Discursos João Paulo II 2000 49
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"Arrependei-vos e acreditai na Boa Nova"!
1. O convite do Senhor, que ressoou ontem durante o rito da imposição das Cinzas, deu início ao tempo quaresmal e marca o ritmo do caminho do povo de Deus rumo à Páscoa.
A conversão e a fé em Cristo único Salvador estão no centro da peregrinação jubilar que hoje, caríssimos sacerdotes do presbitério de Roma, realizastes na Basílica de São Pedro.
Saúdo com afecto o Cardeal Vigário, o Arcebispo Vice-Gerente, os Bispos Auxiliares e cada um de vós. É-me grato encontrar-vos, como todos os anos, no início da Quaresma, para um momento de profunda comunhão do Bispo de Roma com o seu presbitério.
O Jubileu caracteriza neste ano o nosso encontro e torna-o ainda mais rico de motivações espirituais e eclesiais. A passagem pela Porta Santa, a profissão de fé e sobretudo o Sacramento da reconciliação que celebrastes, testemunham a todos que o presbítero, ministro do perdão de Deus, tem necessidade de receber ele próprio este perdão em espírito de fé, humildade e profunda confiança. Dispensador dos mistérios divinos, ele deve ser o primeiro a mostrar-se diante dos seus fiéis, como um "salvado" que recebe continuamente, de Deus e da Igreja, a graça de viver unido a Cristo, fonte de eficácia para o seu ministério.
No sacramento da Penitência renova-se aquela "vida no Espírito" e aquele radicalismo evangélico que devem assinalar a vida e o ministério do sacerdote. Ele é também de grande ajuda para superar a condescendência àquelas formas de autojustificação, próprias da mentalidade e da cultura do nosso tempo, que fazem perder o sentido do pecado e impedem experimentar a alegria consoladora do perdão de Deus.
2. Para a vida espiritual e a acção apostólica do sacerdote é muito importante também a relação de comunhão e de fraternidade com o Bispo e com os outros presbíteros. Para o crescimento dessa relação é necessário que cada um de vós se empenhe com generosidade; é preciso que o suceder-se da actividade pastoral não vos impeça de cultivar aquela profunda unidade com os vossos coirmãos, que se nutre da oração comum, do encontro e do diálogo, da busca de uma sincera amizade.
A participação nas iniciativas da formação permanente, a ajuda espiritual e pastoral a coirmãos que se encontram em particulares necessidades, a assistência aos presbíteros doentes ou idosos, a disponibilidade ao diálogo e ao encontro também com aqueles que deixaram o sacerdócio, manifestam a vontade de percorrer com fruto e empenho as vias da comunhão e da reconciliação. Um presbitério unido e concorde, capaz de trabalhar em conjunto, é um forte testemunho para os fiéis e multiplica a eficácia do ministério.
3. A reconciliação com o Senhor e a comunhão recíproca abrem novas possibilidades de encontros com aqueles que esperam de nós, pastores da Igreja, sinais de atenção e de particular cuidado pastoral.
Sujeito primeiro da vossa solicitude não podem deixar de ser as famílias, às quais durante a Missão da cidade chegou o anúncio de Cristo único Salvador e que, também nesse ano, esperam uma ulterior visita para continuar esta experiência tão positiva e fecunda.
Cada paróquia, portanto, é chamada a renovar com grande empenho, através da obra preciosa dos missionários, o encontro quaresmal com todas as famílias, para fazer ressoar no coração das pessoas o anúncio forte do Jubileu: "Deus ama-te e enviou Jesus Cristo, seu Filho, para te salvar".
51 A visita revigora o sentido de pertença à comunidade de tantas pessoas que muitas vezes vivem marginalizadas, mas que não rejeitam, antes esperam ocasiões e sinais concretos de escuta e diálogo, que as ajudem a superar a solidão e o anonimato e a reconstruir o tecido de relações humanas e espirituais, com base numa fé jamais rejeitada ou esquecida totalmente.
