Homilias JOÃO PAULO II 1726

1726 Saúdo-vos a todos com afecto. Em primeiro lugar, saúdo o Cardeal Vigário, o Bispo Vice-Gerente e os Bispos Auxiliares. Saúdo os Reitores e os Superiores do Pontifício Seminário Romano Maior e do Seminário diocesano Redemptoris Mater, que se ocuparam da vossa formação. Saúdo o Cardeal Andrzej Maria Deskur e os formadores dos "Filhos da Cruz", os responsáveis e os formadores de todos os que, entre vós, pertencem à Sociedade de Nossa Senhora da Santíssima Trindade e à Sociedade do Apostolado Católico.

Desejo exprimir o meu profundo reconhecimento às vossas comunidades paroquais, às associações, aos movimentos e aos grupos a que pertenceis. Um obrigado a quantos vos ajudam a reconhecer e a aceitar a chamada do Senhor, e de modo especial às vossas famílias, que vos educam na fé e hoje se alegram juntamente convosco.

3. Caríssimos ordinandos, este dia será inesquecível para cada um de vós. Hoje, vós sois "promovidos ao serviço de Cristo mestre, sacerdote e rei", participando do seu ministério, "pelo qual a Igreja, neste mundo, se constitui continuamente em Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo" (Presbyterorum ordinis,
PO 1).

Gostaria simplesmente de chamar a vossa atenção para algumas características que evidenciam quem é o sacerdote, no projecto salvífico de Deus, e o que esperam dele a Igreja e o mundo. O sacerdote é o homem da Palavra, ao qual compete a tarefa de levar o anúncio evangélico aos homens e às mulheres do seu tempo. Ele deve fazê-lo com profundo sentido de responsabilidade, comprometendo-se em estar sempre em total sintonia com o magistério da Igreja. Ele é também o homem da Eucaristia, mediante a qual ele penetra no coração do Mistério pascal. Sobretudo na Santa Missa ele sente a exigência de uma configuração cada vez mais íntima com Jesus Bom Pastor, sumo e eterno Sacerdote.

Por conseguinte, alimentai-vos da palavra de Deus; adorai todos os dias Cristo realmente presente no sacramento do Altar. Deixai-vos invadir pelo amor infinito do seu Coração, prolongai a adoração eucarística nos momentos importantes da vossa vida, nos das decisões pessoais e pastorais difíceis, no começo e no fim dos vossos dias. Posso garantir-vos que eu "fiz esta experiência, e dela tirei força, conforto e amparo!" (Ecclesia de Eucharistia, EE 25).

4. Configurai-vos a Cristo Bom Pastor, queridos ordinandos, e sereis os ministros da misericórdia divina. Administrareis o sacramento da Reconcilição, cumprindo, assim, o mandato transmitido pelo Senhor aos Apóstolos depois da ressurreição: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jn 20,22-23). De quantos milagres e prodígios realizados pela misericórdia de Deus no confessionário vós sereis testemunhas!

Mas para poder realizar dignamente a missão que hoje vos é confiada, devereis manter-vos em união constante com Deus na oração, e fazer vós próprios a experiência do seu amor misericordioso mediante uma prática regular da Confissão, deixando-vos guiar também por conselheiros espirituais peritos, sobretudo nos momentos comprometedores da existência.

5. Caríssimos Irmãos e Irmãs da Diocese de Roma, e vós que estais à volta destes ordinandos! O sacerdote, chamado de modo especial a tender para a santidade, é para todo o povo cristão a testemunha do amor e da alegria de Cristo. A exemplo do Bom Pastor, ele ajuda os crentes a seguir Cristo, retribuindo o seu amor. Estai próximos dos vossos sacerdotes; acompanhai-os com a oração constante e pedi ao Senhor com insistência que nunca faltem operários para a sua messe.

E tu, Maria, "Mulher eucarística", Mãe e modelo de cada sacerdote, está ao lado destes teus filhos, hoje e no decorrer dos anos do seu ministério pastoral. Como o apóstolo João, eles recebem-te hoje "na sua casa". Faz com que conformem a sua vida com a do Mestre divino que os escolheu como seus ministros. O "eis-me", há pouco pronunciado por cada um com entusiasmo juvenil, exprima-se todos os dias na adesão generosa às tarefas do ministério e floresça na alegria do "magnificat" pelas "maravilhas" que a misericórdia de Deus quiser realizar pelas suas mãos.

Amen.





