço da nova evangelização. Sejam para todo o Povo de Deus um estímulo a construir uma nova humanidade, que se inspire nos perenes valores do Evangelho.

Saudações

Caros Irmãos e Irmãs

Queridos peregrinos de língua portuguesa, com destaque para o grupo do Estoril e de Vila Nova de Gaia. Possa o amor de Deus reinar nas vossas famílias e comunidades cristãs, que confio a Nossa Senhora de Guadalupe, com a minha Bênção.
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Saúdo cordialmente os fiéis húngaros, representados nos membros do coro da paróquia de Solymár e do grupo de Vásárosnamény.

Peço as vossas preces pela juventude húngara e, de coração, concedo-vos a todos a minha Bênção apostólica.

Louvado seja Jesus Cristo!
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Saúdo cordialmente os peregrinos francófonos. Os fiéis discípulos de Cristo, que acabámos de recordar, sejam para todo o povo de Deus um encorajamento a construir uma humanidade nova, enraizada nos valores do Evangelho! Com a minha Bênção apostólica.
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Dirijo as minhas cordiais boas-vindas aos peregrinos eslovacos de Mutne, Kysuce e Povazie.
Irmãos e Irmãs, na segunda-feira celebrámos a memória da Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, tão querida a vós, eslovacos, desde a época dos Santos Cirilo e Metódio.

Com afecto, abençoo-vos a todos, bem como as vossas famílias. Louvado seja Jesus Cristo!
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É-me grato saudar os membros da Associação Maltesa para o Transporte dos Doentes a Lourdes: oxalá o Senhor vos encoraje sempre com os seus dons de fortaleza e de cura. Sobre todos os peregrinos de língua inglesa, presentes nesta Audiência, invoco cordialmente abundantes graças e paz no Senhor!
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Dou as calorosas boas-vindas aos peregrinos e fiéis provenientes das terras de língua alemã. A todos os fiéis aqui presentes, assim como àqueles que nos acompanham através da Rádio Vaticano ou da televisão, concedo a minha Bênção apostólica.
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Saúdo todos os peregrinos de língua espanhola, especialmente os mexicanos, desejando-vos que esta visita a Roma seja uma ocasião propícia para fortalecer a fé e o testemunho cristão. Muito obrigado pela vossa atenção!

Transmito as minhas cordiais boas-vindas aos peregrinos italianos. Em particular, saúdo as Irmãs Franciscanas da Sagrada Família, do Instituto Lega, que nestes últimos dias realizaram o seu Capítulo Geral. Queridas Religiosas, é com alegria que vos recebo, enquanto felicito vivamente a vossa Superiora-Geral e o seu novo Conselho. Durante esta assembleia comunitária, reflectistes em conjunto sobre o modo como a vossa Família religiosa deve continuar o seu caminho apostólico, percorrendo fielmente os passos da vossa Fundadora, Madre Teresa Lega. A Santa Virgem vos sustente e torne fecundos todos os vossos esforços espirituais e missionários. O Papa acompanha-vos com a sua oração, e é com afecto que vos abençoa a todas.

Saúdo também o grupo de ministrantes, oriundos das dioceses da Lombardia, que neste período substituíram os alunos do pré-Seminário "São Pio X" no serviço litúrgico, na Basílica de São Pedro, assim como os jovens provenientes de Áscoli Piceno e de São Bento de Tronto.

E agora, como de costume, dirijo-vos uma saudação a vós, queridos jovens, doentes e novos casais. Faço votos a cada um, a fim de que a luz de Cristo transfigurado, que ontem contemplámos, ilumine a vossa existência e cumule o vosso coração de alegria celestial.
E concedo-vos a todos a minha Bênção!



AUDIÊNCIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Castelgandolfo, 21 de agosto de 2002




Transmitir ao mundo o fogo da Misericórdia Divina

1. Volto hoje com o pensamento à oitava viagem à minha terra natal, que felizmente a Providência Divina me permitiu realizar nestes últimos dias.

Renovo a expressão da minha gratidão ao Senhor Presidente da República da Polónia, ao Senhor Primeiro-Ministro, às Autoridades nacionais civis e militares de todas as ordens e graus, assim como às da cidade de Cracóvia, por terem garantido à minha visita um desenvolvimento tranquilo. Depois, dirijo o meu pensamento cordial ao Cardeal Primaz, Józef Macharski, a todo o Episcopado, aos sacerdotes, aos consagrados e a todos os que prepararam este importante acontecimento eclesial, e nele participaram com fé e devoção.

Desejo enviar, sobretudo aos meus caríssimos concidadãos, o meu agradecimento mais caloroso por me terem recebido em tão grande número, com afecto comovedor e uma participação intensa. A visita desenvolveu-se numa só Diocese, mas abracei espiritualmente toda a Polónia, à qual desejo que dê continuidade ao seu esforço para construir o autêntico progresso social, nunca faltando à fiel salvaguarda da sua identidade cristã.

