Discursos João Paulo II 2001 - 1 de Fevereiro de 2001

AOS BISPOS DA ALBÂNIA POR OCASIÃO DA


VISITA "AL LIMINA"


Sábado, 3 de Fevereiro de 2001



Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio!

1. Estou repleto de alegria por vos receber nesta primeira visita "ad limina", depois da Albânia ter encontrado de novo, após o fim da ditadura comunista, o seu lugar entre as Nações livres e democráticas. Saúdo-vos com grande afecto e a cada um apresento as minhas cordiais saudações. Agradeço a D. Angelo Massafra, Presidente da Conferência Episcopal, por ter querido interpretar os vossos sentimentos comuns. Dirijo de igual modo, um pensamento de bons votos a D. Rrok Miridita, Arcebispo de Durrës-Tirana, que não pôde estar connosco por motivos de saúde.

Dirijo uma afectuosa saudação aos quatro novos Administradores Apostólicos de Rreshen, Lezhe, Sape e Pulati-Bajze, cuja nomeação, depois da reorganização das circunscrições eclesiásticas, constitui um sinal prometedor para a vida de todo o povo cristão da Albânia.

Voltam à minha memória os contactos que tive com a vossa Comunidade eclesial. Penso na Visita pastoral de 25 de Abril de 1993, e na ordenação dos primeiros quatro Bispos albaneses, que teve lugar naquela mesma memorável ocasião. O meu pensamento dirige-se especialmente a D. Frano Illia e a D. Robert Ashta, que regressaram à casa do Pai, depois de uma existência vivida na corajosa fidelidade ao Evangelho. Penso, de igual modo, na elevação ao purpurado do saudoso Cardeal Mikel Koliqi, testemunha fiel de Cristo que, na sua venerada figura, quase sintetizava a história dos sofrimentos, das perseguições e da indómita esperança dos cristãos da vossa amada Terra.

2. O longo caminho da Igreja católica na Albânia conheceu momentos de prometedora vitalidade e estações de dificuldade, entre obstáculos e perseguições. É suficiente recordar o longo domínio turco, que durante 450 anos pôs à dura prova a fé dos católicos albaneses e, mais perto de nós, o meio século de ditadura comunista, que os obrigou a viver nas catacumbas. Por vezes teve-se até a impressão de que a comunidade eclesial estava inevitavelmente destinada a desaparecer, mas a presença misteriosa do Senhor, precisamente naquela época, lançava a semente de novos florescimentos e de novos frutos. Também se realizou na Albânia o que afirmava Tertuliano: "O sangue dos mártires é semente de novos cristãos" (Apologeticum, 50, 13). Isto é confirmado pelos numerosos albaneses que perseveraram na fé, apesar da dura opressão sofrida por causa da sua adesão ao Evangelho. Disto deram um maravilhoso testemunho os sacerdotes e os religiosos que sofreram o cárcere e a tortura.

Nesta especial ocasião, desejo agradecer a toda a Igreja albanesa o testemunho oferecido nos anos da perseguição e unir-me a ela no louvor ao Senhor por termos podido celebrar juntos, aqui em Roma, no passado dia 4 de Novembro, o décimo aniversário da reabertura das Igrejas e da retomada da vida eclesial no País. De igual modo, dirijo um reconhecido pensamento aos sacerdotes, aos religiosos e às religiosas, provenientes em grande parte da Itália e do Kossovo, mas também da Bósnia-Herzegovina, da Croácia, da Alemanha, da Áustria, da Eslovénia, de Malta, da Índia e das Filipinas, que com o seu contributo pastoral, cultural e material, cooperam de maneira eficaz na causa do Evangelho.

