AUDIÊNCIAS 1980 - AUDIÊNCIA GERAL


JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 28 de Maio de 1980




O corpo não submetido ao espírito ameaça a unidade do homem-pessoa

1. Vamos ler de novo os primeiros capítulos do Livro do Génesis, para compreender como — com o pecado original — o «homem da concupiscência» tomou o lugar do «homem da inocência» original. As palavras de Génesis, 3, 10, «cheio de medo, porque estou nu, escondi-me», que ponderámos há duas semanas, documentam a primeira experiência de vergonha do homem perante o seu Criador: vergonha que poderia chamar-se «cósmica».

Todavia, esta «vergonha cósmica» — é possível descobrir-lhe os traços na situação total do homem depois do pecado original — no texto bíblico dá lugar a outra forma de vergonha. E a vergonha que se produz na humanidade mesma, isto é, causada pela íntima desordem naquilo pelo qual o homem, no mistério da criação, era «a imagem de Deus», tanto no «eu» pessoal como na relação interpessoal, através da primordial comunhão das pessoas, constituída juntamente pelo homem e pela mulher. Aquela vergonha, cuja causa se encontra na humanidade mesma, é imanente e relativa ao mesmo tempo: manifesta-se na dimensão da interioridade humana e ao mesmo tempo refere-se ao «outro». Esta é a vergonha da mulher «quanto» ao homem, e também do homem «quanto» à mulher: vergonha recíproca, que os obriga a cobrir a própria nudez, a esconder os próprios corpos, a tirar da vista do homem o que forma o sinal visível da feminilidade, e da vista da mulher o que forma o sinal visível da masculinidade. Em tal direcção se orientou a vergonha de ambos depois do pecado original, quando deram conta de «estarem nus», como atesta Gén. 3, 7. O texto javista parece indicar explicitamente o carácter «sexual» desta vergonha: «prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas como se fossem cinturões». Todavia, podemos perguntar-nos se o aspecto «sexual» tem só carácter «relativo»; por outras palavras: se se trata de vergonha da própria sexualidade só em referência a pessoa do outro sexo.

2. Apesar de, à luz daquela única frase determinante de Gén. 3, 7, a resposta à interrogação parecer inculcar sobretudo o carácter relativo da vergonha original, contudo a reflexão sobre todo o contexto imediato permite descobrir o seu fundo mais imanente. Aquela vergonha, que sem dúvida se manifesta na ordem «sexual», revela uma dificuldade específica de advertir a essencialidade humana do próprio corpo: dificuldade, que o homem não tinha experimentado no estado de inocência original. Assim, de facto, se podem entender as palavras «cheio de medo, porque estou nu», as quais colocam em evidência as consequências do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no íntimo do homem. Por meio destas palavras desvela-se certa fractura constitutiva no interior da pessoa humana, quase uma ruptura da original unidade espiritual e somática do homem. Este dá-se conta pela primeira vez que o seu corpo cessou de beber da força do espírito, que o elevava ao nível da imagem de Deus. A sua vergonha original traz em si os sinais de uma específica humilhação comunicada pelo corpo. Esconde-se nela o germe daquela contradição, que acompanhará o homem «histórico» em todo o seu caminho terrestre, como escreve São Paulo: «Sinto prazer na lei de Deus, de acordo com o homem interior. Mas vejo outra lei nos meus membros, a lutar contra a lei da minha razão» (Rm 7,22-23).

3. Assim, pois, aquela vergonha é imanente. Contém tal agudeza cognoscitiva que origina uma inquietação fundamental em toda a existência humana, não só diante da perspectiva da morte, mas também diante daquela de que dependem o valor mesmo e a dignidade da pessoa no seu significado ético. Em tal sentido a vergonha original do corpo («estou nu») é já medo («cheio de medo») e anuncia a inquietação da consciência ligada à concupiscência. O corpo, que não está sujeito ao espírito como no estado de inocência original, tem em si um foco constante de resistência ao espírito e ameaça de algum modo a unidade do homem-pessoa, isto é, a natureza moral, que mergulha solidamente as raízes na constituição mesma da pessoa. A concupiscência, e em particular a concupiscência do corpo, é ameaça específica à estrutura da autoposse e do autodomínio, por meio da qual se forma a pessoa humana. E constitui para ela também um desafio específico. Seja como for, o homem da concupiscência não domina o próprio corpo do mesmo modo, com igual simplicidade e «naturalidade», como o fazia o homem da inocência original.A estrutura da autoposse, essencial para a pessoa, é nele, em certo modo, abalada até aos fundamentos, ele de novo se identifica com ela enquanto está continuamente pronto a conquistá-la.

