Homilias JOÃO PAULO II 1157


DURANTE A CERIMÓNIA DE BEATIFICAÇÃO


DE DOZE SERVOS DE DEUS


10 de Maio de 1998




1. «[Eu, João] vi... descer do Céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, uma Jerusalém nova» (Ap 21,1-2).

A maravilhosa visão da Jerusalém celestial, que a hodierna Liturgia da Palavra nos repropõe, conclui o livro do Apocalipse e a inteira série dos livros sagrados que compõem a Bíblia. Com esta grandiosa descrição da Cidade de Deus, o autor do Apocalipse indica a definitiva derrota do mal e a consecução da comunhão perfeita entre Deus e os homens. É precisamente para esta meta final que a história da salvação tende desde o princípio.

Perante a comunidade dos fiéis, chamados a anunciar o Evangelho e a testemunhar a própria fidelidade a Cristo, mesmo no meio de provações de vários géneros, eis que brilha a meta suprema: a Jerusalém celestial! Todos nós caminhamos rumo a tal meta, onde no decurso dos séculos já nos precederam os Santos e os Mártires. Na nossa peregrinação terrena estes nossos irmãos e irmãs, que passaram vitoriosos através da «grande tribulação», servem-nos de exemplo, estímulo e encorajamento. A Igreja, que «continua a sua peregrinação entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus» (Santo Agostinho, De civitate Dei, XVIII, 51, 2), sente-se sustentada e encorajada pelo exemplo e pela comunhão da Igreja celeste.

1158 2. Na gloriosa plêiade dos Santos e dos Beatos, que desfrutam da visão de Deus, contemplamos de modo particular os ilustres irmãos e irmãs na fé, que hoje tenho a alegria de elevar às honras dos altares. Eles são: Rita Dolores Pujalte Sánchez e Francisca do Sagrado Coração de Jesus Aldea Araújo; Maria Gabriela Hinojosa e seis Companheiras; Maria Sacrário de São Luís Gonzaga Elvira Moragas Cantarero; Nimatullah Al-Hardini Youssef Kassab; e Maria Maravillas de Jesus Pidal y Chico de Guzmán.

Com experiências muito diversas e em contextos bastante diferentes, eles viveram de maneira heróica uma única e perfeita adesão a Cristo e uma mesma caridade ardente para com o próximo.

3. Ao beatificar o Padre Nimatullah Al-Hardini, monge libanês maronita, em primeiro lugar quereria dar graças pela minha viagem ao País dos cedros, há exactamente um ano. Hoje é uma nova festa para os libaneses do mundo inteiro, pois um dos seus irmãos é proposto como modelo de santidade. Ao longo de toda a sua vida monástica, o novo Beato encarna de bom grado as palavras dos discípulos de Cristo, que escutámos na leitura dos Actos dos Apóstolos: «É preciso que passemos por muitas provas para entrarmos no Reino de Deus».

Esta mesma leitura mostra-nos também os diferentes aspectos da missão: a oração, o jejum e o anúncio do Evangelho. Mediante a sua ascese rigorosa, as prolongadas orações diante do Santíssimo Sacramento, o cuidado pela investigação teológica e a solicitude misericordiosa para com os seus irmãos, o Beato Al-Hardini constitui um exemplo de vida cristã e monástica, tanto para a comunidade maronita como para todos os discípulos de Cristo no nosso tempo. Como eu o recordava na Exortação apostólica pós-sinodal Uma esperança para o Líbano, evocando São Basílio, «uma vida moral e ascética conforme ao compromisso assumido suscita a reconciliação entre as pessoas» (n. 53). O novo Beato já constitui um sinal de esperança para todos os libaneses, em especial para as famílias e os jovens. Homem de oração, exorta os seus irmãos a terem confiança em Deus e a empenharem-se com todas as suas forças na sequela de Cristo, a fim de construírem um porvir melhor. O Líbano continue a ser uma terra de testemunhas e de santos, tornando-se cada vez mais uma terra de paz e de fraternidade!

4. No Evangelho proclamado nesta celebração nós escutámos: «Dou-vos um mandamento novo: [...] Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros» (
Jn 13,34). A Madre Rita Dolores Pujalte e a Madre Francisca Aldea, que hoje são elevadas à glória dos altares, seguiram Jesus fielmente, amando como Ele até ao fim e padecendo a morte pela fé, em Julho de 1936.

Pertenciam à comunidade do Colégio de Santa Susana, de Madrid, das Irmãs da Caridade do Sagrado Coração, que haviam decidido permanecer no seu lugar apesar da perseguição religiosa desencadeada naquela época, para não abandonar as órfãs que eram por elas ali assistidas. Este heróico acto de amor e entrega abnegada pelos irmãos custou a morte à Madre Rita e à Madre Francisca que, embora estivessem enfermas e fossem idosas, foram capturadas e mortas a tiros. O supremo mandamento do Senhor tinha-se arraigado profundamente nelas durante os anos da sua consagração religiosa, vividos em fidelidade ao carisma da Congregação. Elas alcançaram o martírio crescendo no amor pelos necessitados, que não cede diante dos perigos e, se for necessário, não evita o derramamento do próprio sangue. O seu exemplo constitui uma exortação a fim de que todos os cristãos amem como Cristo ama, não obstante as grandes dificuldades.

