DIscursos João Paulo II 2003

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


NO ENCONTRO COM OS JOVENS


DE ROMA E DO LÁCIO EM PREPARAÇÃO


DO XVIII DIA MUNDIAL DA JUVENTUDE


Quinta-feira, 10 de Abril de 2003

Caríssimos jovens!


1. Também este ano, nos reunimos para um Encontro de oração e de festa, na ocasião da Jornada Mundial da Juventude, a JMJ.

Saúdo o Cardeal Vigário, a quem agradeço as palavras que me quis dirigir, saúdo os outros Cardeais e Bispos aqui presentes, os vossos sacerdotes e educadores. Saúdo os jovens que me homenagearam em nome dos outros e que ofereceram também dons significativos, e saúdo cada um de vós, caríssimos jovens, rapazes e moças, de Roma e das Dioceses do Lácio, que estais aqui reunidos. Saúdo ainda a chuva, que nos acompanhou fielmente, depois parou, mas agora parece começar de novo.

Saúdo, ainda, os participantes no Encontro sobre as Jornadas Mundiais da Juventude promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos e, com eles, saúdo as delegações dos jovens de Toronto e de Colónia, os artistas e as testemunhas que hoje acompanham este momento.

Maria, a minha Mãe, a partir de hoje é também a tua Mãe!

2. "Eis aí a tua Mãe!" (Jn 19,27). São as palavras de Jesus que escolhi como tema desta XVIII Jornada Mundial da Juventude.

Tendo chegado a sua "hora", da cruz Jesus confia ao discípulo João a Sua Mãe tornando-a, através do discípulo predilecto, a Mãe de todos os crentes e nossa Mãe. E Jesus diz a cada um de nós, eis Maria, a Minha Mãe, a partir de hoje é também a tua Mãe!

Perguntamos: quem é esta Mãe? Para compreender melhor isto aconselhar-vos-ia a ler de novo, neste Ano do Rosário, todo o maravilhoso capítulo VIII da Constituição dogmática Lumen gentium do Concílio Vaticano II. Maria "cooperou de modo absolutamente singular pela obediência, pela fé, pela esperança e pela caridade ardente na obra do Salvador para restaurar a vida sobrenatural das almas. Por tudo isto, ela é nossa Mãe na ordem da graça" (n. 61). E esta maternidade sobrenatural continuará até à vinda gloriosa de Cristo.

Sem dúvida, é Ele, Jesus Cristo, o único Redentor. É Ele o único Mediador entre Deus e os homens! Contudo como ensina o Concílio Maria coopera e participa na sua obra de salvação. Por conseguinte, ela é uma Mãe pela qual devemos ter uma devoção profunda e verdadeira, uma devoção profundamente cristocêntrica, aliás radicada no próprio Mistério trinitário de Deus.
Abri a Maria a porta da vossa existência!

3. ""Eis aí a tua Mãe!" E desde aquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa (Jn 19,27).
Receber Maria na própria casa, na própria existência, é o privilégio de todos os fiéis. E sobretudo nos momentos difíceis, como são os que também vós, jovens, por vezes viveis neste período da vossa vida. Recordo-me que para mim esse momento foi quando eu era jovem e trabalhava na fábrica química, e encontrei estas palavras: Totus Tuus. E com a força destas palavras pude caminhar através da terrível guerra, da terrível ocupação nazista e depois também através de outras experiências difíceis depois da guerra. A possibilidade de acolher Maria na própria casa, na própria existência, é oferecida a todos nós.

Hoje, por estes motivos, desejo confiar-vos a Maria. Caríssimos, digo-vos isto por experiência, abri-lhe a porta da vossa vida! Não tenhais medo de abrir de par em par as portas dos vossos corações a Cristo através daquela que vos deseja conduzir para Ele, para que sejais salvos do pecado e da morte! Ela ajudar-vos-á a ouvir a sua voz e a dizer sim a todos os projectos que Deus pensa para vós, para o vosso bem e para o bem de toda a humanidade.

