DIscursos João Paulo II 2004

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA CONVOCAÇÃO NACIONAL


DOS MOVIMENTOS E COMUNIDADES


DA RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO






Ao Venerado Irmão D. MARIANO DE NICOLÒ
Bispo de Rímini

1. Também este ano, me apraz dirigir-lhe a minha cordial saudação, e por seu intermédio, a quantos participam na Convocação nacional dos grupos e das comunidades da Renovação no Espírito, que se realiza nessa cidade de Rímini, de 29 de Abril a 2 de Maio. O tema "Com efeito, vou criar novos céus e nova terra; alegrai-vos e regozijai-vos para sempre com aquilo que estou para criar" (Is 65,17-18) ajuda a contemplar o grande mistério da alegria cristã. Convido cada um de vós a recitar a oração conclusiva da Exortação Apostólica Christifideles laici, na qual pedi à "Virgem do Magnificat": "Ensina-nos a tratar as realidades do mundo com vivo sentido de responsabilidade cristã e na alegre esperança da vinda do Reino de Deus, dos novos céus e da nova terra" (n. CL 64). Os encontros dos grupos e das comunidades da Renovação no Espírito, se forem verdadeiramente animados pela presença do Espírito do Senhor, sobretudo quando culminam na celebração da Eucaristia, são acontecimentos nos quais "se abre sobre a terra uma fresta de Céu e eleva-se da comunidade dos crentes, em sintonia com o canto da Jerusalém celeste, um perene hino de louvor" (cf. Spiritus et sponsa, 16), que "une o céu e a terra" (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 8 EE 19).

2. O Espírito Santo não deixará de enriquecer o testemunho de cada um com os "dons espirituais e os carismas que Ele concede à Igreja" (cf. Audiência geral de 27 de Fevereiro de 1991). Entre estes carismas, têm importância peculiar "aqueles que servem para a plenitude da vida espiritual", estimulando "o gosto pela oração", gosto que não exclui "a experiência do silêncio" (cf. Spiritus et sponsa, 13-14). "É uma gama vastíssima de carismas, com os quais o Espírito Santo comunica à Igreja a sua caridade e santidade" (Audiência geral de 27 de Fevereiro de 1991), que será para vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, que participais no encontro, estímulo para difundir o amor a Cristo e à sua Igreja, "única Mãe sobre a terra" (cf. Pastores gregis ), e para enaltecer o louvor a Deus, sob a guia dos vossos Pastores, nos "espaços de criatividade e de adaptação que a tornam próxima das exigências expressivas das várias regiões, situações e culturas" (cf. Spiritus et sponsa, 15).

3. Desejo de coração que a Renovação no Espírito Santo suscite cada vez mais na Igreja a conversão interior sem a qual dificilmente o homem pode resistir às tentações da carne e à concupiscência do mundo. O nosso tempo tem grande necessidade de homens e mulheres que, como raios de luz, saibam comunicar o fascínio do Evangelho e a beleza da vida nova no Espírito. Com a força irresistível da oração de louvor e a graça abundante da vida sacramental, o Espírito comunica incessantemente os seus carismas à Comunidade eclesial, para que seja constantemente embelezada e edificada.

Contudo, é necessário corresponder ao Evangelho de Cristo com a audácia da fé, que é mãe de todos os milagres de amor, e com aquela sólida confiança que nos faz suplicar a Deus todo o bem para a salvação das nossas almas. Portanto, cada um, como verdadeiro discípulo de Jesus, deve aplicar-se sem descanso no seguimento dos seus ensinamentos, tornando o próprio caminho de renovação espiritual uma escola permanente de conversão e de santidade.

4. Ser testemunhas das "razões do Espírito": esta é a vossa missão, caros membros da Renovação no Espírito Santo, numa sociedade onde com frequencia a razão humana parece não não estar impregnada com a sabedoria que vem do Alto. Ponde no ânimo dos crentes que participam nas actividades dos vossos grupos e das vossas comunidades, uma semente de esperança fecunda na dedicação quotidiana de cada um às próprias tarefas.

