Homilias JOÃO PAULO II 1040


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA



NA MISSA POR OCASIÃO DO MILÉNIO


DO MARTÍRIO DE SANTO ADALBERTO


Gniezno, 3 de Junho de 1997




1041 1. Veni Creator Spiritus!

Hoje encontramo-nos junto do túmulo de Santo Adalberto, em Gniezno. Desta forma, encontramo-nos no âmago do milénio de Adalberto. Há um mês iniciei este itinerário em honra de Santo Adalberto em Praga e em Libice, diocese de Hradec Králové — com efeito, ele era oriundo dali. E hoje estamos em Gniezno, no lugar — pode-se dizer — onde ele concluiu a sua peregrinação terrena. Estou grato a Deus uno e trino, porque no crepúsculo deste milénio me é dado novamente rezar junto das relíquias de Santo Adalberto, que constituem um dos maiores tesouros da nossa nação.

Queremos seguir este percurso espiritual de Santo Adalberto que, num certo sentido, começa no Cenáculo. A hodierna liturgia leva-nos precisamente ao Cenáculo, onde os Apóstolos voltaram do Monte das Oliveiras, depois da ascensão de Cristo ao céu. Durante quarenta dias após a ressurreição, Ele aparecia-lhes e falava com eles acerca do Reino de Deus. Recomendou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai: «... da qual ouvistes falar», dizia. «João baptizou com a água; vós, porém, dentro de poucos dias, sereis baptizados com o Espírito Santo... o Espírito Santo descerá sobre vós, e dele recebereis força para serdes Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra» (
Ac 1,4-5 Ac 1,8).

Assim, os Apóstolos recebem o mandato missionário. Em virtude das palavras do Ressuscitado, devem ir pelo mundo inteiro, ensinar todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt Mt 28,14-20). Por enquanto, todavia, regressam ao Cenáculo e ali permanecem em oração, aguardando o cumprimento da promessa. No décimo dia, na festividade do Pentecostes, Cristo enviou-lhes o Espírito Santo, que transformou os seus corações. Tornaram-se fortes e prontos a assumir o mandato missionário. Iniciaram assim a obra de evangelização.

A Igreja continua esta obra. Os sucessores dos Apóstolos continuam a ir pelo mundo inteiro, ensinando todas as nações. Por volta do final do primeiro milénio, à terra polaca chegaram os filhos de várias nações já cristianizadas, provindos especialmente das nações confinantes. Entre esses ocupa um lugar fulcral Santo Adalberto, que chegou à Polónia da vizinha e afim Boémia. Num certo sentido, esteve presente na origem do segundo início da Igreja nas terras dos Piast. O baptismo da nação, no ano de 966, nos tempos de Mieszko I, foi confirmado com o sangue do Mártir. E não só: juntamente com ele, a Polónia entra na família dos Países europeus. Com efeito, junto das relíquias de Santo Adalberto encontraram-se o imperador Otão III e Boleslau, o Valoroso, na presença de um Legado pontifício. Esse encontro tem uma importância de alcance histórico — o «Encontro de Gniezno». Obviamente, teve um significado político, mas também eclesial. Junto do túmulo de Santo Adalberto é proclamada pelo Papa Silvestre II a primeira metrópole polaca: Gniezno, à qual se uniram as sedes episcopais de Cracóvia, Wroclaw e Kolobrzeg.

2. A semente que morre dá muito fruto (cf. Jo Jn 12,24). Estas palavras do Evangelho de João, dirigidas certo dia por Cristo aos Apóstolos, encontram singular aplicação em Adalberto. Morrendo, ofereceu o supremo testemunho. «Quem ama a própria vida, perdê-la-á; quem despreza a própria vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna » (Jn 12,25). Santo Adalberto prestou também o próprio testemunho ao serviço apostólico. Com efeito, Cristo diz: «Se alguém quer servir a Mim, siga-Me. E onde Eu estiver, aí também estará o Meu servo. Se alguém serve a Mim, Meu Pai honrá-lo-á» (Jn 12,26). Adalberto seguiu a Cristo. Percorreu um longo caminho, que o levou da nativa Libice a Praga, de Praga a Roma. Depois, ainda obstaculizado pela resistência dos seus compatriotas em Praga, partiu como missionário rumo à Planície da Panónia e, em seguida, através da Porta de Morávia, a Gniezno e ao Báltico. A sua missão foi como que o coroamento da evangelização das terras dos Piast. E isto precisamente porque Adalberto deu testemunho de Cristo padecendo a morte de martírio. Boleslau, o Valoroso, resgatou o corpo do Mártir e fê-lo vir para cá, para Gniezno.

Nele se cumpriram as palavras de Cristo. Acima do amor pela vida terrena, Adalberto colocara o amor pelo Filho de Deus. Seguiu a Cristo como um servo fiel e generoso, dando testemunho d’Ele à custa da própria vida. E eis que o Pai o honrou. O Povo de Deus circundou-o na terra com a veneração que se reserva a um santo, na convicção de que um Mártir de Cristo no céu está rodeado da glória do Pai.

