Discursos João Paulo II 2002 - Sófia 24 de Maio de 2002

VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA


DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


DURANTE O ENCONTRO COM OS MONGES


DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE RILA


Rila, 25 de Maio de 2002




Veneráveis Metropolitas e Bispos
Amadíssimos Monges e Monjas
da Bulgária
e todas as Santas Igrejas ortodoxas

1. A paz esteja convosco! Saúdo-vos a todos com afecto no Senhor. Em particular, saúdo o Superior deste Mosteiro, o Bispo D. Joan que, como Observador enviado por Sua Santidade o Patriarca Cirilo, participou comigo nas sessões do Concílio Ecuménico Vaticano II.

Desejei inserir no itinerário da minha visita à Bulgária a peregrinação a Rila, a fim de venerar as relíquias do santo monge João e de poder testemunhar a todos vós o meu reconhecimento e afecto: "Damos sempre graças a Deus por todos vós, lembrando-nos sem cessar de vós nas nossas orações, recordando a actividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a constância da esperança que tendes em Nosso Senhor Jesus Cristo" (1Th 1,2-3).

Sim, queridos Irmãos e Irmãs, o monaquismo oriental, juntamente com o ocidental, constitui um grande dom para toda a Igreja.

2. Realcei várias vezes o precioso contributo que dais à Comunidade eclesial mediante o exemplo da vossa vida. Na Carta apostólica Orientale lumen escrevi que queria "olhar para o vasto panorama do cristianismo do Oriente" como "de uma altitude particular", isto é, a do monaquismo, "que permite distinguir muitos dos seus traços" (n. 9). Com efeito, estou convencido de que a experiência monástica constitui o centro da vida cristã, de forma a poder propôr-se como ponto de referência para todos os baptizados.

Um grande monge e místico ocidental, Guilherme de Saint-Thierry, chama à vossa experiência, que alimentou e enriqueceu a vida monástica do Ocidente católico, "luz que vem do Oriente" (cf. Epistula ad fratres de Monte Dei I, Sources chrétiennes 223, pág. 145). Com ele, numerosos outros homens espirituais do Ocidente renderam elogiosas homenagens à riqueza da espiritualidade monástica oriental. Sinto-me feliz por unir hoje a minha voz a este coro de apreço, reconhecendo a validade do caminho de santificação delineado nos escritos e na vida de tantos dos vossos monges, que ofereceram exemplos eloquentes de seguimento radical do Senhor Jesus Cristo.

3. A vida monástica, em virtude da tradição ininterrupta de santidade sobre a qual se baseia, conserva com amor e fidelidade alguns elementos da vida cristã, que são importantes também para o homem de hoje: o monge é memória evangélica para os cristãos e para o mundo.

Como ensina São Basílio Magno, (cf. Regulae fusius tractatae VIII, , pp. 933-941), a vida cristã é antes de mais apotaghé, "renúncia": ao pecado, às coisas do mundo, aos ídolos, para aderir ao único e verdadeiro Deus e Senhor, Jesus Cristo (cf. 1Th 1,9-10). No monaquismo esta renúncia torna-se radical: renúncia à casa, à família, à profissão (cf. Lc Lc 18,28-29); e depois, renúncia aos bens terrenos na busca incessante dos eternos (cf. Cl Col 3,1-2); renúncia à philautía, como a chama São Máximo, o Confessor (cf. Capita de caritate II, 8; III, 8; III, 57 e passim, , pp. 960-1080), ou seja, ao amor egoísta, para conhecer o amor infinito de Deus e nos tornarmos capazes de amar os irmãos. A ascese do monge é antes de mais um caminho de renúncia a fim de poder aderir cada vez mais ao Senhor Jesus e ser transfigurado pelas energias do Espírito Santo.

O beato João de Rila que eu quis que fosse representado com outros santos orientais e ocidentais no mosaico da Capela Redemptoris Mater no Palácio Apostólico do Vaticano e do qual este Mosteiro é testemunho duradouro tendo ouvido as palavras de Jesus, que lhe dizia para renunciar a todos os seus bens e que os distribuísse aos pobres (cf. Mc 10,21), abandonou tudo pela pérola preciosa do Evangelho, e pôs-se na escola de santos ascetas para aprender a arte da luta espiritual.