3. Depois de um longo inverno de perseguições, iniciou-se a estação da esperança. Foram construídas várias igrejas e abertas numerosas casas religiosas, que constituem providenciais e importantes pontos de evangelização e de promoção humana. Aumentaram as vocações para a vida sacerdortal e religiosa. Foi reaberto o Seminário Maior interdiocesano de Escútari, que a 29 de Junho de 1999 já começou a dar os seus frutos com as primeiras 5 ordenações sacerdotais. É notável também o empenho social e educativo que levou à construção de clínicas, dispensários, escolas para crianças e jovens. Nem faltou a assistência aos pobres, através da construção de casas para os desalojados e a distribuição de alimentos e vestuário. Neste espaço de tempo a vossa Igreja readquiriu o seu lugar no âmbito da vida da Nação. Durante as desordens e os combates fratricidas de 1997, ela desempenhou um papel de pacificação; através da Caritas nacional e de outras organizações católicas não-governamentais, empenhou-se em favor dos refugiados do Kossovo; realizou, além disso, importantes iniciativas como "o sino da paz", querida pelas crianças da zona de Zadrina de Lezha, e a "aldeia da paz" construída em Escútari pelos Religiosos da Obra Dom Orione. Nem posso esquecer o diálogo constantemente mantido com as comunidades ortodoxas e muçulmanas.

Ao lado de tantos motivos de satisfação pelo trabalho desempenhado pela vossa Comunidade, não posso deixar de mencionar o conforto que senti com as iniciativas culturais por vós promovidas, tais como a Conferência internacional sobre o tema: "Cristianismo entre os Albaneses", de 16 a 19 de Novembro de 1999, bem como a participação de numerosas representações das vossas Igrejas nas celebrações jubilares em Roma.

4. "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28,20). Esta certeza... acompanhou a Igreja durante dois milénios, e agora foi reavivada nos nossos corações com a celebração do Jubileu. Devemos haurir dela um renovado impulso na vida cristã, fazendo dela a força inspiradora do nosso caminho. Conscientes da presença entre nós do Ressuscitado, hoje fazemo-nos a pergunta dirigida a Pedro em Jerusalém, logo depois do seu sermão de Pentecostes: "Que devemos fazer? (Ac 2,37)" (Carta apost. Novo millennio ineunte, 29).

Estas palavras, que exprimem a profunda motivação de cada projecto pastoral depois da experiência de graça do Jubileu, são actuais como nunca para vós, caríssimos Pastores da Igreja que está na Albânia. Não foi porventura a certeza da presença do Ressuscitado que apoiou os vossos mártires, alimentou a esperança dos cristãos e deu às vossas Comunidades a força de ressurgir depois da tremenda experiência do comunismo ateu? Não deve porventura esta certeza basear todos os vossos projectos no presente e no futuro?

Nesta nova época emergem algumas prioridades, com as quais está ligada a qualidade do futuro das vossas Comunidades. Sempre na Carta Apostólica Novo millennio ineunte eu escrevia: "Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milénio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo" (Ibid., 43).

Este empenho deve encontrar na vossa Conferência Episcopal uma referência autorizada e segura. Estou certo de que um estilo acolhedor e respeitador de todos os carismas vos levará a valorizar o contributo dos missionários e das religiosas que, provenientes de outras nações, escolheram servir Cristo e os irmãos na vossa Terra. A sua presença e o seu empenho pastoral constituem um dom para as vossas Comunidades. Cooperar juntos, no respeito recíproco, porque nos sentimos todos parte de uma única Igreja e ao serviço da única causa do Evangelho: esta é a atitude justa para desenvolver de modo eficaz o programa de uma inculturação cada vez mais profunda da mensagem cristã no contexto albanês.

5. É uma tarefa que requer o contributo de cada um, e por isso é necessário que as paróquias se tornem lugares privilegiados de escuta da palavra de Deus, de formação e de experiência cristã.

É também de importância fundamental a preparação do clero e a atenção à pastoral vocacional, porque o futuro de uma Igreja está em grande parte ligado à sua capacidade de fornecer, a quantos são chamados ao sacerdócio ministerial e à vida consagrada, uma bagagem espiritual, doutrinal e pastoral sólida e atenta aos sinais dos tempos.

À formação do clero, dos religiosos e dos operadores pastorais, vós juntais, venerados Irmãos no Episcopado, uma acentuada atenção a outros dois irrenunciáveis objectivos da Igreja do terceiro milénio: a pastoral juvenil e a familiar. De facto, é urgente preparar as jovens gerações para que construam um futuro melhor no seu País, superando a tentação da emigração e a ilusão de fáceis êxitos a alcançar no estrangeiro. É também indispensável apoiar moral e materialmente as famílias e combater os graves males que, infelizmente, também afligem o vosso País, como o aborto, a prostituição, a droga, o espírito de vingança, a exploração das mulheres e a violência. Não vos canseis de levantar com firmeza a vossa voz em defesa da vida desde a sua concepção, e não vos deixeis dissuadir do empenho de defender com corajosa determinação a dignidade de cada pessoa humana.

