Discursos João Paulo II 2000 150

150 "Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).
No auge da Paixão, Cristo não esquece o homem, especialmente não esquece aqueles que são a causa directa do seu sofrimento. Ele sabe que, mais do que qualquer outra coisa, o homem precisa de amor; precisa da misericórdia que naquele momento se está derramando sobre o mundo.

"Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23,43).
Jesus responde assim ao pedido que Lhe fez o malfeitor crucificado à sua direita: "Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no teu reino" (Lc 23,42).
A promessa duma nova vida: eis o primeiro fruto da paixão e morte iminente de Cristo. Uma palavra de esperança para o homem.

Ao pé da cruz, estava a Mãe e, junto dela, o discípulo, João evangelista. Jesus diz: "Mulher, eis aí o teu filho"; e ao discípulo: "Eis aí a tua mãe" (Jn 19,26-27).
"E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-A em sua casa" (Jn 19,27).
É o testamento para as pessoas que o coração d'Ele mais estima.
O testamento para a Igreja.
Quando está para morrer, Jesus quer que o amor materno de Maria abrace a todos aqueles por quem Ele oferece a vida, ou seja, a humanidade inteira.

Logo em seguida, Jesus exclama: "Tenho sede" (Jn 19,28). Frase que traduz a secura terrível que abrasa todo o seu corpo.
151 É a única palavra que fala directamente do seu sofrimento físico.

Depois Jesus acrescenta: "Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?" (
Mt 27,46 cf. Sal 21/22, Ps 2). Ele está rezando com as palavras do Salmo. A frase, não obstante o seu teor, mostra a sua profunda união com o Pai.
Nos últimos momentos da sua vida sobre a terra, Jesus dirige o pensamento para o Pai. Doravante o diálogo desenrolar-se-á apenas entre o Filho que morre e o Pai que aceita o seu sacrifício de amor.

Ao chegar a hora nona, Jesus exclama: "Tudo está consumado" (Jn 19,30).
A obra da redenção foi levada a termo.
A missão, que O trouxe à terra, atingiu o seu objectivo.

O resto pertence ao Pai:
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23,46).
Dito isto, expirou.

"O véu do templo rasgou-se em dois..." (Mt 27,51).
O "Santo dos Santos" no templo de Jerusalém abre-se no momento em que entra lá o Sacerdote da Nova e Eterna Aliança.


ORAÇÃO


152 Senhor Jesus Cristo,
Vós que na hora da agonia
não ficastes indiferente à sorte do homem
mas juntamente com o vosso último respiro
confiastes amorosamente à misericórdia do Pai
os homens e mulheres de todos os tempos
com as suas fraquezas e os seus pecados,
enchei-nos a nós e às gerações futuras
do vosso Espírito de amor,
para que a nossa indiferença não inutilize em nós
os frutos da vossa morte.
153 Jesus crucificado, sabedoria e força de Deus, a Vós
honra e glória pelos séculos sem fim.
R. Amen.

Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
154 et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Vidit suum dulcem Natum
morientem desolatum
dum emisit spiritum.



DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO

JESUS É DESCIDO DA CRUZ E ENTREGUE A SUA MÃE

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.

R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

O quam tristis et afflicta
Fuit illa benedicta
Mater Unigeniti.

Repuseram nas mãos da Mãe o corpo sem vida do Filho. Os Evangelhos não falam do que Ela sentiu naquele momento.
155 Parece até que os Evangelhos, com o seu silêncio, quiseram respeitar a sua dor, os seus sentimentos, as suas recordações. Ou, simplesmente, não se consideraram capazes de os exprimir.
Apenas a devoção plurissecular nos conservou a imagem da "Pietà", gravando assim na memória do povo cristão a expressão mais dolorosa daquele inefável vínculo de amor que desabrochou no coração da Mãe no dia da anunciação
e foi amadurecendo enquanto esperava o nascimento do divino Filho.
Aquele amor manifestou-se na gruta de Belém,
foi posto à prova já durante a apresentação no Templo,
ganhou profundidade com os sucessivos acontecimentos, guardados e meditados no seu coração (cf. Lc
Lc 2,51).
Agora, este vínculo íntimo de amor deve transformar-se numa união que supera os confins da vida e da morte.

