DIscursos João Paulo II 2004

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DA PROVÍNCIAS ECLESIÁSTICAS


DE LOUISVILLE, MOBILE E NOVA ORLEÃES (E.U.A.)


EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Sábado, 4 de Dezembro de 2004




Queridos Irmãos Bispos

1. Por ocasião da vossa quinquenal visita ad limina Apostolorum, dirijo-vos as minhas calorosas saudações de boas-vindas, Bispos provenientes das Províncias Eclesiásticas de Louisville, Mobile e Nova Orleães. Enquanto damos continuidade às nossas reflexões sobre o ministério do governo confiado aos sucessores dos Apóstolos, hoje eu gostaria de considerar alguns aspectos específicos do nosso relacionamento com os fiéis leigos.

Em primeiro lugar, desejo expressar o meu profundo apreço pela contribuição preeminente que os leigos ofereceram, e continuam a oferecer, para o crescimento e a expansão da Igreja no vosso país, uma contribuição de que dei o meu testemunho pessoal e que também pude admirar durante as minhas visitas aos Estados Unidos da América. Estou persuadido de que, dado que "a renovação da Igreja na América não será possível sem a presença activa dos leigos" (Ecclesia in America ), uma parte essencial do vosso governo pastoral deve consistir em orientá-los e ajudá-los nos seus esforços por ser fermento do Evangelho no mundo.

2. Como o Concílio Vaticano II afirmou claramente, por sua própria natureza o exercício do munus regendi episcopal exige o reconhecimento da contribuição e dos carismas dos fiéis leigos e do papel que lhes é próprio na edificação da unidade da Igreja, no cumprimento da sua missão no mundo (cf. Lumen gentium LG 30-31). Cada Bispo é chamado a reconhecer o "papel essencial e insubstituível" dos leigos na missão da Igreja (cf. Christifideles laici, CL 7) e a torná-los capazes de cumprir o seu próprio apostolado, "guiados pela luz do Evangelho e pelo pensamento da Igreja, e impelidos pela caridade cristã" (Apostolicam actuositatem AA 7).

No vosso ministério de governo, vós devíeis considerar como uma clara prioridade pastoral, ajudar os fiéis leigos a compreender e a aceitar o munus regale que receberam através da sua incorporação baptismal em Cristo. Como afirma a tradição da Igreja, este ofício real expressa-se em primeiro lugar naquela "liberdade real" que torna os fiéis leigos capazes de superar o reino do pecado nas suas próprias existências e, "servindo a Cristo também nos outros... [e conduzindo] pela humildade e a paciência os seus irmãos àquele Rei para quem servir é reinar" (Lumen gentium LG 36). Contudo, os fiéis leigos exercem este ofício real de maneira específica através dos seus esforços, em ordem a difundir o Reino de Deus mediante as suas actividades seculares, de tal forma que "o mundo se impregne do espírito de Cristo e atinja o seu fim na justiça, na caridade e na paz" (Ibidem).

3. Por este motivo, os leigos e as leigas devem ser encorajados, mediante uma catequese sólida e a formação permanente, a reconhecer a dignidade e a missão específicas que receberam no Baptismo e a assumir nas suas actividades quotidianas uma abordagem integrada da vida, que possa haurir a sua inspiração e fortaleza do Evangelho (cf. Christifideles laici CL 34). Isto significa que os leigos devem ser formados para poderem assim distinguir claramente entre os seus direitos e deveres como membros da Igreja, e os direitos e deveres que têm como membros da sociedade humana, e inclusivamente encorajados a unir ambos de maneira harmoniosa, reconhecendo que "em toda a ocupação temporal devem orientar-se sempre pela consciência cristã, pois nenhuma actividade humana, nem sequer na ordem temporal, pode subtrair-se ao império de Deus" (Lumen gentium LG 36).

Uma confirmação clarividente e autorizada destes princípios fundamentais do apostolado dos leigos ajudará a superar os sérios problemas pastorais, levantados por uma crescente incapacidade de compreender a responsabilidade obrigatória própria da Igreja, de recordar aos fiéis o seu dever de consciência, de agir em conformidade com o seu ensinamento autorizado. Há uma urgente necessidade de uma catequese compreensiva do apostolado dos leigos, que saliente necessariamente a importância de uma consciência formada de maneira apropriada, a relação intrínseca existente entre a liberdade e a verdade moral, e também o dever que incumbe sobre cada cristão, de trabalhar para renovar e aperfeiçoar a ordem temporal, em conformidade com os valores do Reino de Deus. Enquanto respeita plenamente a separação legítima entre a Igreja e o Estado na vida norte-americana, esta catequese deve esclarecer também o facto de que para o fiel cristão não pode existir qualquer separação entre a fé que se deve acreditar e depois pôr em prática (cf. Lumen gentium LG 25), e o compromisso numa participação integral e responsável na vida profissional, política e cultural.

