Discursos João Paulo II 1981 - Segunda-feira, 12 de Janeiro de 1981

DISCURSO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR JOHANNES PROKSCH


AO NOVO EMBAIXADOR DA ÁUSTRIA


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sábado, 10 de Janeiro de 1981



Excelentíssimo Senhor Embaixador

Com esta sua hodierna visita oficial ao Vaticano Vossa Excelência inicia o seu novo encargo de tamanha responsabilidade como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Austríaca junto da Santa Sé. Congratulo-me por isso com Vossa Excelência e dou-lhe cordialmente as boas-vindas. Agradeço-lhe sinceramente as amáveis palavras com que, ao entregar as suas Credenciais, quis Vossa Excelência enaltecer o relacionamento amistoso que desde há muito tempo existe entre o seu país e a Santa Sé. Retribuo igualmente, de coração, as expressões de apreço e os bons votos que, em nome do ilustre Senhor Presidente da República, Vossa Excelência a mim dirigiu.

Representa Vossa Excelência um país, cuja história foi marcada por um incisivo cunho de confiante colaboração entre o Estado e a Igreja. Precisamente nas novas circunstâncias do tempo presente, às quais brevemente aludiu Vossa Excelência, sente-se a Igreja solicitada de maneira especial, também na hodierna sociedade pluralista, a prestar a sua contribuição específica, em solidária e participante co-responsabilidade juntamente com as autoridades estatais competentes, para o bem comum dos cidadãos nas respectivas nações e para a comunidade internacional dos povos.

"A comunidade política e a Igreja são", como reafirmou o Concílio Vaticano II, "cada qual na sua esfera, autónomas e independentes uma da outra. Mas, ambas servem, embora com diversa fundamentação, a: vocação pessoal e social do mesmo ser humano" (Gaudium et Spes GS 76). Não são cálculos políticos ou interesses económicos, não são veleidades de poder externo ou quaisquer outros motivos egoístas, mas tão somente o seu mister universal de evangelização ao serviço do ser humano e da comunidade humana que levam a Igreja e a Santa Sé a empenharem-se, também no plano das relações diplomáticas oficiais e da colaboração política internacional entre os Estados, por todos os aspectos do bem-estar humano, pela paz e por uma justa ordem no seio de cada nação e entre todos os povos.

Como salientei na minha alocução às Nações Unidas, na realidade "a razão de ser de toda a política é o serviço ao homem, é a adesão, cheia de solicitude e de responsabilidade, aos problemas e às tarefas essenciais da sua existência terrena, com a sua dimensão e alcance social, da qual contemporaneamente depende o bem de cada uma das outras pessoas" (L'Osservatore Romano, ed, port. de 7 de Outubro de 1979, p. 7). Semelhante serviço requer, hoje especialmente, a defesa da intocável dignidade do ser humano e dos seus direitos básicos, a promoção do seu desenvolvimento integral — inclusive da sua responsabilidade ética —, o empenho pelos povos que sofrem privações e a garantia da paz entre as nações, bem como o esforço comum pela unificação progressiva dos povos europeus e de toda a família humana em espírito de solidariedade e fraternidade mundial. Precisamente agora quando são iminentes tantas ameaças internas e externas, neste serviço tão vital para a humanidade e para as diversas nações, as pessoas investidas de responsabilidade no Estado e na sociedade, como também na comunidade internacional dos povos, encontram na Igreja e na Santa Sé um aliado sempre leal, um serviçal companheiro.

Como Vossa Excelência, Senhor Embaixador, sublinhou nas suas palavras de saudação, também o seu país se sente empolgado por estes sublimes ideais na vida nacional e internacional. A Áustria, na sua qualidade de destacado membro da comunidade internacional dos Estados, presta hoje, mediante iniciativas políticas e diplomáticas, como também mediante humanitários subsídios, o seu apreciável contributo para a compreensão mundial entre os povos e para a colaboração no serviço da paz e de um progresso social, cada vez mais abrangente e justo, entre as nações todas. isto evidenciado também pelo facto de que importantes organizações internacionais escolheram para a sua sede a capital austríaca.