E assim será até ao fim dos séculos:
as pessoas detêm-se diante da "Pietà" de Miguel Ângelo,
ajoelham em frente da imagem da Benfeitora Aflita (Smtna Dobrodziejka), na igreja dos franciscanos de Cracóvia,
diante da Mãe das Sete Dores, Padroeira da Eslováquia,
156 veneram Nossa Senhora das Dores em tantos santuários do mundo.
Eles aprendem assim aquele amor difícil que não foge diante do sofrimento, mas abandona-se confiadamente à ternura de Deus, para Quem nada é impossível (cf. Lc
Lc 1,37).


ORAÇÃO


Salve, Regina, Mater misericordiae;
vita, dulcedo et spes nostra, salve.
Ad te clamamus...
illos tuos misericordes oculos ad nos converte
et Iesum, benedictum fructum ventris tui,
nobis post hoc exilium ostende.
Alcançai-nos a graça da fé, da esperança e da caridade,
para que, como Vós, também nós
saibamos perseverar junto da cruz
157 até ao último respiro.
Ao vosso Filho, Jesus, nosso Salvador,
com o Pai e o Espírito Santo,
toda a honra e glória pelos séculos dos séculos.
R. Amen.

Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
158 et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Fac me vere tecum flere,
Crucifixo condolere,
donec ego vixero.

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO

O CORPO DE JESUS É SEPULTADO

V. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.

R. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

"Foi crucificado, morto e sepultado..."
O corpo sem vida de Cristo foi depositado no sepulcro. Mas, a pedra sepulcral não é o sigilo definitivo da sua obra.
159 A última palavra não pertence à falsidade, ao ódio e à prepotência.
A última palavra será pronunciada pelo Amor, que é mais forte do que a morte.

"Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (
Jn 12,24).
O sepulcro é a última etapa deste morrer de Cristo ao longo de toda a sua vida terrena; é sinal do seu supremo sacrifício por nós e pela nossa salvação.

Bem depressa, este sepulcro tornar-se-á o primeiro anúncio de louvor e exaltação do Filho de Deus na glória do Pai.
"Foi crucificado, morto e sepultado, (...) ao terceiro dia ressuscitou dos mortos".

Com a deposição do corpo sem vida de Jesus no sepulcro, aos pés do Gólgota, a Igreja começa a vigília de Sábado Santo.
Maria guarda no fundo do seu coração e medita a paixão do Filho;
as mulheres põem-se de acordo para, na manhã a seguir do sábado, irem ungir com aromas o corpo de Cristo;
os discípulos recolhem-se, no esconderijo do Cenáculo, até que passe o sábado.

Esta vigília terminará com o encontro no sepulcro,
160 o sepulcro vazio do Salvador.
Então o sepulcro, testemunha muda da ressurreição, falará.
A pedra rolada, o interior vazio, as ligaduras por terra,
eis o que verá João, quando chegar ao sepulcro juntamente com Pedro:
"Viu e acreditou" (
Jn 20,8).
E com ele acreditou a Igreja,
que, desde então, não se cansa de transmitir ao mundo esta verdade fundamental da sua fé:
"Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram" (1Co 15,20).

O sepulcro vazio é sinal da vitória definitiva
da verdade sobre a mentira,
do bem sobre o mal,
161 da misericórdia sobre o pecado,
da vida sobre a morte.
O sepulcro vazio é sinal da esperança que "não nos deixa confundidos" (
Rm 5,5).
"A nossa esperança está cheia de imortalidade" (cf. Sab Sg 3,4).


ORAÇÃO


Senhor Jesus Cristo,
que o Pai conduziu, pela força do Espírito Santo,
das trevas da morte
à luz duma vida nova na glória,
fazei que o sinal do sepulcro vazio
nos fale a nós e às gerações futuras
e se torne fonte de fé viva,
162 de caridade generosa
e de esperança inabalável.
Jesus, presença escondida e vitoriosa na história do mundo, a Vós
honra e glória para sempre.
R. Amen.

