
DIscursos João Paulo II 2004
2. A vossa missão de serviço ao Papa e à Igreja, queridos novos Recrutas da Guarda Suíça, inscreve-se no seguimento do vosso Baptismo. No lugar que vos compete, deveis dar testemunho da fé em Cristo, morto e ressuscitado; cada momento importante da nossa existência e o dia de hoje é um deles consiste numa ocasião para descobrir mais profundamente a verdade de Cristo, de crescer nele e de viver o amor fraternal que Ele nos revelou e ensinou. Que o rosto de todos aqueles que vós haveis de encontrar no vosso serviço humilde, tanto os membros da Cúria como os peregrinos de todos os dias, sejam outros tantos apelos para acolher o sentido verdadeiro da nossa vida: descobrir e fazer com que se conheça o amor de Deus por todos!
Agradeço de maneira particular às vossas famílias, vindas para vos acompanhar. Elas aceitaram a vossa vinda a Roma, para viver este serviço, e apoiam-vos com o seu afecto e as suas orações.
Caros jovens, o juramento que ireis pronunciar prolonga e honra a memória dos vossos predecessores, que deram a própria vida, no dia 6 de Maio de 1527, para proteger o Papa Clemente VII. O Santo Padre sabe-o bem e, hoje, assegura-vos a sua profunda gratidão.
3. Caríssimos membros da Pontifícia Guarda Suíça, obrigado pelo serviço que vós prestais ao Sucessor de Pedro e aos seus colaboradores aqui no Vaticano. Trata-se de um compromisso exigente e talvez por vezes oneroso, mas pelo qual Deus vos recompensará. Sede sempre fiéis à vossa missão, cultivando com atenção aquele ideal de amor a Cristo e à Igreja, que as vossas famílias e as comunidades cristãs da Suíça se esforçam por alimentar constantemente. Como bem sabeis, nos dias 5 e 6 do próximo mês de Junho participarei em Berna, se Deus quiser, no encontro dos jovens católicos da Suíça, e terei também um encontro com as pessoas pertencentes à Associação dos ex-Guardas suíços. Conto inclusivamente com a vossa oração e com a ajuda espiritual de todos vós.
Reitero-vos com afecto os meus bons votos mais cordiais para a festa do dia de hoje, enquanto vos asseguro que estareis sempre presentes nas minhas preces.
4. Por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, e dos vossos Padroeiros, Santos Martinho e Sebastião, assim como do Santo Protector da vossa Pátria, Irmão Klaus de Flüe, concedo-vos de coração, bem como às vossas famílias, aos vossos amigos e a todos aqueles que vieram a Roma por ocasião deste juramento, a Bênção Apostólica.
Sexta-feira, 7 de Maio de 2004
Senhor Embaixador
1. É com imensa alegria que recebo as Cartas Credenciais que o acreditam como novo Representante da Ucrânia junto da Santa Sé. Nesta feliz ocasião, é-me grato transmitir-lhe a minha saudação e manifestar-lhe as mais cordiais boas-vindas.
Gostei das amáveis palavras que o Senhor Embaixador acaba de me dirigir, e peço-lhe que se faça intérprete, junto do Presidente da Ucrânia, Sua Excelência o Senhor Leonid Danilovic Kucma, da minha gratidão pela saudação especial que ele desejou comunicar-me por intermédio da sua pessoa. Retribuo de bom grado os seus sentimentos com os mais ardorosos votos pela excelsa missão de primeiro Cidadão da querida Nação ucraniana, à qual quero transmitir o meu afectuoso e benévolo pensamento.
2. O povo ucraniano, pelas tradições e pela cultura que o caracterizam, sente-se justamente parte da Europa e deseja estabelecer uma relação mais intensa com as outras Nações do Continente, conservando as características políticas e culturais que o distinguem.
