Homilias JOÃO PAULO II 1314


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA



NA CATEDRAL DOS SANTOS MIGUEL E FLORIANO


Varsóvia, 13 de Junho de 1999



1315 1. «Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações» (Ac 2,42).

Lucas, evangelista e também autor dos Actos dos Apóstolos, através da descrição sintética que acabámos de escutar, introduz-nos na vida da primeira comunidade de Jerusalém. Já se trata de uma comunidade conformada pela vinda do Espírito Santo, isto é, depois de Pentecostes. Noutra passagem, São Lucas escreverá: «A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma» (Ac 4,32). Os Actos dos Apóstolos mostram como na cidade santa de Jerusalém, marcada pelos eventos da recente Páscoa, estava a nascer a Igreja. Esta jovem Igreja desde o seu início «perseverava na comunidade», isto é, formava a comunhão corroborada pela graça do Espírito Santo. E é assim até hoje. Jesus Cristo no seu mistério pascal constitui o centro desta comunidade. Ele faz com que a Igreja viva, cresça e se realize como um corpo «através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com a sua actividade própria» (Ep 4,16).

Caros Irmãos e Irmãs, no espírito desta unidade, no nome de Jesus Cristo, saúdo cordialmente todos vós reunidos para esta Liturgia da Palavra. Saúdo a jovem diocese de Varsóvia-Praga juntamente com o seu Pastor, D. Kazimierz, saúdo o Bispo Emérito, o Bispo Auxiliar, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas e todo o Povo de Deus desta Igreja, e também todos aqueles que, mediante a rádio e a televisão, participam neste encontro de oração, juntamente connosco. De modo particular, quero transmitir a minha saudação aos doentes, àqueles que por meio dos seus sofrimentos impetram bens espirituais para a Igreja.

Há pouco visitei um lugar particularmente importante na nossa história nacional. Está sempre viva nos nossos corações a memória da Batalha de Varsóvia, que teve lugar aqui perto, no mês de Agosto de 1920. Foi uma grande vitória do exército polaco, uma vitória de tal modo grande que não era possível explicá-la de maneira puramente natural e, por isso, foi chamada «Milagre do Vístula». A vitória foi precedida por uma ardente oração nacional. O Episcopado polaco, reunido em Jasna Góra, consagrou toda a nação ao Sacratíssimo Coração de Jesus e confiou-a à protecção de Maria, Rainha da Polónia. Hoje, o nosso pensamento dirige-se para todos aqueles que, perto de Radzymin e em muitos outros lugares desta histórica batalha, deram a sua vida em defesa da Pátria e da sua liberdade exposta ao perigo. Entre outros, recordamos o heróico sacerdote Ignacy Skorupka, que perdeu a vida pouco distante daqui, junto de Ossów.

Recomendamos à Divina Misericórdia a sua alma. Durante dezenas de anos perdurava o silêncio a respeito do «Milagre do Vístula». À nova diocese de Varsóvia-Praga, a Divina Providência atribui hoje, num certo sentido, a tarefa de sustentar a recordação deste grande evento na história da nossa Nação e da Europa inteira, que teve lugar na zona leste de Varsóvia.

Ao falar da tradição destas terras, quereria também recordar o Servo de Deus Padre Ignacy Klopotowski, fundador da Congregação das Irmãs de Loreto. Nos últimos anos da sua vida ele foi pároco na igreja de São Floriano, actualmente catedral desta diocese. Com amor de samaritano cuidava dos pobres e dos desabrigados. Por este motivo, fez vir de Cracóvia filhos e filhas espirituais do Santo Irmão Alberto. Aqui dedicou-se também ao apostolado da palavra de Deus mediante o trabalho editorial. Nesta terra nasceu o nosso grande poeta da época do romantismo, Cipriano Norwid, o qual muitas vezes nas suas obras recorda comovido a infância e os anos da juventude transcorridos nestas partes.

Saúdo-te, amada terra de Masóvia, com a tua rica tradição religiosa e com a tua história gloriosa.

2. «Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a Sua hora, a hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim» (Jn 13,1). Para compreender o desígnio de Deus em relação à Igreja, é preciso retornar àquilo que se cumpriu na vigília da paixão e da morte de Cristo. É preciso retornar ao Cenáculo de Jerusalém. A leitura do Evangelho de São João leva-nos precisamente ao cenáculo, na Quinta-Feira Santa: «Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a Sua hora, a hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim». Aquele «até ao fim» parece testemunhar aqui o carácter definitivo deste amor. Na sequência da descrição evangélica, é Jesus mesmo que explica de modo detalhado em que consiste este amor, quando começa a lavar os pés aos discípulos. Com este gesto, indica que não veio ao mundo «para ser servido. Ele veio para servir e dar a Sua vida como resgate em favor de muitos» (Mc 10,45). Jesus apresenta-Se como modelo desse amor: «Dei-vos o exemplo: vós deveis fazer a mesma coisa que Eu fiz» (Jn 13,15). A quem crê n'Ele, ensina o amor do qual Ele mesmo é modelo e confia-lhe este amor desejando que cresça como uma grande árvore sobre toda a terra.

