Judite (CNB) 1
1 1 Era o ano doze do reinado de Nabucodonosor, que reinou sobre os assírios em Nínive, a grande cidade, nos dias de Arfaxad, rei dos medos em Ecbátana. 2 Arfaxad construiu em Ecbátana, ao redor da cidade, muralhas de pedras lavradas com a largura de três côvados e o comprimento de seis; elevou a altura da muralha a setenta côvados e alargou-a até cinqüenta. 3 Nas portas, levantou torres de cem côvados, com a largura de sessenta côvados na base. 4 Quanto às portas, fez que subissem à altura de setenta côvados, com a largura de quarenta, para a saída do exército dos seus guerreiros e para as evoluções da sua infantaria.
5 Naqueles dias, o rei Nabucodonosor saiu em guerra contra Arfaxad numa grande planície, isto é, a planície do território de Ragau. 6 Concentraram-se para a batalha todos os habitantes das montanhas e os do Eufrates, do Tigre e do Hidaspe, e ainda os que habitavam as planícies de Arioc, rei dos elimeus. Assim, numerosas nações reuniram-se para a guerra contra os caldeus. 7 Nabucodonosor, rei dos assírios, enviou mensageiros a todos os habitantes da Pérsia e aos povos do Ocidente: aos habitantes da Cilícia e de Damasco, do Líbano e do Antilíbano, bem como a todos os habitantes da costa marítima; 8 também aos que estavam nas regiões do Carmelo e de Galaad, na Galiléia superior e na grande planície de Esdrelon; 9 a todos os que se encontravam na Samaria e nas suas cidades, na Transjordânia e até Jerusalém, Batanéia, Queluz, Cades e a torrente do Egito; aos que se encontravam em Dafne, Ramsés e em toda a terra de Géssen, 10 até além de Tânis e Mênfis, e a todos os habitantes do Egito até as fronteiras da Etiópia.
11 No entanto, todos os habitantes de toda a terra desprezaram a palavra de Nabucodonosor, rei dos assírios, e não se juntaram a ele para a batalha. Não o temeram, pois ele estava quase sozinho contra eles. E mandaram de volta seus emissários de mãos vazias e com a vergonha no rosto. 12 Nabucodonosor ficou furioso contra todos esses países, e jurou por seu trono e seu reino que havia de vingar-se de todos os territórios da Cilícia, de Damasco e da Síria, e que faria perecer com a sua espada todos os habitantes de Moab e os filhos de Amon e toda a Judéia e todos os que habitavam o Egito, até os limites dos dois mares. 13 No décimo sétimo ano, ele postou-se em ordem de batalha com o seu exército contra o rei Arfaxad, venceu-o no combate e pôs em derrocada todo o exército dele, com toda a cavalaria e seus carros. 14 Apoderou-se de suas cidades e, chegando até Ecbátana, tomou suas torres e saqueou suas praças, transformando seu esplendor em opróbrio. 15 Alcançou Arfaxad nos montes de Ragau e traspassou-o com seus dardos, eliminando-o para sempre. 16 Em seguida, regressou para Nínive, ele e sua gente, uma imensa multidão de guerreiros. E ali ficou, repousando e banqueteando-se, ele com o seu exército, por cento e vinte dias.
2 1 No décimo oitavo ano, no dia vinte e dois do primeiro mês, fez-se pública a palavra de Nabucodonosor, rei dos assírios, sobre a vingança contra toda a terra, segundo o que ele tinha prometido. 2 De fato, convocou todos os seus servos e todos os seus oficiais, manifestou-lhes o seu plano secreto e decidiu, pela sua boca, a desgraça total da terra. 3 Eles foram de parecer que se devia exterminar a todos aqueles que não tinham obedecido à palavra de sua boca. 4 A seguir, terminada a reunião, Nabucodonosor, rei dos assírios, convocou Holofernes, comandante-em-chefe do seu exército, que era o segundo do reino, 5 e disse-lhe: “Assim fala o grande rei, o senhor de toda a terra: Sairás da minha presença e tomarás contigo homens seguros da sua força, até cento e vinte mil guerreiros a pé, e uma multidão de cavalos com doze mil cavaleiros. 6 Marcharás contra toda a terra ao Ocidente, porque não acreditaram na palavra de minha boca. 7 Tu lhes intimarás a me prepararem terra e água, pois vou marchar furioso contra eles, cobrindo toda a extensão da terra com os pés do meu exército e os entregarei ao saque. 8 Seus feridos encherão os seus vales, e toda torrente e rio estarão cheios, a transbordar, de seus mortos. 9 Deportarei os seus cativos para as extremidades de toda a terra. 10 Quanto a ti, vai à minha frente, ocupando todo o seu território. Se eles se renderem, tu os reservarás para o dia do seu julgamento. 11 Aos que não se submeterem, porém, teu olho não os poupará, entregando-os à matança e ao saque em todo o seu território. 12 Por minha vida e pelo poder do meu reinado: tudo o que estou dizendo eu o farei, com a minha mão. 13 Quanto a ti, não transgredirás uma só das palavras do teu senhor, mas as cumprirás sem falta, como as prescrevi, sem demorar em executá-las”.