5. «Se tiverdes amor uns para com os outros, isto constituirá o sinal mediante o qual reconhecerão que sois Meus discípulos». Como se podem aplicar bem estas palavras do Evangelho de hoje à Irmã Gabriela Hinojosa e às suas seis Companheiras, mártires filhas espirituais de São Francisco de Sales em Madrid, também em 1936! A obediência e a vida consagrada em comunidade são elementos fundamentais da vida consagrada. Assim o entenderam elas, que apesar da perseguição permaneceram em Madrid por obediência a fim de acompanharem a sorte do mosteiro, embora fosse de um lugar próximo.

Assim, sustentadas pelo silêncio, a oração e o sacrifício, foram-se preparando para o holocausto, generosamente oferecido a Deus. Enquanto as honramos como mártires de Cristo, elas iluminam-nos com o seu exemplo, intercedem por nós e aguardam-nos na glória. A sua vida e a sua morte sirvam de exemplo para as Visitandinas, cujos mosteiros estão espalhados pelo mundo inteiro, atraindo-lhes numerosas vocações que sigam o dócil e suave espírito de São Francisco de Sales e de Santa Joana Francisca de Chantal.

6. O livro do Apocalipse apresentou-nos a visão de Jerusalém, «pronta como uma esposa que se enfeitou para o seu marido» (21, 2). Embora estas palavras se refiram à Igreja, podemos aplicá-las inclusivamente às Carmelitas Descalças que foram proclamadas Beatas nesta celebração, tendo alcançado o mesmo ideal ao longo de diferentes caminhos: a Madre Sacrário de São Luís Gonzaga e a Madre Maravillas de Jesus. Com o adorno das virtudes cristãs, das qualidades humanas e da abnegação ao Senhor no Carmelo teresiano, hoje ambas aparecem aos olhos do povo cristão como esposas de Cristo.

A Madre Maria Sacrário, farmacêutica na sua juventude e modelo cristão para os que exercem esta nobre profissão, abandonou tudo a fim de viver unicamente para Deus em Cristo Jesus (cf. Rm Rm 6,11), no mosteiro das Carmelitas Descalças de Santa Ana e de São José, em Madrid. Ali amadureceu a sua abnegação ao Senhor e d'Ele aprendeu a servir e a prodigalizar-se pelos irmãos. Por isso, nas turbulentas vicissitudes de Julho de 1936, teve a coragem de não delatar sacerdotes e amigos da comunidade, enfrentando com integridade a morte pela sua condição de Carmelita e para salvar outras pessoas.

7. A Madre Maravillas de Jesus, também ela Carmelita Descalça, constitui outro exemplo luminoso de santidade que hoje a Igreja propõe à veneração dos fiéis, proclamando-a Beata. Esta insigne madrilena procurou Deus durante a vida inteira, consagrando-se inteiramente a Ele na vida recolecta do Carmelo. Fundou um mosteiro no «Cerro de los Ángeles», centro geográfico da Espanha, junto do monumento ao Sagrado Coração, ao qual a Nação se consagrara. Devendo deixar o mosteiro por causa da guerra civil, empenhou-se com todas as forças para assegurar a sobrevivência da Ordem, o que a levou a criar numerosas fundações, as quais ela quis que fossem presididas pelo espírito de penitência, oblação e recolhimento, característico da reforma teresiana.

1159 Pessoa muito conhecida na sua época, ela soube aproveitar tal circunstância para atrair muitas almas a Deus. Destinava os subsídios que recebia para ajudar mosteiros, sacerdotes, seminários e obras religiosas em necessidade. Por isso, são inumeráveis as pessoas que lhe estão gratas. Foi priora durante quase toda a sua vida religiosa, tendo sido como uma verdadeira mãe para as suas irmãs. Viveu animada por uma fé heróica, plasmada na resposta a uma vocação austera, colocando Deus como centro da sua existência. Depois de passar por não poucas provas, faleceu repetindo: «Que felicidade é morrer como Carmelita!». A sua vida e a sua morte constituem uma eloquente mensagem de esperança para o mundo, tão necessitado de valores e, em determinadas ocasiões, tão tentado pelo hedonismo, pela vida fácil e pela existência sem Deus.

8. «Todas as tuas obras te agradeçam, Javé, e os teus fiéis te bendigam» (
Ps 145 [144], 10). Juntamente com Maria, Rainha dos Santos, e com toda a Igreja, damos graças a Deus pelas grandes obras que Ele realizou nestes nossos irmãos e irmãs, que resplandecem como faróis de esperança para todos. Eles constituam para a inteira comunidade, já no limiar do Terceiro Milénio cristão, um vigoroso apelo aos perenes valores do espírito.

