Discursos João Paulo II 2001 - Sexta-feira 19 de Janeiro de 2001


AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO SOBRE A ENCÍCLICA "REDEMPTORIS MISSIO"

Sábado 20 de Janeiro de 2001






Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É com profunda alegria que vos recebo, por ocasião do vosso interessante Simpósio, que se realiza dez anos depois da publicação da Encíclica Redemptoris missio. Agradeço a quantos organizaram este Congresso e saúdo a todos com afecto. De modo particular, cumprimento e agradeço ao Senhor Cardeal Jozef Tomko as amáveis palavras com que deu início a este encontro.

Na aurora do novo milénio, o presente Congresso tem a intenção de pôr em evidência o valor primordial que a evangelização reveste na vida da Comunidade eclesial. Com efeito, a missão ad gentes constitui a primeira tarefa confiada por Cristo aos seus discípulos. A este respeito, ressoam mais eloquentes do que nunca as palavras do Mestre divino: "Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos...

Eis que estarei convosco... até ao fim do mundo" (Mt 28,18-20). E enquanto recorda sempre o mandato do Senhor, a Igreja não cessa de cuidar dos seus membros, de reevangelizar aqueles que se afastaram e de proclamar a Boa Notícia aos que ainda não a conhecem. "Sem a missão ad gentes, a própria dimensão missionária da Igreja ficaria desprovida do seu significado fundamental e do seu exemplo de actuação" (Redemptoris missio, RMi 34).

Tendo tudo isto em consideração, desde o início do meu Pontificado convidei cada pessoa e povo a abrir as portas a Cristo. Este anseio missionário impeliu-me a empreender muitas viagens apostólicas; a distinguir com uma abertura missionária cada vez mais toda a actividade da Sé Apostólica e a favorecer um constante aprofundamento doutrinal da tarefa apostólica que cabe a cada um dos baptizados. Eis o contexto em que nasceu a Encíclica Redemptoris missio, cujo décimo aniversário estamos a celebrar.

2. Quando, há dez anos, publiquei esta Encíclica, festejava-se o vigésimo quinto aniversário da aprovação do Decreto missionário Ad gentes, do Concílio Vaticano II. Portanto, de certa forma a Encíclica podia ser como que a comemoração de todo o Concílio, cuja finalidade consistia em tornar mais compreensível a mensagem da Igreja e mais eficaz a sua acção pastoral para a difusão da salvação de Cristo no nosso tempo.

Porém, não se tratava de um texto simplesmente comemorativo e evocador das intuições conciliares. Retomando os principais temas trinitários das minhas três primeiras Encíclicas, eu desejava sobretudo evidenciar com vigor a perene urgência que a Igreja sente acerca do seu mandato missionário e indicar os novos percursos da sua realização no meio dos homens da época moderna.

Gostaria de confirmar estas motivações, uma vez que a acção missionária destinada aos povos e grupos humanos ainda não evangelizados permanece necessária, especialmente nalgumas regiões do mundo e em determinados contextos culturais. De resto, oportunamente considerada, a missão ad gentes torna-se necessária em toda a parte, em virtude dos rápidos e maciços fluxos migratórios que levam grupos de não-cristãos a regiões de consolidada tradição cristã.

No cerne da actividade missionária encontram-se o anúncio de Cristo, o conhecimento e a experiência do seu amor. A Igreja não pode subtrair-se a este mandato explícito de Jesus, caso contrário privaria os homens da "Boa Nova" da salvação. Este anúncio não tira a autonomia própria de algumas actividades, como o diálogo e a promoção humana mas, pelo contrário, fundamenta-a na caridade difusiva e orienta-a para um testemunho sempre respeitador dos outros, no atento discernimento daquilo que o Espírito suscita neles.