Contudo, aquele «até ao fim» não se cumpriu no gesto humilde do lava-pés. Realizou-se de maneira perfeita só quando «Jesus tomou o pão, o partiu e o deu aos discípulos dizendo: 'Tomai e comei, isto é o Meu corpo'». Do mesmo modo, depois da ceia tomou o cálice, deu graças, deu-o aos Seus discípulos dizendo: 'Tomai e bebei, este é o cálice do Meu sangue, da nova e eterna Aliança, que vai ser derramado por muitos para remissão dos pecados'» (cf. Mt Mt 26,26-28).

Eis a doação total. O Filho de Deus, antes de oferecer a própria vida na cruz pela salvação do homem, fê-lo de modo sacramental. Ele dá o seu Corpo e o seu Sangue aos discípulos, a fim de que, consumindo-os, participem dos frutos da Sua morte salvífica. «Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos» (Jn 15,13). Cristo deixou aos Apóstolos este sinal sacramental do amor. Disse-lhes: «Fazei isto em memória de Mim» (cf. 1Co 11,24). Os Apóstolos faziam assim e, ao transmitirem o Evangelho aos seus discípulos, transmitiam-no juntamente com a Eucaristia. Desde a Última Ceia a Igreja é edificada e formada através da Eucaristia. A Igreja celebra a Eucaristia e a Eucaristia forma a Igreja. Assim foi em todos os lugares onde as novas gerações de discípulos de Cristo pouco a pouco se tornavam Igreja. Assim foi também na terra polaca e assim é também hoje, enquanto estamos a aproximar-nos do limiar do terceiro milénio: àqueles que vierem depois de nós, transmitamos o Evangelho e a Eucaristia.

3. «Eram perseverantes... no partir do pão e nas orações» (Ac 2,42).

1316 A primeira comunidade cristã, apresentada por Lucas nos Actos dos Apóstolos como exemplo para nós, fortalecia-se com a Eucaristia. A celebração da Eucaristia tem uma grande importância para a Igreja e para cada um dos seus membros. Ela é «fonte e convergência de toda a vida cristã» (Lumen gentium LG 11). Santo Agostinho chama-lhe «vínculo de amor» (In Evangelium Johannis tractatus, 26, 6, 13). Como lemos nos Actos dos Apóstolos, esse «vínculo de amor» era desde o início fonte da unidade da comunidade dos discípulos de Cristo.

Dele derivava a solicitude pelos irmãos necessitados, de modo que dos seus bens «todos participavam, segundo a necessidade de cada um» (cf. Act Ac 2,45). Ele era fonte de alegria, de simplicidade de coração e de benevolência recíproca. Graças a este «vínculo de amor» eucarístico, a comunidade podia ser unânime, frequentar o templo e com um só coração louvar a Deus (cf. Act Ac 2,46-47) e tudo isto era um testemunho legível para o mundo: «E todos os dias o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação» (Ac 2,47).

A unidade no amor que brota da Eucaristia não é só expressão da solidariedade humana, mas é participação no próprio amor de Deus. Sobre essa unidade se edifica a Igreja. Ela é a condição da eficácia da sua missão salvífica.

«Dei-vos o exemplo: vós deveis fazer a mesma coisa que Eu fiz» (Jn 15,13). Estas palavras de Cristo contêm um grande desafio para a Igreja. Para todos nós que a constituímos - para os bispos, os sacerdotes, as pessoas consagradas e os fiéis leigos: testemunhar este amor, torná-lo visível e actuá-lo todos os dias. Desse testemunho de amor, de unidade e de perseverança na comunidade, necessita hoje o mundo a fim de que, como disse Cristo, os homens «vejam as nossas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus» (cf. Mt Mt 5,16). Trata-se aqui, antes de tudo, da unidade no interior da Igreja segundo o modelo da unidade do Filho com o Pai, no dom do Espírito Santo.

«Toda a Igreja - diz São Cipriano - mostra-se como o povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo». Todo o fiel dá a esta comunidade o seu próprio contributo, os próprios talentos, conforme a vocação e o papel que deve cumprir. A unidade e também a variedade é uma grande riqueza da Igreja, que lhe assegura um constante e dinâmico desenvolvimento. Em espírito de grande responsabilidade para com Cristo incessantemente presente na Igreja, procuremos realizar essa unidade para o bem da comunidade inteira.

É por esta razão que a Igreja atribui uma importância tão grande à participação na Eucaristia, em especial no dia do Senhor, isto é, no domingo, no qual celebramos a memória da ressurreição de Cristo. Na Igreja na Polónia era sempre vivo o culto da Eucaristia e o grande apego dos fiéis à participação dominical na Santa Missa. No limiar do terceiro milénio, peço a todos os meus compatriotas: conservai esta boa tradição. Respeitai o mandamento de Deus quanto à santificação do dia do Senhor. Seja ele deveras o primeiro de todos os dias e a primeira de todas as festas. Exprimi o vosso amor por Cristo e pelos irmãos, participando no banquete dominical da Nova Aliança - na Eucaristia.

