
Discursos João Paulo II 1981 - BÉLGICA E PORTUGAL
Caros amigos
Ao receber-vos esta manhã com particular alegria, não posso deixar de pensar nas multidões que chegam, ao longo do ano, aos santuários cuja guarda e animação estão a vosso cargo. É por isto que dou a este breve encontro uma importância que se une à satisfação de um contacto pessoal convosco. Permiti-me que saúde especialmente o vosso guia, o Bispo de Laval, tão dedicado ao esplendor do Santuário de Nossa Senhora de Pontmain.
Os vossos estudos pessoais e os vossos congressos de Reitores revelaram-vos que as peregrinações são uma constante da história das religiões. O cristianismo restabeleceu também este costume profundamente radicado na mentalidade popular e que responde a uma necessidade de chegar a um espaço religioso onde o divino se manifestou. Haveria sem dúvida uma história bastante interessante para escrever sobre as peregrinações cristãs, desde as primeiríssimas, que tiveram por meta Jerusalém e os lugares santos, até às da nossa época, que se fazem a Roma, a Assis, a Lourdes, a Fátima, a Guadalupe, a Czestochowa, a Knock, a Lisieux, a Compostela, a Altötting e a muitos outros lugares.
Reitores dos santuários da França, como os vossos irmãos de outras nações, sois os herdeiros e os administradores de um património religioso considerável, cujo impacto na vida do povo cristão e daqueles que se mantêm fora das fronteiras da parece actualmente em plena ascensão. Vós tendes viva consciência disto. Podeis, certamente, fazê-la partilhar por muitos outros. Nestes poucos momentos, quereria apenas confirmar as vossas convicções sobre alguns pontos essenciais do vosso ministério particular.
Sempre e em toda a parte, os santuários cristãos foram ou quiseram ser sinais visíveis de Deus, da sua entrada na história humana. Cada um deles é um memorial do Mistério da Encarnação e da Redenção.
Não é o vosso poeta Péguy que dizia, no seu estilo original, que a Encarnação é a única história interessante que jamais existiu? É a história do amor de Deus por todo o homem e pela humanidade inteira (cf. Redemptor hominis RH 13). E, se numerosos santuários romanos, góticos ou modernos, foram dedicados a Nossa Senhora, é porque a humilde Virgem de Nazaré concebeu, por obra do Espírito Santo, o próprio Filho de Deus, Salvador do universo, e o seu papel é sempre o de apresentar às gerações que se sucedem o Cristo "rico em misericórdia". No nosso tempo, que, em graus diversos, conhece a tentação da secularização, é necessário que os altos lugares espirituais, construídos no curso das épocas e não raro por iniciativa dos santos, continuem a falar ao espírito e ao coração dos homens, crentes ou não crentes, que sentem, todos eles, a asfixia de uma sociedade fechada sobre si mesma e algumas vezes desesperada. Não é para desejar ardentemente que os santuários mais frequentados se tornem ou voltem a tornar-se outras tantas casas de família onde todos que ali passam ou permanecem encontrem o sentido da própria existência, o gosto pela vida, porque terão feito uma certa experiência, da presença e do amor de Deus? A vocação tradicional e sempre actual de todos os santuários consiste em serem como uma antena permanente da Boa Nova da Salvação.
