Homilias JOÃO PAULO II 1251


DURANTE A MISSA CELEBRADA NA


PARÓQUIA ROMANA DE


SANTA MARIA "STELLA MARIS"


Domingo, 28 de Fevereiro de 1999




1. «Este é o Meu Filho muito amado, no Qual pus todo o Meu enlevo; escutai-O» (Mt 17,5).

1252 O convite dirigido pelo Pai aos discípulos, testemunhas privilegiadas do extraordinário evento da transfiguração, ressoa ainda hoje para nós e para a Igreja inteira.

Como Pedro, Tiago e João, também nós somos convidados a subir ao Monte Tabor juntamente com Jesus, e a deixar-nos deslumbrar pela Sua glória. Neste segundo domingo da Quaresma, contemplamos Cristo envolvido de luz, em companhia dos autorizados porta-vozes do Antigo Testamento, Moisés e Elias. A Ele renovamos a nossa adesão pessoal: Ele é o «Filho predilecto» do Pai.

Escutai-O! Este premente apelo impele-nos a intensificar o caminho quaresmal. É um convite a deixar que a luz de Cristo ilumine a nossa vida e nos comunique a força para anunciarmos e testemunharmos o Evangelho aos irmãos. É um empenho que, como bem sabemos, comporta às vezes não poucas dificuldades e sofrimentos. Sublinha-o também São Paulo ao dirigir-se a Timóteo, discípulo fiel: «Participa comigo nos trabalhos do Evangelho» (
2Tm 1,8).

A experiência da transfiguração de Jesus prepara os Apóstolos para enfrentarem os dramáticos eventos do Calvário, apresentando-lhes, com antecipação, aquela que será a plena e definitiva revelação da glória do Mestre no Mistério pascal. Ao meditarmos esta página evangélica, preparamo-nos para reviver, também nós, os eventos decisivos da morte e ressurreição do Senhor, seguindo-O no caminho da cruz para chegarmos à luz e à glória. Com efeito, «só através da paixão podemos chegar com Ele ao triunfo da ressurreição» (Prefácio).

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs da paróquia de Santa Maria «Stella Maris»! Hoje é-me grato ser hóspede da vossa bonita Comunidade que, embora do ponto de vista geográfico se encontre distante da casa do Bispo de Roma, entretanto está sempre muito próxima do seu coração de Pastor e presente nas suas orações, juntamente com todas as outras paróquias romanas.

Saúdo com afecto o Cardeal Vigário e o Bispo Auxiliar do Sector. Não podemos esquecer que durante muitos anos exerceu esta tarefa D. Riva, agora adoentado. Oremos pela sua saúde. De igual modo saúdo o vosso querido Pároco, Padre Francesco Dell'Uomo, os Sacerdotes seus colaboradores e vós aqui presentes. Dirijo um particular pensamento a todos os habitantes de Óstia.

A minha saudação dirige-se depois aos grupos que se reúnem na paróquia e compartilham o caminho de formação e de catequese, com o fundamental objectivo de aprender a viver sempre mais, na vida quotidiana, a profundidade do Evangelho. É onde se estuda, se vive, se trabalha e se sofre que se sente em maior medida a necessidade de testemunhar, com gestos concretos, o alegre anúncio da salvação.

3. A vós, caros jovens, dirige-se o meu cordial encorajamento a continuar o vosso itinerário espiritual, pessoal e de grupo, para crescerdes na consciência de ser Igreja. A minha presença, hoje, quer ser um convite para todos, mas de modo especial para vós, queridos jovens e moças, a serdes apóstolos de Cristo nesta zona, a fim de que a mensagem evangélica seja fermento de progresso autêntico e de fraternidade solidária.

Caros Jovens! O Papa tem confiança em vós e convida-vos a levar, com o impulso e a sinceridade que vos caracterizam, o Evangelho ao novo milénio cada vez mais próximo. O Dia Mundial da Juventude do Ano 2000, que terá lugar em Roma em Agosto do Ano Santo, veja também vós, jovens desta paróquia, predispostos a acolher os vossos coetâneos provenientes de diversas Nações do mundo. Estai prontos a compartilhar com os vossos irmãos e irmãs a vida de cada dia na escola, nos lugares de encontro e de sadio divertimento, a única fé em Cristo Redentor do homem e a alegria de estardes unidos no abraço da mesma Igreja, fundada sobre o testemunho dos apóstolos Pedro e Paulo. Senti-vos «missionários» de fidelidade e de esperança nesta Igreja que é a vossa, no interior da qual cada um tem uma própria missão a realizar.