4. Com tal desequilíbrio interior está unida a vergonha imanente. E esta tem carácter «sexual», porque exactamente a esfera da sexualidade humana parece colocar em especial evidência aquele desequilíbrio, que brota da concupiscência e especialmente da «concupiscência do corpo». Sob este ponto de vista, aquele primeiro impulso de que fala Génesis 3, 7 («reconhecendo que estavam nus, prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas como se fossem cinturões») é muito eloquente; é como se o «homem da concupiscência» (varão e mulher «no acto do conhecimento do bem e do mal») experimentasse ter simplesmente cessado, mesmo através do próprio corpo e sexo, o estar acima do mundo dos seres vivos ou «animalia». É como se experimentasse uma específica fractura da integridade pessoal do próprio corpo, particularmente no que lhe determina a sexualidade e está directamente ligado com a chamada àquela unidade, em que o homem e a mulher «serão uma só carne» (Gn 2,24). Por isso, aquele pudor imanente e ao mesmo tempo sexual é sempre, ao menos indirectamente, relativo. É o pudor da própria sexualidade «quanto» ao outro ser humano. De tal modo, o pudor é manifestado na narrativa Génesis 3, pelo qual somos, em certo sentido, testemunhas do nascimento da concupiscência humana. É portanto suficientemente clara também a motivação para das palavras de Cristo sobre o homem (varão), que «olha para uma mulher, desejando-a» (Mt 5,28), subir àquele primeiro momento, em que o pudor se explica mediante a concupiscência e esta mediante o pudor. Assim entendemos melhor porque — e em que sentido — Cristo fala do desejo como «adultério» cometido no coração, porque se dirige ao «coração» humano.

5. O coração humano conserva em si contemporaneamente o desejo e o pudor. O nascimento do pudor orienta-nos para aquele momento em que o homem interior, «o coração», fechando-se ao que «vem do Pai», se abre ao que «vem do mundo». O nascimento do pudor no coração humano dá-se a par e passo com o início da concupiscência — da tríplice concupiscência segundo a teologia joanina (cfr. 1Jn 2,16) e em particular da concupiscência do corpo. O homem tem pudor do corpo por causa da concupiscência. Mais, tem pudor não tanto do, corpo quanto exactamente da concupiscência: tem pudor do corpo por causa da concupiscência. Tem pudor do corpo por causa daquele estado do seu espírito a que a teologia e a psicologia dão a mesma denominação sinónima: desejo ou concupiscência, embora com significado não de todo igual. O significado bíblico e teológico do desejo e da concupiscência difere do usado na psicologia. Para esta última, o desejo provém da falta ou da necessidade, que o valor desejado deve satisfazer. A concupiscência bíblica, como deduzimos de 1 Jo. 2, 16, indica o estado do espírito humano afastado da simplicidade original e da plenitude dos valores, que o homem e o mundo possuem «nas dimensões de Deus». Exactamente essa simplicidade e plenitude do valor do corpo humano na primeira experiência da sua masculinidade-feminilidade, de que fala Génesis 2, 23-25, sofreu sucessivamente, «nas dimensões do mundo», transformação radical. E então, juntamente com a concupiscência do corpo, nasceu o pudor.

6. O pudor tem significado duplo: indica ameaça do valor e ao mesmo tempo preserva interiormente esse valor (Cfr. Karol WOJTYLA, Amore e responsabilità, Torino, 1978, cap. «Matafisica del pudore», PP 161-178). O facto de o corpo humano, desde o momento em que nele nasce a concupiscência do corpo, conservar em si também a vergonha, indica que se pode e deve fazer apelo a ele quando se trata de garantir aqueles valores, a que a concupiscência tira a sua original e plena dimensão. Se conservamos isto na mente, estamos capazes de compreender melhor porque, falando da concupiscência, Cristo faz apelo ao «coração» humano.



Saudações

A peregrinação dos Irmãos Cristãos
e dos Irmãos de São Gabriel

E um prazer ter entre os peregrinos dois grupos de irmãos religiosos: os Irmãos Cristãos que estão a terminar o seu estágio em Roma; e os Irmãos de São Gabriel, da Ásia. Eu rezo a fim de que o tempo que passais em Roma possa aumentar o próprio apreço pela vossa especial vocação. A Igreja tem em grande conta não só a assistência activa que lhe dais, especialmente no campo da educação, mas também o lugar que nela ocupais: visto que, sem a dimensão dada pelos irmãos religiosos, faltaria ao testemunho da Igreja um pouco do seu esplendor. Deus vos abençoe e vos dê vigor no vosso trabalho e na vossa vocação.

Aos peregrinos de língua alemã

Dirijo agora uma especial saudação aos peregrinos provenientes de Bayern cuja viagem a Roma na semana do Pentecostes tem por objectivo o desejo de celebrar aqui o aniversário de São Bento. Saúdo igualmente os peregrinos da Arquidiocese de Bamberg, aos quais peço que, numa visita. Catedral de Sutri, não deixem de venerar a memória do seu antigo Bispo Suidgerus, eleito Papa no ano de 1046 com o nome de Clemente II. E bom e justo que conservemos sempre actual a vida e o testemunho de fé dos nossos antepassados, especialmente dos nossos santos, procurando seguir o seu exemplo. Como Cristo os chamou um dia, assim também nos chama hoje, a nós, para O seguirmos. Oxalá saibamos responder à sua chamada com aquela disponibilidade magnânima e aquela fidelidade com que o fizeram já tantos irmãos e irmãs nossos na fé. E esta a graça que de todo o coração peço para vós com a minha Bênção Apostólica.

