Discursos João Paulo II 1979 - DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Quinta-feira, 4 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs em Cristo

De Filadélfia a Des Moines, de Des Moines a Chicago! Num dia vi grande parte do vosso amplo País e agradeci a Deus, a fé e as nobres intenções da população. Esta tarde encontro-me em Chicago, na Catedral do Santo Nome. Estou agradecido ao Senhor pela alegria deste encontro.

A minha gratidão especial para Si, Senhor Cardeal Cody, meu companheiro de tantos anos no Colégio dos Bispos, Pastor desta grande Sé de Chicago. Agradeço-lhe o convite afável e tudo o que fez para preparar a minha vinda. Dirijo também uma saudação de estima e de afecto a todos os sacerdotes, seculares e religiosos, que partilham de forma íntima e particular a responsabilidade de levar a mensagem de salvação a todos os homens. Estou também contente por encontrar pessoas que pertencem aos vários sectores da Igreja: diáconos e seminaristas, religiosos e religiosas, maridos e esposas, mães e pais, solteiros, noivos, viúvas, jovens e crianças. Todos juntos podemos assim celebrar a nossa união eclesial em Cristo.

Com viva alegria saúdo todos os presentes aqui, na Catedral do Santo Nome, à qual, por graça de Deus, voltei mais uma vez. Aqui está simbolizada e realizada a unidade desta Arquidiocese; desta Igreja local, rica de história e de fidelidade, rica de generosidade em anunciar o Evangelho, rica da fé de milhões de homens, mulheres e crianças, que ao longo de decénios encontraram santidade e justiça em Nosso Senhor Jesus Cristo.

E hoje celebro convosco o grande mistério resumido no título da vossa Catedral: o Santo Nome de Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria.

Vim aqui falar-vos da Salvação em Jesus Cristo. Vim de novo proclamar esta mensagem a vós, e convosco a todo o povo.

Como sucessor do Apóstolo Pedro, que falava por virtude do Espírito Santo, também eu proclamo: Não há salvação em nenhum outro; não existe na verdade outro nome debaixo do céu no qual possamos ser salvos (Ac 4,12).

Foi no nome de Jesus que eu vim até vós. O nosso serviço, prestado às necessidades do mundo. é realizado em nome de Jesus. O arrependimento e o perdão dos pecados são pregados em seu nome (Cfr. Lc Lc 24,27). E através da fé todos temos a vida em seu nome (Jn 20,31).

Neste nome — no santo nome de Jesus — encontra-se auxílio na vida, consolação na morte, alegria e esperança para o mundo inteiro.

Irmãos e Irmãs da Igreja de Chicago: trabalhemos sempre em nome do Senhor Jesus (Col 3,12).

As palavras que vos dirijo ao chegar aqui, as palavras de quem é chamado a ser servo dos servos de Deus, sejam para toda a Chicago, para as Autoridades e o povo, expressão da minha solidariedade fraterna. Quanto desejaria poder encontrar-me pessoalmente com cada um de vós, poder ir ter convosco às vossas casas, poder caminhar nas ruas para compreender melhor a riqueza da vossa personalidade e a profundidade das vossas aspirações. Sejam as minhas palavras encorajamento para todos os que se esforçam por testemunhar na vossa comunidade sentimentos de fraternidade, dignidade e união.

Vindo aqui, desejo manifestar o meu respeito pelo homem — para além dos limites da fé católica e para além de qualquer religião —, pela humanidade que existe em todo o ser humano. Cristo, que represento indignamente, ensinou-me a fazer assim. Devo obedecer ao seu mandamento de amor fraterno. E faço-o com grande alegria.

Oxalá Deus enobreça a humanidade nesta grande cidade de Chicago.






VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

AOS RELIGIOSOS NA FESTA DE SÃO FRANCISCO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Quinta-feira, 4 de Outubro de 1979



Irmãos em Cristo

Agradeço ao meu Deus todas as vezes que, penso em vós; e sempre que rezo por vós, rezo com alegria, lembrando-me de como vós colaborastes na difusão da Boa Nova, desde o dia em que a ouvistes pela primeira vez até ao presente (Ph 1,3-5). Estas palavras de São Paulo exprimem os meus sentimentos desta tarde. É belo estar convosco. E estou grato a Deus pela vossa presença na Igreja e pela vossa colaboração no proclamar a Boa Nova.

