Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 7 de Dezembro de 1979

Ao dirigir-vos estas palavras, confio que serão acolhidas não só por vós aqui presentes, mas também pelos vossos colegas e amigos, espalhados por toda a Itália. A vós e a eles dou, em sinal de encorajamento e estima, uma especial Bênção Apostólica, tornando-a extensiva aos vossos alunos e familiares.



SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO

ORAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II

EM HOMENAGEM À NOSSA SENHORA


Praça de Espanha

Sábado, 8 de Dezembro de 1979



Ave!

Hoje vimos saudar-Te, Maria, que foste escolhida para ser Mãe do Verbo Eterno.

Vimos a este lugar, guiados por especial tradição, e dizemos-Te: Ave! Bendita és, ó cheia de graça ("Ave Maria, gratia plena").

Servimo-nós das palavras pronunciadas por Gabriel, Mensageiro da Santíssima Trindade.

Servimo-nos destas palavras, pronunciadas por todas as gerações do Povo de Deus, que no espaço já de quase dois milénios realiza a sua peregrinação nesta terra. Servimo-nos destas palavras, ditadas pelos nossos corações: "Ave Maria, gratia plena": cheia de graça. Vimos hoje, no dia em que a Igreja com a maior veneração recorda a plenitude desta Graça, de que Deus Te encheu desde o primeiro momento da Tua conceição.

Enchem-nos de alegria as palavras do Apóstolo: Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5,20).

Alegramo-nos desta especial abundância de graça em Ti, que tem o nome de "Imaculada Conceição".

Vimos hoje a este lugar sobretudo nós Romanos, habitantes desta cidade, que a Providência Divina escolheu para ser a sé de Pedro e dos seus Sucessores. Vimos numerosos desde que Pio XII iniciou este gesto de filial homenagem, quase um século depois de Pio IX benzer este monumento à Imaculada. Vimos todos, embora não estejamos aqui todos presentes fisicamente; estamos todavia presentes em espírito.

Anciãos e jovens, pais e filhos, sãos e doentes, representantes das diversas condições e profissões, sacerdotes e religiosos e religiosas, autoridades civis da cidade de Roma, da província do Lácio, todos consideramos particular privilégio estar hoje aqui, juntamente com o Bispo de Roma, ao lado desta Coluna Mariana, para circundar-Te, Mãe, com a nossa veneração e o nosso amor.

Acolhe-nos, assim como somos, aqui ao Teu lado, neste encontro anual!

Acolhe-nos! Olha para os nossos corações! Acolhe as nossas preocupações e as nossas esperanças!

Ajuda-nos, Tu, Cheia de Graça, a viver na Graça, a perseverar na Graça e, se for necessário, a voltar à Graça do Deus Vivo, o que é o maior e sobrenatural bem do homem.

Prepara-nos para a Vinda do Teu Filho!

Acolhe-nos! com os nossos problemas de cada dia, as nossas fraquezas e deficiências, as nossas crises e as faltas pessoais, familiares e sociais.

Não permitas que percamos a boa vontade! Não permitas que percamos a sinceridade do conhecimento e a honestidade do proceder!

Com a Tua oração, consegue-nos a justiça. Salva a paz no mundo inteiro!

Dentro em pouco, nós todos nos afastaremos deste lugar. Desejamos porém voltar às nossas casas com esta alegre certeza: de que estás connosco, Tu, Imaculada. Tu há séculos escolhida para ser Mãe do Redentor. Estás connosco. Estás com Roma. Estás com a Igreja e com o mundo.

Amen.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO


"VIA CONDOTTI" DE ROMA


Segunda-feira, 10 de Dezembro de 1979



Caros e ilustres Senhores!

É-me grato receber-vos na Casa do Pai comum e deter-me convosco, representantes da Associação "Via Condotti" vindos para exprimir pessoalmente os vossos sentimentos de fé cristã e de afeição espiritual ao Papa, que se sente "romano" não só pela divina chamada para a Sé de Pedro, mas também pelo afecto que nutre desde sempre por esta Cidade eterna, "cunctarum gentium excellentissima", como a exaltaram os peregrinos ao longo dos séculos.