De boa mente exprimo o desejo de que, com a actividade diplomática mediadora que agora oficialmente inicia Vossa Excelência como Embaixador junto da Santa Sé, possam aprofundar-se e desenvolver-se ainda mais proveitosamente as relações entre o seu país e a Santa Sé, que têm sido até agora tão boas, bem como o esforço comum por um mundo de amanhã mais justo e pacifico para todos os seres humanos, para todos os povos de boa vontade. Com este intuito acompanho a sua futura actuação aqui na Cidade Eterna com os meus melhores votos e imploro, em favor de Vossa, Excelência e dos seus colaboradores, especial protecção e assistência de Deus para uni abençoado desempenho do seu cargo tão cheio de responsabilidade.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR MASAMI OTA


NOVO EMBAIXADOR DO JAPÃO


JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Sexta-feira, 8 de Janeiro de 1981



Senhor Embaixador

Agradeço-lhe os votos fervorosos que acaba de me exprimir e desejo-lhe as mais cordiais boas-vindas a esta Casa.

O Japão, que Vossa Excelência desde hoje representa aqui como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, já desde há longos anos travou excelentes relações com a Santa Sé. Vossa Excelência aprouve-se salientar os esforços constantes que ela faz em favor da fraternidade dos povos, na paz e no respeito dos direitos da pessoa humana. Como sabe, esta atitude é isenta de qualquer motivo económico e político; apresenta-se â Santa Sé, no conjunto da Igreja católica, como um dever inerente á sua missão espiritual e às exigências da Mensagem que nós proclamamos: o amor de todos os homens e o serviço concreto a cada um, como reflexo do amor de Deus em que nós cremos.

Por seu lado, a Santa Sé vê com grande estima a nação que Vossa Excelência representa. Aprecia as qualidades humanas da alma japonesa, os dotes naturais que os seus compatriotas desenvolveram grandemente com tenacidade corajosa, no meio das mais duras adversidades, com forte disciplina e um dinamismo que os levou a procurar o contacto com as outras civilizações em todo o mundo, como o testemunham, entre outras coisas, os numerosos visitantes que fazem em Roma uma estadia cultural. O ideal da coexistência dos povos na paz tornou-se também um tema caro ao seu Governo, e a Santa Sé não pode deixar de se regozijar com isso, dada que a Ásia tem grande necessidade, por seu lado, de artífices de paz. O Japão é consciente do papel que pode desempenhar nesta parte tão importante do mundo, a fim de contribuir para que os focos de tensão não degenerem em conflitos ruinosos e mortais, e para que sejam verdadeiramente respeitados a soberania dos Estados, a liberdade e o sentimento nacional das populações.

Sim, o homem tem necessidade da paz. Esta será tanto melhor assegurada quanto mais o problema da fome for tomado em consideração, a fim de que todos possam dispor dos bens necessários para a própria subsistência: a solidariedade internacional deve encontrar aqui um terreno prioritário de aplicação e os países mais favorecidos devem ser ainda mais sensíveis a esta entreajuda desinteressada. Por fim, o homem não necessita apenas de pão. Tem necessidade de liberdade no meio dos seus semelhantes, para se desenvolver integralmente e viver segundo a sua consciência e a sua fé. Tem necessidade de relações com o Invisível, com Deus que é o único a poder dar-lhe um sentido à vida, a satisfazer-lhe a esperança e a necessidade de amor. É sob todos estes aspectos que a Igreja católica pretende oferecer o seu contributo específico ao progresso, e espera encontrar, a este respeito, largo assentimento e autêntica cooperação dos povos.