«O grão de trigo que morre dá muito fruto» (cf. Jo Jn 12,24). Como se cumpriram literalmente estas palavras na vida e na morte de Santo Adalberto! A sua morte por martírio, amalgamada com o sangue de outros mártires polacos, encontra-se no fundamento da Igreja da Polónia e, num certo sentido, também do mesmo Estado nas terras dos Piast. A sementeira do sangue de Adalberto continua a produzir frutos espirituais sempre novos. Dela continuou a haurir toda a Polónia, nos primórdios do seu Estado e no decurso dos séculos sucessivos. O «Encontro de Gniezno» abriu para a Polónia o caminho rumo à unidade com toda a família dos Estados da Europa. No limiar do segundo milénio, a nação polaca adquiriu o direito de se inserir, a nível de igualdade com outras nações, no processo de formação de um novo rosto da Europa. Santo Adalberto é, por conseguinte, um grande padroeiro do nosso continente, que então se ia unificando no nome de Cristo. Quer com a sua vida quer com a sua morte, o Santo Mártir lançou as bases da identidade e da unidade europeias. Muitas vezes caminhei nestas pegadas históricas, no período do Milénio do Baptismo da Polónia, vindo de Cracóvia a Gniezno com as relíquias de Santo Estanislau, e dou graças à Divina Providência porque hoje me é concedido mais uma vez encontrar-me neste itinerário.

Agradecemos-te Santo Adalberto, ternos unido hoje aqui em tão grande número. Há Hóspedes ilustres no meio de nós. Refiro-me em primeiro lugar aos Senhores Presidentes dos Países ligados à pessoa de Vojtech-Adalberto. Estou grato pela presença de Sua Excelência o Senhor Kwasniewski, Presidente da Polónia, Sua Excelência o Senhor Havel, Presidente da República Tcheca, Sua Excelência o Senhor Brazauskas, Presidente da Lituânia, Sua Excelência o Senhor Herzog, Presidente da Alemanha, Sua Excelência o Senhor Kovac, Presidente da República Eslovaca, Sua Excelência o Senhor Kuczma, Presidente da Ucrânia, e Sua Excelência o Senhor Göncz, Presidente da Hungria.

Senhores Presidentes, a vossa presença aqui em Gniezno reveste hoje um significado particular para todo o continente europeu. Assim como há mil anos, também hoje testemunha a vontade de uma pacífica convivência e da construção de uma nova Europa, unida pelos ligames da solidariedade. Peço-vos a amabilidade de transmitir as minhas cordiais saudações às Nações que representais. Dirijo palavras de gratidão também aos Senhores Cardeais que vieram da Cidade Eterna, a começar pelo Cardeal Secretário de Estado, Angelo Sodano, e pelos Cardeais dos países ligados à pessoa de Adalberto, guiados pelo Senhor Cardeal Miloslav Vlk, sucessor de Santo Adalberto na sede episcopal de Praga. Estou feliz porque connosco estão os Cardeais que vieram de longínquas partes do mundo, desde a América até à Austrália. Saúdo cordialmente e agradeço aos Cardeais polacos a sua presença, em primeiro lugar ao Senhor Cardeal Primaz, aos Arcebispos e Bispos. Estou grato também aos Bispos ortodoxos e aos Chefes das Comunidades nascidas da Reforma, bem como aos responsáveis de outras Comunidades eclesiais.

Dirijo palavras de cordial saudação a D. Muszynski, Arcebispo Metropolitano de Gniezno, e a todos vós, Irmãos e Irmãs, que viestes da Polónia inteira para este encontro.

1042 3. Fiquei profundamente impressionado com o encontro de Gniezno, em Junho de 1979, quando pela primeira vez o Papa, nativo de Cracóvia, pôde celebrar a Eucaristia na Colina de Lech, na presença do inesquecível Primaz do Milénio, de todo o Espiscopado polaco, de muitos peregrinos vindos não só da Polónia mas também dos países confinantes. Hoje, dezoito anos mais tarde, seria necessário voltar àquela homilia de Gniezno que, num certo sentido, se tornou o programa do pontificado. Todavia, essa foi em primeiro lugar uma humilde leitura dos desígnios de Deus, vinculados aos últimos 25 anos do nosso milénio. Naquela ocasião eu dizia: «Não quer porventura Cristo, não dispõe acaso o Espírito Santo que este Papa polaco, Papa eslavo, precisamente agora manifeste a unidade espiritual da Europa cristã? Sabemos que esta unidade cristã da Europa se compõe de duas grandes tradições: a do Ocidente e a do Oriente... Sim, Cristo quer, o Espírito Santo dispõe, que tudo quanto eu digo seja dito precisamente aqui, agora, em Gniezno» (Homilia na Catedral dedicada à Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria, 3.VI.1979; cf. ed. port. de L'Osservatore Romano de 10 de Junho de 1979, n. 4, pág. 8).