1. Irmãos, Cristo é a finalidade e a medida da nossa vida. A vossa vocação teve origem no conhecimento de Cristo; e a vossa vida é sustentada pelo Seu amor. Porque vos chamou a segui-1'O mais de perto, com uma vida consagrada pela profissão dos conselhos evangélicos. Vós segui-1'O com sacrifício e generosidade espontânea. Vós segui-1'O com alegria cantando a Deus do íntimo do coração salmos, hinos e cânticos espirituais (Col 3,16): Segui-1'O com fidelidade, considerando até uma honra sofrer humilhações pelo Seu nome (Ac 5,42).

A vossa consagração religiosa é essencialmente um acto de amor. E imitação de Cristo, que se entregou ao Seu Pai para salvar o mundo. Em Cristo estão unidos o Seu amor pelo Pai e o amor pelos homens.

E convosco acontece o mesmo. A vossa consagração religiosa não só reforçou o dom baptismal de união com a Trindade, mas também vos chamou a um serviço. maior do povo de Deus. Vós estais mais próximos da pessoa de Cristo, e participais mais da Sua missão de salvar o mundo.

Esta tarde quero falar da vossa participação na missão de Cristo.

2. Antes de tudo recordo-vos as qualidades pessoais que são necessárias para poder alguém participar com eficácia na missão de Cristo. Em primeiro lugar, deveis ser livres, interior e espiritualmente. Para muitos a liberdade de que falo é um paradoxo; existem equívocos inclusivamente em alguns que fazem parte da Igreja. Todavia é a liberdade fundamental do homem, e foi-nos ganha por Cristo na Cruz. Como disse São Paulo: Éramos ainda impotentes quando no momento predestinado Cristo morreu pelos pecadores (Rm 5,6).

Esta liberdade espiritual recebida no Baptismo, procurastes vós aumentá-la e fortificá-la aceitando generosamente o chamamento para seguir Jesus de perto, na pobreza, na castidade e na obediência. Seja o que for o que os outros digam ou o mundo creia, as vossas promessas de observar os conselhos evangélicos não sufocaram a vossa liberdade: obedientes, não sois menos livres; e o celibato não vos torna menos capazes de amar, pelo contrário. A prática fiel dos conselhos evangélicos vinca a dignidade do homem, liberta o coração e faz arder o espírito de amor total por Cristo e pelos Seus irmãos no mundo (Perfectae Caritatis PC 1,12).

Mas tal liberdade de coração (1Co 7,32-35) deve ser mantida pela vigilância contínua e pela oração ardente. Se estiverdes constantemente unidos a Cristo na oração, estareis sempre livres e cada vez mais disponíveis para participar na sua missão.

3. Em segundo lugar, deveis colocar a Eucaristia no centro da vossa vida. Participando embora de tantos modos na paixão, morte e ressurreição de Cristo, é na Eucaristia de modo particular que esta participação é celebrada e tornada eficaz. Na Eucaristia renova-se o espírito, alimenta-se a inteligência e o coração, e encontrareis a força para viver, dia após dia, para Ele, Redentor do mundo.

4. Em terceiro lugar, sede fiéis ao Evangelho. Recordai-vos das palavras de Jesus: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (Lc 8,21). Se escutardes a palavra de Deus com sinceridade, e procurardes pô-la em prática humildemente mas com perseverança, a Sua palavra dará frutos na vossa vida, como a semente caída em terra fértil.

5. O quarto e último elemento que torna eficaz a vossa participação na missão de Cristo é a vida com os irmãos. A vida em comunidade religiosa é expressão concreta de amor pelos outros. As exigências de renúncia a si próprio e de serviço generoso criam a comunidade; o amor que vos une como irmãos na comunidade constitui, por seu lado, força que vos sustenta no vosso trabalho pela Igreja.

6. Irmãos em Cristo, hoje a Igreja universal presta culto a São Francisco de Assis. Pensando neste grande santo recordo a sua alegria perante a criação, a sua simplicidade inocente, a sua união poética com a "Senhora Pobreza", o seu zelo missionário e o seu desejo de aceitar totalmente a Cruz de Cristo. Que magnifica herança vos deixou, a vós que sois Franciscanos, e a todos nós!