Tornando nossas as palavras da Liturgia, louvemos o Senhor pela preciosa dádiva destes Beatos, que enriquecem o rosto da Igreja com um renovado esplendor. «Cantai ao Senhor um cântico novo, porque realizou maravilhas» (Antífona da Entrada). Sim, cantemos a Deus que revelou a sua Salvação a todos os povos. Cada um de nós responde no próprio coração: «Bendirei o vosso Nome para sempre, Senhor». O vosso Reino é reino de todos os séculos, o vosso Domínio estende-se a todas as gerações» (cf. Salmo responsorial).

Amém!





HOMILIA DE JOÃO PAULO II


NO ENCERRAMENTO DA ASSEMBLEIA ESPECIAL


DO SÍNODO DOS BISPOS PARA A ÁSIA


14 de Maio de 1998




1. «Jubilate Deo, omnis terra, psalmum dicite gloriae nominis eius» (Ps 65 [66], 1-2).

A Assembleia sinodal que está para se concluir, como as outras que já convoquei em preparação para o Grande Jubileu do Ano 2000, quer responder à exortação que hoje a Liturgia nos dirige: «Aclamai ao Senhor, toda a terra, cantai a glória do Seu nome, tornai glorioso o Seu louvor». O salmista convida a terra a louvar a Deus; e nós, na passagem epocal que estamos a viver, sentimos de modo particular a necessidade de Lhe dar glória. É este o primeiro motivo por que os Bispos da Igreja se reúnem nas assembleias sinodais regionais e continentais.

Depois do Sínodo para a África, que se realizou há quatro anos, em 1995 teve lugar a Assembleia Especial para o Líbano. No Verão do ano passado tiveram lugar os trabalhos do Sínodo para a América, que viu representantes dos Episcopados da América do Norte, Central e do Sul, e do Caribe reflectirem e confrontarem-se sobre a situação da Igreja nos seus respectivos Países.

Hoje, ao contrário, concluímos o encontro sinodal dos Pastores das Comunidades eclesiais do continente asiático. Este Sínodo foi em si mesmo um cântico de louvor a Deus. Com efeito, não foi talvez este o primeiro objectivo dos nossos trabalhos? Quisemos exprimir, com todo o nosso aprofundamento, a glória que as Igrejas desse vastíssimo continente prestam a Deus, Criador e Pai. Em todos os ângulos do mundo, com efeito, o serviço da Igreja está voltado para o homem vivo, que é a autêntica glória de Deus.

Louvam a Deus as terras da Ásia e os oceanos que as circundam, a cadeia do Himalaia com o mais alto cume do mundo, e os enormes rios. Cantam louvor a Deus as cidades ricas de tradições milenárias, as seculares culturas do Continente com as suas civilizações bem mais antigas do que a europeia.

Esta multiforme e silenciosa homenagem ao Criador encontra o seu definitivo cumprimento no homem, que presta louvor a Deus dum modo que Lhe é próprio, exclusivo e irrepetível. Emerge claramente da experiência sinodal que todos os que habitam em cada ângulo da Ásia – da Índia à China, do Japão à Indonésia, da Indonésia a todas as outras Nações, das alturas do Tibete aos desertos da Ásia Central – quando interpretam o inefável mistério das plurimilenárias e várias tradições religiosas asiáticas, procuram exprimi-lo na oração e na contemplação.

1160 2. «Fui Eu que vos escolhi e vos destinei para irdes e dardes fruto, e para que o vosso fruto permaneça» (Jn 15,16). Jesus no Cenáculo, na vigília da Sua paixão, confia aos Apóstolos a tarefa de prosseguirem a Sua missão entre os homens. A Sua palavra de salvação, graças à dócil cooperação de inúmeras testemunhas do Evangelho, difundiu-se em quase todas as partes do globo, ao longo destes dois milénios. No Evangelho há pouco proclamado, o Senhor sublinha que Ele mesmo escolheu e constituiu os Seus discípulos, para irem pelo mundo e produzirem duradouros frutos de salvação.

Um destes é São Matias, cuja festa celebramos hoje: ele foi associado aos onze Apóstolos depois da traição de Judas, para ser «testemunha da ressurreição» de Cristo. A respeito dele foram transmitidas poucas notícias; só sabemos que anunciou o Evangelho com coragem e morreu mártir.

Segundo a tradição, a levar o Evangelho à Índia e ao coração da Ásia foi o apóstolo Tomé, e a partir de então até aos nossos dias muitos outros missionários percorreram o imenso continente asiático e empreenderam a sua evangelização, anunciando Jesus Cristo, o Verbo que Se fez homem, morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia para remir o mundo.