DURANTE O SOLENE RITO DE CANONIZAÇÃO


DE QUATRO BEATOS


Domingo, 18 de Maio de 2003






1727 1. "Quem está em mim e Eu nele, esse dá muito fruto" (Jn 15,5 cf. Aclamação ao Evangelho). As palavras dirigidas por Jesus aos Apóstolos, no fim da Última Ceia, constituem um convite comovedor também para nós, seus discípulos do terceiro milénio. Só quem permanece intimamente unido a Ele enxertado nele como o ramo na videira recebe a linfa vital da sua graça. Só quem vive em comunhão com Deus produz frutos abundantes de justiça e de santidade.

Os Santos, que tenho a alegria de canonizar neste quinto domingo de Páscoa, são testemunhas desta fundamental verdade evangélica. Dois deles provêm da Polónia: José Sebastião Pelczar, Bispo de Przemysl, fundador da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus; Úrsula Ledóchowska, virgem, fundadora das Irmãs Ursulinas do Sagrado Coração de Jesus Agonizante. As outras duas Santas são italianas: Maria De Mattias, virgem, fundadora da Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo; Virgínia Centurione Bracelli, leiga, fundadora das Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário e das Irmãs Filhas de Nossa Senhora no Monte Calvário.

2. "A perfeição é como a cidade do Apocalipse (cf. Ap Ap 21), com doze portas que se abrem para todas as partes do mundo, como sinal de que os homens de todas as nações, condição e idade podem atravessar. (...) Nenhuma condição nem idade alguma são obstáculo para uma vida perfeita. De facto, Deus não considera as coisas externas (...), mas o espírito (...), e não pretende mais do que aquilo que podemos dar". Com estas palavras o nosso novo santo José Sebastião Pelczar exprimia a própria fé na vocação universal à santidade. Viveu esta convicção como sacerdote, professor e Bispo. Ele mesmo tendia para a santidade e para ela guiava os outros. Foi zeloso em todas as coisas, mas fez isso de modo que, no seu serviço, Cristo fosse o Mestre.
O lema da sua vida era: "Tudo para o Sacratíssimo Coração de Jesus pelas mãos imaculadas da Santíssima Virgem Maria". Foi ele que formou a sua figura espiritual, cuja característica era confiar-se a Cristo, através de Maria, a si mesmo, a própria vida e o seu ministério.

Vivia a sua doação a Cristo sobretudo como resposta ao seu amor, contido e revelado no sacramento da Eucaristia. Dizia: "Cada homem deve ficar maravilhado com o pensamento de que o Senhor Jesus, devendo ir para o Pai num trono de glória, permaneceu na terra com os homens. O seu amor inventou este milagre dos milagres, instituindo o Santíssimo Sacramento". Despertava em si e nos outros incessantemente esta maravilha da fé. Foi isto que o conduziu também a Maria. Como perito teólogo, não podia deixar de ver em Maria aquela que "no mistério da Encarnação antecipava também a fé eucarística da Igreja"; aquela que, levando no seu seio o Verbo encarnado, foi de certa forma o "tabernáculo" o primeiro "tabernáculo" na história (cf. Ecclesia de Eucharistia EE 55). Dirigia-se portanto a ela com devoção filial e com aquele amor que tinha levado da casa paterna, e encorajava os outros ao mesmo amor. Escrevia à Congregação das Escravas do Sagrado Coração, por ele fundada: "Entre os desejos do Sagrado Coração de Jesus um dos mais fervorosos é que a sua Santíssima Mãe seja venerada e amada por todos, primeiro, porque o próprio Senhor a ama de maneira inefável, e depois porque fez dela a Mãe de todos os homens, para que, com a sua amabilidade atraísse a si até os que fogem da santa Cruz e os conduzisse ao Coração divino".

Ao elevar à glória dos altares José Sebastião Pelczar peço, por sua intercessão, o esplendor da sua santidade para as Escravas do Sagrado Coração de Jesus, para a Igreja de Przemysl e para todos os crentes na Polónia e no mundo seja um encorajamento a este amor a Cristo e à sua Mãe.

3. Santa Úrsula Ledóchowska, durante toda a sua vida, com fidelidade e amor, fixou o seu olhar no rosto de Cristo, Seu Esposo. De modo particular uniu-se a Cristo agonizante na Cruz. Esta união enchia-a de um extraordinário zelo na obra de anunciar, com palavras e obras, a Boa Nova do amor de Deus. Levava-a em primeiro lugar às crianças e aos jovens, mas também a quantos se encontravam em necessidade, aos pobres, aos abandonados, às pessoas solitárias. Dirigia-se a todos com a linguagem do amor comprovado com as obras. Com a mensagem do amor de Deus atravessou a Rússia, os Países escandinavos, a França e a Itália. Foi, na sua época, uma apóstola da nova evangelização, dando provas, com a sua vida e com a sua actividade, de uma constante actualidade, criatividade e eficiência do amor evangélico. Também ela tirava do amor à Eucaristia a inspiração e a força para a grande obra do apostolado. Escrevia: "Devo amar o próximo como Jesus me amou a mim. Tomai e comei... Comei as minhas forças, estou à vossa disposição (...). Tomai e comei as minhas capacidades, o meu talento (...), o meu coração, para que, com o seu amor, ele aqueça e ilumine a vossa vida (...). Tomai e comei o meu tempo, ele está à vossa disposição. (...) Sou vossa como Jesus-Hóstia é meu". Não ressoa nestas palavras o eco de uma doação com a qual Cristo, no Cenáculo, se ofereceu a si mesmo aos Discípulos de todos os tempos?