Deste lugar foi derramada a poderosa força do Espírito Santo. Aqui o pensamento sobre a nova evangelização começou a revestir formas concretas. Entretanto, realizaram-se grandes transformações, surgiram novas possibilidades, apareceram outros homens. Ruiu o muro que dividia a Europa. Cinquenta anos depois do início da segunda guerra mundial, os seus efeitos cessaram de deturpar o rosto do nosso continente. Terminou meio século de separação, em virtude da qual milhões de habitantes da Europa Central e Oriental pagaram um preço terrível. Por isso, aqui junto do túmulo de Santo Adalberto, dou hoje graças a Deus Omnipotente pela grande dádiva da liberdade concedida às Nações da Europa, e faço-o com as palavras do Salmista:

«Até entre as nações se comentava:
“Javé foi grande com eles!”.
Sim, Javé foi grande connosco,
e por isso estamos alegres» (Sl 126[125] 2-3).

4. Caros Irmãos e Irmãs, depois de tantos anos repito a mesma coisa: é necessária uma nova disponibilidade. Com efeito, viu-se às vezes de maneira muito dolorosa, que a recuperação do direito de autodeterminação e a ampliação das liberdades políticas e económicas não são suficientes para a reconstrução da unidade da Europa. Como deixar de mencionar aqui a tragédia das nações da ex-Jugoslávia, o drama da nação albanesa e os enormes pesos carregados por todas as sociedades que reconquistaram a liberdade e com grande esforço se libertam do jugo do sistema totalitário comunista? Será que depois da queda do muro visível nasceu outro invisível, que continua a dividir o nosso continente — o muro que passa através dos corações dos homens? Trata-se de um muro feito de medo e de agressividade, de falta de compreensão em relação aos homens de origens diversas, de diferentes cores da pele, de diversificadas convicções religiosas; é o muro do egoísmo político e económico, do debilitamento da sensibilidade em relação ao valor da vida humana e à dignidade de cada homem. Até mesmo os inquestionáveis sucessos do último período no campo económico, político e social não escondem a existência de tal muro. A sua sombra paira sobre toda a Europa. A meta de uma autêntica unidade do continente europeu ainda está distante. Não haverá a unidade da Europa enquanto esta não estiver assente na unidade do espírito. Este fundamento extremamente profundo da unidade foi trazido à Europa e consolidado ao longo dos séculos pelo cristianismo com o seu Evangelho, com a sua compreensão do homem e com a sua contribuição para o desenvolvimento da história dos povos e das nações. Isto não significa querer assenhorear-se da história. A história da Europa, com efeito, é um grande rio, em que desembocam numerosos afluentes, e a variedade das tradições e das culturas que a forjam constitui a sua grande riqueza. Os fundamentos da identidade da Europa estão edificados sobre o cristianismo. E a actual falta da sua unidade espiritual deriva principalmente da crise desta autoconsciência cristã.

5. Irmãos e Irmãs, foi Jesus Cristo, «o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade » (cf. Hb
He 13,8) que revelou ao homem a sua dignidade! Ele é o garante desta dignidade! Foram os padroeiros da Europa — São Bento e os Santos Cirilo e Metódio — que incutiram na cultura europeia a verdade sobre Deus e sobre o homem. Foram as plêiades dos santos missionários — que hoje Santo Adalberto, bispo e mártir, nos recordou — que trouxeram aos povos europeus o ensinamento sobre o amor do próximo, até mesmo sobre o amor pelos inimigos — ensinamento confirmado com a entrega da sua vida. Desta Boa Nova do Evangelho viveram na Europa, na sucessão dos séculos até aos dias de hoje, os nossos irmãos e as nossas irmãs. Repetiam-na as paredes das igrejas, das abadias, dos hospitais e das universidades. Proclamavam-na os volumes, as esculturas e os quadros; anunciavam-na as estrofes poéticas e as obras dos compositores. Sobre o Evangelho foram lançados os fundamentos da unidade espiritual da Europa.

Portanto, junto do túmulo de Santo Adalberto pergunto: é lícito rejeitarmos a lei da vida cristã, a qual afirma que só dá frutos abundantes aquele que oferece a própria vida por amor de Deus e dos irmãos, como uma semente lançada na terra? Aqui, junto deste lugar, repito o brado do início do meu pontificado: Abri as portas a Cristo! No nome do respeito dos direitos do homem, no nome da liberdade, da igualdade, da fraternidade, no nome da solidariedade inter-humana e do amor grito: Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo! Sem Cristo não é possível compreender o homem. Por isso o muro, que hoje se levanta nos corações, o muro que divide a Europa, não ruirá sem o retorno ao Evangelho. Com efeito, sem Cristo não é possível construir uma unidade duradoura. Não se pode fazê-lo, separando-se das raízes das quais se desenvolveram as nações e as culturas da Europa e da grande riqueza da cultura espiritual dos séculos passados. Como se pode construir uma «casa comum» para a Europa inteira, se esta não for edificada com os tijolos da consciência dos homens, provados no fogo do Evangelho, unidos pelo vínculo de um solidário amor social, fruto do amor de Deus? Por tal realidade se prodigalizava Santo Adalberto, por tal futuro entregou a própria vida. É ele que nos recorda hoje que não é possível construir uma sociedade nova sem o homem renovado, que é o fundamento solidíssimo da sociedade.

