Discursos João Paulo II 1998

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS NOVOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS


30 de Junho de 1998



Venerados Irmãos no Episcopado
Caríssimos Irmãos e Irmãs!

1. Ontem, na solenidade dos Santos apóstolos Pedro e Paulo, seguindo uma significativa tradição, tive a alegria de vos impor os Pálios, caríssimos Arcebispos Metropolitanos nomeados no decurso do último ano. Hoje, com ânimo feliz e reconhecido, acolho-vos, juntamente com os familiares e os fiéis que vos acompanharam a Roma para esta feliz circunstância. A todos dirijo cordiais boas-vindas, com um particular pensamento para os novos Metropolitas italianos: D. Gennaro Franceschetti, Arcebispo de Fermo, e D. Giuseppe Molinari, Arcebispo de Áquila.

O Pálio, como bem sabeis, é insígnia litúrgica papal que, a partir do século IX, os Arcebispos Metropolitanos pedem ao Bispo de Roma, como sinal de unidade e de plena comunhão com a Sé do Sucessor de Pedro. Confeccionados cada ano com a lã de dois cordeirinhos brancos benzidos na memória de Santa Inês, os Pálios são colocados no apropriado estojo junto do túmulo de Pedro, debaixo do altar da Confissão, para depois serem entregues aos novos Metropolitas na festa do Apóstolo.

2. Alegro-me convosco, caríssimos fiéis, pelo encontro hodierno, porque ele confere a esta antiquíssima tradição uma moldura eclesial, bastante propícia para pôr em relevo o seu valor e sentido. Vós provindes de vários Países do mundo, e a vossa presença orante e festiva ao lado dos respectivos Pastores torna ainda mais expressivo o sinal da imposição dos Pálios que, em si, manifesta a unidade católica cum Petro et sub Petro. Exprimo-vos, portanto, a minha satisfação, caros Irmãos e Irmãs, por esta peregrinação. Faço votos por que ela produza abundantes frutos de fé e de vida evangélica em cada um de vós, nas vossas famílias e comunidades eclesiais.

Em seguida, o Santo Padre expressou-se em vários idiomas: croata, húngaro, francês, inglês, espanhol, albanês. Em português, estas foram as palavras do Papa:

Invoco também abundantes luzes do Espírito Santo para D. Cláudio Hummes, que terá à frente um imenso rebanho a pastorear, numa cidade cheia de enorme vitalidade e de múltiplos desafios pastorais. Por isso, é com particular afecto que saúdo o novo Arcebispo de São Paulo, e todos os parentes e peregrinos que se lhe unem em preces, para que Deus o ilumine e o proteja nesta nova caminhada ao serviço da Igreja que está no Brasil.

Confio-vos, caros Irmãos e Irmãs, à Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, enquanto concedo de coração a Bênção Apostólica a todos vós e às comunidades de onde provindes, e renovo o meu abraço de paz aos Arcebispos Metropolitanos, vossos zelosos Pastores.



                                                                                 Julho de 1998

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


À SECÇÃO ESPANHOLA DO PONTIFÍCIO INSTITUTO


"JOÃO PAULO II" PARA OS ESTUDOS SOBRE


O MATRIMÓNIO E A FAMÍLIA


2 de Julho de 1998





Queridos Irmãos no Episcopado
Amados sacerdotes, professores, alunos e amigos da Secção espanhola
do Pontifício Instituto para os Estudos sobre o Matrimónio e a Família

É-me grato receber-vos nesta audiência no decurso da vossa peregrinação a Roma, que coincide com a visita «ad Limina » dos Bispos da vossa Província eclesiástica, entre cujas prioridades pastorais sobressai o tema do matrimónio e da família. Quisestes vir para agradecer a fundação da Secção espanhola e me apresentar os frutos destes quatro anos de intenso trabalho académico.

Agradeço a D. Agustín García-Gasco Vicente, Arcebispo de Valença e Vice-Grão-Chanceler da Secção, as amáveis palavras que me dirigiu. Saúdo de igual modo D. Juan António Reig Pla, Bispo de Segorbe-Castellón de la Plana e Decano do Instituto, assim como as autoridades civis e os membros da recém-constituída fundação que sustém os trabalhos do Instituto.

