Discursos João Paulo II 1998 - 16 de Fevereiro de 1998

MENSAGEM DO DO PAPA JOÃO PAULO II


PARA A ABERTURA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE


- 1998- NO BRASIL






Caríssimos Irmãos e Irmãs do Brasil!

«Reconciliai-vos com Deus... Este é o tempo propício (2Co 5,20 2Co 6,2).

1. Mais uma vez dirijo-me a todos os que me escutam pela rádio ou pela televisão para dar início à Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como lema «Fraternidade e Educação: a serviço da Vida e da Esperança». Por uma feliz coincidência, todos os fiéis são chamados a redescobrir, neste segundo ano de preparação para o Jubileu do Ano 2000, a virtude teologal da esperança, de que – como diz o Apóstolo São Paulo – tiveram «conhecimento pela palavra da verdade, o Evangelho» (Col 1,5).

2. A Quaresma abre-nos o caminho para a reconciliação com Deus, que é a verdadeira esperança dos redimidos em Cristo Jesus. Mas para atingir os homens de todos os tempos, não podemos perder de vista «as motivações sólidas e profundas – como já tive ocasião de dizer – para o empenho quotidiano na transformação da realidade, a fim de a tornar conforme ao projeto de Deus» (TMA 46). Uma educação que promova, de um lado, o crescimento e o amadurecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões: material, intelectual, moral, espiritual e religiosa; e por outro, a formação integral para a solidariedade e a cidadania, que combata a chaga do analfabetismo e seja promotora da paz e do bem-estar social vem a ser, sem dúvida, uma forma de exercer a caridade, servindo, ao mesmo tempo, de instrumento para que o indivíduo seja agente da sua própria formação. Mais ainda: uma benéfica e contínua obra educadora deve partir essencialmente da família, pois é nela que se forja o mesmo futuro da sociedade. Faço votos de que as máximas instâncias da Nação se empenhem em favorecer meios e instituições para o progresso humano e cristão dos seus cidadãos.

3. Peço a Deus que ilumine o amado Povo brasileiro, para que todos saibam ser «protagonistas da civilização do amor, a caminho do Terceiro Milênio, trabalhando pela construção do País, plenos de solidariedade e sadia convivência». Com estes auspícios vos abençoo:


EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO. AMÉM.

Vaticano, 17 de fevereiro de 1998.



DISCURSOS DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PEREGRINOS DAS DIOCESES DE TORUN


E DE DROHICZYN - POLÓNIA


19 de Fevereiro de 1998



1. Diocese de Torun

Caros Irmãos e Irmãs Peregrinos da Diocese de Torun!

1. Dou-vos as minhas boas-vindas e saúdo-vos cordialmente. Dirijo a minha saudação, antes de tudo, ao Bispo Ordinário, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu. Saúdo o Bispo Auxiliar, os representantes do clero, as pessoas consagradas e, de modo particular, as Irmãs Pastorinhas. Saúdo com afecto o Presidente do Senado da República Polaca, os representantes das Autoridades civis da província e da cidade de Torun. O facto de vos ver proporcionou-me uma grande alegria, porque a terra de Torun, e em especial a cidade de Torun me são conhecidas e queridas. Sinto-me próximo da cidade, antes de tudo pela figura de um seu grande cidadão – Nicolau Copérnico, cujo 525° aniversário de nascimento ocorre precisamente hoje, 19 de Fevereiro. Ele está presente na consciência de todos os polacos, e de modo particular dos habitantes de Torun, em virtude da Universidade a ele dedicada. Agradeço-vos também o dom que trouxestes pessoalmente ao Papa. A partir de hoje sinto-me ainda mais unido a essa cidade e a vós. Deus vos recompense!

O encontro deste dia recorda-me a minha última peregrinação na Pátria. A diocese de Toruñ esteve, de facto, de algum modo presente em Zakopane, ao pé do monte «Krokiew», onde se realizou a beatificação de Maria Karlowska, fundadora da Congregação das Irmãs Pastorinhas da Divina Providência. Juntamente com toda a vossa Diocese, dou graças a Deus por esta beatificação e pelo exemplo que a Beata deixou à nossa Pátria e à Igreja na Polónia. Com a sua vida e, de modo particular, com a sua actividade apostólica entre as mulheres, que experimentaram a miséria material e moral, demonstrou que o maior valor é o amor que nunca diz «basta», e jamais se detém no caminho. Este amor torna-se a fonte do serviço do próximo, especialmente do mais necessitado; dele nasce também o respeito pela dignidade humana.

