Discursos João Paulo II 2002 - Sexta-feira, 16 de agosto de 2002


VIAGEM APOSTÓLICA À POLÓNIA

BÊNÇÃO APOSTÓLICA DA PONTIFÍCIA ACADEMIA TEOLÓGICA

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Pontifícia Academia Teológica, Cracóvia

Sábado 17 de agosto de 2002



Reitores Magníficos
Professores e Alunos
Senhores e Senhoras

Agradeço-vos esta paragem ao longo do caminho que vai de Lagiewniki para a rua Franciszkanska; estou-vos profundamente grato por isto.

Desejo dizer-vos que, em cada dia, rezo pelas vossas universidades, pela Universidade Jagelónica de Cracóvia, pela Universidade Católica de Lublim e inclusivamente pela Universidade "Angelicum" em Roma, por todos os Reitores, Professores e Alunos, pelos vivos e pelos defuntos.
Vivat Academia, vivant profesores, vivant membra quaelibet, vivat membrum quodlibet, semper sit in flore!

Para aqueles que compreendem o latim, estas palavras significam que a Academia e a Universidade Jagelónica de Cracóvia devem florescer sempre. Deus seja louvado por tudo aquilo que dela recebi, e Deus vos abençoe pelos anos vindouros, também nesta nova sede. Ele vos abençoe a todos!

Dirijo esta saudação e estes bons votos a todas as escolas superiores e a cada uma das universidades da Polónia inteira. Uma vez mais: Deus vos abençoe!



VIAGEM APOSTÓLICA À POLÓNIA

CERIMÓNIA DE DESPEDIDA

DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


Aeroporto internacional de Cracóvia/Balice

Segunda-feira 19 de agosto de 2002



1. "Polónia, minha querida Pátria [...] Deus eleva-te e trata-te de maneira especial, mas tu deves saber ser-lhe reconhecida" (Diário, 1038). É com estas palavras, tiradas do Diário de Santa Faustina, que desejo despedir-me de todos vós, queridos Irmãos e Irmãs, meus Compatriotas!
No momento em que devo regressar ao Vaticano, uma vez mais, é com grande alegria que dirijo o meu olhar para todos vós e agradeço a Deus, que me permitiu renovar a minha estadia na Pátria. Com o pensamento, volto a percorrer as etapas da peregrinação destes três dias: Lagiewniki, o Parque de Blonie em Cracóvia e Kalwaria Zebrzydowska. Conservo na memória a multidão orante de fiéis, testemunho da misericórdia de Deus. Ao despedir-me, quero saudar-vos a todos, meus caríssimos Compatriotas. Esperastes por mim tão numerosos. Muitos de vós quiseram encontrar-se comigo, mas nem todos conseguiram. Talvez na próxima ocasião...

Para as famílias polacas, formulo votos a fim de que encontrem na oração a luz e a força para cumprirem os seus deveres, semeando em todos os ambientes a mensagem do amor misericordioso. Deus, fonte da vida, vos abençoe a todos em cada dia. Saúdo aqueles que pude encontrar pessoalmente, durante a minha peregrinação, e as pessoas que quiseram participar nos encontros desta viagem apostólica, através dos meios de comunicação social. Estou grato, de maneira particular, aos enfermos e às pessoas idosas por terem apoiado a minha missão com a oração e com o sofrimento. Faço-lhes votos a todos, para que a união espiritual com Cristo misericordioso constitua para eles um manancial de alívio, tanto nos sofrimentos físicos como espirituais.

Com o olhar da alma, abraço toda a minha amada Pátria. Alegro-me com os seus bons êxitos, com as suas boas aspirações e com as suas iniciativas corajosas. Foi com inquietude que falei das dificuldades e do preço que se deve pagar pelas transformações que, dolorosamente, atingem as pessoas mais pobres e mais frágeis, os desempregados, os desabrigados e os indivíduos que são forçados a viver em condições cada vez mais difíceis e na incerteza em relação ao futuro.

No momento de partir, quero recomendar à Providência Divina estas situações precárias por que a nossa Pátria está a passar, e convidar os responsáveis pela gestão do Estado a ser sempre cuidadosos quando se trata de salvaguardar o bem da República e dos seus concidadãos. O espírito de misericórdia, de solidariedade fraternal, de concórdia e de autêntica atenção ao bem da Pátria reine sempre no meio de vós.