4. A "luta espiritual" é outro elemento da vida monástica, que hoje é necessário aprender e propor de novo a todos os cristãos. Trata-se de uma arte secreta e interior, um combate invisível que o monge empreende todos os dias contra as tentações, as sugestões malignas, que o demónio procura incutir no seu coração; é uma luta que se torna crucifixão na arena da solidão com vista à purificação do coração que permite ver a Deus (cf. Mt Mt 5,8) e da caridade que faz participar na vida de Deus que é amor (cf. 1Jn 4,16).

Na existência dos cristãos, hoje mais do que nunca, os ídolos seduzem, as tentações são prementes: a arte da luta espiritual, o discernimento dos espíritos, a manifestação dos próprios pensamentos ao mestre espiritual, a invocação do santo Nome de Jesus e da sua misericórdia devem voltar a fazer parte da vida interior do discípulo do Senhor. Esta luta é necessária para não estarmos "distraídos", aperíspastoi, nem "preocupados", amérimnoi (cf. 1Co 7,32 1Co 7,35) e viver em constante recolhimento no Senhor (cf. São Basílio Magno, Regulae fusius tractatae VIII, 3; XXXII, 1; XXXVIII).

5. Com a luta espiritual, o beato João de Rila viveu também a "submissão" na obediência e no serviço recíproco exigidos pela vida em comum. O cenóbio é o lugar da realização quotidiana do "mandamento novo", é a casa e a escola da comunhão, é o espaço em que nos tornamos servos dos irmãos como Jesus, que quis ser servo entre os seus (cf. Lc Lc 22,27). Que grande testemunho cristão oferece uma comunidade monástica quando vive na caridade autêntica! Perante ela, também os não-cristãos são levados a reconhecer que o Senhor está sempre vivo e operante entre o seu povo.

O beato João conheceu, depois, a vida eremítica na "contrição" e no arrependimento, mas sobretudo na escuta ininterrupta da Palavra e na oração incessante, até se tornar como diz São Nilo um "teólogo" (cf. De oratione LX, B), isto é, um homem dotado de uma sabedoria que não é deste mundo, mas que provém do Espírito Santo. O testamento, que João escreveu por amor dos seus discípulos desejosos de ter uma sua última palavra, é um ensinamento extraordinário sobre a investigação e sobre a experiência de Deus para todos os que desejam levar uma autêntica vida cristã e monástica.

6. O monge, em obediência ao chamamento do Senhor, empreende o itinerário que, partindo da renúncia em relação a si próprio, alcança a caridade perfeita, em virtude da qual ele tem os mesmos sentimentos de Cristo (cf. Fl Ph 2,5): torna-se manso e humilde de coração (cf. Mt Mt 11,29), participa do amor de Deus por todas as criaturas e ama como diz Isac, o Sírio os próprios inimigos da verdade (cf. Sermões ascéticos, Collatio prima, LXXXI).

Posto em condições de ver o mundo com os olhos de Deus, e cada vez mais assimilado a Cristo, o monge tende para o fim último para o qual o homem foi criado: a divinização, ser participante da vida trinitária. Isto só é possível mediante a graça concedida àquele que, através da oração, das lágrimas de contrição e da caridade, se dispõe para receber o Espírito Santo, como recorda outro grande monge destas amadas terras eslavas, Serafim de Sarov (cf. Colóquio com Motovilov III, em Pe. Evdokimov, Serafim de Sarov, homem do Espírito, Bose 1996, PP 67-81).

7. Quantas testemunhas do caminho de santidade brilharam neste Mosteiro de Rila durante a sua história plurissecular e em muitos outros Mosteiros ortodoxos! Como é grande a dívida de gratidão da Igreja universal para com todos os ascetas que souberam recordar o "único necessário" (cf. Lc Lc 10,42), o destino último do homem!

Nós admiramos com gratidão a preciosa tradição que os monges cristãos vivem fielmente e que continuam a transmitir, de geração em geração, como sinal autêntico da éschaton, daquele futuro para o qual Deus continua a chamar cada homem através da força íntima do Espírito. Eles são sinal através da sua adoração da Santíssima Trindade na liturgia, através da comunhão vivida no ágape, através da esperança que na sua intercessão alcança todos os homens e todas as criaturas, até à entrada do inferno, como recorda São Silvano do Monte Atos (cf. Ieromonach Sofronij, Starec Siluan, Atavropegic, Mosteiro de São João Baptista, Tolleshunt Knights by Maldon 1952 [1990], PP 91-93).