Dentro de algumas semanas terei a alegria de empreender uma breve visita ao seu bonito país. Alegro-me com isso. Encontrar-me-ei lá com os meus irmãos japoneses da comunidade católica; é pouco numerosa, mas o seu reconhecido raio cultural integra-se bem no serviço do país e, pela sua profundidade espiritual, ela faz honra à Igreja inteira. Encontrar-me-ei com as Autoridades civis, que facilitaram esta viagem e que saúdo respeitosamente desde já, pedindo-lhe queira transmitir os meus sentimentos de especial deferência a Sua Majestade o Imperador Hiro Hito. Encontrar-me-ei com o povo japonês, ao qual exprimo a minha cordial simpatia, pedindo a Deus o cumule das Suas graças.

E Vossa Excelência, Senhor Embaixador, pode estar certo de encontrar aqui o acolhimento e a ajuda que merece a sua alta missão. Exprimo os meus melhores votos para o cumprimento da mesma.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


POR OCASIÃO DA III ASSEMBLEIA GERAL


DO INSTITUTO SECULAR


DAS MISSIONÁRIAS COMBONIANAS


Sábado, 3 de Janeiro de 1981



Caríssimas Irmãs!

Por ocasião da Assembleia Geral do Instituto Secular Missionárias Combonianas, vós, Delegadas e Representantes dos vários Grupos espalhados pela Itália e no Estrangeiro, desejastes vivamente este encontro com o Papa, para ouvir a Sua palavra. Agradeço-vos profundamente este vosso gesto de filial obséquio, tão espontâneo e significativo, e, ao acolher-vos com alegria e afecto, dirijo-vos a minha cordial saudação, que desejo estender a todos os membros do vosso Instituto.

Este, eregido canonicamente em 1969, tem como finalidade a animação missionária na pátria e o trabalho realizado nas Missões, seguindo a espiritualidade de D. Daniel Comboni, o intrépido Missionário de Verona, fundador dos Missionários e das Missionárias do Coração de Jesus que, mediante o célebre "Plano para a regeneração da África" (1864), teve estupendas e modernas intuições para "promover a conversão da África mediante a África". Nestes dias, na sede central em Carraia (Lucca), pensastes rever o caminho realizado nestes cinco anos passados, para renovar os cargos directivos e programar o futuro trabalho. Formulo os votos mais cordiais e o encorajamento mais vivo por esta vossa obra de animação, a fim de que aumente cada vez mais o vosso fervor pela causa missionária, tão nobre e tão essencial para a fé cristã. De facto, vós bem conheceis o explícito mandamento de Jesus aos seus Apóstolos e aos seus seguidores: "Ide, pois, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado" (Mt 28,19-20).

Exorto-vos pois a dedicar-vos cada vez com maior empenho e generosidade à vossa obra de animação missionária, vivendo plenamente a espiritualidade ardente e corajosa de D. Daniel Comboni, a fim de poderdes ser efectivamente luz que ilumina o mundo e foco de fé e de amor.

O Cardeal Guglielmo Massáia, que Bem conheceu Comboni e dele foi amigo e inspirador, na sua obra monumental Os meus trinta e cinco anos de missão definia-o "cheio de zelo, de fervor e de vitudes" e afirmava que aprendia da sua doutrina e da força do seu carácter (Vol. VIII). Numa carta ao Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação de "Propaganda Fide", escrevia: "Eu tinha-me dedicado à salvação dos Gallas, e julgava que tinha feito alguma coisa; afinal encontrei um coração muito maior, que traz o peso de toda a África e quereria vê-la toda convertida" (10 de Fevereiro de 1865), e exprimia a sua admiração por ele. Quando recebeu a notícia de que Comboni tinha sido eleito bispo e nomeado Vigário Apostólico da África Central (31 de Julho de 1877), manifestando-lhe com alegria a sua estima e a sua consideração, escrevia-lhe: "Sabeis que vos amo, não pela vossa bonita figura, mas pelo vosso grande coração e pelo amor de Deus que arde dentre dele, e isto vos baste...".

Caríssimas Irmãs!

