Discursos João Paulo II 2001 - 10 de Novembro de 2001

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE NOVA IORQUE


10 de Novembro de 2001





Dou calorosas boas-vindas à delegação do departamento dos Bombeiros Voluntários de Nova Iorque, pois muitos deles perderam a vida no atentado terrorista de 11 de Setembro. Deus Omnipotente, conceda às famílias atingidas conforto e paz e a vós a força e a coragem necessárias para prestar o vosso grande serviço à vossa cidade. Garantindo-vos as minhas constantes orações, invoco sobre vós e sobre as vossas famílias abundantes bênçãos de Deus.





SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE


AOS MEMBROS DA FAMÍLIA ESPIRITUAL


"DAS WERK" (A OBRA)


10 de Novembro de 2001

Queridas Irmãs e Irmãos da família espiritual "A Obra"!

É com grande alegria que vos dou as boas-vindas a esta audiência e alegro-me por este encontro com a nova família de vida consagrada. No início de um novo século encontrais-vos perante um grande desafio: as pessoas de hoje procuram homens e mulheres, que lhes mostrem Jesus Cristo. Mediante os vossos elevados ideais e o vosso entusiasmo juvenil quereis fazer-vos o "dedo indicador" de Jesus. Por isto tendes a minha estima.

A vossa jovem comunidade pode ser muito útil precisamente para o velho continente, a Europa, porque os nossos contemporâneos ouvem cristãos convictos, que se deixam empenhar e enviar por Deus. A fundadora da vossa família espiritual, Madre Júlia, dá-vos um bonito pensamento: "Desde que Jesus Cristo fundou a sua Igreja, tudo foi fundado. Tem apenas necessidade de pessoas que vivam profundamente esta fundação.

Para que desempenheis conscienciosamente a vossa tarefa em louvor de Deus e para a salvação dos homens, concedo-vos de coração a minha Bênção apostólica.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AOS MEMBROS DA FAMÍLIA ESPIRITUAL


"DAS WERK" (A OBRA)


10 de Dezembro de 2001



Queridas Irmãs e queridos Irmãos da família espiritual "Das Werk"

1. Na alegre comunhão do Deus Uno e Trino, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, dirijo-vos uma cordial saudação de boas-vindas. A alegria pelo reconhecimento da vossa família espiritual leva-vos a manifestar de novo ao Sucessor de São Pedro a vossa união e a vossa disponibilidade de serviço. De boa vontade, dou, convosco, graças a Deus, o Senhor da Igreja, pelo vosso carisma e rezo para que possa produzir frutos abundantes.

2. No espírito da vossa fundadora, estais determinados a enfrentar os desafios do nosso tempo com a força da fé católica. Deveis servir a Igreja e o homem, com alegria, como uma comunidade contemplativa e, ao mesmo tempo, apostólica, que quer ser activa no mundo, como fermento.

Seguistes com generosidade o convite do Senhor, a pôr-vos "ao trabalho" pelo Seu Reino. Se permanecerdes sempre disponíveis ao Desígnio de Deus e puserdes as vossas capacidades ao serviço da missão salvífica da Igreja, a vossa família espiritual poderá tornar-se um instrumento eficaz de nova evangelização, em particular na Europa. O vosso dom vivo a Deus é a melhor resposta aos pedidos urgentes do homem e às necessidades do tempo.

3. Em diálogo com o Pai, Jesus Cristo reassume a sua missão salvífica: "Glorifiquei-Te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer" (Jn 17,4). A obra de Cristo, a glorificação de Deus e a libertação do homem, foi conduzida pela Igreja com a força do Espírito Santo no decurso dos tempos. A vossa famílai espiritual nasceu da Igreja. Como membros da "Obra" estais prontos a fazer vossa a missão da Igreja de Cristo.

4. A Igreja é a grande obra de Deus. Se hoje, às vezes, é posta em dúvida a sua origem divina, "a Obra" contribui para descobrir e viver, na sua profundidade, o mistério da Igreja. A vossa comunidade permanece sempre fiel ao seu propósito: sede o reflexo da Igreja, para louvor de Deus Uno e Trino e para a salvação do homem. Testemunhai a beleza da Igreja como Povo de Deus, Esposa de Cristo e templo do Espírito Santo. Continuai radicados na Santa Eucaristia, a fonte da unidade com Deus e entre vós.