O Ícone de Maria com a Cruz, de hoje em diante, peregrinos pelo mundo

4. Confio-vos a Maria no momento em que já estais espiritualmente a caminho para a Jornada Mundial da Juventude de Colónia. Os jovens de Toronto acabaram de trazer para esta praça a Cruz do Ano Santo. De Toronto a Colónia, a Cruz que no próximo domingo, Domingo de Ramos entregarão aos seus amigos de Colónia. Dois jovens de Roma, por seu lado, trouxeram para os pés da Cruz o Ícone de Maria, que vigiou sobre as "sentinelas da manhã" de Tor Vergata na inesquecível Jornada Mundial da Juventude do ano 2000. Tor Vergata! A fim de que permaneça sempre visivilmente evidente que Maria é uma poderosíssima Mãe que nos guia para Cristo, desejo que no próximo domingo, seja entregue aos jovens de Colónia, juntamente com a Cruz, também este Ícone de Maria e que, com a Cruz, de agora para o futuro, ela peregrine pelo mundo para preparar as Jornadas da Juventude.

Com Maria, enquanto esperais para vos encontrardes com os jovens de todo o mundo em Colónia, permanecei em clima de oração e de escuta interior do Senhor. Por isso, também desejo que aquela Jornada seja desde hoje preparada com a oração constante que se deverá elevar de toda a Igreja e, sobretudo, na Itália, de quatro lugares significativos: do Santuário Mariano de Loreto e do santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia; aqui em Roma, do Centro Juvenil de São Lourenço, que desde há vinte anos, a poucos passos da Basílica de Pedro, recebe os jovens peregrinos ao Túmulo de São Pedro, e da Igreja de Santa Inês "in Agone", na Praça Navona, onde a partir do Ano Santo de 2000, todas as quinta-feiras à noite, os jovens podem encontrar um oásis de oração diante da Eucaristia e a possibilidade de se aproximarem do sacramento da Confissão.

Desejo agradecer a Deus o dom das Jornadas Mundiais da Juventude

5. Pensando desde agora na Jornada Mundial de Colónia, desejo agradecer a Deus, mais uma vez, o dom das Jornadas Mundiais da Juventude. Nestes vinte e cinco anos de Pontificado foi-me concedida a graça de me encontrar com os jovens de todas as partes do mundo, sobretudo por ocasião destas Jornadas. Cada uma delas foi um "laboratório de fé" onde Deus se encontrou com o homem, onde cada jovem pôde dizer: "Tu és, ó Cristo, o meu Senhor e o meu Deus"! Elas foram verdadeiras escolas de crescimento na fé, de vida eclesial, de resposta vocacional.

E também podemos dizer, sem dúvida, que cada uma das Jornadas foi marcada pelo amor materno de Maria, da qual foi eloquente imagem a solicitude amorosa e materna da Igreja para a regeneração dos jovens. Eis de novo a chuva! A chuva volta e nós, jovens, amamos-te, chuva!

Tornai-vos promotores da cultura da paz neste momento atormentado da história

6. Eis aí a tua Mãe!" (Jn 19,27). Regina Pacis! Responder a este convite recebendo Maria na vossa casa também significará comprometer-vos pela paz. Maria Regina Pacis, é de facto uma Mãe e como cada mãe tem apenas um desejo para os seus filhos: vê-los viver serenos e em harmonia. Neste difícil momento da história, enquanto o terrorismo e as guerras ameaçam a concórdia entre os homens e entre as religiões, desejo confiar-vos a Maria, para que vos torneis promotores da cultura da paz, hoje necessária como nunca.

O quadragésimo aniversário da Encíclica "Pacem in terris" do Beato João XXIII

Celebra-se amanhã o quadragésimo aniversário da publicação da Encíclica Pacem in terris do Beato João XXIII. Só comprometendo-nos por construir a paz sobre os quatro pilares da verdade, da justiça, do amor e da liberdade como nos ensina a Pacem in terris será possível lançar de novo a cooperação entre as nações e harmonizar os interesses diversos e contrastantes de culturas e de instituições. Regina Pacis, ora pro nobis! Digo-vos ainda algumas palavras e depois deixo-vos ir! Digo mais uma palavra e esta palavra é sobre o Rosário.
Levai sempre convosco o Rosário!

7. "Doce cadeia que nos prende a Deus". Levai-o sempre convosco! O Rosário, recitado com devoção inteligente, ajudar-vos-á a assimilar o mistério de Cristo para aprender d'Ele o segredo da paz e fazer dele um projecto de vida.