De modo particular, dirijo-me aos pais, a fim de que sustentem e cultivem este bonito costume cristão de participar na Santa Missa juntamente com os próprios filhos. Seja vivo nos corações das crianças e dos jovens o sentido desse dever. Que a graça do amor que obtemos ao receber o Pão eucarístico, fortaleça os laços familiares. Torne-se fonte do dinamismo apostólico da família cristã.

Dirijo-me também a vós, caros Irmãos no sacerdócio: acendei nos corações humanos a devoção e o amor pela Eucaristia. Mostrai quanto é grande para toda a Igreja este sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor - sacramento de amor e de unidade. Permanecei unânimes na oração nas vossas comunidades diocesanas e religiosas. Perseverai no partir o pão, progredi na vida eucarística e desenvolvei-vos espiritualmente no clima da Eucaristia. A Eucaristia «é a razão principal e central da existência do sacramento do Sacerdócio. Por isso o sacerdote está unido de modo singular e excepcional à Eucaristia. Ele, de certo modo, provém 'dela' e existe 'para ela'. É também de modo particular responsável por ela. Os fiéis esperam do sacerdote um particular testemunho de veneração e de amor para com a Eucaristia, a fim de que também eles possam ser edificados e vivificados» (cf. Sobre o mistério e o culto da Santíssima Eucaristia, 2).

4. É surpreendente como a Igreja, ao desenvolver-se no tempo e no espaço, permanece ela mesma graças ao Evangelho e à Eucaristia. Pode-se afirmar isto, olhando até mesmo a partir do exterior da história da Igreja, e sobretudo experimenta-se isto a partir de dentro. Experimentam-no todos os que celebram a Eucaristia, e aqueles que nela participam. É o memorial e a renovação da Última Ceia. E a Última Ceia foi o tornar sacramentalmente presente a paixão e a morte de Cristo na cruz - o sacrifício da Redenção.

Anunciamos a vossa morte, Senhor Jesus; proclamamos a vossa ressurreição e, unidos no amor que de Vós provém, esperamos a vossa vinda na glória.

Amém.





VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÓNIA


1317
Lowicz, 14 de Junho de 1999



1. «A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco» (
Ga 1,3).

Com estas palavras do Apóstolo Paulo saúdo cordialmente quantos se encontram aqui reunidos para esta Eucaristia. Estas palavras são-nos transmitidas também por este antiquíssimo templo de Leczyca, que foi testemunha da vida da Igreja nesta terra dos Piast, de muitos Sínodos e de vários documentos legislativos, que demonstraram a sabedoria dos Bispos, Pastores do povo de Deus desta terra dos Piast. Estou grato à divina Providência pela ventura deste encontro. Junto deste altar, no meio de vós, desejo unir-me a todos os que vieram aqui, e também aos que cada dia se reúnem nas igrejas em redor dos seus sacerdotes, testemunhando a fé, a esperança e a caridade. Na Eucaristia, Cristo revelou do modo mais perfeito o amor infinito de Deus pelo homem: «Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos» (Jn 15,13).

Tendo como moldura este templo, saúdo a jovem Igreja de Lowicz, o seu Pastor, D. Alojzy, e o Bispo Auxiliar, D. Jósef. Saúdo todos os hóspedes, os Cardeais, os Arcebispos, os Bispos e também o clero diocesano e religioso, os religiosos, as religiosas, todos os fiéis desta Diocese e de maneira particular as numerosas crianças e jovens aqui reunidos. Saúdo os peregrinos que vieram para este encontro das Arquidioceses confinantes de Varsóvia e de Lódz, das Dioceses de Plock e de Wloclawek, juntamente com os seus Pastores, e também os peregrinos que vieram de outras partes da Polónia e do estrangeiro.

Saúdo-te, terra de Lowicz, com a tua rica história. De facto, foi aqui, na cidade de Lowicz, que durante séculos residiram os Arcebispos de Gniezno, Primazes da Polónia. Muitos deles encontraram o lugar do eterno repouso na cripta da antiga colegiada de owicz, actualmente Catedral.

Saúdo-te, terra da Beata Maria Franciszka Siedliska, fundadora da Congregação da Sagrada Família de Nazaré; terra da Beata Boleslawa Lament, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família. Aqui, por obra do Pe. Stanislaw Konarski, foi posta em prática a reforma das escolas dos Escolápios. Conhecemos da história a importância que ela teve no período do «Iluminismo» polaco e os grandes frutos dessa reforma, recolhidos pelas gerações dos polacos que viveram no período das divisões.

Saúdo-te, terra tão abundantemente rica da tradição cristã e da fé do teu povo, que apesar das tempestades da história perseverou sempre, sem mutações, ao lado de Cristo e da sua Igreja.

2. «Por isso eu, prisioneiro no Senhor, peço que vos comporteis de modo digno da vocação que recebestes».