3. Há pouco foi encerrado o Ano jubilar, que representou para a Igreja um providencial impulso de entusiasmo religioso. Através da Carta Apostólica Novo millennio ineunte, indiquei aos crentes de todas as idades e culturas a exigência de se fazer ao largo, recomeçando a partir de Cristo. É óbvio que isto requer da missão ad gentes um novo vigor e a renovação dos seus métodos pastorais. Se cada povo e cada nação têm o direito a conhecer a alegre mensagem da salvação, o nosso dever principal consiste em abrir-lhes as portas a Cristo, mediante o anúncio e o testemunho. E se às vezes a proclamação do Evangelho e a pública adesão a Cristo são impedidas por diversos motivos, ao cristão resta sempre a possibilidade de colaborar na obra da salvação através da oração, do exemplo, do diálogo e do serviço humanitário.

Arraigada no amor trinitário, a Igreja é missionária por sua natureza, mas é preciso que se torne efectivamente assim em todas as suas actividades. E sê-lo-á se viver em plenitude a caridade que o Espírito difunde no coração dos fiéis e que como ensinam os Padres é "o único critério pelo o qual tudo deve ser feito ou deixado de fazer, mudado ou mantido. É o princípio que deve orientar cada acção, e o fim para o qual há-de tender" (Ibid., n. 60).

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, já passaram dez anos desde quando, mediante a Encíclica Redemptoris missio, desejei mobilizar a Igreja para uma missão ad gentes mundial. Hoje reitero este convite, no início de um novo século e milénio. Lá onde vive e trabalha, cada Igreja particular e comunidade, cada associação e grupo cristão se sinta co-responsável por esta vasta acção. Com efeito, hoje existem para todos os estados de vida da Igreja sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos inéditas possibilidades de cooperação. Multiplicam-se as situações que colocam os fiéis de Cristo em contacto com os não-cristãos. Há instâncias que permitem trabalhar inclusivamente a nível internacional para tutelar os direitos humanos, para promover o bem comum e melhores condições que visam a difusão da mensagem da salvação (cf. ibid., n. 82).

Porém, jamais se deve esquecer que a fidelidade da evangelização ao seu Senhor está no fundamento da actividade missionária. Quanto mais santa for a vida, tanto mais eficaz será esta sua missão. O apelo à missão é uma constante exortação à santidade. Como deixar de recordar aquilo que, a este propósito, escrevi na Encíclica? "A universal vocação à santidade eu observava então e repito-o hoje está estritamente ligada à universal vocação à missão: todo o fiel é chamado à santidade e à missão" (Ibid., n. 90). Somente desta forma a luz de Cristo, reflectido no rosto da Igreja, poderá iluminar também os homens da nossa época.

Esta é a tarefa principal do Sucessor de Pedro, chamado a garantir e a promover a comunhão e a missão universal da Igreja. Trata-se de um dever que cabe à Cúria Romana e aos Bispos que com ele compartilham tão excelso ministério. Outrossim, é responsabilidade a que não se podem subtrair os crentes de qualquer idade e condição.

Conscientes desta responsabilidade, respondamos também nós com generosidade, dilectos Irmãos e Irmãs, a este incessante apelo do Espírito Santo. Interceda por nós Maria, Estrela da nova evangelização, e nos ajudem com o seu exemplo e a sua protecção os Santos Padroeiros Teresinha do Menino Jesus e Francisco Xavier.

Com estes sentimentos, é de bom grado que abençoo todos vós e o serviço eclesial que exerceis quotidianamente.




AO NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA ISLÂMICA DO IRÃO JUNTO À SANTA SÉ

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Excelência Senhor Mostafa Borujerdi

É de muito bom grado que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Islâmica do Irão junto da Santa Sé. As amáveis saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Presidente Seyed Mohammad Khatami evocam a memória do nosso cordial encontro neste mesmo recinto há apenas três anos: no espírito da amizade e do respeito que caracterizaram a visita presidencial ao Vaticano, peço que lhe comunique os meus bons votos, assegurando as minhas orações pela sua pessoa e nação.

Vossa Excelência recordou a importância de um verdadeiro diálogo entre as culturas, se os esforços dos homens e das mulheres de boa vontade no mundo inteiro quiserem obter bom êxito na promoção de uma duradoura era de paz e fraternidade para todos os povos e nações. Com efeito, foi em virtude da sugestão do Senhor Presidente Kathami que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas declarou o ano de 2001 como "Ano internacional do diálogo entre as Civilizações". Assim, este eminente organismo internacional, que representa a família das nações, chamou a atenção para a urgente necessidade de as pessoas reconhecerem que o diálogo é o caminho necessário para a reconciliação, a harmonia e a cooperação entre as diferentes culturas e tradições religiosas. Esta é a abordagem que dará a todos a garantia de poder olhar para o futuro com serenidade e esperança.