A vossa Associação tem a própria sede, e toma o seu nome, naquela rua que se impõe à atenção do visitante não só pelas construções típicas que a ladeiam, mas sobretudo pela pitoresca cenografia que a emoldura, com estupenda vista da escadaria de Trinità dei Monti e da subjacente Praça de Espanha, que há poucos dias, por ocasião da Solenidade da Imaculada Conceição, tive a alegria de visitar mais uma vez para honrar, juntamente com tantos romanos, a histórica imagem da Virgem Santíssima, erguida em gesto de bênção para o vosso bairro inteiro.

Agradeço-vos esta vossa visita e o gesto cordial para com a minha pessoa; exprimo-vos também o meu vivo apreço pela actividade que realizais, para a qual desejo acrescentar o voto de que seja considerada e exercida como promoção do bem comum e como serviço à sociedade, que muito conta com o vosso sentido de responsabilidade, inspirado nas superiores exigências da ética cristã, e muito espera da competência e do compromisso que cada um de vós satisfaz no campo que lhe é próprio.

Estou certo que vós, com o vosso bom senso, característico da tradição romana, sabereis ver em cada expressão do vosso trabalho as dimensões mais altas e menos efémeras, que podem bem sintetizar-se na famosa interrogação do Senhor Jesus: Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se depois vem a perder a sua alma? (Mt 16,26). Desta disposição do vosso espírito não duvido, dando confirmação dela o vosso apego às tradições religiosas dos vossos antepassados, e hoje o vosso desejo de ver o Vigário de Cristo, que é chamado a proclamar as verdades eternas do Evangelho.

De bom grado imploro sobre vós, por intercessão de São Francisco de Assis, vosso Padroeiro celeste, a contínua protecção do Senhor, em cujo nome abençoo a cada um, desejando todo o bem a vós e a todos os vossos consócios, e sobretudo às vossas famílias.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS DO EQUADOR POR OCASIÃO


DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


Terça-feira, 11 de Dezembro de 1979



Senhor Cardeal,
amadíssimos Irmãos no Episcopado

É-me , sumamente grato ter este encontro colegial convosco, no enquadramento da visita "ad Limina" que vós, Bispos do Equador estais a realizar. Estes dias de diálogo intenso acerca das vossas Comunidades têm sido para mim de grande conforto, à medida que se foram desvelando diante dos meus olhos, o dinamismo real e as actuais perspectivas prometedoras da Igreja no Equador.

Dou pois graças ao Senhor "como é justo, porque aumenta grandemente a vossa fé e progride a caridade; até ao ponto de me orgulhar de vós pela vossa constância e fé nas tribulações que suportais" por amor à Igreja (Cfr. 2Th 1,3 ss.).

1. A vossa visita é uma amostra visível de comunhão e unidade fraterna que, tão desejada pelo Divino Mestre (Cfr. Jo Jn 17), se realiza em beneficio constante do único rebanho de Cristo, congregado ao redor dos seus Pastores. Esta causa da Intima comunhão dentro da Igreja, tutelando-a zelosamente e reforçando-a com todos os meios em cada momento, é uma das finalidades essenciais do encontro com quem, como Sucessor de Pedro e cabeça do Colégio apostólico, está colocado por vontade divina como centro e garantia de unidade na fé e na caridade eclesiais (Cfr. Lumen Gentium LG 23).

Por isso, ao mesmo tempo que vos exprimo a minha viva alegria pela união de mentes e corações que existe entre vós, encorajo-vos a preservardes sempre esse dom precioso, de modo que todas as vossas iniciativas e orientações como Pastores irradiem a união fraternal e, como reflexo, se corrobore a solidariedade de propósitos nas comunidades cristãs que vos estão confiadas.

2. O primeiro campo, a que essa vivência unitária se transmitirá muito beneficamente, será o dos sacerdotes e dos vossos colaboradores mais imediatos no cuidado das almas. Impõe-se nisto uma actividade verdadeiramente eclesial, que se torna tanto mais imperiosa quanto maiores são as exigências de suficientes forças evangelizadoras. Estas, precisamente por serem hoje insuficientes, têm crescente necessidade de que se evitem dispersões, que poderiam resultar inúteis e mesmo esterilizantes.

