Discursos João Paulo II 2002 - Sábado, 21 de setembro de 2002

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


A UM GRUPO DE NEOBISPOS REUNIDOS


EM CONGRESSO


23 de Setembro de 2002

Caríssimos Irmãos no Episcopado

1. É com imensa alegria que vos dou as boas-vindas a vós, jovens bispos, provenientes de vários países do mundo e reunidos em Roma por ocasião do Congresso anual, promovido pela Congregação para os Bispos. É com afecto fraternal que vos saúdo, dirigindo-vos as palavras do Apóstolo: "A graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco" (Rm 1,7).

Agradeço ao Senhor Cardeal Giovanni Battista Re as amáveis palavras que, também em nome de todos vós, me dirigiu para manifestar a vossa vontade firme de comunhão plena com o Sucessor de Pedro.

Estou grato inclusivamente aos Legionários de Cristo pela atenciosa hospitalidade que, também neste ano, ofereceram aos participantes no Congresso.

Exprimo a minha estima pela iniciativa deste encontro romano de oração, de reflexão e de estudo acerca de alguns importantes compromissos, desafios e problemas que os bispos são chamados a enfrentar.

2. Dilectos Irmãos no Episcopado, o vosso encontro de hoje com o Papa insere-se entre as finalidades do vosso Congresso, porque deseja ser também uma peregrinação ao Túmulo do Apóstolo Pedro. Com efeito, tem em vista consolidar o vínculo de comunhão com o seu Sucessor, que recebeu a missão de confirmar os seus irmãos (cf. Lc Lc 22,32), constituindo "o princípio e o fundamento perpétuos e visíveis da unidade da fé e da comunhão" (Lumen gentium, LG 18).

Na solene Concelebração conclusiva do Sínodo, realizado no ano passado, sobre o ministério e a vida dos Bispos, afirmei: "Somente se for claramente perceptível uma profunda e convicta unidade dos Pastores entre si e com o Sucessor de Pedro, assim como dos Bispos com os seus sacerdotes, poderá dar-se uma resposta credível aos desafios que provêm do actual contexto social e cultural" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 3 de Novembro de 2001, pág. 3, n. 4).

Quanto a mim, desejo confirmar-vos o meu afecto, o meu apoio e a minha proximidade espiritual, e assegurar-vos que compartilho as ansiedades e as preocupações do vosso serviço apostólico que, no alvorecer do terceiro milénio, se anuncia muito comprometedor mas também singularmente exaltante.

3. A figura do Bispo, como se realçou durante o recente Sínodo dos Bispos, é a do Pastor que, configurando-se com Cristo na santidade de vida, se dedica com generosidade em benefício do seu rebanho.

Com o Sacramento da Ordem, mediante uma renovada efusão do Espírito Santo, fomos configurados com Cristo, sumo e eterno sacerdote, Pastor e Bispo das almas (cf. 1P 2,25). E, ao mesmo tempo, como no-lo recorda o Decreto conciliar Christus Dominus, fomos escolhidos para o ministério do anúncio, da santificação e da animação, em ordem à edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja (cf. n. 2).

A eficácia e a fecundidade do nosso ministério dependem em grande medida da nossa configuração com Cristo e da nossa santidade pessoal. Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, recordei que "a perspectiva em que se deve pôr todo o caminho pastoral é a da santidade" (n. 30). Uma das tarefas primárias do Pastor é a de fazer crescer em todos os crentes um autêntico desejo de santidade, para a qual todos nós somos chamados e na qual as aspirações do ser humano alcançam o seu ápice. Esta é a finalidade do nosso ministério pastoral. Se a santidade é "a medida alta" da vida cristã ordinária, é com maior razão que ela deve reflectir-se na vida do bispo, inspirando cada um dos seus comportamentos (cf. ibid., n. 31).

4. Estimados Irmãos, outra prioridade que gostaria de realçar é a atenção aos vossos sacerdotes, que são os colaboradores mais íntimos do vosso ministério.

Demonstrai um afecto privilegiado aos presbíteros e tende a peito a sua formação permanente. O cuidado espiritual do presbítero constitui um dever essencial para cada um dos bispos diocesanos.

O gesto do sacerdote, que põe as suas próprias mãos nas mãos do bispo, no dia da sua Ordenação presbiteral, professando-lhe "respeito e obediência filiais", à primeira vista pode parecer um gesto unilateral. Na realidade, este gesto compromete ambos: o sacerdote e o bispo.