5. Na vossa comunidade, é vital o espírito de adoração. Deus está no centro. É o eixo do vosso pensamento e da vossa acção. Assim, "a Obra" pode ser um instrumento eficaz contra a resignação, que por vezes se apodera também dos servidores da Igreja. Que as vossas orações e as vossas acções se tornem fecundas na grande obra de Deus para a salvação do homem! O Senhor da História guie o caminho da vossa família espiritual no futuro. Do coração vos concedo a minha Bênção Apostólica.

Vaticano, 10 de Novembro de 2001.



DISCURSO DO SANTO PADRE AOS MEMBROS DA


"INTERNATIONAL CATHOLIC MIGRATION COMMISSION"


12 de novembro de 2001

Queridos amigos em Cristo

1. Sinto-me feliz por vos dar as boas-vindas, membros do Conselho da Comissão Internacional Católica para as Migrações por ocasião da vossa Assembleia. A vossa presença aqui é particularmente significativa, visto que os trágicos acontecimentos do dia 11 de Setembro obrigaram a anular o encontro em Nova Iorque. Ela demonstra a vossa determinação em prosseguir a vossa obra vital em qualquer situação difícil. Agradeço ao Professor Zamagni as suas gentis palavras e dirijo uma saudação particular aos representantes dos migrantes, vossos parceiros na Conferência Episcopal Italiana. Saúdo também os benfeitores da Comissão, cujo contributo é particularmente importante num momento em que procurais reduzir a dependência do financiamento público, para que a Comissão possa trabalhar sempre como organismo católico independente.

2. Celebrais este ano o vosso quinto aniversário e isto é motivo de acção de graças. Na ocasião da inauguração da Comissão, o futuro Papa Paulo VI declarou que a sua causa era a mesma causa de Cristo. Nestes decénios, a Comissão não cessou de mostrar aos migrantes o rosto do Filho do Homem que não tinha "onde reclinar a cabeça" (Lc 9,59).

Depois da vossa fundação, os modelos de migração humana mudaram, mas o fenómeno não é menos dramático e a vossa obra torna-se cada vez mais urgente, porque o problema dos refugiados é cada vez mais grave. De facto, chegou o momento de desenvolver formas ainda mais generosas e eficazes de serviço no campo da migração humana, contribuindo para garantir que as pessoas que já são marginalizadas não sejam depois paralisadas porque não fazem parte do processo de globalização económica. Por conseguinte, hoje desejo convidar-vos a uma maior consciência da vossa missão: ver Cristo em cada irmão e irmã necessitados, proclamar e defender a dignidade de cada migrante, de cada pessoa deslocada e de todos os refugiados. Desta forma, a assistência prestada não será considerada uma esmola que depende da vontade do nosso coração, mas um gesto devido de justiça.

3. Vivemos num mundo em que povos e culturas são estimulados a uma interacção cada vez mais estreita e complexa. Contudo, paradoxalmente, observamos maiores tensões étnicas, culturais e religiosas que atingem duramente os migrantes e os refugiados, de modo particular vulneráveis ao preconceito e à injustiça, que com frequência acompanham estas tensões. Por isso, o apoio dado pela Comissão aos Governos e às organizações internacionais e a sua promoção de leis e políticas destinadas a tutelar a vulnerabilidade são aspectos particularmente importantes da sua missão. Além disso, por esse mesmo motivo, é necessário continuar a desenvolver programas de formação destinados ao vosso pessoal, para o ajudar a compreender de modo mais aprofundado as realidades da migração forçada e as possibilidades para assistir as famílias desenraizadas e promover o respeito recíproco entre pessoas de culturas diferentes.

4. O vosso serviço está vinculado a uma dupla fidelidade: a Cristo, o único mediador que é o Caminho, a Verdade e a Vida para toda a família humana e à Igreja por Ele fundada como sacramento universal de salvação. No centro da vossa obra está um conceito de dignidade humana baseada na verdade da pessoa, criada à imagem de Deus (cf. Gn Gn 1,26), uma verdade que ilumina toda a Doutrina Social da Igreja. Desta visão deriva o sentido dos direitos inalienáveis, que nenhum poder humano pode conceder ou negar, porque a sua fonte é Deus. Esta é uma visão profundamente religiosa, partilhada não só por outros cristãos, mas também por numerosos seguidores de outras religiões do mundo. Por isso, o trabalho da Comissão foi um elemento muito fecundo de cooperação ecuménica e inter-religiosa. Também isto é um fruto precioso num mundo dividido e dilacerado. Por conseguinte, convido-vos, como Organização Internacional Católica unida à Santa Sé na grande tarefa de promover a solidariedade, a nunca vos cansardes de procurar novas formas de cooperação ecuménica e inter-religiosa, hoje mais necessária do que nunca.