Nós sacerdotes, como primeiros missionários do Evangelho e a exemplo de Jesus bom Pastor, que vai em busca da ovelha perdida, devemos dedicar-nos com especial caridade pastoral às famílias em dificuldade, às que vivem afastadas da Igreja e têm graves problemas de fé ou de moral, àquelas que se encontram doentes e aos anciãos que sofrem, àquelas que vivem dramas particularmente dolorosos por situações de divisão entre cônjuges ou com os filhos. O Ano Santo, ano do grande perdão e da misericórdia de Deus, ofereça a todos a possibilidade de serem escutados, acolhidos e encorajados a reencontrar vias de reconciliação com o Senhor e com os irmãos, também lá onde tudo parece perdido ou irreversível. O que aparentemente é impossível ao homem não o é a Deus, quando nos abrimos com humildade e disponibilidade à graça do seu perdão.
4. Será depois vosso cuidado fazer com que o anúncio da misericórdia de Deus e a viva experiência do seu perdão cheguem, através do efectivo empenho dos católicos leigos, a todos os ambientes de vida e de trabalho para reafirmar a força do amor de Cristo que faz vencer as divisões e as incompreensões e recria relações mais fraternas e solidárias. Nenhum ambiente ou situação de vida é estranho ao Evangelho e ao empenho duma activa presença evangelizadora do sacerdote e de todo o baptizado.
Outro sujeito de especial atenção pastoral são os jovens, sobre os quais se pousa amoroso o olhar de Cristo, mesmo quando se afastam da comunidade cristã que os educou para a fé e os sacramentos. Quantos adolescentes e jovens da nossa cidade não sabem que são amados e procurados pelo Senhor, porque ninguém lhes anuncia e ninguém os encontra com sincera amizade e fraternidade, lá onde se encontram: nos ambientes de estudo ou de trabalho, de desporto e tempo livre, pelas ruas do bairro!
Esta é uma tarefa que se refere em primeiro lugar aos jovens crentes, chamados a ser missionários junto dos seus coetâneos e a redescobrir, nas comunidades e nos grupos, que a alegria da fé em Cristo deve ser comunicada e oferecida a todos sem temor e com coragem apostólica.
Porém, não podemos esquecer que o sacerdote, por vocação, é evangelizador e pai espiritual dos jovens que o Senhor lhe confia. Eles têm necessidade de encontrar no sacerdote um amigo disponível e sincero, mas também uma testemunha que vive com alegria e coerência espiritual e moral o próprio chamamento. Então serão ajudados a descobrir e a acolher, por sua vez, a vocação que dá significado e valor a toda a sua vida.
A preparação e a celebração do próximo Dia Mundial da Juventude são uma ocasião deveras providencial para renovar a pastoral juvenil e imprimir nas paróquias, nos movimentos e grupos um renovado impulso vocacional e missionário.
5. Celebrar o Jubileu significa abrir o coração aos irmãos e irmãs mais pobres, reconhecendo neles a presença de Cristo sofredor que pede para ser acolhido com amor operoso.
Na carta que enviei à inteira comunidade diocesana e civil, ressaltei como a Igreja de Roma, "ao longo dos séculos, escreveu páginas luminosas de acolhimento especialmente por ocasião dos Jubileus, com sinais concretos e permanentes de amor pelo próximo".
A "caridade romana", que se concretizou em hospedar os peregrinos pobres e necessitados, estimula também hoje a comunidade diocesana, as famílias e toda a realidade eclesial a tornarem-se disponíveis para o acolhimento sobretudo durante os grandes eventos, como são o Jubileu dos jovens e das famílias, que verão uma numerosa participação de peregrinos do mundo inteiro.
Não poderá faltar além disso a solicitude de toda a comunidade diocesana para com os pobres que moram em grande número na nossa cidade. A sensibilidade e a atenção pelos irmãos mais necessitados tornar-se-ão certamente operosas se as comunidades cristãs souberem acolher da Eucaristia, pão de vida nova para o mundo, aquela particular força de amor que é capaz de mudar também a Sociedade, tornando-a mais justa, pacífica e solidária.