Como bem sabeis, quando o Sínodo de 1980 reflectiu sobre as luzes e sombras da família, sentiu a necessidade de criar um instrumento académico, que preparasse convenientemente os sacerdotes para acompanhar as famílias como verdadeiros pais, irmãos, pastores e mestres, ajudando-as com os recursos da graça e iluminando-as com a luz da verdade. Viu-se também a conveniência de que os leigos recebessem essa formação para que, individualmente ou por meio de associações, pudessem oferecer o seu conselho, animação e apoio à promoção da instituição familiar. Surgiu assim, há quatro anos, o Instituto do qual sois a Secção espanhola, e entre cujas conquistas está a capacitação de um considerável número de alunos, pastores e fiéis, como profissionais especialistas que ajudam a transformar os diversos ambientes da sociedade com o fermento do «Evangelho da vida».

Ante a confusão que reina no campo da família e da vida, é preciso apresentar a beleza e o fascínio do plano de Deus sobre o matrimónio e a instituição familiar, de modo que se fortaleça a vontade dos homens e mulheres do nosso tempo viverem a sua grandeza, sendo conscientes também das exigências que comporta. Para isso são necessários o estudo e a preparação académica, tarefas a que vos dedicais com paixão e alegria. Animo-vos a prosseguir neste serviço ao homem e à sociedade.

O objectivo do vosso Instituto é investigar e transmitir a verdade natural e revelada sobre o matrimónio e a família, oferecendo à pastoral familiar o conveniente apoio filosófico-teológico, que lhe permita reagir diante das concepções materialistas do homem, infelizmente tão difundidas na sociedade actual. Por isso vós, que sois as primeiras gerações da Secção espanhola, uma vez adquirida a formação adequada, deveis comprometer-vos, como professores e animadores da pastoral familiar, em enriquecer a vida dos fiéis, ajudando-os a descobrir a «vocação à santidade» dos esposos e demais membros da família.

Neste ano estais a dedicar uma atenção especial ao estudo e à difusão da «Carta dos direitos da família», que pode ser um válido instrumento para iluminar muitos dos actuais problemas. Felicito-vos por esta escolha e animo-vos a continuar a trabalhar em favor de um autêntico humanismo familiar, que ajude a considerar a família como o santuário da vida, a escola que permite a transmissão da fé e favorece o diálogo entre os seus membros e com Deus.

A Virgem Maria, Rainha da família, que em Valença venerais como «Mare de Deu dels Desamparats», proteja com a sua materna intercessão a boa obra que levais a cabo. Pela sua mediação concedo-vos, em penhor de um serviço frutuoso à família e à vida, uma particular Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva a todos os que colaboram convosco.




A UM GRUPO DE DIRIGENTES EMPRESARIAIS


3 de Julho de 1998





Ilustres Senhoras e Senhores

É-me grato apresentar-vos as minhas cordiais boas-vindas na conclusão do Curso de aperfeiçoamento nas funções técnicas e directivas empresariais. Saúdo o Prof. Gian Maria Gros-Pietro, Presidente do Instituto para a Reconstrução Industrial, e agradeço-lhe as corteses expressões que me dirigiu.

Rápidas e profundas são as mudanças que estão a transformar as relações entre os homens e as nações neste nosso tempo. De particular relevo parece o fenómeno da globalização da economia, que está a abrir cenários inéditos para o futuro da humanidade, com singulares oportunidades de programação e de desenvolvimento, mas também com riscos de graves injustiças em relação aos Países mais pobres. Neste contexto a solidariedade, em vez de ser um dever, é uma exigência que brota da própria rede objectiva das interconexões e da necessidade de pôr os processos produtivos ao serviço do homem. A próvida iniciativa, promovida pelo IRI juntamente com o Consórcio para a formação internacional, em benefício da criação de quadros técnicos e directivos ao serviço dos Países em vias de desenvolvimento e em transição para a economia de mercado, pretende responder a esta exigência.