Recordando-me de vós nas minhas orações e confiando a obra da Comissão à amorosa protecção de Maria, Mãe da Igreja, invoco de coração sobre vós a graça e a paz abundantes em Jesus Cristo, "o primogénito dos mortos e o Príncipe dos reis da terra" (Ap 1,5).

5. À Comissão Católica Internacional para as Migrações, uniram-se hoje também os representantes e os membros da Fundação Migrantes, que saúdo cordialmente. Este ano, este organismo, que trabalha em nome da Conferência Episcopal Italiana, celebra 50 anos da própria instituição. Tendo surgido para a evangelização e para o serviço pastoral dos Italianos no estrangeiro, a Fundação está agora empenhada em apoiar as estruturas eclesiais italanas na solicitude humana e espiritual pelos emigrantes que chegam à Itália. Favorecendo o diálogo entre as culturas para uma civilizção do amor e da paz, ela está chamada a estimular, na sociedade civil, a compreensão e a valorização de todos os que chegam à Península, num clima de convivência pacífica e respeitadora dos direitos da pessoa.

Faço votos para que, com a intercessão de Maria Santíssima, esta benemérita instituição continue a desempenhar o seu precioso trabalho segundo o espírito de Cristo. Concedo a todos a minha Bênção.



MENSAGEM DO SANTO PADRE


AO PRESIDENTE DO


PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A


UNIDADE DOS CRISTÃOS







Ao Venerado Irmão Senhor Cardeal WALTER KASPER
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos

1. É com afecto que dirijo a minha saudação a Vossa Eminência e a todos os participantes na Sessão Plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, dedicada a um tema mais significativo do que nunca: Comunhão: dom e compromisso Análise dos resultados dos diálogos e futuro da busca ecuménica.

Formulo ardentes votos a fim de que também esta importante reunião contribua para fazer progredir o caminho ecuménico em ordem ao restabelecimento da plena unidade de todos os cristãos, a qual constitui uma prioridade pastoral que sempre esteve presente no meu espírito, desde o início do Pontificado. Com efeito, quando empreendi o meu ministério petrino, desejei assumir plenamente o convite do Concílio Vaticano II, a empenhar a Igreja católica "de modo irreversível, a percorrer o caminho da busca ecuménica, colocando-se assim à escuta do Espírito do Senhor, que ensina a ler com atenção os "sinais dos tempos"" (Carta Encíclica Ut unum sint UUS 3).

Os "sinais dos tempos"! Consciente de que "acreditar em Cristo significa desejar a unidade; desejar a unidade significa querer a Igreja" (Ibid., n. 9), a Igreja não cessa de progredir com confiança ao longo deste caminho difícil, mas extremamente rico de alegria, que conduz para a unidade e a plena comunhão entre os cristãos (cf. ibid., n. 2). Quantos sinais dos tempos animaram e sustentaram o nosso percurso, nas várias décadas que nos separam da Assembleia conciliar e no início deste novo milénio! As próprias celebrações ecuménicas, que cadenciaram o Grande Jubileu do Ano 2000, ofereceram sinais proféticos comovedores, fazendo-nos "tomar mais viva consciência da Igreja como mistério de unidade" (Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 48).

Além disso, o que dizer dos inúmeros sinais encorajadores que são oferecidos pela investigação teológica, levada a cabo a nível das principais Igrejas e Comunidades eclesiais? Com paciência e constância, ultrapassando por vezes o desânimo e a desconfiança, as Comissões internacionais de diálogo alcançaram resultados de convergência que, embora sejam intermediários, constituem uma base sólida sobre a qual devemos fundamentar a busca conjunta. Além disso, multiplicam-se a nível nacional as iniciativas de diálogo, de estudo e de reflexão, que demonstram como estes intercâmbios são profícuos, pois ajudam a conhecer e a comparar melhor as respectivas posições na caridade, propiciando a pronta obtenção dos resultados nesta época de comunicação em rede.