2. A Igreja e o mundo encontram-se no limiar do Grande Jubileu do Ano 2000. Também a vossa diocese se prepara para este Jubileu. Nesta perspectiva adquire particular importância a exortação à nova evangelização, que não pode ser apenas uma acção voltada para o exterior, mas deve abranger antes de tudo a vida pessoal de cada crente. Não se pode evangelizar, se não se é pessoalmente objecto de evangelização. O ensinamento de Cristo é, com efeito, como um tesouro escondido na terra (cf. Mt Mt 13,44-45). Trata-se de saber manifestar os grandes e inestimáveis valores, que este tesouro esconde em si; trata-se de os amar e, depois, compartilhar com os outros o seu tesouro. Para chegar a isto é necessária a metanoia interior, que se opera no coração mediante a oração e a participação nos santos Sacramentos, especialmente no Sacramento da Reconciliação e da Eucaristia. Só um homem transformado, para o qual o único indicador do caminho e a única guia são a lei do amor de Cristo e a luz do Espírito Santo, pode operar uma verdadeira metanoia dos corações e das mentes de outros homens, do ambiente, da nação ou do mundo. Somente «um homem novo em Cristo» pode contribuir na obra da nova evangelização. A transformação assim entendida torna-se fonte do testemunho, esperado pelo mundo. Ele resume-se, antes de tudo, na obras de misericórdia, de autêntica solidariedade com o próximo, especialmente com os mais necessitados.

Soube que o dom da vossa Diocese, por ocasião da beatificação, é o Centro Cáritas de Torun, intitulado à Beata Maria Karlowska. Ele é o fruto da cooperação da sociedade da vossa cidade e oferecerá ajuda aos necessitados. O Centro administra um refeitório para os pobres, cuida dos doentes e das crianças de famílias pobres, oferece uma casa aos desabrigados e às famílias atingidas por várias calamidades. Neste Centro, em conformidade com o seu carisma, trabalham as Irmãs Pastorinhas, cuja acção se estende também a outras instituições educativas e caritativas. Pode haver resposta mais justa ao dom desta beatificação? De facto, esta é uma contribuição concreta à obra de evangelização, segundo as palavras de Cristo: «É por isto que todos saberão que sois Meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jn 13,35).

3. Que o exemplo da Beata Maria Kar³owska produza frutos, exorte e conforte especialmente aqueles que escolheram a via do serviço do próximo! Que ele se torne inspiração para o clero e os leigos, na realização das iniciativas pastorais e das actividades apostólicas!

Pedimos ao Espírito Santo que vos conceda a luz no caminho da vossa santificação e consolide as vossas forças, para o cumprimento dos vossos deveres pessoais, familiares, pastorais e sociais. É só pela graça do Espírito Santo que podemos empreender obras grandes e extraordinárias, enfrentar sacrifícios e renúncias para a glória de Deus e a vossa salvação.

Agradeço-vos as orações e peço-vos que transmitais a minha saudação aos vossos entes queridos que permaneceram na Pátria, e de modo especial aos idosos e doentes. Abençoo de coração todos os que estão aqui presentes e a inteira Comunidade da diocese de Torun. A nova evangelização exige a participação dos leigos católicos



Diocese de Drohiczyn

Queridos Irmãos e Irmãs da Diocese de Drohiczyn!

1. Dirijo-vos as minhas cordiais boas-vindas ao Vaticano e, ao mesmo tempo, agradeço-vos esta visita. Saúdo de modo particular o Senhor Bispo, Pastor da diocese, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu no início deste encontro. Saúdo os representantes do clero, e também os Presidentes das Câmaras Municipais das Cidades que pertencem à Diocese de Drohiczyn, assim como os representantes dos fiéis dessa Igreja.

Várias vezes, em diversas ocasiões, me encontrei com os peregrinos da vossa diocese, mas este encontro tem um carácter especial. Com efeito, vindes a Roma como peregrinos para visitar os túmulos dos Apóstolos. Aqui na Cidade Eterna, os Santos Pedro e Paulo deram um magnífico testemunho de Cristo com o seu próprio martírio. O seu testemunho fortalece a nossa fé e torna-se um encorajamento no caminho rumo à santidade, na fidelidade aos mandamentos divinos.

2. Ao dirigir-se aos fiéis de Éfeso, São Paulo chama-lhes «concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, com Cristo por pedra angular» (2, 19-20). Estas palavras referem- se também a todo o cristão, isto é, a cada um de nós, e enquanto as pronuncio agora, vêm-me à mente a vossa diocese de Drohiczyn e a terra de Podlasie que se estende, de modo pitoresco, ao longo das margens do rio Bug. É uma terra de profunda tradição cristã, construída pelos vossos antepassados e pelos vossos pais – por todas as gerações que vos precederam. Sois herdeiros deste rico património que é dom da Divina Providência. Com efeito, foi nessa terra que padeceram a morte pela fé os mártires da Igreja «uniate» de Pratulin – o Beato Wincenty Lewoniuk e os doze Companheiros. A Igreja de Podlasie conserva profundamente no coração o seu emocionante testemunho. Quão numerosas foram na vossa terra as testemunhas da fé, conhecidas e desconhecidas, que ofereceram a vida em defesa de Cristo! Este é um grande e extraordinário martirológio, que deve ser sempre lembrado.