Saúdo também muito cordialmente os numerosos peregrinos, mulheres e homens, leitores do periódico eclesiástico do Arquiepiscopado de Paderborn, que tem por título "A Catedral". O templo visível, a Igreja-Catedral, no qual o nome do vosso jornal vos faz pensar continuamente, é sinal sensível da presença invisível de Deus no meio do seu povo. Por conseguinte este sinal deve recordar-vos ao mesmo tempo que vós próprios, como cristãos, sois chamados a ser templos vivos do Espírito Santo. Sede sempre conscientes desta chamada e desta dignidade e procurai responder-lhe cada vez melhor com uma autêntica vida de fé. Para tal concedo-vos agora no amor de Cristo a Bênção Apostólica.

A um grupo de fiéis da paróquia romana -de Santa Maria in Trastevere (Itália)

Saúdo agora o grupo de peregrinos da paróquia de Santa Maria in Trastevere, que vieram retribuir-me a visita que fiz há pouco tempo à sua Comunidade. Ao agradecer-vos, filhos caríssimos, este delicado gesto, exorto-vos a perseverardes no compromisso de adesão fiel a Cristo e de devoção filial a Maria Santíssima, emulardo as generosas tradições cristãs, deixadas pelos vossos antepassados. A todos vós e às vossas famílias a minha paternal Bênção Apostólica.

A um grupo de Marítimos e de Trabalhadores do Porto de Marghera (Itália)

Encontra-se presente nesta Audiência um grupo de Marítimos e de Trabalhadores do Porto de Marghera, os quais, acompanhados do seu Patriarca, o Cardeal Marco Ce, quiseram recordar, com uma peregrinação a Roma, o 25° aniversário da instituição da benemérita Obra de Santa Maria do Porto. Recebei; caríssimos filhos; a minha reconhecida e alegre saudação, ao mesmo tempo que peço ao Senhor abençoe o vosso trabalho e a vossa generosa dedicação, e vos encha, assim como às vossas famílias, daquelas consolações de que é penhor a minha Bênção Apostólica.

A peregrinos de diversas dioceses italianas

E agora um pensamento, também afectuoso, para os numerosos peregrinos das Dioceses de Macerata, Tolentino, Cingoli, Treia e Recanati, que, na grande maioria, representam o mundo do trabalho e da empresa. Agradeço-vos terdes querido encontrar-vos com o Pai comum. Apraz-me participar na vossa fadiga com férvidos votos por que ela seja para vós não só fonte de apoio material, mas também motivo de elevação pessoal, valorizando e estimulando as vossas capacidades de inteligência e de coração para o bem comum, e para a serenidade das vossas pessoas e das vossas famílias; a todos concedo, propiciadora dos dons do Espírito divino, a minha Bênção Apostólica.

Aos jovens

Aos jovens presentes nesta Audiência chegue, como habitualmente, a minha cordial e afectuosa saudação.

O Pentecostes sugere-nos dirigir a nossa oração ao Espírito Santo. E Ele que ilumina a nossa inteligência para compreender que Jesus Cristo é a esperança certa do homem, sem a qual ele vive na solidão e na tristeza.

O Espírito de Deus, queridos jovens, encha também os vossos corações com a sua alegria e renove as vossas vontades, tornando-as dóceis às suas inspirações.

Aos Doentes

Abraço-vos de modo particular a vós queridos irmãos doentes! Vós representais, devido à vossa própria condição, a fraqueza humana e ao mesmo tempo o poder e a misericórdia de Deus.

Eu estou junto de vós com o meu afecto e, mais ainda, com a oração; mas por meu lado recomendo as necessidades da Igreja às vossas orações, tão eficazes junto de Deus, o Qual "escolheu as coisas débeis para confundir as fortes" (1Co 1,8).

Para este fim vos ajude a minha confortadora Bênção Apostólica.