Faço votos a fim de que, cultivando todos estes valores a sociedade polaca, que desde há séculos pertence à Europa, encontre um lugar apropriado nas estruturas da Comunidade Europeia. E não só não perca a identidade que lhe é própria, mas também enriqueça a sua tradição, assim como a do Continente e do mundo inteiro.

2. Os dias desta minha breve peregrinação constituíram para mim uma ocasião para recordar e reflectir profundamente. Agradeço a Deus que me concedeu a possibilidade de visitar Cracóvia e Kalwaria Zebrzydowska. Estou-lhe grato pela Igreja que se encontra na Polónia que, com espírito de fidelidade à Cruz e ao Evangelho, desde há mil anos, compartilha o destino da Nação, servindo-a com zelo e apoiando-a nos seus bons propósitos e aspirações. Estou grato pelo facto de que a Igreja que peregrina na Polónia permanece fiel a esta missão e peço que seja sempre assim.

Desejo exprimir a minha gratidão àqueles que contribuíram para a feliz realização desta peregrinação. Nas mãos do Senhor Presidente da República Polaca deponho, uma vez mais, o agradecimento pelo convite e o cuidado com que quis preparar a minha visita. Estou grato ao Senhor Primeiro-Ministro pela colaboração entre as Autoridades civis e os Representantes da Igreja. Agradeço-lhes todos os gestos de boa vontade.

Além disso, transmito o meu agradecimento às Autoridades administrativas, regionais e municipais - sobretudo às de Cracóvia e de Kalwaria Zebrzydowska - pela benevolência, o cuidado e os esforços contínuos que realizaram. Deus recompense todos aqueles que se comprometeram nas várias tarefas litúrgicas e pastorais, os operadores nos campos da televisão, da rádio e da imprensa, os serviços de ordem pública - os militares, os agentes policiais, os bombeiros e os operadores que trabalham no campo da saúde - assim como aqueles que, de alguma maneira, contribuíram para a realização desta peregrinação. Não quero esquecer ninguém. Por conseguinte, a todos, uma vez mais, repito do íntimo do coração: Deus vos recompense!

3. É com particular gratidão que me volto para o Povo de Deus que está na Polónia. Agradeço à Conferência Episcopal Polaca e, em primeiro lugar, ao Cardeal Primaz, o convite que me quiseram transmitir, a preparação espiritual dos fiéis em geral e o esforço organizativo que a minha peregrinação acarretou. Dirijo palavras de especial agradecimento aos presbíteros, aos seminaristas e às religiosas. Obrigado pela preparação da Liturgia e pelo acompanhamento dos fiéis, durante os meus encontros. Obrigado a toda a Igreja que está na Polónia, pela perseverança conjunta na oração, pela calorosa hospitalidade e por todas as manifestações de benevolência para comigo. Cristo misericordioso recompense abundantemente a vossa generosidade com a sua Bênção.

Entre os agradecimentos que expresso, não posso deixar de dirigir uma saudação especial à amada Igreja que está em Cracóvia. Dirijo particulares e cordiais expressões de gratidão ao Senhor Cardeal Franciszek Macharski, Arcebispo Metropolitano de Cracóvia, pela sua hospitalidade e por ter preparado a Cidade de maneira tão magnífica, para as importantes celebrações que se realizaram nestes últimos dias. Obrigado de coração às Religiosas da Misericordiosa Mãe de Deus, em Lagiewniki, assim como a quantos, diariamente diante da figura de Cristo misericordioso, elevam orações segundo as intenções da minha missão apostólica.

Congratulo-me com a Arquidiocese de Cracóvia e com toda a Polónia pelo seu novo templo, que me foi concedido dedicar. Estou convencido de que o Santuário de Lagiewniki constituirá um significativo ponto de referência e um eficaz centro de culto à Misericórdia Divina. Os raios de luz que descem da torre do templo de Lagiewniki - que recordam os raios da imagem de Jesus misericordioso - irradiam com reflexo espiritual sobre toda a Polónia: desde os Montes Tatra até ao Báltico, e de Bug do Óder para o mundo inteiro!

4. "Deus, rico em misericórdia!". Eis as palavras que constituíram a ideia-chave da minha visita. Quisemos lê-las como um convite dirigido à Igreja e à Polónia do novo milénio. Formulo votos a todos os meus Compatriotas, a fim de que saibam receber com o coração aberto esta mensagem de misericórdia e consigam levá-la a toda a parte, onde os homens tiverem necessidade da luz da esperança.