4. Caríssimos Paroquianos de Santa Maria «Stella Maris», sei que na vossa Comunidade é reservado um singular cuidado à celebração do sacramento da Penitência ou Confissão. Isto muito me alegra e por isto dou graças ao Senhor. Neste «tempo forte» da Quaresma, que se tornou ainda mais intenso pela coincidência com o ano dedicado à reflexão sobre Deus Pai, renovo cordialmente a exortação a aproximar-se com confiança deste Sacramento de cura espiritual. De modo sacramental, ele torna actual para cada um o apelo de Jesus à conversão e o caminho de retorno ao Pai, do Qual o homem se afasta com o pecado. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, este Sacramento está orientado para consagrar o caminho pessoal e eclesial de arrependimento e de conversão do cristão pecador (cf. n. 1423).

A fim de que o sacramento da Penitência seja celebrado de modo verdadeiro, é necessário porém que a confissão dos pecados nasça de um confronto sério e atento com a Palavra de Deus e com um contacto vivo com a pessoa de Cristo. Para isto, requer-se uma apropriada catequese que, como recorda o Catecismo, tem a finalidade de nos pôr em comunhão com Jesus, o único que nos pode levar ao amor do Pai, no Espírito Santo, introduzindo-nos na vida mesma da Santíssima Trindade (cf. n. 426).

1253 5. Ó Deus, «que nos destes a alegria de caminhar à luz do Evangelho, abri-nos à escuta do vosso Filho» (Colecta). Assim orámos no início da nossa celebração eucarística. A actividade pastoral está inteiramente orientada para esta abertura do espírito, a fim de que o crente escute a palavra do Senhor e acolha com docilidade a Sua vontade. Escutar realmente a Deus significa ser-Lhe obediente. Daqui provém o vigor apostólico indispensável para evangelizar: só quem conhece profundamente o Senhor e se converte ao Seu amor poderá tornar-se arauto e testemunha corajosa em qualquer circunstância.

Não é precisamente do conhecer Cristo, a sua pessoa, o seu amor e a sua verdade, que brota em quantos fazem experiência pessoal d'Ele um irresistível desejo de O anunciar a todos, de evangelizar e conduzir também os outros à descoberta da fé? De coração faço votos por que cada um de vós se deixe animar cada vez mais por este anseio por Cristo, fonte de autêntico espírito missionário.

6. «Abrão partiu como o Senhor lhe dissera» (
Gn 12,4).

Exemplo e modelo do crente, Abraão confia em Deus. Chamado por Javé, ele deixa a própria terra, com todas as seguranças que comporta, sustentado apenas pela fé e pela obediência confiante ao seu Senhor. Deus exige dele o «risco» da fé, e ele obedece, tornando-se assim, na fé, pai de todos os crentes.

Como Abraão, também nós queremos prosseguir o nosso caminho quaresmal, renunciando às nossas seguranças e abandonando-nos à vontade divina. Anima-nos a certeza de que o Senhor é fiel às Suas promessas, apesar das nossas debilidades e dos nossos pecados.

Com espírito autenticamente penitencial, façamos nossas as palavras do Salmo responsorial: «A minha alma espera no Senhor... A vossa graça, Senhor, esteja sobre nós, porque em Vós esperamos».

Virgem, Estrela da evangelização, ajuda-nos a acolher as palavras do teu Filho, para com generosidade e coerência as anunciarmos aos nossos irmãos. Maria, Estrela do Mar, protege esta Comunidade paroquial, os habitantes de Óstia e a inteira Diocese de Roma!

Amém!







NO SOLENE RITO DE BEATIFICAÇÃO


7 de Março de 1999

1. «Quem beber da água que Eu lhe der jamais terá sede» (Jn 4,14).


Neste domingo, terceiro da Quaresma, o encontro de Jesus com a Samaritana junto do poço de Jacob constitui uma extraordinária catequese sobre a fé. Aos catecúmenos que se preparam para receber o Baptismo e a todos os crentes que se encaminham para a Páscoa, o Evangelho mostra neste dia a «água viva» do Espírito Santo que regenera o homem interiormente, fazendo-o renascer «a partir do alto» para a vida nova.