6. É grande o campo de evangelização e de promoção humana que se abre diante dos vossos olhos, caríssimos Irmãos no Episcopado! As dimensões dos problemas por vezes poderia desencorajar-vos. Como cumprir uma tarefa tão empenhativa? Como construir comunidades adultas, protagonistas da nova evangelização? Em primeiro lugar, mantendo o coração firme em Cristo: dele podereis haurir força e luz. A sua graça tornar-vos-á fortes e pacientes, prontos para receber os numerosos dons com os quais ele próprio enche a sua Igreja. Também a vós, como aos profetas enviados a anunciar a Palavra em contextos difíceis e hostis, o Ressuscitado continua a repetir: "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo". Eu estarei convosco. Não tenhais medo!". Fortificados pelo poder da Cruz, as vossas Igrejas, pequenas sementes no enorme campo de Deus, poderão tornar-se árvores frondosas e ricas de frutos.

Acompanhe-vos, com a sua materna protecção, a Mãe do Senhor, que com a sua presença e a sua oração esteve próxima dos Apóstolos no Cenáculo. Que ela torne fecundo cada um dos vossos projectos apostólicos e prepare sempre para o Povo de Deus que vos foi confiado novas efusões do Espírito.

Na canseira quotidiana do vosso ministério seja-vos de conforto a Bênção apostólica, que concedo de coração a vós e aos fiéis da querida Albânia, com um particular pensamento para os doentes, os jovens, as famílias e para quantos estão provados no corpo e no espírito.




AOS PRELADOS DA RÚSSIA EM


VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


9 de fevereiro de 2001





Venerados Irmãos

1. É com imensa alegria que apresento a cada um de vós uma saudação cordial e as minhas mais sinceras boas-vindas. Com esta visita, renovam-se os estreitos vínculos de unidade e de comunhão que vos unem, bem como as Comunidades a vós confiadas, ao Sucessor de Pedro.

Agradeço a D. Tadeusz Kondrusiewicz as expressões que me transmitiu em vosso nome. Ao dirigir-me a vós, desejo fazer chegar o meu pensamento afectuoso às vossas respectivas comunidades, assegurando-lhes a minha constante benevolência e a minha lembrança quotidiana na oração.

Este encontro tem lugar a poucas semanas de distância do encerramento da Porta Santa, enquanto é ainda viva a memória do grande Jubileu, tempo em que a misericórdia divina desceu em abundância sobre a Igreja e o mundo. Os frutos deste acontecimento extraordinário são perceptíveis e constituem um profícuo encorajamento a intensificar os esforços pelo Reino de Deus.

Caríssimos Irmãos no Episcopado, fortalecidos pelo espírito do grande Jubileu, também vós retomais o vosso caminho no meio das provações do mundo e das consolações de Deus, conservando com firmeza o compromisso de uma evangelização capilar e de uma constante edificação do sensus Ecclesiae. Nesta vasta acção pastoral vos sirva de válida ajuda a colaboração dos sacerdotes, das pessoas consagradas, dos fiéis leigos, assim como da promissora plêiade de jovens que se preparam para o ministério presbiteral.

2. São ainda muito acentuados os sinais deixados por setenta anos de ateísmo militante, mas eles não devem desencorajar o exercício do vosso ministério. A consciência de que Cristo vos chamou para anunciar o Evangelho num tempo difícil vos conduza a uma mais ousada obra de catequização de quantos a Providência vos confiou. Conheço os esforços que estais a levar a cabo nessa região para tornar acessíveis na vossa língua os livros litúrgicos, os ensinamentos do Magistério, os subsídios catequéticos e os manuais de oração. Desejo encorajar-vos a prosseguir ao longo deste caminho, porque é no fundamento de uma consciência convicta e orante dos mistérios de Deus que se consolida uma adesão mais profunda e generosa à vida da graça.