Considerando a importância de tais questões para a vida e a missão da Igreja no vosso país, gostaria de encorajar-vos a ter em consideração a aplicação dos princípios doutrinais e morais subjacentes ao apostolado dos leigos, como um elemento essencial do vosso ministério de mestres e pastores da Igreja que peregrina nos Estados Unidos da América. Convido-vos também a discernir, em sintonia com os membros do laicado que sobressaem pela sua fidelidade, conhecimento e prudência, os modos mais eficazes de promover a catequese e a reflexão clarividente deste importante campo do ensinamento social da Igreja.

4. Naturalmente, um apreço do talento e do apostolado dos leigos levará a um maior compromisso na promoção entre os próprios leigos, de um sentido de responsabilidade compartilhada pela vida e a missão da Igreja. Ressaltando a necessidade de uma teologia e de uma espiritualidade de comunhão e de missão em vista da renovação da vida eclesial, evidenciei a importância de "assumir aquela antiga sabedoria que, sem prejudicar em nada o papel categorizado dos Pastores, procurava incentivá-los à mais ampla escuta de todo o povo de Deus" (Novo millennio ineunte NM 45). Sem dúvida, isto implicará um esforço consciente da parte de cada um dos Bispos, em ordem a desenvolver, no seio da sua Igreja particular, estruturas de comunhão e de participação que tornem possível sem provocar qualquer prejuízo à sua responsabilidade pessoal que ele é chamado a assumir em virtude da sua autoridade apostólica "ouvir o Espírito que vive e fala por meio dos fiéis" (cf. Pastores gregis ). E, ainda mais importante, é que isto exige a presença, em todos os aspectos da vida eclesial, de um espírito de comunhão arraigado no sensus fidei sobrenatural e na rica variedade dos carismas e das missões que o Espírito Santo oferece a todo o conjunto dos baptizados, para os edificar na unidade e na fidelidade à Palavra de Deus (cf. Lumen gentium LG 12). A compreensão da cooperação e da responsabilidade compartilhada, firmemente arraigada nos princípios de uma eclesiologia sadia, garantirá uma colaboração autêntica e fecunda entre os Pastores da Igreja e os fiéis leigos, sem o perigo de que esta relação seja alterada pela aceitação acrítica das categorias e das estruturas da vida secular.

5. Dilectos Irmãos, com espírito de profunda gratidão e estima, confiemos ao Senhor todos os fiéis leigos das vossas Igrejas particulares: os jovens, que são a esperança do futuro e que também agora são chamados a constituir o fermento de vida e de renovação na Igreja e na sociedade norte-americana; os casais, que se esforçam por reflectir em si mesmos e nas respectivas famílias o mistério do amor de Cristo pela Igreja; e os inúmeros homens e mulheres, que lutam todos os dias em vista de levar a luz do Evangelho aos seus próprios lares, aos lugares de trabalho e a toda a vida da sociedade. Que eles sejam testemunhas cada vez mais credíveis da fé que nos reconciliou com Deus (cf. Rm Rm 5,1), do amor que há-de transfigurar o mundo e da esperança de "uns novos céus e uma nova terra, onde habite [para sempre] a justiça" (2P 3,13)!

Com estes sentimentos e com o meu afecto fraterno, invoco sobre vós e sobre os fiéis confiados à vossa solicitude pastoral, a protecção amorosa de Maria, Mãe da Igreja. Concedo a todos vós, do íntimo do coração, a minha Bênção Apostólica, como penhor de alegria e de paz no Senhor.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO


DA FUNDAÇÃO "CENTESIMUS ANNUS


PRO PONTIFICE"


4 de Dezembro de 2004


Senhor Cardeal

1. Por ocasião do Congresso anual da Fundação Vaticana "Centesimus Annus Pro Pontifice", tenho o prazer de lhe dirigir, assim como aos demais Associados, a minha cordial saudação, com um pensamento particular ao Presidente, o Conde Lorenzo Rossi de Montelera.

Foi com alegria que tomei conhecimento de que a Fundação, à distância de pouco mais de dez anos desde a sua instituição, começa a difundir-se também no âmbito das dioceses de diversas nações, recolhendo sempre novas adesões. Exorto-vos a dar continuidade ao compromisso empreendido, e a procurar manter sempre um estreito relacionamento com os Pastores das Igrejas locais.