A recepção dos resultados e a consequente evidência da dimensão ecuménica na catequese, na formação e na diaconia, representam também um binómio providencial, que não deixará de dar consistência aos esforços ecuménicos até agora alcançados. É do entusiasmo deste compromisso eclesial que depende a possibilidade de penetrar cada vez mais neste dinamismo de enriquecimento mútuo entre as comunidades eclesiais, que já recebemos como dádiva e que é a força propulsora para a plena koinonia.

2. "Foi pela primeira vez na história, que a acção em prol da unidade dos cristãos assumiu proporções tão amplas e se estendeu num âmbito tão vasto. Isto já é um dom imenso que Deus concedeu e que merece toda a nossa gratidão" (Ut unum sint, UUS 41). Experimentei pessoalmente esta dádiva nas minhas peregrinações apostólicas durante as quais, com frequência, fui destinatário de não poucos sinais de concreta e fraterna caridade por parte dos membros das outras Igrejas e Comunidades eclesiais. Assim, pude verificar o grau de comunhão existente entre os cristãos, consolidando-me na convicção de que saber "reservar espaço" ao irmão, carregar os seus pesos e confiar-lhe as nossas responsabilidades contribui para o crescimento naquela espiritualidade de comunhão que deve caracterizar toda a nossa acção e, com maior razão, a nossa obra ecuménica.

Duas directrizes devem orientar sempre este esforço: o diálogo da verdade e o encontro na fraternidade. Trata-se de orientações que se consolidaram como que num único elemento orgânico permitindo, graças ao seu intercâmbio recíproco, percorrer um longo caminho:

identificámos mais claramente a finalidade, procurámos os instrumentos para a alcançar com maior eficácia e, enfim, definimos normas e princípios capazes de sustentar o compromisso ecuménico da Igreja católica. Em particular, solicitamos a presença dos outros cristãos. Em cada circunstância solene e significativa, quando encontramos dificuldades ou obstáculos, recebemos a ajuda da fraternidade que voltamos a encontrar, a qual nos estimula para a fundamental atitude de conversão que abre o coração ao perdão. E isto não seria possível de outra forma, dado que já fizemos várias vezes uns aos outros a promessa do perdão, abandonando as memórias e as culpas do passado nas mãos misericordiosas de Deus.

Sim! Infelizmene, a plena comunhão de todos os cristãos ainda não foi alcançada, nem nos é dado saber quais são os progressos que o Espírito Santo desejará conceder à busca ecuménica nos anos vindouros. Porém, é inegável que já se percorreu um longo trecho de caminho e, em relação ao passado, é muito diferente o clima que hoje reina entre os católicos e os cristãos das outras Igrejas e Comunidades eclesiais. Damos início ao terceiro milénio, conscientes de que estamos a viver uma situação renovada, dificilmente imaginável há apenas cinquenta anos. Hoje, sentimos que não podemos mais renunciar a este esforço que nos une. O Senhor nos ajude a valorizar aquilo que se realizou até agora, a conservá-lo com cuidado e a apressar os seus desenvolvimentos. Devemos fazer deste tempo intermediário, por assim dizer, uma ocasião propícia para intensificar o ritmo do caminho ecuménico.

3. Além disso, o tema escolhido para esta Sessão Plenária põe em evidência o facto de que os diálogos teológicos agora em acto convergem, a vários níveis e com diversos matizes, para o conceito-chave de "comunhão". Isto corresponde à visão do Concílio Vaticano II e realça o núcleo fundamental dos seus documentos. Em última análise, aprofundar o sentido teológico e sacramental da noção de "comunhão" equivale a reconfirmar os ensinamentos conciliares como bússola do compromisso ecuménico no novo milénio. Aprofundando a busca e o debate sobre este tema, a teologia ecuménica enfrentará a prova mais difícil. A formulação de uma verdadeira noção eclesial de "comunhão", que é pouco a pouco purificada das suas características antropológicas, sociológicas ou simplesmente horizontais, tornará possível um enriquecimento recíproco cada vez mais intenso.

Possa o diálogo ecuménico ser vivido por todos e cada um como uma peregrinação rumo à plenitude da catolicidade que Cristo quer para a sua Igreja, harmonizando a pluralidade das vozes numa sinfonia unitária de verdade e de amor.