Longe de ser uma fuga dos problemas do mundo, o Rosário estimular-vos-á a vê-los com um olhar responsável e generoso e ajudar-vos-á a encontrar a força para os enfrentar com a certeza da ajuda de Deus e com o propósito firme de testemunhar em todas as circunstâncias "a caridade, que é o vínculo da perfeição" (Col 3,14) (Cf. Rosarium Virginis Mariae RVM 40).

Celebrei esta manhã a Missa com a intenção de obter a bênção de Deus para este encontro com os jovens

Com estes sentimentos, exorto-vos a continuar o vosso caminho de vida, no qual vos acompanho com o meu afecto e com a minha bênção. Esta manhã celebrei a Missa com a intenção de obter a bênção de Deus para este encontro com os jovens de Roma e do Lácio.


ACTO DE ENTREGA DOS JOVENS A MARIA


"Eis aí a tua Mãe!" (Jn 19,27)

É Jesus, ó Virgem Maria,
que da cruz
nos quer confiar a Ti,
não para atenuar,
mas para confirmar
o seu papel exclusivo de Salvador do mundo.
Se no discípulo João,
te foram entregues todos os filhos da Igreja,
Tanto mais me apraz ver confiados a Ti, ó Maria,
os jovens do mundo.
A Ti, doce Mãe,
cuja protecção eu sempre experimentei,
os entrego, novamente, nesta tarde.
Todos, sob o teu manto,
procuram refúgio
na tua protecção.
Tu, Mãe da divina graça,
fá-los brilhar com a beleza de Cristo!
São os jovens deste século,
que na aurora do novo milénio,
vivem ainda os tormentos derivados do pecado,
do ódio, da violência,
do terrorismo e da guerra.
Mas são também os jovens para os quais
a Igreja olha com confiança,
na consciência de que,
com a ajuda da graça de Deus,
conseguirão acreditar e viver
como testemunhas do Evangelho
no hoje da história.
Ó Maria,
ajuda-os a responder à sua vocação.
Guia-os para o conhecimento do amor verdadeiro
e abençoa os seus afectos.
Ajuda-os no momento do sofrimento.
Torna-os anunciadores intrépidos
da saudação de Cristo
no dia de Páscoa: a Paz esteja convosco!
Com eles, também eu me confio
mais uma vez a Ti
e, com afecto confiante, te repito:
Totus tuus ego sum!
Eu sou todo teu!
E também cada um deles
Te grite comigo:
Totus tuus!
Totus tuus!
Amen.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


ÀS IRMÃS DOS POBRES DE SANTA CATARINA DE SENA


NO CAPÍTULO GERAL DA CONGREGAÇÃO




Caríssimas Irmãs dos Pobres!

1. Acolho-vos com alegria na ocasião do Capítulo Geral do vosso Instituto. Dirijo a todas e a cada uma de vós uma cordial saudação de boas-vindas com um especial pensamento para a Superiora-Geral e para o seu Conselho. Faço extensiva a minha saudação a toda a vossa Família religiosa, orientada para a difusão do Evangelho da caridade, especialmente entre os pobres.

Cada assembleia capitular constitui para as Ordens e Congregações um momento importante de reflexão e de relançamento na acção espiritual e missionária, porque, em certo modo, é um retorno ideal às próprias origens para se projectar ainda mais corajosamente para outras metas apostólicas.

Foi o que vós procurastes fazer, queridas Irmãs, no presente Capítulo Geral, dóceis às inspirações do Espírito Santo e atentas aos "sinais" dos tempos. A rica herança carismática, que a Beata Savina Petrilli vos deixou, representa um providencial "talento" a fazer frutificar na Igreja e para o mundo.

2. A vossa Fundadora, que o Senhor me concedeu beatificar há quinze anos, consagrou-se a Deus e aos irmãos mais necessitados, inspirando-se nos quatro grandes amores de Santa Catarina: a Eucaristia, o Crucifixo, a Igreja e os Pobres. Sempre pronta a inclinar-se sobre as necessidades dos irmãos, não hesitou em dirigir-se, já há cem anos, ao continente americano. Seguindo a sua esteira luminosa, as suas filhas espirituais estenderam, depois, a presença da Congregação também à Ásia.