Tende também vós um grande coração, e senti arder dentre de vós imenso amor a Deus e às almas. É necessário fazer conhecer e amar o Evangelho a todas as criaturas: este é o nosso compromisso de cristãos! Para isto Jesus nasceu em Belém; para isto morreu na cruz. Dedicai-vos assiduamente ao estudo e ao aprofundamento da fé, a fim de a poderdes viver com intensidade e testemunhar corajosamente no ideal missionário. E desejo-vos de coração que a vossa obra de "animação missionária" nas paróquias, nas dioceses, nas escolas, nas comunidades eclesiais e nas fileiras da Acção Católica seja fecunda quer na formação de autênticas personalidades cristãs quer na obtenção de numerosas vocações que se consagrem totalmente a Deus e à salvação das almas.

Ajude-vos e inspire-vos Maria Santíssima que tanto foi amada e louvada por Comboni. A Mãe celeste vos comunique todos os dias, e de modo especial nas dificuldades, a sua caridade, a sua fé e o seu espírito, recordando-vos sempre que o sacrifício é o preço da redenção.

E acompanhe-vos a minha Bênção Apostólica!



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS RELIGIOSOS E RELIGIOSAS


DA FAMÍLIA DO AMOR MISERICORDIOSO


POR OCASIÃO DO 50º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO


Sala do Consistório

Sexta-feira, 2 de Janeiro de 1981



É para mim motivo de alegria encontrar-me convosco, no início deste novo ano, para juntos celebrarmos a alegria e a munificência do Amor Misericordioso do Senhor, única inexaurível fonte da nossa profunda confiança num futuro mais cristão e, portanto, mais apropriado à altíssima dignidade do homem.

A ocasião desta especial Audiência é-nos oferecida pelo quinquagésimo aniversário de fundação das Irmãs Servas do Amor Misericordioso, que iniciaram a sua vida religiosa junto da Gruta do Divino Salvador, na suave atmosfera do Natal de 1930, para se dedicarem ao generoso testemunho, através das obras de verdadeira caridade, da divina mensagem de bondade e de misericórdia, que constitui a nota dominante e característica da Congregação.

Vós, Servas do Amor Misericordioso, juntamente com os Filhos do Amor Misericordioso, formais a Família do Amor Misericordioso, toda dedicada a conquistar tantos corações com uma convincente palavra que diga quanto o Senhor é bom e quanto é grande o seu amor para com o homem, e em particular para com o homem de hoje.

"A mentalidade contemporânea.., parece opôr-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia de misericórdia" (Carta Encíclica Dives in misericordia DM 2), Mas todos vós vos dedicais a anunciar e a testemunhar Jesus Cristo, Verbo de Deus e Filho de Maria, que tornou visível em Si mesmo a misericórdia de Deus, e que é a personificação e a encarnação mesma deste sublime, amoroso e humaníssimo atributo da divindade. Em Jesus, Deus torna-se particularmente visível como Pai rico em misericórdia. (Ep 2,4).

Apresentais-vos, com efeito, com um emblema: Cristo Crucificado e Cristo Hóstia, que representa as expressões mais sublimes da doação e do Amor de Jesus; e fizestes particularmente vosso o seu convite: "Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei" (Jn 15,12).

O homem tem intimamente necessidade de se encontrar com a misericórdia de Deus, hoje mais que nunca, para se sentir radicalmente compreendido na debilidade da sua natureza ferida, e sobretudo para fazer a experiência espiritual daquele Amor que acolhe, vivifica e faz ressurgir para a vida nova. Vós, nas diversas formas do vosso apostolado, no acolhimento de toda a pobreza, espiritual e material, desejais promover e favorecer — precisamente em virtude do vosso carisma de profissão religiosa — este encontro do homem moderno com a bondade do Senhor. Também no vosso trabalho em favor do Clero, que traz em si formas concretas de assistência, de promoção cultural e formativa, sois conduzidos por este espírito fundamental, por esta marca de nascimento, isto é, diria, a de ajudar os outros a fazerem a experiência da bondade divina, para dela serem os fervorosos divulgadores. De facto, para o sacerdote é ainda mais verdadeiro o que vale para todo o cristão, isto é, que "ele, ao encontrar misericórdia, é também aquele que ao mesmo tempo manifesta a misericórdia" (ibid. 8).