Ao exprimir o meu apreço, faço votos por que o clima de atenção e de diálogo, que se instaurou durante o Curso, constitua uma significativa premissa de relações sempre mais respeitosas e pacíficas entre os Povos. Com estes sentimentos, invoco sobre cada um de vós e as vossas famílias a bênção de Deus, munificente dador de todo o bem.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO MUNDIAL


SOBRE A PASTORAL DOS DIREITOS HUMANOS


Sábado, 4 de Julho de 1998





Senhores Cardeais
Caros Irmãos no Episcopado
Senhoras e Senhores!

1. É com particular alegria que acolho aqui, nesta manhã, os participantes no Congresso Mundial sobre a Pastoral dos Direitos Humanos, que o Pontifício Conselho «Justiça e Paz», no quadro das iniciativas tomadas pela Santa Sé, quis convocar para celebrar o quinquagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. De todo o coração agradeço ao novo Presidente do Pontifício Conselho, D. François-Xavier Nguyên Van Thuân, a apresentação dos vossos trabalhos. E sinto-me feliz pela ocasião que me é dada para exprimir ao Presidente demissionário, o querido e infatigável Cardeal Roger Etchegaray, a minha viva gratidão pelo devotamento e a competência com que dirigiu o Dicastério durante catorze anos.

Saúdo todos os participantes, e com eles os membros, os consultores e os colaboradores do Pontifício Conselho. A presença entre vós de representantes de outras Igrejas cristãs e de diversos Organismos internacionais é um sinal da nossa comum preocupação e do nosso empenho por todos para a promoção da dignidade da pessoa humana no mundo de hoje.

2. O tema do desígnio de Deus para a pessoa humana, da «dimensão humana do mistério da Redenção», foi um dos objectos principais da minha primeira Encíclica Redemptor hominis (cf. n. 10). Ao considerar o homem como «a primeira e fundamental via da Igreja» (n. 14), mostrei o significado dos «direitos objectivos e invioláveis do homem» (n. 17) que, no meio das vicissitudes do nosso século, pouco a pouco recebeu a sua formulação no plano internacional, de modo especial na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em seguida, em todo o meu ministério de Pastor da Igreja universal, senti o dever de dedicar uma atenção particular à salvaguarda e promoção da dignidade da pessoa e dos seus direitos, em todas as etapas e circunstâncias da sua vida política, social, económica ou cultural.

Ao analisar, na Encíclica Redemptor hominis, a tensão entre os sinais de esperança concernente à salvaguarda dos direitos humanos e os sinais mais dolorosos dum estado de ameaça para o homem, apresentei a questão das relações entre «a letra» e «o espírito» destes direitos (cf. n. 17). Ainda hoje, pode-se constatar o abismo que existe entre «a letra », reconhecida a nível internacional nos numerosos documentos, e «o espírito », actualmente muito longe de ser respeitado, pois o nosso século ainda está marcado por graves violações dos direitos fundamentais. No mundo há sempre inúmeras pessoas, mulheres, homens e crianças, cujos direitos são cruelmente aviltados. Quantas pessoas são injustamente privadas da sua liberdade, da possibilidade de se exprimir livremente ou de professar com liberdade a sua fé em Deus? Quantas pessoas, por causa da guerra, de discriminações injustas, do desemprego ou de outras situações económicas desastrosas, não podem chegar ao pleno gozo da dignidade que Deus lhes deu e dos dons que d'Ele receberam?

3. O primeiro objectivo da pastoral dos direitos humanos é, pois, fazer com que a aceitação dos direitos universais na «letra» leve à prática concreta do seu «espírito», em toda a parte e da maneira mais eficaz, a partir da verdade sobre o homem, da igual dignidade de toda a pessoa, homem ou mulher, criada à imagem de Deus e que se tornou filha de Deus em Cristo.