6. Na véspera do terceiro milénio o testemunho de Santo Adalberto está sempre presente na Igreja e sempre produz fruto. Devemos retomar com novo vigor a sua obra de evangelização. Ajudemos quem se esqueceu de Cristo a redescobri- l’O juntamente com o Seu ensinamento. Isto há-de verificar-se quando plêiades de testemunhas fiéis do Evangelho começarem de novo a percorrer o nosso continente; quando as obras de arquitectura, de literatura e de arte mostrarem de maneira encantadora ao homem de hoje Aquele que «é o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade»; quando na liturgia celebrada pela Igreja os homens virem como é belo honrar a Deus; quando entrevirem na nova vida um testemunho de misericórdia cristã, de amor heróico e de santidade.

Caros Irmãos e Irmãs, que extraordinária hora da história nos é dado viver! Como são importantes as tarefas que nos foram confiadas por Cristo! Ele chama cada um de nós a preparar a nova Primavera da Igreja. Quer que a Igreja — a mesma dos tempos dos Apóstolos e de Santo Adalberto — entre no novo milénio repleta de vigor, de uma nova vida que brota e de impulso evangélico. Em 1949, o Primaz do Milénio exclamava: «Aqui, junto do túmulo de Santo Adalberto, acenderemos tochas que hão-de anunciar à nossa terra a “luz para iluminar as nações e glória do Teu povo” (Lc 2,32)» (Carta pastoral para o ingresso). Hoje lançamos novamente este brado, pedindo a luz e o fogo do Espírito Santo, para acendermos as nossas tochas, como anunciadores do Evangelho, até aos extremos confins da terra.

1043 7. Santo Adalberto está sempre connosco. Permaneceu na Gniezno dos Piast e na Igreja universal, circundado pela glória do martírio. E da perspectiva do milénio parece falar-nos hoje com as palavras de São Paulo: «Comportai-vos como pessoas dignas do Evangelho de Cristo. Para que deste modo, indo vê-los ou estando longe, eu ouça dizer que estais firmes num só espírito, lutando juntos numa só alma pela fé do Evangelho, e que não tendes medo dos vossos adversários» (Ph 1,27-28). Sim, num só espírito, combatendo unanimemente pela fé.

Hoje relemos uma vez mais, depois de mil anos, este testamento de Paulo e de Adalberto. Pedimos que as suas palavras se cumpram também na nossa geração. Com efeito, em Cristo foi-nos concedida a graça não só de acreditar n’Ele, mas também de sofrer por Ele, dado que empreendemos a mesma luta de que Adalberto nos deixou o testemunho (cf. Fl Ph 1,29-30).

Confiemo-nos a Santo Adalberto, pedindo- lhe que interceda por nós, enquanto a Igreja e a Europa se preparam para o Grande Jubileu do Ano 2000.

E invoquemos o Espírito Santo, Espírito de sabedoria e de fortaleza:

Veni Creator Spiritus! Amém.

Saudação aos peregrinos no final da missa

«Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade» (He 13,8).

Estas palavras, caros Irmãos e Irmãs, adquirem um significado particular neste lugar impregnado de história. Ele reuniu- nos aqui numa única comunidade, que dá graças a Deus pelo dom extraordinário de Santo Adalberto, o qual, há mil anos, se tornou o fundamento da Igreja e do Estado que estava a nascer. Exprimo uma grande alegria por ter podido celebrar convosco esta Eucaristia, junto das relíquias do Santo Mártir e Padroeiro da Polónia. Agradeço a Deus ter-me concedido, pela segunda vez, visitar Gniezno como Pontífice.

Saúdo cordialmente todos os presentes. Dirijo uma saudação aos membros do Parlamento, tendo à frente o Presidente do Senado, e aos representantes das Autoridades administrativas e empresariais: aos Voivodas, aos Presidentes e aos Presidentes das Câmaras Municipais das Cidades e de numerosos Municípios. Um particular agradecimento dirige-se ao Voivoda de Poznan e ao Presidente da Câmara Municipal da Cidade de Gniezno, por terem dignamente preparado e renovado a cidade de Santo Adalberto, a primeira capital da Polónia. Saúdo com afecto também os representantes de várias organizações e associações. Entre nós estão os ex-combatentes, os soldados, os escuteiros e os policiais, aos quais agradeço de modo especial o seu serviço. Sinto-me feliz por terem chegado aqui, ao berço da nossa Nação, polacos que vivem no estrangeiro. Saúdo as comunidades polacas que vieram dos Estados Unidos, da Alemanha, da Inglaterra, da Argentina e de outras partes do mundo.