Ao fundar a Congregação das Ursulinas do Sagrado Coração de Jesus Agonizante, transmitiu-lhe este espírito. "O Santíssimo Sacramento escreveu é o sol da nossa vida, o nosso tesouro, a nossa felicidade, o nosso tudo na terra. (...) Amai Jesus no tabernáculo! Permanece sempre ali o vosso coração mesmo se materialmente estais no lugar de trabalho. Ali está Jesus, que devemos amar fervorosamente, de todo o coração. E se não o sabemos amar, pelo menos desejamos amá-lo amá-lo cada vez mais".

Santa Úrsula sabia, à luz deste amor eucarístico, entrever em qualquer circunstância um sinal do tempo, para servir Deus e os irmãos. Sabia, que para quem crê, qualquer acontecimento, até o mais pequeno, se torna uma ocasião para realizar os planos de Deus. O que era ordinário, fazia com que fosse extraordinário; o que era quotidiano mudava-o para que se tornasse perene; o que era banal tornava-o santo.

Se hoje Santa Úrsula se torna exemplo de santidade para todos os crentes, é para que o seu carisma possa ser acolhido por todos aqueles que, em nome do amor de Cristo e da Igreja desejam testemunhar de modo eficaz o Evangelho no mundo de hoje. Todos podemos aprender dela o modo de edificar com Cristo um mundo mais humano um mundo no qual serão realizados cada vez mais plenamente valores como a justiça, a liberdade, a solidariedade e a paz. Dela podemos aprender a forma de realizar todos os dias o mandamento "novo" do amor.

4. "O seu mandamento é este: que creiamos... e nos amemos uns aos outros" (1Jn 3,23).O apóstolo João exorta a aceitar o amor infinito de Deus, que para a salvação do mundo enviou o seu Filho unigénito (cf. Jo Jn 3,16). Este amor exprimiu-se de modo sublime quando Cristo derramou o seu Sangue como "preço infinito de resgate" por toda a humanidade. Pelo mistério da Cruz foi conquistada interiormente Maria De Mattias, que colocou o Instituto das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo "sob o estandarte do Sangue Divino". O amor a Jesus crucificado transformou-se nela em paixão pelas almas e em dedicação humilde aos irmãos, ao "querido próximo", como gostava de repetir. "Animemo-nos exortava a sofrer de bom grado por amor de Jesus que deu com tanto amor o seu sangue por nós. Comprometamo-nos em ganhar almas para o céu".

1728 Santa Maria De Mattias confia hoje esta mensagem aos seus filhos e às suas filhas espirituais, estimulando a todos a seguir até ao sacrifício da vida o Cordeiro imolado por nós.

5. O mesmo amor amparou Virgínia Centurione Bracelli. Seguindo a exortação do apóstolo João, quis amar não só "com palavras," ou "com a linguagem", mas "com os factos e na verdade" (cf.
1Jn 3,18). Pondo de lado as suas origens nobres, dedicou-se à assistência dos últimos com extraordinário zelo apostólico. A eficiência do seu apostolado provinha de uma adesão incondicionada à vontade divina, que se alimentava da contemplação incessante e da escuta obediente da palavra do Senhor.

Enamorada de Cristo e, por Ele pronta a doar-se a si mesma aos irmãos, santa Virgínia Centurione Bracelli deixa à Igreja o testemunho de uma santidade simples e fecunda. O seu exemplo de fidelidade corajosa continua a exercer um grande entusiasmo nas pessoas do nosso tempo. Costumava dizer: quando se tem como fim unicamente Deus, "todas as oposições se aplanam, e vencem-se todas as dificuldades" (Positio, 86).

6. "Permanecei em mim!" No Cenáculo Jesus repetiu várias vezes este convite, que São José Sebastião Pelczar, Santa Úrsula Ledóchowska, Santa Maria de Mattias e Santa Virgínia Centurione Bracelli aceitaram com total confiança e disponibilidade. É um convite premente e amoroso dirigido a todos os crentes: "Se vós estiverdes em Mim garante o Senhor e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e ser-vos-á concedido" (Jn 15,7).
Oxalá cada um de nós experimente na própria existência a eficiência desta certeza de Jesus.