                                                                            Junho de 1980

JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 4 de Junho de 1980




O homem com o seu corpo à luz da palavra de Deus

1. Falando do nascimento da concupiscência no homem, com base no Livro do Génesis, analisámos o significado original da vergonha, que aparece com o primeiro pecado. A análise da vergonha, à luz da narrativa bíblica, consente-nos compreender, ainda mais a fundo, o significado que ela tem para o conjunto das relações interpessoais homem-mulher. O capítulo terceiro do Génesis demonstra sem qualquer dúvida ter aquela vergonha aparecido na relação recíproca do homem com a mulher e que tal relação, por causa da vergonha mesma, sofreu transformação radical. E como ela nasceu, nos corações de ambos, ao mesmo tempo que a concupiscência do corpo, a análise da vergonha original permite-nos igualmente examinar em que relação fica tal concupiscência a respeito da comunhão das pessoas, que desde o princípio foi concedida e assinalada como missão ao homem e à mulher, por isso mesmo que foram criados «à imagem de Deus». Por isso, a nova etapa do estudo sobre a concupiscência, que «ao princípio» se tinha manifestado por meio da vergonha do homem e da mulher segundo Géneses 3, é a análise da insaciabilidade da união, isto é da comunhão das pessoas, que devia ser expressa também pelos seus corpos, segundo a própria específica masculinidade e feminilidade.

2. Sobretudo, portanto, esta vergonha que, segundo a narração bíblica, leva o homem e a mulher a esconderem reciprocamente os próprios corpos e em especial a diferenciação sexual de ambos, confirma que se infringiu aquela capacidade original de comunicarem reciprocamente a si mesmos, de que fala Génesis 2, 25. A radical mudança do significado da nudez original deixa-nos. supor transformações negativas de toda a relação interpessoal homem-mulher. Aquela recíproca comunhão na humanidade mesma por meio do corpo e por meio da sua masculinidade e feminilidade, que tinha tão forte ressonância na passagem precedente da narrativa javista (cfr. Gén Gn 2,23-25), é neste momento perturbada: como se o corpo, na sua masculinidade e feminilidade, cessasse de constituir o «insuspeitável» substrato da comunhão das pessoas, como se a sua original função fosse «posta em dúvida» na consciência do homem e da mulher. Desaparecem a simplicidade e a «pureza» da experiência original, que facilitava singular plenitude no comunicar recíproco de ambos. Obviamente, os nossos primeiros pais não deixaram de comunicar reciprocamente, através do corpo e dos seus movimentos, gestos e expressões; mas desapareceu a simples e directa comunhão mútua, relacionada com a experiência original da recíproca nudez. Quase de improviso, apareceu na consciência deles uma soleira intransponível, que limitava a originária «doação de si» ao outro, em plena confiança a tudo o que constituía a própria identidade e, ao mesmo tempo, diversidade, de um lado o feminino, do outro o masculino. A diversidade, ou seja a diferença de sexos, masculino e feminino, foi de repente sentida e compreendida como elemento de recíproca contraposição de pessoas. Isto é atestado pela expressão concisa de Génesis 3, 7: «reconheceram que estavam nus», e pelo seu contexto imediato. Tudo isto faz parte também da análise da primeira vergonha. O livro do Génesis não só lhe descreve a origem no ser humano, mas consente também que se desvelem os seus graus em ambos, no homem e na mulher.'

3. Encerrar-se a capacidade de uma plena comunhão recíproca, que se manifesta como pudor sexual, consente-nos entender melhor o valor original do significado unificante do corpo. Não se pode, de facto, compreender de outro modo aquele encerrar-se respectivo, ou seja a verdade, senão em relação com o significado que o corpo, na sua feminilidade e masculinidade tinha anteriormente para o homem no estado de inocência original. Aquele significado unificante entende-se não só a respeito da unidade, que o homem e a mulher, como cônjuges, deviam constituir, tornando-se «uma só carne» Gén. 2, 24) através do acto conjugal, mas também com referência à mesma «comunhão das pessoas», que fora a dimensão própria da existência do homem e da mulher no mistério da criação. O corpo na sua masculinidade e feminilidade constituía o «substrato» peculiar de tal comunhão pessoal. O pudor sexual, de que trata Génesis 3, 7, atesta a perda da original certeza de o corpo humano, através da sua masculinidade e feminilidade, ser aquele mesmo «substrato» da comunhão das pessoas, que «simplesmente» a exprima e sirva para a sua realização (e assim também para o aperfeiçoamento da «imagem de Deus» no mundo visível). Este estado de consciência de ambos tem fortes repercussões no contexto seguinte de Génesis 3, de que em breve nos ocuparemos. Se o homem, depois do pecado original, tinha perdido por assim dizer o sentido da imagem de Deus em si, isto manifestou-se com a vergonha do corpo (cfr. especialmente Gn 3,10-11). Aquela vergonha, invadindo a relação homem-mulher na sua totalidade, manifestou-se com o desequilíbrio do significado original da unidade corpórea, isto é, do corpo como «substrato» peculiar da comunhão das pessoas. Como se o aspecto pessoal da masculinidade e feminilidade, que primeiro punha em evidência o significado do corpo para uma plena comunhão das pessoas, cedesse o lugar apenas à sensação da «sexualidade» a respeito do outro ser humano. E como se a sexualidade se tornasse «obstáculo» na relação pessoal do homem com a mulher. Ocultando-a reciprocamente, segundo Génesis 3, 7, ambos a exprimem quase por instinto.