Saúdo também os vários grupos de apostolado, tendo à frente a Acção Católica, que desejam aprender de Santo Adalberto o zelo apostólico e, retornando às raízes, renovar a consciência da própria identidade. A sua espiritualidade, cujos princípios em grande síntese estão representados no portão da catedral de Gniezno, pode constituir também para nós uma indicação para crescermos rumo àqueles valores de que a Europa tem necessidade, na sua busca da unidade. Com efeito, eles estão baseados no Evangelho, no seu espírito e na sua força. Palavras de particular saudação dirijo-as aos jovens, de modo especial àqueles que caminharam, durante toda a noite, desde Lednica até ao túmulo de Santo Adalberto. Sede fortes em Deus!

Em recordação da minha peregrinação ao túmulo de Santo Adalberto, deixo-vos a cópia, por mim benzida, do belíssimo baldaquino que está sobre o pequeno ataúde de Santo Adalberto e que, na sua forma, se inspira no famoso Altar da Confissão, de Bernini, da Basílica de S. Pedro em Roma. Coloquei a minha assinatura sobre o túmulo restaurado de Santo Adalberto, em sinal da plurissecular comunhão entre a Igreja de Roma e a Igreja polaca e do ligame pessoal entre o Sucessor de Pedro e a sua Nação. Benzi também o altar de bronze, oferecido pelo Episcopado alemão. Na Polónia deixo como dom as imagens coroadas de Nossa Senhora; aos habitantes de Bydgoszcz trago o título de Basílica Menor para a igreja monumental dos Padres missionários, a qual se encontra no centro da sua cidade; aos habitantes de Calininegrado, o ícone de Santo Adalberto.

1044 Por fim, recebei a minha Bênção.





VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA



DURANTE A MISSA CELEBRADA DIANTE


DO SANTUÁRIO DE SÃO JOSÉ


Kalisz, 4 de Junho de 1997




Caros Irmãos e Irmãs!

1. Estou grato à Providência divina por me ter dado hoje a graça de visitar a vossa cidade, esta Kalisz que as antiquíssimas crónicas assinalam nos seus mapas geográficos, muito antes das origens do Estado polaco. Já estive aqui algumas vezes. Conservo na memória aqueles encontros e os homens que neles participaram. Saúdo cordialmente todos vós aqui reunidos. Saúdo a vossa jovem Diocese e o seu primeiro Bispo ordinário, o Bispo Auxiliar, o Clero, as pessoas consagradas e todo o povo de Deus da terra de Kalisz. Saúdo-te, terra de Kalisz, com toda a tua riqueza contida no passado e no presente. Desejo que tudo isto se reavive de algum modo na Eucaristia deste dia. «Ó homem bem-aventurado, São José! » Como me sinto feliz por celebrar este Sacrifício eucarístico no Santuário de São José! Ele, com efeito, tem um lugar particular na história da Igreja e da Nação. Enquanto escutamos o Evangelho, que nos recorda a fuga para o Egipto, vêm em mente as palavras contidas na preparação litúrgica para a Santa Missa:

«Ó homem bem-aventurado, São José, a quem foi dado não só ver e ouvir Deus, que muitos reis queriam ver e não viram, ouvir e não ouviram (cf. Mt Mt 13,17), mas também levá-l’O nos braços, beijá-l’O, vesti-l’O e protegêl’O! ». Nesta oração São José mostra-se como o protector do Filho de Deus. Ela continua com o seguinte pedido: «Deus, Vós que nos concedestes o sacerdócio régio, fazei, nós Vos pedimos que como São José, o qual mereceu tocar e com respeito levar nos seus braços o Vosso Filho unigénito, nascido de Maria Virgem, possamos obter a graça de servir junto dos Vossos altares, com a pureza do coração e com a inocência das obras, a fim de recebermos hoje dignamente o sacratíssimo Corpo e Sangue do Vosso Filho e merecermos o prémio eterno no mundo futuro».

É uma bonita oração! Recito-a todos os dias antes da Santa Missa e, certamente, fazem-no muitos sacerdotes no mundo. José, esposo de Maria Virgem, pai adoptivo do Filho de Deus, não era um sacerdote, mas participou no sacerdócio comum dos fiéis. E porque, como pai e protector de Jesus, pôde tê-l’O e levá-l’O nos seus braços, os sacerdotes dirigem-se a São José com o ardente pedido de poderem celebrar o Sacrifício eucarístico, com a mesma veneração e com o mesmo amor com que ele exercia a sua missão de pai putativo do Filho de Deus. Estas palavras são muito eloquentes. As mãos do sacerdote que tocam o Corpo eucarístico de Cristo querem impetrar de São José a graça duma castidade e duma veneração, iguais àquelas que o Santo carpinteiro de Nazaré demonstrava em relação ao seu Filho adoptivo. E por isso é justo que, no itinerário da peregrinação unida ao Congresso Eucarístico de Wroclaw, se encontre também a visita ao Santuário de São José de Kalisz.

2. «Levanta-te, toma o Menino e Sua Mãe, foge para o Egipto» (Mt 2,13).