O jovem presbítero escolhe confiar-se ao bispo e, por sua vez, o bispo compromete-se em salvaguardar estas mãos. Desta forma, o bispo torna-se responsável pela sorte daquelas mãos, que aceita apertar com as suas. O sacerdote deve poder sentir, de maneira especial nos momentos de dificuldade ou de solidão, que as suas mãos são apertadas pelas mãos do bispo.

Além disso, dedicai-vos com paixão à promoção de autênticas vocações ao sacerdócio, mediante a oração, o testemunho da vossa própria vida e a solicitude pastoral.

5. No coração do vosso Congresso, no centro das reflexões destes dias, encontra-se a vontade de corresponder da melhor maneira possível à missão que vos foi confiada, de comunicar Cristo ao homem contemporâneo, ao mundo de hoje. O ideal apaixonado do Apóstolo, que dizia: "Ai de mim, se não pregar o Evangelho!" (1Co 9,16), seja também vosso.

Em cada dia experimentamos que a nossa época, tão rica de meios técnicos, de instrumentos materiais e de comodidades, se apresenta dramaticamente pobre de finalidades, de valores e de ideais. O homem contemporâneo, desprovido de referências aos valores, fecha-se com frequência em horizontes restritos e relativos. Neste contexto agnóstico e às vezes hostil, a missão do bispo não é fácil. Porém, não devemos ceder ao pessimismo nem ao desânimo, porque é o Espírito que orienta a Igreja e lhe dá, com o seu sopro jovial, a coragem de ousar na procura de novos métodos de evangelização, em ordem a alcançar metas até agora inexploradas. A verdade cristã é atraente e persuasiva, precisamente porque sabe imprimir fortes orientações à existência humana, anunciando de maneira convincente que Cristo é o único Salvador de todo o género humano. Este anúncio permanece válido ainda hoje, como o era no início do cristianismo, quando se verificou a primeira grande expansão missionária do Evangelho.

6. Queridos neobispos, nestes dias pudestes escutar o testemunho de prelados já experimentados no serviço episcopal, assim como de Chefes de Congregações da Cúria Romana, para um tranquilo aprofundamento de alguns temas e problemas práticos que interpelam de maneira prioritária a vida de um bispo. Faço votos de coração, a fim de que esta experiência contribua para suscitar generosidade e magnanimidade em vós, que há pouco recebestes o mandato apostólico, dando um novo impulso ao vosso ministério.

Juntamente convosco, recordo ao Senhor cada uma das vossas Igrejas, os vossos queridos sacerdotes, os diáconos, os seminaristas, os religiosos, as religiosas, os fiéis leigos, as suas respectivas famílias e todo o povo de Deus.

Enquanto confio a vossa missão apostólica à intercessão da Virgem Maria, concedo-vos a todos a Bênção apostólica, propiciadora da incessante assistência divina.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À PEREGRINAÇÃO "FOI ET LUMIÈRE"


Castelgandolfo, 26 de Setembro de 2002




Queridos amigos

É-me particularmente grato receber-vos, a vós que representais a Associação internacional "Foi et Lumière", e saúdo de maneira muito especial os seus fundadores, Marie-Hélène Mathieu e Jean Vanier.

Nascido em Lourdes, o vosso Movimento, recebeu muitas das graças dessa singular localidade, onde os doentes e os portadores de deficiência ocupam o primeiro lugar. Acolhendo todos estes "pequeninos", assinalados pela deficiência mental, reconhecestes neles as testemunhas especiais da ternura de Deus, de quem temos muito a aprender e que ocupam um lugar específico no seio da Igreja. Com efeito, a sua participação na comunidade eclesial abre o caminho para as relações simples e fraternais, enquanto a sua oração filial e espontânea convida todos nós a voltarmo-nos para o nosso Pai que está nos Céus.

Penso, igualmente, nos seus pais que, graças a vós, se sentem compreendidos no seu sofrimento e vêem a sua angústia transformar-se em esperança, para acolher com humanidade e fé os seus filhos deficientes. Assim, eles descobrem o caminho de conversão que o Evangelho abre ao homem: mediante a Cruz, expressão do "maior amor" do Senhor pelos seus amigos, a cada um é concedido participar na vida de Deus, que é Amor.

