AUDIÊNCIAS 2002 - AUDIÊNCIA

PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


O hino depois da vitória

Quarta-feira, 2 de outubro de 2002


1. No Livro do profeta Isaías convergem vozes diferentes, distribuídas num amplo arco de tempo e todas colocadas sob o nome e a inspiração desta grandiosa testemunha da Palavra de Deus, que viveu no século VIII a.C.

Dentro deste amplo rolo de profecias, que também Jesus abriu e leu na sinagoga da sua aldeia, Nazaré (cf. Lc Lc 4,17-19), encontra-se uma série de capítulos, que vai do 24 ao 27, geralmente intitulada pelos estudiosos "o grande apocalipse de Isaías". De facto, encontramos outra, menor, nos capítulos 34-35. Em páginas muitas vezes fervorosas e repletas de símbolos, delineia-se uma poderosa descrição poética do juízo divino acerca da história e exalta-se a expectativa da salvação por parte dos justos.

Muitas vezes, como acontecerá no Apocalipse de João, se opõem duas cidades antitéticas entre si: a cidade rebelde, encarnada nalguns centros históricos daquela época, e a cidade santa, onde os fiéis se reúnem.

Pois bem, o Cântico que agora ouvimos proclamar, e que é tirado do capítulo 26 de Isaías, é precisamente a celebração jubilosa da cidade da salvação. Ela eleva-se forte e gloriosa, porque foi o próprio Senhor que lançou as suas bases e os muros de defesa, tornando-a habitação segura e tranquila (cf. v. 1). Agora ele abre de par em par as suas portas para receber o povo dos justos (cf. v. 2), que parece repetir as palavras do Salmista quando, diante do templo de Sião, exclama: "Abri-me as portas da justiça, desejo entrar para dar graças ao Senhor. Esta é a porta do Senhor; por ela entram apenas os justos" (Ps 117,19-20).

3. Quem entra na cidade da salvação deve ter uma característica fundamental: "Carácter firme... confiança em vós... confiar" (cf. Is Is 26,3-4). É a fé em Deus, uma fé sólida, baseada n'Ele, que é a "rocha perene" (v. 4).

É a confiança, já expressa na raiz originária hebraica da palavra "amen", sintética profissão de fé no Senhor, que como cantava o rei David é "minha força, minha rocha, minha fortaleza, meu abrigo, meu escudo; meu Deus e meu abrigo em quem me refugio, meu escudo, minha defesa e meu castelo" (cf. Sl Ps 17,2-3 2S 22,2-3).

O dom que Deus oferece aos fiéis é a paz (cf. Is Is 26,3), o dom messiânico por excelência, síntese de vida na justiça, na liberdade e na alegria da comunhão.

4. É um dom recordado com vigor no versículo final do Cântico de Isaías: "Senhor, proporcionai-nos a paz, porque todas as nossas empresas vós as realizais" (v. 12). Este versículo chamou a atenção dos Padres da Igreja: naquela promessa de paz eles viram as palavras de Cristo que ressoaram alguns séculos mais tarde: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou" (Jn 14,27).

No seu Comentário ao Evangelho de João, São Cirilo de Alexandria recorda que, ao dar a paz, Jesus oferece o seu próprio Espírito. Por conseguinte, Ele não nos deixa órfãos, mas permanece connosco através do Espírito. E São Cirilo comenta: o profeta "invoca que seja dado o Espírito divino, por meio do qual fomos readmitidos na amizade com Deus Pai, nós, que antes andávamos afastados d'Ele devido ao pecado que reinava em nós". O comentário torna-se depois oração: "Concedei-nos a paz, ó Senhor. Então admitiremos que tudo possuímos, e parecer-nos-á que nada falta àquele que recebeu a plenitude de Cristo. De facto, é plenitude de qualquer bem que Deus habite entre nós através do Espírito (cf. Cl CL 1,19)" (vol. III, Roma 1994, pág. 165).

5. Demos um último olhar ao texto de Isaías. Ele apresenta uma reflexão sobre "o caminho recto" (cf. v. 7) e uma declaração de adesão às justas decisões de Deus (cf. vv. 8-9). A imagem dominante é a do caminho, clássica na Bíblia, como já Oseias, um profeta pouco anterior a Isaías, tinha declarado: "Quem é sábio para compreender estas coisas, inteligente para as conhecer? Porque os caminhos do Senhor são rectos, os justos andam por eles, mas os pecadores neles tropeçam" (14, 10).