No nosso planeta, toda a pessoa tem o direito de conhecer a «verdade sobre o homem» e de poder viver nele, cada um segundo a sua identidade pessoal insubstituível, com os seus dons espirituais, a sua criatividade intelectual e o seu trabalho, na família – também ela sujeito particular de direitos – e na sociedade. Cada ser humano tem o direito de desenvolver em plenitude os dons que recebeu de Deus. Por conseguinte, todo o acto que lesa a dignidade do homem e que frustra as suas possibilidades de se realizar, é um acto contrário ao desígnio de Deus para o homem e para a criação inteira.

A pastoral dos direitos humanos está, então, em relação estreita com a pró- pria missão da Igreja no mundo contemporâneo. A Igreja, com efeito, jamais pode abandonar o homem, cujo destino está ligado a Cristo de maneira estreita e indissolúvel.

4. O segundo objectivo da pastoral dos direitos humanos consiste em apresentar «as questões essenciais relativas à situação do homem hoje e no futuro» (Redemptor hominis RH 15), com objectividade, lealdade e sentido das responsabilidades.

A esse respeito, pode-se constatar que as condições económicas e sociais em que vivem as pessoas assumem uma importância particular nos nossos dias. A persistência da pobreza extrema, que contrasta com a opulência duma parte das populações, em um mundo marcado por grandes conquistas humanistas e científicas, constitui um verdadeiro escândalo, uma das situações que entravam, de modo mais grave, o pleno exercício dos direitos humanos no momento actual. Nas vossas actividades, sem dúvida tereis constatado, quase todos os dias, os efeitos causados pela pobreza e a fome, ou a impossibilidade de aceder aos serviços mais elementares, na vida das pessoas e na luta pela própria subsistência e a do seu próximo.

Com muita frequência, as pessoas mais pobres, por causa da precariedade da sua situação, tornam-se as vítimas atingidas de modo mais sério pelas crises económicas, que afectam os países em vias de desenvolvimento. A prosperidade económica, deve-se recordar, é antes de tudo o fruto do trabalho humano, dum trabalho honesto e muitas vezes penoso. A nova arquitectura da economia em escala mundial deve basear-se sobre os fundamentos da dignidade e dos direitos da pessoa, sobretudo o direito ao trabalho e à protecção do trabalhador.

Isto requer então, hoje, uma atenção renovada aos direitos sociais e económicos, no quadro geral dos direitos humanos que são indivisíveis. É necessário repelir toda a iniciativa de negar uma real consistência jurídica a estes direitos, e é preciso repetir que está empenhada a responsabilidade comum de todos os actores – poderes públicos, empresas, sociedade civil –, a fim de chegar ao seu exercício efectivo e pleno.

5. Na pastoral dos direitos humanos, a dimensão educativa assume hoje uma importância particular. A educação para o respeito dos direitos do homem levará naturalmente à criação duma verdadeira cultura dos direitos humanos, necessária para que funcione o estado de direito e para que a sociedade seja realmente fundada sobre o respeito pelo direito. Em Roma realiza-se neste momento a Conferência diplomática das Nações Unidas para a instituição dum Tribunal penal internacional. Faço votos por que esta Conferência chegue, como todos esperam, à criação duma nova instituição a fim de proteger a cultura dos direitos humanos em escala mundial.

O respeito total pelos direitos humanos poderá, de facto, ser integrado em cada uma das culturas. Os direitos do homem são, por natureza, universais, pois têm como fonte a igual dignidade de toda a pessoa. Ao reconhecer a diversidade cultural que existe no mundo e os diferentes níveis do desenvolvimento económico, convém repetir com vigor que os direitos humanos concernem a cada pessoa. Como já declarei na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano (cf. n. 2), o argumento da especificidade cultural não deve ser utilizado para encobrir violações dos direitos humanos. Mais ainda, é preciso antes promover um conceito integral dos direitos de toda a pessoa ao desenvolvimento, no sentido em que o meu predecessor Paulo VI desejava o desenvolvimento «integral», a saber, o desenvolvimento de cada pessoa e de toda a pessoa (cf. Populorum progressio, PP 14). Colocar no centro da reflexão a promoção de um só direito ou duma só categoria de direitos, em detrimento da integridade dos direitos humanos, significaria trair o espírito da própria Declaração universal.