1254 A existência humana é um «êxodo» da escravidão rumo à terra prometida, da noite para a vida. Neste caminho experimentamos às vezes a aridez e a fadiga da existência: a miséria, a solidão, a perda de significado e de esperança, a tal ponto que também a nós, como aos Hebreus a caminho, pode suceder que nos perguntemos: «O Senhor está ou não no meio de nós?» (Ex 17,7).

Também aquela mulher de Samaria, tão provada pela vida, terá pensado muitas vezes: «Onde está o Senhor?». Até que um dia encontra um Homem que lhe revela, a ela mulher e mais ainda samaritana, isto é, duplamente desprezada, toda a verdade. Num diálogo simples, Ele oferece-lhe o dom de Deus: o Espírito Santo, fonte de água viva para a vida eterna. Manifesta-Se-lhe a Si mesmo e anuncia-lhe o Pai, que quer ser adorado em espírito e verdade.

2. Os santos são os «verdadeiros adoradores de Deus»: homens e mulheres que, como a samaritana, encontraram Cristo e descobriram, graças a Ele, o sentido da vida. Eles experimentaram pessoalmente aquilo que diz o apóstolo Paulo na segunda Leitura: «O amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido» (Rm 5,5).

Também nos novos Beatos a graça do Baptismo trouxe a plenitude do seu fruto. Eles beberam a tal ponto da fonte do amor de Cristo, que por ela foram intimamente transformados e, por sua vez, se tornaram fontes transbordantes para a sede de muitos irmãos e irmãs, encontrados ao longo da estrada da vida.

3. «Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus [...] e nos gloriemos, apoiados na esperança da glória de Deus» (Rm 5,1-2). Hoje, ao proclamar Beatos os mártires de Motril, a Igreja põe nos seus lábios estas palavras de São Paulo. Com efeito, Vicente Soler e os seus seis companheiros agostinianos recolectos e Manuel Martín, sacerdote diocesano, obtiveram mediante o testemunho heróico da sua fé o acesso à «glória dos filhos de Deus». Eles não morreram por uma ideologia, mas entregaram livremente a sua vida por Alguém que já antes morrera por eles. Deste modo, devolveram a Cristo o dom que d'Ele haviam recebido.

Mediante a fé, estes simples homens de paz, alheios ao debate político, trabalharam durante anos em territórios de missão, passaram por muitos sofrimentos nas Filipinas, regaram com o seu suor os campos do Brasil, Argentina e Venezuela, fundaram obras sociais e educativas em Motril e noutras partes da Espanha. Tendo chegado o momento supremo do martírio, pela fé enfrentaram a morte com ânimo sereno, confortando os outros condenados e perdoando os seus algozes. Como isto é possível? - perguntamo-nos e Santo Agostinho responde-nos: «Porque Aquele que reina nos céus dirigia a mente e a língua dos seus mártires, e por meio deles vencia na terra» (Sermão 329, 1-2).

Bem-aventurados sois vós, mártires de Cristo! Que todos se alegrem pela honra tributada a estas testemunhas da fé. Deus ajudou-os nas suas tribulações e deu-lhes a coroa da vitória. Oxalá eles ajudem aqueles que hoje trabalham na Espanha e no mundo em favor da reconciliação e da paz!

4. O povo que estava acampado no deserto tinha sede, como nos narra a primeira leitura, tirada do livro do Êxodo (cf. 17, 3). O espectáculo do povo espiritualmente sedento estava também sob o olhar de Nicolau Barré, da Ordem dos Mínimos. O seu ministério colocava-o continuamente em contacto com pessoas que, vivendo no deserto da ignorância religiosa, corriam o perigo de ir beber na fonte corrompida de algumas ideias do seu tempo. Eis por que ele sentiu o dever de se tornar um mestre espiritual e um educador para todos aqueles que alcançava com a sua acção pastoral. Para ampliar o seu raio de acção, fundou uma nova família religiosa, as Irmãs do Menino Jesus, com a missão de evangelizar e educar a juventude abandonada, a fim de lhe revelar o amor de Deus e comunicar em plenitude a Vida divina, e de contribuir para a edificação das pessoas.