O nosso mundo é feito de uma incrível complexidade e variedade de culturas humanas. Cada uma destas culturas se distingue pela virtude do seu particular desenvolvimento histórico e pelas consequentes características que a tornam um conjunto original e orgânico. Com efeito, a cultura constitui uma forma de auto-expressão do homem, que percorre a história; em síntese, é "o cultivo dos bens e valores da natureza" (Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Contemporâneo, Gaudium et spes, GS 53). É sobretudo através da cultura que as pessoas adquirem o sentido de identidade nacional e desenvolvem o amor pelo seu próprio país; trata-se de valores que devem ser tutelados, não com tacanhez de espírito, mas com respeito e compaixão por toda a família humana. Como tive a ocasião de salientar na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2001, devem- se envidar esforços para "evitar que as formas patológicas que têm lugar quando o sentido patriótico assume tons de auto-exaltação, de exclusão da diversidade, gerando formas nacionalistas, racistas e xenófobas" (n. 6).

Assim, o apreço pelos valores presentes na própria cultura deve ser oportunamente acompanhado pelo reconhecimento de que cada cultura, como realidade tipicamente humana e condicionada sob o ponto de vista histórico, tem necessariamente os seus limites. Esta compreensão ajuda a evitar que o orgulho da própria cultura se transforme em isolamento ou se torne uma forma de preconceito e de perseguição contra as demais culturas. O estudo atento das outras culturas revelará que, sob o aspecto de características aparentemente divergentes, existem significativos elementos internos que são comuns. Deste modo, a diversidade cultural pode ser entendida no contexto mais vasto da unidade de toda a raça humana. Desta forma, será menos provável que as diferenças culturais se tornem manancial de mal-entendidos entre os povos e causa de conflitos e guerras; será mais fácil mitigar as reivindicações, às vezes exageradas, de uma determinada cultura sobre a outra. No diálogo entre as culturas, os homens de boa vontade conseguem ver que existem valores comuns a todas as culturas, porque estão radicados na própria natureza da pessoa humana. Trata-se de valores que expressam as características mais autênticas e distintas da humanidade: o valor da solidariedade e da paz; o valor da educação; o valor do perdão e da reconciliação; o valor da própria vida.

É-me grato observar que a Santa Sé e as Autoridades iranianas têm trabalhado em conjunto, tendo em vista criar oportunidades para este diálogo, não só como promotores de vários encontros mas também como activos participantes nos mesmos. Penso de forma particular no Colóquio patrocinado em conjunto pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e o Secretariado para o Diálogo Inter-religioso da Organização para a Cultura e a Comunicação islâmicas, que teve lugar em Roma no ano passado, sobre o tema do pluralismo religioso na cristandade e no islão. Um ulterior Colóquio, também este promovido de forma conjunta pela Organização para a Cultura e a Comunicação Islâmicas e Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, tem a sua realização prevista em Teerã, mais tarde durante este ano, sobre o tema da identidade religiosa e a educação dos jovens.

Além disso, desejo expressar o meu apreço pelas Conferências bilaterais regulares, que as Autoridades iranianas patrocinam juntamente com outras Igrejas e Comunidades cristãs, dos quais o mais recente teve lugar no ano passado em Teerã, sobre o tema "Islão e Cristandade ortodoxa". Este diálogo certamente ajudará os Governos e os legisladores na salvaguarda dos direitos civis e sociais dos indivíduos e dos povos, de forma especial quando se trata do direito fundamental à liberdade religiosa. Este direito constitui um ponto de referência para todos os demais direitos e de certa forma torna-se um parâmetro dos mesmos, uma vez que envolve o espaço mais íntimo da nossa identidade e dignidade pessoais de seres humanos. Consequentemente, mesmo nos casos em que o Estado concede uma posição jurídica especial a uma religião em particular, subsiste o dever de assegurar que o direito à liberdade de consciência seja legalmente reconhecido e respeitado de forma efectiva para todos os cidadãos e para os estrangeiros que residem nesse país (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1998, n. 1). Quando surgem problemas, o modo eficaz de preservar a harmonia é mediante o diálogo. Os governantes das nações têm o singular dever da clarividência, honestidade e coragem, reconhecendo que todas as pessoas possuem os mesmos direitos e dignidade inalienável, que lhes foram concedidos por Deus, e trabalhando com dedicação pelo bem comum de todos.