No cântico de Isaías há outra componente, que se revela muito sugestiva também para o uso litúrgico que dele faz a Liturgia das Laudes. Tem-se, com efeito uma menção do alvorecer, esperado depois de uma noite empenhada na busca de Deus: "A minha alma deseja-vos de noite e o meu espírito dentro de mim busca-vos pela manhã" (26, 9).

É precisamente no alvorecer, quando começa o trabalho e a vida quotidiana já vibra nos caminhos da cidade, que o fiel deve empenhar-se de novo a caminhar "na vereda dos vossos juízos, Senhor" (v. 8), esperando n'Ele e na Sua palavra, única fonte de paz.

Emergem então dos seus lábios as palavras do Salmista, que desde o alvorecer professa a sua fé: "Vós, Senhor, sois o meu Deus, anseio por Vós. A minha alma está sedenta de Vós... O Vosso amor é mais precioso do que a vida" (Ps 62,2 Ps 62,4). Com a alma fortalecida ele pode enfrentar o novo dia.

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs

Saúdo os peregrinos vindos de vários países de língua portuguesa, nomeadamente os seminaristas de Niterói, que estão a estudar em Roma e hoje, com o seu Bispo D. Carlos Alberto Navarro, quiseram "visitar Pedro" e assegurar a disponibilidade de "se fazerem ao largo" para pescar comigo: Irmãos caríssimos, a vossa ajuda é bem-vinda; com Jesus, espera-nos uma pesca abundante. Deus abençoe os vossos propósitos!

A presença hodierna de alguns filhos e amigos de Moçambique, que nestes dias celebra dez anos de paz sem armas na mão, dá-me a ocasião de, por eles, estreitar novamente ao coração aquele povo amado, cujos destinos confio à Virgem Mãe, para que as suas mãos livres e fraternas se empreguem para construir a Nação.

Dou as cordiais boas-vindas aos fiéis de expressão húngara, provenientes de Budapeste.
No mês de Outubro, a Igreja recorda e recita o Rosário de maneira especial. Invocando a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria do Rosário, concedo-vos a todos a Bênção apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

Recebo com alegria os peregrinos francófonos, em particular os jovens do Liceu "Maria da França", de Montreal, no Canadá, bem como os alunos da Escola católica da Rua Blomet, de Paris. Saúdo especialmente os engenheiros do grupo "Solvay", reunidos nestes dias em Roma, recordando-me do período que passei na usina deste grupo, durante o período da minha juventude. O Senhor torne fecunda a vossa peregrinação e faça aumentar em vós o amor a Deus!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos da República Checa. Hoje, festejamos a memória litúrgica dos Santos Anjos da Guarda. Para que vos protejam ao longo de todos os vossos caminhos, oxalá com a sua orientação alcanceis a alegria eterna.

Abençoo-vos, a vós e os vossos entes queridos, do íntimo do coração.
Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo auma sincera saudação aos peregrinos eslovacos.

Caríssimos, agradeço-vos a vossa visita e, enquando de bom grado invoco sobre vós e as vossas famílias a contínua assistência divina, concedo-vos cordialmente uma especial Bênção, que faço extensiva a todo o povo eslovaco.

Louvado seja Jesus Cristo!

É-me grato receber os sacerdotes, provenientes de várias nações, inscritos nos Pontifícios Colégios São Pedro Apóstolo, São Paulo Apóstolo e Santo Anselmo, em Roma, para completarem os seus estudos.

Depois, dirijo a minha cordial saudação de boas-vindas aos peregrinos de língua italiana, em particular aos representantes da Associação "Panathlon", de Gorla Minore, e ao grupo de idosos de Marzotto di Valdagno.

Saúdo os jovens, os doentes e os novos casais.

A solenidade de hoje, dos Santos Anjos da Guarda, convida-nos a pensar nestes celestes protectores, que o cuidado providencial de Deus colocou ao lado de cada pessoa.

Caros jovens, deixai-vos guiar pelos Anjos, a fim de que a vossa vida seja uma fiel prática dos mandamentos divinos. E vós, dilectos doentes, ajudados pelos Anjos da Guarda, uni os vossos sofrimentos aos de Cristo, para a renovação espiritual de toda a sociedade. E por fim vós, queridos novos casais, recorrei com frequência aos vossos Anjos da Guarda, para fazer da vossa família um lugar de compreensão recíproca e de unidade crescente em Cristo.



PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Todos os povos glorifiquem o Senhor

9 de outubro de 2002


Queridos irmãos e irmãs,

1. Ressoou agora a voz do antigo Salmista, que elevou ao Senhor um jubiloso cântico de agradecimento. É um texto breve e fundamental, mas que se expande para um horizonte imenso, até abarcar espiritualmente todos os povos da terra.