O tema do Capítulo Geral: "Um dom a entregar, o rosto carismático da Irmã dos pobres", sublinha a urgência de continuar esta acção espiritual e missionária, sem nunca perder de vista a intuição carismática da Beata Savina Petrilli. Ser Irmãs dos pobres observava ela comporta o empenho de nunca abandonar "aqueles pobres que Deus nos deu por irmãos" (Directório, pág. 15), porque "eles devem ser-nos caros e a eles devemos dedicar, particularmente, a nossa predilecção, o nosso favor, o nosso coração, todas as nossas faculdades, o nosso trabalho" (ibid., pág. 1006). Este amor acrescentava a Beata Savina "será a nossa glória e a fonte donde surgirão sempre para o Instituto as bênçãos do céu, porque quem tem misericórdia pelo pobre, fá-lo com interesse pelo Senhor" (ibid., pág. 1007).

3. Reconhecer no rosto de cada indigente o rosto de Cristo: eis o ensinamento que a Fundadora vos repete hoje, recordando, como fazia muitas vezes com as primeiras irmãs, que "tudo é pouco por Jesus" e "o coração humano a tudo resiste excepto à bondade". A Irmã dos pobres sabe, por dever, educar o coração para o amor, aprendendo a "sacrificar-se e a ser sacrificada sem lamentos", tendendo para o heroísmo da caridade, disponível e acolhedora para com todas as pessoas, seja qual for a pobreza que apresentem.

Unindo "a contemplação à acção", continuai, caríssimas, no vosso serviço eclesial, que nasce da oração como "a flor da raiz".

No nosso tempo, é cada vez mais necessário reafirmar o primado da escuta de Deus e da contemplação, como vós estais preocupadas em fazer no decurso dos trabalhos capitulares. Se Jesus vive em vós, será particularmente a intimidade com Ele a impedir que se produza uma ruptura entre a experiência espiritual e as obras a adaptar sempre às novas exigências dos tempos.

Para além de ir ao encontro das necessidades materiais das pessoas, não percais de vista o anúncio explícito do Evangelho, lembradas de tudo o que dizia a Fundadora: "Nada deve dar ao próximo quem não pode dar-lhe Deus, e não é caridade dar-lhe alguma coisa em lugar do Criador".

Caras Irmãs, está diante de vós um vasto campo de acção: seja vosso cuidado preparar-vos com uma adequada e constante formação. Acompanhe-vos e ajude-vos a Virgem Santa e protejam-vos Santa Catarina e a Beata Savina Petrilli. Asseguro-vos a minha oração, enquanto, com afecto, vos abençoo a vós e a toda a vossa Família religiosa.

Vaticano, 11 de Abril de 2003



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS JOVENS VINDOS A ROMA PARA


O CONGRESSO INTERNACIONAL DA UNIV 2003


14 de Abril de 2003



Caríssimos jovens

1. Sinto-me feliz por vos acolher, também este ano, a todos vós, que frequentais as actividades de formação cristã promovidas pela Prelatura do Opus Dei em muitos Países do mundo. Viestes a Roma para passar a Semana Santa e participar no encontro internacional da UNIV: saúdo-vos cordialmente e faço votos para que estes dias em Roma sejam ocasião de um renovado encontro com Jesus e de uma forte experiência eclesial.

Escolhestes para o vosso Congresso Universitário o tema: "Construir a paz no século XXI" É um tema mais actual do que nunca nestes meses em que nos sentimos preocupados, porque, para além das situações no Iraque, há muitos focos de violência e de guerra, que se acenderam noutros continentes. Tudo isto torna mais urgente uma verdadeira educação para a paz.

2. Para os crentes, a primeira e fundamental acção em favor da paz é a oração, uma vez que a paz é dom do amor de Deus.

Ontem, Domingo de Ramos, em todas as Dioceses foi celebrada a Jornada Mundial da Juventude. Na Mensagem, que para essa celebração dirigi aos jovens, pedi-lhes que, neste tempo ameaçado pela violência, pelo ódio e pela guerra, se empenhassem em testemunhar Jesus e Aquele que pode dar a verdadeira paz ao coração do homem, às famílias e aos povos da terra.
Os quatro pilares sobre que se deve apoiar a paz são a verdade, a justiça, o amor e a liberdade, como ensinou o beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris, cujo aniversário celebrámos há uns dias (cf. AAS 55 [1963] 265-266).