Conservo no meu coração o bem realizado durante estes dias da minha peregrinação e no qual pude participar. Agradecido por tudo, juntamente com toda a comunidade eclesial que está na Polónia, repito estas palavras diante de Cristo misericordioso: "Jesus, tenho confiança em ti!". Esta confissão sincera proporcione alívio às futuras gerações do novo milénio. E Deus, rico em misericórdia, vos abençoe a todos!

E para concluir, o que dizer? Sinto muito ter que partir!



MENSAGEM DO SANTO PADRE


NA DEDICAÇÃO DO SANTUÁRIO MARIANO NO BENIM


Por ocasião da inauguração do Santuário de Nossa Senhora de Arigbo em Dassa-Zoumé


O Santo Padre une-se cordialmente à alegria e à acção de graças dos peregrinos que, desde 1954, chegam em grande número a este lugar, para manifestar à Mãe de Deus o seu afecto filial e para se confiar à sua protecção maternal. Ele encoraja-os a elevar ao Senhor uma oração ardente, para se tornarem artífices de paz cada vez mais autênticos, de uma paz fundamentada na justiça e no perdão, e corajosos missionários do Evangelho. Que o Santuário consagrado à Mãe de Deus, Nossa Senhora da Paz, seja para todos os cristãos um apelo a renovar o dom recebido no baptismo, a fim de se tornarem pedras cada vez mais vivas na Igreja, Família de Deus.

O Papa convida todas as pessoas presentes a abrir cada vez mais os seus corações à acção transformadora do Espírito Santo, que afasta os temores e torna possível um diálogo construtivo entre os povos e as pessoas individualmente. Que todos, unidos aos seus Pastores, acolham a força vivificante da graça de Deus, convencidos de que Deus pode criar aberturas para a paz, onde parece que só existem obstáculos e egoísmos, e que Ele pode consolidar e alargar a solidariedade entre os membros da família humana, apesar dos longos episódios de divisão e de luto (cf. Mensagem do Santo Padre para a celebração do Dia Mundial da Paz de 2002, n. 14)!

Enquanto saúda cordialmente as autoridades civis, militares e religiosas presentes, o Santo Padre confia à intercessão maternal da Virgem Maria as pessoas que se reuniram para esta feliz circunstância. Além disso, é de bom grado que lhes concede a Bênção apostólica, que faz extensiva de maneira particular ao querido Cardeal Bernardin Gantin, que preside à celebração da consagração do Santuário, a D. Antoine Ganyé, Bispo de Dassa-Zoumé, e a todos os Prelados presentes, aos presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, catequistas e todos os fiéis vindos do Benim, de outros países da África e da Europa, para celebrar na alegria este acontecimento eclesial.


Angelo Card. SODANO

Secretário de Estado



DISCURSO DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO REGIONAL SUL-2 DO BRASIL


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 31 de agosto de 2002



Veneráveis Irmãos no episcopado

1. É com grande alegria que vos dou as boas-vindas, Bispos do Regional Sul-2 do Brasil, ao vos reunir em Roma para a visita ad Limina Apostolorum. Ela está destinada a expressar o vínculo de comunhão que une cada um de vós e as vossas comunidades locais ao Sucessor de Pedro, chamado a confirmar os seus irmãos e irmãs na fé (cf. Lc Lc 22,32). É com afeto fraterno que vos saúdo com as palavras do Apóstolo: A graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco (cf. Rm Rm 1,7). Através de vós dirijo esta mesma saudação aos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos das Igrejas particulares do Paraná, sobre os quais presidis na caridade.

2. Agradeço as amáveis palavras do senhor Arcebispo de Cascavel, D. Lúcio Ignácio Baumgaertner, que em representação do vosso Regional, quis dirigir-Me, pois bem exprimem os sentimentos de fraterna união de todos os Bispos com o Sucessor de Pedro e com a Igreja que, dos quatro pontos cardeais, está unida a esta Sé Apostólica. Não foi este, por ventura, o cerne de uma das conclusões que o Sínodo dos Bispos do ano passado quis manifestar?

«Somente se for claramente perceptível - dizia Eu na solene concelebração Eucarística de encerramento - uma profunda e convicta unidade dos Pastores entre si e com o Sucessor de Pedro, assim como dos Bispos com os seus sacerdotes, poderá dar-se uma resposta credível aos desafios que provêm do atual contexto cultural» (Homília, n. 4).