Esta abertura universalista reflecte provavelmente o espírito profético da época posterior ao exílio na Babilónia, quando se desejava que também os estrangeiros fossem conduzidos por Deus até ao seu monte santo para se sentirem repletos de alegria. Os seus sacrifícios e holocaustos teriam sido agradáveis, porque o templo do Senhor se tornou "casa de oração para todos os povos" (Is 56,7).

Também no nosso Salmo, o 66, o coro universal das nações é convidado a unir-se ao louvor que Israel eleva no templo de Sião. De facto, por duas vezes volta esta antífona: "Louvem-Vos, ó Senhor, os povos, todos os povos vos dêem graças" (vv. 4.6).

2. Também os que não pertencem à comunidade escolhida por Deus recebem d'Ele uma vocação: com efeito, são chamados a conhecer o "caminho" revelado a Israel. O "caminho" é o plano divino de salvação, o reino de luz e de paz, em cuja actuação estão incluídos também os pagãos, convidados a ouvir a voz de Javé (cf. v. 3). O resultado desta escuta obediente é o temor do Senhor em "todos os confins da terra" (v. 8), expressão que não recorda tanto o receio como, ao contrário, o respeito adorante do mistério transcendente e glorioso de Deus.

3. Na abertura e na parte conclusiva do Salmo é expresso um desejo insistente da bênção divina: "Deus tenha piedade de nós e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós a luz da Sua face... O Senhor, nosso Deus, nos abençoa" (vv. 2.7-8).

É fácil ver nestas palavras o eco da famosa bênção sacerdotal ensinada, em nome de Deus, por Moisés a Aarão e aos descendentes da tribo sacerdotal: "O Senhor te abençoe e te proteja! Que o Senhor dirija o Seu olhar para ti e te conceda a paz!" (NM 6,24-26).

Pois bem, segundo o Salmista, esta bênção efundida sobre Israel será como uma semente de graça e de salvação a ser lançada à terra do mundo inteiro e da história, pronta para germinar e se tornar uma árvore frondosa.

O pensamento dirige-se também para a promessa feita pelo Senhor a Abraão no dia da sua eleição: "Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênção... E todas as famílias da terra serão em ti abençoadas" (Gn 12,2-3).

4. Na tradição bíblica, um dos efeitos experimentais da bênção divina é o dom da vida, da fecundidade e da fertilidade.

No nosso Salmo é mencionada explicitamente esta realidade concreta, preciosa para a existência: "O campo deu os seus frutos" (v. 7). Esta constatação estimulou os estudiosos a relacionar o Salmo ao rito de agradecimento para uma colheita abundante, sinal do favor divino e testemunho para os outros povos da proximidade do Senhor a Israel.

A mesma frase chamou a atenção dos Padres da Igreja, que do horizonte agrícola passaram para o nível simbólico. Assim, Orígenes aplicou este versículo à Virgem Maria e à Eucaristia, isto é, a Cristo que provém da flor da Virgem e se torna fruto, para poder ser comido. Nesta perspectiva "a terra é Santa Maria, que vem da nossa terra, da nossa semente, desta lama, desta argila, de Adão". Esta terra deu o seu fruto: a primeira produziu flor... depois esta flor tornou-se fruto, para que o pudéssemos comer, para que comêssemos a sua carne. Quereis saber quem é este fruto? É o Casto da Virgem, o Senhor da serva, o Deus do homem, o Filho da Mãe, o fruto da terra" (74 Homilias sobre o Livro dos Salmos, Milão 1993, pág. 141).

5. Concluímos com as palavras de Santo Agostinho, no seu comentário ao Salmo. Ele identifica o fruto que germinou na terra com a novidade que se produz nos homens graças à vinda de Cristo, uma novidade de conversão e um fruto de louvor a Deus.

Com efeito, "a terra estava coberta de espinhos", explica ele. Mas "aproximou-se a mão daquele que desenraiza, aproximou-se a voz da sua majestade e da sua misericórdia; e a terra começou a louvar. Agora a terra dá o seu fruto". Certamente não daria fruto, "se antes não tivesse sido regada" pela chuva, "se não tivesse vindo primeiro do alto a misericórdia de Deus". Mas já assistimos a um fruto maduro na Igreja, graças à pregação dos Apóstolos: "Enviando depois a chuva através das suas nuvens, ou seja, através dos apóstolos que anunciaram a verdade, "a terra deu o seu fruto" mais abundantemente: e esta messe já encheu o mundo inteiro" (Exposições sobre os Salmos, II, Roma 1970, pág. 551).