2. A finalidade da Fundação consiste em unir a ajuda concreta às actividades do Papa e da Santa Sé à dedicação pela difusão do ensinamento da Igreja a respeito das importantes questões sociais, que os cristãos são chamados a enfrentar à luz e com a força do Evangelho de Jesus, o grande revelador da verdade de Deus sobre o homem.

No corrente ano, a reflexão concentrou-se muito oportunamente no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, recentemente publicado sob os cuidados do Pontifício Conselho "Justiça e Paz". Com efeito, o texto constitui um instrumento actualizado para o conhecimento da doutrina social católica, que ao longo dos tempos conheceu significativos aprofundamentos em resposta aos problemas complicados de uma sociedade mundial em desenvolvimento rápido e complexo.

Ainda há muito a fazer, para que a contribuição extremamente rica do ensinamento eclesial se torne um critério coerente de juízo e uma força inspiradora invicta da acção social dos cristãos. Às vezes tem-se a impressão de que a doutrina social da Igreja é mais evocada do que conhecida, e que é considerada mais como um simples horizonte de valores talvez demasiado grandes e nobres, para que possam ser concretos neste mundo do que um exigente critério de juízo e de acção.

3. Portanto, é muito importante ter em vista fazer conhecer a doutrina social da Igreja de modo específico, motivado e completo, também para evitar que se privilegie um ou outro aspecto, em conformidade com a sensibilidade e as orientações pré-fabricadas, acabando por perder a sua consideração unitária e por recorrer à mesma de maneira instrumental.

Além disso, é necessário educar as pessoas para promover esta doutrina como um ponto de referência estimulador das responsabilidades familiares, profissionais e civis, assumindo-as como um critério compartilhado de opções e de acções pessoais e comunitárias, em continuidade com os bonitos testemunhos oferecidos, especialmente a partir da Rerum novarum em diante, de cristãos humildes e grandes, que viveram a paixão pela causa do homem à luz do Evangelho.

De qualquer forma, é fundamental que se acolha a doutrina social como um elemento caracterizador da espiritualidade do fiel leigo. A este propósito, o "Compêndio" recorda oportunamente que a espiritualidade laical "se encontra tanto no espiritualismo intimista, como no activismo social e sabe expressar-se numa síntese vital que confere unidade, significado e esperança à existência que, por muitos e diversificados motivos, é contraditória e fragmentária" (n. 545).

4. Por conseguinte, exorto os Associados a fazer todos os esforços por que a Fundação concorra para a consecução destas finalidades, em plena sintonia com as indicações estatutárias recentemente renovadas, depois da experiência da primeira década.

As grandes problemáticas que angustiam e suscitam a humanidade a nível mundial, num contexto cada vez mais "global" e "interdependente", devem ser enfrentadas com uma visão límpida do homem e também da sua vocação pessoal e social, tendo como fundamento comum a lei natural.

Não obstante, como no-lo recorda o Catecismo da Igreja Católica, "os preceitos da lei natural não são por todos recebidos de maneira clara e imediata. Na situação actual, a graça e a Revelação são necessárias ao homem pecador, para que as verdades religiosas e morais possam ser conhecidas "por todos e sem dificuldade, com firme certeza e sem mistura de erro" (Concílio Vaticano I, Constituição Dei Filius, 2)" (n. 1960).

5. A doutrina social da Igreja ilumina com a luz da Revelação os valores constituintes de uma convivência humana ordenada e solidária, poupando-lhes obscurecimentos e ambiguidades. Assim, abertos à acção da graça de Deus, os cristãos leigos constituem o instrumento vivo para que aqueles valores possam chegar a permear eficazmente a história.

Portanto, ao manifestar-vos uma vez mais a minha estima tanto pela actividade formativa e cultural dos Associados, como pelo generoso apoio que oferecem ao Papa, para que ele possa melhor corresponder às numerosas necessidades que, quotidianamente, suscitam a sua solicitude pastoral em favor de todas as Igrejas, é de todo o coração que lhe concedo, venerado Irmão, assim como a cada um deles, a minha especial Bênção Apostólica que, de bom grado, faço extensiva a todos os vossos entes queridos.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR ALGIRDAS SAUDARGAS


NOVO EMBAIXADOR DA LITUÂNIA


JUNTO DA SANTA SÉ


6 de Dezembro de 2004


Senhor Embaixador!