Do mesmo modo, exaltou Deus muitos outros homens e mulheres de santidade excepcional. Destinou, estes também, a fundarem comunidades religiosas que — cada uma por caminhos diversos — deviam desempenhar papéis importantes na vida da Igreja. O segredo da realização de cada Instituto religioso foi a sua fidelidade ao carisma inicial que Deus encontrou no fundador ou na fundadora, para enriquecer a Igreja. Por este motivo repito as palavras de Paulo VI: "Sede fiéis ao espírito dos vossos fundadores, às suas intenções evangélicas, ao exemplo da sua santidade... É precisamente aqui que tem origem o dinamismo próprio de cada família religiosa" (Evangelica Testificatio, 11-12). E esta fidelidade continua a ser critério seguro para se julgar de quais actividades eclesiais o Instituto e cada membro deveriam incumbir-se, a fim de contribuírem para a missão de Cristo.

7. Nunca esqueçais a finalidade exacta do serviço apostólico: conduzir os homens e as mulheres dos nossos dias à comunhão com a Santíssima Trindade. No nosso tempo existe a tentação crescente de procurar a segurança na propriedade, na ciência e no poder. Dando testemunho com uma vida consagrada a Cristo na pobreza, castidade e obediência, vós pondes em dúvida aquela falsa segurança. Vós recordais aos homens que só Cristo é o caminho, a verdade e a vida (Jn 14,6).

8. Hoje os religiosos trabalham numa vasta gama de actividades: ensinam nas escolas católicas, levam a palavra de Deus ao campo missionário, enfrentam necessidades humanas com a inteligência e a acção, servem com a oração e o sacrifício. Enquanto trabalhais, cada qual no seu sector, tende presente o conselho de São Paulo: Tudo o que fizeres fá-lo com todo o teu ser, fá-lo para o Senhor mais do que para os homens (Col 3,23). A medida do vosso rendimento será o grau do vosso amor por Jesus.

9. Finalmente: todas as formas de serviço apostólico — do indivíduo ou da comunidade — devem estar em sintonia com o Evangelho explicado pelo Magistério. Uma vez que todo o serviço cristão deve levar o Evangelho aos homens, todo o serviço cristão deve ser portador de valores evangélicos. Sede, portanto, homens da palavra de Deus: homens cujo coração arde quando ouvem proclamar a palavra (Lc 24,32); que agem segundo os seus mandamentos; que desejam que a Boa Nova seja proclamada até às terras mais longínquas.

Irmãos, a vossa presença na Igreja, a vossa colaboração na difusão do Evangelho são encorajamento e alegria para mim, na minha missão de Pastor de toda a Igreja. Deus vos dê longa vida e chame muitos outros a seguir Cristo na vida religiosa. A Virgem Maria, Mãe da Igreja e exempla de vida consagrada, obtenha para vós a alegria e a consolação do seu Filho Cristo.










VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES

DA CAMPANHA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Igreja da Divina Providência

Chicago, 5 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs, queridos amigos em Cristo
Obrigado pelo vosso acolhimento!

Alegro-me por poder saudar e abençoar os grupos assistidos pela Campanha para o desenvolvimento humano, cujos representantes estão hoje aqui.

Esta Campanha foi um testemunho da presença viva da Igreja no mundo, entre os mais necessitados, e do seu empenho em continuar a missão de Cristo, que foi enviado a levar aos pobres uma mensagem de alegria, a proclamar a libertação aos prisioneiros... e a liberdade aos oprimidos (Lc 4,14-19).

Congratulo-me com os Bispos dos Estados Unidos pela sua previdência e caridade, ao fundarem a Campanha para o desenvolvimento humano há dez anos; e agradeço a toda a comunidade católica o apoio generoso dado a esta iniciativa em todos estes anos.

Disseram-me que foram fundados pela Campanha quase 1.500 grupos e organizações. Merecem louvor e encorajamento os esforços dedicados a constituir projectos de "auto-ajuda", porque assim se dá um contributo eficaz para afastar não só os efeitos maus como também as causas da injustiça. Os projectos realizados pela Campanha contribuíram para criar uma ordem social mais justa e mais humana, e dão a muitos a possibilidade de adquirir mais justa confiança em si próprios. Tais projectos constituem, na vida da Igreja, um testemunho do amor de nosso Senhor Jesus Cristo.

Deus vos conceda força, coragem e prudência para continuar este trabalho em prol da justiça. Deus vos abençoe a todos.