Testemunhas da ressurreição do Senhor, eles indicaram uma nova via a povos que, seguindo as suas tradições filosóficas e religiosas, estavam habituados a procurar o Absoluto no imenso oceano do ser. Os evangelizadores seguiram o exemplo do apóstolo Paulo, fazendo eco da sua exortação: «Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto» (Col 3,1).

3. Se é verdade que Deus está no mundo e que Lhe é própria uma certa imanência, é verdade antes de tudo que Ele é transcendente, «acima» do mundo e portanto não pode ser identificado com ele. Não se pode procurá-l'O no mundo, como se fosse somente o mistério mais profundo de tudo aquilo que é visível. Ao contrário, é preciso procurá-l'O antes «lá no alto». Ele é o Senhor do céu e da terra. Em virtude da Sua absoluta transcendência, o Filho de Deus desceu sobre a terra, fez-Se homem nascendo de uma Virgem, viveu e sofreu a morte pela Verdade que anunciava. Antes, na realidade não sofreu a morte, mas mediu-Se com ela. Não deixou que ela prevalecesse, mas rompeu-lhe os ligames e voltou ao Pai, do Qual tinha saído. Deste modo, Cristo indicou ao homem vivo sobre a terra que o seu destino é a união com Deus: criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano não se pode realizar senão na união com Ele, seu Criador e Redentor.

Sim, em Jesus Cristo o Pai criou o mundo; n'Ele remiu-o. Cristo, com a Sua morte e ressurreição, anunciou e realizou a verdade sobre a criação e sobre a redenção e, por fim, confiou-a à Igreja, como conteúdo do Seu perene mandato missionário.

4. Jesus transmitiu esta verdade salvífica aos discípulos juntamente com o «Seu» mandamento: «Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei» (Jn 15,12).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, que formastes a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Ásia! Hoje o Senhor crucificado e ressuscitado repete-vos estas mesmas palavras, renovando-vos o convite a evangelizar o vosso continente. De modo particular a vós, venerados Irmãos no Episcopado, Ele diz: «Fui Eu que vos escolhi e vos destinei para irdes e dardes frutos, e para que o vosso fruto permaneça» (Jn 15,16). E a todos: «Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros» (Jn 15,17).

Como Sucessor do apóstolo Pedro, tenho a honra e a alegria de fazer eco destas palavras, depois de ter compartilhado convosco, nos dias passados, a extraordinária experiência do Sínodo. Juntos fizemos uma renovada experiência do amor de Cristo, e juntos constatámos os frutos da obra do Espírito Santo na Ásia. A missão evangelizadora da Igreja é serviço de amor ao continente asiático. E embora a Comunidade cristã represente apenas «um pequeno rebanho» em relação ao conjunto da população, Deus realiza por meio dela um Seu desígnio de salvação que levará a termo, se encontrar generosa e pronta cooperação da parte de todos.

Caríssimos, quereria precisamente por isso repetir-vos: permanecei no amor do Senhor, como ramos na videira (cf. Jo Jn 15,5), e haveis de produzir frutos abundantes de vida nova entre as populações da Ásia.

5. Entre os povos daquele grande Continente não posso deixar de mencionar, em particular, a nação chinesa, que é a mais numerosa. A vós, caríssimos irmãos e irmãs da Igreja católica que está na China continental, desejo expressar, mais uma vez, o meu afecto e dizer como é vivo o pesar pelo facto de o Bispo de Wanxian e o seu Coadjutor não terem podido vir a Roma para participar pessoalmente nos trabalhos do Sínodo. As palavras com que o Bispo Matthias Tuan In-min expressou a fidelidade ao Sucessor de Pedro e a comunhão com a Igreja universal, tocaram o nosso coração. Os Padres Sinodais, provenientes de todos os Países da Ásia, sempre consideraram presentes os seus Coirmãos chineses e nutrem a esperança de que, quanto antes, sejam superadas as presentes dificuldades, de maneira que numa próxima ocasião aqueles Bispos possam encontrar-se com os outros Pastores da Igreja.

1161 Nós todos fazemos votos por que, enquanto a República Popular da China se abre cada vez mais ao resto do mundo, também à Igreja na China seja consentido abrir-se sempre mais à Igreja universal. Pedimos ao Espírito Santo que derrame os Seus dons sobre os fiéis chineses e os guie para a verdade total (cf. Jo Jn 16,13), a fim de que o anúncio do Evangelho na China, embora entre numerosos sofrimentos, seja rico de frutos.

6. Na Liturgia do tempo pascal acompanha-nos a leitura dos Actos dos Apóstolos, que nos ajuda a compreender como também nos nossos dias a Igreja não cessa de acrescentar novos capítulos à história da salvação. Assim como Lucas redigiu os «Actos» a fim de que as futuras gerações dos cristãos não esquecessem a sua origem apostólica, de igual modo nós, com esta Assembleia sinodal, escrevemos mais uma página de vida eclesial no continente asiático do nosso século. Num certo sentido, ela vai juntar-se àquela dos «Actos dos Apóstolos».