A Santa Sé julga que estas aspirações legítimas merecem ser atentamente consideradas, porque são úteis para o projecto de colaboração europeia. Inserida na encruzilhada do Oriente e do Ocidente, a Ucrânia poderá desempenhar melhor a sua missão de encontro entre diferentes povos e culturas, se mantiver intacta a sua fisionomia peculiar. Continuando a trabalhar alacremente nos campos espiritual, social, político e económico, poderá tornar-se um significativo laboratório de diálogo, de desenvolvimento e de cooperação com todos e por todos.
Contudo, para alcançar esta finalidade, é necessário que todos os filhos da Terra ucraniana, cada qual em conformidade com as suas próprias responsabilidade e competência, se dediquem com generosidade clarividente na busca do bem comum. Isto exige que os representantes do povo, os administradores públicos, os homens de cultura e os operadores no sector da economia saibam colocar as suas capacidades, de maneira abnegada, ao serviço do progresso genuíno da pátria, prestando atenção especial aos pobres, aos jovens em busca de trabalho e às crianças, também às que se encontram em gestação no seio materno.
No contexto das suas possibilidades e no pleno respeito do campo de acção legítimo que cabe às autoridades civis, a Igreja católica não deixará de contribuir para a edificação de uma nação próspera e pacífica.
3. Senhor Embaixador, ao recebê-lo no dia de hoje, vou com a mente à visita que a Providência me concedeu realizar há três anos à Ucrânia, terra de encontro entre povos de diferentes culturas e tradições. Como esquecer Kiev, as suas cúpulas de ouro, os seus maravilhosos jardins, a sua população laboriosa e aberta, e Lviv, cidade de insignes monumentos, tão ricos de memórias cristãs, imbuída de hospitalidade genuína e amável?
Desde quando, há mais de mil anos, às margens do Dniepre, o lavacro do Baptismo inseriu os povos da Ucrânia na grande família dos discípulos de Cristo, essa terra conheceu um acentuado desenvolvimento da sua identidade cultural e espiritual. O Evangelho plasmou a sua vida, a sua cultura e as suas instituições, motivo pelo qual hoje é enorme a responsabilidade da Ucrânia na compreensão, na salvaguarda e na promoção da sua herança cristã, característica distintiva do País, que nem sequer a funesta ditadura do comunismo conseguiu lesar profundamente.
É de bom grado que a Igreja quer defender esta identidade. Como Vossa Excelência recordou oportunamente, o Governo promove uma política de liberdade religiosa, tornando possível o cumprimento da sua missão por parte das Comunidades eclesiais. Neste contexto de boa vontade, é desejável que se chegue quanto antes a uma definição jurídica das Igrejas, num plano de igualdade efectiva para todas elas e, ao mesmo tempo, que se encontre um entendimento honroso sobre o ensino religioso e sobre o reconhecimento governamental da teologia como disciplina universitária. Além disso, formulam-se votos a fim de que sejam estipulados acordos satisfatórios no âmbito mais delicado da restituição dos bens eclesiásticos, confiscados durante a ditadura comunista.
4. Quando penso na situação religiosa do querido Povo ucraniano, não posso deixar de observar que os discípulos de Cristo infelizmente ainda estão separados, e nota-se isto com uma certa tristeza a respeito do conjunto da Comunidade ucraniana. Porém, está em acto um diálogo ecuménico, que fomenta entendimentos cada vez mais profundos, no respeito recíproco e na busca constante da unidade desejada pelo próprio Cristo. Que este diálogo sincero e clarividente tenha continuidade e, além disso, seja intensificado graças à contribuição de todos!
Quanto à Igreja católica que está na Ucrânia, desde a independência do país até hoje, ela conheceu uma promissora primavera de esperança e, em todos os seus componentes, é animada pela aspiração de chegar à unidade plena com todos os cristãos.
Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência se prepara para assumir a sua alta função, apraz-me confirmar-lhe que aqui no Vaticano, junto dos meus colaboradores, poderá encontrar sempre as mentes e os corações dispostos a garantir-lhe toda a assistência e apoio, a fim de que Vossa Excelência possa desempenhar da melhor forma a missão que agora lhe é confiada. Quanto a mim, enquanto formulo votos do íntimo do coração para que se reforcem cada vez mais, também graças à sua contribuição pessoal, os já sólidos vínculos que unem o país representado pelo Senhor Embaixador e a Santa Sé, invoco sobre a sua pessoa, as Autoridades governamentais e todo o povo ucraniano, que me é particularmente querido, as abundantes bênçãos divinas.
7 de Maio de 2004
Eminências
Excelências
Caros Irmãos e Irmãs em Cristo
Tenho o prazer de vos saudar, membros da Fundação Papal, durante a vossa visita anual a Roma, e de vos dar as boas-vindas com as palavras que o nosso Salvador dirigiu aos seus discípulos, depois da sua Ressurreição dentre os mortos: "A paz esteja convosco!" (Jn 20,19).
Estou-vos enormemente grato a todos, pela vossa ajuda constante no meu ministério pastoral ao serviço da Igreja universal. Com efeito, a vossa dedicação à Fundação Papal, através da oferta generosa do vosso tempo, talento e tesouro, constitui um exemplo concreto do vosso amor e do vosso compromisso em prol da Igreja e do Sucessor de Pedro.
Ao regressardes ao vosso país, confio todos vós à protecção da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, enquanto vos concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica, a cada um de vós e às vossas famílias, como penhor de alegria e de paz no Senhor ressuscitado.
8 de Maio de 2004
Senhor Presidente
Excelências
1. É com afecto que vos saúdo, Embaixadores acreditados junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, no momento da vossa visita ao Vaticano, enquanto agradeço ao Embaixador Omolewa os amáveis sentimentos que me desejou expressar. Faço votos para que a vossa visita à Cidade Eterna vos enriqueça e renove os vossos esforços em ordem a proteger e promover o autêntico progresso educativo, científico e cultural.
O desenvolvimento da sociedade humana está directamente relacionado com o progresso da cultura. Na realidade, a cultura é um modo específico de os homens "viverem" e "serem" e, ao mesmo tempo, forma um vínculo que determina a índole singular da existência social do homem. Com efeito, os homens levam uma vida verdadeiramente humana em virtude da cultura, que tem nas artes e nas ciências uma das suas expressões mais importantes.
2. A Igreja foi sempre amiga das artes e das ciências. Na verdade, a herança artística mundial constitui um tesouro de criatividade humana; ela oferece um testemunho eloquente da inteligência dos homens, que participam na obra do Criador divino. A Igreja interpelou sempre as belas artes, para a ajudarem a celebrar o dom da vida, e sobretudo os seus ritos sagrados, de maneira autenticamente digna, justa e bela.
Agindo desta forma, ela ajudou a desenvolver um incomparável património de música, de arte e de literatura, que representa uma contribuição significativa para o progresso da cultura. Além disso, a Igreja encorajou o desenvolvimento das ciências, especialmente no contexto da sua promoção da dignidade e do valor da vida humana.
3. Este compromisso expressou-se de maneira concreta através da criação de numerosas instituições, como a Pontifícia Academia das Ciências, que recentemente celebrou o IV centenário de fundação; a Pontifícia Academia das Ciências Sociais; e a Pontifícia Academia para a Vida.
Infelizmente, nestes tempos de dificuldade, observamos com frequência que o nosso progresso está ameaçado pelos flagelos da guerra, da pobreza, do racismo e da exploração do próximo. Estas influências nefastas não apenas pesam sobre a nossa existência humana, mas limitam igualmente a nossa capacidade de construir um mundo melhor.
4. Rezo a fim de que as Organizações como a UNESCO continuem a constituir um elemento essencial para a edificação de uma cultura autêntica, fundamentada sobre a paz, a justiça e a igualdade.
Enquanto vos formulo os melhores votos para o cumprimento da vossa missão, invoco sobre vós e todos os vossos colegas a abundância das Bênçãos divinas.