Como escrevi na Encíclica sobre a Eucaristia "se a visão cristã leva a olhar para o novo céu e para a nova terra" (cf. Ap Ap 21,1), isso não enfraquece, antes estimula o nosso sentido de responsabilidade pela terra presente"; deve fazer com que nos sintamos "ainda mais decididos a não descurar os deveres de cidadãos terrenos". Dessa maneira podereis contribuir para "a edificação de um mundo à medida do homem e plenamente conforme com o desígnio de Deus" (Ecclesia de Eucharistia EE 20).

A Virgem Maria, presente com os Apóstolos no Cenáculo na expectativa do Pentecostes, acompanhe os trabalhos do vosso Congresso. Da minha parte, garanto-vos uma especial lembrança na oração, enquanto envio a todos a minha Bênção.

Vaticano, 29 de Abril de 2004, Festa de Santa Catarina de Sena, Padroeira da Itália e da Europa.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO BISPO DE FROSINONE-VEROLI-FERENTINO


NO XVII CENTENÁRIO DA MORTE


DE SANTO AMBRÓSIO MÁRTIR




Ao Venerado Irmão D. Salvatore BOCCACCIO
Bispo de Frosinone-Veroli-Ferentino

1. Em Agosto do ano passado, o Capítulo da Catedral de Ferentino, sob a sua orientação, proclamou o XVII centenário comemorativo da morte de Santo Ambrósio, mártir, protector da Cidade e Padroeiro, juntamente com Santa Maria Salomé, da amada Diocese de Frosinone-Veroli-Ferentino. O ano jubilar concluir-se-á a 1 de Agosto p.f.

Nesta feliz circunstância é-me grato unir-me à alegria de quantos dão graças ao Senhor pelas maravilhas realizadas na heróica existência e no martírio do santo centurião Ambrósio, morto segundo a tradição em 16 de Agosto de 304, durante a feroz perseguição do imperador Diocleciano. A partir de então, a recordação desta testemunha insigne de Cristo continuou a acompanhar o caminho dos cristãos de Ferentino e desta Comunidade diocesana.

Ao expressar sentimentos de proximidade fraterna a Vossa Excelência, venerado Irmão, faço o meu pensamento extensivo aos sacerdotes, que são os seus mais estreitos colaboradores, às religiosas e aos religiosos, assim como a todas as várias componentes do Povo de Deus, confiado aos seus cuidados pastorais.

A festa patronal de Santo Ambrósio mártir ocorre em 1 de Maio, no contexto litúrgico do Tempo pascal, que é o tempo mais favorável para celebrar um santo mártir, testemunha por excelência do Senhor Jesus morto e ressuscitado. Na luz da Ressurreição, a paixão do Senhor revela todo o seu poder salvífico, tornando mais facilmente compreensíveis o significado e o valor do martírio cristão.

O sangue derramado em comunhão com o sacrifício redentor de Cristo é semente de nova vida evangélica: de fé, de esperança e de caridade. É linfa vital para a Igreja, primícias de uma humanidade renovada no amor e dedicada à busca laboriosa do Reino de Deus e da sua justiça. Santo Ambrósio representa tudo isto para a Igreja que crê, espera e ama em Ferentino e em todo o território da Diocese.

2. Muitas coisas mudaram nestes dezassete séculos de história. O mundo transformou-se em grande medida e foram realizadas numerosas conquistas a nível humano e social graças também à influência benéfica da mensagem evangélica e ao generoso contributo de tantas gerações cristãs. Contudo, no nosso tempo aumenta o secularismo, ameaçando levar até as sociedades de antiga evangelização a formas de agnosticismo que constituem um verdadeiro desafio para os crentes. Neste contexto, adquire extraordinária eloquência o testemunho de todos os que, em fidelidade a Cristo e ao Evangelho, não hesitaram em dar a vida. Com o seu exemplo eles estimulam os cristãos a uma coerência corajosa até ao heroísmo. Só quem está disposto a segui-lo radicalmente é capaz de se colocar sem reservas ao serviço do homem, "caminho primário e fundamental" da missão dos crentes no mundo (cf. Enc. Redemptor hominis RH 14).