Sei bem que a preocupação por conseguir um número adequado de agentes de pastoral equatorianos está viva na vossa solicitude e programas de Pastores. Com efeito, o vosso sincero reconhecimento, pela valiosa ajuda que recebeis de outras comunidades irmãs, não apaga em vós a consciência do vazio existente e da necessidade de um esforço redobrado para conseguir suficientes vocações para o sacerdócio e a vida consagrada.

Encorajo e abençoo com todas as minhas forças esses vossos propósitos, como também a solicitude dedicada a alcançar uma formação idónea para todo o pessoal apostólico nos Centros que a Igreja tem estabelecido em diversos níveis. Não deixará de dar, e já está dando, frutos conspícuos de evangelização, a entrega cuidadosa da Jerarquia à promoção desses Centros eclesiais, que tanto podem contribuir para o bem das vossas dioceses e da pastoral colectiva.

3. O objectivo, que devem propor-se todos os agentes de apostolado, é conseguir uma evangelização verdadeiramente sólida e profunda, centrada em Cristo, Filho de Deus, Redentor e esperança do homem.

Sei que estais a estudar com atenção o Documento de Puebla, ao qual, desejais dedicar uma assembleia nacional a fim de aplicar as suas directrizes a toda a Igreja no Equador.

É decisão que merece o meu aplauso, porque são muitas as iniciativas concretas que ele vos ajudará a tomar no importante terreno da evangelização, que forma a missão essencial da Igreja.

No exercício desta missão, há que ter bem presentes as circunstâncias concretas dos fiéis. O vosso povo, de facto, conta com sólida base religiosa, que manteve de modo admirável, apesar das difíceis experiências por que passou no decurso da sua história. A religiosidade desse povo, que se professa católico na sua grande maioria, expressa-se com frequência em formas de piedade popular que se orientam sobretudo para a devoção à Eucaristia, para o Sagrado Coração, para a Santíssima Virgem e para os santos.

Tendo isto presente, deverá procurar-se uma evangelização cada vez mais profunda, valorizando esse substrato religioso, orientando as suas manifestações, completando-as e purificando-as no que for necessário.

Assim far-se-ão passar os fiéis para uma fé adulta, ajudando-os a superar os fenómenos da secularização nos seus aspectos negativos de ignorância religiosa, indiferentismo, materialismo prático ou doutrinal. E assim poderão também vencer os influxos alheios que é fácil ponham em questão a sua fidelidade a Cristo e as suas convicções como católicos; influxos — como bem sabeis — às vezes não velados e contra os quais devem ser imunizados os fiéis, para que sejam sempre conscientes da sua fé e mantenham a fidelidade prometida.

Falando dessa tarefa evangelizadora, quero expressar uma palavra de particular apreço e conforto para a Igreja missionária do vosso País, que está realizando um trabalho muito louvável. A quantos a ele se dedicam generosamente, embora no meio de dificuldades graves de ambiente, de penúria de pessoal e de meios; a todas as famílias religiosas que prestam tão valiosas energias a esse esforço missionário; particularmente às Religiosas que às vezes escrevem páginas tão admiráveis de vida eclesial, vá o agradecimento mais sentido, feito também oração, do Papa e da Igreja.

4. A tarefa evangelizadora, que é a função própria e primária da Igreja, não deve, sem dúvida, prescindir do que é o seu complemento natural: a preocupação pela repercussão social do Evangelho, que está dirigido para o ser humano, visto segundo o plano divino. De facto, "a glória de Deus é que o homem viva" (Cfr. Santo Ireneu, Adv. Haer., IV, 20, 7; ). E que viva segundo as exigências da sua dignidade como ser criado e como filho de Deus.

Conheço a vossa sensibilidade de Pastores nesse campo, atentos como estais ao processo de transição de uma civilização preferentemente agrária para outra civilização, urbana e industrial, ao êxodo de populações camponesas para os grandes centros de desenvolvimento, sobretudo Quito e Guayaquil, à distribuição da riqueza nacional que às vezes fica de modo palpável nas mãos de privilegiados. Sei que fere o vosso espírito a visão de desigualdades excessivas, encontrando-se, junto de alguns sectores de opulência, muitíssimos outros de pobreza extrema, se não de miséria, que afligem inteiras camadas sociais, entre as quais se encontra grande parte da população indígena.