A este propósito, a Santa Sé conta com a colaboração das Autoridades iranianas para assegurar que os fiéis católicos do Irão presentes nessa região do mundo desde os primeiros séculos da cristandade gozem da liberdade de professar a sua fé e continuem a constituir uma parte da vida cultural da nação. Não obstante a comunidade cristã seja uma exígua minoria da população global, ela considera-se verdadeiramente iraniana; e após séculos de coexistência com os irmãos e irmãs muçulmanos, ela encontra-se numa posição singular, que lhe permite contribuir para o entendimento mútuo cada vez maior e o respeito entre os fiéis cristãos e os seguidores do islão em toda a parte.

Senhor Embaixador, referi-me aqui a alguns dos ideais e aspirações comuns, que estão na base do crescente relacionamento de respeito e de cooperação entre a Santa Sé e a República Islâmica do Irão. Estou persuadido de que a sua posição como representante do seu Governo servirá para revigorar os vínculos que já nos unem. Enquanto lhe asseguro toda a ajuda e assistência, ao procurar cumprir as suas altas responsabilidades, rezo para que o Senhor Embaixador, o Governo e o povo iranianos que aqui são por Vossa Excelência representandos, recebam as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.






À CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS AGOSTINIANAS SERVAS DE JESUS E MARIA

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001



Caríssimas Irmãs

1. Sinto-me feliz por vos receber hoje e vos dar as minhas cordiais boas-vindas, na conclusão das celebrações do 150º aniversário da morte da Madre Maria Teresa Spinelli, Fundadora da vossa Congregação religiosa. Saúdo todas vós com afecto. Desejo dirigir uma saudação especial à Superiora-Geral, Madre Atanásia Buhagiar, às suas Conselheiras e a quantos, de várias formas, compõem o Comité organizativo das festividades centenárias. Com esta visita, desejais reafirmar a devoção sincera ao Vigário de Cristo e a adesão total ao seu magistério, no espírito da vossa Fundadora, que vos deixou em herança o exemplo de uma fidelidade incondicionada ao Sucessor de Pedro.

Olhais justamente com profunda admiração para esta mulher extraordinária. Tendo nascido em Roma em 1789, e entregando-se à vida religiosa em 1827, ela soube tornar-se humilde e generosa imitadora de Santa Rita de Cássia. Tenho a certeza de que a nova visita que realizastes neste ano, das fontes da sua espiritualidade e da sua obra suscitará em cada uma de vós, suas filhas espirituais, uma profunda consciência do valor e da actualidade do seu método apostólico. Desta forma, podereis oferecer um significativo contributo ao empenho da nova evangelização, que diz respeito a toda a Comunidade eclesial.

2. Por ocasião desta data significativa, desejais reflectir sobre as intuições carismáticas que distinguiram o aparecimento da vossa Família religiosa. Este regresso às raízes, que a Igreja propõe com insistência aos Institutos religiosos, não é olhar com saudades para o passado. Ao contrário, é retomar no presente, com renovado entusiasmo, o compromisso das origens, mantendo inalterado o espírito dos Fundadores, com as devidas adaptações que as novas exigências dos tempos impõem.

Concluiu-se há pouco o Ano Santo e, com a Carta apostólica Novo millennio ineunte, eu quis convidar a Igreja a "fazer-se ao largo". Caríssimas Irmãs, repito-vos isto: é preciso recomeçar a partir de Cristo! Sim, este também é para vós o compromisso prioritário. Não desvieis o olhar do rosto do Senhor: contemplai-o incessantemente na oração e servi-o mediante a acção caritativa em favor dos mais pequeninos e necessitados.