Uma condição do esplendor evangélico dos santuários é que eles sejam muito acolhedores. E antes de tudo muito acolhedores em si mesmos. Qualquer que sejam a sua época ou o seu estilo, a sua riqueza artística ou a sua simplicidade, cada um deles deve afirmar a sua personalidade original evitando também a acumulação excêntrica dos objectos religiosos que lhes causa afastamento sistemático. Os santuários são feitos para Deus, mas também para o povo, que tem direito ao respeito da sua sensibilidade própria, embora o seu bom gosto necessite de ser pacientemente educado. A ordem perfeita e a autêntica beleza da basílica mais célebre ou de uma capela mais modesta são já uma catequese, que contribui para abrir o espírito e o coração dos peregrinos ou, infelizmente, para os arrefecer. Mas se as pedras e os objectos têm a sua linguagem e a sua parte de influência sobre os seres, que havemos de dizer das equipes pastorais dedicadas à animação dos santuários? O vosso serviço, meus amigos, pode ser determinante, contando com o mistério da graça de Deus. Quer se trate de receber os grupos anunciados e organizados ou visitantes anónimos e isolados — vindos para pedir instantemente uma graça, ou agradecê-la — quer se trate de ajudar à boa sequência das peregrinações preparadas pelos vossos irmãos de hábito e os seus auxiliares, ou de assegurar os exercícios do culto próprios do santuário de que tendes a responsabilidade de vigiar pelo recolhimento dos lugares ou de explicar a história dos mesmos aos visitantes, de propor um momento de oração ou de aceitar o diálogo pedido por alguns peregrinos, cada membro da equipe deve demonstrar amabilidade e paciência, competência e perspicácia, zelo e discrição, e sobretudo deixar transparecer humildemente a sua fé, ser testemunha do invisível. O vosso ministério de eleição é muito exigente. Depende disto, de qualquer modo, a abertura das almas de Deus, a conversão delas, e, para aqueles que andam apenas à procura, o seu primeiro passo para a luz e o amor do Senhor.
Todos estes esforços de acolhimento e de tomar a seu cargo crianças, estudantes, pessoas da terceira idade, doentes e deficientes, categorias sócio-profissionais muito diversas, cristãos fervorosos e cristãos em dificuldade, devem convergir para um objectivo único: evangelizar! O meu grande e caro predecessor Paulo VI teve o cuidado, na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, de recordar clara e simplesmente o conteúdo essencial dos elementos secundários da evangelização (cf. nn. 25 a 39). Continue cada santuário a basear nisto as suas orientações! Uma pastoral cristocêntrica! Oh, sim, ajudai os cristãos a chegarem verdadeiramente a Cristo, a unirem-se a Ele, a compreenderem "as relações concretas e permanentes que existem entre o Evangelho e a vida, pessoal e social, dos homens" (Evangelii nuntiandi EN 29). Ajudai os maus crentes a voltarem para Aquele que se apresentou como "o Caminho, a, Verdade e a Vida" (Jn 14,6). Ajudai peregrinos a inserirem-se melhor na Tradição viva da Igreja, sempre feita de fidelidade à Fé e de adaptação pastoral, desde o tempo dos Actos dos Apóstolos até ao Concílio Vaticano II. Vede também se não será possível organizar, pelo menos de tempos a tempos, conferências espirituais e doutrinais judiciosamente adequadas aos diferentes auditórios de peregrinos. Muitos dos ensinamentos importantes do Magistério são praticamente ignorados ou percebidos confusamente.
Acima de tudo, que toda a vida, dos santuários favoreça o melhor possível a oração individual e comunitária, a alegria e o recolhimento, a audição e a meditação da Palavra de Deus, a celebração verdadeiramente digna da Eucaristia e a recepção pessoal do sacramento da Reconciliação, a fraternidade entre pessoas que se encontram pela primeira vez, a preocupação de ajudar com as ofertas delas as regiões pobres e as Igrejas pobres, a participação na vida das paróquias e das dioceses.
A Virgem Maria, em honra da qual os vossos santuários são dedicados, faça frutificar o vosso importante trabalho pastoral, e ajude todos os peregrinos a aderirem cada vez mais à vontade do Senhor! E eu próprio, na recordação muito cara das numerosas peregrinações que me foi dada, fazer ou acompanhar, dou-vos a minha afectuosa Bênção.