Tudo isto, no quadro das novas fontes de riqueza do vosso País, apresenta problemas perante os quais deveis dar uma orientação e resposta a partir do Evangelho, seguindo a tradição dos grandes princípios do ensinamento social da Igreja.

O documento do Episcopados "A justiça social no Equador" e a desejada opção preferencial pelos pobres, devem ir-se tornando realidade vital, dentro do espírito de comunhão eclesial de que antes falei e mantendo o insubstituível equilíbrio entre essa opção e a solicitude pastoral que a ninguém exclui, entre evangelização e compromisso pelo homem. Somente tendo uma clara visão da Igreja e da realidade integral do homem, se poderá avançar de modo conveniente nesse campo, contemporaneamente delicado e exigente.

5. A juventude oferece hoje particular sensibilidade nesse terreno, sem dúvida alguma com maior dinâmica que nas gerações passadas. Há que estar atentos a muitas intuições justas que os jovens apresentam e às quais esperam a devida correspondência, como também uma justa resposta às suas ansiedades e interrogações.

O florescimento, igualmente, de movimentos juvenis, em que se nota a busca de uma vida espiritual intensa, são outros tantos factores que devem servir de estímulo à Igreja no Equador para não defraudar esperanças nascentes.

Isso implica grande atenção ao trabalho de formação humana, de educação na fé e no testemunho cristão das novas gerações. Tudo o que, além do âmbito mais directamente pastoral, envolve também o âmbito da escola até aos seus graus superiores.

Tratando-se de um terreno tão importante, a Jerarquia e a Igreja inteira no vosso País devem empenhar-se com todas as energias na salvaguarda e na renovação dos próprios centros de ensino, procurando dar autêntica educação humana e católica que, superando orientações laicistas ou materialistas ambientais, forme homens completos, cristãos autênticos, com grande sentido de serviço ao bem comum. Está aí um fecundo campo de acção pastoral e de meritória entrega também para leigos conscientes da sua responsabilidade dentro da Igreja.

6. Atendendo a esses grandes objectivos evangelizadores, tive conhecimento dos projectos existentes no campo das comunicações sociais, a fim de potenciar a voz da Igreja e dar-lhe maior difusão.

Expresso-vos por isso a minha mais viva complacência e encorajo-vos a prosseguirdes nessa direcção, usando todos os meios que a técnica nos oferece para favorecer a .irradiação da verdade salvadora, a educação cultural e humana das pessoas mais desprovidas de meios de formação, para amparar e defender a família e os grandes valores de que é depositária perante a sociedade e a Igreja.

7. Amadíssimos Irmãos: Eis aqui algumas reflexões que faz brotar em mim o intenso amor pela Igreja no Equador e por todos e cada um dos seus membros.

Dizei-lhes, ao regressardes aos vossos lugares de trabalho, que o Papa aprecia a sua coragem na obra de evangelização, a sua entrega à Igreja no sacrifício, o seu testemunho na esperança, a sua fidelidade em realizar a caridade. A todos se estende o meu afecto, a minha recordação ao orar e a minha Bênção cordial.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS ASSISTENTES ECLESIÁSTICOS


DAS ASSOCIAÇÕES INTERNACIONAIS CATÓLICAS


13 de Dezembro de 1979



1. Dou-vos as boas-vindas, Senhor Cardeal, aos vossos colaboradores permanentes e aos Consultores do Pontifício Conselho para os Leigos, e a todos vós, Assistentes Eclesiásticos de numerosas Organizações e Associações Internacionais Católicas, reunidos em Roma pela primeira vez por iniciativa do Conselho.

Espero que estes dias, dum encontro bem sucedido, produzam bons frutos para cada um de vós e para as Organizações a que dais o melhor dos vossos talentos e da vossa dedicação sacerdotal.

2. Começarei por lembrar-vos uma consideração da carta que vos dirigi na Quinta-feira Santa deste ano de 1979, consideração que deve trazer-nos constantemente alegria, esperança e conforto espiritual.