3. Para ser construtores de paz é preciso, acima de tudo, viver na verdade. Vós, jovens, tendes a coragem de fazer perguntas sinceras sobre o sentido da vida; formai-vos numa límpida rectidão de pensamento e acção, de respeito e diálogo com os outros. Tende, em primeiro lugar, aquela relação para com Deus que pede a conversão pessoal e abertura ao seu mistério. O homem só se compreende a si mesmo em relação a Deus, que é plenitude de verdade, de beleza e de bondade.
Observa São Josemaría Escrivá: "Há quem procure construir a paz no mundo sem pôr no seu coração o amor de Deus... Como é possível realizar uma semelhante missão de paz? A paz de Cristo é a do seu Reino; e o Reino de nosso Senhor funda-se no desejo de santidade, na humilde disponibilidade para receber a graça, numa vigorosa obra de justiça, numa divina efusão de amor" (É Jesus que passa, 82).

4. À verdade junta-se a justiça, juntamente com o respeito pela dignidade de cada pessoa. Sabemos, porém, que sem amor sincero e desinteressado, a própria justiça não poderá assegurar a paz ao mundo. Com efeito, a verdadeira paz floresce quando no coração se vence o ódio, o rancor e a inveja; quando se diz não ao egoísmo e a tudo o que leva o ser humano a debruçar-se sobre si mesmo e a defender o seu próprio interesse.

Se o amor, que é o sinal distintivo dos discípulos de Cristo, se traduz em gestos de serviço gratuito e desinteressado, em palavras de compreensão e de perdão, a onda pacificadora do amor alarga-se e estende-se até interessar toda a comunidade humana. É, então, mais fácil compreender também o quarto pilar da paz, e esse é a liberdade, o reconhecimento dos direitos das pessoas e dos povos e o livre dom de si no cumprimento responsável dos deveres que competem a cada um no próprio estado de vida.

5. Caros jovens da UNIV! Se procurardes seguir este caminho, estareis em condições de oferecer um contributo eficaz para a construção de um mundo "pacificado" e "pacificador". Escreveu o vosso santo Fundador: "Dever do cristão: afogar o mal na superabundância do bem. Não se trata de fazer campanhas negativas, nem de ser anti-qualquer coisa. Pelo contrário: trata-se de viver de afirmações, cheios de optimismo, com juventude, alegria e paz; de olhar a todos com compreensão" (Sulco, n. 864). Segui estes ensinamentos, acolhei a paz que Cristo dá a quem lhe abre o coração e difundi-a em todos os ambientes.

Vele sobre vós, sobre os vossos desejos e projectos, sobre as vossas famílias e as nações de onde provindes, Maria, Regina Pacis. Assistam-vos o santo Fundador e os vossos Patronos celestes. Augurando-vos uma preparação na fé para celebrar a Páscoa, abençoo-vos a todos do coração.



VIA-SACRA


NO COLISEU


MEDITAÇÕES


DO SANTO PADRE


JOÃO PAULO II



SEXTA-FEIRA SANTA

DO ANO 2003

ORAÇÃO INICIAL





O Santo Padre:

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R. Amen.


Via-Sacra de Sexta-feira Santa do ano 2003.




Via-Sacra da comunidade eclesial da Urbe
convocada junto do Coliseu,
monumento dramático e glorioso da Roma imperial,
testemunha muda de força e domínio,
memorial de acontecimentos de vida e de morte,
onde parecem ressoar, como um eco interminável,
clamores de sangue (cf. Gn Gn 4,10)
e palavras que imploram concórdia e perdão.

Via-Sacra do vigésimo quinto aniversário do meu Pontificado
como Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal.
Por graça de Deus, nestes vinte e cinco anos
do meu serviço pastoral
nunca faltei a este encontro,
verdadeira Statio Urbis et Orbis,
encontro da Igreja de Roma
com os peregrinos vindos de todas as partes do mundo
e com milhões de fiéis que acompanham a Via-Sacra
através da rádio e da televisão.