6. A pastoral dos direitos humanos, pela sua própria natureza, deve dedicar-se de maneira particular à dimensão espiritual e transcendente da pessoa, sobretudo no contexto actual onde se manifesta a tendência a reduzir a pessoa a uma só das suas dimensões, a económica, e a considerar o desenvolvimento em termos antes de tudo económicos. Da reflexão sobre a dimensão transcendente da pessoa deriva a obrigação de proteger e promover o direito à liberdade de religião. Este Congresso pastoral dá-me a ocasião para exprimir a minha solidariedade e o meu apoio, na oração, para com todos os que, ainda hoje no mundo, não podem exercer de maneira plena e livre este direito, pessoalmente e como comunidade. Aos responsáveis das nações dirige-se o meu premente e renovado apelo a garantirem a realização concreta deste direito para todos os seus cidadãos. Junto dos crentes, com efeito, os Poderes públicos encontrarão homens e mulheres de paz, desejosos de colaborar com todos em vista de edificar uma sociedade mais justa e mais pacífica.

7. Agradeço-vos a todos, não somente a participação neste Congresso, mas também o testemunho quotidiano e a acção educativa na comunidade cristã. Convosco, faço memória do testemunho daqueles que, na nossa época, viveram a sua fidelidade à mensagem de Cristo sobre a dignidade do homem, ao renunciarem aos seus próprios direitos, por amor dos irmãos e irmãs. Confio as vossas diversas missões a Maria, Mãe da Igreja, que vos ajudará a penetrar, como Ela, no sentido mais profundo do grande mistério da Redenção do homem.

A vós, às vossas famílias e a todos os que compartilham os vossos empenhos, dou de todo o coração a Bênção Apostólica.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AO SENHOR THIERRY MUÛLS, EMBAIXADOR


DA BÉLGICA JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO


DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


: 6 de Julho de 1998





Senhor Embaixador

É-me particularmente grato acolher Vossa Excelência no Vaticano, por ocasião da apresentação das Cartas com as quais Sua Majestade o Rei Alberto II o acredita junto da Santa Sé, como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Bélgica.

Sinto-me sensibilizado, Senhor Embaixador, pelas deferentes palavras que acaba de me dirigir, manifestando o seu desejo de dar continuidade às relações profundas que unem a Sé Apostólica e a Bélgica. Ao recordar-me da recente visita feita a Roma pelo seu Soberano, ficar-lhe-ia grato se exprimisse de novo a Sua Majestade a minha alegria por o ter recebido e Lhe apresentasse os meus ardentes votos pela Sua pessoa, a Família real, os membros do Governo e o inteiro povo da Bélgica. Peço ao Senhor que conceda aos seus compatriotas a graça de viverem numa sociedade em que reine um espírito de solidariedade e de fraternidade, graças aos esforços harmoniosos e conjugados de todos.

Vossa Excelência ressaltou a atenção das Autoridades do seu país ao respeito fundamental pela dignidade do homem e dos povos, nas questões por vezes delicadas em matéria de política interior ou estrangeira. Na sua doutrina social, a Igreja não cessa de recordar que a conduta dos assuntos públicos deve pôr o homem no centro das decisões daqueles que têm o encargo de governar; o progresso não se pode realizar em detrimento das pessoas e dos povos, nem do desenvolvimento humano autêntico; compreende-se hoje que uma sociedade, no plano nacional ou internacional, que está posta sobretudo sob o primado da política ou da economia, a saber, uma «pura acumulação de bens e de serviços, mesmo em favor do maior número, não é suficiente para realizar a felicidade humana» (Sollicitudo rei socialis SRS 28). A atenção a cada pessoa e a cada povo faz parte dos elementos fundamentais da vida pública.