Saudações

Queridos Irmãos e Irmãs

Ao saudar cordialmente os peregrinos e ouvintes de língua portuguesa, faço menção especial do grupo brasileiro de São Paulo e dos numerosos elementos da Optivisão de Portugal. Que Nossa Senhora sempre vos acompanhe e ampare na caminhada da vida e no crescimento cristão, conservando a vós e quantos vos são queridos na perene amizade de Deus.

Dirijo agora as boas-vindas a todos os peregrinos provenientes dos Países Baixos e da Bélgica.
O mês de Outubro, dedicado a Maria Santíssima, vos ajude a redescobrir o valor da recitação quotidiana do Santo Rosário. De coração, concedo-vos a Bênção apostólica. Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo todos os peregrinos de língua espanhola, vindos da Espanha, Peru, Venezuela, Chile e México. A eles e aos outros grupos presentes, faço votos por que esta visita a Roma seja uma ocasião propícia para fortalecer a fé.
Com os meus melhores votos!

Saúdo cordialmente os peregrinos lituanos. O Salmo, que hoje escutámos, convida-nos a glorificar o Senhor, para que o mundo possa conhecer a salvação. Sede testemunhas de Cristo com a vossa alegria e com a força da fé.
O Senhor vos abençoe a todos. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma saudação especial ao grupo de diáconos do Pontifício Colégio Norte-Americano. Queridos amigos, mantende a vossa vida centrada sempre em Jesus Cristo, a fim de que o vosso ministério na Igreja reflicta sempre o seu sacrifício abnegado para a redenção do mundo. Sobre todos os visitantes de expressão inglesa aqui presentes, especialmente aos da Inglaterra, Escócia, Irlanda, Noruega, Malta, Filipinas, Japão, Trindade e Tobago, Austrália e Estados Unidos da América, invoco a alegria e a paz no Senhor ressuscitado.

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua húngara, provenientes de Budapeste e de Szombathely.

Ontem celebrastes a solenidade da Magna Domina Hungarorum, ou seja, a Rainha da Hungria. Enquanto invoco a sua intercessão, concedo-vos de bom grado a Bênção apostólica.
Louvado seja Jesus Cristo!

É com cordialidade que saúdo os peregrinos francófonos e que os convido a pôr o louvor a Deus no centro da sua oração. Saúdo de modo particular os membros do Grupo Nacional da Acção Católica das Crianças, os peregrinos de Roanne e os "Coroinhas" oriundos da Jura suíça.

Dirijo as minhas cordiais boas-vindas ao grupo de peregrinos vindos da República Checa.
Caríssimos, agradeço-vos a vossa visita e formulo votos a fim de que este encontro com o Sucessor de Pedro contribua para confirmar a vossa fé e o vosso generoso compromisso de testemunho cristão. Com estes pensamentos, invoco de coração sobre todos vós e os vossos entes queridos, as copiosas Bênçãos celestiais. Louvado seja Jesus Cristo!

Dou as minhas cordiais boas-vindas aos peregrinos eslovacos.

Caros Irmãos e Irmãs, a recitação do Rosário é a oração de comunhão. Criai e fortalecei também vós esta comunhão da oração com Jesus e a sua Mãe, e com os irmãos. Ajude-nos nisto Nossa Senhora do Rosário.
Com estes bons votos, abençoo-vos a todos, bem como os vossos entes queridos. Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo de coração os peregrinos croatas aqui presentes, vindos para rezar junto dos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. A eles e às suas famílias, concedo a Bênção apostólica.
Louvados sejam Jesus e Maria!

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de expressão italiana. Saúdo de modo particular os fiéis vindos de Faeto, acompanhados do seu Bispo, D. Francesco Zerrillo, e os membros da Associação Nacional dos Bombeiros na reserva, provenientes de Pontecorvo.

Depois, dirijo o meu pensamento afectuoso aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Outubro é o mês do Santo Rosário e convida-nos a valorizar cada vez mais esta oração tão querida à tradição do povo cristão. Convido-vos, queridos jovens, a recitá-la todos os dias. Encorajo-vos, dilectos doentes, a abandonar-vos com confiança nas mãos de Maria, invocando-a incessantemente com o Santo Rosário. E exorto-vos, estimados novos casais, a jamais descuidar esta meditação orante dos mistérios de Cristo, feita sob o olhar da Virgem.