Ajude-nos Maria, rainha dos Santos e modelo de comunhão perfeita com o seu divino Filho. Que ela nos ensine a permanecer "enxertados" em Jesus, como ramos na videira, e a nunca nos separarmos do seu amor. De facto, sem Ele nada podemos, porque a nossa vida é Cristo vivo e presente na Igreja e no mundo. Hoje e sempre.

Louvado seja Jesus Cristo!



VIAGEM APOSTÓLICA À CROÁCIA



DURANTE A MISSA DE BEATIFICAÇÃO


DE MARIA PETROVIC


Dubrovnik, 6 de junho de 2003


1. "Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?" (Mc 10,17), perguntou o jovem que, naquele dia, se apresentou diante de Jesus, ajoelhando-se.

Caríssimos Irmãos e Irmãs, também nós, na assembleia litúrgica que nos vê reunidos como discípulos do "Bom Mestre", lhe dirigimos hoje a mesma interrogação, para saber que caminho nos há-de levar à vida eterna.

A resposta é simples e imediata: "Observa os mandamentos!". E ela vem daquele que é a autêntica fonte da verdade e da vida. Congregado para esta celebração festiva, o povo de Dubrovnik, juntamente com os peregrinos que vieram das outras partes da Croácia, da Bósnia e Herzegovina, de Montenegro e dos outros países, aceita com emoção o convite do "Bom Mestre" e implora a sua ajuda e a sua graça para lhe poder corresponder com generosidade e compromisso.

1729 2. Saúdo-vos com afecto, caríssimos Irmãos e Irmãs, juntamente com os vossos Bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas que vos acompanham no vosso caminho de testemunho cristão. Dirijo o meu pensamento cordial ao Bispo D. Zelimir Puljic, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu, aos Senhores Cardeais Joachim Meisner e Vinko Puljic, e ainda, de modo especial, às Irmãs Filhas da Misericórdia, fundadas pela nova Beata. Saúdo respeitosamente também as Autoridades civis e militares, agradecendo ainda a todos aqueles que trabalharam para tornar possível esta minha visita.

Recordando o meu Predecessor Pio IV, que aqui foi Arcebispo, vim com alegria a esta antiga e gloriosa cidade de Dubrovnik, orgulhosa da sua história e das suas tradições de liberdade, justiça e promoção do bem comum, testemunhadas pelas palavras lapidares, gravadas na pedra da fortaleza de São Lourenço: Non bene pro toto libertas venditur auro ("A liberdade não se vende nem por todo o ouro do mundo") e na porta da Sala do Conselho, no Palácio do Governador: Obliti privatorum, publica curate ("Esquece o interesse privado e preocupa-te com o interesse público").

Faço votos a fim de que o património de valores humanos e cristãos, acumulado ao longo dos séculos, continue a constituir, com a ajuda de Deus e do vosso Padroeiro Sao Brás, o tesouro mais precioso do povo deste País.

3. "Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?" (
Mc 10,17). É a pergunta que a Irmã Maria de Jesus Crucificado dirigiu ao seu Senhor desde quando, ainda muito jovem em Blato, na ilha de Korcula, trabalhava activamente na paróquia, dedicando-se ao serviço do próximo nas Associações do Bom Pastor e das Maes Católicas, e na Cozinha Popular.

A resposta ressoou no seu coração de modo claro: "Vem e segue-me!". Conquistada pelo amor de Deus, escolheu consagrar-se para sempre a Ele, realizando a aspiração de se dedicar totalmente ao bem espiritual e material dos mais necessitados. Depois, fundou a Congregação das Filhas da Misericórdia da Terceira Ordem Regular de São Francisco, com a tarefa especifica de "difundir e propagar, mediante as obras de misericórdia, espirituais e materiais, o conhecimento do Amor divino". Não faltaram dificuldades, mas a Irmã Maria continuou com coragem indómita, oferecendo os seus sofrimentos, como outros tantos actos de culto, e ajudando as suas irmãs com a palavra e o exemplo. Durante quarenta anos governou com sabedoria maternal o seu Instituto, abrindo-o ao compromisso missionário em vários paises da América Latina.

4. A figura da Beata Maria de Jesus Crucificado leva-me a pensar em todas as mulheres da Croácia, as que são casadas e mães felizes, assim como as que estão marcadas para sempre pela dor, devido à perda de um familiar na guerra cruel dos anos 90, ou ainda por outras graves desilusões.