José ouviu estas palavras durante o sono. O anjo advertira-o que fugisse com o Menino, porque era ameaçado por um perigo mortal. Através do Evangelho, há pouco lido, viemos a saber daqueles que tentavam contra a vida do Menino. Em primeiro lugar Herodes, mas depois também todos os seus seguidores. Deste modo, a Liturgia da Palavra guia o nosso pensamento para o problema da vida e da sua defesa. José de Nazaré, que salvou Jesus da crueldade de Herodes, apresenta-se-nos neste instante como um grande paladino da causa da defesa da vida humana, desde o primeiro instante da concepção, até à morte natural. Queremos, então, neste lugar recomendar à Providência divina e a São José a vida humana, especialmente a das crianças ainda não nascidas, na nossa Pátria e no mundo inteiro. A vida tem um valor intocável e uma dignidade irrepetível, de modo especial porque — como lemos hoje na liturgia — cada homem é chamado a participar da vida de Deus. São João escreve: «Vede com que amor nos amou o Pai, ao querer que fôssemos chamados filhos de Deus. E, de facto, somo-lo!» (1Jn 3,1).

Com o olhar da fé podemos observar, com uma particular clareza, o infinito valor de cada ser humano. O Evangelho, anunciando a Boa Nova de Jesus, traz também a boa nova do homem, da sua grande dignidade, ensina a sensibilidade em relação ao homem. De cada homem que, enquanto dotado de uma alma espiritual, é «capaz de Deus». A Igreja, ao defender o direito à vida, refere- se a um nível mais amplo, a um nível universal que obriga todos os homens. O direito à vida não é uma questão de ideologia, não se trata apenas de um direito religioso; é um direito do homem. O mais fundamental direito do homem! Deus diz: «Não matarás»! (Ex 20,13). Este mandamento é ao mesmo tempo um princípio fundamental e uma norma do código moral, inscrito na consciência de cada homem.

A medida da civilização, uma medida universal, perene, que abrange todas as culturas, é a sua relação com a vida. Uma civilização que rejeitasse os indefesos, mereceria o nome de civilização bárbara, mesmo que registrasse grandes sucessos no campo da economia, da técnica, da arte e da ciência. A Igreja, fiel à missão recebida de Cristo, não obstante as debilidades e as infidelidades de muitos dos seus filhos e filhas, trouxe com coerência à história da humanidade a grande verdade sobre o amor do próximo, atenuou as divisões sociais, superou as diferenças étnicas e raciais, inclinou-se sobre os doentes e os órfãos, sobre os anciãos e os deficientes e sobre os desabrigados. Ensinou com as palavras e as obras que ninguém pode ser excluído da grande família humana, que ninguém pode ser impelido à margem da sociedade. Se a Igreja tutela a vida nascitura é porque considera também com amor e solicitude cada mulher que deve dar à luz.

Aqui em Kalisz, onde São José, este grande defensor e zeloso protector da vida de Jesus, é venerado de modo particular, quero recordar-vos as palavras que Madre Teresa de Calcutá dirigiu aos participantes na Conferência Internacional sobre «População e Desenvolvimento », convocada pela Organização das Nações Unidas no Cairo, em 1994: «Falo-vos do mais íntimo do coração, falo a cada homem em todos os países do mundo... às mães, aos pais e aos filhos nas grandes e pequenas cidades e nas aldeias. Cada um de nós está hoje aqui, graças ao amor de Deus que nos criou, e aos nossos pais, que nos acolheram e quiseram dar-nos a vida. A vida é o maior dom de Deus. É por este motivo que é triste ver o que acontece hoje em muitas partes do mundo: a vida é deliberadamente destruída pela guerra, pela violência, pelo aborto. E nós fomos criados por Deus para coisas maiores: amarmos e sermos amados. Muitas vezes afirmei, e disto estou certa, que o maior destruidor de paz no mundo de hoje é o aborto. Se uma mãe pode matar o seu próprio filho, o que poderá deter, a ti e a mim, de nos matarmos reciprocamente? O único que tem o direito de tirar a vida é Aquele que a criou. Nenhum outro tem esse direito; nem a mãe, nem o pai, nem o médico, nem uma agência, nem uma Conferência, nem um Governo... Aterroriza-me pensar em todos aqueles que matam a própria consciência, para poder realizar o aborto. Depois da morte encontrar-nos-emos face a face com Deus, Dador da vida. Quem assumirá a responsabilidade diante de Deus por milhões e milhões de crianças, às quais não foi dada a possibilidade de viver, de amar e de ser amadas?... Uma criança é o maior dom para a família. Para a nação. Jamais recusemos este dom de Deus». Esta longa citação pertence à Madre Teresa de Calcutá. Sinto-me feliz por ela ter podido falar em Kalisz.