1. É para mim motivo de grande alegria receber as Cartas com as quais a República da Lituânia o acredita como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Seja bem-vindo!
Desejo em primeiro lugar manifestar-lhe o meu apreço pelas palavras com que se fez intermediário dos sentimentos da Nação, que agora Vossa Excelência aqui representa. Acolho com gratidão e consideração as expressões que, através da sua pessoa, o Senhor Presidente da República me dirige em nome também do Povo Lituano.

Peço-lhe, Senhor Embaixador, que se digne transmitir o meu pensamento constante e cordial às Autoridades do seu País, que tive a alegria de visitar em Setembro de 1993. Acrescento a certeza de uma recordação quotidiana na oração para todos os lituanos, aos quais me ligam vínculos culturais e espirituais.

2. A sua presença, Senhor Embaixador, evoca no meu coração recordações indeléveis dos numerosos contactos tidos com o Povo lituano do qual, como Vossa Excelência realçou, a Sé Apostólica não cessou de seguir as vicissitudes ao longo da sua longa e atormentada história.
Faz parte da missão do Sucessor de Pedro apoiar os crentes de todas as partes do mundo e, ao mesmo tempo, recordar constantemente aqueles valores universais sobre os quais é possível construir uma sociedade justa e solidária. Amparada pela secular convicção de que a lei moral universal constitui um caminho certo para a convivência civil, a Santa Sé nunca se cansa de defender os direitos dos povos de se apresentarem no cenário da história com as próprias peculiaridades, no respeito das legítimas liberdades de cada um.

3. No debate cultural e social, que actualmente investe a sua Pátria, sei que emerge a necessidade de realçar as raízes cristãs, das quais o tecido popular hauriu a linfa vital ao longo dos séculos.

Desejo renovar os votos por que os Representantes dos cidadãos lituanos, continuando a inspirar-se no nobre património de ideais humanos e evangélicos que distingue a história da Nação, se comprometam sinceramente por construir uma sociedade livre sobre fundamentos éticos e morais sólidos. Nesta perspectiva, exorto os católicos, que formam uma grande parte da população, a colaborar com todas as pessoas de boa vontade para evitar que também a sociedade lituana seja fortemente influenciada pelo modelo secularista e hedonista da vida e pelas suas falazes seduções.

Conscientes de não se poderem contentar com combater as consequências do mal, os crentes estão dispostos a caminhar lado a lado com todos os que, através de uma oportuna legislação e equilibrados estilos de comportamento, favorecem a defesa da família e da vida, desde a sua concepção até ao seu fim natural.

4. Permita-me também que lhe manifeste o meu profundo prazer pela concretizada inserção do País, que Vossa Excelência aqui representa, no concerto das Nações da Europa Unida. Queira Deus que este Continente saiba encontrar os modos e os caminhos para construir a paz e a prosperidade num clima de proveitosa colaboração, no respeito das culturas e dos direitos legítimos de todos, perseguindo como objectivos o bem das pessoas e de toda a Europa, do Atlântico aos Urales.

Ao renovar-lhe fervorosos votos pela alta missão que o País lhe confia, desejo garantir-lhe a plena, leal e cordial colaboração de quantos me coadjuvam no cumprimento das tarefas próprias da Sé Apostólica. Poderá encontrar junto dos meus colaboradores parceiros atentos no que se refere às questões bilaterais e, mais em geral, à consecução do bem comum na Comunidade internacional.
A Sé Apostólica, que já assinou alguns acordos com a Lituânia sobre matérias de interesse comum, considera o método do diálogo cordial e leal a via-mestra para superar qualquer eventual dificuldade que possa surgir nas relações recíprocas.

Ao formular fervorosos votos para o nobre serviço que hoje começa, concedo de bom grado a Vossa Excelência, a quantos colaborarão consigo e às pessoas queridas a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR PABLO MORÁN VAL


NOVO EMBAIXADOR DO PERU JUNTO DA SANTA SÉ


POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO


DAS CARTAS CREDENCIAIS


7 de Dezembro de 2004




Senhor Embaixador

1. É para mim um prazer receber Vossa Excelência neste acto solene no qual me apresenta as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Peru junto da Santa Sé. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu e peço-lhe que transmita ao Ex.mo Sr. Alejandro Toledo Manrique, Presidente da República, a minha gratidão pela saudação enviada e à qual se une o amado povo peruano, que muito aprecio e correspondo invocando sobre eles todos os bens.