O novo Beato não cessou de enraizar a sua missão na contemplação do mistério da Encarnação, pois Deus sacia a sede daqueles que vivem em intimidade com Ele. Mostrou que uma acção feita em nome de Deus não podia deixar de unir a Deus, e que a santificação passa também através do apostolado. Nicolau Barré convida cada um de nós a ter confiança no Espírito Santo, que guia o Seu povo no caminho do abandono a Deus, da abnegação, da humildade, da perseverança mesmo nas provações mais difíceis. Essa atitude abre à alegria da caminhada rumo à experiência da acção poderosa de Deus vivo.

5. Se, enfim, dirigimos o olhar para a Beata Ana Schäffer, lemos imediatamente a sua vida como um comentário vivo daquilo que escreveu São Paulo: «A esperança não nos deixa confundidos porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi concedido» (Rm 5,5).

Quanto mais a sua vida se tornava um caminho de sofrimento, tanto mais forte ela se tornava, consciente de que a doença e a debilidade podiam ser as linhas com as quais Deus escrevia o Seu evangelho. Chamava o seu quarto de doente o «laboratório do sofrimento», a fim de se tornar sempre mais conforme à cruz de Cristo. Ela falava de três chaves celestes, que Deus lhe deu. «A maior, que é de ferro bruto e muito mais pesada que as outras, é o meu sofrimento. A segunda, é a agulha e a terceira, a caneta. Com estas três chaves quero trabalhar fielmente todos os dias, para conseguir abrir a porta do céu».

1255 Entre dores atrozes Ana Schäffer tornou-se consciente de quanto cada um dos cristãos é responsável pela santidade do seu próximo, e por isso ela tem necessidade da caneta. O seu leito de doença torna-se lugar dum amplo apostolado através da correspondência. As poucas forças que lhe restam, dedica-as aos bordados a fim de proporcionar alegria aos outros. Seja quando escreve seja quando borda, o seu motivo preferido é o coração de Jesus, símbolo do amor de Deus. Representa as chamas, que saem do coração de Jesus, não como línguas de fogo, mas como espigas de trigo. A referência à Eucaristia, que Ana Schäffer recebe quotidianamente do seu pároco, é única e inconfundível. O coração de Jesus, assim representado, será por isso o atributo da nova Beata.

6. Caríssimos Irmãos e Irmãs, demos graças a Deus pelo dom destes novos Beatos. Eles, apesar das provações da vida, não endureceram o próprio coração, mas escutaram a voz do Senhor, e o Espírito Santo cumulou-os do amor de Deus. Puderam assim experimentar que «a esperança não engana» (
Rm 5,5). Foram como que árvores plantadas ao longo do curso de água, que no tempo oportuno produziram frutos abundantes (cf. Sl Ps 1,3).

Por esta razão hoje, ao admirar o testemunho deles, a Igreja inteira aclama: Senhor, Vós sois verdadeiramente o Salvador do mundo, sois a rocha de onde brota a água viva para a sede da humanidade!

Dai-nos sempre, Senhor, desta água, para conhecermos o Pai e O adorarmos em Espírito e Verdade. Amém!





DURANTE A VISITA À PARÓQUIA ROMANA


DE SÃO MATIAS APÓSTOLO


Domingo, 14 de Março de 1999

1. «Alegra-te, Jerusalém, e reuni-vos todos vós que a amais. Exultai e rejubilai» (Antífona da Entrada).


A hodierna Liturgia tem início com este convite à alegria. Ele dá uma tonalidade particularmente jubilosa a este domingo de quaresma, que segundo a tradição é chamado Domingo «Laetare». Sim, devemos alegrar-nos porque o autêntico espírito quaresmal constitui a busca do profundo júbilo que é fruto da amizade com Deus. Alegramo-nos porque a Páscoa já está próxima e, dentro de pouco tempo, havemos de celebrar a nossa libertação do mal e do pecado, graças à vida nova que nos foi trazida por Cristo morto e ressuscitado.

Neste caminho rumo à Páscoa, a Liturgia exorta-nos a repercorrer o itinerário catecumenal, juntamente com as pessoas que se preparam para receber o Baptismo. No domingo passado meditámos sobre o dom da água viva do Espírito (cf. Jo Jn 4,5-42), enquanto hoje nos detemos com o cego de nascença junto da piscina de Siloé, para receber Cristo luz do mundo (cf. Jo Jn 9,1-41).

«O cego foi, lavou-se e voltou vendo» (Jn 9,7). Assim como ele fez, também nós devemos deixar-nos iluminar por Cristo, renovando a fé no Messias sofredor que se revela como a luz da nossa existência: «Eu sou a luz do mundo... quem me segue... possuirá a luz da vida» (Aclamação ao Evangelho; cf. Jo Jn 8,12).