8. Caríssimos Irmãos e Irmãs, todas as Igrejas ortodoxas sabem como os Mosteiros são um património inestimável da sua fé e da sua cultura. Que seria a Bulgária sem o Mosteiro de Rila, que nos tempos mais obscuros da história nacional manteve acesa a chama da fé? Que seria da Grécia sem o Santo Monte Atos? Ou da Rússia sem aquela miríade de casas do Espírito Santo que lhe permitiram superar o inferno das perseguições soviéticas? Pois bem, o Bispo de Roma está hoje aqui para vos dizer que também a Igreja latina e os Monges do Ocidente vos estão reconhecidos pela vossa existência e pelo vosso testemunho!

Amadíssimos Monges e Monjas, Deus vos abençoe! Ele vos confirme na fé e na vocação e vos torne instrumentos de comunhão na sua santa Igreja e testemunhas do seu amor no mundo.



VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA


SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II AO BISPO,


SACERDOTES, RELIGIOSOS


E FIÉIS DE RITO LATINO


Sófia, 25 de Maio de 2002

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. "O Deus da paz... vos torne aptos para todo o bem, a fim de que façais a Sua vontade, realizando Ele em nós o que é agradável aos Seus olhos, por Jesus Cristo, ao qual seja dada glória pelos séculos dos séculos. Amen" (He 13,20-21).

Com estes votos, tirados da Carta aos Hebreus, saúdo-vos com afecto, nesta vossa co-Catedral dedicada a São José, Esposo da Virgem Maria e Padroeiro da Igreja universal.

O meu pensamento dirige-se em primeiro lugar para D. Gheorghi Jovcev, para os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, e daqui desejo fazer a minha saudação extensiva a todos os fiéis católicos de rito latino, espalhados nas diversas regiões da Bulgária, sobretudo às crianças, aos doentes e aos idosos.

2. Foi com prazer que tomei conhecimento de que em breve começarão os trabalhos para construção da nova Catedral, pouco distante daqui, no mesmo lugar onde surgia a antiga igreja destruída pela guerra. Desejo, na oração, que as diversas pedras que são necessárias para a construção sejam imagem das "pedras vivas" que cada um de vós está chamado a ser, em virtude do Baptismo, "na construção de um edifício espiritual, por meio de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo" (1P 2,5).

A intercessão e o exemplo do Beato João XXIII, cuja figura paterna vos acolhe na entrada desta igreja, vos acompanhem e amparem no caminho da vida.

Com a minha Bênção apostólica.



VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA


DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


DURANTE A VISITA À CATEDRAL CATÓLICA


DE RITO BIZANTINO-ESLAVO


Sófia, 25 de Maio de 2002


Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. "A paz esteja convosco! Louvai a Deus por toda a eternidade" (Tb 12,17). Sinto-me feliz por me encontrar com todos vós nesta Catedral dedicada à Dormição da Bem-Aventurada Virgem Maria. Saúdo com afecto o vosso Exarca Apostólico, D. Christo Proykov, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu. Abraço fraternalmente o Exarca Eméritio, D. Metodi Stratiev, que viveu a perseguição e a prisão juntamente com os três sacerdotes assuncionistas que amanhã em Plovdiv proclamarei Beatos, e dirijo a minha saudação cordial a todos os sacerdotes do Exarcado e aos fiéis confiados aos seus cuidados pastorais aqui representados.

Saúdo com particular afecto as Monjas Carmelitanas e as Religiosas da Sagrada Eucaristia, recordando especialmente aquelas de vós vivas na terra ou vivas no céu que viveram durante o período do domínio comunista a longa prisão no coro da igreja de São Francisco, mantendo vivo o ideal da sua consagração e apoiando com a oração e com a penitência a fidelidade dos cristãos ao seu Senhor.

Juntamente convosco, recordo com admiração e gratidão a figura e a obra do Delegado Apostólico, D. Angelo Giuseppe Roncalli, o Beato Papa João XXIII, que rezou nesta Catedral e muito se prodigalizou pela vida da Igreja católica de rito bizantino-eslavo na Bulgária. A sua relíquia, que vos trouxe de Roma, seja conservada na igreja que está a ser erigida e à qual quisestes dar o seu nome.

A mesma fé corajosa daqueles que vos precederam nesta Igreja católica que está na Bulgária, exorta-vos a renovar hoje de maneira viva o vosso testemunho a Cristo Senhor. Confortado pelo mandato conferido a Pedro por Jesus Cristo, também eu desejo apoiar-vos e confirmar-vos neste vosso empenho. O Senhor vos assista e vos ajude no propósito generoso de vida cristã e, pela intercessão da sua Santíssima Mãe, venerada com o título de Padroeira da Unidade dos Cristãos no Santuário da Santíssima Trindade na localidade de Malko Tyrnovo, vos conceda a abundância das suas bênçãos.