Também este ano,
por renovada misericórdia do Senhor,
estou convosco para percorrer na fé
o trajecto que Jesus fez desde o Pretório de Pôncio Pilatos
até ao cimo do Calvário.

Via-Sacra,
abraço ideal entre Jerusalém e Roma,
entre a Cidade amada por Jesus,
onde Ele deu a vida pela salvação do mundo,
e a Cidade-sede do Sucessor de Pedro,
que preside à caridade eclesial.

Via-Sacra, caminho de fé:
em Jesus condenado à morte
reconheceremos o Juiz universal;
n'Ele carregando a Cruz, o Salvador do mundo;
n'Ele crucificado, o Senhor da história,
o próprio Filho de Deus.

Noite de Sexta-feira Santa,
noite tépida e trepidante da primeira lua-cheia de Primavera.
Estamos reunidos em nome do Senhor.
Ele está aqui conosco, como prometeu (cf. Mt Mt 18,20).

Connosco está também a Virgem Santa Maria.
Ela esteve no cimo do Gólgota
como Mãe do Filho moribundo,
Discípula do Mestre da verdade,

nova Eva junto da árvore da vida,
Mulher da dor
associada ao «Homem das dores, experimentado nos sofrimentos» (Is 53,3),
Filha de Adão, Irmã nossa, Rainha da Paz.

Mãe de misericórdia,
Ela inclina-Se sobre os seus filhos,
ainda expostos a perigos e aflições,
para ver os seus sofrimentos,
ouvir o gemido que se eleva da sua miséria,
para levar conforto e reavivar a esperança da paz



Oremos:

Alguns momentos de silêncio.

Olhai, Pai Santo,
o sangue que jorra do peito trespassado do Salvador;
olhai o sangue derramado por tantas vítimas
do ódio, da guerra, do terrorismo,
e concedei, benigno, que o curso dos acontecimentos no mundo
se desenrole segundo a vossa vontade na justiça e na paz,
e a vossa Igreja se entregue com serena confiança
ao vosso serviço e à libertação do homem.
Por Cristo nosso Senhor

R. Amen.

PRIMEIRA ESTAÇÃO

JESUS É CONDENADO À MORTE

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do Evangelho de S. Marcos 15, 14-15

Eles gritaram ainda mais: "Crucifica-O!".
Pilatos, desejoso de agradar à multidão,
soltou-lhes Barrabás
e, depois de mandar açoitar Jesus,
entregou-O para ser crucificado.

MEDITAÇÃO

A sentença de Pilatos foi proferida sob pressão dos sacerdotes e da multidão. A condenação à morte por crucifixão serviria para satisfazer as suas paixões dando resposta ao grito: "Crucifica-O! Crucifica-O!" (Mc 15,13-14 etc. ). O pretor romano pensou que podia subtrair-se à sentença lavando-se as mãos, como antes se desinteressara das palavras de Cristo que tinha identificado o seu reino com a verdade, com o testemunho da verdade (Jn 18,38). Num caso e noutro, Pilatos procurava conservar a sua independência, ficar de qualquer modo "de fora". Mas, só na aparência... A Cruz, à qual foi condenado Jesus de Nazaré (Jn 19,16), tal como a sua verdade do reino (Jn 18,36-37) deviam tocar no mais fundo da alma do pretor romano. Tratou-se e trata-se duma Realidade, diante da qual é impossível ficar de fora ou à margem. O facto de Jesus, o Filho de Deus, ter sido interrogado sobre o seu reino e por isso ter sido julgado pelo homem e condenado à morte, constitui o princípio daquele testemunho final de Deus que tanto amou o mundo (cf. Jo Jn 3,16).
Nós encontramo-nos perante este testemunho e sabemos que não nos é lícito lavar as mãos.

ACLAMAÇÕES

Jesus de Nazaré, condenado à morte de cruz,
testemunha fiel do amor do Pai.
R. Kyrie, eleison.

Jesus, Filho de Deus, obediente à vontade do Pai
até à morte de cruz.
R. Kyrie, eleison.


Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Stabat Mater dolorosa
iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.