Irmãos e Irmãs

Estou muito contente por me encontrar aqui no meio de vós, durante a minha breve mas intensa viagem neste maravilhoso País. A minha viagem tem carácter principalmente pastoral, convite a uma convivência fraterna, a um desenvolvimento pacífico das boas relações entre os homens e os povos, convite a que se procure em Cristo a fonte e a energia para realizar na nossa vida a vocação de Deus, como homens e como cristãos.

Tenho muito confiança nas vossas orações, especialmente nas das crianças, das pessoas idosas, dos doentes e de todos aqueles que, com os seus sofrimentos, físicos e morais, se aproximam de Cristo, nosso Salvador e Redentor.

Saúdo a todos com afecto e dou-vos a minha Bênção cordial.












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

SAUDAÇÃO AOS DOENTES DE CHICAGO

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Seminário de Quigley South

Chicago, 5 de Outubro de 1979



Queridos irmãos e irmãs

Quis dirigir uma saudação cordial a todos os doentes, sujeitos à cama ou diminuídos, em nome do Senhor Jesus, que foi, ele também, homem de dores, que bem conheceu o sofrimento (Is 53,3).

Queria saudar-vos um por um, abençoar cada um de vós, e falar — a cada um individualmente — de Jesus Cristo, Aquele que tomou sobre si todo o sofrimento humano para salvar o mundo inteiro.

Deus ama-vos como seus filhos privilegiados. Vós sois de modo muito especial meus irmãos e minhas irmãs por dois motivos: por causa do amor de Cristo que nos une, e em particular porque tomais parte profunda no mistério da Cruz e da Redenção de Jesus.

Obrigado pelos sofrimentos que suportais no corpo e no coração. Obrigado pelo vosso exemplo de aceitação, de paciência e de união com Cristo sofredora. Obrigado porque completais o que falta aos sofrimentos de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja (Col 1,24).

A paz e a alegria do Senhor Jesus estejam sempre convosco.












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS BISPOS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Chicago, 5 de Outubro de 1979



Queridos irmãos em Cristo, nosso Senhor

1. Seja-me permitido dizer-vos, com toda a simplicidade, quanto vos estou grato pelo vosso convite para vir aos Estados Unidos. para mim motivo de imensa alegria realizar esta visita pastoral e, em particular, estar hoje aqui convosco.

Neste momento expresso-vos a minha gratidão, não só pelo vosso convite, não só por tudo quanto fizestes para preparar a minha visita, mas também por vos terdes associado comigo na obra de evangelizar, desde a, altura da minha eleição como Papa. Agradeço o vosso serviço ao Povo santo de Deus, a vossa fidelidade a Cristo nosso. Senhor, e a vossa união com os meus predecessores e comigo na Igreja e no Colégio dos Bispos.

Desejo ao mesmo tempo prestar homenagem pública a uma longa tradição de fidelidade à Sé Apostólica por parte da Hierarquia Americana. Ao longo de dois séculos, esta tradição edificou o Vosso povo, tornou autêntico o vosso apostolado e enriqueceu a Igreja universal.

Além disso desejo realçar, hoje, diante de vós e com profundo apreço, a fidelidade dos vossos fiéis e a vitalidade renovada que têm demonstrado na vida cristã. Tal vitalidade tem-se manifestado não só na prática dos sacramentos, mas também em abundantes frutos do Espírito Santo. Com grande zelo o vosso povo procurou edificar o Reino de Deus mediante a escola católica, e através de todos os esforços no campo da catequese. Também o interesse evidente pelos outros tem sido um empenho positivo do Catolicismo Americano, e hoje quero agradecer aos Católicos Americanos a sua grande generosidade. Do seu apoio têm beneficiado as dioceses dos Estados Unidos, e uma vasta rede de obras caritativas e de projectos de auto-promoção, incluindo os patrocinados pelos "Catholic Relief Services" e pela "Campanha para o Desenvolvimento Humano". Além disso, a ajuda dada às missões da Igre









VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

CONCERTO DA ORQUESTRA SINFÓNICA DE CHICAGO

PALAVRAS DE AGRADECIMENTO DO PAPA JOÃO PAULO II


Igreja do Santo Nome

Chicago, 5 de Outubro de 1979



Sinto-me verdadeiramente honrado pela esplêndida execução da Orquestra Sinfónica de Chicago.

Agradeço-vos terdes-me dado a oportunidade de exprimir a minha admiração profunda pela beleza artística em que quisestes fazer-me participar esta noite. Aceitai a expressão do meu profundo reconhecimento.