Quereria também recordar outras figuras, queridas ao vosso coração: o Beato Honorat Kozminski, o Servo de Deus Monsenhor Zygmunt Lozinski, in- trépido e generoso pastor, primeiro da diocese de Minsk, e mais tarde de Pinsk; o Servo de Deus Padre Ignacy Klopotowski, fundador das Irmãs Lauretanas, e o Servo de Deus Padre Antoni Beszta-Borowski. A estes devem ser acrescentadas também as figuras dos nossos heróis nacionais: Tadeusz Kosciuszko, Romuald Traugutt e ainda o nosso poeta Adam Mickiewicz, cujo 200° aniversário de nascimento celebramos neste ano. Estiveram intimamente ligados a esta terra de Podlasie, no meio deste povo viveram e formaram a sua personalidade e a sua vocação, preparando-se para as tarefas importantes, postas diante deles pela Divina Providência. Que esta grande herança vos enriqueça interiormente e se torne inspiração para todos aqueles que servem a Igreja e a nossa Pátria.

3. Um grande evento na vida da Igreja de Drohiczyn foi o Sínodo Diocesano, concluído a 25 de Maio de 1997. Ele determinou para vós as tarefas da nova evangelização no limiar do Terceiro Milénio. Faço votos por que vos produza os frutos almejados, dos quais fazem parte antes de tudo o aprofundamento da vida cristã e a reanimação da actividade apostólica do Povo de Deus. A nova evangelização exige, com efeito, a participação dos leigos católicos na vida da Igreja. Assim, sinto-me feliz porque na vossa diocese actuam e se desenvolvem a Acção Católica e também a Universidade Popular, que goza de grande fama.

Meus queridos, recomendo todos os que estão aqui presentes e a inteira Igreja de Drohiczyn a Cristo, Redentor do homem. Ele, de facto, é a «pedra angu- lar». Edificai sobre Ele a vossa vida pessoal, familiar e social, para poderdes constituir, «no Espírito, a habitação de Deus» (Ep 2,22). Abençoo-vos de coração pela fadiga da nova evangelização e peço-vos que transmitais esta bênção aos vossos entes queridos e a todos os meus Compatriotas.



DISCURSO DO SANTO PADRE AOS PARTICIPANTES


NA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO


PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS


: Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 1998





Senhor Cardeal
Estimadíssimos Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio

1. Várias vezes expressei a esperança de que na vigília do terceiro milénio os cristãos se encontrem, se não unidos, pelo menos mais perto de resolver as suas dificuldades (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 34). A sessão plenária do vosso Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, passando em revista as actividades deste último biénio, quis colocar a sua reflexão nesta perspectiva.

Na minha Carta Encíclica Ut unum sint, quis salientar a importância de um dos frutos do movimento ecuménico: a fraternidade reencontrada entre os cristãos. Eu mesmo a experimento de maneira contínua aquando das minhas viagens apostólicas pelo mundo fora. Independentemente das suas diferenças e do fundamento daquilo que os divide, os cristãos adquiriram uma renovada consciência de serem irmãos entre si mesmos. Pergunto-vos: não consiste porventura nisto o restabelecimento de um comportamento cristão fundamental? E ao fazê-lo, não se põe acaso em prática a exigência primordial do mandamento que Jesus quis qualificar como «seu» (cf. Jo Jn 15,12)?

O facto de estarmos conscientes de que somos irmãos comporta a exigência de nos julgarmos como irmãos, inclusivamente nos nossos desacordos; impelenos a tratar-nos como irmãos nas diversificadas circunstâncias que a nossa existência pessoal e comunitária nos leva a viver. Neste campo são necessários progressos contínuos. Não podemos contentar-nos com etapas intermediárias, talvez necessárias, mas sempre insuficientes no itinerário espiritual e eclesial que nos compromete. A meta para a qual o Senhor Jesus nos chama e nos orienta, e na qual nos espera, é a plena unidade com aqueles que, tendo recebido o mesmo Baptismo, entraram a fazer parte do único Corpo místico.

2. Nesta atmosfera de reencontrada fraternidade, a vossa reflexão sobre as actuais relações entre as Igrejas e as Comunhões cristãs adquire o seu pleno significado, assim como o fazem os vários diálogos teológicos. O diálogo da caridade está na origem dos mesmos e deve continuar a acompanhá-los e a alimentá-los. É necessário aprofundar o diálogo da caridade para superar as dificuldades que se verificaram no passado, que ainda hoje existem e que continuaremos a encontrar. Também neste contexto, neste caminho intelectual, é necessário avançar gradualmente.