52 O sinal da caridade que será inaugurado durante o Congresso Eucarístico Internacional, representa o empenho da comunidade diocesana de testemunhar no serviço concreto dos pobres o encontro com o Senhor, no sacramento do seu corpo dado e do seu sangue derramado.
6. "Arrependei-vos, e acreditai na Boa Nova"!
O convite da Liturgia das Cinzas sustente e acompanhe o nosso caminho quaresmal no seguimento de Cristo, Porta da salvação e nossa Paz, para tornar fecundo de graça o ministério da reconciliação que, neste tempo favorável e durante todo o Ano Santo, somos chamados a exercer com especial dedicação.
Maria Santíssima, Mãe de misericórdia, que nos precede no caminho da fé e da caridade, guie a peregrinação jubilar da Igreja de Roma, dos seus sacerdotes e fiéis, a fim de que o dom da reconciliação do Senhor seja acolhido com coração humilde, confiante e sincero.
Por fim, quereria acrescentar que esta manhã celebrei a Santa Missa segundo as intenções de todos os meus coirmãos sacerdotes do presbitério romano.
Caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. É-me grato receber todos vós, vindos para realizar o vosso Jubileu no início deste tempo quaresmal.
Ao Rotary International
Em primeiro lugar, dirijo uma saudação cordial a vós, que fazeis parte do Rotary International. Cruzastes a Porta Santa da Basílica Vaticana e participastes na Eucaristia jubilar presidida pelo Senhor Cardeal Paul Poupard, que está aqui connosco e a quem saúdo com afecto. Bem-vindos, caríssimos Irmãos e Irmãs! A cada um de vós o meu abraço de paz.
A celebração do Jubileu constitui para vós uma circunstância propícia para meditar sobre a importância e o valor de ser cristão no alvorecer do terceiro milénio. Seria certamente interessante perguntar-se o que Paul Harris, o vosso fundador, faria hoje e como organizaria a Associação por ele iniciada há quase cem anos. No alvorecer do século XX, ele deu-se conta da solidão que o homem provava nas grandes cidades e procurou remediá-la desenvolvendo, mediante o Rotary, uma rede sempre mais ampla de relações de amizade entre as pessoas, tendo como base a compreensão, o entendimento e a paz entre os povos.
53 Vós, caros Rotarianos, procurastes prestar este serviço de modo sempre mais solícito e atento nestes quase cem anos de existência. O momento que estamos agora a viver está repleto de potencialidades e de desafios. Enquanto cruzamos o limiar do terceiro milénio da era cristã, a Igreja repropõe a todos a mensagem antiga e sempre nova do Evangelho. Também vós Rotarianos, que quereis ser arautos generosos e testemunhas intrépidas de Cristo, empenhai-vos em dar esperança ao homem de hoje, em vencer a solidão, a indiferença, o egoísmo e o mal.
À Diocese de Pitigliano-Sovana-Orbetello
2. Saúdo-vos agora, amados fiéis participantes na peregrinação da Diocese de Pitigliano-Sovana-Orbetello, e de modo especial o vosso Pastor, D. Mário Meini, que vos guiou neste itinerário de fé. Através dele, quero fazer chegar o meu encorajamento e a minha bênção aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos fiéis da Diocese.
Vós vindes da terra que deu origem ao meu venerado predecessor, o Papa São Gregório VII. O seu exemplo e os seus ensinamentos vos incentivem a amar com renovada intensidade Cristo e a sua Igreja. Ele viveu num período histórico em que o povo cristão estava abalado por graves dificuldades internas e por uma perniciosa invasão do espírito do mundo. Perante a mentalidade do tempo, esforçou-se até ao extremo, também durante o triste exílio, a fim de que "a santa Igreja, esposa de Deus, senhora e mãe nossa, voltasse a ser, como foi durante muitos séculos, adornada do primitivo esplendor, e sempre livre, casta e católica" (PL 148, 709). Pregou e testemunhou que a santidade é vocação de qualquer membro da Comunidade eclesial.