14 Holofernes saiu da presença do seu senhor e chamou todos os chefes e generais e oficiais do exército da Assíria. 15 Recenseou os homens de elite para o combate, como lhe ordenara o seu senhor, até cento e vinte mil, mais doze mil arqueiros montados. 16 Organizou-os, como se costuma organizar um exército para a guerra. 17 Recrutou camelos, asnos e mulos em enorme quantidade, para levarem a carga, e um sem número de ovelhas, bois e cabras, para o reabastecimento. 18 Providenciou também provisões em quantidade para cada soldado, e ainda ouro e prata do palácio do rei em abundância. 19 Partiu então de Nínive, ele com o seu exército, à frente do rei Nabucodonosor, com o objetivo de cobrir toda a extensão da terra, no Ocidente, com seus carros, cavaleiros e tropas escolhidas. 20 Com ele, partiu um bando numeroso como gafanhotos e como a areia do mar, pois não se podia contá-los, tamanha era a multidão. 21 Saíram, pois, de Nínive, e caminharam três dias rumo à planície de Bectilet, junto à montanha que está à esquerda da Cilícia superior. 22 Reunindo aí todo o seu exército, tropas de infantaria, cavalaria e carros, Holofernes partiu para a região montanhosa. 23 Bateu Fut e Lud e saqueou todos os filhos de Rassis e os filhos de Ismael, que habitavam na orla do deserto, ao sul dos queleus. 24 Passou o Eufrates, atravessou a Mesopotâmia e arrasou as cidades fortificadas junto à torrente de Abrona, até chegar ao mar. 25 Ocupou os territórios da Cilícia, destroçou os que lhe resistiam e chegou até os confins de Jafet, situados ao sul, diante da Arábia. 26 Cercou todos os filhos de Madiã, queimou os seus acampamentos e devastou seus estábulos. 27 Desceu ainda à planície de Damasco nos dias da colheita do trigo e incendiou todos os seus campos; entregou seus rebanhos de ovelhas e bois ao extermínio, saqueou suas cidades, devastou suas planícies e passou todos os seus jovens ao fio da espada. 28 Provocou um medo terrível nos habitantes do litoral, que habitavam em Sídon e em Tiro, e sobre os habitantes de Sur e Oquina e todos os de Jâmnia. Também os habitantes de Azoto e de Ascalon ficaram aterrorizados.
3 1 Enviaram-lhe então mensageiros com palavras de paz: 2 “Aqui estamos na tua presença, nós, os servos de Nabucodonosor, o grande rei. Age conosco, como te parecer melhor. 3 Nossas aldeias, nosso chão, nossos campos de trigo e rebanhos de ovelhas e bois, todos os estábulos dos nossos jumentos, estão diante de ti: usa deles como achares melhor. 4 Nossas cidades e seus habitantes são teus escravos: vem ao nosso meio, como te parecer melhor”. 5 Os mensageiros chegaram à presença de Holofernes e lhe falaram nesses termos. 6 Quanto a ele, desceu para o litoral com todo o seu exército e deixou guarnições nas cidades fortificadas, delas recebendo guerreiros de elite como tropas auxiliares. 7 Acolheram-no aí, e em toda a região circunvizinha, com coroas e danças, ao som de tamborins. 8 Ele, porém, devastou-lhes todo o território e cortou-lhes os bosques sagrados, pois lhe fora concedido exterminar todos os deuses locais, a fim de que as nações adorassem unicamente a Nabucodonosor, e todas as línguas e tribos o invocassem como um deus. 9 Chegou assim diante de Esdrelon, perto de Dotaim, que se encontra em face do grande desfiladeiro da Judéia. Acamparam ante Gabaá e a cidade dos citas, e ali permaneceu cerca de um mês, para reunir todo o equipamento do seu exército.