Sinto-me honrado também por poder, nesta ocasião, unir a minha voz à do meu Predecessor Paulo VI, que, no testemunho eloquente de um pontificado longo, se mostrou sempre amigo dos artistas. Com toda a intensidade da sua alma nobre, exprimiu a estima da Igreja pela função da arte. Ele mesmo com grande habilidade guiou a Igreja Católica num diálogo com os artistas do mundo. Era sua viva esperança de que toda a arte e beleza elevasse o olhar do homem para Deus, mostrando o caminho para a beleza incriada.

Para honrar a memória de Paulo VI, em meu nome e em nome da Igreja exprimo mais uma vez o meu respeito e admiração pelo contributo que dais para elevar a humanidade, através da vossa criação artística que exalta o que é humano e atinge o que é religioso e divino.

Na permuta cultural e espiritual desta noite, quero fazer extensiva a minha saudação respeitosa a todos os artistas desta terra, pondo em relevo a função que são chamados a desempenhar com capacidade prodigiosa, para o progresso da verdadeira cultura nos Estados Unidos e no mundo inteiro.






VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

CERIMÓNIA DE CHEGADA A WASHINGTON

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Base Aérea Militar de Andrews

Sábado, 6 de Outubro de 1979



Senhor Vice-Presidente
Queridos Amigos
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo

Desejo exprimir o meu sincero agradecimentos pelas cordiais palavras de boas-vindas que me foram dirigidas por ocasião da minha chegada à Capital da nação. Uma vez mais quero exprimir o meu reconhecimento peto convite que me foi feito pela Conferência Episcopal e pelo Presidente Carter para visitar os Estados Unidos.

A minha cordial saudação a todos os que vieram aqui dar-me as boas-vindas: a Vossa Ex.cia, Senhor Vice-Presidente, e às outras Autoridades civis. Mediante elas saúdo todo o Povo Americano e de modo particular os cidadãos do Distrito Federal da Colúmbia. Uma saudação fraterna ao Senhor Cardeal Baum, Pastor da Arquidiocese de Washington, e por seu intermédio a todo o clero, religiosos e leigos da Comunidade Católica. Ao mesmo tempo sinto-me feliz de poder saudar o Presidente, os membros e o pessoal da Conferência Nacional dos Bispos Católicos que tem por sede esta cidade, como igualmente todos aqueles que trabalham na Conferência Católica dos Estados Unidos e prestam um serviço indispensável à Comunidade Católica deste Pais. A todos os meus irmãos Bispos, uma saudação e uma bênção do Bispo de Roma, para vós e as vossas Dioceses.

Tenho um desejo muito grande de encontrar os Chefes desta jovem e florescente Nação e, em primeiro lugar, o Presidente dos Estados Unidos. Sentir-me-ei honrado por visitar a Sede da Organização dos Estados Americanos, para levar a esta benemérita Instituição uma mensagem de paz para todos os povos que ali se encontram representados.

É-me ainda muito grato poder encontrar, durante esta minha visita e peregrinação, a Comunidade Católica desta parte do País, e conhecer os seus esforços pastorais, programas e actividades.

A bênção de Deus Omnipotente desça copiosa sobre todo o povo da Capital desta Nação.












VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

VISITA À CASA BRANCA EM WASHINGTON

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Sábado, 6 de Outubro de 1979



Senhor Presidente

Gostaria de exprimir os meus mais sinceros agradecimentos pelas suas expressões de boas-vindas à Casa Branca. Com efeito, é para mim grande honra encontrar-me com o Presidente dos Estados Unidos durante uma visita, cujos fins são de natureza espiritual e religiosa. Gostaria de ao mesmo tempo exprimir a Vossa Ex.cia e, através de Vossa Ex.cia, a todos os americanos, o meu profundo respeito para com todas as Autoridades federais e estatais desta nação e para com o seu amado povo. Durante os últimos dias, tive a possibilidade de ver algumas das vossas cidades e aldeias. Só lastimo é ter tão pouco tempo para levar pessoalmente as minhas saudações a todas as zonas deste país, mas queria assegurar-lhe que a minha estima e o meu afecto se estendem a todo o homem, mulher e criança, sem qualquer distinção.

A Divina Providência, segundo os seus próprios desígnios, chamou-me da minha terra natal, a Polónia, para ser o sucessor de Pedro na Sé de Roma e o Chefe da Igreja Católica.