Sem dúvida, os tempos mudaram, mas é sempre actual o convite para todos os crentes a cumprirem de bom grado a vontade de Deus e a permanecerem firmes no coerente testemunho de fé. Esta é a mensagem que nos vem do Ano jubilar e que sentimos ainda mais premente ao cruzar a Porta Santa que é Cristo.
Caríssimos Irmãos e Irmãs, o Ano Santo, além de uma graça especial, oferece motivos fortes para reconverter a mentalidade e a vida a uma mais orgânica adesão a Cristo e a um mais intenso amor pela Igreja. Ao retornardes às vossas casas, prossegui no vosso empenho de testemunho cristão. Senti-vos membros activos na edificação da Comunidade cristã, "sempre prontos a responder a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança" (1P 3,15). Tende sempre confiança: Cristo venceu o mundo! (cf. Jo Jn 16,33).
Ao Colégio Arquiepiscopal Pio XI de Désio
3. Dirijo, depois, o meu pensamento cordial aos responsáveis e aos membros do Colégio Arquiepiscopal Pio XI, de Désio. Caríssimos, desejastes realizar a vossa peregrinação jubilar no início do tempo forte da Quaresma, no qual o chamamento de Cristo à conversão se faz mais insistente.
A peregrinação jubilar seja para vós ocasião propícia para viverdes em profundidade este ano de grandes riquezas espirituais. A Porta Santa, através da qual passastes, está a significar a inexausta benevolência de Deus para com aquele que quer converter-se a Ele e percorrer a via da santidade. Através desta Porta, mediante o mistério da Igreja, os crentes são introduzidos para beber de maneira mais abundante nos inexauríveis tesouros da graça divina.
Eis o dom e a recomendação também para vós: Cristo, Caminho, Verdade e Vida, renova-vos para que sejais no mundo seus amigos e suas testemunhas. Sabei ser fiéis a Ele, fazendo-vos dispensadores de esperança, de alegria e de amor entre os vossos irmãos.
A várias paróquias de Rieti, de Bolonha e de Urbânia
54 4. Estes mesmos sentimentos estejam também nos vossos corações, queridos fiéis das paróquias de Rieti, de Bolonha e de Urbânia. Saúdo todos vós com afecto e, ao dirigir-vos o meu pensamento, desejo que leveis também aos vossos familiares, amigos e irmãos na fé os sentimentos de benevolência do Papa. Ao retornardes aos vossos lares, sabei manifestar a quantos encontrardes o entusiasmo de uma fé renovada e o empenho de uma caridade efectiva. Maria, Mãe d'Aquele que deu início ao tempo novo da salvação e que invocamos com confiança, vos acompanhe e vos conserve sempre sob o manto da sua protecção.
À Arquidiocese de Filadélfia
Estimado Cardeal Bevilacqua
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo!
Tenho o prazer de vos dar as boas-vindas a Roma, por ocasião da Peregrinação do Ano jubilar da Arquidiocese de Filadélfia. A vossa visita à Cidade Eterna, como todas as peregrinações, realiza-se com espírito de oração e o ardente desejo de uma renovação interior. Aqui, em Roma, venerareis os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo e orareis nas catacumbas e nos monumentos que os cristãos de todas as épocas erigiram em memória dos mártires e santos. Oro para que esta peregrinação contribua para revigorar a vossa fé no Senhor Jesus e aumentar o vosso amor pelo seu Corpo, a Igreja.
Parte importante da vossa visita jubilar será cruzar a Porta Santa, simbolizando desse modo a conversão que deve caracterizar a vida de todo o cristão. Que esta passagem confirme o vosso empenho em afastar-vos do pecado e em aceitar o dom duma vida nova, que o Senhor sempre oferece através do ministério da Igreja. Esta é a meta do ano jubilar: aumentar no coração de todos os baptizados "um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovamento pessoal num clima de oração cada vez mais intensa e de solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado" (Tertio millennio adveniente, TMA 42).
Confio-vos aos Santos Pedro e Paulo, santos Padroeiros da Arquidiocese de Filadélfia, a São João Neumann e à Beata Catarina Drexel, que dentro de pouco tempo terei a honra de canonizar.