A Igreja que está no Paraná enfrenta certamente as perspectivas lançadas pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil, como fruto da Tertio Millennio Adveniente. Ao ler os vossos relatórios qüinqüenais, pude constatar evidentes progressos na organização das dioceses e no desenvolvimento de numerosas pastorais, que cada Ordinário local, junto com os seus agentes de pastoral, vem assumindo com coragem e determinação, para fazer frente às exigências da nova evangelização. Disto quero referir-me sem dúvida, mas a premissa básica estará sempre naquela eclesiologia de comunhão preconizada insistentemente no último Sínodo. A Igreja universal quer recomeçar, neste início de milênio, unida com o Sucessor de Pedro e com os Bispos entre si.

3. Unidos para a missão!

Em diversas ocasiões ao longo do Pontificado, quis referir as duas grandes colunas das exigências de comunhão: «conservar o depósito da fé na sua pureza e integridade», bem como a «unidade de todo o Colégio dos Bispos sob a autoridade do Sucessor de Pedro» (cf. Exor. ap. pós-sinodal Ecclesia in America ), visto que o pleno exercício do Primado de Pedro é fundamental para a identidade e a vitalidade da Igreja.

De resto, é próprio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, manifestar a solicitude para com a Igreja e sua missão universal, por meio da comunhão e colaboração com a Sé Apostólica e pela atividade missionária, principalmente ad gentes. Por isso, cada Bispo deverá urgir que os evangelizadores da sua diocese, e sobretudo ele mesmo, sejam plenamente fiéis à doutrina católica, comprovando constantemente se a explicação da Palavra é conforme com a Revelação confiada pelo divino Mestre ao Magistério eclesiástico. Acrescente-se que tal identidade supõe uma clara sintonia disciplinar e doutrinal com o Episcopado mundial, para assim manter, junto com este, o vínculo essencial com o Papa.

No marco dos projetos pastorais que poderão ser alinhavados nestes próximos anos decorrentes deste nosso encontro fraterno, e em consideração do Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil, subordinado ao tema «Ser Igreja no novo milênio», aprovado pela CNBB em 2000, faço votos de que possa haver esse «caminho comum da Igreja inteira» que o episcopado brasileiro subscreveu.

4. «No alvorecer do terceiro milênio, a figura ideal do Bispo, com que a Igreja continua a contar, é a de Pastor que, configurado com Cristo na santidade da vida, se dedica generosamente em favor da Igreja que lhe foi confiada tendo no coração, ao mesmo tempo, a solicitude por todas as Igrejas espalhadas pela terra (cf. 2Cor 2Co 11,28)» (Homília no encerramento do Sínodo dos Bispos, 27/10/2001, l’Osservatore Romano nº 44, 3).

Desta afirmação surge o fundamento e a esperança daquilo que o Sínodo, rompendo as barreiras de uma formulação circunscrita a uma simples diocese ou a um país, quis propor a todos os Bispos, Sucessores do Apóstolos. Duc in altum, remai mar adentro! Lançai-vos a empresas corajosas, ousai grandes metas, certos de que Deus não perde batalhas! Mas, por sua vez, aspirai a carismas melhores; e qual não será o melhor dos carismas, senão o da santidade pessoal?

Retorna aqui a imagem do Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas (Jn 10,15). O Bom Pastor, não é só o eficiente e organizado condutor das ovelhas, embora sejam estes elementos necessários em todo trabalho humano, e muito mais quando se trata de dirigir almas. Mas ele deve ser sobretudo bom. Todo e qualquer programa pastoral, a catequese em todos os níveis, a cura animarum em geral de todo o povo fiel, haurindo sua santidade em Jesus, supremo Pastor, deve ter na vida e testemunho do seu Bispo e do clero o seu estímulo imediato, seu modelo orientador. Sem isto, todo trabalho será vão. Só Deus é bom (Mc 10,9) diz o Senhor, mas por Ele, com Ele e nEle participamos da graça que nos foi dada, para fazê-la frutificar, não como propriedade mas como dom a administrar. Toda a bondade e todo o bem vem do Altíssimo, doador de todos os bens (cf. Tg Jc 1,17).