MENSAGEM DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA INTERNACIONAL


DOS JOVENS FOCOLARES DO "GEN 3"


Caríssimos Jovens e
Queridas Jovens do "GEN 3"

1. Saúdo-vos com alegria e afecto, por ocasião da vossa "superassembleia" que, em encontros quinquenais, reúne milhares de jovens de numerosos países do mundo, à volta de um grande ideal: o ideal da unidade. Com efeito, vós chamais-vos a vós mesmos "Jovens pela unidade".

A minha saudação dirige-se a cada um pessoalmente, e gostaria que esta minha mensagem chegasse à mente e ao coração de cada um de vós. Agradeço ao Cardeal Francis Arinze, que se faz portador da mesma, acrescentando-lhe o seu precioso testemunho de Pastor da Igreja, que desde há muitos anos colabora comigo para o diálogo com as religiões não cristãs. Depois, dirijo uma saudação cordial à dilecta Chiara Lubich, Fundadora e Presidente do Movimento dos Focolares, assim como aos Sacerdotes e aos Animadores que vos acompanham.

Estimados jovens amigos, desejastes muito envolver o Papa neste acontecimento, que vos está deveras a peito. Porém, como bem sabeis, durante a vossa Assembleia estarei longe de Roma: encontrar-me-ei em Visita Pastoral ao Azerbaijão e à Bulgária. Isto torna impossível o meu encontro convosco, embora não me impeça de estar espiritualmente perto de vós! E estou persuadido de que também vós, com a vossa oração e o vosso afecto, me acompanhareis e me sustentareis na minha Viagem Apostólica.

2. Vós, "Jovens pela unidade", compreendeis bem por que, de vez em quando, deixo a minha Sede para visitar Igrejas e Nações distantes. Isto faz parte do meu serviço de Sucessor do Apóstolo Pedro, que Cristo encarregou de conservar e promover a unidade de todo o Povo de Deus. Todos os Bispos estão ao serviço da unidade, mas o Bispo de Roma serve-a com uma sua responsabilidade mais vigorosa, e que lhe é própria. Desta forma, todos os jovens cristãos são "pela unidade"; mas vós, que aderis ao Movimento dos Focolares, o sois de maneira especial!

Caríssimos, é o mesmo Espírito que nos impele, e o mesmo Espírito que nos une. É o Espírito Santo de Deus que, de modo misterioso, conduz a Igreja para uma comunhão cada vez mais profunda com Deus. E fá-lo não como um Absoluto, que tudo sujeita e domina, mas como Amor, que tudo dá, vivifica e santifica.

3. De quem é que nos provém esta maravilhosa "teo-logia", ou seja, esta doutrina sobre Deus? Ela advém-nos de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus que se fez homem e nasceu da Virgem Maria. Jesus é o revelador do Pai, a imagem do mistério invisível, o "rosto" de Deus num homem como nós, a "testemunha" fiel do seu amor. Foi por isso que Ele veio à terra, que se dedicou à pregação do Reino dos Céus e que o inaugurou com sinais e prodígios, curando aqueles que eram prisioneiros do mal (cf. Act Ac 10,38). Por isso, entregou-se voluntariamente à morte deixando-nos, na Ceia pascal, o testamento do seu Sacrifício. Foi também por este motivo que o Pai o ressuscitou dos mortos e o elevou à sua direita, constituindo-o como Senhor do mundo e da história. Em nome de Jesus, a salvação é oferecida e anunciada aos homens de todas as línguas, povos e nações.

Sim, Jesus é o Salvador do mundo inteiro. Ele é o Príncipe da paz. Aliás, como afirma o Apóstolo Paulo, "Ele [Cristo] é a nossa paz" (Ep 2,14), porque abateu o muro da inimizade, que separa os homens e os povos entre si. Jesus é a nossa esperança, a esperança para a humanidade inteira que, em cada uma das gerações, é chamada a construir a paz na justiça, na verdade e na liberdade.