Quisestes repetir muitas vezes o vosso intenso júbilo pela recente Encíclica, em que encontrastes quase uma nova prova e uma confirmação da vossa vocação de Família do Amor Misericordioso. Ao agradecer-vos os vossos sentimentos de fidelidade, convosco sou reconhecido ao Senhor pelos motivos de ânimo, de estímulo e de alegria que, par providencial circunstância, vos causou este Documento.

Coragem, caríssimos irmãos e irmãs! O mundo tem sede, mesmo sem o saber, da misericórdia divina, e vós sois chamados a oferecer esta água prodigiosa e renovadora da alma e do corpo.

A Mãe da Misericórdia, que venerais sob o título particular de "Mãe Mediadora", vos torne conscientes da sua maternidade, que "perdura sem tréguas desde o momento do consentimento fielmente dado na anunciação", e vos faça todos, Servas e Filhos do Amor Misericordioso, apóstolos, realizadores e servidores da divina Bondade e Misericórdia.

Acompanho-vos com a minha bênção.



                                                                 Fevereiro 1981



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CHEGADA AO AEROPORTO DE ROMA


Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 1981



Senhor Ministro
Senhores Cardeais
Senhores Embaixadores
Caríssimos Irmãos e Irmãs

Ao terminar esta longa viagem, sinto em primeiro lugar a necessidade de agradecer a Deus a singular experiência eclesial, que me concedeu cumprir. Pude levar o anúncio evangélico às longínquas regiões do Extremo Oriente, onde recolhi o testemunho de fé das florescentes Comunidades cristãs que, sob céus diversos, vivem na comunhão da única Igreja de Cristo.

O meu pensamento dirige-se às Autoridades civis dos Países visitados, para lhes renovar a expressão do meu sincero reconhecimento: não esquecerei tantas demonstrações que desejaram dar-me da sua consideração e do seu desvelo nos vários lugares por onde passei. Que o Senhor corrobore todas as úteis iniciativas deles, voltadas para a promoção do bem comum e para a garantia da verdadeira paz!

A recordação afectuosa e comovida vai, além disso, para os venerados Irmãos no Episcopado, que me receberam nas suas Igrejas com efusão de caridade, dando-me a prova evidente de quanto é compreendida e sentida, apesar da distância geográfica, a comunhão com a Igreja de Roma. Igualmente devo dizer a respeito dos fiéis. Como condensar em poucas palavras a soma de vivíssimas impressões sentidas durante os inúmeros encontros com os cristãos das Filipinas, da ilha de Guam, do Japão, como também de Karachi e de Ancorage? Referir-me-ei somente à profunda alegria que me foi proprocionada pelo contacto directo com o impulso espontâneo e com o genuíno entusiasmo daquelas Igrejas que, em contextos sócio-culturais notavelmente diversos, me pareceram generosamente comprometidas em traduzir na vida os perenes valores de uma mesma fé. Visitei Comunidades jovens, debatendo-se com as dificuldades próprias de todo o começo; e vi Comunidades antigas, tendo como reserva um rico património de tradições cristãs, selado pelo supremo testemunho do martírio. A este glorioso passado, e às esperanças que ele abre para o futuro, quis prestar homenagem ao aceitar o convite de presidir no local ao solene rito de beatificação do filipino Lourenço Ruiz e dos companheiros Mártires, cujo exemplo de destemida coragem permanece na história daquelas Igrejas como luminoso ponto de referência, para o qual as gerações de hoje devem voltar-se.

Impressão particularmente profunda foi deixada no meu espírito pela visita a Hiroshima e a Nagasáqui, nos lugares que ainda conservam os vestígios da terrível explosão atómica de 1945. Senti naquele momenta pulsar no meu coração, com amargurada intensidade, a angústia dos povos sobre os quais pesa o terror de poder repetir-se semelhante catástrofe. Queira Deus ouvir a oração, que a Ele dirijo, para que na humanidade inteira o amor vença o ódio, a vida triunfe da morte, a concórdia e a paz prevaleçam definitivamente sobre qualquer forma de divisão e guerra.