Água e luz são elementos essenciais para a vida. Precisamente por isso, Jesus eleva-os a sinais reveladores do grande mistério da participação do homem na vida divina.

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs da paróquia de São Matias Apóstolo, estou feliz por me encontrar no meio de vós neste Domingo «Laetare». A minha afectuosa saudação dirige-se ao Cardeal Vigário, ao Bispo Auxiliar do Sector, ao vosso Pároco, Mons. Vincenzo Josia, aos Sacerdotes seus colaboradores e a todos vós que viveis, rezais e dais testemunho do Evangelho neste bairro. Quereria reservar uma particular recordação ao venerável primeiro Pároco desta Comunidade, Mons. Desiderio Pirovano, que depois de uma longa e difícil enfermidade, enfrentada com fé e dignidade exemplares, há um ano o Senhor chamou para junto de Si.

1256 Sei que a vossa Paróquia, que já conta 35 anos, se caracteriza por uma boa participação dos fiéis na vida sacramental e eclesial. Apraz-me tomar conhecimento disto e, juntamente convosco, dou graças ao Senhor por essa riqueza espiritual e comunitária, que vos deve tornar ainda mais empenhados numa acção missionária, destinada a quantos ainda não compartilham a vossa mesma experiência espiritual. Por isso a Missão da Cidade, que se Deus quiser concluiremos no dia 22 do próximo mês de Maio com a solene Vigília de Pentecostes na Praça de São Pedro, constitui para vós uma ajuda válida. É necessário que o compromisso missionário continue também sucessivamente, com iniciativas apropriadas. Aliás, é preciso que ele empenhe de forma cada vez mais profunda as comunidades paroquais a enfrentarem com coragem os desafios humanos e espirituais do momento actual. Neste contexto, é importante aprender a valorizar as predisposições e as aberturas ao Evangelho presentes na sociedade, sem se deter nas aparências mas considerando o âmago das situações. É quanto recorda a primeira Carta, através da figura e da missão do profeta Samuel: «O homem vê as aparências e Javé vê o coração» (16, 7). Em cada pessoa que encontramos, também em quem declaradamente se professa desinteressado das realidades do espírito, está viva a necessidade de Deus: é tarefa dos fiéis anunciar e testemunhar a verdade libertadora do Evangelho, oferecendo a luz de Cristo a todos.

3. Caríssimos paroquianos de São Matias Apóstolo! Alegro-me convosco pela eficaz organização da vossa Comunidade. Refiro-me de forma especial às inumeráveis iniciativas destinadas às crianças e aos jovens, realizadas através dos itinerários catequéticos e das propostas da Acção Católica diocesana. Continuai a dedicar com generosidade o tempo e as energias às crianças, aos adolescentes e aos jovens, que constituem a esperança da Igreja do novo milénio. Orientai todo o trabalho formativo para fazer com que eles conheçam cada vez melhor Jesus, único Salvador do mundo, experimentem a misericórdia divina e traduzam num forte testemunho de vida o que aprenderam através da catequese e da experiência comunitária de oração. O encontro de quinta- feira 25 de Março na Sala Paulo VI, em preparação para a XIV Jornada Mundial da Juventude, seja uma significativa etapa deste itinerário de aprofundamento religioso. Estimados jovens desta paróquia, vinde em grande número e predisponde o vosso espírito a fim de que esta manifestação, que já se tornou um encontro do Papa com os jovens da Diocese, constitua para todos uma genuína experiência de fé.

Não é acaso verdade que hoje, mais do que nunca, as jovens gerações têm um vivíssimo desejo de verdade e estão cada vez mais cansadas de seguir vãs ilusões? É indispensável propor-lhes o Evangelho com vigor e amor, ajudando-os a conjugar a fé com a vida para resistirem às multíplices tentações do mundo contemporâneo. Eis por que, como fez o cego de nascença de quem fala o hodierno trecho evangélico, é indispensável encontrar-se pessoalmente com Jesus.