É para mim grande alegria ser o primeiro Papa da história a visitar a capital deste país, e agradeço a Deus Omnipotente esta bênção.

Senhor Presidente, ao aceitar o seu cordial convite, esperei ainda que o nosso encontro de hoje pudesse servir à causa da paz no mundo, da compreensão internacional e da promoção do pleno respeito dos direitos humanos em toda a parte do mundo.

Senhor Presidente e digníssimos membros do Congresso, ilustres membros do Conselho de Ministros e da Corte Suprema, Senhoras e Senhores.

A vossa presença neste lugar honra-me sobremodo, e aprecio profundamente a expressão de respeito que quisestes tributar-me. Desejo, ainda exprimir a cada um de vós, pessoalmente, a minha gratidão pela gentil recepção, e a todos quero dizer quanto é profunda a estima que experimento em relação à vossa missão de defensores do bem comum de todo o povo da América.

Sou originário dum país com grande tradição de profunda fé cristã e com uma história nacional assinalada por muitas perturbações; durante mais de cem anos, foi a Polónia completamente riscada do mapa político da Europa. Mas é também um país caracterizado por respeito profundo por aqueles valores sem os quais nenhuma sociedade pode prosperar: o amor da liberdade; a criatividade cultural e a convicção de o esforço comum para o bem da sociedade dever orientar-se por um autêntico sentido moral. A minha missão espiritual e religiosa leva-me a ser o mensageiro da paz e da fraternidade, e a testemunhar a verdadeira grandeza de todo o ser humano. Esta grandeza deriva do amor de Deus, que nos criou à sua imagem e nos deu um destino eterno. É nesta dignidade da pessoa humana que eu descubro o sentido da história e encontro os princípios que dão significado à missão que todo o ser humano deve assumir para o seu melhoramento próprio e o bem-estar da sociedade a que pertence. É com estes sentimentos que saúdo em Vós o inteiro povo americano, povo que baseia as próprias convicções de vida sobre valores espirituais e morais, sobre um profundo sentimento religioso, sobre o respeito do dever, e sobre a generosidade ao serviço da humanidade — nobres qualidades que se encarnam de maneira particular na capital da nação, com os seus monumentos dedicados a figuras tão representativas, como Jorge Washington, Abraão Lincoln e Tomás Jefferson.

Saúdo o povo americano nas pessoas dos seus representantes livremente eleitos, de todos Vós que trabalhais no Congresso a codificar, com a legislação, o caminho que levará todo o cidadão deste país ao pleno desenvolvimento das suas possibilidades e conduzirá toda a nação a assumir a sua parte de responsabilidade na construção de um mundo de liberdade e de justiça autêntica. Saúdo a América em todos os que estão constituídos em autoridade, a qual deve ser vista unicamente como possibilidade de servir cada um dos vossos concidadãos, no desenvolvimento completo da sua humanidade autêntica e no pleno e livre gozo de todos os seus direitos fundamentais. Saúdo o povo deste país, também nos representantes do poder judicial, que se encontram ao serviço da humanidade na aplicação da justiça, e por isso têm nas suas mãos o enorme poder de influenciar profundamente, com as suas decisões, a vida de cada indivíduo.

Por todos Vós rezo a Deus Omnipotente a fim de que vos conceda o dom da sabedoria nas decisões, da prudência nas palavras e nas acções, e da compreensão para com os outros no exercício da autoridade que vos compete, e a fim de que no vosso nobre esforço sempre presteis um verdadeiro serviço ao povo.

Deus abençoe a América!










VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

SAUDAÇÃO DE DESPEDIDA AO PRESIDENTE CARTER

E À NAÇÃO AMERICANA


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

Sábado, 6 de Outubro de 1979



Senhor Presidente

E para mim grande honra ter tido a possibilidade — graças ao seu cordial convite — de encontrar-me com Vossa Ex.cia que, na sua função de Presidente dos Estados Unidos da América, representa perante todo o mundo a inteira Nação americana e tem a grande responsabilidade de guiar o País pelo caminho da Justiça e da Paz.

Senhor Presidente, agradeço-lhe publicamente este encontro e agradeço a todos os que contribuíram para a sua realização. Desejo ainda renovar a minha profunda gratidão pelo caloroso acolhimento e pelas muitas provas de simpatia do povo americano durante a minha viagem pastoral através do vosso esplêndido País.