4 1 Os israelitas que habitavam a Judéia souberam de tudo o que Holofernes, comandante-em-chefe de Nabucodonosor, rei dos assírios, fizera às nações, e de como devastara todos os seus santuários, entregando-os à destruição. 2 Ficaram extremamente atemorizados por causa dele e angustiados por Jerusalém, e pelo templo do Senhor, seu Deus. 3 Haviam voltado recentemente do seu cativeiro, e pouco fazia que todo o povo da Judéia se reunira de novo, e as alfaias e o altar e a casa de Deus tinham sido novamente consagrados, depois da sua profanação. 4 Mandaram, pois, mensageiros a todo o território da Samaria e para as aldeias, para Bet-Horon e Abelmaim, para Jericó e Cobá, para Aisor e a planície de Salém. 5 Trataram de ocupar todos os cumes das montanhas mais altas e fortificaram as aldeias que nelas se encontravam, e armazenaram provisões como preparação para a guerra, pois seus campos tinham sido ceifados havia pouco. 6 Joaquim, que era nesses dias o sumo sacerdote de Jerusalém, escreveu aos habitantes de Betúlia e de Betomestaim, que estão situadas acima da descida para Esdrelon, de fronte à planície perto de Dotaim. 7 Dizia-lhes que guardassem os acessos das montanhas, pois através deles se podia entrar na Judéia, e que era fácil impedir o avanço dos invasores, pois cada passagem era demasiado estreita para mais de dois homens. 8 Os filhos de Israel fizeram como lhes ordenara o sumo sacerdote Joaquim com os anciãos de todo o povo de Israel, que residiam em Jerusalém. 9 Todos os homens de Israel clamaram a Deus com grande veemência e se humilharam com um rigoroso jejum. 10 Eles, suas mulheres, seus filhinhos e seus jumentos, e todo estrangeiro e mercenário e escravo cingiram seus rins com panos de saco. 11 Todos os homens de Israel, e as mulheres e crianças que residiam em Jerusalém, prostraram-se diante do templo, cobriram suas cabeças de cinza e desdobraram seus mantos de penitência diante do templo do Senhor. 12 Também o altar, cobriram-no com panos de saco e clamaram ao Deus de Israel com unânime veemência, para que não entregasse seus filhinhos à pilhagem, suas mulheres como presa, as cidades da sua herança à destruição e o lugar santo à profanação e ao ultraje e à alegria das nações. 13 O Senhor ouviu as suas vozes e viu a sua aflição. Durante muitos dias o povo continuou a jejuar em toda a Judéia e Jerusalém, prostrados diante do santuário do Senhor todo-poderoso. 14 O sumo sacerdote Joaquim, e todos os sacerdotes que se conservavam diante do Senhor e os ministros do Senhor, com os rins cingidos de panos de saco, ofereciam o holocausto perpétuo, as oferendas votivas e os dons voluntários do povo. 15 Havia cinzas sobre suas tiaras e eles clamavam ao Senhor com toda a veemência, para que visitasse para seu bem toda a casa da Israel.
5 1 Anunciaram a Holofernes, comandante-em-chefe do exército de Assur, que os israelitas estavam preparando-se para a guerra: que haviam fechado os acessos das montanhas, haviam fortificado os cumes dos montes mais altos e montado obstáculos nas planícies. 2 Tomado de violento furor, ele convocou todos os chefes de Moab, os generais de Amon e todos os governadores do litoral, 3 e disse-lhes: “Informai-me, filhos de Canaã, quem é esse povo que vive nas montanhas? Que tipo de cidades habitam, e qual o efetivo do seu exército? Em que ponto está o seu poder e sua força, e quem é o rei que os governa? Quem comanda suas tropas? 4 E por que me voltaram as costas, os únicos que deixaram de vir ao meu encontro, entre todos os habitantes do Ocidente?