Amanhã, celebra-se o "Dia Mundial da Vista". Manifesto a minha proximidade espiritual a quantos são atingidos por patologias nos olhos e encorajo quem trabalha pela prevenção e a cura da cegueira, a continuar com empenhamento a sua importante actividade.



PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Diante da imagem de Nossa Senhora de Pompeia

João Paulo II proclama o "Ano do Rosário"

16 de outubro de 2002




Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Durante a recente viagem à Polónia, dirigi-me com as seguintes palavras a Nossa Senhora: "Mãe Santíssima, [...] obtém que também eu tenha as forças do corpo e do espírito, para poder cumprir até ao fim a missão que o Ressuscitado me confiou. Confio-te todos os frutos da minha vida e do meu ministério; confio-te o destino da Igreja; [...] em ti confio e mais uma vez declaro: Totus tuus, Maria! Totus tuus! Amen" (Kalwaria Zebrzydowska, 19/08/2002). Repito hoje estas palavras, dando graças a Deus pelos vinte e quatro anos do meu serviço à Igreja na Sé de Pedro.

Neste dia particular, confio de novo nas mãos da Mãe de Deus a vida da Igreja e a vida tão atormentada da humanidade. A ela confio o meu futuro. Entrego tudo nas suas mãos, para que, com amor de mãe o apresente ao seu Filho, "para servir à celebração da sua glória" (Ep 1,12).

2. O centro da nossa fé é Cristo, Redentor do homem. Maria não o obscurece, nem obscurece a sua obra salvífica. Assunta ao céu em corpo e alma, a Virgem, que foi a primeira a beneficiar dos frutos da paixão e da ressurreição do próprio Filho, é Aquela que da maneira mais certa nos conduz a Cristo, o fim derradeiro do nosso agir e de toda a nossa existência. Por isso, ao dirigir a toda a Igreja, na Carta apostólica Novo millennio ineunte, a exortação de Cristo a "fazer-se ao largo", acrescentei que, "neste caminho, nos acompanha a Virgem Santíssima, à qual [...], juntamente com tantos Bispos [...], confiei o terceiro milénio" (n. 58). E ao convidar os crentes a contemplar incessantemente o rosto de Cristo, desejei ardentemente que Maria, Sua Mãe, fosse para todos mestra desta contemplação.

3. Desejo hoje exprimir este desejo com mais clareza mediante dois gestos simbólicos. Daqui a pouco vou assinar a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae. Além disso, juntamente com este documento, dedicado à oração do Rosário, proclamo o ano que vai de Outubro de 2002 a Outubro de 2003 o "Ano do Rosário". Faço isto não só porque este é o vigésimo quinto ano do meu pontificado, mas também porque se celebra o 120º aniversário da Encíclica Supremi apostolatus officio, com a qual, a 1 de Setembro de 1883, o meu venerado predecessor, o Papa Leão XIII, deu início à publicação de uma série de documentos dedicados precisamente ao Rosário. Há também outra razão: na história dos Grandes Jubileus reinava o bom hábito, depois do Ano Jubilar dedicado a Cristo e à obra da Redenção, de ser proclamado outro em honra de Maria, como que implorando-lhe a ajuda para fazer frutificar as graças recebidas.

4. Para a exigente, mas extraordinariamente rica tarefa de contemplar o rosto de Cristo juntamente com Maria, há porventura melhor instrumento do que o Rosário? Contudo, devemos redescobrir a profundidade mística na simplicidade desta oração, tão querida à tradição popular. Esta oração mariana na sua estrutura é, de facto, sobretudo meditação dos mistérios da vida e da obra de Cristo. Ao repetir a invocação do "Ave Maria", podemos aprofundar os acontecimentos fundamentais da missão do Filho de Deus na terra, que nos foram transmitidos pelo Evangelho e pela Tradição. Para que esta síntese do Evangelho seja mais completa e ofereça uma maior inspiração, na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae propus que se acrescentem outros cinco mistérios aos que actualmente são contemplados no Rosário, e chamei-os "mistérios da luz".

Eles incluem a vida pública do Salvador, desde o Baptismo no Jordão até ao início da Paixão. Esta sugestão tem a finalidade de ampliar o horizonte do Rosário, para que seja possível a quem o recita com devoção, e não mecanicamente, penetrar mais profundamente o conteúdo da Boa Nova e conformar a própria existência cada vez mais com a de Cristo.