2. "Deus, rico em misericórdia" (Ep 2,4). Estas palavras ressoaram com frequência durante a minha peregrinação apostólica. De facto, a finalidade principal da visita foi precisamente anunciar mais uma vez Deus "rico em misericórdia", sobretudo mediante a consagração do novo Santuário da Misericórdia Divina, em Lagiewniki. O novo templo será um centro de irradiação mundial do fogo da misericórdia de Deus, de acordo com o que o Senhor quis manifestar a Santa Faustina Kowalska, Apóstola da Misericórdia Divina.

"Jesus, confio em Ti!": eis a oração simples que a Irmã Faustina nos ensinou e que, em todos os momentos da vida, podemos ter nos nossos lábios. Quantas vezes também eu, como operário e estudante e, depois, como sacerdote e Bispo, em períodos difíceis da história da Polónia, repeti esta simples e profunda invocação, verificando a sua eficiência e força.

A misericórdia é um dos atributos mais bonitos do Criador e do Redentor e a Igreja vive para aproximar os homens a esta fonte inexaurível, da qual ela é depositária e dispensadora. Eis o motivo por que quis confiar à Misericórdia Divina a minha Pátria, a Igreja e toda a humanidade.

3. O amor misericordioso de Deus abre o coração a actos concretos de caridade para com o próximo. Aconteceu assim com o Arcebispo D. Sigismundo Félix Felinski, o Padre Joao Beyzym, a Irma Sânzia Szymkowiak e o Padre Joao Balicki, que tive a alegria de proclamar Beatos durante a Missa celebrada em Cracóvia, no Parque de Blonie, no domingo passado.

Quis indicar ao povo cristão estes novos Beatos, para que o seu exemplo e as suas palavras sirvam de estímulo e de encorajamento para testemunhar com os factos o amor misericordioso do Senhor, que vence o mal com o bem (cf. Rm Rm 12,21). Só assim é possível construir a desejada civilização do amor, cuja força serena se opõe com vigor ao mysterium iniquitatis, presente no mundo. A nós, discípulos de Cristo, compete-nos a tarefa de proclamar e viver o outro mistério da Misericórdia Divina que regenera o mundo, estimulando a amar os irmãos e até os inimigos. Estes Beatos, juntamente com os outros Santos, são exemplos resplandecentes da maneira como a "fantasia da caridade", da qual falei na Carta apostólica Novo millennio ineunte, faz com que estejamos próximos e sejamos solidários com todos os que sofrem (cf. n. 50), artífices de um mundo renovado pelo amor.

4. Depois, a minha peregrinação levou-me a Kalwaria Zebrzydowska, para recordar os 400 anos do Santuário dedicado à Paixão de Jesus e a Nossa Senhora das Dores. Sinto-me ligado àquele lugar sagrado desde a infância. Experimentei muitas vezes, ali, como a Mãe de Deus dirige o seu olhar misericordioso para o homem aflito, necessitado da sabedoria e da sua ajuda, dela que é a Senhora das graças.

Depois de Czestochowa, é um dos santuários mais conhecidos e frequentados de toda a Polónia, ao qual acorrem também os fiéis dos paises vizinhos. Depois de percorrerem os caminhos da Via Sacra e da Compaixao da Mae de Deus, os peregrinos detem-se diante da imagem antiga e milagrosa de Maria nossa Advogada, que os acolhe com os olhos cheios de amor. Ao seu lado, é possivel sentir e penetrar o misterioso vinculo entre o Redentor que "sofreu" no Calvário e a sua Mae que "padeceu" aos pés da Cruz. Nesta comunhao de amor no sofrimento é dificil nao ver a fonte da força de intercessao que a oraçao da Virgem tem por nós, seus filhos.

Pedimos a Nossa Senhora que acenda nos corações a centelha da graça de Deus, ajudando-nos a transmitir ao mundo o fogo da Misericórdia Divina. Maria nos obtenha a todos o dom da unidade e da paz: a unidade da fé, a unidade do espirito e do pensamento, a unidade das familias; a paz dos corações, a paz das nações e do mundo, na expectativa da vinda gloriosa de Cristo.
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Saúdo cordialmente os vários grupos de peregrinos vindos de Portugal e doutros países de língua portuguesa, sobre todos implorando a protecção da Mãe de Deus para que a misericórdia e a graça triunfe nos seus corações, famílias e nações. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
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Sede bem-vindos, estimados peregrinos húngaros!