Estou persuadido de que, no intercâmbio de dons a que o movimento ecuménico nos fez acostumar, na rigorosa e serena investigação teológica e na imploração constante da luz do Espírito, poderemos abordar até mesmo as problemáticas mais difíceis e aparentemente insolúveis, no âmbito dos nossos inúmeros diálogos ecuménicos, como por exemplo a questão do ministério do Bispo de Roma, sobre a qual me pronunciei de maneira particular na Carta Encíclica Ut unum sint (cf. UUS, UUS 88-96).

4. O caminho ainda é longo e árduo. O Senhor não nos pede que calculemos a sua dificuldade em conformidade com categorias humanas. Hoje existe uma nova perspectiva, profundamente diferente em relação ao passado, até mesmo mais recente: e por isso, damos graças a Deus.

Oxalá isto infunda coragem e leve todos a eliminar do vocabulário ecuménico palavras como crise, atrasos, lentidão, imobilismo e comprometimentos! Apesar da consciência das actuais dificuldades, convido-vos a assumir como palavras-chave para este tempo novo, vocábulos como confiança, paciência, diálogo e esperança. E gostaria de acrescentar ainda o impulso para a acção. Aqui, refiro-me ao fervor suscitado por uma boa causa, diante da qual nos sentimos estimulados a buscar os instrumentos para a sustentar, alimentando a criatividade e, às vezes, inclusivamente a coragem de mudar. A consciência de servir uma boa causa funciona como força propulsora que leva a empenhar também os outros, a fim de que a conheçam e se unam a nós na sua defesa. O impulso para a acção levar-nos-á a descobrir quantas coisas novas é possível fazer, em ordem a conservar a tensão conjunta para a comunhão plena e visível de todos os cristãos.

Porém, com isto não pretendo sugerir simplesmente a atitude de Marta que em conformidade com as palavras de Jesus se preocupava e se agitava com muitos afazeres, deixando de escutar os seus ensinamentos (cf. Lc Lc 10,38-41). Com efeito, a oração e a escuta constante do Senhor são indispensáveis, porque é Ele que, com a força do seu Espírito, converte os corações e torna possível todos os progressos concretos a realizar ao longo do caminho do ecumenismo.
Enquanto formulo votos a fim de que a Sessão Plenária deste Pontifício Conselho ofereça importantes sugestões para a reflexão, na perspectiva do trabalho futuro, recomendo ao Senhor todos os vossos projectos e peço-lhe, por intercessão de Maria, Mãe da Igreja, que ajude todos os cristãos a agir sempre em conformidade com a unidade, que Ele mesmo nos deixou no Cenáculo: "Ut unum sint".

Com estes votos, concedo a Vossa Eminência, assim como a cada um dos participantes nesta importante Assembleia, uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 10 de Novembro de 2001.




AOS MEMBROS DA


CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA TAILÂNDIA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sexta-feira, 16 de Novembro de 2001

: Querido Cardeal Kitbunchu
Caríssimos Irmãos Bispos

1. É com grande alegria que vos dou as boas-vindas, a vós Bispos da Tailândia, por ocasião da vossa Visita ad Limina. Viestes a Roma para confirmar a vossa fé junto dos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, em busca de orientação e de força para o serviço do Evangelho, que vos foi confiado. A vossa visita constitui um sinal da comunhão de mente e de coração (cf. Act Ac 4,32) que vos une ao Sucessor de Pedro no Colégio Apostólico. Asseguro-vos as minhas orações durante estes dias, a fim de que possais ser cumulados com o conhecimento da vontade de Deus em toda a sabedoria e ciência espirituais (cf. Cl Col 1,9), para que desta forma, através do vosso ministério, o Reino de Deus continue a desenvolver-se e a progredir no meio do vosso povo. O meu pensamento dirige-se inclusivamente para os sacerdotes, os consagrados, as consagradas e os leigos da Igreja que está na Tailândia, e através de vós, encorajo-os a permanecer firmes na fé e no amor ao Senhor.

O Grande Jubileu do Nascimento de Jesus Cristo, celebrado no ano passado, libertou novas energias e gerou um renovado entusiasmo na comunidade cristã no mundo inteiro e também no vosso próprio País. Não nos é possível conhecer todos os modos em que Deus sensibilizou a vida do povo durante esse ano, e contudo sabemos que muitos cristãos experimentaram o seu amor misericordioso, de maneira especial nos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia. As inumeráveis graças e bênçãos do Jubileu impelem-nos a agradecer sinceramente ao Senhor, "porque Ele é bom e eterna é a sua misericórdia" (Ps 118,1). Agora, a nossa responsabilidade consiste em orientar os nossos pensamentos para o futuro e tirar proveito da graça recebida, desenvolvendo um programa concreto de renovação pastoral, capaz de corresponder às necessidades da Igreja no início deste novo milénio.