4. Quando hoje de manhã entrei na vossa sugestiva igreja, observei também que a sua estrutura arquitectónica foi desenhada de modo a favorecer a concentração da atenção dos fiéis no lugar em que se celebra o Mistério eucarístico. A Eucaristia, ápice e manancial da existência cristã, é Jesus presente no meio de nós que se faz alimento e bebida para a nossa salvação. Uma verdadeira comunidade, uma Igreja genuína, só poderá ser tal se aprender a crescer na escola da Eucaristia e se se alimentar na mesa da Palavra e do Pão de vida eterna. É preciso que todos aprendam a deixar-se plasmar pelo Mistério eucarístico. A este propósito, o pensamento dirige-se naturalmente para o Congresso Eucarístico Internacional, que terá lugar em Roma de 18 a 25 de Junho do ano 2000.

A Eucaristia, supremo Mistério de amor, evoca também o compromisso da solidariedade e da efectiva proximidade com quem se encontra em necessidade. Desejo encorajar-vos a fazer cada vez mais neste importante sector, de maneira a serdes testemunhas críveis do amor providente de Deus para com cada criatura humana. Entre vós, não faltam pessoas e famílias que têm necessidade de apoio, nem pobres que gravitam à volta da paróquia. Receber os irmãos em dificuldade e abrir-lhes os braços do coração ajuda a fazer crescer aquele clima de fraternidade e amizade de que o mundo precisa. Só assim seremos autênticos apóstolos de Jesus, que nos deixou como regra de vida o mandamento do amor; só assim seremos filhos da luz, isto é, da Verdade e do Amor.

5. «Comportai-vos como filhos da luz» (
Ep 5,8).

As palavras do Apóstolo Paulo, na segunda Leitura, estimulam-nos a percorrer este caminho de conversão e de renovação espiritual. Em virtude do Baptismo, os cristãos são «iluminados», pois já receberam a luz de Cristo. Portanto, são chamados a conformar a sua existência ao dom de Deus: ser filhos da luz!

Caríssimos Irmãos e Irmãs, o Senhor abra os vossos olhos da fé como fez com o cego de nascença, a fim de aprenderdes a reconhecer o Seu rosto no dos irmãos, especialmente dos mais necessitados.

Maria, que ofereceu Cristo ao mundo inteiro, ajude também nós a acolhê-Lo nas nossas famílias, nas nossas comunidades e em todos os ambientes de vida e de trabalho da nossa Cidade.

Amém!







NA NA MISSA CELEBRADA NA PARÓQUIA


ROMANA DE SANTA TERESA DO MENINO JESUS


Domingo, 21 de Março de 1999




1257 1. «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá» (Jn 11,25-26 Aclamação ao Evangelho ).

Podemos imaginar a admiração que um anúncio como este causou nos ouvintes, que pouco depois puderam constatar a verdade das palavras de Jesus quando, com a Sua ordem, Lázaro, que estava sepultado havia quatro dias, saiu vivo do sepulcro. Uma confirmação ainda mais clamorosa da extraordinária afirmação, Jesus dá-la-á mais tarde quando, com a própria ressurreição, alcançará a vitória definitiva sobre o mal e a morte.

O que o profeta Ezequiel tinha indicado muitos séculos antes, dirigindo-se aos israelitas exilados na Babilónia: «Colocarei em vós o Meu espírito e revivereis» (Ez 37,14), tornar-se-á realidade no Mistério pascal e será apresentado pelo Apóstolo Paulo como núcleo fundamental da nova vida dos crentes: «Uma vez que o Espírito de Deus habita em vós, já não estais sob o domínio dos instintos egoístas, mas sob o Espírito» (Rm 8,9).

Não consiste precisamente nisto a actualidade da mensagem evangélica? Numa sociedade, na qual emergem sinais de morte, mas ao mesmo tempo se adverte uma profunda necessidade de esperança de vida, a missão dos cristãos consiste em proclamar Cristo, «ressurreição e vida» do homem. Sim, perante sintomas de uma ignóbil «cultura de morte», ainda hoje deve ecoar a grande revelação de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida».

2. Caríssimos Irmãos e Irmãs de Santa Teresa do Menino Jesus em Panfilo! Sinto-me feliz por estar hoje convosco, prosseguindo a minha visita pastoral às paróquias da nossa Diocese.

Saúdo cordialmente o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso Pároco, Padre Francesco Pacini, e os religiosos Carmelitas Descalços que colaboram na orientação da Paróquia. Depois, o meu pensamento dirige-se às religiosas, aos membros do Conselho pastoral e a quantos aderem aos vários âmbitos da pastoral paroquial.