Todos:
Pater noster, qui es in caelis;
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
163 et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Quando corpus morietur,
fac ut animae donetur
paradisi gloria. Ame.





O Santo Padre fala aos presentes.

No final do discurso, o Santo Padre dá a Bênção Apostólica:

V. Dominus vobiscum.
R. Et cum spiritu tuo.

164 V. Sit nomen Domini benedictum.
R. Ex hoc nunc et usque in saeculum.

V. Adiutorium nostrum in nomine Domini.
R. Qui fecit caelum et terram.

V. Benedicat vos omnipotens Deus,
Pater X et Filius X et Spiritus X Sanctus.
R. Amen


ALOCUÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO FINAL DA VIA-SACRA NO COLISEU

Sexta-feira Santa, 21 de Abril de 2000



1. «Não tinha o Messias de sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?» (Lc 24,26).

Estas palavras de Jesus aos dois discípulos, que iam a caminho de Emaús, acorrem ao nosso pensamento no final da Via-Sacra no Coliseu. É que também eles, como nós, tinham ouvido falar do que sucedera a Jesus com a sua paixão e crucifixão. Quando percorriam a estrada de regresso à sua terra, Cristo aproxima-Se como um peregrino desconhecido, e eles se apressam por contar-Lhe «tudo o que se refere a Jesus de Nazaré, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo» (Lc 24,19), acrescentando que os sumos sacerdotes e os chefes do povo O tinham entregue para que fosse condenado à morte, acabando por ser crucificado (cf. Lc Lc 24,20-21). E, tristes, concluem: «Nós esperávamos que fosse Ele quem viria libertar Israel; mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia depois que se deram estes factos» (Lc 24,21).

«Nós esperávamos...». Os discípulos sentem-se decepcionados e abatidos. É difícil, também para nós, compreender porque é que o caminho da salvação tinha de passar através do sofrimento e da morte.

165 2. «Não tinha o Messias de sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?» (Lc 24,26). Deixemo-nos interpelar por esta pergunta no final da habitual via-sacra no Coliseu.

Daqui a pouco, deixaremos este lugar santificado pelo sangue dos primeiros mártires, tomando cada um a própria direcção. Regressaremos às nossas casas, meditando nos mesmos acontecimentos em que pensavam os discípulos de Emaús.

Que Jesus se aproxime de cada um de nós; faça-Se também nosso companheiro de viagem! Ele, enquanto nos acompanha, explicar-nos-á que por nós subiu ao Calvário, por nós, foi morto, para cumprir as Escrituras. O facto doloroso da crucifixão, que acabamos de contemplar, tornar-se-á assim para cada um um eloquente ensinamento.

Irmãos e irmãs caríssimos! O homem contemporâneo tem necessidade de encontrar Jesus crucificado e ressuscitado.

Quem, senão o divino Condenado, pode compreender plenamente a pena de quem padece injustas condenações?

Quem, senão o Rei escarnecido e humilhado, pode dar resposta ás expectativas de tantos homens e mulheres sem esperança e sem dignidade?

Quem, senão o Filho de Deus crucificado, pode compreender a dor e a solidão de tantas vidas destruídas e sem futuro?

O poeta francês Paul Claudel escrevera que o Filho de Deus «nos ensinou o caminho para sair da morte e a possibilidade da sua transformação» (Positiones e propositiones. Les invités à l’attention. [1934], pag. 245). Abramos o coração a Cristo: será ele mesmo a responder aos nossos anseios mais profundos. Ele mesmo nos desvendará os mistérios da sua paixão e morte na cruz.

3. «Foi então que se lhes abriram os olhos e O reconheceram» (Lc 24,31). À medida que vão ouvindo as palavras de Jesus, o coração dos dois caminhantes desanimados ganham serenidade e começam a arder de alegria. Reconhecem o seu Mestre quando Ele partiu o pão.