Terça-feira, 11 de Maio de 2004
Senhor Cardeal
Estimados Irmãos no Episcopado
Queridos Directores Nacionais
das Pontifícias Obras Missionárias!
1. É com especial prazer que vos apresento as minhas "boas-vindas" à casa de Pedro, aqui no Vaticano, depois de outro ano de serviço missionário desempenhado nas vossas Igrejas espalhadas em todo o mundo. Sinto-me muito feliz por me encontrar convosco, porque vós sois, de maneira particular, os "artífices incansáveis da misericórdia de Deus e da sua paz" (cf. Audiência geral de quarta-feira, 14 de Abril de 2004).
Saúdo cordialmente e agradeço ao Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, as palavras que me dirigiu em nome de todos vós.
2. Queridos Irmãos, nos tempos agitados que a humanidade está a viver, as Pontifícias Obras Missionárias, que estão ao serviço das Igrejas no mundo, representam uma referência certa para quantos procuram a verdade que salva. Com efeito, é a eles que vós anunciais Cristo, indicais o Caminho pelo qual alcançar a salvação.
Vós ofereceis uma mensagem de amor e de esperança. Com a animação missionária que realizais em cumprimento da ordem de Cristo, Salvador de todos os homens, colaborais para levar a "Boa Nova" até aos confins do mundo. Com efeito, Cristo, o Vivente, continua a oferecer a todos, sem distinção, a sua mensagem de salvação.
3. A esperança, da qual sois arautos, nasce da morte e ressurreição de Cristo. Por isso, deveis ter uma consideração especial por aqueles povos do mundo onde o sofrimento é maior e a necessidade mais aguda: as populações do chamado Terceiro Mundo. O vosso compromisso está ao lado dos missionários do Evangelho, que anunciam a solidariedade e o amor e se sacrificam pela paz, chegando por vezes até ao dom da vida por "amor de Cristo que os constrange" (2Co 5,14).
Por conseguinte, vós sois os Cireneus que ajudam o Salvador a carregar a sua Cruz em cada pessoa que sofre e que morre. Sois, concretamente, os autênticos missionários num mundo já globalizado, no qual o sofrimento pela Verdade e pela Justiça ultrapassa todos os confins nacionais.
Quando vos angustiais devido aos sofrimentos de outros povos e trabalhais para aliviar a sua grande necessidade de socorro, trabalhais também para ajudar os vossos próprios povos a sair dos apertos do egoísmo, do sufocamento da abundância, da vacuidade e de comportamentos, por vezes indignos dos seres humanos. Não se trata simplesmente, como escrevia o meu venerado Predecessor o Papa Pio XII, de dar esmolas, mas de cumprir um dever ínsito na nossa identidade cristã, o de ajudar quem se encontra em necessidade.
Por conseguinte, sois anunciadores da Ressurreição e da Vida, como os vossos Fundadores e Fundadoras. Compete-vos anunciar Cristo ressuscitado, juntamente com toda a Igreja. Com o apóstolo João, também vós podeis dizer: O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida... dela damos testemunho (1Jn 1,1). Com efeito, quando com fé sincera meditais as palavras de Cristo e trabalhais no seu espírito, sabeis que se aplicam a vós as suas palavras: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes (Mt 25,40).
4. Conforta-me saber que estais a tomar providências em relação à actualização dos vossos Estatutos. Isto manifesta a vontade de continuar a cumprir a vossa missão de "misericórdia e de paz" cada vez mais e melhor. O Espírito do Senhor ressuscitado vos mostre, como aos Apóstolos, a sua vontade na opção de novos caminhos de cooperação na missão para levar a Verdade, a Justiça e a Paz segundo o Evangelho a todos os homens do nosso tempo.
A finalidade da Assembleia Geral do vosso Conselho Superior mais não é do que a busca das veredas do Senhor para uma renovada missão no mundo em mudança contínua. Sois impelidos pelo desejo de levar amor e misericórdia a todas as pessoas que são nossos irmãos e irmãs na única família humana. Por conseguinte, exorto-vos a colaborar, como já fazeis, com a Congregação para a Evangelização dos Povos, para uma busca contínua de novos caminhos para o Evangelho.