Os progressos realizados enchem-nos de júbilo; estes são tais a ponto de fazerem crescer em autenticidade a reencontrada fraternidade. Todavia, trata-se apenas de etapas, e não podemos contentar-nos com a sua superação. Os nossos passos devem avançar mais profundamente ao longo do caminho. Devemos ajudar-nos uns aos outros. É preciso ter a coragem de continuar a busca da verdade, na fidelidade Àquele que é a Verdade. O objectivo é a plena comunhão que Ele deseja ver reinar entre nós. Há dois mil anos, Ele pediu-nos que sejamos unânimes no testemunho do seu Advento. Neste tempo em que exortamos o mundo a fim de que reconheça de maneira íntegra que Cristo é «a verdadeira luz que ilumina todos os homens» (Jn 1,9), devemos infundir um novo vigor à nossa acção, para realizarmos plenamente a vontade de unidade do nosso único Mestre e Senhor. Os progressos no diálogo da caridade e da conversão, bem como o avanço dos diálogos doutrinais, enchem-nos o coração de acção de graças e de esperança. Acção de graças por tudo aquilo que nos foi dado e ainda nos é concedido. Esperança n'Aquele que é o único a completar aquilo que somente Ele podia e pode realizar no meio de nós.

3. Assim, durante a vossa sessão plenária passastes em revista a actividade desempenhada nos últimos dois anos. Pudestes observar o que deverá ser corrigido e quanto poderia ser intensificado. Também vos orientastes para o porvir. Nesta perspectiva futura, adquire uma importância deveras especial a formação ecuménica de quem nos próximos anos se dedicará a um ministério pastoral.

A assimilação da doutrina do Concílio Vaticano II sobre a Igreja e o Ecumenismo constitui a condição que permite aos resultados intermediários dos diálogos serem difundidos de maneira sadia. Como pus em evidência, estes «não podem permanecer como simples afirmações das Comissões bilaterais, mas devem tornar-se património comum» (Ut unum sint UUS 80). Os responsáveis pela obra pastoral devem adquirir uma visão global da acção ecuménica, dos seus princípios e das suas exigências. Ela será o instrumento e o contexto que lhes permitirá determinar, compreender, receber e examinar com rigor aquilo que se realizou. Assim, poderão informar os fiéis, empenhando-os numa atitude de acção de graças e de esperança, e saberão evitar as simplificações e a pressa intempestiva. Ajudá-los-ão a adaptar-se aos ritmos que o Espírito Santo imprime no movimento que Ele suscita na Igreja. Encorajá-los-ão a aprofundar a sua conversão ecuménica e a crescer na fraternidade reencontrada. Exortá-los-ão a intensificar a própria oração, para que chegue imediatamente o tempo da plena comunhão.

4. Ao agradecer-vos o vosso trabalho realizado durante a reunião e o vosso serviço apaixonado da unidade, desejo recordar-vos as palavras de São Cipriano, que concluíam a minha Carta Encíclica sobre o empenho missionário: «"Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia, e manda-o retirar-se do altar para ir primeiro reconciliar-se com seu irmão, porque só as orações de um coração pacífico poderão obter a reconciliação com Deus. O sacrifício mais agradável a Deus é a nossa paz e a concórdia fraterna, e um povo cuja união seja um reflexo da unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo" (De Dominica oratione, n. 23: CSEL 3, pp. 284-285). No alvorecer do novo milénio, como não solicitar ao Senhor, com renovado ímpeto e consciência mais amadurecida, a graça de nos predispormos todos para este sacrifício da unidade?» (Ut unum sint UUS 102). Renovo esta súplica com profunda participação e rogo ao Senhor que sustente tudo quanto fazeis em vista de contribuir para o serviço da unidade, que o Bispo de Roma leva a cabo confiando na obra da misericórdia divina.

Com estes sentimentos, concedo a todos com afecto a minha Bênção.




AOS BISPOS DA ESPANHA


EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


19 de Fevereiro de 1998





Queridos Irmãos no Episcopado!

1. Com alegria vos recebo, Pastores da Igreja de Deus na Espanha, que formais o terceiro grupo que vem a Roma, a Cidade que conserva a memória dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, para realizardes a visita «ad Limina». Dirijo a minha cordial saudação ao Senhor Cardeal Arcebispo de Barcelona, com os seus Bispos Auxiliares; ao Arcebispo de Oviedo, com o seu Bispo Auxiliar e os Bispos de Leão, Astorga e Santander; ao Arcebispo de Tarragona, com os Bispos de Urgell, Lérida, Vic, Solsona e Tortosa, recordando de modo especial o Bispo de Girona, ausente por causa da sua recente intervenção cirúrgica. Através de vós a minha saudação quer chegar aos sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e fiéis das vossas Igrejas particulares, renovando-lhes o afecto e a estima que lhes devo como Pastor da Igreja universal (cf. Lumen gentium LG 22).