A vasta missão evangelizadora que estais a promover exige em primeiro lugar que vos preocupeis em formar sacerdotes santos e ardentes no seu apostolado. A este propósito, já estais a dedicar-vos à preparação de educadores e professores que, sendo russos de nascimento, saibam compreender profundamente a mentalidade e a herança do grande povo a que pertencem e, ao mesmo tempo, sejam capazes de encontrar no conhecimento das Escrituras e dos antigos Padres a valorização mais completa e autêntica do génio que é próprio da sua cultura.

Além disso, é necessário empenhar os jovens no compromisso da nova evangelização, identificando as várias vocações que Deus confia a quantos foram marcados com o selo do Baptismo. É óbvio que na base de tudo é imprescindível que exista uma oração confiante ao Senhor da messe, a fim de que seja Ele mesmo a enviar para a sua messe operários segundo o Seu coração, santos e generosos.

3. A vocação nasce de Deus, mas cresce no âmbito da família e é sustentada por uma comunidade cristã ardorosa e fiel. Quem não conhece a desolação espiritual e moral deixada em herança pelo século que há pouco chegou ao seu termo? Quem é que não está a par das dificuldades que ainda hoje as famílias, de maneira especial as jovens, estão a enfrentar? Sabei constituir para elas uma ajuda válida e encorajadora. Caminhai ao seu lado, tornando-vos suas guias seguras; ajudai-as com a oração, abri-lhes os tesouros da misericórdia divina e reparti-lhes o pão da verdade de Cristo. Esta é uma vasta acção apostólica que vós, Pastores diocesanos, sois chamados a levar a cabo com aqueles que Deus colocou ao vosso lado: sacerdotes, pessoas consagradas e leigos colaboradores. Alimentai entre vós um espírito de entendimento cordial e de sustento recíproco, respeitando o carisma de cada um e harmonizando os vários métodos de evangelização.
Por mais inevitáveis que sejam as dificuldades da vida quotidiana, podereis superá-las sempre com a ajuda do Senhor, mantendo-vos na via-mestra do diálogo da caridade. É desta maneira que as dádivas individuais são colocadas ao serviço do bem de todo o Corpo de Cristo.

4. O diálogo respeitador torna-se também uma metodologia paciente, graças à qual é possível relacionar-se com os outros baptizados que vivem na Rússia. Procurai o que favorece a compreensão recíproca e, quando for possível, a colaboração: eis uma regra concreta de diálogo ecuménico, muito querida ao Beato Papa João XXIII, que gostava de repetir que é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa. Eis por que motivo não devemos desencorajar-nos diante das dificuldades e nem mesmo perante os reveses da senda ecuménica mas, sustentados pela oração, devemos continuar a progredir com todos os esforços em benefício do restabelecimento da plena comunhão entre os discípulos de Cristo. Com a confiança em Deus, a caridade e a constância, é possível contribuir para apressar a realização do premente apelo do Mestre divino: "Para que sejam um só, a fim de que o mundo creia!" (Jn 17,21).

Venerados Irmãos, o Bispo de Roma está próximo de vós e com grande afecto encoraja-vos a continuar esta importante obra espiritual que Deus vos confiou. O vosso sinal distintivo seja a caridade, que é o vínculo da perfeição. Animados por esta virtude fundamental sabereis encontrar, como já estais a fazer, formas de ajuda para os pobres e os necessitados que batem à porta do vosso coração. Imitando o bom Samaritano evangélico, servireis ao próprio Cristo que se vos apresenta nas vestes rasgadas, nos rostos implorantes e no corpo ferido dos miseráveis e dos abandonados. Esta é uma obra de evangelização imediata e compreensível.

Enquanto vos confio à salvaguarda de Maria, Mãe de Deus, venerada com terno afecto em todo o território em que desempenhais a vossa missão apostólica, invoco sobre vós a abundância das graças celestiais e, do íntimo do coração, vos abençoo.




AOS PRELADOS DA REGIÃO DO CÁUCASO


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2001




Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio

1. Para mim é motivo de grande alegria dar-vos as cordiais boas-vindas durante esta vossa visita ad Limina, com a qual desejais confirmar os sentimentos de comunhão que vos unem ao Sucessor de Pedro.