Sobre vós e as vossas famílias invoco de coração a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo.
Na conclusão dos Exercícios Espirituais, agradeço ao Senhor que me ofereceu a alegria de compartilhar convosco, caros e venerados Irmãos da Cúria Romana, estes dias de graça e de oração. Foram dias de intensa e prolongada escuta do Espírito que falou aos nossos corações, no silêncio e na atenta meditação da Palavra de Deus. Foram dias de forte experiência comunitária, que nos deram a oportunidade de nos sentirmos, como os Apóstolos no cenáculo, "unidos no mesmo sentimento e assíduos na oração, em companhia de Maria, mãe de Jesus, e de Seus irmãos" (Ac 1,14).
55 Agradeço também, em nome de cada um de vós, ao caríssimo D. François Xavier Nguyên Van Thuân, Presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz" que, com simplicidade e inspirado pelo sopro espiritual, nos guiou no aprofundamento da nossa vocação de testemunhas da esperança evangélica, no início do terceiro milénio. Testemunha ele mesmo da Cruz nos longos anos de encarceramento no Vietnã, contou-nos frequentemente factos e episódios da sua sofrida prisão, revigorando-nos assim na consoladora certeza de que, quando tudo desaba ao redor de nós e talvez também dentro de nós, Cristo permanece o nosso indefectível sustento. Estamos gratos ao Arcebispo Van Thuân - na prisão era apenas o Senhor Van Thuân - pelo seu testemunho, que resulta significativo mais do que nunca neste Ano jubilar.
Cristo crucificado e ressuscitado é a nossa única e verdadeira esperança. Fortificados pela sua ajuda, também os seus discípulos se tornam homens e mulheres de esperança. Não de esperanças transitórias e fugazes, que depois deixam cansado e desiludido o coração humano, mas da verdadeira esperança, dom de Deus que, sustentada do alto, tende a conseguir o sumo Bem e está certa de o alcançar. Desta esperança, tem necessidade também o mundo de hoje. O Grande Jubileu, que estamos a celebrar, conduz-nos passo a passo a aprofundar as razões desta esperança cristã, que pedem e favorecem uma crescente confiança em Deus e uma sempre mais generosa abertura aos irmãos.
Maria, Mãe da esperança, que ontem à tarde o pregador nos convidou a contemplar como modelo da Igreja, nos obtenha a alegria da esperança, a fim de que também para nós nos momentos da provação, como aconteceu para os viandantes de Emaús, a presença de Cristo mude a nossa tristeza em alegria. "Tristitia vestra vertetur in gaudium".
Com estes sentimentos, abençoo-vos de coração pedindo a todos vós que continueis a acompanhar-me com a oração, sobretudo na peregrinação à Terra Santa que, se Deus quiser, terei a alegria de realizar na próxima semana.
Caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. Saúdo cordialmente cada um de vós, vindos a Roma de várias partes da Itália e do mundo para celebrar o Ano Santo. Estão presentes na Praça numerosos peregrinos da Diocese de Vicência, aqui guiados pelo Bispo, o caro D. Pietro Nonis. A vós dirijo a minha afectuosa saudação, que faço estensiva a todos os fiéis da Igreja vicentina, tão viva e operosa, como atestam os seus numerosos Santos. Precisamente nos Santos é-nos proposto um modelo extraordinariamente eloquente daquela fidelidade ao Evangelho na vida quotidiana, que constitui o objectivo primordial do Grande Jubileu. Senti-vos impelidos a emular os exemplos destas testemunhas da fé, das quais a vossa Igreja se sente justamente orgulhosa.
Conheço os problemas que deveis enfrentar: a sensível diminuição de vocações sacerdotais e religiosas; a crescente fragilidade de muitos vínculos matrimoniais; a secularização que insidia a dimensão religiosa da existência; a diminuída frequência à Missa dominical, na qual as famílias e as comunidade se estreitam à volta da Eucaristia. Trata-se de desafios que a vossa Comunidade acolheu e deseja enfrentar, contando com a ajuda divina e a colaboração de todos os seus membros. Encorajo-vos, caríssimos, neste empenho e asseguro-vos o constante apoio da minha oração. Sede resolutos e fiéis a Cristo e ao seu Evangelho; sede generosos e abertos para com os irmãos.