SEGUNDA ESTAÇÃO

JESUS É CARREGADO COM A CRUZ

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do Evangelho de S. Marcos 15, 20

Depois de O terem escarnecido,
tiraram-Lhe o manto de púrpura
e vestiram-Lhe as suas roupas.
Levaram-No, então,
para O crucificarem.

MEDITAÇÃO

Começa a execução, ou seja, a actuação da sentença. Condenado à morte, Cristo tem de carregar a cruz, como os outros dois condenados que devem sofrer a mesma pena: "Foi contado entre os malfeitores" (Is 53,12). Cristo aproxima-Se da Cruz, tendo todo o corpo terrivelmente dilacerado e pisado, e com o sangue que da cabeça coroada de espinhos Lhe escorre pelo rosto. Ecce Homo! (Jn 19,5). N'Ele está toda a verdade do Filho do Homem que os profetas predisseram, a verdade sobre o Servo de Jahvé anunciada por Isaías: "Foi esmagado pelas nossas iniquidades; (...) fomos curados nas suas chagas" (Is 53,5).
N'Ele está presente também uma certa consequência, que nos deixa estupefactos, daquilo que o homem fez ao seu Deus. Pilatos diz: "Ecce Homo" (Jn 19,5); "vede o que fizestes deste homem!" Nesta afirmação, parece falar outra voz, como se dissesse: "Vede o que fizestes, neste homem, ao vosso Deus!"
É impressionante a sobreposição, a inter-relação desta voz que ouvimos através da história com aquilo que nos chega através da certeza da fé. Ecce Homo! Jesus, "chamado Cristo" (Mt 27,17), toma a Cruz sobre os seus ombros (Jn 19,17). Começou a execução.



ACLAMAÇÕES

Cristo, Filho de Deus,
que revelais ao homem o mistério do homem.
R. Kyrie, eleison.

Jesus, servo do Senhor,
pelas vossas chagas fomos curados.
R. Kyrie, eleison.


Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Cuius animam gementem,
contristatam et dolentem
pertransivit gladius.



TERCEIRA ESTAÇÃO

JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do livro do profeta Isaías 53, 4-6

Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças,
carregou as nossas dores;
nós o reputávamos como um leproso,
ferido por Deus e humilhado.
Mas foi castigado pelos nossos crimes,
esmagado pelas nossas iniquidades;
o castigo que nos salva pesou sobre ele,
fomos curados nas suas chagas.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas,
cada um seguia o seu caminho;
o Senhor carregou sobre ele
a iniquidade de todos nós.

MEDITAÇÃO

Jesus cai sob a Cruz. Cai por terra. Não recorre às suas forças sobre-humanas, não recorre à força dos anjos. "Julgas que não posso rogar a meu Pai, que imediatamente Me enviaria mais de doze legiões de anjos?" (Mt 26,53). Mas não o pede. Tendo aceite o cálice das mãos do Pai (Mc 14,36 etc. ), quer bebê-lo até ao fundo. É isto mesmo o que quer. E por isso não pensa em quaisquer forças sobre-humanas, embora estejam ao seu dispor. Poderão provar estranheza aqueles que O tinham visto quando comandava às enfermidades humanas, às mutilações, às doenças, à própria morte. E agora? Nega Ele tudo isto? E todavia "nós esperávamos...", dirão alguns dias depois os discípulos de Emaús (cf. Lc Lc 24,21). "Se és Filho de Deus..." (Mt 27,40), hão-de provocá-Lo os membros do Sinédrio. "Salvou os outros, e não pode salvar-Se a Si mesmo" (Mc 15,31 Mt 27,42): gritará a multidão.
E Ele aceita estas provocações, que parecem anular todo o sentido da sua missão, dos discursos pronunciados, dos milagres realizados. Aceita todas aquelas palavras; decidiu não opor-Se. Quer ser ultrajado. Quer vacilar. Quer cair sob a Cruz. Quer. É fiel até ao fim, mesmo nos mínimos detalhes, a esta afirmação: "Não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres" (Mc 14,36 etc. ).
Deus extrairá a salvação da humanidade das quedas de Cristo sob a Cruz.

ACLAMAÇÕES

Jesus, manso Cordeiro redentor,
que carregais sobre vós o pecado do mundo.
R. Kyrie, eleison.