Agradeço a D. Nerses der Nersessian as amáveis palavras que me quis transmitir, interpretando os sentimentos de todos. Ao dirigir o meu pensamento para vós, amados Pastores, desejo manifestar a expressão do meu afecto sincero aos fiéis das vossas Igrejas. Incluo todos nas minhas orações quotidianas.

Este nosso encontro realiza-se no início de um novo milénio. A herança legada pelo difícil século que há pouco terminou coloca a Igreja, presente em muitas regiões, diante de problemas urgentes e complexos. No campo da evangelização e do pastoreio do povo cristão, a primeira tarefa que cabe também a vós é sem dúvida a da reconstrução das vossas respectivas Comunidades, pequena grei por demasiado tempo perseguida e dispersa.

2. A experiência que estais a viver durante estes anos persuade-vos de que, mediante o anúncio do Evangelho, é possível não só dar renovada coragem às Comunidades eclesiais, mas contribuir com eficácia para a edificação de uma nova sociedade assente sobre sólidos valores éticos e morais. Em todas as vossas actividades, mantende inabalável a vossa confiança em Deus. Com efeito, é Ele que edifica a Igreja e orienta o caminho dos povos em conformidade com os Seus insondáveis desígnios de salvação.

Sede convictos portadores de uma cultura nova que, pregando o respeito de cada um por todos, se fundamente nos supremos valores do espírito e reconheça a primazia de Deus na existência. Fortalecidos por esta consciência, trabalhai sem hesitações para difundir a esperança, estimulando com todos os meios a cooperação de todos no anúncio do Evangelho.

Em primeiro lugar, é preciso fazer desenvolver no vosso rebanho uma mentalidade renovada, inspirada na civilização do amor, que confirme o respeito por cada ser humano. Não tenhais medo de vos pronunciardes em defesa de cada causa justa e oferecei explicitamente o dom que recebestes, ou seja, a fé em Cristo que vos escolheu. Dai testemunho da sua mensagem salvífica, destinada a todas as nações.

3. Para cumprir esta missão profética, as vossas Comunidades devem adquirir cada vez mais consciência da sua própria vocação. Na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, pensando na pequena barca da Igreja que deve singrar o vasto oceano que Deus lhe põe à frente no início de um novo milénio, convidei os Pastores e os fiéis a "recomeçar a partir de Cristo", encorajados pela esperança, enfrentando as novas tarefas com sólida confiança no sustentáculo indefectível da Providência. Para esta vasta acção apostólica, devem ser plenamente valorizadas as energias dos sacerdotes, dos consagrados e dos leigos. A sua formação constitua a vossa atenção prioritária a fim de que, haurindo do tesouro da oração e do estudo, sejam capazes de compartilhar os problemas do homem contemporâneo, oferecendo a todos o vigoroso alimento da Palavra de Deus.

Reservai uma atenção especial aos jovens, que são o futuro da Igreja e da humanidade. Se Cristo os chama a segui-lo na via do sacerdócio ou da vida consagrada, estai ao seu lado e empenhai toda a comunidade cristã na necessária obra vocacional.

4. As tarefas prioritárias, às quais não vos deveis cansar de dedicar o vosso tempo, continuam a ser "a oração e o ministério da palavra" (Ac 6,4). Por isso, o Senhor escolheu-vos para, depois de longos momentos de oração, anunciar o seu Evangelho e transmitir a esperança e a consolação do seu amor a todos. É no prolongado contacto com Ele que podeis encontrar o entusiasmo necessário para difundir com coragem a mensagem do amor misericordioso de Deus, que se abre para abraçar toda a miséria humana.

Além disso, apesar da escassa disponibilidade de meios, não vos esqueçais dos pobres e daqueles que se encontram em dificuldade. A difícil herança do passado coloca-vos diante de famílias frágeis, ameaçadas pelos flagelos sociais do divórcio e do aborto. E quantas pessoas, também nas vossas terras, são tentadas pelas miragens do materialismo prático e do hedonismo consumista!