Estendendo o olhar para a Ásia inteira, os trabalhos sinodais permitiram-nos ver de que modo o Evangelho está enraizado naquele grande continente no decurso destes dois mil anos. Nele, certamente, os cristãos continuam a ser numericamente uma minoria, e uma situação deste género constitui para eles como que um desafio contínuo. A Igreja é por ele estimulada a oferecer o seu testemunho com particular coragem. Como esquecer que Jesus nasceu naquela singular encruzilhada, onde a Ásia se une com a África e a Europa? Ele veio ao mundo para todos os continentes, mas para a Ásia de modo particular, e a Ásia poderia orgulhar-se, quanto a isto, de um direito de prioridade. Cristo viveu numa parte da Ásia; ali realizou a obra da redenção do mundo; ali instituiu a Eucaristia e os outros sacramentos; ali ressuscitou.

7. «Durante todo o tempo que viveu no meio de nós, a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto» (Ac 1,21-22), Jesus, nascido na Ásia, lançou naquele continente a semente da salvação para todos os povos.

No final do segundo milénio, o caminho dos sucessores dos Apóstolos continua em todos os ângulos do continente asiático, onde eles anunciam a mesma verdade e o fazem com o mesmo e imutável ardor apostólico e missionário, repetindo e testemunhando: «Jesus Cristo é o Senhor».

Caríssimos Irmãos e Irmãs, prossegui esta missão de amor e de serviço na Ásia. Sustente-vos a materna protecção de Maria, Mãe da Igreja e do povo asiático; intercedam por vós os mártires, os Santos e os Beatos da Ásia. Permanecei fiéis ao amor de Cristo, que vos chamou e vos constituiu Seus discípulos «para irdes e dardes fruto, e para que o vosso fruto permaneça» (Jn 15,16).

Amém!







NA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA


NA PARÓQUIA ROMANA


DE SANTA MARIA DA ASSUNÇÃO


17 de Maio de 1998




1. «O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito» (Jn 14,26).

Durante a última Ceia, antes de enfrentar os acontecimentos dramáticos da paixão e morte na Cruz, Jesus promete aos Apóstolos o dom do Espírito. O Espírito Santo terá a missão de «ensinar» e de «recordar» as Suas palavras à comunidade dos discípulos. No momento em que está para retornar ao Pai, o Verbo encarnado prenuncia a vinda do Espírito que ajudará os discípulos a compreenderem profundamente o Evangelho, a interiorizarem-no na sua existência e a tornarem-no vivo e operante através do testemunho pessoal.

A partir de então, os crentes continuam a ser guiados pelo Espírito Santo. Graças à Sua acção, eles compreendem com consciência sempre maior as verdades reveladas. É quanto sublinha o Concílio Vaticano II a propósito da tradição viva da Igreja, que «sob a assistência do Espírito Santo... tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus» (Const. dogm. Dei Verbum DV 8).

1162 2. «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos» (Ac 15,28).

Desde os inícios, a comunidade apostólica de Jerusalém sente-se responsável por conservar fielmente o património de verdade que Jesus lhe deixou. Ela está consciente também de poder contar com a assistência do Espírito Santo, que guia os seus passos; por isso, com docilidade a Ele recorre em todas as ocasiões. Vemo-lo também naquilo que é referido pela primeira Leitura, tirada do Livro dos Actos dos Apóstolos. Depois de terem reflectido sobre as obrigações a impor aos pagãos que se convertiam ao cristianismo, os Apóstolos escrevem às comunidades gregas: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos» (Ibid.).

Pedro, Tiago, Paulo e os outros Apóstolos estão bem conscientes da tarefa que lhes fora confiada pelo Senhor. Eles devem prosseguir a Sua missão salvífica, com generosa disponibilidade em relação ao Espírito Santo, para que em toda a parte se difunda o Evangelho, semente de nova humanidade. É esta uma condição indispensável para que o Reino de Deus progrida pelas estradas da história.

3. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Paróquia de Santa Maria da Assunção no «Tufello»! Sinto-me muito contente por estar hoje aqui no meio de vós, e conhecer a vossa Comunidade e o vosso bairro. Obrigado pelo acolhimento caloroso. A vossa Paróquia, situada numa zona periférica da Cidade, tem muitos traços em comum com a de Santo Estêvão Protomártir em «Tor Fiscale», que tive ocasião de visitar no dia 26 de Abril passado. Também aqui, de facto, infelizmente não faltam preocupações e problemáticas sociais de notável relevo.

Penso, por exemplo, na ausência de lugares de agregação, na grande taxa de desemprego, na presença de tantas pessoas anciãs, necessitadas de cuidado e de assistência, no triste fenómeno da droga, sem que existam a nível local iniciativas de prevenção e de recuperação dos toxicómanos. Neste contexto, adquirem ainda mais valor os esforços que estais a fazer para responder a estes desafios, com intervenções concretas e animadas por generosa dedicação.