Quando um sacerdote, no decorrer da vida, pára um momento e lança um olhar sobre o seu sacerdócio, não pode deixar de maravilhar-se diante da grandeza da graça que lhe foi comunicada pelo sacramento da Ordem. Os sacerdotes que se gastam no trabalho que lhes foi confiado, qualquer que seja — ministério paroquial, ensino ou formação — todos, se conservam a consciência da própria vocação de sacerdotes e se esforçam em proceder em tudo e em toda a parte como sacerdotes, podem verificar, na imensa variedade dos seus campos de acção, a fecundidade sobrenatural da graça sacerdotal que os penetra.

3. A vós, caros irmãos, chama-vos actualmente o Senhor para exercerdes o ministério de sacerdotes, a tempo pleno ou a meio tempo, no campo especialíssimo da assistência eclesiástica às Organizações e Associações Internacionais Católicas.

Não é necessário que vos manifeste a estima sincera da Igreja pelas Obras Internacionais Católicas. Sendo muito diversas e encontrando-se agrupadas há mais de 50 anos numa Conferência, revestem duplo aspecto que a riqueza que têm lhes dá: por um lado, graças às suas finalidades — apostólica, espiritual ou caritativa — permitem à Igreja desempenhar a Sua missão salvífica no mundo; por outro lado, graças ao estatuto que várias delas têm, asseguram uma forma especial de presença da Igreja onde se joga de maneira definitiva o jogo — complexo, delicado e importante --da vida internacional nos seus diferentes níveis.

Estas Organizações, e as outras Associações que dão idêntico testemunho, são formadas na maior parte por leigos, que devem encontrar nelas a possibilidade de crescer na própria fé e no compromisso apostólico, ao mesmo tempo que o meio de participar na vida e na missão da Igreja.

4. Aí está, caros amigos, um campo no qual a graça do vosso sacerdócio se pode aplicar de maneira admirável, se vos mostrardes capazes de viver nela, com autenticidade e intensidade, a vossa vocação de ministros de Jesus Cristo.

Autenticidade significa aceitar a vossa condição de sacerdotes sem arrependimento nem reserva, esta condição que sonhastes quando éreis jovens e para a qual vos preparastes com amor, recebendo-a com entusiasmo no dia em que o Bispo e o Presbitério vos impuseram as mãos. Esta condição de sacerdotes dá-vos uma identidade clara e precisa, dentro da Igreja e no meio do Povo de Deus: é preciso não diluirdes esta identidade, nem esbatê-la ou trocá-la por outras identidades. É preciso, pelo contrário, iluminá-la e mostrá-la diante dos olhos de todos. Nas organizações e associações em que prestais serviços — não vos deixeis enganar! — a Igreja quer-vos como sacerdotes, e os leigos, que dentro delas encontrais, querem-vos como sacerdotes e só como sacerdotes. A confusão dos carismas empobrece a Igreja; não a enriquece em nada. Sacerdotes, sede pois, no meio destes agrupamentos, agentes de comunhão, educadores na fé, testemunhas do Absoluto de Deus, verdadeiros apóstolos de Jesus Cristo, ministros da vida sacramental especialmente da Eucaristia, animadores espirituais de que os leigos precisam, quer para a formação quer para serem esclarecidos na própria responsabilização muitas vezes dificílima, até mesmo arriscada.

5. Intensidade não é senão o fervor do espírito com que deveis viver a vossa vocação quanto àqueles e àquelas de que sois Pastores, como Assistentes Eclesiásticos de importantes Organizações e Associações Internacionais Católicas. Nem é preciso recordar-vo-lo: a vitalidade e o dinamismo apostólico, a capacidade de se comprometerem, e a eficácia da acção destas comunidades ou agrupamentos dependem afinal, em grandíssima parte, do valor humano e evangélico de que dará testemunho a vossa vida sacerdotal.