Possam os homens de hoje também reconhecer, como eles, ao partir o pão, no mistério da Eucaristia a presença do seu Salvador. Possam encontrá-Lo no sacramento da sua Páscoa, e acolhê-Lo como companheiro do seu caminho. Ele saberá ouvi-los e confortá-los. Saberá tornar-se seu guia para os conduzir ao longo das sendas da vida para casa do Pai.

«Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum!»



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO MUNDIAL


DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA


166 Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Com grande alegria envio-vos a minha saudação por ocasião do "Encontro Mundial da Renovação Carismática Católica", que se realiza em Rimini. Já há diversos anos a "Renovação no Espírito Santo" celebra aí, no início de Maio, a sua "convocação nacional". Por ocasião do Ano Jubilar este encontro assumiu uma dimensão particular, devido à presença de numerosos representantes de grupos e comunidades carismáticas provenientes de outros Países do mundo.

Justamente, por isso, o vosso encontro realiza-se com o patrocínio de um organismo, o "International Catholic Charismatic Renewal Services", ao qual compete a tarefa de coordenar e promover o intercâmbio de experiências e de reflexões entre as comunidades carismáticas católicas espalhadas pelo mundo. Graças a isto, a riqueza presente em cada comunidade reverte-se em benefício de cada um e todas as comunidades podem perceber, de maneira mais fácil, o vínculo de comunhão que as une umas às outras e à Igreja inteira. Saúdo cordialmente o Presidente do "International Catholic Charismatic Renewal Services", Senhor Allan Panozza, e o Coordenador Nacional da "Renovação no Espírito Santo", Senhor Salvatore Martinez, e também todos os membros do Comité Nacional de Serviço.

2. Este encontro internacional de Rimini constitui para vós uma etapa da peregrinação jubilar. Ao celebrarmos a etapa bimilenária da Encarnação, todos nós somos chamados a dirigir o nosso olhar para Cristo, "luz das nações". Ao olharmos para Ele, renovam-se em nós o enlevo e a gratidão: o Filho de Deus fez-se homem, morreu para a nossa salvação, ressuscitou e vive.

Cristo vive! Ele é o Senhor! Esta é a certeza da nossa fé. Enquanto a proclamamos com humildade e firmeza, estamos conscientes do facto que esta certeza não vem de nós. Se pudemos conhecer Cristo, foi porque Ele mesmo se fez conhecer a nós, dando-nos o seu Espírito: "Ninguém pode dizer: "Jesus é Senhor", senão por influência do Espírito Santo" (
1Co 12,3).

Ao fazer-se conhecer, Cristo não nos deixou sozinhos. No Espírito nasce o novo povo de Deus, porque "aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-o em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente" (Const. dogm. Lumen gentium LG 9). Toda a comunidade eclesial autêntica é uma porção deste povo, que há dois mil anos percorre as estradas do mundo. Embora pertencendo a uma comunidade determinada, todo o baptizado está, portanto, aberto a acolher a riqueza da Igreja universal, que é a Igreja de todos os séculos.

3. A Igreja olha com gratidão para o florescer de comunidades vivas, nas quais a fé é transmitida e vivida. Neste florescimento, ela reconhece a obra do Espírito Santo, que jamais deixa faltar à Igreja as graças necessárias para enfrentar situações novas e às vezes difíceis. Muitos de vós recordarão o grande encontro que se realizou em Roma no dia 30 de Maio de 1998, na vigília de Pentecostes. Naquela ocasião, eu disse: "No nosso mundo, com frequência dominado por uma cultura secularizada que fomenta e difunde modelos de vida sem Deus, a fé de muitos é posta à dura prova e, não raro, é sufocada e extinta. Percebe-se, então, com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e aprofundada formação cristã. Como é grande, hoje, a necessidade de personalidades cristãs amadurecidas, conscientes da própria identidade baptismal, da própria vocação e missão na Igreja e no mundo! Como é grande a necessidade de comunidades cristãs vivas! E eis, então, os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do final de milénio" (L'Osserv. Rom. 6/6/98, pág. Rm 4).