Hoje, vim até vós para vos exprimir o meu apreço por tudo o que estais a fazer, em comunhão com a inteira Comunidade diocesana, e encorajo-vos a prosseguir no vosso empenho social e pastoral. Com deferência saúdo o Presidente da Câmara Municipal e as autoridades presentes.

Saúdo cordialmente o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector e o vosso jovem Pároco, Padre Rosário Matera, que dentro de poucos dias celebrará o décimo aniversário de Ordenação sacerdotal: vê-se e sente-se que é jovem. A ele desejamos um generoso e fecundo ministério. O meu afectuoso pensamento estende-se aos Sacerdotes que colaboram nas actividades da Paróquia e ao Pároco anterior, Mons. Luigi Carletti, que durante vinte anos guiou esta vossa família paroquial.

Saúdo as Religiosas da «Sagrada Família do Sagrado Coração», que oferecem o seu precioso serviço aos idosos na casa de repouso por elas cuidada, e as «Irmãs dos Anjos, Adoradoras da Santíssima Trindade» que, além de assegurarem uma diligente colaboração nas actividades paroquiais, administram uma escola materna e elementar. A minha saudação dirige-se a todos os membros dos vários Grupos paroquiais, que sei estarem intensamente empenhados em fazer com que a Paróquia exprima sempre melhor a própria identidade de «família de famílias», centro de agregação social para o inteiro bairro, lugar onde se cresce na atenção às necessidades das pessoas e se anuncia com coragem o Evangelho, favorecendo o encontro com Cristo Senhor.

4. Caríssimos Irmãos e Irmãs, para alcançar estes objectivos apostólicos, a vossa Comunidade colocou justamente como centro e fulcro da sua acção missionária o anúncio de Cristo, para suscitar e alimentar a fé, a Liturgia para a celebrar com alegria e a caridade para a testemunhar de maneira efectiva. Sei que, graças à Missão da Cidade, no âmbito da vossa Paróquia cerca de cento e vinte missionários visitaram casa por casa e foram organizados trinta centros de escuta, preparando assim a visita pastoral a todas as famílias, que o Pároco tem em vista realizar no próximo ano. Alegro-me e congratulo-me por este fervor de iniciativas espirituais, estimuladas pela Missão! Continuai a estar presentes de maneira capilar no território com um autêntico espírito missionário. Sede uma Comunidade inteiramente missionária, que como fermento faz levedar a esperança no bairro.

O tempo de graça da Missão da Cidade conduza esta vossa acção evangelizadora lá onde as pessoas vivem, estudam e trabalham, aos lugares da alegria e do sofrimento, da festa e do desenrolar-se quotidiano dos eventos.

E não vos desanimeis, se por vezes as forças vos devessem parecer limitadas ou inadequadas à amplitude da missão. No Evangelho hodierno, Jesus assegura que o Consolador, o Espírito Santo enviado pelo Pai no nome de Jesus, está sempre connosco. Ele é o principal agente da obra da nova evangelização. Ele ensina aos discípulos, e portanto também a vós, todas as coisas e recorda-nos tudo aquilo que Jesus disse.

1163 5. «O Senhor, Deus Todo-Poderoso, é o seu Templo, assim como o Cordeiro» (Ap 21,22).

A visão da Cidade celeste, descrita pelo Livro do Apocalipse, faz-nos dirigir o olhar à meta para a qual tende o caminho da inteira humanidade: a comunhão perfeita com Deus.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, sustentados por esta esperança e atraídos pelo fulgor da luz divina, intensifiquemos os passos do nosso itinerário espiritual em direcção do Senhor. Enquanto se aproxima o Grande Jubileu do Ano 2000, neste ano dedicado de modo particular ao Espírito Santo, invoquemos com fé a Sua presença viva e o Seu sustento.

O Espírito Santo ilumine todos nós e, em particular, a vossa Comunidade paroquial; torne-a pronta a acolher os Seus sete santos dons, corajosa e intrépida em anunciar com alegria a todos Jesus morto e ressuscitado, salvação de todos aqueles que a Ele recorrem com confiança.

Maria, que neste mês de Maio se faz peregrina nas casas da vossa Paróquia, com a visita da sua venerada imagem, vos proteja com o seu auxílio materno. Torne-vos discípulos sempre mais conformes ao seu divino Filho e faça da vossa Paróquia uma Comunidade de irmãos prontos a testemunhar o Evangelho com a vida.

Amém!





VISITA PASTORAL À ARQUIDIOCESE DE VERCELLI E DE TURIM


JOÃO PAULO II

DURANTE O RITO DE BEATIFICAÇÃO


DE TRÊS SERVOS DE DEUS


24 de Maio de 1998

«... o Espírito Santo descerá sobre vós, e d'Ele recebereis força para serdes Minhas testemunhas» (Ac 1,8).