2. A vossa Visita ad Limina está a realizar-se quase imediatamente após a X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos que, uma vez mais, concentrou a sua atenção sobre a figura do Bispo como homem de Deus, cuja primeira solicitude é a sua própria santidade pessoal e a santidade do povo de Deus em geral. Os Padres sinodais reiteraram várias vezes o facto de que o Bispo deve ser um homem de oração e de crescimento na graça, através dos Sacramentos; um homem de vida exemplar, totalmente consagrado à tarefa do ensino, da santificação e do governo da porção do rebanho de Deus, confiado aos seus cuidados. Hoje, desejo encorajar-vos a depositar toda a vossa confiança em Jesus Cristo, que vos chamou e vos consagrou para esta tarefa. Ele não vos abandonará, enquanto vos esforçais por corresponder a esta vocação e procurais cumprir, no vosso País, o grande mandamento que o Senhor deu aos seus Apóstolos no momento da sua Ascensão, e que consiste na evangelização de todas as nações.

Neste sentido, o vosso programa pastoral já existe. E está centrado no próprio Cristo, "que temos de conhecer, amar e imitar, para n'Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste" (Novo millennio ineunte, 29). A vossa solicitude constante consistirá em discernir o que deve realizar-se nas vossas Igrejas particulares, em ordem a fazer com que a proclamação de Cristo chegue ao coração das pessoas, a edificar e a formar comunidades cristãs vibrantes, e a suscitar um efeito profundo e incisivo, quando se trata de fazer com que os valores evangélicos consigam influenciar a sociedade e a cultura.

O compromisso e a abnegação de inúmeros missionários estrangeiros contribuíram em grande medida para o crescimento da Igreja em toda a Ásia, e o exemplo do seu zelo deveria ser recordado e imitado com profunda gratidão. Contudo, hoje o esforço missionário deve ser levado a cabo primeiramente pelos próprios asiáticos. O urgente trabalho de evangelização no vosso País dependerá do testemunho de vida convincente, da dedicação solícita e do recurso às energias renovadas por parte dos católicos tailandeses. Da mesma forma, a Sociedade Missionária da Tailândia, fundada nos últimos anos, constitui um fruto amadurecido da vossa Igreja particular e merece o vosso apoio interessado, pois é dando aos outros que também vós haveis de receber do Senhor tudo aquilo de que precisais.

3. Dado que não pode existir uma evangelização verdadeira, "se o nome, o ensinamento, a vida, as promessas, o Reino e o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem proclamados" (Evangelii nuntiandi, EN 22), os Pastores devem assegurar que o seu povo receba uma noção completa e sistemática da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo, um conhecimento que os torne, por sua vez, capazes de comunicar aos outros a mensagem salvífica do Evangelho com alegria e convicção. Como primeiros mestres da fé nas vossas dioceses, a vossa tarefa consiste em fazer com que a mensagem cristã se torne acessível ao vosso povo, explicando como o Evangelho ilumina o significado da vida no meio das exigências apresentadas pela sociedade contemporânea.

Embora a comunidade católica na Tailândia constitua uma pequena minoria, contudo é considerada com grande estima, pelo trabalho que está a realizar nos campos da assistência à saúde e da educação. As vossas escolas católicas oferecem uma educação de alto nível e isto representa uma contribuição inestimável para a vida da Igreja e da sociedade em geral. Por sua própria natureza, a educação católica não visa oferecer apenas ciência e formação mas também, o que é mais importante, transmitir uma visão de vida coerente, formada pelo Evangelho, que tornará os jovens capazes de crescer na sabedoria e liberdade verdadeiras. A sociedade contemporânea tem urgente necessidade de tais instituições educativas para poder oferecer uma formação moral sólida e ajudar os estudantes a adquirir as virtudes e as capacidades necessárias para o serviço de Deus e do próximo. Os estudantes deveriam ser encorajados a comprometer-se em formas de serviço e de voluntariado, a fim de se empenharem mais activamente na missão da Igreja e aprenderem a contribuir de modo concreto para a renovação da sociedade. Estou persuadido de que fareis tudo o que puderdes para conservar e revigorar a índole católica das vossas escolas, e para encontrar novos modos de garantir que os pobres e os marginalizados, que de outra forma não receberiam esta oportunidade, tenham maior acesso à educação.