2. Cordiais boas-vindas, depois, ao querido D. Felice Cece e aos peregrinos da Dioceses de Sorrento-Castellamare di Stabia que, no contexto da celebração jubilar, desejaram encontrar-se com o Sucessor de Pedro. Caríssimos, o providencial período do Ano Santo e o tempo quaresmal que estamos a viver convidam cada um a tornar-se instrumento dócil da graça do Senhor. Só Ele traz salvação e plena renovação aos humildes de espírito e a quantos estão abertos à verdade. É Deus que dá o primeiro passo em relação ao homem; a estes, porém, é pedido que O acolham mediante um perseverante empenho de conversão.
Sabei, caríssimos, ser dóceis aos apelos do Senhor. Renovai a vossa adesão a Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Durante esta peregrinação jubilar tivestes oportunidade de O encontrar mais em profundidade. Deixai que a sua palavra vos ilumine, o seu amor vos transforme e, a quem encontrardes no vosso retorno, levai a sua alegria e a sua paz.
3. Dirijo agora a minha palavra a vós, caríssimos membros do Centro Italiano Feminino! A etapa hodierna, que vos conduziu aqui, é um dos momentos centrais do Jubileu nacional que a vossa associação está a celebrar nestes dias. Bem-vindos!
56 O tema que escolhestes para o vosso encontro - "Recomeçar do Jubileu do Ano 2000. Mulheres em redescoberta da fé" - insere-se bem nos objectivos do Ano Santo. Com efeito, o vosso empenho social e político haure as suas motivações do caminho interior da fé, que vos torna capazes de olhar para a realidade com os olhos penetrantes da sabedoria evangélica. Sabei viver a vossa vocação com coragem semelhante à de Maria de Nazaré, Mulher nova e testemunha fecunda da bondade de Deus.
Confortem-vos o exemplo e a intercessão de todas as mulheres santas, que contribuíram de maneira determinante na vida da Igreja e na edificação da civilização do amor ao longo da história humana.
4. Desejo, depois, manifestar sentimentos de benevolência e de afecto aos participantes no Fórum das organizações cristãs para a animação pastoral dos que trabalham nos circos e nos parques de diversão. Caríssimos, a vós formulo votos por que testemunheis em toda a parte as virtudes que caracterizam o vosso estilo de vida: a paciência, a coragem, o risco calculado, a estreita colaboração e o respeito recíprocos.
5. É com grande alegria que saúdo os Pastores e fiéis da Igreja sírio-malabar, provenientes da Índia e de outras partes do mundo e que chegaram a Roma por ocasião da celebração jubilar.
Sois os herdeiros do Apóstolo Tomé e este Ano Santo oferece-vos uma oportunidade única de serdes fortalecidos e renovados no testemunho apostólico, no qual se baseia a vossa fé. Através da oração e da penitência, da devoção e da conversão, possam as múltiplas graças, que Deus derrama sobre a sua Igreja durante "este ano de graça" (cf. Lc Lc 4,19), produzir frutos sempre mais abundantes de santidade na vossa vida!
Amanhã, segundo o vosso calendário litúrgico, é o III Domingo do Grande Jejum. A disciplina do jejum é para vós um exercício familiar e uma prática muito apreciada pelas populações e religiões da Índia. Oro para que os benefícios espirituais deste período de jejum e desta especial época de preparação para celebrar a Ressurreição do Senhor, enriqueçam a vossa Igreja e vos revigorem no papel que a comunidade sírio-malabar é chamada a desempenhar na nova evangelização.
Ao confiar o Excelentíssimo Arcebispo Maior, D. Varkey Vithayathil, e todos vós à protecção amorosa da Bem-aventurada Virgem Maria e à poderosa intercessão dos vossos Padroeiros, o Apóstolo Tomé e os Santos da vossa Igreja, invoco sobre vós e as vossas comunidades a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo.