A este propósito, manifestam-se oportunas como nunca as prioridades pastorais que Vossa Excelência, venerado Irmão, quis indicar à Comunidade eclesial neste ano centenário. Convida justamente todos os baptizados a uma renovada consciência da sua vocação missionária, e põe em evidência alguns âmbitos de intervenção apostólica prioritária: a paz, os jovens, a família, a pobreza, os migrantes. Convido toda a Comunidade diocesana a percorrer com entusiasmo e plena consciência este caminho, movida pelo desejo de proclamar no nosso tempo o anúncio evangélico, testemunhando de maneira concreta o amor de Deus a cada ser humano. No rosto de cada pessoa, sem distinção de raças nem culturas, e sobretudo no mais miserável e necessitado dos homens, os cristãos reconhecem o rostro luminoso de Cristo.

3. Com a oferenda da vida os mártires testemunham que este serviço apaixonado à causa do homem se pode realizar eficazmente se permenecermos intimamente unidos a Cristo. Isto é possível se nos mantivermos bem ancorados na oração, se nos alimentarmos da Eucaristia e da Palavra de Deus, se nos renovarmos constantemente no sacramento da Reconciliação (cf. Novo millennio ineunte, parte III). Com o seu exemplo o mártir recorda que a verdadeira prioridade para o baptizado é tender para a santidade, como ensina o Concílio Vaticano II no capítulo V da Constituição Lumen gentium.

A partir do Grande Jubileu do Ano 2000, realcei várias vezes esta "urgência pastoral", condição indispensável para uma renovação autêntica da Comunidade cristã. A santidade exige que o olhar do nosso coração permaneça fixo no rosto de Cristo, imitando Maria, modelo de todos os crentes. É necessário, de igual modo, que cada um haura dos Sacramentos, de modo especial da Eucaristia, o vigor para realizar a própria missão. Com efeito, sem uma profunda renovação de fé e de santidade e sem o constante apoio divino, como poderia a Comunidade eclesial enfrentar o grande desafio da nova evangelização?

4. A recordação e o exemplo de Santo Ambrósio mártir constituam para todos encorajamento e estímulo a seguir Cristo em plena e dócil fidelidade. A fim de ajudar os sacerdotes, os religiosos e os fiéis desta Diocese a percorrer com maior consciência este caminho de coerência cristã, em união com os crentes de todas as partes do mundo, gostaria de entregar idealmente a cada um as Cartas apostólicas Novo millennio ineunte e Rosarium Virginis Mariae, juntamente com a Encíclica Ecclesia de Eucharistia. Reuni nestes documentos as indicações que considerei serem mais necessárias para ajudar cada um a adentrar-se com esperança no terceiro milénio.

Renovo de bom grado este dom à querida Diocese de Frosinone-Veroli-Ferentino, invocando a celeste intercessão do santo Padroeiro, o mártir Ambrósio, bem como a materna protecção de Maria Santíssima, enquanto de coração lhe envio, venerado Irmão, e aos fiéis confiados aos seus cuidados pastorais uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 27 de Abril de 2004.



                                                                                 Maio de 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE JURISTAS


4 de Maio de 2004


Ilustres Senhoras
e Senhores

É-me grato saudar-vos, membros da Associação Mundial de Juristas, por ocasião do vosso encontro em Roma para a conferência do corrente ano, enquanto agradeço ao Senhor Presidente Yevdokimov as amáveis palavras que proferiu.

O tema dos vossos debates está centrado nos aspectos legais de algumas questões económicas que se estão a apresentar ao nosso mundo, cada vez mais globalizado. A fim de que realmente possam servir de ajuda para todos os homens e mulheres, especialmente para os pobres e os desvantajados, os sistemas legais e os instrumentos jurídicos devem salvaguardar a verdade integral da pessoa humana. Por conseguinte, é de primária importância que as diversas expressões do direito internacional reconheçam e respeitem as verdades morais e espirituais, necessárias para defender e promover de maneira oportuna a dignidade e a liberdade dos indivíduos, dos povos e das nações.