1045 3. Caros Irmãos e Irmãs, sede solidários com a vida. Dirijo este apelo a todos os meus compatriotas, independentemente das convicções religiosas de cada um. Dirijo-o a todos os homens, sem excluir ninguém. Deste lugar, repito mais uma vez quanto eu disse em Outubro do ano passado: «Uma nação que mata os próprios filhos é uma nação sem futuro». Deveis acreditar que não me foi fácil dizer estas coisas pensando na minha Nação, mas desejo-lhe um futuro maravilhoso. É necessária, portanto, uma mobilização geral das consciências e um comum esforço ético, para pôr em prática a grande estratégia da defesa da vida. Hoje o mundo tornou-se a arena da luta pela vida. Continua a luta entre a civilização da vida e a civilização da morte. Por isso é tão importante a edificação da «cultura da vida»: a criação de obras e de modelos culturais, que ressaltem a grandeza e a dignidade da vida humana; a fundação de instituições científicas e educativas que promovam uma justa visão da pessoa humana, da vida conjugal e familiar: a criação de ambientes que encarnem, na prática da vida quotidiana, o amor misericordioso que Deus concede a cada homem, de modo especial ao homem que sofre, que é débil, pobre e nascituro.

Sei que na Polónia se faz muito em favor da questão da defesa da vida. Estou muito grato a todos aqueles que, de várias formas, se prodigalizam nesta obra de edificação da «cultura da vida ». De modo particular, exprimo a minha gratidão e o meu apreço a quantos na nossa Pátria, com grande sentido de responsabilidade diante de Deus, diante da própria consciência e da nação, defendem a vida humana e sustentam a dignidade do matrimónio e da família. De todo o coração agradeço à Federação dos Movimentos para a Defesa da Vida, às Associações das Famílias Católicas e a todas as outras organizações e instituições, surgidas em grande número nos últimos anos no nosso País. Agradeço aos médicos, às enfermeiras e às pessoas que defendem a vida dos nascituros. E a todos peço: tutelai a vida! Continuai a defender a vida! Esta é a vossa grande contribuição para a construção da civilização do amor. Possam as plêiades dos defensores da vida aumentar progressivamente! Não desanimeis! Esta é uma grande missão, que vos foi confiada pela Providência. Abençoe-vos Deus, do Qual tem origem cada vida. Desde os tempos em que eu ainda era Pastor, Bispo, Cardeal na Polónia sou devedor a algumas pessoas que colaboraram comigo, com generosidade e coragem, na salvaguarda da vida. Hoje desejo agradecer-lhes de novo sinceramente tudo isto. Deus vos recompense!

4. O dever do serviço pesa sobre todos e sobre cada um, mas essa responsabilidade grava de modo particular sobre a família que é uma «comunidade de vida e de amor» (Gaudium et spes
GS 48).

Irmãos e Irmãs, não esqueçais, nem sequer por um instante, o grande valor que constitui em si mesmo a família. Graças à presença sacramental de Cristo, graças ao pacto livremente estipulado, com o qual os cônjuges se doam um ao outro, a família é uma comunidade sagrada. É uma comunhão de pessoas unidas pelo amor, do qual São Paulo assim escreve: «O amor alegra-se com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta e jamais terá fim» (cf. 1Co 13,6-8). Cada família pode construir um semelhante amor. Mas ele só é alcançável no matrimónio e exclusivamente se os cônjuges se tornarem «um dom sincero de si» (Gaudium et spes GS 24), de maneira incondicional e para sempre, sem porem limite algum. Este amor conjugal e familiar é constantemente enobrecido, aperfeiçoado por comuns preocupações e alegrias, pelo sustentar-se nos momentos difíceis. Cada um se esqueça de si mesmo para o bem do amado. Um verdadeiro amor jamais se extingue. Torna-se fonte de força e de fidelidade conjugal. A família cristã, fiel à sua aliança sacramental, torna-se um autêntico sinal do gratuito e universal amor de Deus pelos homens. Este amor de Deus constitui o centro espiritual da família e o seu fundamento. Através deste amor, a família nasce, desenvolve-se, amadurece e é fonte de paz e de felicidade para os pais e para os filhos. É um verdadeiro centro de vida e de unidade.

Caros Irmãos e Irmãs, cônjuges e pais, o sacramento que vos une entre vós, une-vos em Cristo! Une-vos com Cristo! «É grande este mistério»! (Ep 5,32). Deus «deu-vos o Seu amor». Ele vem a vós e está presente no meio de vós e habita nas vossas almas. Nas vossas famílias! Nos vossos lares! Sabia-o bem São José. Por isso não hesitou confiar- se, ele mesmo e a sua Família, a Deus. Em virtude desse abandono exerceu inteiramente a sua missão, que lhe foi confiada por Deus em relação a Maria e ao seu Filho. Sustentados pelo exemplo e pela protecção de São José, oferecei um constante testemunho de dedicação e de generosidade. Protegei e circundai de desvelo a vida de cada um dos vossos filhos, de toda a pessoa, especialmente dos doentes, dos débeis e dos deficientes. Dai testemunho do amor pela vida e compartilhai-a com generosidade.

Escreve São João: «Vede com que amor nos amou o Pai, ao querer que fôssemos chamados filhos de Deus. E, de facto, somo-lo» (1Jn 3,1). O homem adoptado em Cristo como filho de Deus é verdadeiramente partícipe da filiação do Filho de Deus. E por isso São João, desenvolvendo o seu pensamento, continua assim: «Caríssimos, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é» (1Jn 3,2). Eis o homem! Eis a sua plena e inefável dignidade! O homem é chamado a ser partícipe da vida de Deus; a conhecer, iluminado pela fé, e a amar o seu Criador e Pai, primeiro mediante todas as Suas criaturas aqui sobre a terra, e depois na visão beatífica da Sua divindade nos séculos.