É também neste espírito que o conjunto dos países europeus se deve empenhar, sempre mais e de maneira concorde, para resolver questões essenciais que dependem da cooperação internacional. Em particular, as diferentes nações do continente devem enfrentar a grave situação dos Balcãs; deverão colaborar de maneira estreita para a resolução deste conflito, a fim de que os refugiados e as pessoas desabrigadas possam retornar aos seus lugares de origem, a liberdade de movimento seja concedida a todos e se ajude a reconstrução das habitações e dos edifícios públicos. De maneira mais global, a Europa é chamada a encorajar e a sustentar com firmeza a reconcilia ção entre os povos da região, e a participar no desenvolvimento económico do país, que foi amplamente enfraquecido pelos conflitos. A paz depende duma acção comum e solidária de todas as nações amigas dum continente, o que não deixará de consolidar os laços entre os países, com o apoio da Comunidade internacional.

Vossa Excelência acabou de apresentar algumas características da sociedade belga, constituída por diferentes confissões religiosas e culturas, que são chamadas não só a coexistir, mas também a intensificar o seu diálogo e as suas colaborações, para edificarem juntas uma sociedade única de muitas feições. Para os responsáveis, o problema primordial consiste então em propor um modelo social, que permita fazer com que muitas comunidades vivam juntas, no respeito pelas especificidades, mas com a preocupação de que todas as pessoas concorram para a edificação da comunidade nacional, fundada sobre os valores humanos, espirituais e morais essenciais do seu património, acima dos interesses particulares. Numerosos belgas, afligidos de modo particular pelos eventos dolorosos, quiseram que as pessoas fossem mais bem protegidas, porque a vida humana é o valor primordial e inalienável. A fim de responder a esta exigência legítima, assim como adaptar as estruturas à situação do momento e cumprir a sua missão de maneira mais apropriada junto de todos os habitantes da Bélgica, as Autoridades do seu país desejaram dar nova confiança aos cidadãos, graças às reformas das instituições federais e locais; a confiança nas pessoas e nas instituições é, com efeito, um dos elementos essenciais da vida democrática. Neste sector, os eleitos e aqueles que exercem funções públicas desempenham um papel determinante. Eles são chamados a fazer triunfar os valores morais, como o cuidado do bem comum, a equidade, a justiça, a solidariedade e a probidade, e a prestar um serviço desinteressado a todos os seus compatriotas. Devo louvar aqui as decisões corajosas tomadas pelos dirigentes do país e o trabalho humilde e escondido dos homens e das mulheres que estão ao serviço de todos os seus irmãos.

Os Governantes são convidados a dedicar renovada atenção à juventude, a cuidar da sua inserção nas organizações sociais e económicas, para não aumentar a marginalização dum número crescente de jovens e para que não se desenvolvam, em particular nas cidades e nos subúrbios, formas exacerbadas de violência e de delinquência, que tornariam frágeis as relações sociais e os relacionamentos entre as gerações. De igual modo, a família, enquanto célula de base e estrutura essencial da sociedade, deve ser privilegiada nas decisões políticas e económicas. Os pais cumprem junto dos seus filhos uma missão social de primeiro plano. Têm o encargo da sua educação moral e cívica; para o desempenhar de maneira correcta, têm necessidade de ser apoiados e ajudados pelos dirigentes.

Nos sectores da educação, da família e da saúde, nos quais tem uma longa experiência, assim como em todos os outros sectores da vida social em que os fiéis estão empenhados ao lado dos seus irmãos, a Igreja católica na Bélgica quer participar plenamente na caminhada nacional, num espírito de diálogo e de colaboração com todos os homens de boa vontade e com o papel específico que lhe é próprio. Aproveito a sua presença no Vaticano para saudar com muito afecto, por seu intermédio, os Bispos e todos os católicos da Bélgica. Conheço a sua profunda afeição ao próprio país e encorajo-os na sua vida eclesial, a fim de que manifestem, por palavras e actos, os valores espirituais, morais e humanos essenciais.