Na esperança certa de que o vosso trabalho oferecerá uma contribuição significativa neste campo, invoco cordialmente sobre todos vós as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO BISPO DE ALEXANDRIA (ITÁLIA)


POR OCASIÃO DO V CENTENÁRIO


DO NASCIMENTO DE SÃO PIO V





Ao venerado Irmão D. FERNANDO CHARRIER
Bispo de Alexandria

1. É-me grato enviar-lhe uma cordial saudação por ocasião das celebrações promovidas para o V centenário do nascimento do meu Predecessor, São Pio V. O meu afectuoso pensamento torna-se extensivo aos fiéis dessa amada Diocese, que justamente recorda, com alegria e gratidão a Deus, este seu ilustre filho.

As várias manifestações programadas para comemorar este feliz aniversário oferecem a oportunidade de reavivar a memória deste grande Pontífice, e de reflectir sobre a rica herança de exemplos e de ensinamentos, por ele deixados, que são válidos como nunca também para os cristãos do nosso tempo.

A celebração do V centenário do seu nascimento seja motivo de bênção para toda a Igreja e, de modo especial, para a amada Diocese de Alexandria, assim como para a Comunidade eclesial do Piemonte. A intercessão de São Pio V e o exemplo das suas virtudes sirvam de estímulo para cada um, a fim de tornar a sua fé mais firme, mantendo-a incontaminada e em permanente contacto com as fontes da Revelação, e difundindo-a na sociedade para edificar uma humanidade aberta a Cristo e incline à construção da civilização do amor.

2. A época em que ele viveu foi na verdade muito diferente da actual e, contudo, não faltam entre elas analogias singulares. Os dois períodos históricos viram a consolidação de energias religiosas convergentes e, ao mesmo tempo, registraram crises profundas na sociedade com confrontos entre cidades e povos que, por vezes, desembocaram em dolorosos conflitos armados. Nas duas épocas a Igreja empenhou-se na busca de novos caminhos para reavivar a fé e propô-la de maneira adequada nas mudadas condições culturais e sociais, também mediante a celebração do Concílio de Trento, então, e do Concílio Ecuménico Vaticano II, no século passado. A cada um destes Concílios seguiu-se o esforço, nem sempre fácil, de aplicar fielmente os seus ensinamentos, dando vida a processos de autêntica reforma da Igreja.

Neste contexto histórico e religioso, que caracterizou o século XVI, situa-se a vicissitude humana e espiritual de São Pio V, que se concluiu em 1 de Maio de 1572. Desde a infância, Michele Ghislieri conheceu o mal-estar da pobreza e teve de contribuir, com o seu trabalho, para o sustento da sua família. Inspirou-se nos valores típicos da sua amada terra de Alexandria, à qual permeneceu sempre ligado, a ponto de ser conhecido, quando foi chamado a fazer parte do Colégio cardinalício, como o Cardeal Alexandrino.

Aos 14 anos entrou na Ordem dos Pregadores e realizou o itinerário formativo nos conventos de Vigevano, Bolonha e Génova, dedicando-se incansavelmente a percorrer o caminho da perfeição evangélica mediante a oração e o estudo, e haurindo abundantemente das fontes da palavra de Deus segundo o carisma dominicano.

Já então manifestava um gosto particular pela Sagrada Escritura e pela doutrina dos Padres, apaixonando-se também pelo estudo das obras de São Tomás de Aquino que ele mesmo, tornando-se Sumo Pontífice, incluiu entre os Doutores da Igreja. Foi ordenado sacerdote em Génova no ano de 1528.