Naquela ocasião, fiz observar também que para os movimentos já se apresentava uma etapa nova, "a da maturidade eclesial" (ibid.). Também as comunidades carismáticas são chamadas hoje a dar este passo e estou certo de que, para o maturar da consciência eclesial nas diversas comunidades carismáticas católicas espalhadas pelo mundo, um papel importante poderá tê-lo o "International Catholic Charismatic Renewal Services". Aquilo que eu disse então na Praça de São Pedro, repito-o a todos vós reunidos em Rimini: "A Igreja espera de vós frutos "maduros" de comunhão e de empenho" (ibid.).

4. No seio das vossas comunidades, em circunstâncias diversas, para cada um de vós teve início um caminho que leva a um conhecimento e a um amor de Cristo sempre maiores. Não interrompais o caminho empreendido! Tende confiança: Cristo completará a obra que Ele mesmo iniciou. "Aspirai aos melhores dons!" (1Co 12,31). Procurai sempre Cristo: procurai-O na meditação da Palavra de Deus, procurai-O na oração, procurai-O no testemunho dos irmãos. Sede gratos aos sacerdotes que acompanham como pastores as vossas comunidades: através do seu ministério é a Igreja que vos guia e vos assiste como mãe e mestra. Acolhei com alegria as ocasiões que vos são oferecidas para aprofundar a vossa formação cristã. Servi Cristo nas pessoas que vos estão próximas, servi-O nos pobres, servi-O nas carências e necessidades da Igreja. Deixai-vos guiar verdadeiramente pelo Espírito! Amai a Igreja: una, santa, católica e apostólica!

Estou particularmente contente por saber que no vosso encontro participam também representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais e desejo saudá-los com afecto. Ao unirdes-vos no louvor comum, acolhestes o convite por mim formulado na Bula de proclamação do Grande Jubileu: "Acorramos todos, vindos das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais espalhadas pelo mundo, para a festa que se prepara; tragamos connosco aquilo que já nos une, e o olhar fixo unicamente em Cristo permita-nos crescer na unidade que é fruto do Espírito" (Incarnartionis mysterium, 4).

Enquanto juntamente convosco oro à Virgem Maria, para que cada um acolha o dom do Espírito para ser testemunha de Cristo lá onde vive, de bom grado concedo-vos, queridos Irmãos e Irmãs, e às vossas famílias a minha afectuosa Bênção.

167 Vaticano, 24 de Abril de 2000.

PAPA JOÃO PAULO II


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS JUBILARES


PROVENIENTES DE VÁRIAS REGIÕES


DA ITÁLIA, ALEMANHA E ESPANHA


Sábado, 29 de Abril de 2000

Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. No clima de alegria espiritual típico desta Oitava de Páscoa, saúdo cada um de vós, provenientes de várias localidades e reunidos na Cidade de Roma para celebrar o Jubileu. De resto, a vossa visita hodierna ressalta a intensa comunhão que vos une ao Sucessor de Pedro. Estou-vos grato por este testemunho; agradeço em particular as amáveis palavras que me foram dirigidas em vosso nome por D. António Forte, Bispo de Avelino, Mons. Ângelo Scola, Reitor Magnífico da Universidade Lateranense e os Senhores Gianfranco Gambelli e Francesco Cardile, Presidentes respectivamente da Confederação Nacional das Misericórdias e da Associação dos Grupos de Doadores de Sangue "Fratres".

À Diocese italiana de Avelino

Saúdo em primeiro lugar a vós, peregrinos da Diocese de Avelino, guiados pelo vosso Pastor.

Sede bem-vindos! Enquanto vos dirijo a minha palavra, penso nos sacerdotes, nos consagrados e nas consagradas que vivem fielmente o seu testemunho e exercem com generosidade os ministérios na Igreja. Penso nas famílias, nos jovens, nos trabalhadores cristãos que, com tenacidade, exprimem a própria adesão a Cristo nos lugares em que a Providência os colocou. Penso com especial afecto nos desempregados, idosos, doentes e pobres, que da comunidade esperam compreensão e apoio. A todos dirijo a minha palavra de conforto, encorajamento e esperança: fixai o olhar no Ressuscitado e perseverai com renovado ardor na edificação de uma sociedade que esteja deveras à altura do homem.