5 Aquior, chefe dos amonitas, respondeu-lhe: “Que o meu Senhor escute uma palavra da boca do teu servo, e te direi a verdade sobre este povo que vive nas montanhas, perto daqui: mentira alguma sairá da boca do teu servo. 6 Este povo é da descendência dos caldeus. 7 Habitaram primeiro na Mesopotâmia, porque não queriam seguir os mesmos deuses de seus pais, que estavam na terra dos caldeus. 8 Afastaram-se, pois, do caminho de seus pais e começaram a adorar o Deus do céu, a quem reconheceram como Deus. Foram, por isso, expulsos da face dos seus deuses e refugiaram-se na Mesopotâmia, onde permaneceram por muito tempo. 9 Seu Deus lhes disse para saírem da sua vida migrante e partirem para a terra de Canaã. Fixaram-se ali e se enriqueceram com ouro e prata e muitos rebanhos. 10 Em seguida, desceram para o Egito, pois a fome atingira toda a extensão da terra de Canaã. Lá permaneceram, enquanto havia alimento, e se tornaram uma grande multidão, um povo inumerável. 11 Levantaram-se então os egípcios contra eles e os oprimiram com a fabricação de tijolos, humilhando-os e tratando-os como escravos. 12 Eles, porém, clamaram a seu Deus, e este feriu toda a terra do Egito com pragas para as quais não havia remédio. Os egípcios, então, os expulsaram. 13 Deus fez secar o mar Vermelho diante deles, 14 e os conduziu pelo caminho do Sinai e de Cades-Barnê. Eles expulsaram todos os habitantes do deserto 15 e instalaram-se na terra dos amorreus, depois de exterminarem com sua força todos os habitantes de Hesebon. Depois atravessaram o Jordão e tomaram posse de toda a região das montanhas. 16 Expulsaram da sua presença os cananeus, fereseus e jebuseus, os habitantes de Siquém e os gergeseus, e aí viveram por muito tempo. 17 Enquanto não pecaram diante do seu Deus, a prosperidade estava com eles, pois com eles está um Deus que odeia a iniqüidade. 18 Mas, quando se afastaram do caminho que Ele lhes traçara, foram terrivelmente destroçados em muitas guerras, e levados em cativeiro para um país estrangeiro; o templo do seu Deus foi arrasado e suas cidades foram conquistadas pelos adversários. 19 Agora, tendo voltado para o seu Deus, retornaram da dispersão onde se encontravam espalhados, recuperaram Jerusalém, onde está seu Santuário, e reocuparam as montanhas, que tinham ficado desertas. 20 Agora, soberano senhor, se houve ignorância neste povo, a ponto de pecarem contra o seu Deus, verifiquemos se houve neles essa falta, e subamos para conquistá-los. 21 Se, porém, não houver iniqüidade nesse povo, que meu senhor passe adiante, não aconteça que os proteja o seu Senhor e Deus, e nos tornemos alvo do escárnio de toda a terra”.
22 Quando Aquior acabou de dizer essas palavras, toda a multidão que estava ao redor da tenda começou a murmurar. Os altos oficiais de Holofernes, e todos os que habitavam o litoral e Moab, falaram em matá-lo, dizendo: 23 “Não temos medo dos israelitas. Eles são um povo que não tem exército nem capacidade para uma batalha de verdade. 24 Por isso vamos lá, e eles servirão de repasto para as tuas tropas, ó soberano Holofernes!”
6 1 Cessado o tumulto dos homens que cercavam o conselho, Holofernes, comandante-em-chefe do exército de Assur, falou a Aquior diante de toda a multidão dos estrangeiros e de todos os moabitas: 2 “Quem és tu, Aquior, e esses mercenários de Efraim, para nos fazer uma profecia como a de hoje e nos dizer que a raça dos israelitas é invencível porque seu Deus os protege? Quem é deus senão Nabucodonosor, o rei de toda a terra? É este que enviará o seu poder e os riscará da face da terra, sem que seu Deus possa livrá-los. 3 Nós, os servos de Nabucodonosor, os bateremos como se fossem um só homem, e eles não resistirão ao ímpeto dos nossos cavalos. 4 Nós os esmagaremos com a cavalaria, e suas montanhas ficarão inebriadas de sangue e suas planícies se juncarão de cadáveres. A planta de seus pés não resistirá diante de nós, e eles perecerão irremediavelmente. Assim fala o rei Nabucodonosor, o senhor de toda a terra; ele falou, e suas palavras não cairão no vazio. 5 Quanto a ti, Aquior, mercenário de Amon, tu falaste essas palavras num dia infeliz. Por isso, não tornarás a ver a minha face a partir de hoje, até que eu me tenha vingado dessa gente que escapou do Egito. 6 Quando eu voltar, a espada dos meus soldados e a lança dos meus servos atravessará tuas costas e tombarás entre os feridos. 7 Meus servos te arrastarão para a região das montanhas e te deixarão numa cidade de suas encostas. 8 Ali não morrerás, até seres exterminado com eles. 9 Ora, se esperas no teu coração que eles não serão capturados, não precisas ficar com o rosto abatido! Eu falei, e nenhuma de minhas palavras ficará sem efeito”.