Gostaria de voltar a agradecer o vosso testemunho no seio da nossa sociedade, chamada a descobrir cada vez mais a dignidade dos portadores de deficiência, a acolhê-los e a integrá-los na vida social, embora ainda haja muito a fazer para que seja verdadeiramente respeitada a dignidade de todo o ser humano e nunca mais se atente contra o dom da vida, especialmente quando se trata de crianças portadoras de deficiência. E vós trabalhais com generosidade e competência neste sentido. Estimo também a coragem das famílias e das associações que se ocupam das pessoas portadoras de deficiência, pois elas recordam-nos o sentido e o valor de toda a existência.

Estimados amigos, enquando confio o vosso encontro a Nossa Senhora, formulo-vos votos de um trabalho fecundo, para que vos renoveis na força do vosso compromisso ao serviço de uma causa bonita e nobre. A cada um de vós, assim como a todos aqueles que por vós são representados, concedo do íntimo do coração uma particular Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO REGIONAL NORDESTE 2


DO BRASIL EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 28 de setembro de 2002



Queridos Irmãos no Episcopado

1. Com alegria vos recebo hoje, Pastores da Igreja de Deus no Brasil, vindos das sedes metropolitanas de Olinda-Recife, Paraíba, Maceió e Natal, e das Dioceses sufragâneas. São Igrejas que carregam uma rica tradição espiritual e missionária - uma delas santificada pelo martírio de sacerdotes, religiosos e leigos -, e enriquecidas com as sólidas virtudes de numerosas famílias cristãs que sedimentaram a fé do vosso solo pátrio.Vindes a Roma para realizar esta visita ad Limina, venerável instituição que contribui para manter vivos os estreitos vínculos de comunhão que unem cada Bispo com o Sucessor de Pedro. A vossa presença aqui faz-me sentir também próximos os sacerdotes, religiosos e fiéis das Igrejas particulares a que presidis.

Agradeço o Senhor Bispo D. Fernando Antônio Saburido, Presidente do Regional Nordeste-2, pelas amáveis palavras que me foram dirigidas, em nome de todos, renovando expressões de afeto e estima e fazendo-me participar das vossas preocupações e projetos pastorais. A ocasião me é propícia para recordar a D. Antônio Soares Costa, vosso predecessor à frente deste Regional que, por um misterioso desígnio da Providência, veio a faltar na metade deste ano; que Deus o tenha na sua glória! Peço ao Senhor cheio de misericórdia que, nas vossas dioceses e em todo o Brasil, progridam sempre a mesma fé, a esperança, a caridade e o corajoso testemunho de todos os cristãos, de conformidade com a herança recebida pela Igreja desde os tempos dos Apóstolos.

2. Inicialmente, desejo fazer constar minha profunda gratidão pelo zelo com que desempenhastes a missão que vos tem sido confiada, frequentemente em circunstâncias difíceis para pastorear vosso rebanho. Muitas vezes o Pastor deve tomar decisões, «graviter onerata conscientia», sobre assuntos que dizem respeito não só a uma pessoa, mas também a uma comunidade ou a instituições da sua Diocese. «Deus, a Quem presto culto no meu espírito, ao serviço do Evangelho de Seu Filho, me é testemunha de como, constantemente, me recordo de vós» (Rm 1,9). A Ele peço ardentemente que vos mantenhais firmes na fé e corajosos na esperança que vos foi dada, «pois nem a morte, nem a vida, (...), nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor» (Rm 8,38-39).

Conheço a dinâmica das vossas Assembléias e o esforço por definir os diversos planos pastorais, que dão prioridade à formação do clero e dos agentes da pastoral. Alguns dentre vós fomentaram movimentos de evangelização para facilitar o agrupamento dos fiéis numa linha de ação. Nestes últimos anos quis nomear novos Pastores em algumas Dioceses, como as de Floresta, Guarabira, Palmares, por não citar outras, permitindo assim prosseguir a obra de evangelização naquelas regiões. O Sucessor de Pedro conta convosco para que vossa preparação se apoie sempre naquela espiritualidade de comunhão e de fidelidade à Sé de Pedro, a fim de garantir que a ação do Espírito não seja vã. Com efeito, a integridade da fé, junto à disciplina eclesial, é e será sempre tema que exigirá atenção e desvelo por parte de todos vós, sobretudo quando se trata de saber ponderar que existe «só uma fé e um só batismo».