Dirijo com afecto o meu pensamento a todas as pessoas que vivem neste bairro. Sobretudo, é-me grato saudar os idosos, que são numerosos, mas também os jovens núcleos familiares que recentemente se transferiram para esta área. A paróquia, que está chamada a ser uma autêntica «família de famílias», seja para eles uma comunidade cada vez mais acolhedora, a fim de os ajudar a realizar a sua vocação ao serviço do Evangelho.

3. Há dois dias celebrámos a Solenidade de São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem Maria, Guarda do Redentor e operário. Neste momento, desejaria recordar todos os que transcorreram grande parte do dia a trabalhar nas diversas Instituições presentes neste bairro: o Poligráfico do Estado, a E.N.E.L., o Liceu Estatal «Vitório Alfieri», e os numerosos escritórios e sedes diplomáticas. Sei que, no âmbito da Missão da Cidade, na qual participais também vós de maneira activa e por isso me congratulo convosco, a vossa Comunidade paroquial tornou-se muito mais atenta às exigências dos diversos ambientes e procura projectar e propor adequadas iniciativas de formação e de oração, nos momentos mais oportunos, para quantos estão empenhados durante todo o dia em actividades produtivas.

É tarefa dos crentes «ser presença» activa e evangelizadora nos lugares de trabalho. Quando se reúnem na paróquia para rezar juntos e crescer na fé, eles são chamados depois a tornar-se fermento de renovação espiritual nos lugares de trabalho. A sua tarefa é ser apóstolos dos seus irmãos, dirigindo-lhes o convite evangélico «vinde ver» (cf. Jo Jn 1,46) e ajudando-os a redescobrir e a viver com maior convicção os valores cristãos.

A propósito da Missão da Cidade, não podemos deixar de confiar o seu futuro caminho à Padroeira desta Paróquia, Santa Teresa do Menino Jesus, que vós familiarmente chamais Teresinha. Ela viveu de forma veemente a tensão missionária dentro dos muros do Carmelo, de tal forma que foi proclamada Padroeira das Missões. Juntamente com a Missão da Cidade, confiamos-lhe também as «missões ad gentes» da Diocese de Roma e todos os missionários romanos, que foram a muitas partes do mundo para difundir de maneira generosa a semente evangélica.

4. A vida e a mensagem espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, que tive a alegria de proclamar Doutora da Igreja no dia 19 de Outubro de 1997, é muito eloquente para a Igreja do nosso tempo. Penso, por exemplo, no que pode ensinar aos numerosos fiéis que, de todo o mundo, se preparam para vir em peregrinação a Roma, durante o Ano Santo. Também Teresa de Lisieux veio em peregrinação a Roma em 1887. Precisamente nesta Igreja está conservado, entre as suas relíquias, o véu que ela trazia por ocasião da Audiência pontifícia, na qual pediu e lhe foi concedido pelo Papa Leão XIII entrar no Carmelo com apenas 15 anos.

1258 A jovem Teresa entusiasmou-se ao descobrir Roma, «cidade-santuário», que reúne numerosos testemunhos de santidade e de amor a Cristo. Além disso, Teresa soube exprimir e sintetizar na sua experiência mística o próprio centro da mensagem relacionado com o próximo Jubileu: isto é, o anúncio da misericórdia de Deus Pai e o convite a confiar-nos totalmente a Ele, que vem ao encontro de todos e a todos quer salvar mediante a Cruz de Cristo.

5. Depois, Santa Teresa recorda-nos o entusiasmo e a generosidade dos jovens. O facto de se entregar continuamente ao amor misericordioso de Deus tornou a sua juventude mais jubilosa e luminosa. Queridos jovens desta paróquia e jovens de toda a Diocese, com os quais terei a alegria de me encontrar no Vaticano na próxima quinta-feira, desejo que possais alcançar a simplicidade de coração e a santidade da «jovem» Teresa, a fim de experimentardes a sua confiança na providência misericordiosa de Deus. Não são precisamente os jovens que sentem de forma mais marcada a necessidade de serem acolhidos, amados e perdoados? A vós, queridos jovens e moças, desejo recordar mais uma vez que só em Deus podemos encontrar a fonte que sacia qualquer tipo de sede de amor e de verdade presente no nosso coração. Faço votos por que possais conhecer o fascínio deste amor divino e vivê-lo no vosso dia-a-dia.