A animação e a cooperação missionária são, em última análise, a razão de ser da vossa existência e a única finalidade da vossa incansável solicitude por todas as Igrejas (2Co 11,28), em vista da salvação do mundo.
5. Com esta consciência dirijo-vos os meus votos mais cordiais por um compromisso sempre generoso, mesmo entre dificuldades de todos os tipos. Tenho a certeza de que "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as amarguras dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de quantos sofrem" também são os vossos (cf. Gaudium et spes, GS 1). De facto, isto é a consequência do viver no amor do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação! Ele nos consola em toda a nossa tribulação" (2Co 1,3-4).
A Bênção Apostólica, que vos concedo de coração, seja penhor deste conforto divino.
13 de Maio de 2004
Caríssimos Irmãos
1. Já passou um ano depois da grande festa da Beatificação do Fundador, Pe. Giacomo Alberoni. É com alegria que hoje vos acolho, a vós que sois filhos espirituais, reunidos para o Capítulo Geral da Sociedade de São Paulo. Saúdo-vos e agradeço-vos os cordiais sentimentos, de que se fez amável intérprete o vosso novo Superior-Geral, Pe. Sílvio Sassi, a quem transmito os meus votos de bom trabalho. Através de vós, gostaria de comunicar o meu pensamento a todos os vossos irmãos espalhados em muitas nações do mundo.
2. É significativo o tema da Assembleia capitular: "Ser São Paulo hoje vivo. Uma Congregação que se orienta para o futuro". Nestas palavras encontra-se inteiramente Dom Alberione: a sua veneração pelo Apóstolo Paulo, o seu optimismo evangélico, a sua "mística do apostolado", inspirada completamente na meditação dos escritos paulinos. Há cinquenta anos, ele anotava: "A Família paulina deve ser São Paulo hoje vivo, em conformidade com a pensamento do Mestre divino; laboriosa, sob o olhar e com a graça de Maria "Regina Apostolorum" (Boletim "San Paolo", Julho-Agosto de 1954). Daqui, a exigência de o imitar, como ele escrevia aos cristãos de Corinto: "Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo" (1 Cor 11, 1). Por conseguinte, o tema que escolhestes convida-vos a recomeçar a partir de Cristo e de São Paulo.
3. Mas como é que isto se pode realizar? É novamente o Beato Dom Alberione que vo-lo indica: trata-se de conhecer melhor o Apóstolo, imitar melhor as suas virtudes, implorá-lo e amá-lo. Cada nova geração de Paulinos deve, num certo sentido, redescobrir São Paulo: "Conhecer o Apostolus Christi, o Magister gentium, o Minister Ecclesiae, o Vas electionis, o Praedicator evangelii, o Martyr Christi". É necessário empenhar-se a fim de imitar São paulo com amor filial, para serdes por ele "formados": "Ut nosmetipsos formam daremus vobis" (2Th 3,9), como recordava o Apóstolo aos Tessalonicenses. Justamente, observa o vosso Fundador, é necessário nutrir por ele uma confiança especial na oração, fundamentada sobre a consciência de ser seus filhos: "Os filhos recebem a vida do pai; por isso, (devem) viver nele, dele e para ele, para viver Jesus Cristo" (Boletim "San Paolo", Outubro de 1954).
4. Daquela fidelidade ao carisma depende o futuro da vossa Congregação. Comprometei-vos em vista de unir sempre, à necessária competência profissional, a busca constante da santidade. Sede em primeiro lugar homens de oração e testemunhas jubilosas de uma fidelidade indefectível a Cristo. Que por detrás de cada projecto esteja Ele, o Mestre divino, para quem deve convergir toda a acção apostólica e missionária num campo, como o das comunicações sociais, tão importante para a nova evangelização. Com esta orientação interior, em plena fidelidade à Igreja e aos seus Pastores, podereis realizar um aprofundado trabalho de actualização da preciosa herança espiritual, doutrinal e apostólica que o vosso Fundador vos deixou.