Penso em ti, mulher, porque com a tua sensibilidade, generosidade e fortaleza, "enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a plena verdade dos relacionamentos humanos" (Carta às Mulheres, 2). Deus confiou-te de modo especial as criaturas, e assim és chamada a tornar-te um sustentáculo importante para a existência de cada pessoa, de modo particular no âmbito da familia.

O ritmo frenético da vida moderna pode levar ao ofuscamento e mesmo à perda daquilo que é humano. Talvez mais do que noutras épocas, a nossa era tem necessidade "daquele "génio" da mulher, que assegura a sensibilidade para o homem, em todas as circunstâncias" (Mulieris dignitatem MD 30).

Mulheres croatas, conscientes da vossa altíssima vocação de "esposas" e de "mães", continuai a olhar para cada pessoa com os olhos do coração, a ir ao seu encontro e a estar ao seu lado com a sensibilidade que é própria do vosso instinto maternal. A vossa presença é indispensável na família, na sociedade e na comunidade eclesial.

5. Penso de maneira especial em vós, mulheres consagradas, como Maria Petkovic, que aceitastes o convite para seguir com um coração indivisível, Cristo casto, pobre e obediente.
Não vos canseis de responder fielmente ao único Amor da vossa existência. Com efeito, a vida consagrada não é apenas o compromisso generoso de um ser humano; é, antes de mais nada, resposta a um dom que vem do Alto e pede para ser recebido com plena disponibilidade. A exigência quotidiana do amor gratuito de Deus por vós leva-vos a dar a vossa vida incondicionalmente ao serviço da Igreja e dos irmãos, depositando tudo, presente e futuro, nas suas mãos.

1730 6. "Jesus olhou para ele com amor" (Mc 10,21). Deus dirige o seu olhar cheio de ternura para quem deseja cumprir a sua vontade e andar pelos seus caminhos (cf. Sl Ps 1,1-3). Com efeito, cada um, segundo a vocação que lhe é própria, é chamado a realizar em si e à sua volta o projecto de Deus. Com esta finalidade, o Espírito do Senhor reveste o homem que é fiel a Deus, "de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão e de paciência" (Col 3,12). Efectivamente, só assim é possível edificar a cidade terrestre à imagem da cidade celestial.
É no perdão recíproco, na caridade e na paz que deve crescer e revigorar a vossa comunidade cristã: esta é a oração que, hoje, o Papa eleva ao Senhor por todos vós.
"Tudo o que fizerdes através de palavras ou de acções, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças ao Deus Pai por meio dele" (Col 3,17).

A Ele seja dada glória por todos os séculos!

Sempre desejei visitar Dubrovnik. E hoje isto aconteceu. Dou graças a Deus! E agradeço-vos também a vós, esta maravilhosa hospitalidade, esta Liturgia e estas belezas naturais. Abençoo-vos a todos, bem como as vossas famílias e os jovens, a quem digo: "Ânimo!". Abençoo as crianças e os doentes. Deus abençoe a terra natal da nova Beata, a cidade de Dubrovnik e toda a Croácia!



VIAGEM APOSTÓLICA À CROÁCIA

EM OSIJEK
7 de Junho de 2003




1. "Peço-vos que vos comporteis de modo digno da vocação que recebestes" (Ep 4,1), escrevia São Paulo aos cristãos de Éfeso. Caríssimos Irmãos e Irmãs, no dia de hoje o seu convite ressoa com particular actualidade no meio da nossa assembleia.

Mas qual é a vocação do cristão? A resposta é exigente, mas clara: a vocação do cristão é a santidade. Trata-se de uma vocação que mergulha as suas raízes no Baptismo e é também proposta pelos outros sacramentos, principalmente pela Eucaristia.

Caríssimos Irmãos e Irmãs da Diocese de Djakovo e Srijem, o Bispo de Roma vem hoje até junto de vós para vos recordar, em nome do Senhor, que sois chamados à santidade em todas as fases da vossa vida: na primavera da juventude, no pleno verão da idade madura e, depois, também no outono e no inverno da velhice e, enfim, na hora da morte e mesmo para além da morte, na derradeira purificação predisposta pelo Amor misericordioso de Deus.

2. Apraz-me recordar esta verdade fundamental ao celebrar, hoje, juntamente convosco, o solene encerramento do segundo Sínodo da vossa Igreja local que, por quase cinco anos, vos viu comprometidos na oração e na reflexão sobre o tema: "Tu és Cristo, para nós e para todos os homens". Oxalá este acontecimento produza abundantes frutos de renovado compromisso cristão nesta Terra, que tem vínculos sólidos com a Sé de Pedro. É precisamente no dia de hoje, 7 de Junho, que se celebra o aniversário das cartas que o Papa João VIII enviou, no ano 879, ao Príncipe Branimiro e ao Bispo Teodósio, marcando com elas uma data importante para a vossa história.