O vosso esforço consista em harmonizar a dimensão contemplativa e o impulso missionário, que constituem os dois pilares fundamentais da vossa identidade religiosa, de acordo com o exemplo arrebatador da Madre Spinelli.

3. Quem permanece num contacto incessante com o Senhor é capaz de responder melhor às expectativas dos homens, sobretudo dos que se encontram em dificuldade. "O Senhor encontrado na contemplação é o mesmo que vive e sofre nos pobres" (Vita consecrata VC 82). A vossa Fundadora compreendeu isto muito bem, e nisto se inspirou para oferecer o conforto de uma família a tantas criaturas privadas da família natural. Só quem encontrou pessoalmente Cristo pode falar d'Ele com eficácia ao coração dos irmãos e levá-los a fazer uma experiência tão profunda da sua amizade que os leve a sentir-se interiormente tocados e transformados.

A vossa Madre Fundadora e as suas primeiras companheiras, repletas de espiritualidade agostiniana, puderam realizar um modelo de comunhão caracterizado por aquele da primeira comunidade apostólica. Nesta linha também vós deveis continuar a caminhar, conscientes de que a centralidade da vida fraterna, expressa na Regra de Agostinho de Hipona, se condensa em ser realmente "cor unum et anima una in Deum".

4. Caríssimas Irmãs! Sois parte viva da Igreja, e a vossa Madre Fundadora gostava de repetir: "Ofereço cordialmente a Deus esta minha vida para me consumir em benefício da Igreja e dos pobres". Segui o seu exemplo; caminhai nas suas pegadas, rezando em comunidade e todos os dias por quantos se empenham pela preservação da fé e a difusão da mensagem evangélica.
Imploro sobre cada uma de vós a contínua assistência da Virgem Santa, para que, ajudadas por ela, Mãe e Modelo de todas as consagrações, possais ser fiéis à vossa vocação.

Com estes bons votos, concedo de coração uma especial Bênção apostólica a vós, ao Conselho-Geral, aos membros da vossa Família religiosa e a quantos se unem a vós nesta significativa celebração jubilar.



SAUDAÇÕES DO SANTO PADRE NO ENCERRAMENTO DA SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS

Basílica de São Paulo Fora dos Muros, 25 de Janeiro de 2001


Sinto-me muito feliz por este momento de festa, que me oferece a oportunidade propícia para expressar novamente a minha gratidão a cada um de vós, venerados e dilectos Irmãos, que quisestes participar na celebração de hoje.


Queridos Irmãos, é-me grato passar este momento de familiaridade convosco, aproveitando a ocasião para vos agradecer a presença cordial na celebração do encerramento da Semana de Oração pela Unidade.

A nossa oração comum junto do túmulo do Apóstolo Paulo tem sido uma fonte de grande alegria para mim. Agradeço ao Senhor este comovedor sinal do nosso compromisso em prol da unidade cristã, no início do terceiro milénio. Assim, de forma muito especial desejo expressar a minha gratidão a cada um de vós pela vossa presença hoje aqui. Cristo, "Caminho, Verdade e Vida", continue a guiar-nos e a ajudar-nos, em fidelidade à sua vontade a fim de que todos sejam um só.
Alegro-me por nos ter sido concedido este momento de comunhão fraterna, depois de termos apresentado a Deus as nossas intenções em oração conjunta.

Desejo agradecer especificamente à:

Delegação do Patriarcado Ecuménico, em representação de Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecuménico;

Delegação do Patriarcado greco-ortodoxo de Alexandria, em representação de Sua Beatitude Pedro VII, Patriarca greco-ortodoxo de Alexandria e de toda a África;

Delegação do Patriarcado greco-ortodoxo de Antioquia, em representação de Sua Beatitude Ignace IV Hazim, Patriarca greco-ortodoxo de Antioquia e de todo o Oriente;

Delegação do Patriarcado de Moscovo, em representação de Sua Santidade Aleixo II, Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias;

Delegação do Patriarcado da Sérvia, em representação de Sua Beatitude Paulo, Patriarca sérvio;