10 Holofernes ordenou aos servos que atendiam na sua tenda, para que prendessem Aquior e o conduzissem a Betúlia, entregando-o às mãos dos israelitas. 11 Os servos agarraram Aquior e o conduziram para fora do acampamento, para a planície. Do meio da planície subiram para a região montanhosa e chegaram às fontes logo abaixo de Betúlia. 12 Quando os avistaram, os homens da cidade empunharam suas armas e saíram para o topo da montanha: todos os que tinham funda impediram as subidas, atirando pedras sobre os assírios. 13 Tendo, pois, estes chegado ao pé da montanha, amarraram Aquior e o deixaram prostrado, em baixo, e retornaram ao seu senhor.
14 Então os israelitas, descendo de sua cidade, chegaram até onde estava Aquior. Desamarrando-o, conduziram-no até Betúlia e o apresentaram aos chefes. 15 Estes, na época, eram Ozias filho de Micá, da tribo de Simeão, Cabris filho de Gotoniel e Carmis filho de Melquiel. 16 Eles convocaram todos os anciãos da cidade, mas também os jovens, as mulheres e as crianças acorreram para a assembléia. Colocaram Aquior no meio de todos, e Ozias interrogou-o sobre o que tinha acontecido. 17 Respondendo, ele referiu as palavras do conselho de Holofernes, e o que ele próprio
havia dito no meio dos chefes dos assírios, bem como todas as vantagens que Holofernes tinha vociferado contra a casa de Israel. 18 Caindo por terra, o povo adorou a Deus e clamou: 19 “Senhor, Deus do céu, considera a soberba deles e tem piedade da humilhação do nosso povo, olhando para a face dos que neste dia te são consagrados!” 20 A seguir, consolaram Aquior e o felicitaram efusivamente. 21 Ozias levou-o da assembléia para a sua casa e fez um jantar para os anciãos. E toda aquela noite invocaram o Deus de Israel, pedindo o seu socorro.
7 1 No dia seguinte, Holofernes ordenou a todas as suas tropas, e a todo o povo que viera prestar-lhe auxílio, que ficassem de prontidão contra Betúlia, ocupassem as subidas das montanhas e atacassem os israelitas. 2 Nesse mesmo dia, todos os guerreiros se prepararam: seu exército era de cento e setenta mil soldados de infantaria e doze mil cavaleiros, sem contar a bagagem e a imensa multidão que os acompanhava a pé. 3 Acamparam no vale perto de Betúlia, junto à fonte, e se estenderam em largura desde Dotaim até Abelmaim, e em comprimento desde Betúlia até Quiamon, diante de Esdrelon. 4 Os israelitas, vendo a multidão, ficaram muito angustiados e disseram uns aos outros: “Agora eles vão raspar a face de toda a terra, e nem as altas montanhas nem os vales nem as colinas suportarão o seu peso!” 5 Tendo tomado cada um os seus instrumentos de guerra, acenderam tochas nas torres dos seus muros e permaneceram de guarda toda aquela noite. 6 No segundo dia, Holofernes fez sair toda a sua cavalaria diante dos filhos de Israel, que estavam em Betúlia, 7 e inspecionou os acessos da cidade. Andou pelas fontes das águas e ocupou-as, deixando nelas guarnições de soldados, e voltou para o meio do seu povo. 8 Todos os chefes dos filhos de Esaú e os comandantes do povo de Moab e os governadores da região costeira, aproximaram-se dele para dizer: 9 “Que o nosso soberano ouça uma palavra, a fim de que não haja um arranhão no teu exército. 10 Este povo dos filhos de Israel não confia tanto em suas lanças quanto nas alturas dos montes onde moram: pois não é fácil subir aos cumes das suas montanhas. 11 Agora, pois, ó soberano, não combatas contra eles como se faz numa batalha ordenada, e não tombará homem algum do teu povo. 12 Permanece no teu acampamento, preservando cada homem do teu exército, mas que teus servos controlem a nascente que sai da base da montanha, 13 pois é daí que tiram água todos os habitantes de Betúlia. A sede os destruirá e eles entregarão a cidade. Nós e o teu povo subiremos aos cumes dos montes vizinhos e os sitiaremos fazendo o bloqueio, de tal sorte que ninguém saia da cidade. 14 E se esgotarão de fome e sede, eles, suas mulheres e seus filhos: antes que a espada os alcance, estarão prostrados nas ruas onde moram. 15 Assim lhes darás uma paga terrível, porque se rebelaram e não vieram ao teu encontro em paz”.