Agradeço as amáveis palavras que o Senhor Cardeal Ricardo Maria Carles Gordó me dirigiu em nome de todos, para me fazer presentes as vossas esperanças e inquietudes, assim como a caridade pastoral que vos anima no ministério de guiar o povo de Deus, à frente do qual fostes colocados como guias (cf. Christus Dominus CD 4). Estou-vos reconhecido por isto e asseguro-vos a minha constante oração ao Senhor para que, no meio das provas a que, por vezes, se vê submetida a vossa missão, nunca vos faltem a fortaleza (cf. Act Ac 4,33) e as consolações do Espírito Santo.

2. Na Catalunha e nas Astúrias, em Leão e Cantábria, regiões de profundas raízes cristãs, produziram-se, como noutras regiões espanholas, e continuam a efectuar-se transformações importantes na população e na actividade económica. Com efeito, a passagem acelerada de uma sociedade rural a outra majoritariamente industrial e de serviços, nestes últimos decénios deu origem a uma maior mobilidade das pessoas, cujos centros de interesse e de cultura evolucionam, modificando os modos de viver e transformando de •maneira muito notável a fisionomia da própria sociedade.

Nos relatórios quinquenais reflectis sobre esta situação, ante a qual vos sentis impelidos a renovar a acção pastoral, determinando as novas condições em que se pode anunciar a Boa Nova e guiar e congregar o povo de Deus, mediante a presença sacramental de Cristo. A este respeito, desejo encorajar-vos para que a Igreja de Deus presente nessas nobres terras continue a ser um lugar de amor e de acolhimento, onde todos os fiéis se sintam irmãos entre si e ninguém seja excluído, sem distinção de origens nem de culturas, de modo que possam ser fermento de unidade, «sal da terra e luz do mundo» (Mt 5,13).

3. Ao acolherdes o meu apelo a preparar de modo adequado o Grande Jubileu do Ano 2000, vós, Bispos da Espanha, sois chamados a levar a cabo o Plano de acção pastoral para o quadriénio 1997-2000, que tem por título «Proclamar o ano de graça do Senhor». No mesmo, como eco da minha Carta Apostólica «Tertio millennio adveniente», recordais que o «objectivo prioritário do Jubileu é o fortalecimento da fé e do testemunho dos cristãos» (n. TMA 42). Com efeito, a fé, dom de Deus e resposta livre da pessoa, e o seu testemunho fundem-se num só objectivo geral da acção pastoral neste tempo. A respeito disso, é-me grato recordar que, como assinalastes, «para que não se verifique uma separação entre fé e vida, ou ambas caminhem em paralelo sem se encontrar, é necessário estimular e incentivar os nossos fiéis à coerência entre a sua fé e a sua existência cristã, vivida em cada situação pessoal, nas circunstâncias concretas da sociedade actual, na qual emergem novas questões nos diversos sectores, muitos deles também novos» (Plano de acção pastoral, 107).

4. Um desses sectores, tão questionado nos nossos tempos, mas tão importante para o presente e o futuro da sociedade, é o da família. Conheço o vosso empenho em defender e promover esta instituição, que tem a sua origem em Deus e no Seu plano de salvação (cf. Familiaris consortio FC 49). Hoje, assistimos a uma corrente muito difundida nalgumas partes, que tende a debilitar a sua verdadeira natureza. Com efeito, não faltam intentos, na opinião pública e inclusive na legislação civil, de equiparar a família a meras uniões, carentes de forma jurídica constitucional, ou pretende-se reconhecer como família a união entre pessoas do mesmo sexo. A crise do matrimónio e da família impelenos a proclamar, com firmeza pastoral, como um autêntico serviço à família e à sociedade, a verdade sobre o matrimónio e a família, tal como Deus os estabeleceu. Deixar de o fazer seria uma grave omissão pastoral, que induziria ao erro os crentes, assim como aqueles que têm a importante responsabilidade de tomar as decisões sobre o bem comum da Nação. Esta verdade é válida não só para os católicos, mas de igual modo para todos os homens e mulheres sem distinção, pois o matrimónio e a família constituem um bem insubstituível da sociedade, a qual não pode permanecer indiferente diante da degradação ou da perda do mesmo.

Não se pode esquecer, além disso, que a família deve dar testemunho dos seus próprios valores diante de si mesma e da sociedade. «As tarefas, que a família é chamada por Deus a desenvolver na história, brotam do seu próprio ser e representam o seu desenvolvimento dinâmico e existencial. Cada família descobre e encontra em si mesma o apelo inextinguível, que ao mesmo tempo define a sua dignidade e a sua responsabilidade: família, "torna-te aquilo que és"!» (ibid., 17). A este respeito, os Pastores e os esposos comprometidos na Igreja devem esmerar-se em aprofundar a teologia do matrimónio, ajudar os jovens esposos e as famílias em dificuldade a reconhecerem melhor o valor do seu compromisso sacramental e a acolherem a graça da aliança. Os leigos casados devem ser, de igual modo, os primeiros a testemunhar a grandeza da vida conjugal e familiar, fundada no compromisso e na fidelidade. Graças ao sacramento, o seu amor humano adquire um valor infinito, porque os cônjuges manifestam, de maneira particular, o amor de Cristo à sua Igreja e assumem uma responsabilidade importante no mundo: gerar filhos chamados a converter-se em filhos de Deus, e ajudá-los no seu crescimento humano e sobrenatural.