Prossegui com fervor o itinerário do Ano Santo e intensificai as iniciativas de evangelização e caridade, empreendidas pela vossa Diocese. A solidariedade de uns em relação aos outros, colaborando para a edificação do Reino de Deus, constitua o sinal distintivo da vossa comunidade eclesial, unida em redor do Bispo e dos seus sacerdotes.

As famílias sejam o templo da vida e do amor; as paróquias se tornem lugares abertos e hospitaleiros, onde a oração, o respeito recíproco e a solidariedade constituam o estilo e o dinamismo da actividade pastoral. Assim, a inteira Diocese se há-de tornar um privilegiado lugar de amadurecimento humano e espiritual para as crianças e os adultos, para os jovens e os idosos.

Maria Assunta ao Céu, Padroeira da vossa Catedral, vos conserve unidos sob o seu manto maternal e realize cada uma das vossas aspirações de bem.

À Universidade Lateranense e à homónima Associação

168 2. Saúdo agora a vós, estimados Professores e Estudantes da Universidade Lateranense, a quem recebo com alegria por ocasião do vosso Jubileu, juntamente com o vosso Reitor Magnífico e os membros da "Associação Internacional Lateranense", a começar pelo Presidente, o Senhor Cardeal Edmund Szoka, que realizaram a sua Jornada anual em coincidência com este gesto jubilar. O meu pensamento dirige-se também a vós, estimados Estudantes e Professores das Sedes académicas ligadas de várias formas à Pontifícia Universidade Lateranense e ao Pontifício Instituto "João Paulo II" para os Estudos sobre Matrimónio e Família. De modo especial, apraz-me salientar a presença, pela primeira vez, de estudantes provenientes de Sampetersburgo, Alba Júlia, Iasi, Györ, Denver e Washington. Associo a este meu pensamento os responsáveis pelas outras realidades académicas ligadas à Alma Mater Lateranensis.

A audiência hodierna quer ser para vós a oportunidade para retribuir a visita que no passado dia 16 de Novembro tive o prazer de realizar à Sede de São João de Latrão. Nessa ocasião, confiei a importante missão de redefinir os confins ideais e efectivos da Universidade que, neste novo Milénio, é chamada a alargar a sua dimensão universal. Todavia, o carácter internacional da vossa realidade académica não basta para fazer dela um centro de nova cultura e civilização. É necessário que fomenteis em todos os Centros lateranenses, a unidade da investigação, do ensinamento e do estudo, edificando uma comunidade vital entre professores e estudantes. É também importante superar toda a falsa oposição entre o compromisso cristão e o trabalho universitário, mediante uma incondicionada abertura à acção do Espírito de verdade, que é sempre o Espírito da unidade genuína.

No cumprimento quotidiano da vossa tarefa, não vos esqueçais então da mensagem do Jubileu, que nos chama a uma continua conversão ao Senhor ressuscitado. Maria, Mãe do Redentor, consolide os ligames entre todos vós que pertenceis à grandiosa Família lateranense e vos acompanhe no caminho empreendido.

Às "Misericórdias" e aos doadores de sangue "Fratres"

3. Agora, dou calorosas boas-vindas a vós, dilectos membros das "Misericórdias da Itália" e ao vosso Presidente, assim como aos grupos de doadores de sangue "Fratres", acompanhados do seu Presidente. Estais aqui reunidos para celebrar o vosso Jubileu: é com grande alegria que me encontro convosco.