Delegação do Patriarcado ortodoxo da Roménia, em representação de Sua Beatitude Teoctisto, Patriarca da Igreja ortodoxo-romena;

Delegação da Igreja ortodoxa da Bulgária, em representação de Sua Beatitude Máximo, Metropolita de Sófia e Patriarca da Bulgária;

Delegação da Igreja ortodoxa da Grécia, em representação de Sua Beatitude Chrisódoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia;

Delegação da Igreja ortodoxa da Polónia, em representação de Sua Beatitude Sawa, Metropolita ortodoxo de Varsóvia e de toda a Polónia;

Delegação da Igreja ortodoxa da Albânia, em representação de Sua Beatitude Anastácio, Arcebispo de Tirana, Durres e de toda a Albânia;

Delegação do Patriarcado copto-ortodoxo de Alexandria, em representação de Sua Santidade Shenouda III, Papa de Alexandria e Patriarca da Sé de São Marcos;

Delegação do Patriarcado ortodoxo da Etiópia, em representação de Sua Santidade Abba Paulos, Patriarca da Etiópia;

Delegação do Patriarcado sírio-ortodoxo de Antioquia, em representação de Sua Santidade Mar Ignatius Zakka I Iwas, Patriarca sírio-ortodoxo de Antioquia e de todo o Oriente;

Delegação da Igreja sírio-ortodoxa Malancar, em representação de Sua Santidade Mar Baseios Marthoma Mathew II, Catholicos do Oriente;

Delegação da Igreja Apostólica Arménia, em representação de Sua Santidade Karekin II, Patriarca Supremo e Catholicos de todos os Arménios;

Delegação do Catholicossato da Cilícia dos Arménios (Atélias, Líbano), em representação de Sua Santidade Aram I, Catholicos da Cilícia;

Delegação da Igreja assíria do Oriente, em representação de Sua Santidade Mar Dinkha IV, Catholicos e Patriarca da Igreja assíria do Oriente;

Delegação da Comunhão Anglicana, em representação do Arcebispo de Cantuária e Primaz da Comunhão Anglicana, Sua Graça George L. Carey;

e enfim à:

Delegação da Federação Luterana Mundial;

Delegação da Aliança Mundial das Igrejas Reformadas;

Delegação do Conselho Metodista Mundial;

Delegação da Aliança Baptista Mundial;

Delegação do Conselho Ecuménico das Igrejas.

Além disso, exprimo o meu profundo reconhecimento ao Abade-Geral, ao Abade e à Comunidade monástica de São Paulo, que uma vez mais ofereceram a sua generosa disponibilidade e hospitalidade. O Senhor conceda bênçãos copiosas a cada um de vós e cumule as vossas comunidades com os seus dons.

No final do nosso encontro, peço ao Senhor que vos abençoe, a vós e às vossas comunidades, para que juntos testemunhemos cada vez mais Cristo ressuscitado.

O Senhor derrame as suas bênçãos abundantes sobre cada um de vós e as comunidades que representais.

Queridos Irmãos, o Senhor faça brilhar sobre vós a sua luz e conceda paz e bênção às vossas famílias.

Espero poder seguir as pegadas de Abraão, depois deste Ano jubilar.





DISCURSO AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO INTERNACIONAL DE MÚSICA SACRA

Sábado, 27 de Janeiro de 2001




Senhor Cardeal
Estimados Amigos

1. Saúdo cordialmente todos vós, participantes no Congresso Internacional de Música Sacra, e exprimo a minha profunda gratidão às Autoridades que promoveram este encontro, ao Pontifício Conselho para a Cultura, à Academia Nacional de Santa Cecília, ao Pontifício Instituto de Música Sacra, ao Teatro da Ópera de Roma e à Pontifícia Academia de Belas Artes e de Letras dos Virtuosos no Panteão. Transmito um agradecimento especial ao Cardeal Paul Poupard, pelas amáveis palavras de saudação, que me dirigiu em vosso nome.