6. Mas não estais sós. Ficai sabendo que o Papa segue as vossas actividades, que estão muito perto dos cuidados, dos projectos e das actividades da Santa Sé, na medida em que esta é expressão mais viva da catolicidade da Igreja. Mantende-vos unidos aos vossos Bispos, aos vossos Superiores Maiores e, por meio deles, às vossas famílias espirituais. Procurai interessar no vosso trabalho os outros sacerdotes que venhais a encontrar; reparti com eles os vossos cuidados e as vossas realizações. Procurai encontrar, junto dos leigos por quem trabalhais, renovamento de energia espiritual para o vosso sacerdócio e a vossa vida. E acrescento: enriquecei tudo isto procurando comunicar também entre vós, cada vez que vos seja possível, para vos esclarecerdes mutuamente sobre o vosso cargo, vos ajudardes a crescer na vida espiritual e no fervor missionário, e vos animardes uns aos outros. Estes encontros podem ser determinantes para a autenticidade e a intensidade do vosso sacerdócio. O Pontifício Conselho para os Leigos não deixará, estou certo, de ajudar-vos a vos encontrardes assim.

Esteja sempre convosco e auxilie-vos, no vosso ministério, Cristo Sacerdote, de quem se origina a graça imensa do nosso sacerdócio. Ele vos abençoe. Em Seu nome, dou-vos, como penhor de abundantes graças divinas, a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA VISITA


AO COLÉGIO MEXICANO DE ROMA


Quinta-feira, 13 de Dezembro de 1979



Senhores Cardeais,
amadíssimos Irmãos no Episcopado,
Superiores e Alunos

Permiti que antes de mais expresse o meu mais sincero apreço e agradecimento aos Senhores Cardeais Miguel Dario Miranda e Ernesto Corripio Ahumada, como também aos Irmãos Bispos aqui presentes, pelo especial gesto de delicadeza que houveram por bem realizar vindo expressamente do México para assistir a este encontro.

Sinto particular alegria ao ter hoje a oportunidade de deter-me, seja embora por breve tempo, com a numerosa comunidade do Pontifício Colégio Mexicano de Roma, no qual vejo um como prolongamento espiritual daquelas terras, distantes geograficamente, mas para mim sempre tão vizinhas, que tive o prazer de visitar na minha primeira viagem apostólica fora da Itália.

Quis vir a este Colégio precisamente para recordar aquela visita que, há quase um ano, fiz à querida Nação mexicana, Foram dias inesquecíveis, durante os quais o povo mexicano, reunido em grandes multidões, deu prova eloquente de se encontrar tão cordial e afectuosamente próximo do Vigário de Cristo, de felicidade pela primeira visita de um Papa, de comunhão nos valores religiosos e espirituais que a sua presença significava.

Todas aquelas manifestações de afecto e muitas outras posteriores que se repetiram ao longo do ano, renovaram no meu espírito sentimentos de vivo apreço e gratidão. São sentimentos que gostosamente torno patentes neste lugar tão significativo da presença qualificada da Igreja do México, em Roma.

Nesta cidade, sede do Papa e centro da catolicidade, encontrais-vos, queridos sacerdotes e seminaristas, para completar a vossa formação eclesial e vos pordes logo ao serviço dos vossos irmãos, com mais rica experiência e formação científica.

Quero animar-vos a aproveitardes bem o tempo que agora se vos concede, para responder à confiança dos vossos respectivos Ordinários que vos mandaram para aqui, a fim de vos consolidardes nessa permanente docilidade aos ensinamentos do Magistério, que neste ambiente ressoa com particular intensidade, a fim de vos educardes cada vez mais segundo o modelo de sacerdote que sabe inserir-se no mundo de hoje, plenamente consciente das exigências do momento actual e com verdadeira robustez interior que orienta e determina todos os actos do próprio serviço eclesial.

A este propósito, desejo repetir-vos o que disse aos vossos irmãos sacerdotes na Basílica de Guadalupe: "Este serviço elevado e exigente não poderá ser prestado sem uma clara e arraigada convicção sobre a vossa identidade como sacerdotes de Cristo, depositários e administradores dos mistérios de Deus, instrumentos de salvação para os homens, testemunhas de um reino que se inicia neste mundo, mas que se completa no além" (Discurso aos Sacerdotes, 5).