Encarregado pelo Papa Paulo III de vigiar sobre a pureza da fé nas regiões de Pádua, Pavia e Como inspirou-se, tendo-os como modelos e protectores, em São Domingos, em São Pedro mártir de Verona, em São Vicente Ferrer e em Santo António de Florença, preocupando-se unicamente por procurar sempre a maior glória de Deus e o autêntico bem dos irmãos, fiel ao mote "caminhar na verdade" que quis fazer seu. Prosseguiu com o mesmo zelo quando foi nomeado em Roma Comissário para a Doutrina da Fé, e nos outros cargos que lhe foram confiados pelos Papas Júlio III, Paulo IV e Pio IV. Eleito Bispo de Nepi e Sutri em 1556, foi criado Cardeal no ano de 1557, e em 1560 tornou-se Bispo de Mondovì.

3. Aos 62 anos, em Janeiro de 1566, foi eleito Sucessor de Pedro e durante os anos de Pontificado dedicou-se a reavivar a prática da fé em todos os componentes do Povo de Deus, dando à Igreja um providencial estímulo evangelizador. Incansável no trabalho pastoral, procurava contactos directos com todos, sem ter em consideração a fragilidade do seu estado de saúde. Preocupou-se por aplicar fielmente as decisões do Concílio de Trento: em campo litúrgico, com a publicação do Missal Romano renovado e do novo Breviário; no âmbito catequético, confiando sobretudo aos párocos o "Catecismo do Concílio de Trento"; em matéria teológica, introduzindo nas Universidades a Summa de São Tomás. Recordou aos Bispos o dever de residir na Diocese para um atento cuidado pastoral dos fiéis, aos religiosos a oportunidade da clausura e ao clero a importância do celibato e da santidade de vida.

Consciente da missão recebida de Cristo Bom Pastor, dedicou-se a apascentar a grei que lhe fora confiada, convidando a recorrer quotidianamente à oração, privilegiando a devoção a Maria, que contribuiu para incrementar notavelmente dando um grande estímulo à prática do Rosario. Ele mesmo o recitava todos os dias, apesar de desempenhar numerosas tarefas empenhativas.

4. Venerado Irmão, o zelo apostólico, a constante tensão para a santidade, o amor à Virgem, que caracterizaram a existência de São Pio V sejam para todos estímulo a viver com um compromisso mais intenso a própria vocação cristã. De modo especial, gostaria de convidar a imitá-lo na filial devoção mariana, descobrindo a oração do Rosário, simples e profunda, que, como quis recordar na Carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, ajuda a contemplar o mistério de Cristo: "Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio... Com ele, o povo cristão frequenta a escola de Maria, para se deixar introduzir na contemplação da profundidade do seu amor" (n. 1).

Graças à recitação fervorosa do Rosário, podem-se obter graças extraordinárias por intercessão da celeste Mãe do Senhor. Disto estava muito bem persuadido São Pio V que, depois da vitória de Lepanto, quis instituir propositadamente a festa de Nossa Senhora do Rosário.

Confiei a Maria, Rainha do Santo Rosário, neste início do terceiro Milénio, com a recitação do Rosário o bem precioso da paz e o fortalecimento da instituição familiar. Renovo este confiante acto pela intercessão do grande devoto de Maria que foi São Pio V.

5. Garanto uma particular recordação na oração por Vossa Excelência, Venerado Irmão, pelos Bispos que estarão presentes no encerramento do centenário, pelos Comités Nacionais e de Honra, pelas Autoridades da Região, da Província e dos Municípios do território alexandrino, pelo clero e religiosos, pelos amados fiéis e por todos os que participarem na Santa Missa de 5 de Maio, na conclusão das celebrações jubilares na igreja do mosteiro da Santa Cruz em Boscomarengo.

Envio a todos de coração uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 1 de Maio de 2004.

JOÃO PAULO II




DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PRELADOS NORTE-AMERICANOS


DAS PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS


DE DETROIT E CINCINATI (REGIÃO VI)


Quinta-feira, 6 de Maio de 2004




Queridos Irmãos Bispos

1. É com grande alegria que vos saúdo, Bispos das Províncias Eclesiásticas de Detroit e de Cincinati, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Através de vós, saúdo os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e os fiéis leigos das vossas Dioceses: que a graça e a paz do Senhor ressuscitado estejam com todos vós, que fostes "santificados em Jesus Cristo e chamados a ser santos" (1Co 1,2)!