3. Entre os vários documentos que se ocupam, como sabeis, da unidade dos cristãos, está o Diretório para o ecumenismo publicado pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. Vários parágrafos deste Documento descrevem a "formação dos que se dedicam ao ministério pastoral" (n. 70-86), a "formação especializada" de agentes ecumênicos (n. 87-90) e a "formação permanente" de presbíteros e diáconos e outros agentes da pastoral «numa contínua atualização, tendo em vista que o movimento ecumênico está em evolução» (n. 91).

Estas normas poderão dar uma sadia orientação ao estudo teológico. O fundamento, o centro, o objetivo final da fé é Cristo, e a missão da Igreja consiste em anunciá-lo como nosso único Salvador. A ação da Igreja desenrola-se, em particular, mediante o ministério dos sacerdotes. Por isso, desejo renovar, uma vez mais, o apelo em considerar no vértice da vossa solicitude pastoral, a importância em promover vocações sacerdotais. Para atender à numerosa população de fiéis católicos, fazem falta sacerdotes possuídos de uma formação à altura, que lhes permita assumir a gravosa tarefa de representar a Pessoa de Cristo para as comunidades locais.

Por outro lado, uma adeguada formação dos agentes da pastoral, como apoio da evangelização promovida pelos Bispos e presbíteros, revelar-se-á de grande utilidade para estimular a convivência e o testemunho da fé nos ambientes mais difíceis.

4. «Que todos sejam um; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em nós» (Jn 17,21).

Aquele que foi, ao mesmo tempo, um apelo e uma prece, «revela-nos a unidade de Cristo com o Pai, como lugar fontal da unidade da Igreja e dom perene que ela receberá misteriosamente dEle até ao fim dos tempos» (NMI, 48). Estas considerações feitas logo após o início do novo milênio, nos lembram a importância de acolher e de fomentar decididamente o espírito ecumênico com as demais Igrejas e comunidades eclesiais.

No limiar do ano 2000, tive a oportunidade de dar início à Campanha da Fraternidade, convidando a dialogar com os irmãos na fé, sendo corresponsáveis com a Igreja em sua missão pastoral e salvadora. A aproximação entre todos os cristãos na caminhada ecumênica promovida pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil, para que todos os homens creiam em Cristo, tem colaborado para um maior entendimendo, numa busca comum da unidade querida pelo Senhor.

Trata-se porém de querer ver concretizada tal unidade em espírito e vida, não só em vossas regiões, mas em todo o país. Certamente o Brasil continua sendo uma nação prevalentemente católica, devendo no entanto conviver com diversas outras Igrejas e comunidades eclesiais, com as quais é importante cultivar boas relações para uma mais incisiva ação evangelizadora.

5. A perspectiva ecumênica da teologia apela ao assentimento da fé contida ou explicitada nas Sagradas Escrituras e na Tradição, e ensinada pelo Magistério da Igreja. Conheço o esforço de vossas Dioceses dirigido a fixar as bases de um sadio ecumenismo. Mas, se o mesmo Diretório, antes citado, afirmava que «a diversidade é uma dimensão da catolicidade» (n. 16), isto não deve induzir a um certo indiferentismo que vá a nivelar, num falso irenismo, todas as opiniões.

Faço votos de que o esforço das Comunidades cristãs em alcançar a tão suspirada unidade, esteja sempre fundado na verdade «já manifestada por Deus à Igreja na sua realidade escatológica» pois «os elementos desta Igreja já realizada existem, reunidos na sua plenitude na Igreja Católica e, sem essa plenitude, nas demais Comunidades» (Carta Enc. Ut unum sint UUS 14).

Não há porém incompatibilidade entre a afirmação de uma adesão incondicionada à Verdade de Jesus Cristo e o respeito pelas consciências. Se a religião não é somente uma questão de consciência, mas também de livre adesão à Verdade, que pode ou não ser acolhida, não deve porém ser transigida no seu conteúdo; por isso, é preciso ilustrá-la, sem deixar passar os elementos contidos nos dados revelados. Tal é a importância do vosso empenho em constituir formadores aptos a garantir a máxima fidelidade no ensino teológico. Formar as consciências, na plena fidelidade ao plano da salvação revelado pelo Redentor dos homens, é tarefa de grande responsabilidade dos Pastores e dos seus presbíteros.