Estou certo de que estes meus votos são partilhados por todos vós que, com tanta gentileza, quisestes vir receber-me. Ao agradecer-vos este vosso gesto cativante, desejo dirigir a minha deferente saudação em primeiro lugar a Si, Senhor Ministro Adolfo Sarti, cujas nobres palavras vivamente apreciei, ao Presidente da República Italiana e ao Governo que Vossa Excelência representa. A minha saudação estende-se depois aos Senhores Cardeais, aos Irmãos no Episcopado, às Personalidades do Corpo Diplomático, ao Presidente da Câmara de Roma, às Autoridades civis, militares e aeroportuárias que desejaram trazer-me as suas cordiais boas-vindas: a todos chegue um sincero e respeitoso "obrigado".

Uma palavra, por último, de reconhecida despedida quero expressar aos Dirigentes das Companhias aéreas, aos pilotos, ao pessoal de bordo e a todos aqueles que se empenharam no bom êxito da viagem: fico-lhes devedor de um voo confortável e seguro.

Ao elevar ainda um pensamento de louvor e gratidão a Deus que, na sua Providência, reconduziu felizmente os meus passos a este hospitaleiro solo da Itália e de Roma, d'Ele invoco abundantes bênçãos sobre vós, sobre os que vos são caros e sobre todos os que me acompanharam generosamente com a sua oração neste labor apostólico.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA DO ALASCA


Aeroporto de Anchorage

Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 1981



Caros amigos

1. No regresso para Roma, após a minha visita pastoral às Filipinas, a Guam e ao Japão, sinto-me feliz por me ter sido possível parar aqui em Anchorage. Foi uma alegria poder passar estas poucas horas convosco, encontrar o povo do Alasca e, sobretudo, celebrar a Eucaristia com os meus irmãos e irmãs de fé católica.

2. A esta altura desejo agradecer-vos a calorosa acolhida e hospitalidade que quisestes reservar-me. Sou grato a todos os que contribuíram tão generosamente para, a preparação e organização deste dia. Permiti-me acrescentar, também, especial palavra de gratidão ao Presidente Reagan, que enviou uma delegação pessoal para me receber aqui em Anchorage.

3. Antes de prosseguir a minha viagem, desejaria aproveitar esta ocasião para dirigir a minha saudação a todos os cidadãos dos Estados Unidos da América. Esta breve permanência no Alasca e as cordiais boas-vindas que me foram dadas, fazem que eu recorde a minha visita pastoral ao vosso País, cuja grata lembrança me está sempre presente.

E agora que me apresto a deixar o Alasca, última etapa desta viagem pastoral que me levou à volta do mundo, o meu pensamento dirige-se para Deus e os seus louvores expressos nas palavras do salmista: "Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso o Teu nome em toda a terra!" (Ps 8,2).



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NO ENCONTRO COM O CLERO


E OS RELIGIOSOS DE ANCHORAGE


Catedral de Anchorage, Alaska

Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 1981



Caros Irmãos e Irmãs em Cristo

1. "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós. Em todas as minhas orações peço sempre com alegria por todos vós, recordando-me da parte que tomastes na difusão do Evangelho" (Ph 1,3-5).

Estas palavras de São Paulo exprimem os sentimentos do meu coração ao saudar-vos aqui, hoje, em Anchorage. De facto peço com alegria todas as vezes que penso nos meus irmãos sacerdotes e nos meus irmãos e irmãs de vida religiosa. Dou graças a Deus pela vossa dedicação a Cristo, a vossa presença na Igreja e a vossa colaboração na sua missão. E dou graças a Deus pelas vossas orações, com as quais vos unis ao inteiro Corpo de Cristo louvando o nome da Santíssima Trindade e suplicando a misericórdia de Deus para o seu povo.