1. Para Si, Senhor Presidente da Câmara, para a Junta Municipal e para os outros Membros do Conselho da Câmara aqui presentes, a minha deferente saudação e a expressão do mais vivo agradecimento por esta visita que, além dos costumes protocolares, tem para mim um significado e um valor muito particulares. De facto, saúdo nas vossas pessoas os representantes desta alma Cidade de Roma, que a Providência quis confiar aos meus cuidados pastorais, comprometendo-me com isso a reservar-lhe, a ela e aos seus problemas humanos e espirituais, um lugar peculiar no meu coração.
Os numerosos encontros com os cidadãos e com grupos específicos, e as dezenas de visitas pastorais às várias paróquias da diocese, que pude realizar desde o início do meu ministério nesta Sé, consentiram-me adquirir um conhecimento cada vez mais profundo da realidade humana da Cidade e da sua periferia, de modo que agora posso medir em todo o seu alcance as preocupações, as ansiedades e as esperanças de que Vossa Ex.cia, Senhor Presidente da Câmara, se fez intérprete no discurso que acabou de pronunciar.
Nesta circunstância é-me grato confirmar a plena disponibilidade da Autoridade eclesiástica em dar o próprio contributo, no limite das suas competências e das suas possibilidades, para a pronta e adequada solução dos problemas, que afligem a Cidade.
Ao mesmo tempo é-me grato exprimir a confiança de que possa ser dada, da parte da Administração cívica, uma atenção sempre vigilante aos aspectos complexos e graves de uma assistência religiosa, que deve fazer frente exigências de uma população em continua expansão. O ser humano vive contemporaneamente na esfera dos valores materiais e na dos valores espirituais. Entre estes últimos, a dimensão religiosa ocupa um lugar de importância não secundária. Empenhar-se pelo crescimento integral e harmonioso do homem significa esforçar-se para que seja oferecida à instância religiosa, que emerge do íntimo do seu ânimo, uma possibilidade adequada para se exprimir, maturar e testemunhar na vida.
2. Como não reconhecer, afinal, o auxilio fundamental que a dimensão religiosa, autenticamente vivida, dá à salutar formação moral do indivíduo e à sua capacidade de manter-se imune em relação aos fermentos de corrupção, insidiosamente serpejantes no ambiente? As manifestações criminosas da violência terrorista (cujos episódios mais recentes e impressionantes são o bárbaro assassínio do General Enrico Galvaligi e o iníquo sequestro do Magistrado Giovanni D'Urso), a difusão crescente do recurso à droga, a condescendência ao permissivismo moral nas suas várias formas são, entre outros, fenómenos que esta nossa Cidade, devido à sua condição de grande metrópole e ao seu papel de Capital da Nação, teve de sofrer particularmente nestes últimos tempos. Nenhuma pessoa sensata pode deixar de se sentir intimamente abalada e perturbada perante estes preocupantes sintomas de crise profunda, que põe em dúvida os próprios fundamentos da convivência civil. A constatação dos males hodiernos torna espontâneo o confronto com os valores morais, que fizeram grande a Roma antiga, e que Salústio sintetizava com as conhecidas palavras: "Domi industria forus iustum imperium, animus in consulendo liber, neque delicto peque libidini obnoxius" (Cat 52, 21).
São estes os valores que, não obstante as óbvias adaptações devidas mudadas situações, é necessário consolidar ou recuperar, para tornar a dar serenidade aos cidadãos, dignidade e vigor às instituições públicas e prosperidade à vida económica. Pois bem, neste empenho comum para a retomada moral, que se torna cada dia mais urgente, a Religião cristã, que é a da enorme maioria dos romanos — pela nobreza dos ideais que propõe, pela força arrebatadora dos exemplos a que reenvia, pelas energias espirituais e morais que pode suscitar nos ânimos bem dispostos — revela-se portadora de fermentos positivos extraordinariamente estimulantes.