Permanecei ao lado do vosso povo, oferecendo-lhe um apoio concreto, vivificado pelo conforto da fé. Sobretudo, recordai-vos dos jovens que estão à procura de sólidas motivações para enfrentar um futuro que, com frequência, não lhes é claro.

Transmiti a todos a certeza da minha proximidade espiritual. Antes de mais nada, senti a minha solidariedade em relação à vossa solicitude pastoral quotidiana. O amor pelo rebanho de Cristo leve cada um de vós a actuar em atitude de sintonia operosa, a fim de que se confirme na Igreja "a caridade que é o vínculo da perfeição" (Col 3,14).

A celeste Mãe de Deus vos proteja e vos acompanhe!

É com estes sentimentos, e como confirmação do meu afecto, que vos concedo a minha especial Bênção apostólica, que de bom grado estendo a toda a grei a vós confiada pela misericórdia de Deus.




AOS PRELADOS DA ÁSIA CENTRAL


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2001




Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio

1. É-me grato apresentar as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, que viestes para a visita ad Limina. Desejei ardentemente este encontro fraterno, que expressa a plena comunhão das vossas Igrejas com o Sucessor de Pedro. Num momento tão intenso de unidade espiritual, o Senhor faz-nos experimentar a sua presença, encorajando-nos a confirmar a disponibilidade pessoal a orientar o povo confiado pelo seu amor previdente aos nossos cuidados pastorais.

O Grande Jubileu do Ano 2000 terminou há um mês e ainda está vivo em nós o eco deste tempo de graça extraordinária, durante o qual voltámos às fontes da nossa salvação. Agora, retomamos o caminho, conservando o olhar fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (cf. Hb He 13,8).

Agradeço a D. Jan Pawel Lenga as palavras que, em vosso nome, quis dirigir-me com amabilidade. Saúdo cada um de vós com grande afecto. O testemunho que dais do Evangelho, assim como a alegre solicitude com que acompanhais o rebanho de Cristo em circunstâncias certamente não fáceis, em que vos encontrais a trabalhar e a actuar, honram-vos e são de grande conforto também para mim. Depois do longo período de perseguição e de dispersão, que causou múltiplos sofrimentos e privações, e às vezes até mesmo o martírio, agora abriu-se o tempo da esperança para as vossas comunidades, pequenas mas promissoras. Conheço muito bem os vossos cansaços e encorajo-vos a perseverar no esforço empreendido: olhai sempre para Cristo, nossa esperança certa, e servi-O com um coração ardente.

Venerados Irmãos, enquanto vos manifesto estes meus sentimentos, desejaria fazer chegar espiritualmente às populações a vós confiadas os votos mais queridos de uma fidelidade evangélica cada vez mais generosa. Penso no clero, nas pessoas consagradas, nos leigos, nos jovens, nas famílias e especialmente em quantos se sentem aflitos no corpo e no espírito.

2. Como Pastores, Deus destinou-vos a orientar os vossos povos com humildade sábia, edificando-lhes modelos para os quais eles podem olhar com confiança (cf. 1P 5,2-3). Mediante o vosso ministério e em comunhão com o Papa, perpetuais a obra do próprio Cristo, o Bom Pastor, que apascenta as suas ovelhas e cuida delas com solicitude incansável. Com a sua graça, Ele santifica quantos O recebem e nutre a Igreja com o dom dos Sacramentos.

Caríssimos, sede diligentes no cumprimento da vossa missão. Imitai-vos uns aos outros na caridade recíproca; entretecei entre vós um diálogo franco e cordial, ajudai-vos mutuamente, no respeito das responsabilidades de cada um. O amor que reina entre vós sirva de exemplo tanto para os sacerdotes que vos coadjuvam, como para os fiéis que vos consideram como faróis luminosos que indicam o caminho a percorrer.

O vosso espírito se conserve aberto a cada palavra de boa vontade; com as vossas palavras e as vossas acções, estimulai cada um a uma profunda colaboração para edificar a Igreja na concórdia, na operosidade e na paz. Perante a vastidão e a complexidade da messe e do exíguo número dos operários, não desanimeis. Tende confiança em Cristo, que tudo sabe completar. Guiai as vossas comunidades em seu nome, sem temer as dificuldades nem os obstáculos.