Com essa percepção inequívoca acerca de vós mesmos e da vossa missão, alimentai na oração e na prática dos Sacramentos a visão de fé que há-de renovar-vos incessantemente na generosa entrega pela Igreja e pelo homem irmão.

Também não podemos esquecer que este nosso encontro se realiza na proximidade imediata da festa de Nossa Senhora de Guadalupe, a quem professa cada mexicano devoção ardente. Seja, pois; Ela quem vos guie e ensine o caminho da alegre e pronta doação pela Igreja e pelos outros.

A Ela perante cuja imagem tive a felicidade de rezar na nova basílica, nesse "santuário do povo do México" — encomendo-vos numa insistente oração, a fim de que saibais conformar-vos sempre segundo a imagem de Cristo sacerdote.

Com estes votos e esperança, concedo-vos com grande afecto, a vós, aos vossos Superiores, às Religiosas que se ocupam de vós e a todos os membros da comunidade mexicana de Roma, uma Bênção especial.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS CAPITULARES DA ORDEM HOSPITALEIRA


DE SÃO JOÃO DE DEUS


Quinta-feira, 13 de Dezembro de 1979



Irmãos e filhos caríssimos

Agradeço de coração ao vosso Prior-Geral as fervorosas palavras que me dirigiu, e todos saúdo com paternal afecto, dando-vos as boas-vindas. Tenho o prazer de me encontrar convosco, dignos representantes da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, mais conhecida (em Itália) com o nome de "Fatebenefratelli", que na sua existência de vários séculos praticou não raras benemerências, quer no plano dum testemunho evangélico e eclesial propriamente dito, quer no plano dum precioso contributo para uma qualificação mais humana da vida.

Nestes dias, estais vós na conclusão dum Capítulo Geral extraordinário, decretado para estudar e definir o carisma específico da vossa Família religiosa, os seus grandes princípios inspiradores e os problemas actuais, relacionados com o exercício do vosso ministério. Sei que encontrastes não poucas dificuldades internas e externas à Ordem, e que formulastes também claras perspectivas de compromisso religioso e assistencial. Pois bem, aos vossos louváveis esforços tenho o gosto de assegurar o sustentáculo da minha aprovação e da minha oração ao Senhor.

Sobretudo não posso deixar de expressar-vos claramente a minha sincera complacência e o meu apreço por tudo quanto forma já o conteúdo de todos os dias dos vossos compromissos quer religiosos quer profissionais, que nunca se podem aliás separar, porque uns realizam-se mediante os outros. A uma coisa vos animo, porque urgente e actual, e, por outro lado, sem dúvida presente à vossa consciência e ao vosso sentido de responsabilidade: num tempo em que a vida do homem está infectada por vários factores de desumanização, sede vós os promotores e a garantia de níveis melhores e mais altos de humanidade. Vale isto particularmente no sector característico dos doentes e em geral dos que sofrem, aos quais, por consagração e instituição, dedicais o melhor de vós mesmos. Em certo sentido, diria que não há nada de mais humano que a dor, que revela a dimensão criatural profunda da existência terrena e oferece ocasião privilegiada para nos inclinarmos com amorosa condescendência sobre as carências dos irmãos necessitados. A situação destes, na verdade, não é tida nunca como facto indiferente e descurável; menos ainda deve ser considerada ou incómoda para o nosso viver sossegado ou superior às nossas possibilidades de assistência desvelada. O princípio bíblico que nos leva a gozar com quem goza e sofrer com quem sofre (Cfr. Sir Si 7,34, Rom 12, 15), é, primeiro que tudo, estímulo para um comportamento altamente humano, feito de natural e espontânea participação nas experiências alheias e portanto sinal duma comunhão que enriquece seja quem a recebe seja quem a oferta.