4. Esta é, a um tempo, como a «segunda» descoberta do sexo, que na narração bíblica difere radicalmente da primeira. Todo o contexto da narrativa comprova que esta nova descoberta distingue entre o homem «histórico» da concupiscência (mais, da tríplice concupiscência) e o homem da inocência original. Em que relação se coloca a concupiscência, e em particular a concupiscência da carne, a respeito da comunhão das pessoas, tendo como medianeiro o corpo, na sua masculinidade e feminilidade, isto é, a respeito da comunhão assinalada, «desde o princípio», ao homem pelo Criador? Eis a interrogação que devemos apresentar-nos, exactamente quanto «ao princípio», acerca da experiência da vergonha, à qual se refere a narrativa bíblica. A vergonha, como já observámos, manifesta-se na narração de Génesis 3 como sintoma da separação do homem quanto ao amor, de que era participante no mistério da criação segundo a expressão joanina: o que «vem do Pai». «Aquilo que está no mundo», isto é a concupiscência, traz consigo uma quase constitutiva dificuldade de identificação com o próprio corpo; e não só no âmbito da própria subjectividade, mas, ainda mais, a respeito da subjectividade do outro ser humano: da mulher para o homem, do homem para a mulher.

5. Daqui a necessidade de esconder-se diante do «outro» com o próprio corpo, com aquilo que determina a própria feminilidade/ masculinidade. Esta necessidade demonstra a carência fundamental de confiança, o que por si indica o desabar da original relação «de comunhão». Precisamente o respeito à subjectividade do outro e ao mesmo tempo à própria subjectividade, suscitou nesta nova situação, isto é, no contexto da concupiscência, a exigência da ocultação, de que fala Génesis 3, 7.

E precisamente aqui nos parece descobrir de novo um significado mais profundo do pudor «sexual» e também o pleno significado daquele fenómeno, a que se refere o texto bíblico para revelar o confim entre o homem da inocência original e o homem «histórico» da concupiscência. O texto integral de Génesis 3 fornece-nos elementos para definir a dimensão mais profunda da vergonha; mas isto exige análise à parte. Iniciá-la-emos na próxima reflexão.

Saudações

A um grupo de ex-combatentes da Legião Sul Africana

Desejo saudar de modo particular os ex-combatentes e as suas famílias que organizaram a Peregrinação da Legião Sul-Africana para visitar os cemitérios militares na Europa. Prometo-vos rezar por aqueles que morreram nesses países, longe das suas casas. Descansem eles em paz, e vós gozai das bênçãos e da verdadeira paz — a paz que nasce da harmonia com a vontade de Deus.

Aos Colaboradores de uma emissora radiofónica de Barcelona, (Espanha)

Saúdo agora afectuosamente o grupo composto por ouvintes e colaboradores da Rádio Miramar, de Barcelona, Espanha.

Sei que representais um grande número de pessoas, unidas, através das ondas radiofónicas, num empenho nobre e Cristão: proporcionar ajuda a quem tem problemas de solidão, enfermidade, dificuldades económicas, ou incompreensões.

Alegro-me profundamente com esta nobre iniciativa, tão humana e tão digna de cristãos, e estimulo-vos a prosseguirdes na benemérita tarefa de ajudar sectores. que por diversos motivos, não podem gozar de uma plena inserção na sociedade actual. Aproveitai as grandes possibilidades que a rádio oferece. para difundir a palavra amiga e a voz de Deus.

Aos responsáveis e aos ouvintes concedo cordialmente a minha especial Bênção.

À peregrinação de grupos familiares provenientes da Espanha

Dou também as minhas cordiais boas-vindas aos membros de outro numeroso grupo de peregrinos provenientes de diversas regiões da Espanha, e que me trazem a homenagem das famílias católicas espanholas.

Agradeço-vos, antes de tudo, queridos irmãos e irmãs, esta visita que me quisestes fazer. Sei que o ponto central do programa da vossa viagem consiste no propósito de rezar junto dos túmulos dos Apóstolos pela Igreja universal e pela vossa Pátria. Isso dá-me prazer e animo-vos a aprofundardes, durante a vossa permanência em Roma, essa visão de fé que vos leva a dar a Deus o lugar que lhe corresponde na vossa vida pessoal, no âmbito familiar e social.

A família continua a ser, para a Igreja e para a sociedade, um campo importantíssimo. Cultivai, pois, os grandes valores que a devem distinguir e orientar.

A vós e às famílias católicas da Espanha concedo, com grande afecto, a Bênção Apostólica.

À Associação "Centro Italiano Arte e Cultura" de Roma

Saúdo agora com particular intensidade de afecto os Dirigentes, os Membros e as respectivas famílias, da Associação romana "Centro Italiano Arte e Cultura", os quais, por ocasião do décimo aniversário de fundação, quiseram testemunhar o próprio apego ao sucessor de Pedro e, sobretudo, o empenho que dedicam à salvaguarda e à promoção de urna cultura e de uma arte inspiradas nos valores superiores, da fé cristã e da fraternidade universal.