5. Agradeço-vos a vós, aqui presentes, e a quantos neste dia particular, estão espiritualmente unidos a mim. Obrigado pela benevolência, e sobretudo pela certeza do constante apoio da oração. Confio este documento sobre o Santo Rosário aos Pastores e aos fiéis de todo o mundo. O Ano do Santo Rosário, que viveremos juntos, produzirá sem dúvida frutos benéficos no coração de todos, renovará e intensificará a acção da graça do Grande Jubileu do Ano 2000 e tornar-se-á fonte de paz para o mundo.

Maria, Rainha do Santo Rosário, que vemos exposta aqui na bonita imagem venerada em Pompei, conduza os filhos da Igreja à plenitude da união com Cristo na sua glória!

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs

Faço votos por que os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente os brasileiros aqui presentes, se façam portadores da mensagem sobre o Santo Rosário, que hoje confio aos Pastores e fiéis de todo o mundo. Possa o Ano do Santo Rosário servir de renovação da graça que nosso Senhor concedeu à humanidade no Jubileu do Ano 2000. Com a minha Bênção apostólica.
Agora, dirijo as minhas boas boas-vindas aos peregrinos provenientes dos Países Baixos e da Bélgica, em particular aos professores e seminaristas do Centro "Vronesteyn", da Diocese de Roterdão.

Desejo-lhes que a sua peregrinação aos túmulos dos Apóstolos aprofunde a sua vocação sacerdotal e os faça crescer numa vida em que se reflicta claramente o espírito de serviço e a verdadeira alegria pascal. De coração, concedo-vos a Bênção apostólica!

A catequese do dia de hoje é dedicada à recitação do Rosário. E isto, em ligação com a publicação da nova Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, que acabei de assinar e que entregarei aos Pastores e aos fiéis de toda a Igreja. Juntamente com esta Carta, dedicada de modo integral ao Rosário, decidi proclamar o período que vai de Outubro de 2002 a Outubro de 2003, como o "Ano do Rosário". Este será como que um prolongamento mariano do Grande Jubileu.

Agradeço-vos a vós aqui presentes, bem como a todos aqueles que, neste dia, se unem de maneira especial a mim, no agradecimento de todos pelos 24 anos do meu serviço à Igreja na Sede do Apóstolo Pedro. Estou-vos grato pela benevolência e sobretudo pelo apoio na oração. Peço-vos que continueis a ajudar-me mediante a recitação do Rosário. O Ano do Rosário, que viveremos em conjunto, dê bons frutos no coração de todos. Deus vos abençoe!

Saúdo os participantes na Assembleia geral do Movimento dos Focolares, acompanhados da sua fundadora, Chiara Lubich. Caríssimos, agradeço-vos a vossa presença e confio-vos a tarefa de transmitir a minha cordial saudação a todos os simpatizantes do Movimento. Estou-vos reconhecido pelo apoio da oração e pelo ardor com que sempre me acompanhais no meu compromisso apostólico ao longo dos caminhos do mundo.

Depois, dirijo as minhas cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo com afecto D. Domenico Sorrentino, Arcebispo de Pompeia, e os numerosos peregrinos que quiseram trazer aqui a bonita imagem de Nossa Senhora, venerada naquele célebre Santuário, fundado pelo Beato Bártolo Longo, apóstolo do Rosário. Se Deus quiser espero, também eu, ir a Pompeia para venerar novamente o ícone da Virgem. Daquele Santuário, inserido junto das ruínas da antiga Cidade romana apenas tocada pelo anúncio do Evangelho, antes que a erupção do Vesúvio a destruísse, o convite ao Rosário adquire um valor quase simbólico, como expressão de um renovado compromisso dos cristãos na nova evangelização de um mundo que, sob determinados aspectos, voltou a tornar-se pagão.

Além disso, saúdo, os Alunos Agentes da Polícia de Estado, presentes em Roma, e os representantes das formações de pólo aquático de Pescara, acompanhados do seu Arcebispo. Caríssimos, também a vós é pedido que vos comprometais com generosidade no testemunho de Cristo e do seu Evangelho de salvação.

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais. A oração do Santo Rosário, recitada todos os dias com fé e devoção, vos ajude a experimentar na vossa vida a centralidade do mistério de Jesus redentor do homem e, ao lado dele, a ternura maternal de Maria.









PAPA JOÃO PAULO II


AUDIÊNCIA


Oração a Deus na aflição

23 de outubro de 2002




Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. O Salmo 85, que agora foi proclamado e que será objecto da nossa reflexão, oferece-nos uma sugestiva definição do orante. Ele apresenta-se a Deus com estas palavras: sou "Vosso servo" e "filho da Vossa serva" (v. 16). Sem dúvida, a expressão pode pertencer à linguagem do cerimonial de corte, mas também era usada para indicar o servo adoptado como filho do chefe de uma família ou de uma tribo. Sob esta luz, o Salmista, que se define também "fiel" do Senhor (cf. v. 2), sente que está ligado a Deus por um vínculo não só de obediência, mas também de familiaridade e de comunhão. Por isso a sua súplica está impregnada de confiante abandono e de esperança.