4. Amados Jovens e dilectas Jovens, Cristo chama-vos para ser os anunciadores e as testemunhas desta verdade maravilhosa. Chama-vos a ser os apóstolos da sua paz. Edificai a paz em todas as situações em que vos encontrais a viver, quotidianamente: na família, na escola, no meio dos amigos, nos desportos e também no tempo livre... Estai sempre prontos para a escuta, o diálogo e a compreensão. Sabei unir a coragem e a mansidão, a humildade e a tenacidade no bem. Aprendei do Mestre divino, que a verdade não se defende com a violência, mas com a força da própria verdade. Na escola do Evangelho, tende sempre unidos a justiça e o perdão, porque a paz verdadeira é fruto de ambos. Animados pelo Espírito de Jesus, amai as pessoas que não vos amam e desejai o bem a quem não vos quer bem, a fim de que cresça no mundo o Reino de Deus, que "é justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17). Caríssimos, deste modo sereis verdadeiramente construtores de unidade e de paz.

5. Dilectos Jovens e estimadas Jovens, sede apóstolos da paz! Gostaria de vos repetir a vós as palavras que pronunciei em Assis, no dia 24 do passado mês de Janeiro, por ocasião do Dia de Oração pela Paz: "Jovens do terceiro milénio, jovens cristãos, juventude de todas as religiões, peço-vos que sejais, como Francisco de Assis, "sentinelas" dóceis e corajosas da paz autêntica, assente na justiça e no perdão, na verdade e na misericórdia!" (Discurso em Assis, 24.1.2002, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 26 de Janeiro de 2002, pág. 5, n. 7).

"Caminhai rumo ao futuro, conservando alta a chama da paz. O mundo tem necessidade da sua luz!" (Ibidem). Estes são os bons votos que o Papa vos formula, porque é isto que Jesus vos deseja. Não tenhais medo de vos dardes a vós mesmos totalmente ao Senhor!

Nisto vos ajude Maria Santíssima, que ama cada um dos discípulos de Jesus como se fosse seu próprio filho. Queridos Jovens, amai-a como vossa Mãe e deixai-vos orientar sempre por Ela, ao longo do caminho da vida. É de bom grado que vos acompanho a vós, com grande afecto, e que vos concedo uma especial Bênção.


Vaticano, 18 de Maio de 2002.



VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II

DURANTE O ENCONTRO COM


OS JOVENS EM PLOVDIV


Domingo, 26 de Maio de 2002



Queridos jovens amigos

1. É com particular alegria que me encontro convosco esta tarde. Saúdo-vos a todos com afecto, ao agradecer a quantos, em vosso nome, me acabaram de dirigir cordiais palavras de boas-vindas. No final da minha estadia no País das rosas, este nosso encontro precisamente pelo vigor dos vossos anos e pela vivacidade do vosso acolhimento é um anúncio de primavera que nos abre para o futuro. A beleza da comunhão, que nos une na caridade de Cristo (cf. Act Ac 2,42), estimula a todos a fazer-se ao largo com confiança (cf. Lc Lc 5,4), renovando o empenho de corresponder, dia após dia, aos dons e às tarefas recebidas do Senhor.

Desde o início da minha missão como Sucessor de Pedro olhei para vós, jovens, com atenção e afecto, porque estou convencido de que a juventude não é simplesmente um tempo de passagem entre a adolescência e a idade adulta, mas uma fase da vida que Deus concede como dom e como tarefa a cada pessoa. Um tempo durante o qual se deve procurar, como o jovem do Evangelho (cf. Mt Mt 16,20), a resposta às perguntas fundamentais e descobrir não só o sentido da existência, mas também um projecto concreto para a construir. Das escolhas que vós, caríssimos jovens e moças, fareis durante estes anos dependerá o vosso futuro pessoal, profissional e social: a juventude é o tempo no qual se lançam as bases; uma ocasião que não se deve perder, porque não volta!

2. Neste momento particular da vossa vida, o Papa sente-se feliz por estar ao vosso lado para ouvir com respeito as vossas ansiedades e solicitudes, as vossas expectativas e esperanças. Ele está aqui convosco para vos comunicar a certeza que é Cristo, a verdade que é Cristo, o amor que é Cristo. A Igreja olha para vós com grande atenção, porque entrevê em vós o seu futuro e em vós tem a sua esperança.

Suponho que vos interrogais sobre o que o Papa vos deseja dizer esta tarde, antes de partir. Pois bem: desejaria confiar-vos duas mensagens, duas "palavras" pronunciadas por Aquele que é a própria Palavra do Pai, com os votos de que as saibais conservar, como se fossem um tesouro, durante toda a vossa existência (cf. Mt Mt 6,21).