Sei também que este benemérito Centro, que reúne intelectuais, escritores, poetas, pintores, escultores, comediógrafos e músicos, foi escolhido, este ano, para organizar uma exposição de artes visíveis no âmbito das celebrações do XV centenário do nascimento de São Bento, exposição que terá lugar, em breve, na Basílica de São Paulo fora dos Muros.

Queridos artistas, alegro-me convosco pela vossa nobre actividade e agradeço-vos a inspiração cristã que põe em movimento o vosso engenho. Sabei que o Papa aprecia o vosso esforço intenso para revestir de palavras, de cores e de formas as vossas obras de arte. Ao manifestar-vos os meus fervorosos votos por todas as satisfações espirituais e profissionais, renovo-vos o meu paterno apreço, que valorizo com uma especial Bênção, extensiva a todos os vossos colegas, amigos e familiares.

Solenidade do Corpo de Deus

Com as primeiras Vésperas já iniciamos a grande solenidade do Corpus Domini, que, segundo uma tradição secular da Igreja, se celebra na quinta-feira depois da festa da Santíssima Trindade, isto é, amanhã. Uno-me em espírito a todos aqueles que nesse dia prestarão publicamente homenagem a Cristo na Eucaristia. Pelo contrário, nos lugares em que — como por exemplo, até há pouco tempo, na Itália — a solenidade exterior do Corpus Domini, devido ao dia de trabalho, foi transferida para o domingo seguinte, recomendo a todos que se lembrem de modo particular do Santíssimo Sacramento, deste Alimento Divino que dá a vida eterna.

Este ano, consideradas as circunstâncias particulares, a solenidade dominical e a procissão do Corpus Domini, serão celebradas aqui na Praça de São Pedro. Como Bispo de Roma, convido o Clero e todos os fiéis da Cidade Eterna a participarem nela. A nossa veneração e o nosso amor para com o Santíssimo Sacramento se manifestem desse modo.



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 11 de Junho de 1980




Participei na missão que a Igreja desempenha na França

1. Volto constantemente com o pensamento à recente visita a França: a Paris e a Lisieux — e hoje desejo manifestar, ao menos em parte, o que ela foi para mim.

Antes de tudo foi um convite, vindo mediante os homens, mas seria difícil não descobrir nele o dedo da Providência. Esta visita não estava prevista. Há tempos tomara em consideração a viagem ao Congresso Internacional Eucarístico em Lourdes, que se realizará em Julho de 1981. Mas o convite para a cidade de Paris surgiu só ultimamente, por ocasião de uma circunstância particular, a sessão da UNESCO.

Desejo aqui agradecer especialmente ao senhor Amadou Mathar-M'Bow, Director-Geral daquela Organização mundial, que, há tempos, me convidara a fazer lá uma visita.

A sigla UNESCO significa: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Encontramo-nos pois no âmbito da grande estrutura das Nações Unidas, que desde o fim da terrível Segunda Guerra Mundial, se tornou necessidade especial da nossa época; ela — não obstante as muitas dificuldades de que todos estamos conscientes — não cessa de servir a causa da pacífica convivência da Nações de toda a terra. Em Outubro do ano passado tive a honra de participar na reunião plenária da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque, em consequência do convite por parte do Secretário-Geral, Doutor Kurt Waldheim. Em seguida, em Novembro, a convite do Director-Geral Senhor Edouard Saouna, fui hóspede na sede romana da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, que se ocupa, abrangendo todo o globo, dos problemas ligados de maneira mais fundamental à vida do homem. Deles estamos sobretudo convencidos nós que, segundo as palavras do próprio Cristo, constantemente pedimos ao Pai: «O pão nosso de cada dia nos dai hoje». E por meio destas palavras sentimos o grande problema que para os homens contemporâneos, especialmente nalgumas zonas da terra, é a fome, a falta de pão...

2. A UNESCO serve, na mesma dimensão da humanidade inteira, a nível internacional, a causa da cultura, da ciência e da educação. São estes os problemas em cujo âmbito o homem vive e se desenvolve como homem, como pessoa, e como comunidade, como família, como nação. De facto «não só de pão vive o homem» (cfr. Mt Mt 4,4)...; mais, os problemas do pão andam ligados ao nível da cultura, da ciência e da ética. A UNESCO não está directamente ao serviço do problema do pão,

mas das questões da cultura, da educação e da ciência -- portanto do problema em cujo âmbito mais profundamente se manifesta e se confirma o que vem a ser o homem, precisamente como homem. Por isso a Organização, que dedica toda a sua actividade a estes problemas, tem importância de todo essencial para a consolidação no mundo dos direitos do homem, da família e de uma nação, para assegurar a dignidade humana mediante a justa relação com a verdade e com a liberdade.