6. É com grande prazer que dou as boas-vindas a Sua Beatitude o Patriarca e aos fiéis da Igreja Católica Caldeia, que vieram a Roma de várias partes do mundo, especialmente do Iraque, para celebrar o Grande Jubileu do Ano 2000.
A riqueza da vossa tradição espiritual, que remonta à pregação dos Apóstolos Tomé e Tadeu, fortaleceu muitos homens e mulheres que derramaram o próprio sangue por Cristo. A fidelidade a esta mesma herança impele hoje o vosso empenho ecuménico em relação aos vossos irmãos da Igreja Assíria do Oriente.
Os filhos e filhas da Igreja no Iraque e todo o povo iraqueno, duramente provados pelo constante embargo internacional, estão sempre presentes nos meus pensamentos. Asseguro a todos os que sofrem, em particular às mulheres, às crianças e aos idosos, o meu apoio na oração. Que Jesus, verdadeiro amigo dos pobres e dos aflitos, vos acompanhe sempre com amor nas dificuldades e vos sustente!
Ao confiar Sua Beatitude o Patriarca Raphael I Bidawid e todos os fiéis da Igreja Católica Caldeia à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, invoco sobre vós todas as graças e bênçãos de nosso Senhor Jesus Cristo.
57 7. Dirijo uma saudação de boas-vindas aos estudantes de teologia do Colégio Borromeu de Monastério (Alemanha), acompanhados por D. Reinhard Lettman. Neste Ano Santo, realizais uma peregrinação à Cidade Eterna. Como jovem teólogo, também eu estudei em Roma. Durante essa permanência, aquilo que mais contribuiu para a minha formação não foi só a prestação dos estudos científicos, mas também os lugares santos desta cidade: os túmulos dos Príncipes dos Apóstolos, a terra impregnada do sangue dos mártires, as sete Basílicas, nas quais a fé se fez pedra e sobretudo a Sede do Sucessor de Pedro. Nestes dias, peço-vos: estudai Roma! Aprendei nesta cidade o que é a Igreja universal! Levai este conhecimento ao vosso país! Que a passagem através da Porta Santa revigore a vossa determinação de dedicardes a juventude a Cristo, que é a Porta da vida! Concedo-vos, de coração, a minha Bênção Apostólica.
8. Abençoo de coração todos os presentes, tendo particular consideração pelos doentes, os portadores de deficiência, as pessoas em dificuldade, os anciãos. A todos asseguro a minha oração.
Majestades
Membros do Governo
1. Com espírito de profundo respeito e amizade, saúdo todas as pessoas que vivem no Reino Hachemita da Jordânia: os membros da Igreja católica e das outras Igrejas cristãs, o povo muçulmano por quem nós, seguidores de Jesus Cristo, temos grande consideração, bem como todos os homens e mulheres de boa vontade.
A minha visita ao seu país e a inteira viagem que hoje começo constituem uma parte da Peregrinação jubilar que estou a realizar a fim de comemorar os dois mil anos do Nascimento de Jesus Cristo. Desde o início do meu ministério de Bispo de Roma, tive a grande aspiração de assinalar este evento, rezando nalguns dos lugares ligados à história da salvação lugares que nos falam da longa preparação deste momento através dos tempos bíblicos, lugares onde nosso Senhor Jesus Cristo realmente viveu, ou que estão vinculados à sua obra de redenção. O meu espírito dirige-se em primeiro lugar para Ur dos Caldeus, onde teve início o caminho de fé de Abraão. Já estive no Egipto e no Monte Sinai, onde Deus revelou o seu nome a Moisés, confiando-lhe as Tábuas da Lei da Aliança.