Com razão, o Bispo de Hipona, notava a insistência do Senhor com Pedro ao perguntar: amas-Me? Apascenta as minhas ovelhas, pois constitui uma séria advertência, para todos os que têm responsabilidade de pastorear uma grei. «Quer dizer: se Me amas, não penses em apascentar-te a ti mesmo, mas sim as minhas ovelhas: apascenta-as como minhas, não como tuas; procura nelas a minha glória e não a tua; a minha propriedade e não a tua; os meus interesses e não os teus; não sejas daqueles que nos tempos de perigo só se amam a si mesmos e tudo o que deriva deste principio, que é a raiz de todo mal. Os que apascentam as ovelhas de Cristo não se amem a si mesmos; não as apascentem como próprias, mas como de Cristo.» (Tratado sobre o Ev. de S. João Jn 123,5 CCL Jn 36,166-168). Daí, a grande responsabilidade de saber como são administrados os bens que lhes forem entregues.

A cada qüinqüênio os Bispos vêm a Roma, não por mera questão de rotina administrativa a fim de apresentar um relatório sobre o estado da própria Diocese. O que está alí, por detrás, é o estado da própria alma e, conseqüentemente, da santidade pessoal e, consequentemente, do seu rebanho. Não pode um Bispo esquivar-se daquela exigência divina «redde rationem villicationis tuae»: presta conta do teu ministério e das almas que te foram confiadas (cf. Lc Lc 16,2). Por isso, a fidelidade ao seu compromisso, os propósitos de ação, as experiências hauridas aqui na Sé Apostólica, hão de ser confiados ao divino Consolador, para que no futuro fortaleçam a alma de toda a Diocese, levando-a a aproximar-se, sempre mais, da Pátria celestial.

5. Com estas premissas, volto a repetir-vos: Duc in altum! O amor de Deus nos urge! «A vossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus» (Mt 5,16)

Ao longo destes anos, muitas vezes tenho repetido o apelo à nova evangelização. E faço-o agora uma vez mais para inculcar sobretudo que é preciso reacender o zelo apostólico em todas as camadas da sociedade paranaense e de todo o Brasil, exortando indivíduos e comunidades a um compromisso diário de empenho missionário. A proposta seja feita - como já o dizia - «aos adultos, às famílias, aos jovens, às crianças, sem nunca esconder as exigências radicais da mensagem evangélica» (NMI, 40).

Conheço bem o esforço deste Regional no serviço destinado a todos os homens e mulheres, particularmente aos pobres e marginalizados; no diálogo dirigido aos cristãos não católicos e aos de religiões e culturas diferentes; no verdadeiro e próprio anúncio, que tem como destinatários os católicos afastados; e no testemunho de comunhão eclesial, a ser vivido pelos que participam da vida da Igreja.

Assim mesmo, nos diversos planos de ação pastoral pude constatar os destaques dados à juventude, à família, à catequese, às vocações e aos meios de comunicação social. Faço votos também que se prossiga no esforço por um adequado acompanhamento da Pastoral da Criança.

Por outro lado, dentro do quadro do Regional Sul II, o episcopado paranaense tem-se distinguido na preparação dos planos e na sua execução, com boa organização, dinamismo, equilíbrio e afeto colegial, demonstrado nas assembléias, no trabalho conjunto, nas comemorações diocesanas, destacando-se a promoção vocacional e dos seminários. O Paraná, está bem servido de clero, contribuindo, inclusive, para a distribuição dos novos presbíteros para além das suas fronteiras estaduais, e no assessoramento e intercâmbio com as comunidades nipo-brasileiras, tanto do Brasil como do Japão.

Na linha desta ação, cabe também prosseguir no empenho pela Catequese a todos os níveis, de modo especial na vivência dos sacramentos. Sei que em algumas dioceses os fiéis preferem praticar as formas de religiosidade popular (procissões, novenas, etc...), custando-lhes mais participar ativamente da liturgia. Por isso, renovo o apelo de que sejam postos todos os meios para que o povo possa aceder aos sacramentos, especialmente da Penitência e da Eucaristia, quando devidamente preparados. A presença de Movimentos apostólicos, numerosos e dinâmicos, quando atuam «em plena sintonia eclesial e obediência às diretrizes autorizadas dos Pastores» (NMI, 46), tem dado particular ajuda à Pastoral diocesana; sua ação pode ser, em muitos casos, determinante para contribuir a este processo permanente de conversão, que é próprio da evangelização e conseguir assim uma sociedade mais justa e reconciliada com Deus. Por isso, o apostolado dos leigos vem assumindo uma importância determinante para aproximar a Deus tantos homens e mulheres, pois é no ambiente que lhes é familiar - no trabalho, no lar e na sociedade em geral - onde o papel do leigo se torna imprescindível e, muitas vezes, insubstituível.