Todos estes problemas, tão próximos dos encargos da Igreja em todos os tempos, e em particular da nossa época, constituíram ampla motivação para a minha visita à sede da UNESCO no dia 2 de Junho. Ofereceu ela ocasião especial para colocar em relevo aquela relação da Igreja com a cultura, que encontrou expressão no ensinamento do Concílio Vaticano II, e especialmente na Constituição Gaudium et Spes. Esta visita foi também ocasião para recordar, mediante um apelo especial aos cientistas de todo o mundo, a grande causa da paz.

3. Paris continua a ser a cidade especialmente apta para hospedar a sede da UNESCO. Graças à iniciativa do Arcebispo de Paris, Cardeal Marty, a visita à sede daquela Organização teve, ao mesmo tempo e plenamente, carácter pastoral para com a Igreja que está em França. Falo disto com particular gratidão, que dirijo tanto aos representantes da Igreja como aos dos cidadãos e a cada um dos organismos do poder civil.

Juntamente com o Episcopado Francês, muito apreciei a participação tão significativa do Presidente da República Francesa, as suas palavras de saudação, como também a participação de todo o Governo, com o Primeiro-Ministro à frente, e a participação do Corpo Diplomático. O mesmo devo dizer a respeito da visita feita a Lisieux.

Seja-me consentido tornar extensivas estas expressões de reconhecimento a todas as pessoas e Instituições que ofereceram contributo para a organização de tal visita e lhe asseguraram o resultado. De modo particular penso naqueles a quem pude expressar pessoalmente esta gratidão — pessoas a quem me sinto tão devedor e obrigado. Agradeço-lhes terem-me tornado possível, em todas as etapas e em todos os particulares, o serviço para que ia à França. Obrigado por o terem feito com tanta delicadeza, compreensão e benevolência, com tanta mestria e cordial hospitalidade.

4. O serviço pastoral do Bispo de Roma diz respeito sobretudo à Igreja, mas diz respeito ao mesmo tempo à sociedade, a todos os homens e ao «mundo» em que esta Igreja está presente — e áo qual ela é mandada. No decurso destes poucos dias foi-me possível participar, de modo especial, na missão que a Igreja desempenha em Paris, e assim, indirectamente, pude participar na missão que ela desempenha na França toda. Notável expressão desta participação foi o encontro com toda a Conferência do Episcopado Francês sob a guia do Cardeal Roger Etchegaray e com a participação dos outros Cardeais, e de todos os Arcebispos e Bispos franceses. O olhar colegial sobre a rica e não fácil perspectiva dos encargos que se relacionam com a missão episcopal, no que se refere ao próprio ambiente social, deve ser completado com um olhar mais amplo, ao menos pelo influxo que a Igreja francesa, assim como a cultura francesa, exerce além das fronteiras desta nação.

É Igreja que tem grandes méritos quer pelo que respeita à criação das formas da consciência e da espititualidade cristã, quer ainda pelo desenvolvimento da actividade missionária. Parecia portanto justificadíssima a visita a Lisieux para honrar Santa Teresa, que do Carmo daquela cidade indicou a muitos contemporâneos um especial caminho interior para Deus — Santa que foi também reconhecida pela Igreja como Patrona das missões do mundo inteiro.

A consciência de toda a Igreja ser «missionária», de estar sempre e em toda a parte «in statu missionis» — consciência a que o Concílio Vaticano 11 deu expressão tão plena — parece oferecer novo incentivo de modo particular ao catolicismo em Paris e na França toda. Seria difícil analisar aqui, por um lado, os motivos particulares que para isto contribuem e, por outro lado, as várias formas de acção desta Igreja, que dão testemunho de tal consciência.

No decurso da minha breve visita foi-me dado encontrar-me com os Sacerdotes, os Seminaristas, com as Irmãs das Congregações tanto activas como contemplativas, com os diversos grupos de apostolado dos leigos, com as Organizações Católicas Internacionais, com o Instituto Católico em Paris, com a gente do trabalho em Saint-Denis e com os jovens.

São recordações inesquecíveis. Em especial os dois últimos encontros «abertos», com a participação de algumas dezenas de milhares de pessoas, e realizados — no que diz respeito ao encontro com os jovens — segundo o método do «diálogo», ficaram profundamente impressos no meu coração. Não se pode esquecer que Paris e a França hospedam, de há várias gerações, numerosa emigração polaca, com que pude encontrar-me durante a visita, assim como com os outros grupos, sobretudo o português e o espanhol, que nos últimos tempos têm notavelmente aumentado. A isto é preciso acrescentar o encontro, que em certo sentido continua a peculiar, primeiro com os habitantes de Paris e, depois, de Lisieux, nas grandes praças, ao longo das ruas, e sobretudo ao longo do Sena, desde a primeira tarde. Este encontro teve também o seu «programa» não comunicado e a sua eloquência.