A catequese é, sem dúvida, outro campo que merece particular atenção, pois a existência de escolas, colégios, Universidades católicas ou não constitui a base cultural e educacional do povo dessa grande nação. O Brasil sempre foi berço de uma convivência serena entre os diversas concepções de pensamento, e não poderá deixar de sê-lo. Junto à típica atitude de acolhida e de convivência, capaz de abrir os braços a pessoas de tantas procedências, a alma do vosso povo soube sempre cultivar os valores da liberdade e do respeito mútuo, como algo inserido na própria cultura e formação. Não será este aspecto de muita importância para a educação ao verdadeiro ecumenismo?

6. Não duvideis então, amados Irmãos no Episcopado, o melhor serviço prestado à causa do ecumenismo o oferecereis quando, na catequese para os adultos ou para os jovens, souberdes proporcionar uma profunda educação à liberdade porque «onde está o Espírito do Senhor há liberdade» (2Co 3,17). O cristão, quando vive integralmente sua fé, é pólo de atração, inspira confiança e respeito; jamais impõe suas convicções religiosas, mas sabe transmitir a verdade sem iludir a confiança nele depositada. Transige com as pessoas, sem jamais transigir com o erro. Por essa razão o Catecismo da Igreja Católica pôde afirmar: «Afastando-se da lei moral, o homem atenta contra a sua própria liberdade, agrilhoa-se a si mesmo, quebra os laços da fraternidade com seus semelhantes e rebela-se contra a vontade divina» (n. 1740).

Possa esse espírito refletir-se nas diversas pastorais que estareis empenhados a orientar a partir deste nosso encontro romano. Ensinar a verdadeira dignidade da pessoa no trabalho e no lar, no campo e na cidade. Habituar-se a respeitar e a conviver com quem pensa de outro modo; transmitir paz aos corações divididos; rezar por todos, para que a graça de Deus possa abrandar os ânimos endurecidos talvez pelo mau exemplo de conduta.

7. Para testemunhar a caridade que nos une, propus para o início deste século «fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo» (NMI, 43)

O cristão nela inserido e imbuído deste espírito saberá colher toda ocasião para unir-se aos seus anseios e esperanças: sejam, pois, também vossas as alegrias e as dores da Igreja; procurai fomentar a solidariedade com os cristãos perseguidos por causa da própria fé em muitos países. Ao mesmo tempo, procurai estimular o clamor da oração para que o Senhor se digne apressar aquela tão almejada unidade de fé que todos aspiramos.

Queridos Irmãos, uma vez mais asseguro-vos minha profunda comunhão na oração, com uma firme esperança no futuro das vossas dioceses, nas quais se reflete um País sempre jovem, disposto a enfrentar os novos desafios deste início de século. Que o Senhor vos conceda a alegria de O servir, guiando em Seu nome as Igrejas particulares que vos foram confiadas. Que a Virgem Santíssima e os santos Padroeiros de cada lugar vos acompanhem e protejam sempre.

A vós, amados Irmãos no Episcopado, e aos vossos fiéis diocesanos, concedo de coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DO 31° ESQUADRÃO


DA AERONÁUTICA MILITAR ITALIANA


28 de Setembro de 2002



Senhor Comandante
Senhores Oficiais e Suboficiais
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. No termo na minha permanência em Castelgandolfo, é-me grato encontrar-me mais uma vez convosco, estimados representantes do 31º Esquadrão da Aeronáutica Militar Italiana. Aproveito o ensejo para vos manifestar os meus sentimentos de profundo reconhecimento. Saúdo-vos cordialmente e agradeço-vos a vossa atenta disponibilidade, que me permite desempenhar comodamente o meu ministério pastoral, quando ele exige a minha transferência para várias localidades do território italiano.

Sempre admirei a vossa grande abnegação e a vossa comprovada competência. E a circunstância deste dia constitui uma ocasião propícia para manifestar, como de costume, o gesto expressivo do meu grato apreço por todo o 31º Esquadrão, concedendo especiais reconhecimentos pontifícios a alguns de vós.