Desejo manifestar o meu apreço pelo vosso compromisso e sobretudo pela vossa obra discreta e generosa. Nestes últimos anos, prodigalizastes-vos em vista de acrescentar às vossas tarefas tradicionais a missão de eliminar as causas da necessidade, através da presença concreta nos lugares onde se consolidam as opções sociais, politicas e assistenciais. Nestes contextos, procurastes afirmar os valores evangélicos, património inspirador da vossa actividade e garantia insubstituível do respeito da dignidade do homem. Além disso, uma particular expressão do zelo que vos anima foram a vossa presença no Kossovo, o compromisso na edificação do Centro diocesano missionário de Formosa e o apreciado dom de duas ambulâncias, que hoje me ofereceis. Com estes abnegados sinais de solidariedade, fazeis com que as pessoas que sofrem sintam a providente misericórdia do Senhor. Caríssimos, dai continuidade à vossa luminosa tradição de bem, que vos impele a alargar os confins da vossa caridade.

Aos peregrinos de lingua alemã

4. Dirijo uma cordial saudação aos demais grupos oriundos das regiões de expressão alemã, presentes nesta audiência: os peregrinos da Österreische Cartellverband (Áustria) e alguns membros do "Bundestag" da Alemanha. Mesmo se provindes de países diversos e tendes objectivos diferentes, estais contudo vinculados por uma finalidade comum: desejais exprimir a fé cristã na sociedade. A passagem pela Porta Santa vos de a coragem de agir como sal e fermento para o mundo. A todos vós concedo a minha Bênção Apostólica.

Aos fiéis espanhóis de Madrid

Saúdo com afecto os fiéis da Paróquia de São Francisco de Borja, em Madrid (Espanha). Enquanto vos agradeço a visita, formulo votos por que o Senhor vos cumule com a abundância das suas dádivas neste Ano jubilar, em que tivestes a alegria de cruzar a Porta Santa.

A outros grupos italianos

169 5. Enfim, uma saudação aos outros grupos e a cada um dos peregrinos aqui presentes. De modo especial, aos fiéis da Paróquia de Sao João Baptista, em Albegno di Treviolo (Bérgamo), aos da Comunidade paroquial da Bem-Aventurada Maria Medianeira de todas as graças, em Favara (Agrigento), aos membros do Instituto Italiano dos Castelos, da Região da Apúlia, aos religiosos e aos seminaristas do Instituto de São Carlos de Buccinigo d'Erba (Como), da Obra de Dom Orione. Confio todos vós a Maria, Mãe de Cristo ressuscitado, neste dia de sábado particularmente consagrado a Ela, enquanto concedo a vós e às vossas famílias uma especial Bênção Apostólica.





DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL


DOS IRMÃOS DA INSTRUÇÃO CRISTÃ DE SÃO GABRIEL


Sábado, 29 de Abril de 2000

Queridos Irmãos
da Instrução Cristã de São Gabriel!

Tenho o prazer de vos acolher enquanto estais reunidos em Roma por ocasião do vosso Capítulo geral. Saúdo em particular o Irmão René Delorme, novo Superior-Geral, e com ele todos os membros do Conselho, que há pouco foram eleitos para o seu primeiro mandato. Dirijo-lhes os meus mais vivos encorajamentos para o novo serviço no Instituto e na Igreja.

As vossas reuniões capitulares constituem um evento central para vós; elas confirmam a vossa missão, reavivam o vosso desejo de haurir da fonte do vosso carisma de fundação, numa humilde e audaz fidelidade a São Luís Maria Grignion de Montfort, a Gabriel Deshayes e a todos os vossos predecessores.

A Igreja alegra-se ao ver a renovada vitalidade do vosso Instituto, como testemunha o consistente número de novos membros jovens nos diversos continentes, sobretudo nos Países em que a evangelização se desenvolveu recentemente. Ela tem necessidade do sinal profético da vossa consagração "para construir com o seu Espírito comunidades fraternas, para com Ele lavar os pés aos pobres e dar a vossa insubstituível contribuição para a transfiguração do mundo" (Vita consecrata VC 110). Perante o mundo, testemunhais que o amor e o perdão são mais fortes do que o ódio e o rancor, e assim convidais os vossos contemporâneos a basear a própria vida pessoal, familiar e social sobre o valor fundamental da caridade, a fim de que a paz, a justiça e a solidariedade sejam procuradas por todos, na criação de vínculos humanos no seio da sociedade.