São Paulo escreve assim na Carta aos Efésios (4, 1). Poderia dirigir as mesmas palavras tanto a nós, como aos seus concidadãos, o Bispo Michal Kozal, aprisionado no campo de concentração de Dachau. Celebra-se hoje a memória litúrgica desta fiel testemunha de Cristo. A graça «que Deus lhe concedeu não foi vã» (cf. 1Co 15,10) e dá fruto até aos nossos dias. O Beato Bispo Kozal exorta-nos a comportar-nos de maneira digna da nossa vocação humana e cristã, como filhos e filhas desta terra, desta pátria, da qual ele foi filho. São Paulo indica a grandeza desta vocação. Somos membros do Corpo de Cristo, isto é, da Igreja que Ele instituiu e da qual é a Cabeça. Nesta Igreja o Espírito Santo distribui continuamente os dons necessários para os vários serviços e tarefas. Eles constituem a grande riqueza da Igreja e servem o bem de todos.

Ao recordar estas palavras, penso sobretudo em vós, queridos pais. Deus concedeu-vos uma vocação particular. Para conservar a vida humana na terra, instituiu a sociedade familiar. Vós sois os primeiros guardas e protectores da vida que ainda não veio à luz, mas já foi concebida. Aceitai o dom da vida como a maior graça de Deus, como a sua bênção para a família, a nação e a Igreja. Aqui, deste lugar, lanço um apelo a todos os pais e mães da minha Pátria e do mundo inteiro, a todos os homens, sem excepção alguma: cada homem concebido no seio da mãe tem direito à vida! Repito mais uma vez, o que já disse em várias ocasiões: «A vida humana é sagrada. Ninguém, em nenhuma circunstância, pode reivindicar para si o direito de destruir directamente um ser humano inocente. Deus é o Senhor absoluto da vida do homem, plasmado à sua imagem e semelhança (cf. Gn Gn 1,26-28). A vida humana apresenta, por conseguinte, um carácter sagrado e inviolável, na qual se reflecte a própria inviolabilidade do Criador» (cf. Evangelium vitae EV 53). Deus protege a vida com a firme proibição pronunciada no monte Sinai: «Não matarás» (Ex 20,13). Mantende a fidelidade a este mandamento. O Cardeal Stefan Wyszynski, Primaz do Milénio, disse: «Queremos ser uma nação de vivos, não de mortos».

A família é chamada também a educar os seus filhos. O primeiro lugar onde inicia o processo educativo dum jovem é a casa paterna. Cada criança possui o direito natural, inalienável de ter a própria família, pais, irmãos e irmãs, entre os quais reconhecer que é uma pessoa necessitada de amor e capaz de doar o mesmo sentimento aos outros, aos seus entes queridos. Sirva-vos sempre de exemplo a Sagrada Família de Nazaré, na qual Cristo cresceu com a sua Mãe e o pai putativo, José. Visto que os pais dão a vida aos próprios filhos, cabe a eles o direito de serem reconhecidos como primeiros e principais educadores. Eles têm também o dever de criar uma atmosfera familiar repleta de amor e de respeito a Deus e aos homens, favorecendo a educação pessoal e social dos filhos. Como é grande a tarefa da mãe! Graças ao vínculo particularmente profundo que a une ao filho, pode aproximá-lo de maneira eficaz de Cristo e da Igreja. Mas espera sempre a ajuda do seu marido, pai de família.

1318 Queridos pais, bem sabeis que nos tempos de hoje não é fácil criar as condições cristãs necessárias para a educação dos filhos. Deveis fazer o possível para que Deus esteja presente e seja honrado nas vossas famílias. Não esqueçais a comum oração quotidiana, sobretudo à noite; a santificação do domingo e a participação na Santa Missa dominical. Para os vossos filhos vós sois os primeiros mestres da oração e das virtudes cristãs e, nisto, ninguém vos pode substituir. Observai os costumes religiosos e cultivai a tradição cristã, ensinai aos filhos o respeito por cada homem. O vosso maior desejo seja educar a jovem geração em união com Cristo e com a Igreja. Só desta forma sereis fiéis à vossa vocação de pais e satisfareis as necessidades espirituais dos vossos filhos.

3. Neste responsável dever de educação, a família não pode ser deixada sozinha. Precisa de ajuda e espera-a da Igreja e do Estado. Não se trata de substituir a família nos seus deveres, mas de unir harmoniosamente todos nesta grande tarefa.

Por conseguinte, dirijo-me a vós, Irmãos sacerdotes e a todos os que estão empenhados na catequese: abri de par em par as portas da Igreja para que todos, e sobretudo os jovens, possam haurir abundantemente e tirar proveito do seu enorme tesouro espiritual. Hoje, no nosso país, a Igreja pode praticar sem obstáculos o ensino da religião nas escolas. Passaram os tempos das lutas pela liberdade da catequese. Muitos de nós conhecem os sacrifícios e a coragem que foram precisos da parte da sociedade católica da Polónia. Reparou-se uma injustiça feita aos crentes nos tempos do sistema totalitário.