16 Suas palavras agradaram a Holofernes e a todos os seus oficiais, e ele ordenou que se procedesse da forma como eles haviam proposto. 17 Então os filhos de Moab e, com eles, cinco mil assírios, moveram as tendas e acamparam no vale, ocupando os pontos de água e as fontes dos israelitas. 18 A gente de Esaú e os de Amon subiram, para acamparem na região montanhosa diante de Dotaim. Alguns dentre eles foram enviados para o sul e para o leste, diante de Egrebel, que está perto de Cus, sobre a torrente de Mocmur. O restante das tropas assírias continuaram acampados na planície e cobriam toda a superfície da terra. Suas tendas e bagagens formavam uma massa compacta, pois eram numerosíssima multidão. 19 Os israelitas clamaram ao Senhor seu Deus, pois seu ânimo diminuía, vendo-se cercados por todos esses inimigos, sem possibilidade de fugir do meio deles. 20 De fato, por trinta e quatro dias permaneceram ao redor deles todos os acampamentos da Assíria: sua infantaria e seus carros e cavaleiros.
Entretanto, para todos os habitantes de Betúlia, esgotaram-se as provisões de água. 21 Suas cisternas ficaram vazias, e não tinham mais água para beber à saciedade um único dia,?pois a água estava racionada. 22 Desfaleciam seus pequeninos, e as mulheres e os jovens, esgotados pela sede, caíam nas ruas da cidade e nas passagens das portas, sem mais força alguma. 23 Todo o povo, então, jovens, mulheres e crianças, reuniram-se em torno de Ozias e dos chefes da cidade. Clamaram em alta voz, diante de todos os anciãos: 24 “Que Deus julgue entre nós e vós! Pois cometestes uma grande iniqüidade contra nós, não querendo negociar a paz com os assírios. 25 Agora, não há ninguém para socorrer-nos, e Deus nos vendeu às mãos deles, morrendo que estamos de sede, em miséria extrema. 26 Chamai-os, pois, e entregai toda a cidade em cativeiro à gente de Holofernes e a todo o seu exército. 27 Melhor é para nós tornar-nos presa deles; seremos seus escravos e servas, mas nossa alma viverá, e não veremos a morte dos nossos pequeninos diante de nós, e nossas mulheres e filhos morrendo aos poucos. 28 Tomamos como testemunhas contra vós o céu e a terra, o Deus do universo e Senhor dos nossos antepassados, que se vinga de nós segundo os nossos pecados e os pecados de nossos antepassados, para que procedais hoje de acordo com estas palavras”. 29 E levantou-se da assembléia um pranto geral, unânime, enquanto clamavam ao Senhor com grandes brados. 30 Disse-lhes Ozias: “Coragem, irmãos! Resistamos ainda cinco dias, nos quais o Senhor nosso Deus fará vir a sua misericórdia sobre nós. Ele não irá nos abandonar até o fim. 31 Mas se esses cinco dias passarem sem que nos venha o socorro, então farei segundo o que dizeis”. 32 Em seguida dispersou o povo, cada um para o seu lugar. E eles voltaram para as muralhas e as torres da cidade, tendo antes mandado de volta as mulheres e os filhos para suas casas. O abatimento de todos era grande.