2. Quando me dirigiu a palavra em vosso nome, o vosso Comandante quis evidenciar os sentimentos que vos animam no serviço quotidiano. Asseguro-vos a minha oração, a fim de que possais levar a cabo todos os vossos projectos de bem. Acompanhe-vos no vosso trabalho e na vossa vida o olhar amoroso da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.

Enquanto invoco sobre vós a as vossas famílias a assistência divina, concedo-vos a todos a minha Bênção apostólica.



DISCURSO DE JOÃO PAULO II


AO PESSOAL DAS VILAS PONTIFÍCIAS


EM CASTELGANDOLFO


Sábado, 28 de Setembro de 2002






Caríssimos Irmãos e Irmãs!

No momento em que está para terminar a minha permanência estiva em Castelgandolfo, é-me grato receber-vos para esta visita de despedida, que me oferece a oportunidade de exprimir a cada um o meu sentido agradecimento pelo trabalho que desempenhais.

Saúdo o Director-Geral das Vilas Pontifícias, Dr. Saverio Petrillo, ao qual agradeço as gentis palavras que me dirigiu. Juntamente com ele, saúdo todo o pessoal. Caríssimos, o Senhor, fonte de todo o bem, vos recompense a generosa dedicação e o espírito de sacrifício com que contribuís para tornar confortadora e repousante a minha permanência em Castelgandolfo. Continuai a oferecer um testemunho quotidiano da vossa fé, exprimindo a vossa pertença a Cristo em todos os ambientes.

Garanto a todos uma recordação constante na oração. E agora, em sinal da minha constante benevolência e com os votos mais cordiais de uma vida serena e laboriosa, concedo de coração a cada um de vós aqui presentes e às vossas famílias uma especial Bênção apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL


AOS MEMBROS DA JUNTA


E DO CONSELHO MUNICIPAL


Castelgandolfo, 30 de Setembro de 2002






1. Sinto-me feliz por lhe apresentar uma cordial saudação, Senhor Presidente da Câmara Municipal, assim como aos Ilustres Membros da Junta e do Conselho Municipal, no final da minha permanência de Verão em Castelgandolfo. Aqui, o Senhor concedeu-me transcorrer dias serenos e repousantes em contacto com a natureza, beneficiando do clima sadio destas colinas. No momento em que me preparo para recomeçar o meu ministério pastoral no Vaticano, fortalecido por estes meses de repouso, desejo agradecer a cada um de vós a solicitude e a disponibilidade demonstrada em relação à minha pessoa e aos meus colaboradores.

Agradeço de modo especial a Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara Municipal, as gentis palavras que me dirigiu e os sentimentos que quis exprimir-me também em nome da Administração de todos os cidadãos de Castelgandolfo.

2. Ao despedir-me desta comunidade, pela qual sinto sempre muito afecto, desejo manifestar mais uma vez o meu sentido apreço pela hospitalidade e generosidade que os habitantes quiseram dedicar não só ao Papa, mas também aos peregrinos e visitantes que vieram para se encontrarem com ele. Muito obrigado! Caríssimos Irmãos e Irmãs, desejo garantir-vos o meu afecto e a minha constante proximidade espiritual. Levo no coração as vossas pessoas e todas as vossas intenções, e peço-vos que me acompanheis com a vossa oração.

Confio cada um de vós à intercessão de Maria, Rainha da Paz, e concedo a todos de coração a minha Bênção.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS FORÇAS DA ORDEM E DA SEGURANÇA


JUNTO DO VATICANO


30 de Setembro de 2002





Caros Funcionários
e Agentes da Polícia
da Guarda Fiscal
e Militares da Arma dos Carabineiros

Na iminência da minha partida de Castelgandolfo, desejo renovar-vos o apreço e a estima que nutro pelo vosso generoso serviço, pela salvaguarda da segurança e da serenidade de todos.

De modo particular, gostaria de manifestar a cada um de vós o meu cordial reconhecimento, também em nome dos meus colaboradores e dos fiéis e peregrinos que subiram aqui em grande número para encontrar o Papa. Obrigado pelo vosso compromisso incansável, que certamente comportou um grande sacrifício. Continuai a honrar sempre a vós mesmos e a farda que vestis. O vosso trabalho seja animado por um impulso interior, que encontra a sua origem no amor a Deus.

Confio-vos à protecção materna de Maria Santíssima, Virgo Fidelis e, com afecto, concedo-vos a vós, às vossas famílias e a quantos vos são queridos, uma especial Bênção apostólica.