Os testemunhos que a história oferece são, a este respeito, muito eloquentes e confirmam a apreciação pronunciada pelo grande Agostinho num momento de enorme crise política e social. Dirigindo-se à "progénie dos Regoli, dos Scevola, dos Scipioni, dos Fabrizi", ele não hesitava em afirmar: "Se alguma coisa que merece ser. louvada sobressai em ti por disposição natural, com a verdadeira religiosidade vem a ser nobilitada e levada à perfeição, ao passo que com a irreligiosidade vem a perder-se e a ser depreciada" (De Civitate Dei, 11, 29, 1).
3. Nesta perspectiva tenho o prazer de receber as Boas Festas que Vossa Ex.cia, Senhor Presidente da Câmara, em nome também dos seus valorosos Colaboradores, quis manifestar-me na alvorada deste novo Ano, que está à nossa frente com o tesouro das suas promessas quase intacto. Retribuo-Lhas com gratidão, acompanhando-as com votos de bom trabalho ao serviço da Comunidade civil, cujo bem-estar requer a obra de Administradores que se distingam pela agudeza de análises no individuar os problemas reais, e pela previdente prudência no propor as suas soluções concretas.
Os meus bons votos são extensivos, também, a todos os Cidadãos, sobre os quais invoco a abundância das bênçãos celestes para um Ano fecundo de alegrias serenas e de metas positivas. Apraz-me confiar estes votos à intercessão de Maria Santíssima, "Salus populi romani", que tantas vezes, no decurso dos séculos, testemunhou o seu desvelo materno para com esta Cidade. E confio-os ainda à intercessão dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, cujo sangue banhou esta nossa Roma, extraindo daí aquela germinação de fé cristã, que nunca acontecimento algum, mesmo adverso, pode em seguida extinguir.
Caríssimos Irmãos e Irmãs!
1. Sinto-me verdadeiramente contente por este encontro, que me dá a feliz possibilidade de saudar cordialmente os representantes da "Federação Italiana das Escolas Maternas" reunidos nestes dias em Roma para o III Congresso Nacional.
Dou as minhas cordiais boas-vindas a vós e, por vosso intermédio, às vinte e cinco mil Religiosas, que na Itália se dedicam com empenho a uma tão importante missão, e aos pais, que manifestaram a sua confiança no valor e na seriedade do vosso assíduo trabalho e vos confiaram os seus filhos, a fim de que sejam educados e formados durante aquele período tão delicado como é o que vai dos três aos seis anos.
As breves palavras, que vos dirijo nesta audiência, querem ser de aplauso, gratidão, encorajamento e bons votos por que neste sector, tão relevante do ponto de vista religioso e social, possais realizar com plena serenidade aquele trabalho humilde, discreto, escondido sim, mas tão precioso e meritório para a Igreja, a Família e a Sociedade, e que responde ao desejo de Jesus: "Deixai vir a Mim as criancinhas" (cf. Lc Lc 18,16).
2. Desejo hoje manifestar à vossa Federação, a vós que a representais, a todas as Religiosas, às Educadoras e a todos os que desempenham a sua actividade no sector da Escola Materna, o meu aplauso e o da Sé Apostólica pela vossa eficaz presença tão difundida e capilar no âmbito do território nacional: trata-se, na verdade, de bem dez mil Escolas Maternas de inspiração cristã, com mais ou menos um milhão de crianças, que as frequentam, e portanto é também um milhão de famílias, que se sentem integradas, solicitadas e co-interessadas na complexa e quotidiana acção educadora ao serviço da criança, que deve ser o autêntico centro de todo o afecto, da atenção, dos interesses e dos projectos; a criança, que começa a dar os primeiros incertos e acautelados passos na fascinante aventura da vida; que exprime de maneira original a própria identidade e personalidade; que se apresenta necessitada de amor e protecção; que se abre à beleza da natureza; que se põe e faz tantas perguntas sobre o mundo e as pessoas que a circundam; que sente profundamente o sentido religioso e é capaz, com extraordinária espontaneidade, de dialogar intensamente com o Pai celeste.