2. A sua presença evidencia as relações tradicionais com a Santa Sé, instauradas pelo Peru já desde 1877. É desejável que, animados pelo espírito de colaboração leal em favor da sociedade, se continue sempre num clima de amizade e de respeito, tratando-se de uma Nação cuja Constituição começa invocando Deus todo-poderoso e reconhece o vínculo estreito de colaboração do Estado com a Igreja.

A vida religiosa no Peru, animada pela acção dos Bispos, dos sacerdotes, seus colaboradores, concretizada nas diversas comunidades e movimentos, nos centros de culto, assistenciais, educativos e de promoção humana e social, é um sinal muito evidente de como a vitalidade da fé pode continuar a apoiar os esforços envidados por um nobre povo que trabalha pelo progresso sem pôr de lado as raízes autênticas da sua identidade cristã.

A fé católica, professada pela grande maioria do povo do seu País, suscita, pelo seu dinamismo, um comportamento individual e social de amplo alcance, favorecendo, quando não existe separação entre fé e vida, uma existência sem incoerências nem rupturas, deixando de lado a tentação do recurso à violência, ao egoísmo ou à corrupção, porque a Igreja, fiel à sua missão, oferece as suas orientações para enfrentar os desafios éticos contemporâneos.

3. A realidade vivida pela sua Nação, assim como por grande parte do Continente ibero-americano, apresenta graves desafios que é preciso enfrentar com magnanimidade e critério recto.

Há poucos meses os Bispos do Peru reiteravam a sua urgente chamada "à paz, à concórdia e ao entendimento...; uma chamada à esperança, a construir o Peru, a procurar a ordem social, a defender o estado de direito e a constitucionalidade". Se é importante defender os valores cívicos, não devemos esquecer que serão mais respeitados quando se baseiam nos valores éticos e morais da honestidade, da solidariedade efectiva, de maneira que se possam corrigir as injustas desigualdades sociais e os individualismos pessoais e sociais que dificultam a realização plena do bem comum.

4. São conhecidos os esforços realizados pelas autoridades para melhorar as condições de vida dos sectores menos favorecidos da sociedade, procurando oferecer oportunidades de trabalho digno, serviços médicos e habitação decorosa, porque infelizmente a pobreza continua a marcar a existência de milhares dos seus concidadãos. A satisfação das necessidades básicas dos mais desfavorecidos e excluídos deve ser considerada uma prioridade fundamental, visto que as rápidas transformações da economia internacional levaram muitos deles a uma situação quase de desespero. Perante isto, a Igreja, mãe e mestra, fiel à sua missão acompanha de perto tantas famílias e pessoas que vivem hoje as consequências desumananizantes desta circunstância. Este é um dos campos em que a colaboração entre as diversas instituições públicas e a comunidade eclesial encontra um terreno fértil para dar assistência e ajudar os pobres.

5. O Peru encontra-se também comprometido num processo para fortalecer as instituições nacionais, e também os projectos de integração regional. Neste sentido é desejável que não sejam excluídas das medidas do Governo a defesa da vida humana e a instituição familiar, hoje tão ameaçada em muitas partes devido a um conceito errado de modernidade ou de liberdade, pois a família, configurada segundo a ordem natural estabelecida pelo Criador, está na base insubstituível do desenvolvimento harmonioso de uma nação.

6. Desejaria dirigir também uma palavra de proximidade e conforto à numerosa comunidade peruana que emigrou para outros países, cuja presença na Europa é notável. A distância da pátria é devida, na maior parte dos casos, ao desejo de encontrar melhores condições de vida. Sem dúvida, devem sentir-se comprometidos a contribuir para o País que os viu nascer e que continua sempre a considerá-los seus filhos não obstante a distância.

A Igreja não se limita a recordar o princípio ético fundamental de que "os emigrantes devem ser tratados sempre com o respeito à dignidade de todas as pessoas humanas" (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2001, 13), mas coloca em acção todos os seus recursos para os assistir da melhor maneira possível. De facto, com muita frequência, os templos e outras instituições católicas são para eles o principal ponto de referência para se reunirem, celebrar as suas festas, mantendo viva a sua identidade pátria, e onde podem encontrar um apoio válido, e muitas vezes o único, para defender os seus direitos ou resolver situações difíceis.