Conservo como gratidão na memória todos os lugares em que me foi dado celebrar a Eucaristia — em particular diante da Catedral de Notre-Dame, diante da Basílica de Saint-Denis (onde repousam os reis de França), no Bourget e diante da Basílica de Lisieux — e os lugares em que me foi dado rezar juntamente com os habitantes e com aqueles que lá se tinham reunido de fora: em particular na Rue du Bac e em Montmartre.

Conservo na memória o encontro ecuménico, cheio de conteúdo profundo e — penso — de compreensão recíproca; como também o encontro com os representantes das comunidades religiosas hebraicas, e com os representantes das comunidades muçulmanas, que na França são actualmente numerosas (quase dois milhões). Conservo além disso na memória os vários encontros com os homens da ciência e da cultura, com os escritores e os artistas. Todos os encontros fazem parte de um conjunto muito variado e complexo, talvez com um programa demasiado denso, mas muito rico e autêntico, riqueza e autenticidade pelas quais não paro de dar graças a Deus e aos homens.

«Amas tu?», «Amas-Me tu?», perguntou Cristo a Pedro depois da ressurreição. A mesma pergunta repeti na homilia diante do portal de Notre-Dame, mostrando o significado-chave da mesma para o futuro do homem e do mundo, da França e da Igreja. Espero que nesta pergunta tenhamos podido encontrar juntos Aquele que é a pedra angular da história e — em companhia com a filha primogénita da Igreja — tornar-nos conscientes de quão profundamente nós provimos d'Ele, e de quão intensamente devemos fixar o olhar n'Ele, em Cristo, sobre estes caminhos que nos conduzem — como Igreja e como humanidade — para o futuro.

Saudações

A um grupo de alunos do Seminário Francês em Roma

Entre os grupos presentes, vejo que estão também os alunos do Seminário Francês de Roma, e os seus educadores. Já tive ocasião de vos falar na Universidade Gregoriana, e pensava em vós quando me dirigi aos seminaristas de Issy-les-Moulineaux. Nunca me esqueço da vossa casa da "Via Santa Chiara". Espero que os vossos estudos, a vossa formação espiritual, a vossa vida comunitária e a vossa preocupação apostólica vos preparem o melhor possível para serdes amanhã os sacerdotes de que tanta necessidade tem o vosso país! Abençoo-vos de todo o coração.

À peregrinação de doentes promovida por "The Across Trust"

Desejo dirigir uma especial palavra de saudação aos doentes e diminuídos que vieram a Roma ajudados por "The Across Trust". Espero que esta peregrinação seja para vós e para as pessoas que vos são queridas tempo de abundantes graças.

Aos Representantes da Academia Antoniana
de Arte Dramática de Bolonha (Itália)

Desejo agora dirigir a minha cordial saudação à numerosa representação da Academia Antoniana de Arte Dramática de Bolonha. Aos artistas presentes, e também ao Corpo docente e aos familiares, quero recordar que a presença cristã no campo da Arte expressiva foi sempre muito importante, mas hoje é até mesmo urgente. Por isso a minha saudação quer ser também um sinal de aplauso e de encorajamento, unido aos votos por um êxito cada vez maior, de que é penhor a minha Bênção.

Aos jovens

A vossa presença, queridos Jovens, faz-me lembrar o episódio daquele Jovem do Evangelho (cfr. Mt Mt 19,1 ss.) que se apresentou a Jesus, perguntando-Lhe que coisa devia fazer para alcançar a vida eterna.

— Cumpre os Mandamentos!

— Tenho-os cumprido desde a minha infância. Que me falta ainda?

E Jesus, olhando para ele com amor, como faço agora convosco, respondeu.

— Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que possuires, dá o dinheiro aos pobres; depois vem e segue-Me.

Queridos Jovens, são dois os degraus que a Igreja sempre propôs aos corações generosos: o cumprimento dos Mandamentos; e, para os mais fortes, a renúncia voluntária aos bens e também aos afectos mais legítimos, para O servir com ilimitada liberdade de coração. Não queirais tapar os ouvidos a estas solicitações da graça!

Aos Doentes

Um pensamento particularmente afectuoso dirijo também a vós, queridos doentes. Quantas vezes se lê no Evangelho que Jesus falava aos doentes, os curava e confortava! Eu, seu humilde Vigário, sinto no coração sentimentos semelhantes aos de Jesus, isto é: uma profunda alegria de vos ver; uma participação paternal nos vossos sofrimentos, Ele que quis dar-se todo a todos; o desejo de todo o bem para vós e para aqueles que vos são queridos. Peço a Deus que atenue os vossos sofrimentos, a fim de que possais aceitar e suster com confiança tranquila o vosso fardo. Sim, amo-vos e rezo por vós. E vós oferecei os tesouros do vosso sofrimento pela Igreja e pelo Papa!



AUDIÊNCIAS 1980 - AUDIÊNCIA GERAL