Saúdo cordialmente o vosso Bispo, D. Marin Srakic, enquanto lhe agradeço as palavras de boas-vindas que me dirigiu no início desta celebração litúrgica. Juntamente com ele, saúdo os Bispos Auxiliares e o Bispo Emérito, D. Ciril Kos. Abraço com afecto os Bispos e todos os fiéis das Dioceses da Província Eclesiástica de Zagrábia, que recorda o sesquicentenário da sua Constituição. Dirijo o meu pensamento ainda aos peregrinos que vieram com os seus Pastores da Bósnia e Herzegovina, da Hungria e da Sérvia e Montenegro. Saúdo de modo particular também os Cardeais Sodano e Puljic.

1731 Nesta cidade de Osijek, desejo recordar com reconhecimento o Cardeal Franjo Seper, que nasceu aqui. Servo fiel da Igreja, ele foi o meu válido colaborador como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, no início do meu Pontificado.

Saúdo os irmãos que compartilham connosco a fé em Jesus, Filho de Deus, único Salvador do mundo. Em particular, saúdo o Metropolita Jovan e os outros Bispos da Igreja Ortodoxa da Sérvia. Peço-lhes que transmitam a Sua Beatitude o Patriarca Pavle a minha saudação fraternal, na caridade de Cristo. Depois, dirijo o meu pensamento também aos irmaos das Comunidades que nasceram da Reforma.

Além disso, dirijo uma respeitosa saudação aos membros da Comunidade hebraica e aos fiéis do Islão. Por fim, faço o meu pensamento extensivo ao Presidente da República e a todas as Autoridades civis e militares, a quem agradeço profundamente o compromisso decidido na preparação desta minha viagem apostólica.

3. "Destinei-vos para irdes e dardes fruto, e para que o vosso fruto permaneça" (
Jn 15,16). Como deixar de agradecer a Deus a consciencia mais clarividente que, nos anos a seguir ao Concílio Vaticano II, os fiéis leigos homens e mulheres adquiriram da sua dignidade e responsabilidade de baptizados? O discípulo de Cristo nunca cultivará de forma suficiente a consciencia da sua identidade. Com efeito, é nela que se fundamenta a sua missão.

Assim, existem interrogações essenciais às quais é necessário responder de modo contínuo: o que fiz do meu Baptismo e da minha Confirmação? Cristo é verdadeiramente o centro da minha vida? A oração encontra espaço nos meus dias? Vivo a minha existência como uma vocação e uma missão?

4. Nos alvores do terceiro milénio, Deus chama os crentes, de forma especial os leigos, a um renovado impulso missionário. A missão nao é um "acréscimo" à vocação cristã. Pelo contrário, como afirma o Concílio, a vocação cristã tem como objecto, por sua natureza, o apostolado (cf. Apostolicam actuositatem, AA 2).

Caríssimos Irmãos e Irmãs, a Igreja que está na Eslavónia e em Srijem tem necessidade de vós! Depois dos períodos da guerra, que deixaram feridas profundas nos habitantes desta região, e que ainda não se cicatrizaram completamente, o compromisso em favor da reconciliação, da solidariedade e da justiça social exige a coragem de indivíduos animados pela fé, abertos ao amor fraternal, sensíveis à defesa da dignidade da pessoa, criada à imagem de Deus.

Prezados fiéis leigos, homens e mulheres, vós sois chamados a assumir generosamente a vossa parte de responsabilidade pela vida das comunidades eclesiais a que pertenceis. O rosto das paróquias, lugar de acolhimento e de missão, depende também de vós. Participando no ofício sacerdotal, profético e real de Cristo (cf. Lumen gentium, LG 34-36), e enriquecidos pelos dons do Espírito, podeis oferecer a vossa contribuição no âmbito da liturgia e da catequese, na promoção de iniciativas missionárias e caritativas de vários tipos. Nenhum baptizado pode ficar ocioso!

Não desanimeis diante da complexidade das situações! Procurai na oração a fonte de toda a força apostólica; encontrai do Evangelho a luz que há-de orientar os vossos passos.