Jesus, nosso companheiro no tempo da angústia,
solidário com a fragilidade humana.
R. Kyrie, eleison.


Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

O quam tristis et afflicta
fuit illa benedicta
Mater Unigeniti!



QUARTA ESTAÇÃO

JESUS ENCONTRA SUA MÃE

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do Evangelho de S. Lucas 2, 34-35.51

Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe:
"Este Menino está aqui para queda
e ressurgimento de muitos em Israel
e para ser sinal de contradição;
uma espada trespassará a tua alma,
a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações"...
Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.

MEDITAÇÃO

A Mãe. Maria encontra o Filho a caminho da Cruz. A sua cruz torna-se a cruz d'Ela; a humilhação d'Ele é a sua, o opróbrio público torna-se o d'Ela. É a ordem humana das coisas. Assim o devem sentir aqueles que A rodeiam, e assim o entende o coração d'Ela: "Uma espada trespassará a tua alma" (Lc 2,35). As palavras pronunciadas quando Jesus tinha quarenta dias, cumpriam-se neste momento. Atingem agora toda a sua plenitude. E Maria, trespassada por esta espada invisível, encaminha-se para o Calvário do seu Filho, para o seu próprio Calvário. A devoção cristã vê-A com esta espada no coração, e assim A representa e modela. Mãe das Dores!
"Ó Vós que sofrestes com Ele!" - repetem os fiéis, sentindo no seu íntimo que é assim mesmo que se deve exprimir o mistério deste sofrimento. Embora esta dor Lhe pertença e A toque mesmo no fundo da sua maternidade, todavia a verdade plena deste sofrimento é expressa pelo termo compaixão. Faz parte do próprio mistério: exprime de certo modo a unidade com o sofrimento do Filho.

ACLAMAÇÕES

Santa Maria, mãe e irmã nossa no caminho de fé,
convosco invocamos o vosso Filho Jesus.
R. Kyrie, eleison.

Santa Maria, intrépida a caminho do Calvário,
convosco suplicamos o vosso Filho Jesus.
R. Kyrie, eleison.


Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Quae maerebat et dolebat,
pia Mater, dum videbat
Nati poenas incliti.



QUINTA ESTAÇÃO

JESUS É AJUDADO PELO CIRENEU A LEVAR A CRUZ

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do Evangelho de S. Marcos 15, 21-22

Requesitaram, para Lhe levar a cruz,
um homem que passava, vindo do campo,
Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo.
Conduziram Jesus ao lugar do Gólgota,
que quer dizer "Lugar do Crânio".

MEDITAÇÃO

Simão de Cirene, designado para levar a Cruz (cf. Mc Mc 15,21 Lc 23,26), certamente não queria levá-la. Por isso teve de ser obrigado. Caminhava ao lado de Cristo sob o mesmo peso. Emprestava-Lhe os seus ombros, sempre que os ombros do condenado pareciam vacilar. Estava perto d'Ele: mais perto do que Maria, mais perto que João, o qual, embora sendo homem, não foi chamado para O ajudar. Chamaram-no a ele, Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, como refere o Evangelho de S. Marcos. Chamaram-no, forçaram-no.
Quanto durou este constrangimento? Quanto tempo terá caminhado ao lado de Jesus, fazendo sentir que nada tinha a ver com o condenado, com a sua culpa, com a sua pena? Quanto tempo terá passado assim, interiormente dividido, atrás duma barreira de indiferença para com o Homem que sofria? "Estava nu, tive sede, estive na prisão" (cf. Mt Mt 25,35 Mt Mt 25,36), levei a Cruz... e tu levaste-a Comigo? Levaste-a Comigo verdadeiramente até ao fim?
Não se sabe. S. Marcos refere apenas o nome dos filhos de Cireneu e a tradição afirma que pertenciam à comunidade dos cristãos ligada a S. Pedro (cf. Rm Rm 16,13).

ACLAMAÇÕES

Cristo, bom samaritano,
fostes ao encontro do pobre, do doente, do último.
R. Kyrie, eleison.

Cristo, servo do Eterno, considerais como feito a Vós
cada gesto de amor para com o refugiado, o marginalizado, o estrangeiro.
R. Kyrie, eleison.



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