A primeira palavra é aquele "vinde ver", dito por Jesus aos dois discípulos que lhe perguntaram onde morava (cf. Jo Jn 1,38-39). É um convite que ampara e motiva, há séculos, o caminho da Igreja. Repito-o hoje a vós, queridos amigos. Aproximai-vos de Jesus e procurai "ver" tudo o que Ele vos pode oferecer. Não tenhais medo de entrar na Sua casa, de falar com Ele face a face, como se faz com um amigo (cf. Êx Ex 33,11). Não tenhais medo da "vida nova" que Ele vos oferece. Nas vossas paróquias, nos vossos grupos e movimentos, ponde-vos na escola do Mestre para fazer da vossa vida uma resposta à "vocação" que Ele desde sempre, com pensamentos de amor, projectou para vós.

É verdade: Jesus é um amigo exigente, que indica metas nobres e pede para se despojar de si próprio para ir ao Seu encontro: "Quem perder a sua vida por Mim e pelo Evangelho, salvá-la-á" (Mc 8,35). Esta proposta pode parecer difícil e nalguns casos até pode amedrontar. Mas pergunto-vos é melhor resignar-se a uma vida sem ideais, a uma sociedade marcada por desigualdades, prepotências e egoísmos, ou ao contrário, procurar generosamente a verdade, o bem, a justiça, trabalhando por um mundo que reflicta a beleza de Deus, mesmo à custa de ter que enfrentar as provações que isto traz consigo?

3. Abatei as barreiras da superficialidade e do receio! Dialogai com Jesus na oração e na escuta da sua Palavra. Apreciai a alegria da reconciliação no sacramento da Penitência. Recebei o seu Corpo e o seu Sangue na Eucaristia, a fim de O saber receber e servir nos irmãos. Não cedais às tentações e às ilusões fáceis do mundo, que muito depressa se transformam em trágicas desilusões.

É nos momentos difíceis, nos momentos das provas e vós sabei-lo que se mede a qualidade das escolhas. Não existem atalhos para a felicidade e para a luz! Só Jesus nos pode dar respostas que não iludem nem desiludem!

Por conseguinte, caminhai com o sentido do dever e do sacrifício pelos caminhos da conversão, do amadurecimento interior, do compromisso profissional, do voluntariado, do diálogo, do respeito por todos, sem desanimardes perante as dificuldades ou os insucessos, bem conscientes de que a vossa força é o Senhor, que orienta com amor os vossos passos (cf. Ne Ne 8,10).

4. A segunda palavra que vos quero dizer esta tarde é a mesma que dirigi aos jovens do mundo inteiro, que se preparam para celebrar daqui a dois meses o seu Dia Mundial em Toronto, no Canadá: "Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo" (cf. Mt Mt 5,13-14).

Na Escritura o sal é o símbolo da aliança entre o homem e Deus (cf. Lv Lv 2,13). Ao receber o Baptismo, o cristão torna-se participante deste pacto que dura para sempre. Depois, o sal é sinal de hospitalidade: "Tende sal em vós mesmos diz Jesus e vivei em paz uns com os outros" (Mc 9,50). Ser o sal da terra significa ser operadores de paz e testemunhas de amor. Além disso, o sal serve para conservar os alimentos, aos quais dá sabor, e torna-se símbolo de perseverança e de imortalidade: ser sal da terra significa ser portador de uma promessa de eternidade. E ainda mais: reconhece-se ao sal o poder de curar (cf. Rs 2, 20-22), que serve de imagem à purificação interior e à conversão do coração. O próprio Jesus recorda o sal do sofrimento purificador e redentor (cf. Mc Mc 9,49): o cristão é na terra testemunha da salvação obtida mediante a Cruz.

5. Igualmente rico é o simbolismo da luz: a lâmpada ilumina, aquece, dá alegria. "A vossa palavra é qual farol para os meus passos, e uma luz para os meus caminhos", afirma na oração a fé da Igreja (Ps 119,105). Jesus, Palavra do Pai, é a luz interior que afugenta as trevas do pecado; é o fogo que afasta qualquer indiferença, é a chama que dá alegria à existência; é o esplendor da verdade que, ao brilhar diante de nós, nos precede no caminho. Quem o segue, não caminha nas trevas, mas possui a luz da vida. Desta forma, o discípulo de Jesus deve ser discípulo da luz (cf. Jo Jn 8,12 Jn 3,20-21).

"Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!". Jamais foram ditas ao homem palavras ao mesmo tempo tão simples e tão grandes! Sem dúvida, só Cristo pode ser definido plenamente sal da terra e luz do mundo, porque só Ele pode dar sabor, vigor e perenidade à nossa vida que, sem Ele, seria sem sabor, frágil e perecível. Só Ele é capaz de nos iluminar, de nos aquecer e de nos alegrar.

Mas é Ele quem, desejando fazer-vos participantes da sua própria missão, vos dirige hoje sem meios termos estas palavras de fogo: "Vós sois o sal da terra! Vós sois a luz do mundo!". No mistério da Encarnação e da Redenção, Cristo une-se a cada cristão e coloca a luz da Vida e o sal da Sabedoria no mais profundo do seu coração, transmitindo a quem o recebe o poder de se tornar filho de Deus (cf. Jo Jn 1,12) e o dever de testemunhar esta presença íntima e esta luz escondida.

Por conseguinte, aceitai com coragem humilde a proposta que Deus vos faz. Na sua omnipotência e ternura, Ele chama-vos a ser santos. Seria de estultos gloriar-se de uma semelhante chamada, mas seria irresponsabilidade rejeitá-la. Equivaleria a assinar a própria falência existencial. Léon Bloy, um escritor católico francês de Novecentos, escreveu: "Há apenas uma só tristeza, a de não ser santos" (La femme pauvre, II, 27).

6. Recordai-vos, jovens amigos: vós estais chamados a ser o sal da terra e a luz do mundo! Jesus não vos pede simplesmente que digais ou façais algo; Jesus pede-vos que sejais sal e luz! E não só durante um dia, mas durante toda a vida. É um compromisso que Ele vos renova todas as manhãs e em qualquer ambiente. Deveis ser sal e luz com as pessoas da vossa família e com os vossos amigos; deveis sê-lo com os outros jovens ortodoxos, judeus e muçulmanos com os quais estais todos os dias em contacto nos lugares de estudo, de trabalho e de divertimento. Também depende de vós a edificação de uma sociedade na qual todas as pessoas possam encontrar o próprio lugar e ver reconhecida e aceite a sua dignidade e a sua liberdade. Oferecei o vosso contributo para que a Bulgária seja cada vez mais uma terra de acolhimento, de prosperidade e de paz.

Cada um é responsável pelas próprias escolhas. Nada é descontado, e vós sabei-lo. O próprio Jesus supõe a eventual infidelidade: "Se o sal se corromper diz com que se há-de salgar?" (Mt 5,13). Nunca vos esqueçais, queridos jovens, de que quando a massa não leveda, a culpa não é da massa, mas do fermento. Quando uma casa fica às escuras, significa que a lâmpada se apagou. Por isso, "brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos Céus" (Mt 5,16).

7. Resplandecem diante de nós as figuras dos Beatos Mártires da Bulgária: o Bispo Eugénio Bossilkov, os Padres Assuncionistas Kamen Vitchev, Pavel Djidjov e Josaphat Chichkov. Eles souberam ser sal e luz em momentos particularmente duros e difíceis para este País. Eles não hesitaram em oferecer também a vida para manter a fidelidade ao Senhor que os havia chamado. O seu sangue ainda hoje fecunda a vossa terra, a sua dedicação e o seu heroísmo servem de exemplo e de estímulo para todos.

Confio-vos à sua intercessão, e recordo-vos ao Beato Papa João XXIII, que os conheceu pessoalmente e que tanto amou a Bulgária. Tenho a certeza de interpretar os sentimentos com que ele olhava para os jovens búlgaros do seu tempo dizendo-vos hoje: é no seguimento de Jesus que a vossa juventude revelará toda a riqueza das suas potencialidades e adquirirá plenitude de significado. É no seguimento de Jesus que descobrireis a beleza de uma vida vivida como dom gratuito, motivado unicamente pelo amor. É no seguimento de Jesus que experimentareis desde já um pouco daquela alegria que será vossa sem fim na eternidade.

A todos vos aperto num abraço e abençoo-vos com afecto!


Posso dizer algo em polaco? Porque é que o encontro com os jovens búlgaros se realiza no final? Porque penso que os jovens orientam o seu olhar para mais longe, para o futuro. Não sei se me será concedido um dia voltar à Bulgária. É bom poder encontrar-me com os jovens búlgaros no final da minha estadia. Os jovens dirigem o seu olhar para o futuro. Desejo de coração à Bulgária e a todos vós que este futuro vos pertença. O futuro é vosso. Desejo à vossa nação que este futuro seja o melhor possível. Deus abençoe a jovem Bulgária!