2. Hoje encontro-me na Jordânia, uma terra que me é familiar através das Sagradas Escrituras: uma terra santificada pela presença de Jesus mesmo, de Moisés, de Elias, de João Baptista, dos Santos e dos Mártires da Igreja primitiva. A vossa pátria é conhecida pela hospitalidade e abertura a todos. Estas são as qualidades do povo jordaniano, que experimentei muitas vezes nos diálogos com o saudoso Rei Hussein e que se reconfirmaram no meu encontro com Vossa Majestade no Vaticano, no passado mês de Setembro.
Majestade, bem sei como é profunda a sua solicitude pela paz nesta terra e na inteira região, e quanto lhe é importante que todos os jordanianos muçulmanos e cristãos se considerem um só povo e uma única família. Nesta região do mundo há graves e urgentes problemas de justiça, de direitos dos povos e das nações, que devem ser resolvidos para o bem de todos os interessados, como pressuposto para uma paz duradoura. O processo de promoção da paz deve continuar, por mais árduo e difícil que seja. Sem a paz, não pode existir um desenvolvimento genuíno para esta região, nem uma vida melhor para as suas populações, nem sequer um futuro mais promissor para os seus filhos. Eis o motivo por que é tão importante e digno de louvor o reiterado empenhamento da Jordânia na garantia das condições necessárias para a paz.
A construção de um futuro de paz exige uma compreensão cada vez mais madura e uma cooperação sempre mais prática entre os povos que reconhecem o único Deus invisível, o Criador de tudo o que existe. As três históricas religiões monoteístas incluem a paz, a bondade e o respeito pela pessoa humana entre os seus valores mais excelsos. Formulo sinceros bons votos por que a minha visita fortaleça o já fecundo diálogo entre cristãos e muçulmanos, que na Jordânia está a progredir particularmente mediante o Instituto Real Interconfessional.
3. Sem esquecer que a sua missão primária é espiritual, a Igreja católica aspira sempre a cooperar com cada nação e povo de boa vontade, na promoção e no progresso da dignidade de todas as pessoas humanas. Ela fá-lo de forma especial nas próprias escolas e programas educativos, assim como nas suas instituições caritativas e sociais. A sua nobre tradição de respeito por todas as religiões garante a liberdade religiosa que torna isto possível e de facto constitui um direito humano fundamental. Quando isto se verifica, todos os cidadãos se sentem iguais e cada um, inspirado pelas próprias convicções espirituais, pode contribuir para a edificação da sociedade como a casa comum de todos.
58 4. O caloroso convite que Vossas Majestades, o Governo e o Povo da Jordânia me apresentaram constitui uma expressão da nossa comum esperança para uma nova era de paz e desenvolvimento nesta região. Estou-vos verdadeiramente grato e, com profundo apreço pela vossa amabilidade, asseguro-vos as minhas preces por Vossas Excelências, por todo o povo da Jordânia, pelas pessoas deslocadas que vivem no meio de vós e pelos jovens que correspondem a uma boa parte da população.
Deus Todo-Poderoso conceda felicidade e longa vida a Vossas Majestades!
Ele abençoe a Jordânia com prosperidade e paz!
Padre Ministro-Geral
Queridos amigos!
Aqui, nas alturas do Monte Nebo, inicio esta fase da minha peregrinação jubilar. Penso na grande figura de Moisés e na Aliança que Deus estreitou com ele no Monte Sinai. Dou graças a Deus pelo dom inefável de Jesus Cristo, que selou a nova Aliança com o próprio sangue e levou a Lei a cumprimento. A Ele que é "o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim" (Ap 22,13), dedico todos os passos desta viagem na terra que foi Sua.
Neste primeiro dia, estou particularmente feliz de o saudar, Padre Ministro-Geral, e de prestar honra ao magnífico testemunho oferecido a esta terra, ao longo dos séculos, pelos filhos de São Francisco mediante o serviço fiel da Custódia nos lugares santos. Sinto-me também feliz de saudar o Governador de Madaba e o Presidente da Câmara Municipal da cidade.
Que as bênçãos do Omnipotente desçam sobre os habitantes destas terras!
Que a paz dos céus inunde o coração de quantos se unem a mim ao longo do meu caminho de peregrino!
Discursos João Paulo II 2000 49