5. Impelidos pelo seu exemplo, perguntai-vos sempre: o que é que faria São Paulo, se se encontrasse a viver nos dias de hoje? É o próprio Dom Alberione que vos responde: "Se São Paulo vivesse hoje, continuaria a arder com aquela dúplice chama... o zelo por Deus e o seu Cristo, e pelos homens de todos os países. E para ser ouvido, subiria aos púlpitos mais elevados e multiplicaria a sua palavra com os instrumentos do progresso actual: imprensa, cinema, rádio e televisão" (Boletim "San Paolo", Outubro de 1954).
Caríssimos, eis no que consiste o vosso comprometedor programa apostólico. Se o levardes a cabo com fidelidade constante ao espírito originário do vosso Instituto, oferecereis uma contribuição preciosa à missão da Igreja no terceiro milénio.
Deixai-vos orientar e acompanhar por Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos. Asseguro-vos uma recordação particular na oração e, de coração, abençoo-vos a vós e a todos os vossos irmãos.
Quinta-feira, 13 de Maio de 2004
Senhor Presidente
Estou feliz por receber Vossa Excelência e por lhe transmitir, assim como a toda a Delegação que o está a acompanhar, as minhas mais cordiais boas-vindas.
Formulo fervorosos bons votos pela sua pessoa e pelo cumprimento da sua alta missão, enquanto conservo na memória a feliz recordação da minha visita apostólica ao Senegal. Peço ao Altíssimo que sustente os esforços de todas as pessoas que se comprometeram na edificação de uma sociedade construída sobre a justiça e sobre a paz, no respeito dos valores e das tradições religiosas que são próprias de cada um, respeito este que contribui para a unidade nacional, assim como para a manutenção da concórdia e a promoção da fraternidade entre todos os membros da sociedade em geral.
Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, sobre o povo do Senegal e sobre todos os seus dirigentes, invoco a abundância das Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.
Sexta-feira, 14 de Maio de 2004
Estimados Irmãos Bispos
1. "Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos a vida juntamente com Cristo" (Ep 2,4-5). É com estas palavras de São Paulo que vos dou as boas-vindas, Bispos da Igreja que peregrina na Califórnia, Nevada e Havaí, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Dando continuidade à minha reflexão sobre o munus sanctificandi dos Bispos, desejo considerar o chamamento a uma profunda conversão do coração e da mente, essencial para um novo ímpeto na vida cristã, para o qual eu tenho convidado toda a Igreja. Estou persuadido de que o compromisso na purificação permanente e na profunda renovação suscitará um maior apreço pela missão santificadora da Igreja, enquanto fomentará o seu testemunho profético junto da sociedade norte-americana e do mundo inteiro.
2. Cada um dos membros da Igreja é um peregrino ao longo do caminho da santificação pessoal. Através do baptismo, o fiel entra na santidade do próprio Deus, enquanto é incorporado em Cristo e transformado na morada do seu Espírito. Contudo, a santidade não é apenas uma dádiva. Ela é também uma tarefa intrínseca e essencial para o discipulado, que forja toda a vida cristã (cf. Novo millennio ineunte NM 30). Impelida pelo ensinamento explícito do Senhor "esta é a vontade de Deus: a vossa santificação" (1Th 4,3) a comunidade dos fiéis justamente cresce na consciência de que é a santidade que expressa da melhor forma o mistério da Igreja (cf. Novo millennio ineunte NM 7), e que desperta o desejo de dar "um testemunho surpreendente" (Lumen gentium, LG 39).