1. Jesus pronuncia estas palavras antes da Sua ascensão ao Céu. Com elas, delineia para a Sua Igreja o futuro programa, a missão, e chama todos os que foram testemunhas a realizá-lo.

Em primeiro lugar os Apóstolos, que tinham «visto» os acontecimentos da paixão: amedrontaram-se quando Ele foi crucificado e exultaram, depois, com a Sua ressurreição. No mistério pascal, Cristo manifesta assim toda a verdade da Sua filiação divina e da Sua missão messiânica. No caminho de Emaús, explica aos dois discípulos que o Messias tinha que suportar todas estas coisas para entrar na glória do Pai (cf. Lc Lc 24,26). Quando chegou o momento de deixar a terra para retornar ao Céu, pediu aos «Seus» que testemunhassem estes acontecimentos em Jerusalém, na Judeia, em Samaria e no mundo inteiro.

O ensinamento que eles deverão propagar não é um sistema abstracto de ideias, mas a Palavra referente a uma realidade viva. É precisamente em virtude desta Palavra, que a Igreja se difundirá em todo o mundo.

1164 Esta Palavra, levada além dos confins da Palestina pelas primeiras testemunhas, gerou uma multidão de outras testemunhas em todos os recantos do globo. Da maior parte deles não conhecemos os nomes; mas de alguns, é muito viva a memória na Igreja. É assim, por exemplo, para aqueles que hoje são proclamados Beatos aqui em Turim: Teresa Bracco, João Maria Boccardo e Teresa Grillo Michel.

2. O Padre João Maria Boccardo foi um homem de profunda espiritualidade e, simultaneamente, apóstolo dinâmico, promotor da vida religiosa e do laicado, sempre atento a discernir os sinais dos tempos. Na escuta orante da palavra de Deus, maturou uma fé vivíssima e profunda. Escrevia: «Sim, meu Deus, aquilo que Tu queres, também eu o quero».

E que dizer do seu incansável zelo pelos mais pobres? Soube inclinar-se sobre toda a miséria humana com o espírito de S. Caetano de Thiene, espírito que transmitiu à Congregação feminina por ele fundada para a assistência aos idosos, aos que sofrem e para a educação da juventude. Tornou sua a máxima evangélica: «em primeiro lugar buscai o Reino de Deus e a sua justiça» (
Mt 6,33).

Como o Santo Cura de Ars, do qual era devoto, indicou aos seus paroquianos, com a palavra e sobretudo com o exemplo, a estrada do Céu. No dia da sua chegada como Pároco a Pancalieri, falou da seguinte maneira aos fiéis: «Venho entre vós, queridos, para viver como um de vós, vosso pai, irmão e amigo, e para dividir convosco as alegrias e os sofrimentos da vida... Venho entre vós como servo de todos, e cada um poderá dispor de mim, e considerar-me-ei sempre afortunado e feliz por vos poder servir, não procurando outra coisa que não seja fazer o bem a todos».

Proclamava-se sempre filho devoto de Nossa Senhora e recorria a ela com constante confiança. A quem lhe perguntava: «É muito difícil merecer o Paraíso?», respondia: «Sê devoto a Maria, que é a sua "Porta", e entrarás nele». O seu exemplo ainda está vivo na memória do povo, que a partir de hoje o pode invocar como intercessor no Céu.

3. Outra testemunha de luminosa caridade evangélica é Teresa Grillo Michel, chamada pelo Senhor a difundir o amor sobretudo entre os mais pobres, mediante a Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência, por ela fundada.

Sendo de família aristocrática e abastada, abraçou primeiro a vocação conjugal, casando-se com o capitão da artilharia João Baptista Michel, mas ficando viúva aos trinta e seis anos e não tendo filhos, sentiu-se estimulada a dedicar-se completamente ao serviço dos últimos. Desta maneira, tornou-se mãe de tantos abandonados: órfãos, idosos e doentes. «Os pobres aumentam sem conta e seria bom poder abrir os braços para acolher muitos deles sob a protecção da Divina Providência»: assim se exprimia ao iniciar a sua obra em Alexandria, sua cidade natal.

No centro da sua vida espiritual e das Coirmãs está a Eucaristia, cuja imagem quis bem visível no hábito religioso. Da oração demorada diante do Santíssimo Sacramento, Teresa hauria inspiração e apoio para a sua quotidiana dedicação como também para as corajosas iniciativas missionárias, que a levaram várias vezes até ao Brasil.

Esta generosa filha do Piemonte coloca-se na esteira dos Santos e Beatos que, no decorrer dos séculos, levaram ao mundo a mensagem do amor divino através do serviço activo aos irmãos necessitados. Damos graças a Deus pelo vivo testemunho de santidade desta Mulher, que enriquece a vossa Região e a Igreja inteira.