4. Uma vez que a família é o fundamento da sociedade e o primeiro lugar onde as pessoas aprendem os valores que os há-de orientar ao longo da sua vida, ela deve ocupar um lugar especial na vossa solicitude pastoral. Em cada diocese, o apostolado familiar activo deveria visar garantir que os pais e os filhos sejam ajudados na vivência da sua vocação, em conformidade com o pensamento de Cristo, e que os casais nos matrimónios mistos recebam o auxílio necessário para evitar qualquer esmorecimento da sua fé. A família está a ser ameaçada por várias formas de materialismo e por insistentes ofensas contra a dignidade humana, como o flagelo do aborto e a exploração sexual das mulheres e das crianças. Devem fazer-se esforços sempre novos no seio das vossas comunidades locais, a fim de enfrentar estas dificuldades e formar os fiéis leigos para que cumpram a sua missão específica na ordem temporal, em cada um dos sectores da vida política, económica, social e cultural.

Então, é essencial que os catequistas tanto leigos como religiosos, que desempenham um papel muito importante nas vossas comunidades, continuem a "preparar-se para toda a obra de bem" (cf. 2Tm 3,17), recebendo oportunidades para a formação sistemática e promovendo dias de oração e cursos de renovação. Na tarefa de transmissão da fé, o Catecismo da Igreja Católica seria um recurso inestimável.

Os consagrados e as consagradas, cuja forma de vida os torna capazes de dar um testemunho particularmente eficaz do amor de Deus pelo seu povo, oferecem um contributo deveras significativo para a vida da Igreja que está na Tailândia. O seu carisma especial torna-os capazes de corresponder à difundida exigência de uma espiritualidade autêntica e da direcção espiritual dos fiéis. O apostolado da oração é o segredo de uma cristandade verdadeiramente vital em todas as épocas (cf. Novo millennio ineunte, 32), e por este motivo os consagrados e as consagradas, de maneira particular os de vida contemplativa, deveriam não somente oferecer um exemplo clarividente de uma vida comprometida na oração e na reflexão, mas eles mesmos devem tornar-se mestres de oração para os outros. Não é desprovido de significado o facto de que o Concílio Vaticano II recorda que os contemplativos "enriquecem a Igreja com a sua misteriosa fecundidade apostólica" (Perfectae caritatis, PC 7).

5. É sobretudo na atenção à formação e ao bem-estar dos sacerdotes que o Bispo demonstra que é um pastor autêntico, um verdadeiro pai, irmão e amigo daqueles que são os seus colaboradores mais íntimos no seu ministério. A Igreja que está na Tailândia continua a ser abençoada com numerosas vocações. É importante que presteis atenção solícita aos vários elementos da formação seminarística, a fim de assegurar que as vossas Igrejas particulares possam contar sempre com os sacerdotes exemplares que as vossas comunidades têm o direito de esperar. Os candidatos precisam de uma base sólida no campo das ciências eclesiásticas e de uma formação espiritual bem estruturada, se quiserem compreender própria e profundamente o seu ministério, que constitui a expressão de uma especial configuração sacramental com Cristo, a qual não pode reduzir-se a um papel modelado em conformidade com as carreiras seculares.