3. Encontrando-vos pessoalmente, tive a oportunidade de melhor compreender as metas para as quais tendeis e as problemáticas que vos preocupam. Estou próximo de vós na fraternidade e sustento-vos com a oração. Um longo caminho ainda deve ser percorrido, mas estou certo de que não vos faltará o entusiasmo para progredir com prontidão, ultrapassando os obstáculos com a contribuição de todos.

Penso, por exemplo, numa justa relação com as autoridades administrativas, de tal forma que o vosso ministério possa realizar-se num contexto jurídico respeitador das leis do Estado e da vossa liberdade legítima. Além disso, penso na necessária compreensão que deve ser cada vez mais estreita com o clero diocesano e religioso. Com a oração e a vossa paternidade condescendente, sustentai os sacerdotes e os religiosos, impelindo-os a recorrer, na oração e na celebração da Eucaristia, às energias que brotam do encontro quotidiano com Cristo, sumo e eterno Sacerdote consagrado à glória do Pai. A vossa solicitude de Pastores saiba valorizar o melhor de cada um, de tal maneira que os dons individuais beneficiem toda a comunidade. A Providência divina, que jamais deixa sozinho quem nela confia, ajudar-vos-á também com ulteriores recursos e novos colaboradores no ministério sacerdotal, para que vos acompanhem nos cansaços, se unam a vós e façam aumentar o cuidado de todo o Povo de Deus.

Confio-vos à intercessão de Maria, Estrela da evangelização e Rainha dos Apóstolos. Ela vos conforte e sustenha no quotidiano afã apostólico. Sirvam-vos de encorajamento e de apoio também o exemplo e a interecessão dos santos Padroeiros e das fiéis testemunhas da fé, algumas das quais, também nas vossas terras, selaram com o sangue a sua adesão a Cristo e ao Evangelho.

Com estes sentimentos e como penhor do meu afecto, concedo-vos uma especial Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva a todo o rebanho que vos foi confiado.






À CONGREGAÇÃO DOS


PADRES ESCALABRINIANOS


POR OCASIÃO DO CAPÍTULO GERAL


Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2001




Caríssimos Padres Capitulares Escalabrinianos

1. Sinto-me feliz por este encontro que me permite saudar-vos pessoalmente, por ocasião do vosso Capítulo Geral. Solicitastes esta Audiência para reconfirmar a vossa devoção ao Sucessor de Pedro, no seguimento da fidelidade que caracterizou o Fundador. Dou a todos as minhas cordiais boas-vindas!

Passaram pouco mais de dois anos desde quando nos encontrámos em Castel Gandolfo, em Setembro de 1998. O desaparecimento prematuro do vosso Superior-Geral, Padre Luigi Favero, que guiou com paixão a vossa Congregação, trouxe-vos outra vez a Roma para eleger o novo Superior-Geral. Os vossos votos orientaram-se para o Padre Isaías Birollo, ao qual dirijo as minhas felicitações e os meus votos pela empenhativa tarefa que lhe é confiada. Ao mesmo tempo exprimo votos de que esta vossa reunião em Roma vos tenha consentido aprofundar o vosso projecto missionário.

2. Celebrastes o Capítulo Geral enquanto ainda é viva a memória do Grande Jubileu, que nos introduziu no terceiro milénio da era cristã. Este momento de reconciliação e de graça foi vivido "não só como lembrança do passado, mas também como profecia do futuro" (Novo millennio ineunte, 3). Na peregrinação da Igreja os migrantes são ícone eloquente do caminho de todo o Povo de Deus para o Pai, que deseja revelar o seu rosto a quem o procura. A sua vicissitude adquire um valor simbólico sobre o qual vale a pena reflectir.

As migrações modernas põem em evidência as consequências de fenómenos sociais amplos e complexos, que dizem respeito em maior ou menor medida a todas as sociedades. Os desequilíbrios criados por processos económicos que se repercutem sobretudo nos mais débeis obrigam milhões de mulheres e de homens a procurar possibilidades de sobrevivência noutras partes. Conflitos étnicos, desastres naturais e opressões políticas obrigam populações inteiras a pedir asilo e protecção a outras Nações. Ao mesmo tempo, o medo do estrangeiro leva as sociedades do bem-estar a introduzir restrições ao ingresso dos migrantes, tornando mais difícil o seu acolhimento e integração. Contudo, as barreiras não podem deter a esperança de quem tem direito a um futuro melhor.