Queridos Irmãos: acompanhai as famílias cristãs, incentivai a pastoral familiar nas vossas dioceses e promovei os movimentos e associações de espiritualidade matrimonial; despertai o seu zelo apostólico para que assumam a tarefa da nova evangelização, abram as portas àqueles que não têm lar ou vivem em situações difíceis, e dêem testemunho da grande dignidade de um amor generoso e incondicional.

5. Para a defesa e a promoção da instituição familiar é importante a adequada preparação daqueles que se dispõem a contrair o sacramento do matrimónio (cf. cânn. 1063-1064 do C.I.C. ). Deste modo promove-se a formação de autênticas famílias que vivem segundo o plano de Deus. Para isto, não só se devem apresentar aos futuros esposos os aspectos antropológicos do amor humano, mas também as bases para uma autêntica espiritualidade conjugal, entendendo o matrimónio como uma vocação que permite ao baptizado encarnar a fé, a esperança e a caridade dentro da sua nova situação social e religiosa.

Completando esta preparação específica, pode-se aproveitar também como uma ocasião de reevangelização para os baptizados, que se aproximam da Igreja para pedir o sacramento do matrimónio. Com efeito, como ressaltastes, «depois de terem participado nas catequeses ou nos catecumenatos de Confirmação, muitos adolescentes e jovens abandonam a formação cristã, a qual deverá ser permanente» (Plano de acção pastoral, 127). Ainda que hoje, graças à generalização do ensino, os jovens tenham adquirido uma cultura superior à dos seus pais, em muitos casos este nível não se verifica na vida cristã, pois constata-se às vezes não só uma ignorância religiosa, mas também um certo vazio moral e religioso nas jovens gerações.

Neste sector têm um papel importante a desempenhar as comunidades eclesiais que, se experimentaram e podem testemunhar o amor de Deus, poderão manifestá-lo com eficácia e em profundidade àqueles que precisam de o conhecer.

6. Quero referir-me também à urgência de fomentar a catequese a todos os níveis, já que para fortalecer a fé e o seu testemunho se deve intensificar a evangelização, anunciando com ardor Jesus Cristo como o único Salvador do mundo, na realidade íntegra do Seu mistério, manifestada com a Sua vida e a Sua palavra, e confessada pela Igreja. A catequese apresenta a pessoa de Jesus aos homens e às mulheres do nosso tempo para que O sigam, fortalecendo assim a vida no Espírito, que favorece a plena realização humana.

Animo-vos, portanto, a não poupar esforços a fim de que nas vossas dioceses a actividade catequética, aspecto essencial da missão evangelizadora que o Senhor nos confiou, seja levada a cabo contando com agentes rectamente formados e com meios adequados, para oferecer aos fiéis um conhecimento mais vivo do mistério de Cristo. Por isso, aprecio e admiro o trabalho que com generosidade desempenham tantos catequistas nas paróquias e demais centros pastorais, dedicando o seu tempo e as suas energias a uma actividade tão essencial para a Igreja. A ignorância religiosa ou a deficiente assimilação vital da fé deixariam os baptizados inermes perante os perigos reais do secularismo, do relativismo moral ou da indiferença religiosa, com o consequente risco de perder a profunda religiosidade do vosso povo, que tem magníficas expressões nas valiosas e sugestivas manifestações cristãs da piedade popular. Encorajo-vos, pois, em vista do Grande Jubileu, a promover uma nova etapa da catequese, que ajude o homem contemporâneo a estar consciente do mistério de Deus e do seu próprio mistério, e que favoreça uma oração de louvor e de acção de graças pelo dom da Encarnação de Jesus Cristo e da Sua obra redentora (cf. Tertio millennio adveniente, TMA 32).

7. Para a Igreja é uma exigência permanente estar presente na educação das crianças e dos jovens, dando uma resposta pastoral às prioridades educativas. Ela fá-lo pela sua opção em favor do homem e pelo seu desejo de colaborar com as famílias e a sociedade no âmbito escolar, propugnando uma formação integral e defendendo o direito dos pais a proporcionarem aos seus filhos uma educação religiosa e moral, que corresponda às suas próprias convicções. Nesta tarefa a Igreja está presente por meio dos educadores católicos, que trabalham inspirados pela sua fé, assim como atra- vés das próprias instituições de ensino, o qual é um serviço à sociedade que deve ser reconhecido e fomentado. Numa formação que deseja ser integral não se pode descuidar o aspecto religioso, mas deve-se educar os jovens de forma que contemplem todas as capaci- dades do ser humano. Neste sentido, respeitando outros possíveis modos de pensar, a Igreja tem o direito de ensinar os valores que derivam do Evangelho e as normas morais próprias do cristianismo.