Durante o Ano jubilar, tive a alegria de beatificar um sacerdote tailandês, o Padre Nicolau Bunkerd Kitbamrung, que "sobressaiu na doutrina da fé, na busca de quem estava desorientado e na caridade para com os pobres" (Homilia, 5 de Março de 2000, em: ed. port. de L'Osservatore Romano de 11/3/2000, pág. 6, n. 3). O Beato Nicolau é um verdadeiro modelo para os sacerdotes tailandeses, e estou convicto de que este exemplo há-de inspirar os seminaristas e os sacerdotes a compreender que, longe de ser um simples guardião das instituições eclesiásticas, o sacerdote deveria considerar-se sempre a si mesmo como um instrumento vivo de Jesus Cristo, o eterno Sumo Sacerdote (cf. Presbyterorum ordinis, PO 12). A sua vida "constitui um mistério totalmente inserido no mistério de Jesus Cristo e da Igreja, de maneira nova e específica", que "o compromete de forma integral na actividade pastoral" (Directório para a vida e o ministério dos sacerdotes, n. 6). Na sua identidade e nas suas actividades da pregação da palavra, da celebração dos Sacramentos e da propagação do Reino de Deus, o sacerdote deve ser verdadeiramente Cristo para os outros; além disso, há-de ter "o mesmo pensamento de Jesus Cristo" (cf. 1Co 2,16). Numa época em que existe uma profunda aspiração à espiritualidade autêntica, o sacerdote deve ser um homem de oração, ter familiaridade com a palavra de Deus e ser forte no seu apego ao Senhor. Dado que a mensagem que pregamos é a verdade acerca de Deus e do homem, os sacerdotes deveriam prestar atenção especial à preparação da homilia dominical, a fim de que os fiéis consigam compreender como o Evangelho ilumina o caminho dos indivíduos e da sociedade. O íntimo relacionamento entre o Bispo e os seus sacerdotes, e a cooperação fraterna entre os próprios presbíteros ajudam a edificar a diocese como família em que todos os membros - Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos - possam pôr as suas capacidades e os seus talentos ao serviço do Corpo de Cristo.

6. Como bem sabeis mediante a vossa experiência quotidiana, a evangelização da Ásia, um continente formado por antigas culturas e tradições religiosas, apresenta particulares desafios. A Igreja leva a cabo a sua obra missionária em obediência ao mandato de Cristo, consciente de que cada pessoa tem o direito de ouvir a sua mensagem salvífica em toda a sua plenitude. E deve fazê-lo com respeito e estima pelos seus ouvintes, tendo em conta os valores filosóficos, culturais e espirituais dos mesmos, e comprometendo-se no diálogo com eles. No vosso País, assim como no resto da Ásia, a questão do diálogo inter-religioso é urgente. O contacto, o diálogo e a cooperação com os seguidores de outras religiões representam para vós um dever e um desafio. A antiga tradição monástica da Tailândia deveria constituir um ponto de contacto e de fraternidade que pode servir para promover um diálogo fecundo entre budistas e cristãos. Esta tradição recorda-nos o primado das coisas do espírito e deveria servir para contrabalançar o materialismo e o consumismo que atingem uma boa parte da sociedade.

As verdades da fé que formam o conteúdo e o contexto desta tarefa missionária são a doutrina de Jesus como o único Salvador do mundo e a Igreja como o necessário instrumento do plano redentor de Deus. Trata-se de verdades que devem ser proclamadas de maneira razoável e convincente, de modo a convidar as pessoas que as escutam a ponderá-las com um coração aberto. No início de um novo milénio, a Igreja na Tailândia está a ser desafiada a apresentar o mistério de Jesus Cristo de maneira que corresponda aos padrões culturais do vosso povo e aos seus modos de pensar, contando com os elementos positivos do grande património humano da Tailândia. Por outro lado, o processo de inculturação exige um cuidadoso discernimento da vossa parte, para garantir que os princípios da compatibilidade com o Evangelho e a comunhão com a Igreja universal sejam plenamente respeitados. Sem dúvida, a inculturação é mais do que uma adaptação exterior, uma vez que exige "a íntima transformação dos valores culturais autênticos, pela sua integração no cristianismo, e o enraizamento do cristianismo nas várias culturas" (Redemptoris missio, RMi 52). Exorto-vos a fazer esforços incessantes neste campo, a fim de que as verdades e os valores do Evangelho corrrespondam de modo cada vez mais claro às autênticas necessidades e aspirações espirituais do vosso povo.

7. Queridos Irmãos Bispos, os meus pensamentos voltam-se com frequência para a vossa terra e o seu povo. É com afecto que rezo a fim de que as graças do grande Jubileu continuem a fortalecer o vosso amor a Jesus Cristo e o vosso compromisso no campo da evangelização. Peço a Maria, estrela luminosa da Evangelização em todas os tempos, para que interceda pelo povo que estais a servir e vos oriente a todos para o encontro salvífico com o seu Filho, nosso Redentor. É a Ela que confio as necessidades e as esperanças das vossas Igrejas particulares, assim como os fardos e as alegrias do vosso ministério episcopal. A vós, aos sacerdotes, religiosos e leigos das vossas dioceses, concedo do íntimo do coração a minha Bênção apostólica.





Discursos João Paulo II 2001 - 10 de Novembro de 2001