8 1 Morava na cidade, por esses dias, Judite, filha de Merari, filho de Ox, filho de José, filho de Oziel, filho de Helcias, filho de Ananias, filho de Gedeão, filho de Rafaim, filho de Aquitob, filho de Eliab, filho de Natanael, filho de Salamiel, filho de Surissadai, filho de Simeão, filho de Israel. 2 Seu marido, Manassés, era da sua tribo e da sua parentela; ele morrera nos dias da colheita da cevada. 3 Ele estava dirigindo os que amarravam os feixes no campo, e sofrera uma insolação. Tendo caído de cama, morreu em Betúlia, a sua cidade. Sepultaram-no com seus antepassados, no campo situado entre Dotaim e Balamon. 4 Judite vivia na sua casa, como viúva, havia três anos e quatro meses. 5 Fizera para si um quarto no terraço de sua casa: usava um pano de saco sobre os rins, e trajava vestidos de viúva. 6 Jejuava todos os dias da sua viuvez, exceto aos sábados e em suas vigílias, nas luas novas e nas vigílias, nas festas e nos dias de regozijo da casa da Israel. 7 Era muito bela de aspecto e formosa de rosto, prudente de coração e com bom senso, e muito honrada. Seu marido Manassés – que era filho de José, filho de Aquitob, filho de Melquis, filho de Eliab, filho de Natanael, filho de Surissadai, filho de Simeão, filho de Israel – lhe deixara ouro e prata, servos e servas, rebanhos e campos, e ela se mantinha com isso. 8 Não havia quem fizesse a seu respeito maus comentários, pois era muito temente a Deus. 9 Chegaram a seus ouvidos as palavras inconsideradas do povo contra o chefe, por estarem desesperados com a falta de água. Ela soube também de todas as palavras de Ozias, que jurara ao povo entregar a cidade aos assírios depois de cinco dias. 10 Então, por intermédio da serva que administrava os seus bens, Judite chamou Ozias, Cabriz e Carmiz, anciãos da cidade, à sua casa.
11 Quando chegaram, ela lhes disse: “Ouvi-me, chefes dos habitantes de Betúlia! Não é correta a palavra que pronunciastes ante o povo neste dia, quando firmastes um juramento, pronunciado entre Deus e vós, comprometendo-vos a entregar a cidade aos nossos inimigos, se, dentro de tantos dias, o Senhor nosso Deus não nos enviar socorro. 12 Quem sois vós, que hoje tentastes a Deus e vos pusestes no lugar de Deus em meio aos vossos irmãos? 13 Agora tentais o Senhor todo-poderoso, vós que nunca entendereis coisa alguma! 14 Pois não sois capazes de sondar a profundeza do coração humano nem de captar as razões do seu pensamento: como então perscrutaríeis a Deus, que fez todas estas coisas, conheceríeis o seu pensamento e sondaríeis o seu projeto? Absolutamente, irmãos, não provoqueis o Senhor nosso Deus! 15 Porquanto, se não quiser ajudar-nos nestes cinco dias, poder Ele tem, nos dias que quiser, para ajudar-nos ou, então, para exterminar-nos diante dos nossos inimigos. 16 Vós, porém, não exijais garantias das vontades do Senhor nosso Deus, pois Deus não é como o ser humano, para ser intimidado com ameaças, ou como alguém que possa ser julgado. 17 Por isso, aguardando a salvação de sua parte, supliquemos que venha em nosso auxílio e Ele escutará a nossa voz, se bem lhe aprouver. 18 Pois nunca houve em nossa descendência, nem há hoje tribo, ou família, ou clã, ou cidade, entre nós, que adore deuses feitos por mãos humanas, como aconteceu nos primeiros tempos. 19 Por esse motivo nossos antepassados foram entregues à espada e ao saque, e caíram miseravelmente diante de nossos inimigos. 20 Nós, porém, não reconhecemos outro Deus a não ser Ele, de quem esperamos que não nos despreze, e que não afaste de nossa raça a sua salvação. 21 De fato, se formos capturados, o mesmo acontecerá com toda a Judéia: nosso Santuário será saqueado e Deus pedirá contas dessa profanação com o nosso próprio sangue. 22 Sobre vossa cabeça, entre as nações onde formos levados como escravos, ele fará recair a morte de nossos irmãos, o cativeiro da terra e a devastação da nossa herança. Seremos alvo de escândalo e de injúria diante de todos os que nos dominarem. 23 A nossa rendição não nos garantirá o favor dos inimigos, mas em desonra a transformará o Senhor nosso Deus. 24 Portanto, irmãos, mostremos a nossos irmãos que sua vida depende de nós, e que é de nossa responsabilidade a preservação do lugar santo, da Casa \de Deus e do altar. 25 Além de tudo isso, rendamos graças ao Senhor nosso Deus, que nos põe à prova como a nossos pais. 26 Lembrai-vos de tudo o que Ele fez com Abraão e Isaac, e do que aconteceu a Jacó na Mesopotâmia da Síria, quando apascentava as ovelhas de Labão, irmão de sua mãe. 27 Pois, assim como os fez passar ao fogo, para perscrutar o seu coração, da mesma forma ele não está vingando-se de nós. É para advertir, que o Senhor flagela os que dele se aproximam”.