Seguimos agora esta oração que a Liturgia das Laudes nos propõe no início de um dia que, presumivelmente, apresentará não só compromissos e fadigas, mas também incompreensões e dificuldades.

2. O Salmo começa com um apelo intenso, que o orante dirige ao Senhor confiando no seu amor (cf. vv. 1-7). No final, ele exprime de novo a certeza de que o Senhor é um "Deus piedoso e compassivo, paciente, grande na bondade e na fidelidade" (v. 15; cf. Êx Ex 34,6). Estas afirmações reiteradas e convictas de confiança revelam uma fé intacta e pura, que se abandona ao "Senhor bom... cheio de misericórdia para todos os que Vos invocam" (Ps 85,5).

No centro do Salmo eleva-se um hino, que alterna sentimentos de agradecimento com uma profissão de fé nas obras de salvação que Deus realiza para os povos (cf. vv. 8-13).

3. Contra qualquer tentação idolátrica, o orante proclama a unicidade absoluta de Deus (cf. v. 8). Depois é expressa a esperança audaciosa que um dia "todos os povos" adorarão o Deus de Israel (v. 9). Esta perspectiva maravilhosa encontra o seu cumprimento na Igreja de Cristo, porque ele convidou os seus apóstolos a ensinar "todas as nações" (Mt 28,19). Ninguém pode oferecer uma libertação total, a não ser o Senhor do qual todos dependem como criaturas e ao qual nos devemos dirigir em atitude de adoração (cf. Sl Ps 85,9). De facto, ele manifesta no cosmos e na história as suas obras admiráveis, que testemunham a sua senhoria absoluta (cf. v. 10).

A este ponto o Salmista recorta um espaço para se apresentar diante de Deus com uma pergunta intensa e pura: Ensinai-me, Senhor, o Vosso caminho e caminharei na verdade, dirigi o meu coração para que tema o Vosso nome" (v. 11). É bonito este pedido para poder conhecer a vontade de Deus, e esta invocação para poder obter o dom de "um coração simples", semelhante ao de uma criança, que sem segundas intenções nem cálculos se confia plenamente ao Pai para se encaminhar pelas veredas da vida.

4. Surge então nos lábios do fiel o louvor ao Deus misericordioso, que não o deixa precipitar no desespero e na morte, nem no mal nem no pecado (cf. vv. 12-13; Ps 15,10-11).

O Salmo 85 é um texto querido ao judaísmo, que o inseriu na liturgia de uma das solenidades mais importantes, o Yôm Kippur ou dia da expiação. O livro do Apocalipse, por sua vez, tirou dele um versículo (cf. v. 9), colocando-o na gloriosa liturgia celeste dentro do "cântico de Moisés, servo de Deus, e do cântico do Cordeiro": "Todas as nações virão prostrar-se diante de Ti", e o Apocalipse acrescenta: "pois os teus juízos foram manifestados" (Ap 15,4).

Santo Agostinho dedicou ao nosso Salmo um longo e apaixonado comentário num cântico a Cristo e ao cristianismo. A tradução latina, no v. 2, conforme com a versão grega do Livro dos Setenta, em vez de "fiel" usa a versão "santo": "Guarda-me porque sou santo". Na realidade, só Cristo é santo. Todavia, raciocina Santo Agostinho, também o cristão pode aplicar a si estas palavras: "Sou santo, porque tu me santificaste; porque o recebi [este título], e não porque o tinha eu mesmo; porque tu mo concedeste, não porque eu o mereci". Por conseguinte, "digam também todos os cristãos, ou melhor, diga-o todo o corpo de Cristo, grite-o em toda a parte, enquanto sofre as tribulações, as várias tentações, os numerosos escândalos: "Guarda a minha alma, porque sou santo! Salva o teu servo, meu Deus, que espera em ti". Eis que este santo não é soberbo, porque confia no Senhor" (vol. II, Roma 1970, pág. 1251).