Eis o homem! No itinerário do Congresso Eucarístico este homem revela-se a cada passo.

O homem na comunidade da família e da nação!

O homem, partícipe da vida de Deus!

Saudação no final da Santa Missa

Caros Irmãos e Irmãs

1046 Ao concluir esta Eucaristia, quero exprimir a minha gratidão a Deus por me ter permitido visitar a Igreja e a Diocese de Kalisz.

Dou graças à Providência também por eu ter podido orar juntamente convosco no Santuário de São José. Ele é conhecido em toda a Polónia e visitado por multidões de peregrinos. Possui também outro significado particular ligado aos últimos cinquenta anos da nossa história. Este Santuário era e é muitas vezes visitado por sacerdotes ex-prisioneiros do campo de concentração de Dachau. O número deles diminui ano após ano. Quero saudar, de modo especial, aqueles que ainda estão vivos, tal como eu fazia no passado quando era Arcebispo de Cracóvia.

Saúdo sobretudo D. Adam Kozlowiecki, D. Kazimierz Majdanski e D. Ignacy Jez — os últimos Bispos vivos ex-prisioneiros de Dachau. Desejo agradecer-lhes aquela iniciativa, surgida durante a segunda guerra mundial, nos dias terríveis da prisão, quando a dignidade humana era vilipendiada e desprezada, quando a nossa sociedade se tornava escrava dos soldados de Hitler. Em meu nome e de todos os presentes, desejo agradecer aos sacerdotes ex-prisioneiros de Dachau, que vieram aqui, terem estabelecido contacto com o Santuário de São José em Kalisz e terem confiado os seus sofrimentos, o seu sacrifício e o seu destino de prisioneiros de Dachau Àquele que é o Guardião da Igreja de Deus. Estamos-lhes gratos também porque, depois de terem sido libertados do campo de Dachau, continuam a dar graças com perseverança, vindo cada ano em peregrinação ao Santuário de São José em Kalisz, para orar pelos seus perseguidores, sem esquecer os seus irmãos que não sobreviveram à experiência do campo de concentração nem puderam ver a pátria libertada.

O meu pensamento e o meu coração abraçam todos os irmãos e irmãs, aos quais coube a mesma sorte nos campos de extermínio espalhados pela Polónia inteira e fora dos seus confins. São lugares de suplício terrível, onde morreram milhões de seres humanos. Entre eles havia muitíssimos judeus, que sofreram o horror do extermínio. «O passado dos homens não desaparece completamente. Assim, a história judaico-polaca (...) está sempre realmente presente na vida tanto dos judeus como dos polacos (...) o povo que viveu connosco durante muitas gerações, permaneceu connosco depois desta terrível morte de milhões dos seus filhos e filhas» (Varsóvia, 9/6/1991). Deste passado comum falam também os cemitérios hebraicos, tão numerosos na terra polaca. Um deles encontra-se também aqui em Kalisz. São lugares sagrados de profundo significado espiritual, diria escatológico e histórico. Possam estes lugares unir os polacos e os judeus, porque «juntos esperamos o dia do Juízo e da Ressurreição» (Ciclo de Jasna Góra, 26/9/1990).

Meus caros, agradeçamos a São José ter escolhido Kalisz como lugar da sua especial presença. A diocese de Kalisz é afortunada por ter um padroeiro tão poderoso. São José obtenha que a vossa diocese e a Igreja inteira na Polónia estejam sempre prontas a servir de modo fiel a vontade salvífica de Deus e que, graças ao seu exemplo e à sua intercessão, saibam caminhar fielmente nos caminhos da santidade e da justiça. Desejo recordar a oração a São José, composta pelo Papa Leão XIII — Oratio ad Sanctum Josephum — «Afasta de nós, amadíssimo Pai, todo o erro e toda a corrupção (...) dá-nos a tua celeste ajuda na luta contra as potências da escuridão (...) e, assim como certa vez salvaste o Menino Jesus do perigo que ameaçava a Sua vida, defende agora a Igreja de Deus das insídias dos seus inimigos e de toda a adversidade». Recitamos com frequência esta oração. Hoje, muitos peregrinos vieram até São José. Já citei os Movimentos dos defensores da vida e os Institutos para a Família.

Confio à protecção de São José toda a nossa nação, e de modo particular as nossas famílias, os jovens, as crianças, os doentes e os que sofrem. São José, com a sua intercessão, obtenha de Jesus Salvador as graças necessárias para a Polónia.

A todos vós digo: Deus vos recompense pela participação nesta Eucaristia. Agora, ao conceder a minha Bênção, recomendo a vossa cidade e a vossa Igreja à protecção de Deus.





Homilias JOÃO PAULO II 1040