28 Disse-lhe então Ozias: “Tudo o que disseste, foi com bom coração que falaste e não há quem possa contradizer às tuas palavras. 29 Não é de hoje que se manifesta a tua sabedoria, mas desde a tua infância todos reconhecem teu bom senso e as boas disposições do teu coração. 30 Mas o povo está morrendo de sede e nos obrigaram a fazer assim como dissemos, comprometendo-nos por um juramento que não podemos violar. 31 Portanto, roga por nós, e talvez o Senhor nos atenda, pois és uma mulher santa. O Senhor enviará a chuva para encher nossas cisternas, e não mais desfaleceremos”.
32 Respondeu-lhes Judite: “Ouvi-me, e eu farei uma proeza que chegará aos filhos do nosso povo através das gerações. 33 Esta noite vos postareis à porta da cidade, e eu sairei com minha serva. Antes do prazo que fixastes para entregar a cidade aos inimigos, o Senhor visitará Israel pela minha mão, como eu confio. 34 Vós, porém, não procureis entender o meu plano. Não vo-lo informarei, senão depois de se completar o que vou fazer”. 35 Ozias e os chefes disseram: “Vai em paz, e o Senhor Deus esteja à tua frente para a vingança contra os nossos inimigos”. 36 Descendo, então, do aposento dela, voltaram para seus postos.
9 1 Judite prostrou-se com o rosto em terra, cobriu a cabeça com cinza, rasgou sua túnica e deixou à mostra o pano de saco com que se revestia. Era o momento em que, em Jerusalém, naquela tarde, se acabava de oferecer o incenso na Casa de Deus. Ela clamou em altos brados, dizendo: 2 “Senhor, Deus de meu pai Simeão, em cuja mão puseste uma espada para a vingança contra os estrangeiros que tinham desatado o cinto de uma virgem para manchá-la, descobrindo sua coxa para envergonhá-la e manchando seu seio para desonrá-la. Tu havias dito: ‘Isto não se faz’, mas eles fizeram. 3 Eis por que entregastes seus chefes à matança e seu leito, envergonhado pela sua fraude, a uma fraude sangrenta: feriste os servos ao lado dos poderosos, e os poderosos sobre seus tronos. 4 Entregaste suas mulheres como presa e suas filhas em cativeiro, e todos os seus despojos à partilha entre teus filhos amados. Estes, inflamados pelo teu zelo, abominaram a desonra do seu sangue e te invocaram em seu socorro. Ó Deus, meu Deus, escuta esta viúva! 5 Pois tu fizeste as coisas anteriores àquelas, e projetaste as que aconteceram depois, os fatos presentes e os do futuro, e aconteceram segundo projetaste. 6 Os acontecimentos que quiseste apresentaram-se e disseram: ‘Aqui estamos!’ Pois todos os teus caminhos estão preparados, e teu julgamento é feito de antemão. 7 Aí estão os assírios! Eles estão repletos da sua força, orgulhosos de seus cavalos e cavaleiros, e se gloriam do braço dos seus soldados de infantaria. Eles confiam nos escudos, na lança, no arco e na funda, e não reconheceram que tu és o Senhor, aquele que esmaga as guerras, 8 e que teu nome é Senhor! Quebra as forças deles, ó Deus eterno! Abate a sua plenitude com o teu poder e rebaixa a sua fortaleza com a tua ira! Pois eles quiseram profanar teu Santuário, manchar a Tenda onde repousa o Nome da tua majestade e derrubar com a espada as pontas do teu altar. 9 Olha para?a soberba deles, e descarrega a tua ira em suas cabeças! Dá força à mão desta viúva, para eu fazer aquilo que planejei. 10 Com meus lábios sedutores, fere o servo junto com o chefe e o chefe junto com o servo; esmaga sua altivez pelas mãos de uma mulher. 11 Pois a tua força não está na multidão, nem o teu poder está nos fortes, pois tu és o Deus dos humildes, o socorro dos mais pequenos, o defensor dos fracos, o protetor dos rejeitados, o salvador dos desesperados. 12 Sim, sim, ó Deus de meu pai e Deus da herança de Israel, dominador dos céus e da terra, criador das águas, rei de toda a tua criação, ouve a minha súplica! 13 Concede que a minha palavra sedutora se transforme na ferida mortal dos que planejaram maldades contra o teu testamento e a tua santa morada, a colina de Sião e a casa habitada por teus filhos. 14 E faze que todo o teu povo e todas as tribos conheçam e reconheçam que tu és o Deus de todo o poder e de toda a força, e que não há outro defensor da raça de Israel senão tu!”
Judite (CNB) 1