Mediante a vossa vida comunitária, segundo o estatuto originário do vosso Instituto religioso de Irmãos, estatuto que a Igreja tem em grande estima, como recordei, depois dos Padres sinodais, na Exortação Apostólica Vita consecrata (cf. n. 60), vós testemunhais com fidelidade e entusiasmo o Evangelho, assim como a caridade que une profundamente os discípulos de Cristo. Quanto mais intenso for o amor fraterno nas vossas comunidades, tanto maior será a credibilidade da mensagem anunciada e mais perceptível será o coração da Igreja, sacramento da união dos homens com Deus e dos homens entre si (cf. Congregação para os Institutos de Vida consagrada e as Sociedades de Vida apostólica, discurso à Assembleia Plenária, 20 de Novembro de 1992).

O tema principal das vossas reflexões, "Missão fonte de vida. A exemplo de Montfort, todos empenhados por um mundo justo e fraterno", está conexo com o evento do grande Jubileu, que introduz "a Igreja inteira num novo período de graça e de missão" (Bula Incarnationis mysterium, 3). Também para o vosso Instituto se trata de uma nova página de história que começa.

Permitir-vos-á pôr em prática as decisões tomadas no vosso Capítulo geral. Em 1997, por ocasião do 50° aniversário da canonização de São Luíz Maria de Montfort, exortei-vos a fazer frutificar a herança que recebestes do vosso fundador, "é preciso abrir a muitos jovens que procuram o sentido da própria vida e uma arte de viver" (Carta à família monfortina, 21 de Junho de 1997; cf. L'Osserv. Rom. 2/8/97, Rm 6, pág. Rm 2). O vosso Instituto está completamente orientado para a educação da juventude. Mais do que nunca, trata-se hoje duma tarefa fundamental para a Igreja e para o mundo de amanhã. Com efeito, tendes a vocação de seguir os jovens na sua formação espiritual, moral, humana, intelectual e profissional, e de os preparar para se tornarem adultos que assumirão a sua parte de responsabilidade a todos os níveis da sua vida futura. Isto infunde neles, desde agora, a esperança de que um futuro se lhes abre. Com esta missão, participais de maneira activa no anúncio do Evangelho e na edificação duma sociedade justa e fraterna, pois a formação se realiza de modo mais profundo no seio das comunidades educativas em que todo o jovem é acolhido, respeitado e amado tal como é. Semelhantes âmbitos de vida têm um valor educativo incomparável: contribuem para a maturação da personalidade, dão a cada um confiança em si mesmo e favorecem a inserção social. Em nome da Igreja, agradeço-vos de modo muito particular a vossa participação na educação dos jovens mais pobres da sociedade ou das crianças que são muitas vezes marginalizadas, as surdas, as cegas, as crianças das favelas e que vivem nas ruas. Sois também chamados a cuidar da alfabetização e formação de numerosas pessoas, sobretudo das mulheres, que não têm acesso às redes educativas. Ao agirdes assim, caros Irmãos, desempenhais, com paciência e tenacidade, o vosso carisma educativo a exemplo dos vossos fundadores. Aprecio os esforços que envidais para a promoção das pessoas e a preocupação de criar novas fundações, em particular na África e no Sudeste asiático.

Actualmente, nas vossas instituições beneficiais da ajuda, competência e experiência de numerosos leigos, os quais saúdo com muito afecto através de vós. Esforçais-vos por encontrar, com paciência e discernimento, os meios mais adequados para os associar de maneira mais eficaz à vossa vida e missão, comunicando-lhes a vossa paixão pela educação da juventude e a especificidade do vosso carisma monfortino. No respeito pela vocação baptismal de cada um, ofereceis com os leigos um exemplo especial de comunhão eclesial, que fortifica as energias apostólicas para a evangelização do mundo (cf. Congregação para os Institutos de Vida consagrada e as Sociedades de Vida apostólica, A vida em comunidade, 70).


Discursos João Paulo II 2000 150