5. O cristão santo abre-se à universalidade da Igreja e reza com o Salmista: "Todas as nações que criaste virão colocar-se perante Vós, ó Senhor" (Ps 85,9). E Agostinho comenta: "Todas as nações no único Senhor são um só povo e constituem a unidade. Assim como existe a Igreja e as igrejas, e as igrejas são a Igreja, assim aquele "povo" é o mesmo que os povos. Inicialmente, eram vários povos, numerosas nações; agora é um só povo. Por quê um só povo? Porque há uma só fé, uma só esperança, uma só caridade, e uma única expectativa. Por fim, porque não deveria ser um só povo, se a pátria é uma só? A pátria é o céu, a pátria é Jerusalém. E este povo está espalhado do oriente até ao ocidente, do norte até ao mar, nas quatro partes do mundo inteiro" (ibid., pág. 1269).

Sob esta luz universal a nossa oração litúrgica transforma-se num suspiro de louvor e num cântico de glória ao Senhor em nome de todas as criaturas.

Saudações

Caríssimos Irmãos e Irmãs de língua portuguesa!

Saúdo cordialmente quantos participam nesta Audiência. A todos desejo felicidades, com os favores de abundantes graças celestes. Em particular, saúdo os visitantes de Portugal e um grupo de brasileiros do Ceará. Sede bem-vindos! E que desta visita a Roma, leveis avivada a consciência de serdes Igreja missionária nas vossas comunidades e famílias, para levar a todos a mensagem de salvação de Cristo, Redentor dos homens. Deus vos abençoe!

É com afecto que saúdo os peregrinos de língua espanhola. Em especial os Sacerdotes de Valença, que celebram as suas Bodas de Ouro, os Religiosos Mercedários e a Federação Espanhola de Comunidades de Regadores. Saúdo também os membros da Universidade de Conceição, de Entre Rios. A todos agradeço a vossa presença e atenção.

Dou as minhas cordiais boas-vindas aos membros da Família Salesiana de Dom Bosco.
Neste ano, que desejei dedicar ao Santo Rosário, exorto todos os fiéis a voltarem a descobrir a comunhão com a Virgem Maria, por meio desta nobre oração.

Com estes bons votos, é de bom grado que vos concedo a Bênção apostólica a todos.
Louvado seja Jesus Cristo!

Faço extensiva a minha saudação aos peregrinos de Gibraltar, acompanhados do seu Bispo, e aos membros do Coro da Catedral da Cidade de Ho Chi Minh, no Vietname. Sobre os visitantes de língua inglesa, presentes na Audiência do dia de hoje, em particular os da Inglaterra, País de Gales, Irlanda, Gibraltar, Vietname, Canadá e Estados Unidos da América, invoco a graça e a paz em nosso Senhor Jesus Cristo.

Acolho cordialmente os peregrinos francófonos, em particular o Seminário Maior da Diocese de Aix e de Arles, acompanhados pelo seu Bispo, D. Claude Feidt. Saúdo igualmente o grupo de estudantes de Bourbourg, o Liceu de Nossa Senhora da Compaixão, de Pontoise, assim como a Comunidade do "Verbo de Vida". Cristo vos acompanhe em cada dia, para responderdes com generosidade aos seus apelos e para serdes as pedras vivas da sua Igreja!

Saúdo com cordialidade os peregrinos da Eslováquia, vindos de Kanianka, Komárno, Kosice, Valaliky e Kendice, assim como os membros do corpo docente da Universidade de Komensky, em Bratislava.

Caros Irmãos e Irmãs, durante estes dias somos convidados a reflectir mais sobre o compromisso missionário da Igreja e de cada um dos seus membros. Também vós sois chamados a evangelizar nos vários ambientes em que viveis.
Louvado seja Jesus Cristo!

Agora, dirijo as cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os jovens do período pós-crisma, oriundos da Diocese de Faenza-Modigliana, acompanhados dos seus pais e educadores, aqui congregados com o seu Bispo, D. Ítalo Castellani. Além disso, saúdo os enfermos, os portadores de deficiência e os idosos provenientes de Caiazzo, acompanhados dos voluntários da Cáritas e chefiados pelo seu Pastor, D. Pietro Farina.

No fim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais. Hoje, a Liturgia recorda-nos o sacerdote franciscano, São João de Capistrano, que lutou com grande empenhamento pela salvação das almas. O seu glorioso testemunho evangélico vos ajude a vós, queridos jovens, no compromisso de fidelidade diária a Cristo; vos encoraje a vós, dilectos doentes, a seguir sempre Jesus no caminho da provação e do sofrimento; e vos ajude a vós, estimados novos casais, a fazer da vossa família um lugar de encontro vivo com o amor de Deus e dos irmãos.




AUDIÊNCIAS 2002 - AUDIÊNCIA