No momento em que tem início a sua missão de Representante do Reino da Bélgica junto da Sé Apostólica, dado que Vossa Excelência exprimiu a satisfação de ter sido chamado a esta nova função, apresento-lhe os meus melhores votos. Posso assegurar-lhe que encontrar á sempre junto dos meus colaboradores um acolhimento caloroso e uma compreensão atenta. Sobre Sua Majestade o Rei Alberto II e a Família real, sobre o povo belga e todos os que têm a responsabilidade dos destinos do país no limiar do Terceiro Milénio, sobre Vossa Excelência, os seus familiares e o pessoal da Embaixada, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.



MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II


AO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO


DA «RÁDIO POPULAR-REDE COPE»








A Sua Ex.cia o Senhor Salvador SÁNCHEZ TERÁN
Presidente do Conselho de Administração da «Rádio Popular-Rede COPE»

1. É-me grato enviar uma cordial saudação aos participantes na Assembleia anual dos Directores de todas as emissoras da COPE e associadas e dos Directores dos principais programas, que nestes dias tem lugar na Cidade Eterna. Com ela quisestes dar uma demostração significativa dos vossos sentimentos de adesão e afecto ao Sucessor do Apóstolo São Pedro, assim como da vossa proximidade à Santa Sé, com o olhar voltado para o acontecimento singular que é o próximo Grande Jubileu do Ano 2000.

Agradeço-vos deveras este gesto, que é muito eloquente. No último dia da Assembleia os seus participantes vão ter a oportunidade de assistir à Audiência geral, que congrega todas as quartas-feiras tantos peregrinos em torno do Papa e, nessa ocasião, poderão receber, juntamente com algumas palavras de encorajamento, a Bênção Apostólica. Mas enquanto não chega esse momento, quero antecipar-vos a minha saudação e renovar-vos as expressões de apreço e de agradecimento pelo vosso contributo, através das ondas radiofónicas, à missão da Igreja de anunciar Jesus Cristo aos homens e mulheres do nosso tempo.

2. A origem da rede de emissoras da Rede COPE remonta àquelas emissoras paroquiais, promovidas pelo zelo apostólico de sacerdotes e leigos católicos, que nos anos 60 animavam a vida nos povoados e cidades da Espanha. Não faltaram tampouco emissoras diocesanas cujo âmbito e possibilidades eram certamente maiores. Aquelas e estas se fundiram, e assim surgiu a Rede COPE dos nossos dias. A partir de então e ao longo de quase quarenta anos, muitos homens e mulheres ofereceram o seu trabalho e optimismo, nem sempre com abundância de meios, mas sempre animados por um espírito apostólico, criativo e entusiasta.

Hoje os tempos mudaram. O progresso técnico proporcionou meios poderosos e já não é a carência material ou os instrumentos que actualmente dificultam o trabalho dos comunicadores sociais. Um grande desafio dos nossos dias consiste em saber canalizar o imenso poder dos modernos meios de comunicação social, a fim de contribuir para o desenvolvimento de uma vida mais digna e elevada. A respeito disso, eu escrevia na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano: «Nunca se deve esquecer que a comunicação transmitida através dos meios de comunicação social, não é um exercício utilitarista, com a simples finalidade de solicitar, persuadir ou vender. Tampouco é um veículo para ideologias. Os meios de comunicação social, por vezes, podem reduzir os seres humanos a unidades de consumo ou a grupos de interesse em competição entre si, ou manipular telespectadores, leitores e ouvintes como meras cifras das quais se esperam vantagens, quer elas estejam relacionadas com um apoio de tipo político ou com a venda de produtos» (n. 4).

Diante disto, na COPE deveis ter claros os objectivos e as motivações. A Conferência Episcopal Espanhola, que segue com solicitude a vossa actividade e que nesta reunião se fez presente por meio do seu Presidente, D. Elías Yañes, Arcebispo de Saragoça, estabeleceu um ideário, assumido por vós, com a finalidade de aplicar de modo concreto na realidade o que a Igreja ensina sobre o papel dos meios de comunicação na sociedade.