O grande bem que é o ensino da religião na escola requer um empenho sincero e responsável. Deveríamos fazer o melhor uso possível deste bem. Graças à catequese, a Igreja pode desempenhar a própria actividade evangelizadora com eficácia ainda maior e alargar desta forma o âmbito da sua missão.

Dirijo-me também a vós, queridos professores e educadores. Assumistes a grande tarefa da transmissão da ciência e da educação às crianças e aos jovens que vos são confiados. Encontrais-vos diante duma chamada difícil e séria. Os jovens precisam de vós. Procuram modelos como pontos de referência. Esperam respostas a muitas perguntas existenciais, que atormentam as suas mentes e os corações, e sobretudo exigem de vós um exemplo de vida. É preciso que sejais seus amigos, fiéis companheiros e aliados na luta juvenil. Ajudai-os a construir as bases para o seu futuro.

Alegro-me porque na Polónia surgem cada vez mais escolas católicas. É sinal de que a Igreja está presente de maneira concreta no campo da instrução. Estas escolas devem ser apoiadas e é necessário criar condições que lhes permitam, em colaboração com todo o mundo escolar na Polónia, contribuir para o bem comum da sociedade. O Padre Stanislaw Konarski deu-nos um exemplo desta actividade.

Há necessidade de uma particular sensibilidade por parte de todos os que estão empenhados na escola, para criar o clima dum diálogo amistoso e aberto. Prevaleça em todas as escolas o espírito de familiaridade e de respeito recíproco, o que era e é característico da escola polaca. A escola deveria ser o centro das virtudes sociais, de que a nossa nação tem tanta necessidade. É preciso que esse clima contribua para fazer com que as crianças e os jovens possam declarar abertamente as suas convicções religiosas e comportar-se de acordo com elas. Procuremos desenvolver e aprofundar nos corações das crianças e dos jovens os sentimentos patrióticos e o vínculo com a Pátria. Procuremos sensibilizá-los para o bem comum da nação e ensinar-lhes a responsabilidade pelo futuro. A educação da jovem geração no espírito do amor à Pátria tem uma grande importância para o futuro da nação. Com efeito, não é possível servir bem a nação, sem conhecer a sua história, a sua rica tradição e a sua cultura. A Polónia precisa de homens abertos ao mundo, que amem o próprio País.

Queridos professores e educadores, quero manifestar-vos o meu apreço pelo vosso afã na educação da jovem geração. Agradeço-vos de coração este vosso trabalho particularmente importante e difícil. Agradeço-vos o vosso serviço à pátria. Eu mesmo tenho uma pessoal dívida de gratidão em relação à escola polaca, aos professores e aos educadores, que recordo até hoje e pelos quais rezo todos os dias. O que recebi durante os anos de escola, até hoje frutifica na minha vida.

O bem da jovem geração seja a solicitude da vossa vida e do vosso trabalho educativo. S. Paulo diz: «Peço que vos comporteis de modo digno da vocação (...) para edificardes o Corpo de Cristo» (
Ep 4,1 Ep 4,12). Haverá uma vocação maior que aquela que Deus vos concedeu?

4. «Cada um de nós, entretanto, recebeu a graça na medida que Cristo a concedeu» (Ep 4,7), ensina-nos hoje S. Paulo e faz-nos presente ao mesmo tempo que a graça é o dom por meio do qual Deus nos dá a sua vida, tornando-nos seus filhos e partícipes da sua natureza. Portanto, surge a pergunta: de que maneira devo viver, para que se manifeste em mim da forma mais plena possível o poder da graça de Deus, como se revela o misterioso poder duma semente de trigo que produz o cêntuplo?

Queridos jovens e moças, alunos das escolas elementares e dos liceus da Diocese de owicz, das dioceses vizinhas e também de outras partes da Polónia. É bom que estejais hoje aqui presentes. Sinto-me muito feliz por este encontro. O que acabastes de ouvir refere-se de modo especial a vós e à vossa educação. Quero garantir-vos: o Papa ama-vos muito e tem a peito o vosso futuro; todos se interessam pelo vosso futuro, para que vos prepareis bem para as tarefas que vos esperam.

1319 Bem sabeis que nos estamos a aproximar do Grande Jubileu do Ano 2000. A este propósito talvez muitos de vós se perguntem: como será o novo, terceiro milénio, que está para chegar? Será melhor do que este que agora termina? Trará mudanças importantes, positivas para o mundo, ou tudo será como antes? Quero dizer-vos que, em grande medida, o futuro do mundo, da Polónia e da Igreja depende de vós. Sereis vós que o construireis, pois tendes a grave tarefa de edificar os tempos que hão-de vir. Agora compreendereis por que motivo, há pouco, falei tanto da educação dos jovens.

Não tenhais medo de enveredar pela via da vossa vocação, não temais procurar a verdade sobre vós mesmos e sobre o mundo que vos circunda. Desejaria muito que todos tivésseis nas vossas casas uma atmosfera de amor autêntico. Deus deu-vos os pais e vós deveríeis agradecer-lhe com frequência este dom. Respeitai e amai os vossos pais. Eles geraram-vos e estão a educar-vos. Para vós, desempenham o papel de Deus Criador e Pai. Eles também são, deveriam ser para vós, os amigos mais queridos, em quem poderíeis procurar ajuda e conselhos para os problemas da vossa vida. Neste momento, penso com pesar e com grande preocupação em todos os vossos coetâneos que não têm uma casa paterna, que são privados do amor e do afecto dos pais. Dizei-lhes que o Papa os recorda nas suas orações e os ama muito.