Nos meus encontros com os Prelados dos Estados Unidos da América ao longo deste ano, procurei oferecer algumas reflexões pessoais sobre o ministério episcopal de santificar, de ensinar e de governar o Povo de Deus. Na presente reflexão, desejo dar continuidade à nossa consideração acerca do munus sanctificandi, à luz da responsabilidade do Bispo no que diz respeito à edificação da comunhão de todos os baptizados na santidade, na fidelidade ao Evangelho e no zelo pela difusão do Reino de Deus.

2. À maneira da sua santidade, a unidade da Igreja constitui uma dádiva infalível de Deus e uma exortação constante a uma comunhão cada vez mais perfeita na fé, na esperança e na caridade. "(O próprio) Deus é comunhão, Pai e Filho e Espírito Santo, unidade na distinção, que chama todos os homens a participar da mesma comunhão trinitária" (Ecclesia in America ). Mediante a abundância do Espírito Santo, dom de Cristo ressuscitado, a Igreja foi instituída como "povo congregado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Lumen gentium, LG 4). Como sinal e sacramento daquela unidade, que é a vocação e o destino de toda a família humana, a Igreja vive e cumpre a sua missão salvífica como "um só corpo" (cf. 1Co 12,12 ss.), que o Espírito Santo orienta pelo caminho da verdade, congrega na comunhão e nas obras do ministério, guia através da variedade dos dons hierárquicos e carismáticos e adorna com os seus frutos (cf. Lumen gentium, LG 4). Este mistério de unidade na diversidade é especialmente evidente na celebração da Eucaristia por parte do Bispo, quando ele fica circundado pelos presbíteros, ministros, religiosos e todo o Povo de Deus (cf. Sacrosanctum concilium, SC 41); na Eucaristia, aquela "santa comunhão", que constitui a verdadeira alma da Igreja, é tanto representada como realizada (cf. Lumen gentium, LG 3).

Este relacionamento íntimo entre a santidade da Igreja e a sua unidade é o fundamento para aquela espiritualidade de comunhão e de missão que estou persuadido disto devemos fomentar no alvorecer deste novo milénio, "se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo" (Novo millennio ineunte NM 43). Como ícone de Cristo Bom Pastor, presente no meio do seu povo santo, o Bispo tem o dever primário de promover e de animar esta espiritualidade (cf. Pastores gregis, ). Enquanto insiste que a edificação do corpo de Cristo tem lugar numa rica diversidade de membros, funções e dons, o Concílio Vaticano II observava também que "de entre esses dons sobressai a graça própria dos Apóstolos" (Lumen gentium, LG 7), cujos sucessores são chamados a discernir e coordenar os carismas e os ministérios dados para a edificação da Igreja na obra de santificação da humanidade e de glorificação de Deus, que constitui a finalidade de toda a sua vida e actividade (cf. Sacrosanctum concilium, SC 10).

3. Esta espiritualidade de comunhão, de que os Bispos são chamados a dar o seu exemplo pessoal, levá-la-á naturalmente a "um estilo pastoral cada vez mais aberto à colaboração de todos" (Pastores gregis, ). Isto exige de vós, em primeiro lugar, um relacionamento cada vez mais estreito com os vossos presbíteros que, mediante a Ordenação sacramental, se tornam participantes no único Sacerdócio de Cristo, e na única missão apostólica confiada à sua Igreja (cf. Christus Dominus, CD 11). Através das Ordens sagradas, tanto os Bispos como os presbíteros receberam um sacerdócio ministerial que difere do sacerdócio ordinário de todos os baptizados, "essencialmente, e não apenas em grau" (Lumen gentium, LG 10). Ao mesmo tempo, no seio da comunhão do Corpo de Cristo, vós e os vossos sacerdotes sois chamados a cooperar para tornar todo o Povo de Deus capaz de desempenhar o sacerdócio real que lhe foi conferido pelo Baptismo.