Como Bispos, vós deveis ocupar um lugar na linha de vanguarda nesta peregrinação espiritual da santificação. O vosso ministério episcopal de serviço eclesial, caracterizado pela vossa busca pessoal de santidade e pela vossa vocação de santificar os outros, constitui uma participação no ministério do próprio Jesus, enquanto tem em vista a edificação da sua Igreja. Ele exige um estilo de vida que rejeite de maneira inequívoca qualquer tentação à ostentação, ao carreirismo ou ao recurso a modelos seculares de liderança e, pelo contrário, requer que vós deis testemunho da "kenosis" de Jesus Cristo na caridade pastoral, na humildade e na simplicidade de vida (cf. Código de Direito Canónico, cân. CIC 387; Ecclesia in America ). Caminhando na presença do Senhor, haveis de crescer numa santidade a ser vivida com e pelos vossos sacerdotes e pelo vosso povo, incutindo-lhes o desejo de abraçar os altos padrões de vida cristã e orientado-os na esteira de Cristo.
3. A credibilidade da proclamação da Boa Nova por parte da Igreja está intimamente vinculada ao compromisso dos seus membros na santificação pessoal. A Igreja tem sempre necessidade de purificação e, deste modo, ela deve seguir constantemente o caminho da penitência e da renovação (cf. Lumen gentium, LG 8). A vontade do Pai, de que todos os fiéis sejam santificados, é amplificada pela exortação fundamental do Filho: "Arrependei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1,15). Da mesma forma que Pedro, orgulhosamente, fez ressoar este imperativo no Pentecostes (cf. Act Ac 2,38), também vós tendes a responsabilidade de anunciar a vocação querigmática à conversão e à penitência, proclamando a misericórdia incondicional de Deus e convidando todos os homens a viver a experiência da vocação à reconciliação e à esperança, no coração do Evangelho (cf. Pastores gregis ).
A coragem de enfrentar a crise da perda do sentido do pecado, para a qual chamei a atenção de toda a Igreja no início do meu Pontificado (cf. Reconciliatio et paenitentia RP 18), deve ser assumida nos dias de hoje com particular urgência. Enquanto os efeitos do pecado abundam avareza, desonestidade e corrupção, ruptura dos relacionamentos, exploração das pessoas, pornografia e violência o reconhecimento da pecaminosidade do mundo tem definhado. No seu lugar, tem sobressaído uma inquietadora cultura da vergonha e do espírito litigioso, que fala mais de vingança do que de justiça enquanto, ao mesmo tempo, deixa de reconhecer o facto de que em cada homem e mulher existe uma ferida que, à luz da fé, nós denominamos como pecado original (cf. ibid., n. 2).
São João diz-nos: "Se dissermos que não temos pecado em nós, estamos a engarnar-nos a nós mesmos" (1Jn 1,8). O pecado é uma parte integral da verdade acerca da pessoa humana. Reconhecer-se como pecador é o passo primário e essencial para voltar ao amor purificador de Deus. Considerando esta realidade, o dever do Bispo de indicar a presença triste e destruidora do pecado, tanto nos indivíduos como nas comunidades, constitui efectivamente um serviço de esperança. Longe de ser algo negativo, ele fortalece os fiéis a fim de que abandonem o mal e abracem a perfeição do amor e a plenitude da vida cristã. Anunciemos orgulhosamente que, com efeito, nós não constituímos a soma total da nossa debilidade e dos nossos fracassos! Nós constituímos a soma do amor do Pai por nós, e somos capazes de nos tornarmos imagem do seu Filho!
4. A paz e a harmonia duradouras, tão longamente aspiradas pelos indivíduos, pelas famílias e pela sociedade em geral, só podem ser conquistadas através da conversão, que é o fruto da misericórdia e um elemento constitutivo da reconciliação autêntica. Como Bispos, vós tendes a difícil e contudo satisfatória tarefa de promover a verdadeira compreensão cristã da reconciliação. Talvez não haja uma história que explique melhor o profundo drama da metánoia, do que a parábola do Filho Pródigo, que noutras circunstâncias tive a oportunidade de comentar prolongadamente (cf. Dives in misericordia DM 5-6). O filho pródigo é, num certo sentido, cada um dos homens e cada uma das mulheres. Todos nós podemos ser enganados pela tentação de nos separarmos do Pai e, desta maneira, padecer a perda da dignidade, a humilhação e a vergonha mas, do mesmo modo, também todos nós podemos ter a coragem de voltar para o Pai, que nos abraça com um amor que, transcendendo até mesmo a justiça, se manifesta como misericórdia.