A vossa idade é o estádio mais proveitoso da vida para semear e preparar o terreno para as futuras colheitas. Quanto mais profundo for o empenho com que assumirdes os vossos deveres, tanto maior será a eficácia com que poreis em prática a vossa missão no futuro. Empenhai-vos no estudo com grande dedicação. Aprendei a conhecer matérias novas. De facto, o saber abre os horizontes e favorece o desenvolvimento espiritual do homem. É deveras grande o homem que deseja aprender sempre mais.

A juventude procura modelos e exemplos. Vai ao vosso encontro o próprio Cristo, que dedicou toda a sua vida ao bem do próximo. Dirigi para Ele o vosso olhar. Esteja presente nos vossos pensamentos, durante os vossos divertimentos e nas vossas conversas. Deveríeis viver sempre em amizade com Ele. O Senhor Jesus quer ajudar-vos. Quer ser o vosso apoio e corroborar-vos nas lutas juvenis para conquistar as virtudes como a fé, o amor, a honestidade, a pureza e a generosidade. Quando tiverdes de enfrentar algo difícil, quando experimentardes na vossa vida qualquer insucesso ou desilusão, o vosso pensamento se dirija a Cristo, que vos ama, que é um fiel companheiro de viagem e vos ajuda a superar qualquer dificuldade. Sabei que não estais sós. Acompanha-vos Alguém que jamais vos decepcionará. Cristo compreende os desejos mais secretos do vosso coração. Ele espera o vosso amor e testemunho.

5. «Um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos» (
Mt 23,8).

Queridos Irmãos e Irmãs, voltemos os nossos corações para Cristo, «luz verdadeira que a todo o homem ilumina» (cf. Jo Jn 1,9). Ele é o Mestre, o Ressuscitado que tem em si a vida e está sempre presente na Igreja e no mundo. É ele que nos revela a vontade do Pai e nos ensina como realizar a vocação recebida de Deus, por obra do Espírito Santo. Confiamos a Cristo a grande obra da educação. Só Ele conhece profundamente o homem e sabe o que se esconde no íntimo do seu coração. Hoje, Cristo diz-nos: «Sem Mim nada podeis fazer» (Jn 15,5) - Eu, o vosso Mestre, quero ser para vós o caminho e a luz, a vida e a verdade «todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28,20).

Amém!





VIAGEM APOSTÓLICA DE JOÃO PAULO II À POLÓNIA


Sosnowiec, 14 de Junho de 1999

1. Estimados Irmãos e Irmãs!


Dou graças à divina Providência porque ao longo do percurso da minha peregrinação através da terra pátria se encontra a jovem Diocese de Sosnowiec. Desejava visitar esta terra. Desejava muito encontrar o Povo de Deus de Zaglêbie, e hoje este desejo realiza-se. Agradeço a D. Adam, ao Bispo Auxiliar Piotr e a toda a comunidade local da Igreja o convite e o caloroso acolhimento.

Saúdo cordialmente os Bispos hóspedes, os sacerdotes, as pessoas consagradas, os representantes das autoridades locais, todos os fiéis aqui reunidos e quantos nos acompanham espiritualmente.

1320 O encontro de hoje faz-me recordar as celebrações que vivemos aqui, em Sosnowiec, em Maio de 1967. Na igreja da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria - a actual Catedral - celebrámos o milénio com a participação do Primaz do Milénio e de outros Prelados polacos. Eram tempos árduos. Difíceis de modo particular para quantos desejavam professar abertamente a própria fé e a sua pertença à Igreja. Recordo-me do grande significado que tinha naquela época o ensinamento do Concílio Vaticano II, que acabara de se concluir. Recordo a esperança e a força que encerrava de modo particular o ensinamento conciliar sobre a dignidade da pessoa humana e os seus direitos inalienáveis. Penetrava profundamente nas almas preparadas para o milénio através da grande novena. Hoje os tempos mudaram. É um grande dom da divina Providência. Devemos a nossa gratidão a Deus por quanto foi feito na nossa Pátria. Que jamais falte a gratidão nos corações dos crentes na Polónia!

2. «Louvai a Javé, todas as nações, glorificai-O todos os povos! Pois o seu amor por nós é firme e a Sua fidelidade é para sempre!» (Sl 116[117], 1-2). Com estas palavras o Salmista exorta todas as nações a louvar a Deus. O Povo eleito teve um motivo particular para este louvor. Moisés diz: «Porque Javé teu Deus te abençoou em todos os trabalhos das tuas mãos. Ele acompanhou- te na caminhada por esse grande deserto. Durante quarenta anos (...) esteve contigo e nada te faltou» (
Dt 2,7). Nesta peregrinação de Israel participam, num certo sentido, todos os povos e nações da terra. Embora apenas alguns períodos da história tenham sido chamados «tempo dos grandes êxodos dos povos», tendo em consideração os singulares deslocamentos que se verificaram sobretudo no Continente europeu, de facto até em condições de uma existência estável o homem não cessa de ser um peregrino e as nações não deixam de peregrinar no espaço e no tempo.