VIAGEM APOSTÓLICA AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA


DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


PRONUNCIADO DURANTE


A CERIMÓNIA DE DESPEDIDA


DA BULGÁRIA


Plovdiv, 26 de Maio de 2002

Ilustres Autoridades
Caros Irmãos no Episcopado
Irmãs e Irmãos no Senhor

1. Embora tenha sido de breve duração, a minha visita à amada terra da Bulgária encheu o meu coração de emoção e de alegria. O Papa teve a oportunidade de encontrar o Povo búlgaro, de admirar as suas virtudes e qualidades, de observar os seus grandes talentos e as suas generosas energias. Dou graças a Deus que me concedeu realizar esta peregrinação, precisamente nos dias em que se celebra a memória dos Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos povos eslavos.

Dirijo a expressão do meu reconhecimento a quantos contribuíram para tornar esta viagem agradável e útil. Em primeiro lugar, ao Senhor Presidente da República e às Autoridades do Governo que me convidaram, colaboraram de modo eficaz para a realização da visita e honraram os diversos encontros com a sua presença.

Além disso, dirijo um caloroso agradecimento a Sua Santidade o Patriarca Maxim, aos Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo, e a todos os fiéis da Igreja ortodoxa da Bulgária. Juntamente com os católicos, ao longo de anos ainda recentes, também os ortodoxos padeceram uma dura perseguição por causa da sua fidelidade ao Evangelho: que todo este sacrifício torne fecundo o testemunho dos cristãos neste País e, com a graça de Deus, apresse o dia em que poderemos alegrar-nos com a plena unidade reencontrada entre nós!

Dirijo uma saudação cordial inclusivamente aos fiéis do Islão e à comunidade judaica: a adoração do único Deus Altíssimo inspire em todos, propósitos de paz, de compreensão e de respeito mútuo no compromisso em prol da construção de uma sociedade justa e solidária.

2. Por fim, a minha palavra de despedida dirige-se, com particular carinho, para os queridos Irmãos no Episcopado e para todos os filhos da Igreja católica: vim à Bulgária para celebrar, juntamente convosco, os mistérios da nossa fé e reconhecer o sublime dom do martírio, com que os Beatos Eugénio Bossilkov, Kamen Vitchev, Pavel Djidjov e Josafat Chichkov confirmaram a sua fidelidade ao Senhor. O seu exemplo seja para todos vós um vigoroso encorajamento à generosa coerência na prática da vida cristã.

É à luz do seu testemunho glorioso que vos exorto: "Reconhecei Cristo como Senhor, estando sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vos perguntar" (1P 3,15). Deste modo, servireis eficazmente a causa do Evangelho e, assim, contribuireis com criatividade original para o verdadeiro progresso da Bulgária.

3. Depois, dirijo a última palavra a todo o Povo búlgaro, sem distinções. Uma palavra que retoma o discurso pronunciado pelo meu venerado Predecessor, o Papa João XXIII, Beato, no momento de deixar este País, no mês de Dezembro de 1934. Nessa ocaisão, ele fez referência a uma tradição irlandesa segundo a qual, na véspera do Natal, cada casa deve ter uma vela acesa à janela, para indicar a José e a Maria que ali há uma família que espera por eles à volta do fogo. À multidão que tinha vindo para o cumprimentar, Mons. Roncalli assim se expressou: "Se alguém da Bulgária passar perto da minha casa, durante a noite, no meio das dificuldades da vida, encontrará sempre à minha janela uma lâmpada acesa. Bata à porta! Bata! Não lhe será perguntado se é católico ou ortodoxo: irmão da Bulgária, bate à porta! Entra, dois braços fraternais e um caloroso coração de amigo vão acolher-te em festa!" (Homilia do Natal, 25 de Dezembro de 1934).

Estas palavras são repetidas hoje pelo Papa de Roma que, partindo do bonito País das rosas, conserva nos olhos e no coração as imagens dos seus encontros com todos vós.

Deus abençoe a Bulgária! Com a abundância da sua graça, faça sentir aos seus habitantes o meu afecto e o meu reconhecimento, concedendo à Nação dias de progresso, de prosperidade e de paz!




Discursos João Paulo II 2002 - Sófia 24 de Maio de 2002