Senhor Presidente, em resposta às gentis palavras que me dirigiu, desejo começar lembrando a passagem do profeta Miqueias que Vossa Ex.cia citou na inauguração do Seu mandato presidencial: Homem, foi-te já dito o que te convém e o que o Senhor de ti exige: praticar a justiça, amar a piedade e caminhar humildemente perante o teu Deus (Mi 6,8).

Ao lembrar estas palavras, eu saúdo Vossa Ex.cia e todas as Autoridades dos diversos Estados e da Nação, que têm o cargo de vigiar pelo bem-estar dos cidadãos. E, na verdade, não existe outra maneira de servir o homem senão empenhando-nos em procurar o bem de cada um, nas suas actividades e nos seus esforços.

A autoridade na comunidade política funda-se no princípio ético objectivo pelo qual a função essencial do poder consiste na solicitude para com o bem comum da sociedade e deve estar ao serviço dos invioláveis direitos da pessoa humana.

Os indivíduos, as famílias e os vários grupos, que formam as comunidades civis, são bem conscientes de não estarem à altura, sozinhos, para realizarem plenamente o seu potencial humano e portanto reconhecem, numa mais ampla comunidade, a necessária condição para um conseguimento cada vez mais profícuo do bem comum.

Desejo dirigir um elogio às Autoridades e a todo o Povo dos Estados Unidos, porque, desde os inícios da existência da Nação, deram relevo particular a tudo aquilo que mais directamente interessava o bem comum. Há três anos, durante a celebração do bicentenário na qual tive a honra de participar como Arcebispo de Cracóvia, foi evidente para todos que a solicitude por aquilo que é humano e espiritual é um dos princípios basilares que orientam a vida desta comunidade.

E supérfluo acrescentar que o respeito pela dignidade e liberdade de todo o indivíduo — de qualquer origem, raça, sexo ou credo — foi o princípio mais respeitado do credo civil da América e foi mantido com decisões e acções corajosas.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores, conheço e aprecio os esforços realizados por este País para a limitação das armas, sobretudo das nucleares. Cada um está consciente do terrível risco que o aumento destas armas implica para a humanidade.

Como uma das Nações maiores do mundo, têm os Estados Unidos papel especialmente importante na exigência de maior segurança no mundo e mais estreita colaboração internacional. Com todo o meu corarão espero que nunca cesse de empenhar-se na redução do risco de uma fatal e desastrosa guerra mundial e que fomente a redução prudente e progressiva da força destrutora dos arsenais militares. Espero ainda que os Estados Unidos, graças à sua especial posição, estejam em condições de influenciar as outras Nações para que unam os esforços, numa contínua acção para se obter o desarmamento.

Se não se aceita incondicionalmente este esforço, como pode, cada Nação em particular, servir eficazmente a humanidade, cujo desejo mais profundo é uma paz verdadeira?

A consideração pelos valores humanos e os princípios éticos, que sempre distinguiu o povo americano, deve encontrar a sua colocação, especialmente no contexto hodierno de uma crescente interindependência dos povos do mundo, no âmbito de uma visão em que o bem comum da sociedade não é prerrogativa de uma Nação particular, mas pertença dos cidadãos do mundo inteiro.

Apoiarei todas as acções tendentes a favorecerem o reforço da paz do mundo, paz fundada sobre a justiça, sobre a caridade e sobre a verdade.

As hodiernas relações entre os povos e as nações exigem também que se crie mais ampla colaboração internacional mesmo no campo económico.

Quanto mais uma Nação é poderosa e maior é a sua responsabilidade internacional, maior deve ser também o seu empenho para melhorar as condições de vida de todos aqueles que são constantemente ameaçados por carências e necessidades, minha ardente esperança que todas as nações poderosas do mundo se encontrem cada vez mais ligadas ao princípio da solidariedade humana no âmbito da grande família humana.

A América, que nos decénios passados demonstrou bondade e generosidade em procurar alimentos para quantos no mundo sofriam fome, estará certamente à altura de dar igual e convincente contributo para se estabelecer uma ordem mundial que esteja apta a criar condições económicas e comerciais necessárias a um mais justo equilíbrio entre as Nações do mundo, respeitando a dignidade e individualidade de cada uma.