A peregrinação da história de cada nação deixa atrás de si os frutos do trabalho humano. No início da história, Deus confiou a terra aos homens, para que a subjugassem (cf. Gn Gn 1,28). O homem encontrou a terra como um terreno que devia ser cuidado criativamente. Transformava-a de maneira gradual, dando-lhe um novo rosto. Começou a cultivá-la, a construir nela, criando povoados, aldeias e cidades. Desta forma, o homem confirmava-se um ser à semelhança de Deus, ao qual tinha sido concedido a capacidade não só de conhecer a verdade, mas também de criar a beleza.

Enquanto nos aproximamos do ano 2000, dirigimos o olhar para trás, em direcção a todos os percursos deste caminho feito ao longo dos séculos pelos nossos antepassados. Deixaram-nos a grande herança dum trabalho criativo que hoje nos causa admiração e gratidão. A canseira do trabalho e as obras das gerações passadas constituem para nós um desafio, isto é, continuar a subjugar esta terra, que nos foi dada pelo Criador em posse e como tarefa.

Ao aceitar o convite dos séculos, não podemos esquecer a divina perspectiva de participar na obra da criação, que a cada esforço humano confere o justo sentido e dignidade. Sem ela o trabalho facilmente pode ser privado da sua dimensão subjectiva. Neste caso, o homem que o faz deixa de ser importante, e conta apenas o valor material do que faz. O homem já não é tratado como artífice, como aquele que cria, mas como um instrumento de produção.

Parece que no período de necessárias transformações económicas no nosso país se podem observar sintomas deste perigo. Há dois anos falei acerca disto em Legnica. Por conseguinte, um pouco em toda a parte são esquecidos os direitos do homem em nome das leis do mercado. Isto acontece, por exemplo, quando se considera que o lucro económico justifica a perda do trabalho por parte de alguns, que juntamente com o trabalho perde também qualquer perspectiva de se manter a si próprio e a família. Isto acontece também quando, para aumentar a produção, é negado ao trabalhador o direito ao repouso, aos cuidados da família, à liberdade de programar a sua vida quotidiana. Isto acontece sempre que o valor do trabalho é definido não segundo o esforço do homem, mas de acordo com o preço do produto - o que faz com que a remuneração não corresponda à fadiga.

Contudo, é preciso acrescentar que isto não se refere apenas aos empregadores, mas também aos trabalhadores. Todo aquele que empreende um trabalho pode ceder à tentação de o tratar como um objecto, apenas como fonte de um enriquecimento material. O trabalho pode dominar a vida do homem a ponto de ele deixar de sentir a necessidade de cuidar da sua saúde, do desenvolvimento da própria personalidade, da felicidade dos seus entes queridos ou até da sua relação com Deus.

Se hoje falo acerca disto, faço-o a fim de sensibilizar as consciências. De facto, embora as estruturas estatais ou económicas não deixem de influenciar a atitude em relação ao trabalho, contudo a dignidade dele depende da consciência humana. Nela realiza-se a sua avaliação de modo definitivo. Com efeito, na consciência faz-se sentir incessantemente a voz do Criador, que indica o que é um autêntico bem para o homem e para o mundo que lhe foi confiado. Todo aquele que perdeu o recto juízo da consciência pode transformar em maldição a bênção do trabalho.

É necessária a sabedoria para redescobrir sempre aquela dimensão sobrenatural do trabalho, que o Criador deu ao homem como tarefa. É necessária uma consciência recta para discernir justamente o valor definitivo do próprio trabalho. É preciso o espírito de sacrifício, para não oferecer no altar do bem-estar a própria humanidade e a felicidade do próximo.

3. «Comerás do trabalho das tuas próprias mãos, tranquilo e feliz» (Sl 127[128], 2). Oro a Deus com todo o coração para que estas palavras do Salmo se tornem hoje e sempre uma mensagem de esperança para todos os que, em Zaglêbie, na Polónia e em todo o globo terrestre, assumem a canseira quotidiana de subjugar a terra. Oro de modo ainda mais intenso para que estas palavras gerem a esperança nos corações daqueles que desejam fervorosamente trabalhar, e têm a desventura de estarem desempregados. Peço a Deus a fim de que o progresso económico do nosso país, e de outros países do mundo, se realize de forma que todos os homens - como diz S. Paulo - comam «o próprio pão, trabalhando em paz» (2Th 3,12). Falo disto em voz alta porque desejo que conheçais - que cada trabalhador deste país saiba - que o Papa e a Igreja se interessam pelos vossos problemas.