                                                                              Outubro de 2002

MENSAGEM POR OCASIÃO DO VII CENTENÁRIO


DO NASCIMENTO DE SANTA BRÍGIDA


CO-PADROEIRA DA EUROPA


: À Reverenda Madre Tekla FAMIGLIETTI
Abadessa-Geral da Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida

1. Ao aproximar-se o VII centenário do nascimento de Santa Brígida da Suécia, uno-me de bom grado à alegria desta Família religiosa. Ao desejar pleno êxito às celebrações jubilares previstas, sobretudo ao congresso comemorativo sobre o tema "O caminho da beleza para um mundo mais justo e digno", desejo que elas contribuam para realçar ulteriormente o valor da mensagem de Santa Brígida para o nosso tempo.

Saúdo-a cordialmente, Rev.da Madre Abadessa, e as suas Irmãs de hábito, renovando a minha gratidão pelo significativo trabalho apostólico desempenhado ao serviço da unidade dos cristãos, especialmente na Europa, seguindo o exemplo da Santa sueca. Setecentos anos depois do seu nascimento, desejais voltar de novo espiritualmente àquele acontecimento como ao luminoso ponto originário da vossa história, haurindo renovado entusiasmo da recordação daquele início providencial.

Voltando de novo com a mente e com o coração à sua experiência mística, totalmente centrada na Paixão do Redentor, vós comprometeis-vos em descobrir no rosto da Igreja os reflexos da santidade de Cristo, o Redentor do homem, que está definitivamente "revestido com um manto tinto de sangue" (Ap 19,13), garantia perene e invicta da salvação universal.

2. Quando proclamei Santa Brígida co-Padroeira da Europa, desejei oferecer aos fiéis do Continente um singular modelo de "santidade feminina". Depois de ter vivido felizmente a experiência de esposa fiel, de mãe exemplar e de educadora sábia, Brígida passou através de uma santa viuvez, chegando por fim ao estado de vida consagrada. Em todas estas fases da sua vida, ela soube conjugar com sabedoria a contemplação com uma actividade de grande alcance, sempre apoiada pelo amor a Cristo e à Igreja. Deu à comunidade cristã do seu tempo os dons próprios da feminilidade e, como mulher plenamente realizada, pôs-se ao serviço dos irmãos.

O seu exemplo pode ser para as mulheres de hoje um estímulo eficaz para se tornarem protagonistas de uma sociedade em que seja respeitada plenamente a sua dignidade; uma sociedade que saiba considerar o homem e a mulher como protagonistas, em igual medida, do plano divino universal para a humanidade. É suficiente folhear a biografia desta mulher, que soube unir em si a contemplação mais elevada com a iniciativa apostólica mais corajosa, para nos apercebermos de que Brígida pode oferecer indicações úteis também às mulheres de hoje sobre os modos oportunos de enfrentar as problemáticas relativas à família, à comunidade cristã e à própria sociedade.

3. Na Carta Apostólica em forma de "Motu Proprio" Spes aedificandi, de 1 de Outubro de 1999, escrevi que a Santa "foi elogiada pelos seus dotes pedagógicos, que teve ocasião de pôr em prática no período em que se lhe pediu que servisse na Corte de Estocolmo. Desta experiência amadurecerão os conselhos que, em diversas ocasiões dará aos príncipes e soberanos para desempenharem correctamente as suas funções. É evidente, porém, que os primeiros a lucrar com isto foram os seus filhos, não constituindo um puro caso o facto de uma das suas filhas, Catarina, ser venerada como santa" (n. 4). Que exemplo precioso para os núcleos familiares da nossa época!

Santa Brígida é também mestra de vida consagrada. De facto, dedicou-se com grande empenho à formação de quem aceitava abraçar a regra da Ordem por ela fundada, respeitando sempre as indicações do Evangelho, em cuja escola orientava de maneira firme e delicada todos os que se uniam a ela no caminho de perfeição religiosa. A sua acção pedagógica baseava-se numa sólida maturidade moral e espiritual. Precisamente por isso, a relação de vida que nos transmitiu, ainda hoje se revela válida. Poderíamos resumi-la com estas palavras: a educação é credível quando põe em prática a "pedagogia da virtude". Isto é, para educar é preciso ser não só virtuoso, mas também sábio e competente. Só a virtude habilita para o título de mestre.