Além disto, animo-vos a cultivar um testemunho cristão sempre transparente e fecundo, especialmente nos ambientes do vosso apostolado próprio. Uma relação puramente humana, mesmo com os doentes, arrisca-se a ficar estéril por falta de raízes e motivações profundas. Também a vossa profissionalidade é facto muito importante, e deverá ser o mais possível séria e actualizada. Mas se o vosso trabalho não é filtrado através da fé, está sempre em perigo de materializar-se e até mesmo perder aqueles elementos humanos de que falei acima. Bem sabeis e sempre devereis ter presente que, segundo Evangelho, quem serve o doente entra em contacto com o próprio Jesus (Cfr. Mt Mt 25,36 Mt Mt 25,40), cuja força se revela totalmente na fraqueza, segundo a expressão do Apóstolo Paulo (2Co 12,9). De facto foi mediante os Seus sofrimento que todos nós obtivemos por graça a salvação (Cfr. Heb He 2,10 Heb He 2,18). Ora, que melhor oportunidade de evangelização se vos oferece, senão exactamente o descobrir a quem sofre o valor profundo da sua condição, que sem dúvida adquire sentido, valor e fecundidade, precisamente graças à conformação alegre e abençoada com a Cruz de Cristo (Cfr. Flp Ph 3,10-11 Rm 8,17 2Co 1,5)? Assim o vosso trabalho, continuando a ser profissionalmente qualificado, pode transformar-se em autêntico apostolado.

Por meu lado, invoco de coração sobre vós copiosas graças celestiais. Seja o Senhor quem leve à plena maturidade tudo o que semeastes no vosso Capítulo, de maneira que produza frutos abundantes, dignos tanto do Evangelho que vos inspira, quanto do homem que servis.

Destes votos cordiais é penhor a especial Bênção Apostólica, que de boa vontade concedo a vós e a todos os beneméritos Religiosos da Ordem dos "Fatebenefratelli".



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CURSO


PARA JUÍZES DE TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS


13 de Dezembro de 1979



Dilectíssimos filhos

1. Com grande alegria vos recebemos a todos — Juízes e outros Oficiais dos tribunais, e também os Professores e os outros mestres deste 7.° curso de Renovação —, aos quais saudamos com ânimo paternal, satisfazendo deste modo o vosso desejo de «ver Pedro», e o Nosso de falar sinceramente convosco.

2. Muito estimamos sempre a função da Justiça, cuja importância e autoridade vão crescendo dia a dia. Por isso, seguindo o exemplo do Nosso venerando Predecessor Paulo VI, que várias vezes se dirigiu aos participantes neste curso de Renovação, queremos começar por fazer o mesmo e usando as suas mesmas palavras. Com Ele «ao mesmo tempo confessamos ter-nos dado muito prazer que tais pessoas, cultoras do direito canónico como sois, vindas das várias regiões da terra, tivessem participado neste Curso com tanto empenho e aplicação. Ter assim acontecido é justificação da confiança que temos no vosso Instituto, criado em boa hora junto da Nossa Universidade Gregoriana, o qual vemos, não sem consolação paterna, aumentar cada vez mais a sua eficácia» (Alocução de Paulo VI aos participantes no III Curso de Renovação Canónica para os Juízes e outros Oficiais dos Tribunais, no dia 14 de Dezembro de 1974, AAS 66, 1974, 10).

3. Apraz-nos, além disso, aprovar e louvar nesta ocasião o novo curso desta Faculdade de Direito canónico, que recentemente instituiu um especial doutoramento em jurisprudência para melhor fomentar a aplicação da justiça. É justo apoiar tal esforço com uma palavra de louvor e formular votos paternais por que tenham bom resultado este ensino e esta prática de Jurisprudência especializada.

4. Seja-Nos finalmente permitido inculcar nos vossos espíritos este santo princípio: o vosso cargo e exercício da justiça é verdadeiramente sacerdotal e pastoral, como também Paulo VI, de veneranda memória, afirmou. Vós sois «sacerdotes da justiça», pois na vossa nobre actividade brilha a luz de Deus, que é a justiça completa, e o vosso cargo de juízes eclesiásticos muito ajuda os membros do Povo de Deus que se encontram em dificuldades (Alocução à Sagrada Rota Romana, a 17-2-1979, AAS 71, 1979, 422-427. Ver na p. 423 a citação de Paulo VI e também AAS 57, 1967, 234; Alocução à Sagrada Rota Romana, a 8-2-1973, AAS 65, 1973, 101).


Discursos João Paulo II 1979 - Sexta-feira, 7 de Dezembro de 1979