4. «Porque Javé teu Deus te abençoou em todos os trabalhos das tuas mãos. Ele acompanhou-te na caminhada por esse grande deserto» (2, 7) - desde há séculos, a Igreja transmite estas palavras do Livro do Deuteronómio como mensagem de esperança. Se o homem souber reconhecer nas obras das suas mãos o sinal da bênção divina, não duvidará que este mesmo Deus existe - está próximo - e ocupar-se-á constantemente do caminho do homem, sobretudo quando atravessar o grande deserto dos problemas quotidianos e das preocupações atormentadoras. Hoje não pode faltar o serviço à esperança, até agora desempenhado de maneira eficaz pela Igreja na Polónia. O homem precisa do testemunho da presença de Deus! Hoje o homem, de maneira particular o trabalhador, precisa duma Igreja que afirme isto com um vigor renovado. Os tempos se transformam, mudam os homens e as circunstâncias, surgem novos problemas. A Igreja não pode ignorar tais mudanças, não pode deixar de aceitar os desafios, que elas originam. O homem é a primeira e fundamental via da Igreja, o caminho da sua vida quotidiana e da sua experiência, missão e afãs. Por isso, a Igreja da nossa época deve estar consciente de tudo quanto parece opor-se a isto, para que «a vida humana se torne cada vez mais humana e tudo aquilo que compõe esta mesma vida corresponda à verdadeira dignidade do homem. Numa palavra, a Igreja deve estar bem cônscia de tudo aquilo que é contrário a tal processo de mobilização da vida humana» (cf. Redemptor hominis, RH 14).

1321 5. Queridos Irmãos e Irmãs!

Aprendamos esta sensibilidade em relação ao homem e aos seus problemas, fixando o olhar na vida e no serviço do padroeiro da vossa diocese, Santo Alberto Chmielowski e da Serva de Deus Madre Teresa Kierociñska, chamada Madre de Zag³êbie. Com sensibilidade, eles descobriam o sofrimento e a amargura dos que não sabiam encontrar o próprio lugar nas estruturas sociais e económicas de então e ajudavam os mais necessitados. O programa que delinearam é sempre actual. Mesmo no final do século XX, eles ensinam-nos que não se podem fechar os olhos perante a miséria e o sofrimento daqueles que não sabem ou não podem reencontrar-se na nova realidade, muitas vezes complicada. Cada paróquia se torne uma comunidade de pessoas sensíveis ao destino de quem se encontra numa situação difícil. Procurai formas sempre novas para este desafio. Sejam de encorajamento para todos as palavras da Sagrada Escritura: «Quando lhe deres alguma coisa, não o faças de má vontade porque, em resposta a esse gesto, Javé teu Deus te abençoará em todos os teus trabalhos e em todas as tuas iniciativas» (cf. Dt
Dt 15,10).

A mensagem sobre a presença de Deus na história do homem deve ser transmitida sobretudo aos jovens. Eles têm necessidade desta certeza. Só graças a ela poderão descobrir novas perspectivas para uma realização criativa do próprio ser homens numa época de transformações. Sinto-me feliz por que a Igreja na Polónia assume em várias dimensões a obra educativa. Que este criar para os jovens a possibilidade de aperfeiçoar as qualificações produza os seus frutos! Sobre tal fundamento se desenvolva a capacidade criativa e surjam novas e boas iniciativas em todos os sectores da vida.

O testemunho da Igreja através das obras de misericórdia e a instrução não pode contudo substituir a obra dos homens e das instituições responsáveis pela forma do mundo do trabalho. Por conseguinte, uma das mais importantes tarefas da Igreja neste âmbito é a formação das consciências humanas, uma formação repleta de delicadeza e de discrição, a fim de despertar em todos a sensibilidade para estes problemas. Só quando na consciência de cada um estiver viva esta verdade fundamental, ou seja, que o homem é sujeito e criador, e que o trabalho deve servir o bem da pessoa e da sociedade, se poderão evitar os perigos causados pelo materialismo prático. O mundo do trabalho precisa de homens com uma consciência recta. O mundo do trabalho espera da Igreja o serviço da consciência.

6. Daqui a pouco coroaremos a famosa imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Jaworzno, de Osiedle Stale. Este acto tem uma eloquência particular. Por um lado, é sinal da fé dos operários de Zaglêbie. Graças à devoção a Maria e a uma incessante confiança a Ela do hoje e do amanhã da Igreja, esta fé conservou-se nos corações dos trabalhadores, apesar das numerosas provas por eles suportadas, sobretudo no arco da última metade do século. Por outro lado, o acto da coroação é a confirmação do facto que a comunidade dos crentes de Jaworze e de toda região de Zaglêbie experimenta deveras esta particular presença de Maria, graças à qual as aspirações humanas alcançam Deus, e as graças divinas descem sobre os homens.

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro seja para vós guia pelos caminhos do novo milénio! Ajude-vos sem jamais cessar, na peregrinação rumo à casa do Pai nos céus.

E o amor de Deus Pai, Deus Criador e Senhor, transforme os corações e as mentes de todos os que, com o seu trabalho, subjugam a terra. Amém.



Homilias JOÃO PAULO II 1314