Sinto-me feliz por vos receber, compositores, músicos especialistas em liturgia e professores de música sacra, aqui vindos do mundo inteiro. As vossas competências asseguram a este Congresso uma verdadeira qualidade artística e litúrgica, assim como uma inquestionável dimensão universal.

Dou as boas-vindas aos qualificados Representantes do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, do Patriarcado da Igreja ortodoxa russa e da Federação luterana mundial, cuja presença constitui um apelo estimulante a unirmos os nossos tesouros musicais. Encontros como este permitem progredir ao longo do caminho da unidade, através da oração que encontra uma das suas expressões mais eminentes nos nossos patrimónios culturais e espirituais. Enfim, saúdo com deferência e reconhecimento os Representantes da Comunidade judaica, que desejaram oferecer a sua experiência específica aos especialistas da música sacra cristã.

2. "O canto de louvor que ressoa eternamente nas moradas celestes e que Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, introduziu nesta terra de exílio, foi sempre repetido pela Igreja durante tantos séculos, constante e fielmente, na maravilhosa variedade das suas formas" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 25 de Julho de 1971, pág. 9). A Constituição apostólica Laudis canticum, mediante a qual em 1970 o Papa Paulo VI promulgou o Ofício divino, na dinâmica da renovação litúrgica inaugurada pelo Concílio Vaticano II, exprime em primeiro lugar a profunda vocação da Igreja, chamada a viver o serviço quotidiano da acção de graças num incessante louvor à Trindade. A Igreja recorre ao seu canto perpétuo na polifonia das múltiplas formas de arte. A sua tradição musical constitui um património de valor inestimável, dado que a música sacra é chamada a traduzir a verdade do mistério que se celebra na liturgia (cf. Sacrosanctum concilium, SC 112).

Em conformidade com a antiga tradição judaica (cf. 1Ch 16,4-9 1Ch 16,23 cf. também Ps 80), com que Cristo e os Apóstolos foram alimentados (cf. Mt Mt 26,30 cf. também Ep 5,19 Cl Ep 3,16), a música sacra desenvolveu-se ao longo dos séculos em todos os continentes, segundo o génio próprio das culturas, manifestando o magnífico impulso criador demonstrado pelas diferentes famílias litúrgicas do Oriente e do Ocidente. O último Concílio recebeu a herança do passado e levou a cabo um precioso trabalho sistemático em perspectiva pastoral, dedicando à música sacra um capítulo inteiro da Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium. No tempo do Papa Paulo VI, a Sagrada Congregação para os Ritos especificou a actuação desta reflexão através da Instrução Musicam sacram (5 de Março de 1967).

3. A música sacra constitui uma parte integrante da liturgia. O canto gregoriano, reconhecido pela Igreja como "canto próprio da liturgia romana" (Sacrosanctum concilium, SC 116), é um património espiritual e cultural único e universal, que nos foi transmitido como a expressão musical mais límpida da música sacra, ao serviço da Palavra de Deus. A sua influência sobre o desenvolvimento da música na Europa foi considerável. Tanto os eruditos trabalhos de paleografia da Abadia de São Pedro de Solesmes e a edição das recompilações do canto gregoriano, fomentadas pelo Papa Paulo VI, como também a multiplicação dos coros gregorianos, contribuíram para a renovação da liturgia e da música sacra em particular.

Embora reconheça o lugar proeminente do canto gregoriano, a Igreja mostra-se também acolhedora no que diz respeito a outras formas musicais, especialmente a polifonia. Em todo o caso, é oportuno que estas várias formas musicais estejam em harmonia "com o espírito da acção litúrgica" (Ibidem). A partir desta perspectiva, é particularmente evocadora a obra de Pierluigi de Palestrina, o mestre da polifonia clássica. A sua inspiração transformou-o em modelo para compositores de música sacra, que ele colocou ao serviço da liturgia.