2. Ao escrever a minha última Encíclica, o meu pensamento voltou-se frequentemente para vós que compartilhais, de maneira particular comigo, a missão de proclamar a misericórdia de Deus à presente geração. Todas as tardes repetimos na Liturgia das Horas as palavras de Maria: "A Sua misericórdia se estende de geração em geração, sobre aqueles que O temem" (Lc 1,50). É esta a verdade de salvação, a verdade sobre a misericórdia de Deus, que devemos proclamar à nossa geração, aos homens e mulheres da nossa época que parecem afastar-se do mistério da misericórdia de Deus. É por isto que escrevi na Encíclica: "A Igreja vive uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora" (Dives in misericordia, DM 13).

3. Irmãos e irmãs em Cristo, não duvideis nunca da importância vital da vossa presença na Igreja, da importância vital da vida religiosa e do sacerdócio ministerial na missão de proclamar a misericórdia de Deus. Com a vossa vida diária, que muitas vezes é acompanhada do Sinal da Cruz, e com o vosso fiel serviço e a vossa perseverante esperança, demonstrais vossa profunda fé no amor misericordioso de Deus e dais testemunho daquele amor que é mais forte do que o mal, mais forte do que a morte.

Tende, portanto, confiança n'Aquele que vos chamou a esta vida. Confiai em Deus "que pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto podemos ou entendemos; a Ele seja dada glória na Igreja, e em Jesus Cristo, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos. Amém" (Ep 3,20-21).



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA DO JAPÃO


Nagasaqui, 26 de Fevereiro de 1981



Depois de experimentar por quatro dias a cordial hospitalidade do Japão, chegou para mim o momento de voltar para Roma.

Mas, antes de deixar este pais, desejo satisfazer a dívida de gratidão para com todos os que tanta cortesia me patentearam.

Exprimo a minha gratidão às Autoridades desta nação, e em primeiro lugar a Sua Majestade Imperial. Sinto-me felicíssimo de ter tido a possibilidade de apresentar-lhe pessoalmente a expressão do meu respeito e honra, pelo papel que desempenha na vida do povo japonês.

Renovo o meu apreço ao Governo do Japão pelo modo cortês como me recebeu, e por tudo o que foi feito para facilitar a minha visita e as minhas viagens de uma cidade à outra. Agradeço a todos os que estiveram encarregados de prover à ordem pública e àqueles que, de um modo ou de outro, contribuíram para o bom resultado da minha visita.

À comunidade católica, a que fiz uma visita pastoral, exprimo a minha mais profunda gratidão: aos meus irmãos no Episcopado, que me convidaram e tanto trabalharam para organizar a minha visita; ao amado clero, aos religiosos e leigos, que me receberam como pai, irmão e amigo em Cristo. A todos asseguro a minha união na fé. Desejo que todos os que visitei, como também aqueles junto dos quais me foi impossível ir, fiquem certos da minha solidariedade na amizade e na oração. Exorto todos a que permaneçam firmes nos grandes ideais que São Francisco Xavier lhes transmitiu quando, em 1549, proclamou a chamada ao serviço e ao amor cristão. Causa gosto ver que a mensagem, por ele proclamada e livremente aceita por tão grande número de pessoas, lançou sólidas raízes em terra japonesa e trouxe alegria e regozijo a inúmeros corações.

A todo o povo japonês exprimo a minha profunda gratidão, pelo calor com que me recebeu e pela cordial hospitalidade. Alimento a esperança de que ele possa muito tempo cultivar os grandes valores, humanos religiosos, que fizeram parte da sua cultura por gerações. É minha ardente esperança que, sendo um povo unido, possa colocar todos os seus talentos ao serviço de um mundo necessitado de assistência fraterna, de desenvolvimento, de esperança e de ânimo.