7. Senhor Embaixador, neste momento desejo formular-lhe os melhores votos para o desempenho da sua missão junto da Sé Apostólica. Peço-lhe que transmita ao povo peruano a certeza da minha oração pelo seu progresso integral, recordando as palavras que pronunciei ao chegar ao Aeroporto de Lima na minha primeira viagem apostólica: "Os 500 anos de evangelização destas terras são uma exigência de construção de um homem latino-americano e peruano mais firme na sua fé, mais justo, mais solidário, mais respeitador dos direitos do próximo ao defender e reivindicar o próprio, mais cristão e mais humano" (Discurso, 1 de Fevereiro de 1985, n. 2). Peço a Deus que o assista na missão que hoje inicia e invoco todas as bênçãos celestes sobre Vossa Excelência, sobre a sua distinta família, os seus colaboradores, assim como sobre os governantes e cidadãos do Peru.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO RECEBER O «PRÉMIO ERICE


ETTORE MENTANA CIÊNCIA PARA A PAZ»


Terça-feira, 7 Dezembro de 2004


Ilustres Senhores
Gentis Senhoras

1. É com profunda cordialidade que vos recebo neste encontro, que reveste um elevado valor simbólico. Obrigado pela vossa presença qualificada. Quero saudar cada um de vós, ilustres membros da comunidade científica internacional.

Saúdo as autoridades e os representantes das instituições públicas. Cumprimento de modo particular o Professor Antonino Zichichi e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em nome de todos.

2. No dia de hoje recebo das vossas mãos o "Prémio Erice "Ettore Majorana" Ciência para a Paz". Agradeço o presente generoso, que destinarei a bolsas de estudo para estudantes necessitados do Terceiro Mundo.

O Prémio está ligado à memória do célebre físico italiano, que contribuiu notavelmente para o desenvolvimento da física nuclear teórica. A ele foi dedicado o Centro Internacional de Cultura Científica, fundado pelo Professor Antonino Zichichi há mais de quarenta anos, em Erice, na Sicília, e que com o transcorrer do tempo se tornou um significativo "cenáculo" de actividades culturais que abarcam vários campos do saber moderno.

Noutras ocasiões, tive a oportunidade de apreciar o trabalho que ali se realiza e congratulo-me pelos resultados alcançados.

3. Possa o esforço conjunto levado a cabo pela comunidade científica internacional, pelas instituições públicas e por todas as pessoas de boa vontade, assegurar à humanidade um futuro de esperança e de paz. Deus torne fecundo este compromisso da parte de todos; ajude, de modo particular, os fiéis que se dedicam à investigação científica a oferecer um testemunho evangélico clarividente e a favorecer o diálogo entre a ciência e a fé.

Confio estes meus votos à intercessão materna de Maria enquanto, do íntimo do coração, abençoo todos vós aqui presentes, as pessoas que vos são queridas e todos aqueles que frequentam o Centro "Ettore Majorana" de Erice.



HOMENAGEM FLOREAL DO SANTO PADRE

À VIRGEM IMACULADA NA "PIAZZA DI SPAGNA"

ORAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2004




Virgem Imaculada!
Mais uma vez viemos aqui para te honrar,
aos pés desta coluna,
da qual tu vigias com amor
sobre Roma e sobre o mundo inteiro,
desde quando, há cento e cinquenta anos,
o beato Pio IX proclamou,
como verdade da fé católica,
a tua preservação de qualquer mancha de pecado,
em previsão da morte e ressurreição
do teu Filho Jesus Cristo.

Virgem Imaculada!
A tua intacta beleza espiritual
é para nós fonte viva de confiança e de esperança.
Ter-te como Mãe, Virgem Santa,
tranquiliza-nos no caminho da vida
como penhor de salvação eterna.
Por isso a ti, ó Maria,
recorremos confiantes.
Ajuda-nos a construir um mundo
onde a vida do homem seja sempre amada
e defendida, eliminada qualquer forma de violência
a paz seja por todos tenazmente procurada.

Virgem Imaculada!
Neste Ano da Eucaristia,
concede-nos celebrar e adorar
com fé renovada e amor fervoroso
o santo mistério do Corpo e Sangue de Cristo.
Na tua escola, ó Mulher eucarística,
ensina-nos a fazer o memorial
das obras maravilhosas que Deus
não cessa de realizar no coração dos homens.
Com solicitude materna, Virgem Maria,
guia sempre os nossos passos
pelos caminhos do bem. Amém!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA VIII REGIÃO


DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL


DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2004

Queridos Irmãos Bispos


1. Neste último encontro com os Pastores da Igreja que se encontra nos Estados Unidos da América, e que estão a realizar a sua quinquenal visita ad limina Apostolorum, dou-vos as cordiais boas-vindas, Bispos oriundos de Minnesota, Dakota do Norte e Dakota do Sul.