4. A espiritualidade de Santa Brígida apresenta numerosas dimensões. Por conseguinte, pode constituir uma proposta interessante para todos. Nela admiramos um cristianismo baseado na imitação incondicionada de Cristo, e animado por escolhas coerentes com o Evangelho. Foi mestra ao aceitar a Cruz como experiência central da fé; discípula exemplar da Igreja, ao professar uma catolicidade plena; modelo de vida contemplativa e ao mesmo tempo activa; apóstola incansável na busca da unidade entre os cristãos; foi também dotada de intuição profética ao ler a história no Evangelho e o Evangelho na história.

No centro da espiritualidade brigidina situa-se a primazia absoluta de Deus, de quem "não se zomba" (Ga 6,7). A dimensão missionária depende da mística. Em Brígida, o compromisso caritativo, missionário e até político surgia da paixão pela oração e pela contemplação. Porque teve tempo para Deus, também teve tempo para o homem.

Nas declarações do processo de canonização, a filha Catarina recordava que, "enquanto o pai era vivo, e depois quando a mãe ficou viúva, nunca se sentava à mesa sem ter dado de comer a doze pobres". Foi com razão que se lhe atribuiu o nome de "mãe dos pobres". Também no período da permanência em Roma se confirmou mãe cuidadosa dos últimos, imprimindo uma marca de autenticidade à forte experiência mística que a distinguia.

Todos os que desejam ocupar-se das pequenas e novas situações de mal-estar podem, portanto, encontrar um encorajamento válido no exemplo desta mística do Norte da Europa. A sua estratégia apostólica representa uma fórmula de eficácia certa para a "nova evangelização".

5. Merece ser realçado um aspecto especial da sua espiritualidade: a dimensão mariana da sua consagração a Cristo. Santa Brígida convida a olhar para a Virgem de Nazaré como ícone feminino do cristianismo. Procurando imitar Maria, ela esforçou-se por ser esposa, mãe e religiosa fiel: no seguimento da Virgem, tendia em qualquer circunstância a cumprir plenamente a vontade de Deus. Não foi sem razão que o meu Predecessor Bonifácio IX, na cerimónia de canonização, pôde afirmar que, em toda a sua vida, Brígida foi extremamente devota da Bem-Aventurada Virgem (cf. Bula Ab origine mundi, 23 de Julho de 1391).

Folheando o livro das Revelações, que constitui como que um diário da sua peregrinação interior, lê-se que muitas vezes compreendeu de Maria o significado dos mistérios de Cristo. Aprendeu a repetir, enquanto contemplava adorando o Verbo de Deus encarnado: "Sede bendito, meu Deus, meu Senhor, meu Filho" (VII, 21), recordando-se das palavras de Jesus, que disse: "Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50).

6. Depois, como deixar de recordar a sua paixão pela unidade da Igreja? São conhecidas as suas orações e as suas iniciativas para manter íntegra a túnica inconsútil de Cristo, a santa comunidade dos discípulos do Redentor. Como mulher de unidade, ela propõe-se-nos, por conseguinte, como testemunha do ecumenismo. A sua personalidade harmoniosa inspira a vida da Ordem, que faz remontar a ela as próprias origens na direcção de um ecumenismo espiritual e ao mesmo tempo operativo, também devido ao decisivo impulso reformador que a Beata Isabel Hesselblad quis imprimir a esta Família religiosa. A unidade da Igreja é uma graça do Espírito, que deve ser implorada constantemente na oração.

Oxalá este ano jubilar seja para a Ordem do Santíssimo Salvador um estímulo a percorrer com alegria aquele a que o meu venerado Predecessor, Papa Paulo VI, gostava de chamar "o caminho da beleza", ou seja, o caminho da santidade que é a forma suprema da beleza, na plena fidelidade à vocação.

Com estes sentimentos, ao invocar sobre toda a comunidade das Brigidinas as abundantes graças de Deus pela intercessão da Mãe do Senhor, de Santa Brígida e da Beata Isabel Hesselblad, concedo-lhe, Reverenda Madre, assim como a cada uma das suas filhas, como penhor de afecto constante, uma especial Bênção apostólica.


Castelgandolfo, 21 de Setembro de 2002.




Discursos João Paulo II 2002 - Sábado, 21 de setembro de 2002