Tenham em conta, também, que o fenômeno da imigração, certamente não desconhecido há diversas gerações, recebe hoje o influxo crescente e fronteiriço de populações latino-americanas em busca do melhor teor de vida do vosso país. Dou graças a Deus, pela vossa constante preocupação em manter intercâmbios com as Conferências episcopais dos países vizinhos, a fim da harmonizar gradualmente as diversas pastorais e para uma acolhida generosa e digna dos mais carentes. À ação dos Pastores e presbíteros confio também a missão de vigiar contra toda influência deletéria das seitas, de um lado e de outro da fronteira. A índole boa e acolhedora da vossa gente, não pode deixar-se arrastar por uma visão conformista e utilitarista de soluções a curto prazo. Nunca é demais reiterar aqui que «é necessário fazer uma revisão dos métodos pastorais adotados, para que cada Igreja particular preste aos fiéis uma assistência religiosa mais personalizada, reforce as estruturas de comunhão e missão, e aproveite as possibilidades evangelizadoras que oferece uma religiosidade popular purificada, tornando assim mais viva a fé de todos os católicos em Jesus Cristo» (Ecclesia in America ).

Neste mesmo espírito de comunhão que deve nortear a vida pastoral de cada Diocese, destacam-se as numerosas congregações religiosas que, mormente no campo educacional, têm dado uma fundamental contribuição na formação da juventude e, entre outras, na Pastoral vocacional. Conheço o esforço empregado pelos religiosos neste sentido, e particularmente na missão ad gentes. O Brasil poderá certamente ser o berço de generosas vocações missionárias para a África e a Ásia. E se, às vezes, o Senhor permite que irriguem com o seu sangue aquelas terras, saiba toda a Igreja que o martírio, singular comunhão com Cristo Redentor, é fonte de inauditas graças para o Povo de Deus.

6. Queridos Irmãos, estas são as breves reflexões que hoje compartilho convosco, procurando oferecer-vos todo encorajamento no Senhor e animar-vos no vosso ministério em prol do Seu povo.

Tudo o que nestes anos realizastes é precioso aos olhos de Deus. A ocasião, porém, deste nosso encontro constitui uma ocasião providencial para dar impulso ao vosso empenho pastoral. Oro com muito fervor para que obtenhais bom êxito nesta importante tarefa pastoral, de maneira que a Igreja que está no Paraná resplandeça com toda a sua glória, como Esposa de Cristo, que Ele escolheu com amor infinito. Ao confiar a vossa missão apostólica à intercessão da Virgem Maria, que em todas as épocas é a esplendente Estrela da Evangelização, concedo de coração a todos vós, aos sacerdotes, aos religiosos e aos fiéis leigos das vossas Dioceses, a minha Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE PEREGRINOS E FIÉIS


ITALIANOS DE VARESE


31 de Agosto de 2002



1. É com alegria e afecto que vos dou as boas-vindas, queridos amigos de Varese, que comemorais o centenário do Oratório de São Vítor e da Associação Desportiva "Robur et Fides". Saúdo D. Marco Ferrari, a quem agradeço as amáveis palavras e, juntamente com ele, também D. Pasquale Macchi e D. Giovanni Giudici. Saúdo inclusivamente o vosso Pároco e os outros Presbíteros, assim como o Presidente da Câmara Municipal da Cidade e as Autoridades civis que, com a sua presença, dão testemunho de quanto o Oratório está a peito da comunidade de Varese.

Em particular, é-me grato acolher a nova geração: os adolescentes e os jovens. Caríssimos, sede bem-vindos! E obrigado também aos Coros pelos lindos cânticos!

2. É digno de observação o facto de que uma peregrinação tão significativa foi promovida para o centenário de um Oratório juvenil! Isto explica não apenas quanto a vossa comunidade está ligada a esta instituição mas, mais ainda, como é elevada a consideração que lhe reservais. Alegro-me convosco, porque realizais um projecto educativo que, no Oratório, encontra o seu centro vivo, o "laboratório" de uma fé que deseja abarcar todos os aspectos da vida e do sentimento dos jovens: uma fé repleta de vida, para uma vida cheia de fé!