E já que os povos sofrem por causa da desigualdade entre as nações, dever-se-á incrementar a solidariedade internacional, ainda que isto comporte notável mudança no modo de viver e nos hábitos daqueles que foram beneficiados por maior disponibilidade dos bens da terra.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores, falando do bem comum que encerra a aspiração de todo o ser humano ao pleno desenvolvimento das suas capacidades e a uma adequada protecção dos seus direitos, referi-me a um sector onde a Igreja que eu represento e a comunidade política que é o Estado, dividem entre si uma preocupação comum: a salvaguarda da dignidade da pessoa humana e a procura da justiça e da paz.

Cada uma na sua esfera de acção, é reciprocamente independente e autogovernada: a comunidade política e a Igreja. Apesar disso, a título diferente, cada uma delas está ao serviço da vocação pessoal e social dos seres humanos. Por seu lado. a Igreja Católica continuará nos seus esforços de contribuir para a promoção da justiça, da paz e da dignidade, com o empenho dos seus chefes e dos membros das suas comunidades, e com a incessante proclamação de todos os seres humanos terem sido criados à imagem e semelhança de Deus e serem irmãos e irmãs, filhos e filhas de um único Pai Divino.

Deus Omnipotente abençoe e proteja a América na sua procura da plenitude da liberdade, da justiça e da paz.









VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES

DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS


DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


Palácio da OEA, Washington

Sábado, 6 de Outubro de 1979



Senhor Presidente
Senhor Secretário-Geral
Senhoras e Senhores

É para mim causa de grande satisfação ter a oportunidade de saudar os ilustres representantes das Nações pertencentes à Organização dos Estados Americanos. O meu sincero agradecimento vai para Vossa Ex.cia, Senhor Presidente, pelas cordiais palavras de boas-vindas que me dirigiu. Agradeço também ao Secretário-Geral o seu amável convite para visitar a sede geral da mais antiga das Organizações internacionais regionais.

É justo que, depois da minha visita à Organização das Nações Unidas, seja a Organização dos Estados Americanos a primeira, entre as muitas organizações e instituições internacionais, à qual tenho o privilégio de dirigir uma mensagem de paz e de amizade.

A Santa Sé vai seguindo com muito interesse e, posso dizer, com especial atenção, os acontecimentos e os progressos que interessam o bem-estar dos povos das Américas. Por isso sentiu-se muito honrada quando a convidaram a enviar o seu Observador Permanente junto desta instituição, convite esse que lhe foi dirigido no ano passado por unânime decisão da Assembleia Geral. A Santa Sé vê nas Organizações como a vossa, que agrupam Estados duma mesma região geográfica, estruturas intermédias que promovem maior diversificação e vitalidade interna, numa determinada aérea geográfica, no interior da comunidade global das nações. A existência de uma Organização encarregada de assegurar ao continente americano maior continuidade no diálogo entre os Governos, de promover a paz, de favorecer o pleno desenvolvimento na solidariedade e de proteger o homem, a sua dignidade e os seus direitos, é factor de que beneficia toda a família humana. O Evangelho e o Cristianismo entraram plenamente na vossa história e nas vossas culturas. Eu gostaria de partir desta tradição comum para vos expor, com absoluto respeito pelas vossas convicções pessoais e específicas competências, algumas reflexões, com a finalidade de oferecer aos vossos esforços um contributo original num espírito de serviço.

A paz é dom precioso que vós procurais assegurar aos vossos povos. Vós estais de acordo comigo que não é a corrida aos armamentos que permite conservar uma paz duradoira. Para além de aumentar concretamente o perigo de um recurso às armas para resolver as disputas que podem surgir, esta acumulação de armas rouba consideráveis recursos materiais e humanos às grandes tarefas pacíficas do desenvolvimento, que tanto urgentes são. Tal coisa poderia ainda fazer pensar que a ordem, construída sobre as armas, é suficiente para assegurar a paz interna de cada um dos países.

Peço-vos solenemente que façais tudo o que está em vosso poder para travar a corrida aos armamentos neste continente. Não existem controvérsias entre os vossos países que não possam ser superadas com meios pacíficos. Que alívio seria para os vossos povos, quantas possibilidades novas se abririam ao seu progresso económico, social e cultural, e que exemplo contagioso se daria ao mundo, se a difícil empresa do desarmamento pudesse encontrar aqui uma solução realista e resoluta!


Discursos João Paulo II 1979 - DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II