Ao longo do corrente ano, pude empreender convosco e com os demais Bispos, uma série de reflexões acerca do tríplice ministério de ensinar, de santificar e de governar, confiado aos sucessores dos Apóstolos. Mediante a consideração dos dons espirituais e da missão apostólica, recebidos através da Ordenação episcopal, em que cada um dos Bispos é configurado de maneira sacramental com Jesus Cristo, Cabeça e Sumo Pastor da sua Igreja (cf. 1P 5,4), procurámos aprofundar o nosso apreço pelo mistério da Igreja, Corpo místico de Jesus Cristo, animado pelo Espírito Santo e constantemente edificado na unidade, através de uma rica diversidade de dons, de ministérios e de obras (cf. 1Cor 1Co 12,4-6 cf. também Lumen gentium LG 7).

2. Durante estes últimos oito meses, foi-me concedida a oportunidade de me encontrar com todos os Bispos norte-americanos e, através deles, de ouvir a voz viva da Igreja que peregrina nos Estados Unidos da América. E isto constituiu para mim um manancial de grande conforto e um convite a dar graças ao Deus Uno e Trino, pela colheita abundante que a sua Graça continua a produzir nas vossas Igrejas particulares. Ao mesmo tempo, tive o ensejo de compartilhar o profundo sofrimento que vós e o vosso povo experimentastes ao longo dos últimos anos, e pude experimentar a vossa determinação ao enfrentardes com justiça e prontidão as graves problemáticas pastorais que delas derivaram. No cumprimento do meu ministério de Sucessor de Pedro, desejei confirmar cada um de vós na fé (cf. Lc Lc 22,32) e encorajar-vos no esforço em vista de ser sentinelas vigilantes, profetas audaciosos, testemunhas credíveis e servos fiéis de Deus (cf. Pastores gregis ). Desde o início dos nossos encontros, desejei sublinhar o facto de que o vosso dever de edificar a Igreja em comunhão e missão deve, necessariamente, começar a partir da vossa própria renovação espiritual, e assim encorajei-vos a ser os primeiros a indicar, por intermédio do vosso testemunho de conversão à Palavra de Deus e à obediência à tradição apostólica, o caminho real que orienta a Igreja peregrina rumo a Cristo e à plenitude do seu Reino. De modo particular, exortei-vos a adoptar um estilo de vida caracterizado por aquela pobreza evangélica, que representa a partilha das "condições necessárias para realizar... um fecundo ministério episcopal" (Pastores gregis ). Como o Concílio Vaticano II já afirmava, o próprio Senhor cumpriu a obra de redenção na pobreza e na perseguição, enquanto a sua Igreja é chamada a seguir este mesmo itinerário (cf. Lumen gentium LG 8).

3. Pois bem, no final desta série de encontros quero confiar-vos, assim como aos vossos Irmãos no Episcopado, duas tarefas. A primeira é um encorajamento fraternal a perseverar alegremente no ministério que vos foi confiado, em obediência ao ensinamento autêntico da Igreja. Como é que podemos deixar de vislumbrar no sofrimento e no escândalo destes últimos anos um "sinal dos tempos" (cf. Mt Mt 16,3), além de uma exortação providencial à conversão e a uma fidelidade mais profunda às exigências do Evangelho? Na vida de cada um dos fiéis e na existência de toda a Igreja em geral, um sincero exame de consciência e o reconhecimento da derrota são sempre acompanhados de uma renovada confiança no poder purificador da graça de Deus e de uma exortação a orientar-se rumo ao futuro (cf. Fl Ph 3,13). À sua maneira, a Igreja que se encontra nos Estados Unidos da América foi chamada a encetar o novo milénio, "recomeçando a partir de Jesus Cristo" (cf. Novo millennio ineunte NM 29) e fazendo da verdade do Evangelho a medida da sua própria vida e de todas as suas actividades.

Nesta óptica, renovo uma vez mais o meu apreço pelos vossos esforços em ordem a garantir que cada indivíduo e cada grupo na Igreja compreenda a necessidade urgente de um testemunho que seja coerente, honesto e leal à fé católica, e que todas as instituições e apostolados da Igreja consigam expressar em cada um dos aspectos da sua própria vida uma clara identidade católica. Talvez este seja o desafio mais árduo e delicado que deveis enfrentar, no vosso múnus de mestres e de Pastores da Igreja norte-americana contemporânea, mas trata-se de um desafio irrenunciável. Ao cumprirdes o vosso dever de "ensinar, exortar e corrigir com toda a autoridade" (cf. Tt Tt 2,15), sois chamados em primeiro lugar a permanecer "unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento" (1Co 1,10), trabalhando harmoniosamente em vista da proclamação do Evangelho.