Caríssimos paroquianos, ao vir até vós eu perguntava-me porque é que no letreiro da vossa paróquia ao nome de Santa Teresa do Menino Jesus foi acrescentada a expressão «em Panfilo». Porque – e vós sabei-lo bem – debaixo do Altar-Mor encontra-se o túmulo de São Panfilo, mártir romano do terceiro século. Este venerado sepulcro faz parte duma ampla rede de galerias cemiteriais e de monumentos cristãos de beleza rara. O testemunho de São Panfilo e dos numerosos mártires da Igreja de Roma nos sirva de encorajamento e de estímulo para testemunhar com coragem a nossa fidelidade a Cristo.

6. Repitamos com o Evangelista: «Sim, Senhor. Eu acredito que Tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo» (
Jn 11,27). Como Marta, a irmã de Lázaro, também nós queremos hoje renovar a nossa fé em Jesus e a nossa amizade a Ele. Através da Sua morte e ressurreição é-nos comunicada a vida plena no Espírito Santo. É a vida divina que pode transformar a nossa existência em dom de amor a Deus e aos irmãos. Santa Teresa do Menino Jesus e São Panfilo mártir nos sirvam de auxílio com o seu exemplo e a sua intercessão, para que, como rezámos no início da Celebração eucarística, possamos «viver e agir sempre com aquela caridade que levou o Filho de Deus a dar a vida por nós» (Colecta).

Amém!







NA SANTA MISSA DO DOMINGO DE RAMOS


28 de Março de 1999




1. «Humilhou-Se a Si mesmo, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz!» (Ph 2,8).

A celebração da Semana Santa inicia com o «Hosana!» deste Domingo de Ramos e tem o seu momento culminante no «Seja crucificado!» da Sexta-feira Santa. Mas isto não é um contra-senso; ao contrário, é o centro do mistério que a liturgia quer proclamar: Jesus entregou-Se voluntariamente à Sua paixão, não Se viu esmagado por forças maiores do que Ele (cf. Jo Jn 10,18). Ele próprio, perscrutando a vontade do Pai, compreendeu que tinha chegado a Sua hora e aceitou isso com a obediência livre do Filho e com infinito amor pelos homens.

Jesus carregou os nossos pecados sobre a cruz e os nossos pecados levaram Jesus à cruz: Ele foi esmagado pelas nossas iniquidades (cf. Is Is 53,5). A David, que procurava o responsável do crime que lhe fora narrado por Natã, o profeta respondeu: «esse homem és tu mesmo!» (2S 12,7). A Palavra de Deus dá a mesma resposta a nós, que nos perguntamos quem matou Jesus: «Tu és esse homem!». Com efeito, o processo e a Paixão de Jesus continuam no mundo de hoje e são renovados por cada pessoa que, entregando-se ao pecado, mais não faz que prolongar o brado: «Não esse, mas Barrabás! Seja crucificado!».

2. Olhando para Jesus na Sua paixão, vemos como num espelho os sofrimentos da humanidade e também as nossas vicissitudes pessoais. Cristo, apesar de não ter cometido pecados, assumiu tudo o que o homem não podia suportar: a injustiça, o mal, o pecado, o ódio, o sofrimento e, por fim, a morte. Em Cristo, Filho do homem humilhado e sofredor, Deus ama todos, a todos perdoa e confere o significado definitivo à inteira humanidade.

Encontramo-nos aqui esta manhã para ouvir a mensagem deste Pai que nos ama. Podemos interrogar-nos: que deseja Ele de nós? Quer que, olhando para Jesus, aceitemos segui-l'O na Sua paixão a fim de partilhar com Ele a ressurreição. Neste momento, voltam à memória as palavras que Jesus dirigiu aos discípulos: «Ides beber o cálice que Eu vou beber e ser baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado» (Mc 10,39); «Se alguém quer seguir-Me..., tome a sua cruz e siga-Me. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la» (Mt 16,24-25).

Os «Hosana» e «Seja crucificado» tornam-se desta forma a medida duma forma de conceber a vida, a fé e o testemunho cristão: não nos devemos desencorajar com as derrotas nem exaltar com as vitórias porque, como para Cristo, a única vitória é a fidelidade à missão recebida do Pai. «Por isso, Deus O exaltou grandemente, e Lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome» (Ph 2,9).


Homilias JOÃO PAULO II 1251