De facto, a presença dos migrantes transformou muitos Países em sociedades multiétnicas e multiculturais. Esta diversidade muitas vezes é percebida como ameaça à identidade cultural e religiosa dos Países de acolhimento. Disto surgem tendências a exclusões xenófobas, que encerram em si o perigo de tensões e de incompreensões, que danificam a paz social. Perante o risco de conflitos étnicos, todos são convidados a pensar de novo na convivência social em termos de diálogo e de convívio.

Com efeito, a verdadeira integração requer que se construa uma sociedade capaz de reconhecer as diferenças sem as tornar absolutas e de promover uma geração de cidadãos formados na cultura do diálogo. "Na condição de um pluralismo cultural e religioso mais acentuado, como se prevê na sociedade do novo milénio, isso é importante até para criar uma segura premissa para a paz" (Ibid., 55).

3. Queridos Padres Escalabrinianos, perante temáticas como estas, a vossa missão revela toda a sua actualidade. Sois chamados a aprofundar o vosso carisma, para o difundir como dom da Igreja ao mundo da mobilidade humana. Os horizontes cada vez mais vastos das migrações requerem que tenhais a coragem de vos abrirdes a novas fronteiras, para as quais a missão vos chama. O Dono da messe não deixará que os filhos mais débeis e dispersos permaneçam privados de alguém que reparta para eles o pão e os reúna em unidade.

Reflectindo sobre o vosso projecto missionário, tomastes também uma consciência mais clara do facto de que a vida fraterna em comunidade qualifica a vossa existência e missão específica. Também através deste testemunho, podeis ser sinal, profecia e testemunho da ressurreição onde são mais evidentes os sinais da divisão e da injustiça. Recebendo juntos os migrantes de Nações diferentes, fareis com que nas várias Igrejas locais possam ecoar de novo em diversas línguas, como no Pentecostes, o louvor de Deus pelas maravilhas que Ele realiza na história.

Diante do rosto sofredor dos migrantes, senti-vos empenhados na defesa e promoção dos seus direitos, com aquela participação cordial que o Espírito suscita em quantos chamou para o serviço do reino. O número crescente de migrantes não-cristãos não pode deixar indiferentes as Comunidades eclesiais, chamadas a anunciar e a testemunhar o amor salvífico do Pai. "Anunciar e testemunhar o evangelho da caridade constitui o tecido conectivo da missão dirigida aos migrantes" (Mensagem para o Dia Mundial dos Migrantes, 2001).

4. A especificidade do vosso carisma estimula-vos a testemunhar e a anunciar a Boa Nova do reino aos migrantes que vivem de maneira mais grave o seu drama. Na procura de um futuro melhor, muitas vezes eles conhecem a exclusão, a marginalização e a prisão. Compete-vos a vós apoiar a sua esperança, fazendo com que através da vossa solidariedade e da de tantos outros cristãos, eles possam conhecer a próvida acção de Deus que guia a história para um futuro mais humano. A fé vivida entre as dificuldades quotidianas torna-se anúncio da missão de Cristo, que veio para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos (Jn 11,52).

O migrante interpela-vos e desafia-vos a viver os valores da abertura, do acolhimento, da comunhão na diversidade, a exemplo do vosso Fundador, o Beato Giovanni Battista Scalabrini, o qual soube ler a realidade migratória numa perspectiva providencial e profética. Juntamente com ele, sabei olhar para as migrações com os olhos de Deus e ouvir a sua palavra com o coração do migrante.

Peço à Virgem Maria, Mãe dos migrantes, que acompanhe os vossos propósitos no cumprimento do vosso projecto missionário, para serdes juntamente com os outros discípulos de Cristo igualmente sensíveis e sagazes, "sentinelas da manhã nesta aurora do novo milénio" (Novo millennio ineunte, 9).

Com estes votos, concedo a todos a minha afectuosa Bênção.






Discursos João Paulo II 2001 - 1 de Fevereiro de 2001