4. Se em João Maria Boccardo e Teresa Grillo Michel resplandece sobretudo a virtude da caridade, em Teresa Bracco brilha a castidade, defendida e testemunhada até ao martírio. Tinha vinte anos quando, durante a segunda guerra mundial, optou por morrer para não ceder à violência de um militar que atentava contra a sua virgindade. Aquela atitude corajosa era a consequência lógica de uma firme vontade de se manter fiel a Cristo, segundo o propósito várias vezes manifestado. Quando tomou conhecimento do que tinha acontecido a outras jovens naquele período de desordens e violências, exclamou sem hesitar: «Prefiro morrer do que ser profanada».

Foi o que aconteceu durante um controle militar. O martírio foi o coroamento de um caminho de maturação cristã, desenvolvido dia após dia, com a força tirada da Comunhão eucarística quotidiana e de uma profunda devoção à Virgem Mãe de Deus.

1165 Que significativo testemunho evangélico para as jovens gerações que se aproximam do Terceiro Milénio! Que mensagem de esperança para quem se esforça por ir contra a corrente em relação ao espírito do mundo! Indico sobretudo aos jovens esta moça que a Igreja hoje proclama Beata, a fim de que dela aprendam a fé límpida testemunhada no empenho quotidiano, a coerência moral sem compromissos, a coragem de sacrificar, se for necessário, até a vida, para não atraiçoar os valores que dão sentido à existência.

Pensando no ambiente rural no qual Teresa cresceu, apraz-me dirigir uma palavra de afecto aos cultivadores directos da região de Langhe e de todo o Piemonte, vindos aqui hoje em grande número para a honrar e se confiar à sua intercessão. Quereria também transmitir a minha saudação às monjas da Certosa da Trindade, situada próximo da localidade onde Teresa foi martirizada. Fiéis à Regra que as empenha à oração e à contemplação na solidão e no silêncio, estas nossas irmãs, apesar de estarem fisicamente ausentes, encontram-se presentes com o espírito nesta solene celebração.

5. As figuras dos novos Beatos levam-nos com o pensamento para aquele Céu no qual o Senhor entrou no mistério da sua Ascensão. A Carta aos Hebreus falou-nos disto com termos bastante sugestivos, apresentando-nos diante dos olhos Cristo que entra como Sumo Sacerdote não «num santuário feito por mão de homem... mas no próprio céu... para destruição do pecado pelo sacrifício de Si mesmo» (
He 9,24 He 9,26). É uma perspectiva que nos consente compreender melhor a mensagem do Sudário, ícone tocante da Paixão de Cristo. Agradeço ao Senhor ter-me concedido a oportunidade de voltar a Turim para contemplar esta tarde, mais uma vez, este extraordinário testemunho dos sofrimentos de Cristo.

É-me grato saudar mais uma vez todas as pessoas que aqui se encontram, antes de mais o Arcebispo de Turim, o estimado Cardeal Giovanni Saldarini, juntamente com os Bispos do Piemonte, e as Autoridades civis presentes, dirigindo um pensamento particular ao representante do Governo italiano. Saúdo o Clero, os Religiosos e as Religiosas, os Leigos empenhados e quantos estão aqui presentes, de modo especial os peregrinos vindos com devoção prestar homenagem ao Sudário.

O Sudário! Que eloquente mensagem de sofrimento e de amor, de morte e de vida imortal! Ele permite-nos compreender as condições através das quais Cristo quis passar antes da subida ao Céu. Este linho preciosíssimo, na sua dramática eloquência, oferece-nos a mensagem mais significativa para a nossa vida: fonte de toda a existência cristã é a redenção que nos foi obtida pelo Salvador, que assumiu a nossa condição humana, sofreu, morreu e ressuscitou por nós.

O santo Sudário fala-nos de tudo isto. É uma testemunha única.

6. Os Beatos que hoje veneramos pela primeira vez acolheram e fizeram própria esta mensagem salvífica. Ao contemplá-los, a Igreja exulta. Exulta no Espírito, porque neles já entrevê a pátria celeste, aquela casa gloriosa de Deus onde todos somos esperados. «Na casa de Meu Pai há muitas moradas... Vou preparar-vos um lugar» (Jn 14,2), dissera Jesus aos discípulos na vigília da Paixão. Os novos Beatos alcançaram o lugar que lhes fora preparado por Cristo elevado ao Céu.

Agora, compete a nós esse empenho, ainda peregrinos em caminho na terra. Depois da ascensão de Jesus, dois anjos perguntaram aos Apóstolos: «Porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus... virá do mesmo modo...» (Ac 1,11). A pergunta é feita também a nós: estamos agora no tempo da expectativa, laboriosa e vigilante, do regresso glorioso de Cristo.

O nosso espírito, animado por uma profunda esperança, rejubila e invoca: «Vinde, ó Senhor Jesus». E a resposta, que o Livro do Apocalipse contém, enche de alegria o nosso coração como o de cada crente: «Sim, venho muito em breve. "Amém!"» (cf. Ap Ap 22,20).





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