Não diremos jamais suficientemente o nosso sincero "obrigado" a todos os que dedicaram o melhor das suas energias e do seu tempo, toda a sua vida a este apostolado autenticamente evangélico em favor dos pequeninos, que são o sinal concreto do fecundo amor das famílias, a esperança mais bela das Nações, o apelo constante para a bondade, a inocência e a limpidez, que deveriam animar as relações entre os homens.
3. Quando a Igreja, especialmente mediante a obra das Congregações e dos Institutos religiosos, se dedica à difusão das Escolas Maternas, elaborando um projecto educativo global, inspirado nos valores cristãos, ela trabalha de facto para a promoção do homem todo e de todos os homens. Ela entende colaborar activamente com as famílias na educação, na formação e, em particular, na iniciação dos pequeninos na fé. A Escola de inspiração cristã é escolhida e preferida pelos pais precisamente para a formação e para o ensino religioso integrado na educação dos alunos. Também as Escolas Maternas, como todas as Escolas católicas, têm portanto o grave dever de propor uma formação religiosa que se adapte às situações dos alunos, muitas vezes bastante diversas. A formação é uma tarefa fundamental, que exige grande amor e profundo respeito para com as crianças, que têm direito a uma apresentação simples e verdadeira da fé cristã, como reafirmei na Exortação Apostólica sobra a catequese no nosso tempo (cfr. Catechesi Tradendae CTR 36 Catechesi Tradendae, nn. 36 e 69),
Será por isso necessário um contínuo contacto e diálogo com os pais, para juntos examinar, analisar e confrontar métodos e atitudes educativas, com o fim de evitar eventuais divergências, talvez aparentemente sem importância, que poderiam contudo influir negativamente nos aspectos da maturação da personalidade humana e cristã da criança.
4. Deste modo a Escola Materna pode e deve tornar-se lugar privilegiado de encontro, especialmente com os jovens casais, seja para o seu próprio crescimento na fé, seja para a correcta e completa educação dos filhos.
Nesta perspectiva a Escola Materna de inspiração cristã representa um sector de específica e empenhada acção para as Religiosas, como também para os Sacerdotes e Leigos.
Às Religiosas desejo renovar o grato reconhecimento da Igreja por tudo o que realizam com espírito de maternal dedicação neste campo, e recomendar além disso que não se deixem desanimar por dificuldades reais, que poderiam levá-las a abandonar este sector por outros tipos de actividades apostólicas; mas continuem, com renovado vigor, neste trabalho, dedicando-lhe meios adequados e pessoal especificamente preparado, mesmo que isto nossa comportar não pequenos sacrifícios.
Aos Sacerdotes, especialmente Párocos, que junto da sua igreja construíram com tantos sacrifícios uma Escola Materna, desejo dirigir a minha palavra de apreço, unida ao encorajamento por esta sua opção pastoral, que é autenticamente eclesial.
Aos Educadores e às Educadoras pertencentes ao laicato, os quais, pela sua específica preparação, desejam contribuir para a educação e a formação das crianças, quero indicar-lhes também a possibilidade de escolherem a Escola Materna como campo de evangelização e promoção humana.
A todos estes recordo as consoladoras e exigentes palavras da declaração conciliar sobre a educação cristã: "É bela, portanto, e ao mesmo tempo de grande responsabilidade a vocação de todos aqueles que recebem o encargo de educar nas escolas, ajudando os pais a cumprir o seu dever e fazendo as vezes da comunidade humana; esta vocação exige especiais dotes de alma e coração, uma preparação muito cuidadosa e uma disponibilidade permanente de adaptação e renovação" (Gravissimum Educationis GE 5).
Faço votos, portanto, por que todos os fiéis considerem as suas Escolas Maternas como Escolas da comunidade cristã, as quais devem ser então encorajadas e ajudadas; e desejo também que as Sociedades civis reconheçam o valor social das Escolas Maternas de inspiração cristã, assegurando-lhes o necessário apoio, mediante adequados contributos, a fim de garantir a efectiva liberdade de escolha dos pais no campo da escola.