Contudo, como assinalastes, «o ensino da religião e da moral católicas ou da ética, dentro do âmbito dos cursos elementares e, de modo especial, nos médios ou secundários, tem-se visto marginalizado durante anos pelos poderes públicos» (Plano de acção pastoral, 51). Tendo em conta a principal dimensão de serviço, que deve procurar também um contínuo melhoramento da qualidade do ensino e uma cuidadosa escolha e qualificação dos professores que o ministram, animo-vos a prosseguir no esforço por encontrar quanto antes, juntamente com a competente Administração civil, a solução aos problemas pendentes a respeito do estatuto jurídico da área de Religião e do seu professorado.

8. Queridos Irmãos: quis apresentar-vos estas reflexões e fazer-vos partícipes de alguns anelos que, sem dúvida, vos servirão de ajuda no vosso trabalho pastoral. Ao concluir este encontro, quereria expressar-vos de novo a minha alegria por ter compartilhado as preocupações e as esperanças do vosso ministério episcopal, e ter constatado o esforço por revigorar a vitalidade da Igreja nas vossas dioceses. Espero que esta visita ao Sucessor de Pedro, a oração diante dos túmulos dos Apóstolos, assim como os encontros com os Dicastérios da Cúria Romana, sejam para vós uma fonte de dinamismo e de confiança no futuro, em comunhão com a Igreja universal. Exorto-vos a continuar a preparar o Grande Jubileu do Ano 2000 e por meio de vós convido os católicos de toda a Espanha a irem ao encontro dos próprios irmãos, para lhes anunciar esta Boa Nova.

Que a Virgem Maria, tão venerada nas vossas terras, e em cujos santuários de Covadonga e Monserrate tive ocasião de me prostrar, pedindo a sua maternal protecção sobre essa porção importante do Povo de Deus que peregrina naque- las terras, vos ajude na missão episcopal. Com estes sentimentos, é-me grato conceder de coração a Bênção Apostólica a cada um de vós e a todos os sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis das vossas dioceses.




AOS PARTICIPANTES NA


CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE


A SAÚDE DA MULHER


20 de Fevereiro de 1998





Ilustres Senhores
Gentis Senhoras

1. Desejo exprimir o meu agradecimento à Universidade Católica do Sagrado Coração, aqui representada pelo Reitor Magnífico, Prof. Adriano Bausola, ao Director do Instituto de Bioética da mesma Universidade, D. Elio Sgreccia, e ao Director do Center of Medical Ethics da Georgetown University, por terem querido organizar esta Conferência Internacional sobre um tema de tão viva actualidade para a sociedade e para a Igreja: a saúde da mulher.

Reflectir sobre este argumento é, de facto, um dever e uma dívida de reconhecimento não só para com a dignidade de cada mulher, a quem devem ser reconhecidos o direito aos cuidados e o acesso aos meios que podem promover a saúde, mas também em relação ao papel particular que a mulher é chamada a desempenhar na família e na sociedade.

Sob este aspecto não podemos deixar de recordar, antes de tudo, o grande número de mulheres – crianças, adolescentes, esposas, mães de família, idosas – que se encontram em condições de miséria, de extrema penúria de apoios sanitários e se sentem sobrecarregadas pelas fadigas inerentes ao sustento da família em vastas zonas do mundo, às vezes com a agravação das calamidades e das guerras.

2. Na Mensagem à Secretária-Geral da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, que se realizou em Pequim, fiz referência à «terrível exploração das mulheres e das jovens, existente em todas as partes do mundo». Depois, acrescentei: «A opinião pública começa apenas a tomar consciência das condições desumanas em que as mulheres e as crianças são, com frequência, forçadas a trabalhar, especialmente nas áreas menos desenvolvidas do planeta» (26 de Maio de 1995; ed. port. de L'Osserv. Rom 10/6/1995, n. 7, pág. 6).

É essencial para toda a sociedade que esses direitos sejam garantidos e as sociedades, que gozam do pleno desenvolvimento económico e por vezes de uma taxa de bens supérfluos, dediquem a sua atenção e a sua ajuda a esta humanidade. Isto não poderá ser feito sem um adequado e correspondente reconhecimento do papel da mulher, da sua dignidade e da importância de uma sua contribuição específica ao progresso da sociedade em que vive: «Quando as mulheres têm a possibilidade de transmitir plenamente os seus dons a toda a comunidade, fica positivamente transformada a própria modalidade como a sociedade é concebida e se organiza» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1995, n. 9).