5. "Grande é o Senhor nas suas obras!", proclama o Salmo responsorial. Ao vir de avião para Osijek, pude admirar as belezas da planície da Eslavónia chamada o celeiro da Croácia e o meu pensamento voltou-se espontaneamente para os trabalhadores dos campos, numerosos nesta regiao. Dirijo-me a eles com afecto especial.Estimados Irmãos e Irmãs, bem sei que a vossa vida é cansativa e que a abundância dos frutos da terra às vezes nao corresponde ao duro compromisso que de vós se exige. Sei também que o trabalho agrícola conhece nao poucas dificuldades: ele perdeu uma parte do seu valor e os jovens escolheram a vida urbana já antes da guerra, depois da qual numerosas aldeias permaneceram quase sem habitantes.

Convido-vos a não perder a confiança, a considerar que, com o vosso trabalho manual que recorda de maneira tão eloquente o dever bíblico confiado ao homem, de "subjugar" a terra e de "dominar" o mundo visível (cf. Gn Gn 1,28) vós sois diariamente "cooperadores" de Deus Criador. Sabei que o Papa e a Igreja estão próximos de vós e, enquanto tem grande estima pela importância e a dignidade do vosso afa de todos os dias, formulam votos a fim de que, à agricultura e aos camponeses e às camponesas, seja reconhecido justo relevo no conjunto do desenvolvimento da comunidade social (cf. Gaudium et spes, GS 67 Laborem exercens, LE 21).

1732 6. "Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e que está presente em todos" (Ep 4,6), como no-lo recordou o Apóstolo Paulo. É Ele, Deus Pai, que chama a todos à santidade e à missao. Vivendo a experiência da novidade pascal, os cristãos podem transformar o mundo e construir a civilização da verdade e do amor. A Ele, que reina glorioso nos séculos, sejam dados louvor, glória e honra!

Confio-vos a Maria, Esposa de José e Mãe de Jesus, por vós muito venerada nos Santuários de Aljmas e de Vocin. Que Ela vos ensine e vos incuta o espírito de contemplação vivido em Nazaré, a corajosa fortaleza manifestada no Calvário e a disponibilidade missionária ao Espírito que, juntamente com a Comunidade das origens, Ela recebeu no Pentecostes. Maria vos conduza a todos a Jesus!





VIAGEM APOSTÓLICA À CROÁCIA


HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO EM RIJEKA


POR OCASIÃO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES


8 de Junho de 2003

1. Nos últimos dias da sua vida terrena, Jesus prometeu aos discípulos o dom do Espírito Santo como a sua herança mais verdadeira, continuação da sua própria presença (cf. Jo Jn 14,16-17).


O trecho evangélico agora proclamado fez-nos reviver o momento em que essa promessa se tornou realidade: o Ressuscitado entra no Cenáculo, saúda os discípulos e, soprando sobre eles, diz: "Recebei o Espírito Santo" (Jn 20,22). O Pentecostes, descrito pelos Actos dos Apóstolos, é o acontecimento que torna evidente e público, cinquenta dias mais tarde, este dom feito por Jesus aos seus discípulos, na própria noite do dia de Páscoa.

A Igreja de Cristo está sempre, por assim dizer, em estado de Pentecostes. Sempre reunida no Cenáculo a rezar, está, ao mesmo tempo, sob o vento vigoroso do Espírito, sempre a caminho, a anunciar. A Igreja mantém-se perenemente jovem e viva, una, santa, católica e apostólica, porque o Espírito desce sobre ela continuamente para lhe recordar tudo o que o seu Senhor lhe disse (cf. Jo Jn 14,25) e para a orientar para a verdade completa (cf. Jo Jn 16,13).

2. Desta Igreja, desejo hoje saudar com afecto particular a porção peregrina na terra da Croácia, aqui reunida à volta dos seus Pastores e representada na sua riqueza e variedade dos fiéis que vieram das diversas regiões do País.

Abraço o Arcebispo de Rijeka, D. Ivan Devcic, que me recebeu em nome de todos vós, e o Arcebispo emérito, D. Josip Pavlisic, que participou comigo no Concílio Vaticano II: com ele dou graças a Deus pelo 65° aniversário de Ordenação presbiteral, celebrado no passado mês de Abril. Desejo, depois, dirigir uma saudação particular ao Presidente da Conferência Episcopal, D. Josip Bozanic, Arcebispo de Zagrábia, e a todo o Episcopado croata, bem como aos Senhores Cardeais e aos Bispos que vieram de outros Países.

Dirijo também a minha respeitosa saudação ao Senhor Presidente da República e às outras Autoridades civis e militares, às quais agradeço a sua presença e a preciosa ajuda dada à organização e à realização desta minha terceira viagem apostólica à Croácia.

Depois, saúdo de modo especial as numerosas famílias aqui reunidas neste dia que lhes é dedicado: vós tendes um grande valor para a sociedade e para a Igreja, dado que "o matrimónio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade" (Familiaris consortio FC 1).