O carácter católico da COPE deve evitar equívocos e compromete todos vós à coerência com os princípios e valores do humanismo cristão. Ele não supõe necessariamente identificar-se com um modo de transmitir programas radiofónicos, cujo conteúdo seja explícita e exclusivamente religioso, ainda que esta seja uma forma muito válida, estimada e seguida por algumas emissoras. Na COPE optastes por um modelo de rádio mais geral, que pretende chegar a um número maior de pessoas, assumindo assim horizontes mais amplos. Contudo, isto não vos deve impedir de procurar levar a mensagem e a paz de Jesus Cristo a todos, aos que estão perto e aos distantes (cf. Ef Ep 2,17), inclusive àqueles que não mostram interesse por Ele. Isto obriga-vos a um esforço por manter o equilíbrio, alerta-vos a dominar a tensão entre o humano e o divino, entre o Evangelho e o materialismo, entre os valores perenes anunciados por Jesus Cristo e os postulados pela secularização.

3. Os cristãos que trabalham nos meios de comunicação social têm diante de si um grande desafio, ao qual já me referia na citada mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais: «não só a utilizar os meios de comunicação para difundir o Evangelho, mas também a inserir a mensagem evangélica na "nova cultura" criada pela moderna comunicação, com as suas "novas linguagens", novas técnicas e novas atitudes psicológicas» (n. 5). Neste sentido, deles é exigido um compromisso sério: por um lado, levar a cabo com alegria a acção evangelizadora explícita, sob a guia do Espírito Santo e do Magistério dos Pastores, através de uma linguagem expressiva e persuasiva; por outro, assumir as realidades do mundo presente, propondo-as aos homens e mulheres do nosso tempo no contexto da cosmovisão cristã que abrange a pessoa, a sociedade e a inteira natureza.

Além disso, deve-se ter em conta a importância transcendental que tem o testemunho pessoal e profissional de quantos trabalham na Rede COPE. Por isso, encorajo-vos a não sucumbir a tentações, tão subtis e enganosas, como a ambição, a vaidade, o dinheiro ou a popularidade. Ponde-vos com simplicidade à disposição de quantos esperam de vós o inestimável serviço da informação rigorosa, a opinião ponderada, a chamada à convivência plural, respeitosa e pacífica e, enfim, ao amor com raízes cristãs.

4. Finalmente quero referir-me ao grande acontecimento que nos espera e para o qual nos estamos a preparar: o Grande Jubileu do Ano 2000. Nele a Igreja vai celebrar o bimilenário da vinda de Cristo ao mundo, que é o acontecimento principal de toda a história, a plenitude dos tempos (cf. Gl Ga 4,4), o início do cristianismo. Jesus Cristo é o centro do cosmos e da história, o alfa e o ómega, o princípio e o fim. Diante deste acontecimento, é preciso apresentar com vigor o interrogativo que, no ano passado, propus aos comunicadores: «Existe, contudo, um lugar para Cristo nos mass media tradicionais? Podemos reivindicar um lugar para Ele na nova mídia?» (Mensagem para o XXXI Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de Janeiro de 1997). Por isso, exorto-vos a que redobreis os esforços para que Jesus Cristo, Palavra de Deus, esteja presente e guie os vossos passos numa tarefa tão nobre como a que realizais na Rede COPE.

A todos vós, aos trabalhadores e colaboradores da COPE, aos vossos familiares e aos ouvintes radiofónicos é-me grato conceder nesta circunstância a implorada Bênção Apostólica.



Vaticano, 6 de Julho de 1998.



DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II


AOS BISPOS ESPANHÓIS POR OCASIÃO


DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


7 de Julho de 1998





Queridos Irmãos no Episcopado!

1. É para mim motivo de alegria ter este encontro por ocasião da vossa visita «ad Limina», na qual o Senhor nos concede a oportunidade de vivermos com renovada intensidade, junto do túmulo dos Apóstolos Pedro e Paulo, a experiência de comunhão eclesial na caridade e de fidelidade à fé recebida, fortalecendo o compromisso evangelizador e avivando o ministério de continuarmos a missão confiada por Cristo aos Apóstolos.


Discursos João Paulo II 1998