A pastoral juvenil, juntamente com a pastoral familiar, constitui uma prioridade da Igreja que está na Itália. E precisamente o Oratório é o lugar em que estas duas solicitudes pastorais convergem de maneira natural: lugar de educação e de co-educação, que acompanha de maneira muito oportuna a obra educativa dos pais. Com efeito, os jovens têm necessidade de um ambiente onde desenvolver, com outras figuras e dinâmicas, os valores recebidos no seio da família. Para esta finalidade, também a actividade desportiva contribui de maneira eficaz. Efectivamente, se for bem organizada, ela ajudará os jovens a serem generosos e solidários. Possa a vossa "Robur et Fides" distinguir-se sempre por uma generosa abertura à solidariedade.

3. Além disso, o Oratório constitui uma escola de serviço, onde se aprende a trabalhar com generosidade pela comunidade, pelas crianças e pelos pobres. E precisamente o serviço, animado pela oração, é o caminho privilegiado para o nascimento e o crescimento de vocações autênticas para o sacerdócio, a vida consagrada e missionária, assim como de vigorosas vocações laicais, conjugais e não conjugais, orientadas para a dedicação pessoal no serviço ao próximo. Conservai sempre vivo este espírito no vosso Oratório e na vossa Sociedade desportiva. Caminhai constantemente unidos, para serdes "sal da terra e luz do mundo" (Mt 5,13-14).

Confio-vos a Maria Santíssima e, do íntimo do coração, abençoo-vos a todos, juntamente com os vossos entes queridos e as vossas actividades.



                                                                              Setembro de 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO NOVO EMBAIXADOR DA GRÉCIA


JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO DA


APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: Segunda-feira, 2 de Setembro de 2002




Senhor Embaixador

1. Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano para a apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Helénica junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe sentidamente por me ter transmitido a mensagem gentil de Sua Excelência o Senhor Constantinos Stephanopoulos, Presidente da República helénica. Recordando-me com prazer da visita que ele me fez no Vaticano no passado mês de Janeiro, ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir-lhe os meus votos cordiais pela sua pessoa, bem como por todo o povo grego.

2. Permita-me, Senhor Embaixador, que recorde, no início do nosso encontro, a viagem que fiz no ano passado ao seu País, por ocasião da minha peregrinação jubilar seguindo os passos de São Paulo. Ao dar graças a Deus por me ter permitido realizar essa viagem tão desejada, conservo uma profunda recordação do acolhimento caloroso do Senhor Presidente da República e das Autoridades gregas. Recordo-me com emoção do meu encontro com Sua Beatitude Christódoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia. No lugar particularmente sugestivo do Areópago, recordámos os acontecimentos dolorosos do passado, mas sobretudo reafirmámos a nossa vontade comum de fazer o possível para progredir pelo caminho da fraternidade cristã e da unidade a ser reencontrada. Faço votos por que o encontro de Atenas constitua uma etapa importante neste caminho ainda longo; a recente visita a Roma de uma delegação da Igreja ortodoxa da Grécia confirma-me nesta esperança.

3. No seu País está muito enraizada a fé cristã, que é um dos elementos constitutivos da Nação. Sabemos como esta herança religiosa está viva no coração da Europa, não só como uma recordação do seu passado, que constitui, a este propósito, um elemento importante da sua cultura, mas também como uma fonte que pode dar dinamismo e perspectivas de futuro à edificação europeia. Já manifestei em várias ocasiões a minha preocupação a este propósito, e sobretudo o meu pesar por ver que as comunidades de crentes não eram explicitamente mencionadas entre os parceiros que devem contribuir para a reflexão sobre a "Convenção" instituída no encontro de Laeken, com vista a uma possível Constituição europeia. Como recordei ao Corpo diplomático, "a marginalização das religiões, que contribuíram e ainda contribuem para a cultura e para o humanismo dos quais a Europa se sente legitimanente orgulhosa, parece-me que é tanto uma injustiça como um erro de perspectiva. Reconhecer um acontecimento histórico inegável não significa absolutamente desconhecer a exigência moderna de uma justa laicidade dos Estados, e por conseguinte, da Europa!" (Discurso ao Corpo Diplomático, 10 de Janeiro de 2002, n. 2). Estou certo, Senhor Embaixador, de que o seu País pode desempenhar um papel importante junto das instituições comunitárias, para que seja reconhecida e expressa felizmente esta dimensão religiosa, à qual a Santa Sé e a República Helénica estão igualmente ligadas.