Com estes votos, invoco sobre as vossas pessoas e sobre todos aqueles que trabalham pelas Escolas Maternas a abundância dos dons do Senhor e concedo de coração a minha Bênção Apostólica.
Senhor Embaixador
É com prazer que aceito as Cartas credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Gana junto da Santa Sé. Aprecio sinceramente os bons votos que me trouxe de Sua Excelência o Dr. Hilla Limann e peço-lhe queira assegurar-lhe os meus cordiais sentimentos de respeito.
Com o nosso encontro de hoje recordo vivamente as calorosas boas-vindas que me foram dadas pelo Presidente, pelos funcionários do Governo e pelo povo do Gana, durante a minha visita pastoral ao seu país, no ano passado. A alegre atmosfera de solenidade que distinguiu aquele momento ficou gravada em mim como um reflexo do profundo sentido de hospitalidade que é característica do seu povo.
A minha visita, como sabe, permitiu-me participar directamente na celebração do centenário da implantação da católica no Gana. Desde 1880 as sementes da criaram raízes fé e continuaram a crescer em direcções que beneficiaram não só a Igreja universal, mas também a inteira nação do Gana. Por esta razão aprecio a referência, que fez na sua saudação, ao contributo do espírito evangélico da Igreja no desenvolvimento do seu pais, e quero assegurar-lhe que a Igreja deseja colaborar plenamente com as autoridades civis na promoção da dignidade e do bem-estar de todos os povos.
O nosso encontro realiza-se no princípio de um Novo Ano, ao darmos outro passo que nos aproxima do início do terceiro milénio. Que oportunidade única é oferecida a cada povo, nação e continente, nesta geração actual! Como eu disse na minha Encíclica Dives in Misericordia, as possibilidades de conquistas técnicas, de intercâmbio intelectual e cultural, de grande progresso nas ciências sociais, são múltiplas e desafiadoras. Até mesmo na oportunidade de conseguir tais benefícios, também existem tensões e ameaças a sufocar aquele progresso e mesmo a pôr em risco a própria existência humana. E estes perigos não são limitados às forças externas de armas e armamentos, mas incluem igualmente a mentalidade materialista que aceita um "primado das coisas sobre a pessoa" (n. 11).
O seu povo, Senhor Embaixador, possui uma notável história pelo testemunho dado do valor da pessoa humana.
Ao aproximarmo-nos do ano dois mil, não poderemos perguntar se na Providência de Deus este respeito pela pessoa humana, tão partilhado na vida do seu povo, será o benefício mais duradouro que a comunidade mundial receberá de cada nação ou continente? Repito a convicção que exprimi o ano passado em Acra: "A Africa é chamada a fazer que surjam ideais novos e intuições novas num mundo que manifesta os sinais do cansaço e do egoísmo. Estou convencido que vós, africanos, podeis realizar isto".
Peço a Deus Todo-Poderoso que abençoe a sua missão junto da Santa Sé com felicidade e bom êxito. Faço extensivos os meus cordiais bons votos ao seu amado país e peço por que o seu povo viva em plena serenidade, progredindo na causa da justiça, da paz e da fraternidade no mundo.
Louvado seja Jesus Cristo!
1. Exprimo contentamento pela hodierna visita dos representantes de "Solidarnosc" — os sindicatos independentes e autónomos — e saúdo muito cordialmente o Senhor Lech Walesa e todos os que vieram com ele. Estou contente porque neste encontro participam também o Chefe da Delegação da República Popular da Polónia para os contactos permanentes de trabalho com a Sé Apostólica, e os seus Colaboradores.
Saúdo-vos com particular cordialidade neste lugar em que, devido ao meu ministério na Sé de São Pedro, me é dado encontrar-me com os homens de diversas nações, línguas, raças e continentes — com os homens: com os meus irmãos.Nesta fraternidade humana e universal — que a Igreja proclama em nome de Jesus Cristo e no contexto de toda a mensagem evangélica — a fraternidade que une filhos e filhas de uma mesma nação tem o seu singular lugar e particular direito, porque tem também um lugar e um direito particulares no coração do homem.