Ontem celebrastes a solenidade do rei, Santo Estêvão. Conservai bem a sua preciosa herança. Concedo-vos a todos, de bom grado, a Bênção apostólica. Louva seja Jesus Cristo!
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É-me grato dar as boas-vindas aos peregrinos irlandeses da Diocese de Killaloe. Saúdo também os visitantes provenientes do Instituto Educativo "Bunri Satoh" de Saitama, no Japão. Sobre todos os peregrinos de expressão inglesa, aqui presentes na Audiência deste dia, especialmente aos que vieram da Inglaterra, Irlanda, Japão e Indonésia, invoco cordialmente as bênçãos divinas da graça e da paz.
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Saúdo com cordialidade os fiéis de língua francesa, desejando-lhes felizes férias, enquanto os encorajo a rezar com confiança ao Senhor misericordioso.
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Apraz-me saudar os peregrinos de língua espanhola, de modo particular os diferentes grupos vindos da Espanha e do México. A Virgem, Mãe de Misericórdia, nos conceda a todos a unidade da fé e a paz dos corações, das nações e do mundo inteiro.
Muito obrigado!
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É com afecto que saúdo os peregrinos de língua italiana, de maneira especial as Religiosas da Santíssima Mãe das Dores, reunidas em Roma para o seu Capítulo Geral. Enquanto faço votos a fim de que este importante encontro as leve a corresponder com fiel generosidade à vontade do Senhor invoco sobre elas a protecção maternal da Santíssima Virgem.

É-me grato receber a significativa peregrinação de católicos e ortodoxos, proveniente de Atenas.
Além disso, saúdo os numerosos seminaristas aqui presentes: o grupo de estudantes de Teologia, oriundos de Milão, os jovens de Verona e os jovens que participam no encontro de Verão para Seminaristas Maiores.

Saúdo, outrossim, os fiéis da Paróquia de S. Tomé Apóstolo, em Castelporziano de Roma, com os seus hóspedes naturais da Bielo-Rússia e da Roménia, assim como os voluntários da Associação "Camminando per mano", com as crianças Saharawi, habitualmente forçadas a viver em campos para prófugos e refugiados.

Enfim, dirijo uma saudação aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Pensando no Santo Papa Pio X, que hoje recordamos na Liturgia, convido-vos a todos a dedicar cada vez mais tempo à formação cristã, para serdes fiéis discípulos de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.



JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Desejo do templo do Senhor

Castelgandolfo, 28 de agosto de 2002




1. Damos continuidade ao nosso itinerário no âmbito dos Salmos da Liturgia das Laudes. Ouvimos agora o Salmo 83, atribuído pela tradição judaica "aos filhos de Coré", uma família sacerdotal que se ocupava do serviço litúrgico e guardava a entrada da tenda da arca da Aliança (cf. 1Co 9,19).

Trata-se de um cântico muito suave, repassado por uma aspiração mística ao Deus da vida, celebrado várias vezes (cf. Sl Ps 83,2 Sl Ps 83,4 Sl Ps 83,9 Sl Ps 83,13) com o título de "Senhor dos exércitos", isto é, Senhor das estrelas e, por conseguinte, do universo. Por outro lado, este título estava relacionado especialmente com a arca conservada no templo, chamada "a arca do Deus dos exércitos que se senta sobre os querubins" (1S 4,4 cf. Sl Ps 79,2). De facto, ela era sentida como o sinal da protecção divina nos dias do perigo e da guerra (cf. 1S 4,3-5 2S 11,11).

O quadro de todo o Salmo está representado pelo templo para o qual se dirige a peregrinação dos fiéis. A estação parece ser a outonal, porque se fala da "primeira chuva" que alivia a aridez do Verão (cf. Sl Ps 83,7). Por isso, poderíamos pensar na peregrinção rumo a Sião, para a terceira festividade principal do ano hebraico, a dos Tabernáculos, memória da peregrinação de Israel no deserto.

2. O templo está presente com todo o seu fascínio desde o início até ao fim do Salmo. Na abertura (cf. vv. 2-4) encontramos a admirável e delicada imagem das aves que construíram os seus ninhos no santuário, privilégio invejável.

Esta é uma representação da felicidade de todos os que como os sacerdotes do templo têm uma residência fixa na Casa de Deus, gozando da sua intimidade e da sua paz. Com efeito, todo o ser do crente está orientado para o Senhor, estimulado por um desejo quase físico e instintivo: "A minha alma desfalece e consome-se pelos átrios do Senhor. O meu coração e a minha carne gritam de alegria de encontro ao Deus vivo" (v. 3). Depois, o templo volta a aparecer no fim do Salmo (cf. vv. 11-13). O peregrino exprime a sua grande felicidade de estar algum tempo nos átrios da casa de Deus e opõe esta felicidade espiritual à ilusão idólatra, que impulsiona para as "tendas dos ímpios", isto é, os templos aviltantes da injustiça e da perversão.

3. Só no santuário do Deus vivo existem a luz, a vida e a alegria, e é "bem-aventurado todo aquele que confia" no Senhor, escolhendo o caminho da rectidão (cf. vv. 12, 13). A imagem do caminho conduz-nos ao centro do Salmo (cf. vv. 5-9), onde se desenvolve outra peregrinação mais significativa. Se é bem-aventurado aquele que habita no templo de maneira estável, é muito mais bem-venturado aquele que decide empreender uma viagem de fé até Jerusalém.


AUDIÊNCIAS 2002