Precisamente porque os membros do seu presbitério são os seus colaboradores mais próximos no ministério ordenado, cada um dos Bispos deveria procurar entrar constantemente em contacto com eles, "como pai e irmão que os ama, escuta, acolhe corrige, conforta, busca a sua colaboração e cuida o melhor possível do seu bem-estar humano, espiritual, ministerial e económico" (Pastores gregis, ). Assim como o Apóstolo Paulo recomendava Timóteo à comunidade cristã de Tessalonica, também os Bispos deveriam poder apresentar cada um dos seus sacerdotes às comunidades paroquiais, dizendo: "(Ele é) nosso irmão e colaborador (de Deus) na pregação do Evangelho de Cristo. Nós enviámo-lo para vos fortalecer e encorajar na fé" (1Th 3,2). Como pai espiritual e irmão dos seus sacerdotes, o Bispo deveria fazer tudo o que está ao seu alcance para os animar na fidelidade à sua vocação e à necessidade de levarem uma vida digna do chamamento que eles receberam (cf. Ef Ep 4,1).

Aqui, gostaria de transmitir-vos uma palavra de reconhecimento e de louvor, pela dedicação e pelo trabalho fiel que é levado a cabo por um número tão elevado de sacerdotes comprometidos nos Estados Unidos da América, especialmente por aqueles que se encontram empenhados diariamente na resolução dos desafios e das exigências ligados ao ministério no âmbito das paróquias. Convido-vos, a vós que sois os seus Bispos, a unir-vos a mim em acção de graças por eles, reconhecendo com gratidão a sua dedicação incansável de "pastores, evangelizadores e animadores da comunhão eclesial" (Ecclesia in America ).

4. O revigoramento de uma espiritualidade de comunhão e de missão exigirá um esforço constante em ordem a renovar os laços de unidade fraterna com os presbíteros. Isto exige uma reconquista consciente e um compromisso quotidiano em benefício daquilo que compartilhamos como o próprio fondamento da nossa identidade de sacerdotes: a busca da santidade, a prática da oração sincera de intercessão, a espiritualidade ministerial alimentada pela palavra de Deus e pela celebração dos sacramentos, o exercício diário da caridade pastoral e a vida de castidade no celibato, como expressão de um compromisso radical na sequela de Cristo. Como valores espirituais que unem os sacerdotes, eles deveriam constituir a base da renovação do ministério presbiteral e da promoção da unidade no apostolado, de tal maneira que, sob a orientação dos seus sacerdotes, a comunidade dos discípulos possa verdadeiramente constituir "um só coração e uma só alma" (Ac 4,32).

Naturalmente, uma espiritualidade de comunhão redundará no desenvolvimento de uma espiritualidade diocesana, fundamentada nas singulares dádivas e carismas concedidas pelo Espírito Santo, para a edificação de cada uma das Igrejas particulares. Cada sacerdote deveria encontrar "precisamente na sua pertença e dedicação à Igreja particular, uma fonte de significados, de critérios de discernimento e de acção, que configuram quer a sua missão pastoral quer a sua vida espiritual" (Pastores dabo vobis PDV 31). Ao mesmo tempo, um autêntico "espírito diocesano" inspirará e motivará também toda a comunidade cristã a um maior sentido de responsabilidade, em vista do cumprimento fecundo da missão da Igreja, através da sua diversificada rede de comunidades, instituições e apostolados (cf. Apostolicam actuositatem, AA 10).

5. É nos seminários maiores e menores que são lançadas as sementes de uma espiritualidade de comunhão e de missão, e de um sacerdócio sadio. Encorajo-vos a fazer visitas frequentes aos seminários, a fim de conhecer pessoalmente aqueles que um dia poderão ser presbíteros no âmbito das vossas Igrejas particulares. Estes contactos directos contribuirão inclusivamente para "formar personalidades maduras e equilibradas, capazes de estabelecer relações humanas e pastorais sólidas, teologicamente preparadas, fortes na vida espiritual e amantes da Igreja" (Pastores gregis ). Os desafios da vida eclesial interpelam cada vez mais o sacerdote a ser, em todos os sentidos, um "homem de comunhão" (Pastores dabo vobis PDV 43), comprometido numa cooperação concreta com os outros, ao serviço da comunidade eclesial.