4. Depois de mais de vinte anos, o seu País entrou na União europeia, que reconhece também que a Grécia dá um contributo específico ao continente desde os tempos de fundação da primeira democracia ateniense, sobretudo a nível social, cultural e religioso, que fazem parte da sua longa tradição. Alegro-me pela atenção dedicada pelas Autoridades gregas ao alargamento da Europa, sobretudo aos Países balcânicos. É evidente que a abertura às diferentes nações europeias permitirá afastar de modo duradouro qualquer risco de embates nesta região, para que não se repitam os dramáticos conflitos que a ensanguentaram no final do século XX. O acolhimento progressivo de todos os Países consolidará entre os povos uma cultura da paz e da solidariedade, o que constitui uma das forças do projecto europeu. A Santa Sé, como Vossa Excelência sabe, faz sentidos votos para que se volte a estabelecer uma paz sólida e duradoura entre as nações, e apoia tudo o que possa permitir aos diferentes povos reencontrarem-se, dialogar e pôr em prática os projectos comuns para o bem de todos os habitantes.

Nesta perspectiva, os próximos Jogos Olímpicos, que terão lugar em Atenas em 2004, oferecerão a possibilidade de uma nova experiência de fraternidade, para vencer o ódio e para aproximar as pessoas e os povos. Nesta ocasião, faço votos por uma trégua duradoura de qualquer tipo de violência, para que o espírito pacífico e de sadio estímulo, que é o mesmo dos fundadores dos Jogos olímpicos, se difunda em todos os âmbitos da sociedade e em todos os continentes. Faço votos por que, num mundo perturbado e por vezes incerto, este acontecimento desportivo seja uma manifestação jubilosa de pertença de todos à mesma comunidade humana, fraterna e solidária, como foram recentemente outros acontecimentos do mesmo género.

5. Gostaria de saudar calorosamente, por seu intermédio, os fiéis católicos que vivem na Grécia. Eles são pouco numerosos e por vezes encontram-se divididos em pequenas comunidades. Eles ainda sofrem devido a uma situação difícil a nível do reconhecimento dos seus direitos no seio da Nação e em diversas camadas da sociedade; por conseguinte, aproveito esta ocasião para chamar de novo a atenção do seu Governo sobre a necessidade de conferir, graças a um diálogo construtivo entre os responsáveis envolvidos, um estatuto jurídico à Igreja católica. De facto, convém, como é o caso no conjunto dos países da União europeia, fazer respeitar plenamente a liberdade religiosa efectiva dos católicos, assim como dos outros crentes, concedendo às dioceses e às comunidades locais os meios necessários para a sua missão. Os católicos, por seu lado, desejam estabelecer, com os seus irmãos ortodoxos, um verdadeiro diálogo e não têm outra preocupação a não ser a de participar plenamente, no lugar que lhes compete, na vida económica, política e social do País, na qual já se encontram empenhados em grande medida. Encorajo a comunidade católica, os seus pastores, Bispos e sacerdotes, os religiosos e as religiosas que se dedicam ao seu serviço, e todos os fiéis que dela fazem parte, a perseverar neste sentido. Tenham todos a certeza do apoio e da oração fraterna do Bispo de Roma, Sucessor de Pedro. Saúdo também cordialmente os pastores e os fiéis da Igreja ortodoxa da Grécia, exprimindo-lhes de novo os meus agradecimentos pelo acolhimento que me reservaram por ocasião da minha viagem, e renovo-lhes a certeza da vontade de diálogo da Igreja católica, diálogo que, como voltei a afirmar recentemente, deve ser continuado não só a nível da caridade fraterna, mas em primeiro lugar no âmbito teológico.

6. No momento em que inicia a sua nobre missão de representar o seu País junto da Santa Sé, queira aceitar, Senhor Embaixador, os votos mais cordiais que formulo pelo seu bom êxito e tenha a certeza de encontrar sempre junto dos meus colaboradores a compreensão e o apoio necessários!

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, e sobre todos os colaboradores e todos os seus compatriotas, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.




Discursos João Paulo II 2002 - Sexta-feira, 16 de agosto de 2002