4. De forma especial a segunda metade do século XX testemunhou o desenvolvimento da música religiosa popular, de harmonia com o desejo expresso pelo Concílio Vaticano II, a fim de ser esta forma de canto "promovida com vigor" (cf. Ibid., n. 118). Esta forma de canto é particularmente adequada para a participação dos fiéis, tanto nas práticas devocionais como na própria liturgia. Ela exige dos compositores e dos poetas a qualidade da criatividade, a fim de abrir os corações aos fiéis para o significado mais profundo do texto, do qual a música é instrumento. Isto é também verdade a propósito da música tradicional, pela qual o Concílio expressava grande estima, exortando a que a mesma receba "o lugar que lhe compete, tanto na educação do sentido religioso desses povos, como na adaptação do culto à sua índole" (Ibid., n. 119).

O canto popular, que é um vínculo de unidade e uma jubilosa expressão da comunidade em oração, promove a proclamação da única fé e oferece às grandiosas assembleias litúrgicas uma solenidade incomparável e íntima. Durante o grande Jubileu, tive a alegria de ver e de ouvir um elevado número de fiéis, reunidos na Praça de São Pedro para celebrar em uníssono a acção de graças da Igreja. Uma vez mais, agradeço a todas as pessoas que contribuíram para as celebrações jubilares: o uso dos recursos da música sacra, especialmente durante as comemorações pontifícias, foi exemplar. O canto gregoriano, a polifonia clássica e contemporânea, os hinos populares, de maneira particular o Hino do Grande Jubileu, fizeram com que as celebrações litúrgicas fossem fervorosas e de excelsa qualidade. Também às músicas de órgão e instrumental foi reservado um lugar próprio nas comemorações jubilares, e elas ofereceram uma contribuição magnífica para a união dos corações na fé e na caridade, transcendendo a diversidade das línguas e das culturas.

No Ano jubilar também teve lugar a realização de numerosos eventos culturais, de modo especial concertos de música religiosa. Esta forma de expressão musical que é, por assim dizer, uma extensão da música sacra em sentido estrito, tem um significado singular. Hoje, ao comemorarmos o centenário da morte do grande compositor Giuseppe Verdi, que muito recebeu da sua herança cristã, desejo agradecer aos compositores, directores de orquestras, músicos e cantores, e também aos responsáveis pelas sociedades, organizações e associações musicais, os seus esforços na promoção de um repertório culturalmente rico, que dá expressão aos grandes valores ligados à revelação bíblica, à vida de Cristo e dos Santos, e aos mistérios da vida e da morte, celebrados pela liturgia cristã. De igual modo, a música religiosa edifica pontes entre a mensagem de salvação e as pessoas que, embora ainda não aceitem Cristo plenamente, são sensíveis à beleza, porque "a beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente" (Carta aos Artistas, 16). A beleza torna possível um diálogo fecundo.

5. A aplicação das orientações do Concílio Vaticano II acerca da renovação da música sacra e do canto litúrgico de modo particular nos coros, nas capelas musicais e nas Scholae Cantorum exige hoje dos pastores e dos fiéis uma sólida formação a níveis cultural, espiritual, litúrgico e musical. Além disso, requer uma reflexão aprofundada, para definir os critérios de constituição e de difusão de um repertório de qualidade, que consinta à expressão musical servir de maneira apropriada o seu fim último, que é "a glória de Deus e a santificação dos fiéis" (Sacrosanctum concilium, SC 112).

Isto vale em particular para a música instrumental. Embora o órgão de tubos permaneça o instumento da música sacra por excelência, as composições musicais hodiernas integram formações instrumentais cada vez mais diversificadas. Formulo votos para que esta riqueza ajude a Igreja em oração, a fim de que a sinfonia do seu louvor esteja de harmonia com o "diapasão" de Cristo Salvador.

6. Dilectos amigos músicos, poetas e liturgistas, a vossa contribuição é indispensável. "Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros fiéis, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua condigna realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus" (Carta aos Artistas, 12).

Estou convicto de que posso contar com a vossa generosa colaboração para conservar e incrementar o património cultural da música sacra, ao serviço de uma liturgia fervorosa, lugar privilegiado de inculturação da fé e de evangelização das culturas. Por este motivo, confio-vos à intercessão da Virgem Maria, que soube cantar as maravilhas de Deus, e concedo com afecto, a vós e às pessoas que vos são queridas, a Bênção apostólica.



Discursos João Paulo II 2001 - Sexta-feira 19 de Janeiro de 2001