3. Estamos reunidos na falda da encosta sobre a qual se encontra o Santuário de Trsat onde, segundo uma tradição piedosa, se deteve a casa da Virgem Maria. A agradável recordação da vida de Jesus, José e Maria em Nazaré recorda-nos a beleza austera e simples e o carácter sagrado e inviolável da família cristã.

1733 Olhando para Maria e para José, que apresentam o Menino no Templo ou que vão em peregrinação a Jerusalém, os pais cristãos podem reconhecer-se enquanto, com os seus filhos, participam na Eucaristia dominical ou se reúnem em oração nas suas casas. A este propósito, apraz-me recordar o programa que, há anos, os vossos Bispos lançaram de Nin: "A família católica croata reza todos os dias e aos domingos celebra a Eucaristia". Para que isto possa ser realizado, é de importância fundamental o respeito da sacralidade do dia festivo, que permite que os membros da família se encontrem e prestem juntos a Deus o culto devido.

Hoje, a família requer, também na Croácia, uma atenção privilegiada e medidas concretas que favoreçam e tutelem a constituição, o desenvolvimento e a estabilidade. Penso, entre outras coisas, no grave problema da habitaçao e do emprego. Nao nos esqueçamos de que ajudando a família também se contribui para a solução de outros graves problemas, como, por exemplo, a assistencia aos doentes e aos idosos, o impedimento à propagação da criminalidade, um remédio para o recurso à droga.

4. E vós, queridas famílias cristãs, não hesiteis em propor, antes de tudo com o testemunho da vossa vida, o autêntico projecto de Deus sobre a família como comunidade de vida fundada no matrimónio, ou seja, sobre a uniao estável e fiel de um homem com uma mulher, ligados entre si por um vínculo manifestado e reconhecido publicamente.

Compete-vos a vós encarregar-vos responsavelmente da educação humana e cristã dos vossos filhos, confiando também na ajuda sábia de educadores e catequistas sérios e bem formados. Nesta cidade de Rijeka venera-se como padroeiro Sao Vito, um jovem que nao hesitou oferecer a própria vida para conservar a fidelidade a Cristo, que lhe foi ensinada pelos pais, São Modesto e Santa Crescencia. Também vós, como eles, ajudai os vossos filhos a ir ao encontro de Jesus, para o conhecer melhor e para o seguir, entre as tentaçoes a que estao continuamente expostos, no caminho que os leva à alegria verdadeira.

No cumprimento do vosso ministério de pais, não vos canseis de repetir a invocação que, há sete séculos, os cidadaos de Rijeka dirigem com confiança ao Crucifixo milagroso conservado na Catedral: "Promogao nam sveti Kriz svetog Vida!" (Ajude-nos a santa Cruz de Sao Vito!).

5. A sociedade de hoje está dramaticamente fragmentada e dividida. Precisamente por este motivo está tão desesperadamente insatisfeita. Mas o cristão nao se resigna ao cansaço e à inércia. Sede o povo da esperança! Sede um povo que reza: "Espírito, vem dos quatro ventos, sopra sobre estes mortos para que eles recuperem a vida" (
Ez 37,9). Sede um povo que crê na Palavra que nos foi dita por Deus e se realizou em Cristo: "Introduzirei em vós o meu espírito e vivereis; estabelecer-vos-ei na vossa terra. Então reconhecereis que Eu, o Senhor, falei e agi" (Ez 37,14).
É desejo de Cristo que todos sejam um n'Ele, para que esteja em todos a plenitude da sua glória (cf. Jo Jn 15,11 Jn 17,134). Ele exprime este desejo também hoje, para a Igreja que somos nós. Por isso Ele, juntamente com o Pai, enviou o Espírito Santo. O Espírito actua incansavelmente para vencer qualquer forma de dispersão e refazer todas as dilacerações.

6. Sao Paulo recordou-nos que "o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciencia, benevolência, bondade, fidelidade, mansidao domínio de si" (Ga 5,22-23). São estes dons do Espírito que hoje o Papa invoca para todos os casais cristãos da Croácia, para que, com a sua doação recíproca, na fidelidade aos compromissos do matrimónio e no serviço à causa do Evangelho, possam ser no mundo sinal do amor de Deus pela humanidade.

São estes dons que o Papa invoca para todos vós que participais nesta celebração e que reconfirmais o vosso compromisso de testemunho a Cristo e ao seu Evangelho.

"Vem, Espírito Santo, enche os corações dos teus fiéis e inflama neles o fogo do teu amor" (Aclamação ao Evangelho). Vem, Espírito Santo!

Amen.



Homilias JOÃO PAULO II 1726