3. Em particular, considero significativo o facto de que na vossa Conferência Internacional quisestes examinar todas as dimensões da saúde da mulher: a prevenção e a cura das doenças, o respeito pela sua integridade e pelas suas capacidades procriativas, os aspectos psicológicos e espirituais nas diversas situações em que se pode encontrar. Está-se a difundir, com efeito, uma concepção da saúde que, paradoxalmente, exalta e ao mesmo tempo empobrece o seu significado, e isto em particular em relação à mulher.

Com efeito, a saúde foi definida como tensão para o «pleno bem-estar físico, psicológico e social e não só como ausência de doença». Quando, porém, o bem-estar é concebido em sentido hedonista, sem referência aos valores morais, espirituais e religiosos, esta aspiração, em si só nobre, pode dissipar-se num horizonte restrito que lhe mortifica o impulso, com consequências negativas para a própria saúde. Interpretada neste sentido redutivo, a busca da saúde como bem-estar levou a considerar, também em documentos políticos importantes, a própria maternidade como um peso e uma doença, criando os pressupostos, em nome da saúde e da qualidade de vida, para a justificação da contracepção, da esterilização, do aborto e da própria eutanásia. É necessário ratificar esta deformação porque «nunca existirá justiça, nem igualdade, desenvolvimento e paz, quer para as mulheres quer para os homens, se não houver uma infalível determinação em respeitar, proteger, amar e servir a vida – cada viva humana em todas as etapas e em cada situação» (Mensagem à Secretária-Geral da IV Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher, n. 7; cf. Encíclica Evangelium vitae EV 87).

4. Favorecer um autêntico e global equilíbrio sanitário da mulher significa ajudá-la a inserir o bem-estar físico, psicológico e social numa relação de harmonia com os valores morais e espirituais. Nesta óptica de realização da pessoa e da especificidade feminina, em que se actua o carácter da oblação esponsal e materna, na família ou na vida consagrada, e se exprime o sentido da solidariedade social, a saúde representa, simultaneamente, uma condição fundamental e uma dimensão da pessoa.

Por este motivo o conceito de saúde deve estar fundado sobre uma visão antropológica completa, que considere o respeito pela vida e pela dignidade das pessoas, e de cada pessoa em particular, como um valor irrenunciável. A busca da saúde não pode, portanto, transcurar o valor ontológico da pessoa e a sua dignidade pessoal: mesmo lá onde a saúde física ou mental é deficiente, a pessoa conserva de facto a sua plena dignidade.

5. Na promoção da saúde da mulher a dimensão procriativa tem um papel especial, do ponto de vista da realização quer da personalidade feminina quer da eventual tarefa materna. Promover a saúde procriativa da mulher implicará, portanto, a prevenção primária das doenças que podem comprometer a fertilidade, o empenho terapêutico, consultivo e assistencial em vista de preservar o organismo feminino na sua integridade ou de restabelecer a sua funcionalidade; jamais poderá, ao contrário, significar uma ofensa à dignidade da pessoa da mulher ou da vida da criança concebida.

Nesta perspectiva, será sempre de grande relevo o empenho moral da própria mulher, a qual deverá assumir e respeitar nos comportamentos quotidianos os valores da sua corporeidade, procurando assegurar-lhe a conformidade com as exigências da saúde. Esta promoção da saúde integral da mulher não poderá deixar de empenhar também a sociedade, e isto só acontecerá com a contribuição das mesmas mulheres: «A Igreja reconhece – escrevi à Secretária-Geral da IV Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher – que o contributo da mulher para o bem-estar e o progresso da sociedade é incalculável, e espera que elas possam realizar ainda mais a fim de salvar a sociedade do vírus mortal da degradação e da violência, que hoje está a registrar uma dramática propagação» (n. 5).

6. É todo o horizonte da cultura e da sociedade, e em primeiro lugar da assistência sanitária, que deve ser considerado à medida da dignidade da mulher, em co-responsabilidade com o homem e para o bem das famílias e da própria comunidade humana. Desejo repetir aqui o agradecimento que em 1995 dirigi às mulheres, na Carta destinada especificamente a elas, por ocasião do Ano Internacional da Mulher: o obrigado às mães, esposas, filhas, irmãs, trabalhadoras e consagradas. Hoje, quereria acrescentar um agradecimento às mulheres que exercem a medicina: elas participam em número cada vez maior na promoção da saúde do próximo, tornando-se guardiãs da vida a título especial. Faço votos por que todos os homens, a sociedade em geral e as autoridades políticas ofereçam o seu contributo em vista da obtenção do bem da saúde para cada mulher e cada homem, como garantia de uma civilização que esteja à altura da dignidade da pessoa humana. Com estes votos, concedo a todos a minha Bênção.




Discursos João Paulo II 1998 - 16 de Fevereiro de 1998