Cristo, que revela a copiosa misericórdia de Deus, exige a mesma coisa de nós, mesmo quando nos devemos confrontar com um pecado grave. Com efeito, a misericórdia "constitui o conteúdo fundamental da mensagem messiânica de Jesus Cristo e o poder constitutivo da sua missão" (Ibid., n. 6) e, desta maneira, nunca pode ser deixada de lado em nome do pragmatismo. É precisamente a fidelidade do pai ao amor misericordioso, que lhe é próprio como pai, que o leva a restabelecer o relacionamento amoroso do seu filho, que "estava perdido e foi encontrado" (Lc 15,32). Como pastores do vosso rebanho, é com este amor misericordioso que jamais é um simples sentido de favor que também vós deveis "debruçar-vos sobre todos os filhos pródigos, sobre qualquer miséria humana e, especialmente, sobre toda a miséria moral e sobre o pecado" (Dives in misericordia DM 6). Desta forma, haveis de tirar o bem do mal, restabelecer a vida da morte e revelar de novo o aspecto autêntico da misericórdia do Pai, tão necessária nos nossos dias.
5. Queridos Irmãos, desejo encorajar-vos particularmente na promoção do Sacramento da Penitência. Como instrumento divinamente instituído, através do qual a Igreja oferece a actividade pastoral da reconciliação, ele é "o único modo ordinário pelo qual os fiéis se podem reconciliar com Deus e com a Igreja" (Catecismo da Igreja Católica, CEC 1484). Embora não se possa negar que o profundo poder deste Sacramento é, hoje em dia, considerado com indiferença, é também verdade que, de modo especial os jovens, dão testemunho imediato das graças e dos benefícios transformadores que dele derivam. Fortalecido por esta mensagem encorajadora, dirijo novamente a vós e aos vossos presbíteros um apelo directo: armai-vos de maior confiança, criatividade e perseverança na apresentação deste Sacramento, orientando o povo para a valorização do mesmo (cf. Novo millennio ineunte NM 37). O tempo que transcorreis no confessionário é dedicado ao serviço do património espiritual da Igreja e à salvação das almas (cf. Reconciliatio et paenitentia RP 29).
Como Bispos, é de particular importância que recorrais com frequência ao Sacramento da Reconciliação, a fim de obter o dom daquela misericórdia, da qual vós mesmos vos tornastes ministros (cf. Pastores gregis ). Dado que vós sois chamados a manifestar o rosto do Bom Pastor e, por conseguinte, a ter o coração do próprio Cristo, vós mais do que os outros tendes o dever de fazer vosso o brado ardente do Salmista: "Oh, Deus, criai-me um coração puro, ponde em mim um espírito firme" (51, 12). Santificado pelas graças recebidas na vossa recepção regular do Sacramento, estou convicto de que encorajareis os vossos irmãos sacerdotes e, na realidade, todos os fiéis leigos, a descobrir de novo a beleza completa deste Sacramento.
6. É com afecto que compartilho estas reflexões convosco e que vos asseguro as minhas orações, enquanto procurais fazer com que a missão reconciliadora da Igreja seja cada vez mais valorizada e reconhecida no interior das comunidades eclesial e civil.
A mensagem de esperança que vós proclamais a um mundo, muitas vezes cheio de pecaminosidade e de divisão, não deixará de evocar um renovado vigor e um novo zelo para a vida cristã! É com estes sentimentos que vos confio a Maria, a Mãe de Jesus, em quem se realiza a reconciliação de Deus com a humanidade. Concedo-vos agora a minha Bênção Apostólica, a vós e aos vossos sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e fiéis leigos das vossas dioceses.
DIscursos João Paulo II 2004