A formação adequada na castidade e no celibato permanece um elemento essencial da educação a receber no seminário, juntamente com a apresentação de um entendimento teológico sólido e correcto da Igreja e do sacerdócio, incluindo uma identificação clara e específica das posições que não são compatíveis com a autocompreensão autorizada da própria Igreja, como está expresso no Concílio e nos documentos da renovação pós-conciliar. Trata-se de uma responsabilidade pessoal que compete a vós, Pastores preocupados pelo futuro das vossas Igrejas locais, e que não pode ser delegada. Uma vez que a formação sacerdotal não termina com a ordenação, o vosso ministério de santificação deve incluir também o cuidado pela constância da vida espiritual dos vossos sacerdotes e a eficácia do seu ministério. Isto exige uma formação pessoal permanente, destinada a aprofundar e harmonizar os aspectos humanos, espirituais, intelectuais e pastorais da sua vida presbiteral (cf. Directório sobre a vida e o ministério dos sacerdotes, n. 70). Desta forma, eles hão-de tornar-se cada vez mais plenamente "homens de Igreja", impregnados de um verdadeiro espírito católico e de um autêntico dinamismo missionário.
Pessoalmente, estou convencido de que a oração é a força primordial que inspira e forma as vocações sacerdotais. Como escrevi na minha Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis, "as vocações necessitam de uma ampla rede de intercessores junto do "Senhor da messe". Quanto mais o problema da vocação for enfrentado no contexto da oração, tanto mais ela ajudará o escolhido a escutar a voz daquele que o chama" (n. 48).

6. Estimados Irmãos, as nossas reflexões hodiernas estão a frisar a ligação existente entre o munus sanctificandi e a espiritualidade da comunhão e da missão. Formulo-vos votos a fim de que, no exercício quotidiano do vosso ministério episcopal, sejais edificadores de comunhão no diálogo e no encontro pessoal com os vossos presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e os fiéis leigos das vossas Igrejas particulares. Este é o caminho seguro que os tornará capazes de amadurecer naquela santidade, que constitui "a fonte secreta e a medida infalível da sua operosidade apostólica e do seu dinamismo missionário" (Christifideles laici CL 17).

Com gratidão pelo dom e pelo mistério extraordinários que nos foram confiados no ministério sagrado, exprimo a minha firme solidariedade para convosco e os vossos irmãos no sacerdócio. A vós e a todos os fiéis confiados ao vosso cuidado pastoral, concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de alegria e de paz no Senhor ressuscitado.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA GUARDA SUÍÇA


POR OCASIÃO DO JURAMENTO DOS NOVOS RECRUTAS


Quinta-feira, 6 de Maio de 2004






Ilustre Senhor Coronel
Estimado Senhor Capelão
Meus dilectos Guardas
Queridos Familiares e Amigos da Guarda Suíça

1. Uma vez mais, o juramento dos Recrutas da Guarda Suíça representa para mim uma agradável ocasião para dar as boas-vindas a todos vós no Palácio Apostólico. De modo particular, saúdo os novos Guardas, assim como os seus pais, os familiares e os amigos, que desejam compartilham este momento significativo para a vida destes jovens. Prezados Guardas a vossa disponibilidade ao serviço e o vosso compromisso dão testemunho eloquente da vossa fidelidade ao Sucessor de Pedro, da vossa profunda fé, assim como das nobres virtudes vivas da vossa querida pátria suíça.

Estai certos da grande estima que nutro pelo serviço, às vezes exigente, que levais a cabo no Vaticano, com vosso vigoroso e precioso compromisso pessoal. Também as numerosas pessoas que, todos os anos, visitam a Basílica de São Pedro e a Cidade do Vaticano, ficam impressionadas com o vosso serviço abnegado. É por tal motivo que este encontro convosco e com os vossos amados familiares me enche de alegria sincera.


DIscursos João Paulo II 2004