Peço que o povo japonês sempre possa cultivar o ideal da paz e defendê-lo, mediante a protecção da vida e da dignidade humana e a constante busca da justiça; que o Japão possa chegar às alturas, ainda desconhecidas, do serviço humano na construção de um mundo em que os valores espirituais sejam o apoio do homem, na plenitude da sua humanidade, e não sejam nunca extintos por uma incompleta ideia de progresso.

Foi para mim uma alegria viajar de Tóquio a Hiroxima e finalmente a Nagasaqui. Graças à experiência e à cooperação dos japoneses e dos meios de comunicação que atingem e mundo inteiro, o meu apelo pela paz e pela causa do homem foi levado até aos confins da terra.

E agora a minha oração final é que a sabedoria do Altíssimo desça sobre todos aqueles que dirigem o destino do Japão, que a sabedoria de Deus esteja com todo o povo japonês. E a todos vós deixo a expressão do meu reconhecimento e da minha estima, o constante amor do meu coração.



VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE

AO EXTREMO ORIENTE (PAQUISTÃO, FILIPINAS,

GUAM, JAPÃO E ALASKA)

PALAVRAS DO PAPA JOÃO PAULO II

DURANTE O ENCONTRO COM


AS VÍTIMAS DA BOMBA ATÓMICA


Colina de Megumi No Oka

Nagasaqui, 26 de Fevereiro de 1981



Meus caros amigos

1. Não poderia deixar a cidade de Nagasaqui sem vir a Megumi No Oka, esta colina de misericórdia e graça. Durante a minha permanência em Hiroxima falei duas vezes da ameaça das armas nucleares para o futuro da humanidade, primeiro no Peace Memorial Garden e depois aos homens e às mulheres de ciência e de cultura. É com grande emoção que saúdo hoje todos aqueles que ainda trazem no próprio corpo os sinais da destruição que se abateu sobre eles no dia daquela inesquecível explosão. O que vós sofreis também provocou uma ferida no coração de cada ser humano sobre a terra. A vossa vida aqui hoje é o apelo mais convincente que poderia ser dirigido a todos os homens de boa vontade, o apelo mais convincente contra a guerra e em favor da paz. Vêm-me à memória neste momento as palavras do Presidente da Câmara Municipal de Hiroxima, dois anos após a primeira explosão nuclear: "Aqueles que experimentaram e se deram plenamente conta do sofrimento e do pecado que é a guerra denunciam incondicionalmente a guerra como a última agonia, e desejam a paz com o maior ardor". Todos, nós estamos em dívida para convosco, porque vós sois o apelo vivo e constante para a paz.

2. Desejo também dizer uma palavra especial de apreço aos médicos, às enfermeiras e a todos os que se prodigam para vos oferecer os melhores cuidados possíveis. Asseguro-lhes a minha estima e encorajo-os a continuarem a sua obra admirável de auxílio e assistência. Uma saudação especial vai também para as Religiosas desta Instituição, tão dedicadas a esta obra de misericórdia cristã. Com gratidão evoco a memória da Fundadora desta casa, Irmã Magdalena Esumi, que a dirigiu desde o início até ao momento em que o Senhor a chamou a Si, há alguns meses. Neste serviço quotidiano de amor, as Irmãs tornam palpável com a mão o amor de Cristo, o Filho de Deus, que mostrou amor especial para com os que sofrem, os doentes e os enfermos.

3. Com a promessa, das minhas orações, deixo a todos vós estas palavras de Cristo: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7). Na minha Encíclica sobre a misericórdia de Deus, salientei o significado profundo de cada acto de misericórdia quando escrevi: "um acto de amor misericordioso é realmente quando ao praticar a misericórdia, estivermos profundamente convencidos de que ao mesmo tempo nós a estamos a receber, da parte daqueles que a recebem de nós" (n. 14). Oxalá este pensamento seja para todos vós, em Megumi No Oka, fonte de inspiração para a vossa obra e para a vossa vida, e a força que edifica e mantém uma unidade tão digna de se ver. Deus abençoe todos vós.



Discursos João Paulo II 1981 - Segunda-feira, 12 de Janeiro de 1981