4. A segunda tarefa é um apelo urgente a não perder de vista a finalidade de toda a Igreja, no alvorecer deste terceiro milénio cristão: a proclamação de Jesus Cristo, como Redentor da humanidade. Não obstante os acontecimentos destes últimos anos tenham necessariamente chamado a vossa atenção para a vida interior da vossa Igreja, não podeis de modo algum perder de vista a grande tarefa da nova evangelização e da necessidade de um "novo ímpeto apostólico" (Novo millennio ineunte NM 40). "Duc in altum!". "A Igreja que está na América deve falar cada vez mais de Jesus Cristo, rosto humano de Deus e rosto divino do homem" (Ecclesia in America ), dedicando as suas melhores energias a uma proclamação mais convincente do Evangelho, ao crescimento da santidade e a uma comunicação mais eficaz do tesouro da fé às novas gerações.

Dado que um sentido de missão clarividente produzirá, naturalmente, os frutos da unidade de intenções entre todos os membros da comunidade cristã (cf. Christifideles laici CL 32), esta abordagem missionária há-de promover, sem dúvida, a obra de reconciliação e de renovação no seio das vossas Igrejas particulares. Além disso, consolidará e promoverá o testemunho profético da Igreja na sociedade norte-americana contemporânea. A Igreja sente-se responsável por todos os seres humanos e pelo futuro da sociedade (cf. Redemptor hominis RH 15), e esta responsabilidade incumbe de maneira particular sobre os fiéis leigos, cuja vocação consiste em ser o fermento do Evangelho no meio do mundo. Tendo em vista os desafios que a Igreja nos Estados Unidos da América deve enfrentar nos dias de hoje, observamos imediatamente duas tarefas urgentes: a necessidade de uma evangelização da cultura em geral que, como pude afirmar, constitui uma contribuição singular, que actualmente a Igreja no vosso País pode oferecer à missão ad gentes, e a necessidade de que os católicos colaborem de maneira fecunda com os homens e as mulheres de boa vontade, na edificação de uma cultura de respeito pela vida (cf. Evangelium vitae EV 95).

5. Dilectos Irmãos, dou graças a Deus pelas copiosas bênçãos que Ele concedeu durante esta série de encontros do Sucessor de Pedro com os Bispos norte-americanos. Chegando ao coração da Igreja e tendo sido confirmados na comunhão com a Cátedra da unidade, faço votos por que agora possais regressar às vossas Igrejas particulares com um renovado entusiasmo pelo vosso múnus de ensinar, de santificar e de governar os rebanhos que foram confiados à vossa solicitude. Suportando "o cansaço do dia e o seu calor" (cf. Mt Mt 20,12) ao serviço do Evangelho, que vós possais ter sempre a certeza de que, em cada passo da vossa peregrinação terrestre, a Igreja "encontra força no poder do Senhor ressuscitado para vencer, na paciência e na caridade, as suas próprias aflições e dificuldades interiores e exteriores, e para revelar ao mundo, com fidelidade embora entre sombras, o mistério de Cristo, até que no fim [dos tempos] Ele se manifeste na luz total" (Lumen gentium LG 8).

Os nossos encontros encerram-se, oportunamente, durante a semana em que a Igreja está a celebrar o sesquicentenário da definição do dogma da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, Padroeira da Igreja nos Estados Unidos da América. Enquanto oferecemos ao Senhor os frutos destas visitas e imploramos as suas bênçãos sobre a comunidade católica que vive na América, dirijamos o nosso olhar para Nossa Senhora que, com as palavras do Concílio, permanece como um "membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como seu protótipo e modelo acabado da mesma na fé e na caridade" (Ibid., n. 53). Que Maria Imaculada guie cada um de vós ao longo da peregrinação até à plenitude do Reino e oriente o vosso olhar rumo à visão gloriosa da criação redimida e transformada pela graça! Que Ela, Mãe da Igreja, assista os seus filhos "que sucumbiram e que, todavia, lutam para se levantar de novo", a alegrar-se com as maravilhas que o Senhor já realizou (cf. Lc Lc 1,49) e sejam testemunhas fiéis diante do mundo da esperança, que nunca nos poderá enganar (cf. Rm Rm 5,5).

É com grande afecto que invoco sobre todos vós, do íntimo do coração, a minha Bênção Apostólica.




DIscursos João Paulo II 2004