Saúdo-vos portanto como meus Compatriotas, aos quais estou ligado com o vínculo da língua, da cultura, da comum história e da experiência comum no âmbito das quais nasceu e se formou, ao longo de inteiros séculos, a solidariedade de todos os Polacos — que se verificou sobretudo nos momentos difíceis e críticos da história da nossa Pátria.
2. Alegro-me porque os acontecimentos do Outono passado, a começar das memoráveis semanas de Agosto, deram ocasião a que se manifestasse a mesma solidariedade, que chamou sobre si a atenção de vastas camadas da opinião pública do mundo inteiro. Todos salientaram a particular maturidade que a sociedade da Polónia — e de modo especial os homens do trabalho — manifestaram ao enfrentar e resolver os difíceis problemas, que se lhes apresentaram num momento crítico para o País. No quadro de fundo dos acontecimentos que não faltam no mundo de hoje — e nos quais tão frequentemente o método de acção se torna violência e prepotência, fundamentado no terror activo em diversos países, que não poupa a vida de homens inocentes — exactamente tal modo de agir, isento da violência e da prepotência, que procura as soluções baseando-se no diálogo recíproco e nas motivações fundamentais, e que tem presente o bem comum, dignifica tanto os representantes do mundo do trabalho do Litoral, da Silésia e das outras regiões do País — aqueles que actualmente se associaram em "Solidarnosc" — como também os representantes das autoridades estatais da Polónia.
Desejo assegurar-Vos — embora suponha que já o sabeis — que ao longo deste difícil período eu estive de modo particular convosco — sobretudo mediante a oração, mas também manifestando-o de vez em quando de maneira um tanto discreta e ao mesmo tempo suficientemente compreensível para Vós e para todos os homens de boa vontade.
3. Acolhi com alegria a notícia de que, mediante a aprovação do estatuto do Sindicato livre "Solidarnosc", a 10 de Novembro de 1980, o Sindicato se tornou a organização autorizada para realizar o que lhe diz respeito no território da nossa Pátria. A criação do Sindicato livre é acontecimento de grande importância. Manifesta a pronta disponibilidade de todos os homens do trabalho na Polónia — os quais exercem diversas profissões compreendidas as de "conceito", como também os agricultores — para assumirem uma responsabilidade solidária para a dignidade e a produtividade do trabalho efectuado na nossa terra natal, junto de tantos e tão diversos campos de actividade. Ela indica, além disso, que não existe — porque não deve existir — a contradição entre uma tal autónoma iniciativa social dos homens do trabalho e a estrutura do sistema que exalta o trabalho humano como valor fundamental da vida social e estatal.
O trabalho é o ónus do homem. É a actividade consciente e pessoal do homem — é o seu contributo para a grande tarefa das gerações, a da manutenção e do progresso da humanidade, das nações e das famílias. É evidente que os homens, que realizam um determinado trabalho, têm direito de se associar com liberdade precisamente em razão deste trabalho, com a finalidade de assegurar todos os bens para os quais o trabalho deve servir. Trata-se aqui de um dos fundamentais direitos da pessoa, do direito do homem como sujeito próprio do trabalho que, "dominando a terra" (para usar as palavras bíblicas) exactamente mediante o trabalho — quer contemporaneamente que, no âmbito do trabalho e em relação com o trabalho, a vida humana nesta terra "se torne verdadeiramente humana" e seja "sempre mais humana" (como lemos entre outras coisas nos textos do último Concílio).
4. Os sindicatos têm uma história já bastante longa nos diversos países da Europa e do mundo. Têm a sua história também os sindicatos na Polónia. Recordou-o o Cardeal Wyszynski, Primaz da Polónia, excelente conhecedor dos problemas sindicais no período entre as duas guerras mundiais, no seu discurso que certamente cordiais, porque teve lugar logo após a aprovação dos Vossos Estatutos.
5. Creio, caros Senhores e Senhoras, que tendes plena consciência dos deveres em face dos quais Vos encontrais no "Solidarnosc". São, estes, deveres de suma importância. Estão ligados à necessidade de uma plena garantia da dignidade e eficácia do trabalho humano, mediante o respeito de todos os direitos pessoais, familiares e sociais de cada homem que é sujeito de trabalho. Neste sentido, estes direitos têm um significado fundamental para a vida de toda a sociedade, de toda a nação: para o seu bem comum. Com efeito, o bem comum da sociedade reduz-se, afinal, à pergunta: que é a sociedade, que é cada homem; como vive ele e como trabalha.
E por isso a Vossa autónoma actividade tem, e deve sempre ter uma clara referência à inteira moral social. Antes de tudo à moral ligada ao campo do trabalho, às relações entre o trabalhador e o patrão; mas também a tantos outros campos da moral pessoal, familiar, ambiental, profissional e política. Penso que nas bases daquela Vossa grande iniciativa, que estava para nascer durante as semanas de Agosto no Litoral e nas outras grandes cidades do trabalho na Polónia, houve um esforço colectivo para elevar a moral da sociedade. Pois, sem ela não se pode sequer falar de algum verdadeiro progresso. E a Polónia tem direito a um verdadeiro progresso — o mesmo direito que têm as outras nações; e ao mesmo tempo, num certo sentido, tem um direito particular, porque pago com as grandes provações da história, e recentemente com os sofrimentos da segunda guerra mundial.
6. Aqui trata-se verdadeiramente, e continuar-se-á a tratar, do problema estritamente interior de todos os Polacos. O esforço das semanas de Outono não foi dirigido contra ninguém, e nem sequer é contra ninguém aquele enorme esforço que continua a apresentar-se-Vos. Não é dirigido contra... é dirigido exclusivamente para o bem comum. Empreender tal esforço é direito, ou melhor, dever de todas as sociedades, de todas as nações. É direito reconfirmado pelo inteiro código da vida internacional. Sabemos que ao longo da história os Polacos foram privados, mais de uma vez, precisamente deste direito. O que não nos tira, contudo, o hábito de ter confiança na Divina Providência, e de começar sempre de novo. E no interesse da paz e da ordem jurídica internacional que a Polónia goze plenamente deste direito. A opinião pública mundial está convicta da justeza desta posição.
A actividade dos sindicatos não tem carácter político, nem deve ser instrumento da acção de ninguém, de nenhum partido político, para poder concentrar-se, de maneira exclusiva e plenamente autónoma, no grande bem social do trabalho humano e dos homens do trabalho.
7. Por ocasião do nosso encontro de hoje quero fazer-vos, meus caros Visitantes, bons votos. Eles são múltiplos, mas há dois em particular :
Desejo-Vos, antes de tudo, que possais continuar, em paz e em constância, a Vossa actividade inspirada pelos motivos de natureza social tão importantes, deixando-vos guiar pela justiça e pelo amor, deixando-vos guiar pelo bem da nossa Pátria.
Depois o segundo voto:
Acompanhe-Vos sempre a mesma coragem que existiu no inicio da Vossa iniciativa — mas também a mesma prudência e moderação.
Isto, na verdade, é exigido pelo bem e pela paz da nossa Pátria. Como disse o Cardeal Wyszynski no mencionado discurso e em outras ocasiões. Ao empreenderdes esta tarefa, que Vós mesmos escolhestes conscientemente, procurai prestar um serviço histórico para o bem desta Pátria e também de todas as nações do mundo.
Desejo-Vos isto, e por isto não cesso de pedir a Deus por intercessão da Senhora de Jasna Gora, Mãe dos Polacos.
Discursos João Paulo II 1981 - BÉLGICA E PORTUGAL