Eclesiástico (CNB) 11

 Não julgar segundo a aparência

11 1 A sabedoria do humilhado vai levantar-lhe a cabeça
e o fará sentar-se no meio dos príncipes.
2
Não louves alguém por sua aparência formosa,
nem desprezes quem é deforme em seu exterior.
3
Pequena entre os seres alados é a abelha,
mas seu produto tem a primazia da doçura.
4
Não te glories jamais dos teus trajes,
nem te ensoberbeças no dia da honra,
porque só as obras do Altíssimo são admiráveis,
embora escondidas e invisíveis.
5
Muitos tiranos tiveram de prostrar-se por terra
enquanto outro, com quem não se contava, recebeu a coroa.
6
Muitos poderosos foram tremendamente desonrados,
e homens ilustres foram entregues à mercê de estranhos.

 Julgar com justiça

7 Antes de averiguar, não censures ninguém;
depois de interrogar, porém, repreende com justiça.
8
Antes de ouvires, nada respondas;
no meio das palavras do outro, não te intrometas.
9
Não disputes sobre aquilo que não te diz respeito,
e em contenda de pecadores não te metas.

 Reflexão sobre o esforço   exagerado e a ganância

10 Filho, que tua atividade não esteja em muitas coisas:
se te apressares, não estarás isento de delito;
se perseguires, não alcançarás
e, se correres, não escaparás.
11
Há quem se esforça, apressa-se e sofre,
e tanto mais fica desprovido.
12
Há outro, fraco, precisando de ajuda,
mais carente de força e rico só em miséria:
13
o Senhor o observa com benevolência
e o reergue de sua humilhação,
13levantando-lhe a cabeça,
a ponto de muitos ficarem admirados.
14
Bens e males, vida e morte,
pobreza e riqueza, tudo vem de Deus.
15
*A sabedoria, a ciência e o conhecimento
da Lei vêm do Senhor;
estão junto a ele o amor e a conduta dos bons.
16
O erro e as trevas foram criados para os pecadores;
os que se comprazem nas más ações, no mal envelhecem.
17
O dom de Deus permanece com os justos
e sua benevolência produzirá bons frutos para sempre.
18
Há quem se enriqueça por avareza,
mas esta será a sua recompensa:
19
quando disser: “Agora posso descansar,
agora vou desfrutar, sozinho, dos meus bens”,
20
ele não tem consciência de que o tempo vai passar,
*a morte vai se aproximar,
e ele morrerá, deixando tudo para outros.

 Perseverar no dever até o fim

21 20Permanece firme na tua tarefa, ocupa-te bem dela
e envelhece cumprindo teus deveres.
22
21Não admires as obras dos pecadores,
mas confia em Deus e permanece em teu trabalho.
23
Pois é fácil, aos olhos de Deus,
enriquecer o pobre, num instante.
24
22A bênção de Deus está na recompensa
*imediata do justo:
num instante ela faz aparecer o seu sucesso.
25
23Não digas: “Do que é que eu preciso?”
e ainda: “Que bens me advirão daqui?”
26
24Não digas: “Basto-me a mim mesmo;
de agora em diante, que desgraça me poderá atingir?”
27
25No dia feliz não te esqueças dos males,
e no dia infeliz não te esqueças dos bens.
28
26Pois é fácil para Deus, no dia da morte,
retribuir a cada um segundo os seus atos.
29
27O tempo da desventura faz esquecer a imensa riqueza,
mas é no fim da vida que as obras são reveladas.
30
28Antes da morte não louves pessoa alguma,
pois no seu fim é que se conhece a pessoa.

 Circunspeção na hospitalidade

31 29Não introduzas qualquer um em tua casa,
pois são muitas as insídias do trapaceiro.
32
*Assim como as vísceras vomitam alimentos podres,
30e como a perdiz é induzida para a gaiola *e a corça, para o laço,
assim também é o coração dos soberbos e aquele que está espionando para ver a queda *do seu próximo.
33
31Quem é maldoso converte o bem em mal
e até nos eleitos encontra falhas.
34
32Por uma centelha aumentam as brasas,
por um trapaceiro aumenta o sangue:
*o pecador arma ciladas para derramá-lo.
35
33Guarda-te do malvado, pois fabrica males:
que ele não faça cair sobre ti uma nódoa para sempre.
36
34Recebe em tua casa o estrangeiro,
e ele vai envolver-te em confusão
e te afastará dos teus próprios familiares.

 Se fizeres o bem, sabe a quem!

12 1 Se fizeres o bem, sabe a quem,
e será grande o agradecimento por teus benefícios.
2
Faze o bem ao justo e encontrarás grande retribuição:
se não dele, certamente da parte do Senhor.
3
Nada sucede bem àquele que é assíduo no mal e não dá esmolas.
*Pois o Altíssimo odeia os pecadores,
embora se compadeça dos que se arrependem.
4
    Ajuda ao compassivo, mas não acolhas o pecador,
*pois Deus dará o castigo aos ímpios e pecadores,
guardando-os para o dia da vingança.
5
Ajuda a quem é bom, mas não recebas o pecador.
6
Faze o bem ao humilde mas não ajudes ao ímpio;
não lhe dês armamento, para que não se torne mais poderoso do que tu.
7
Encontrarás males dobrados
por todos os bens que lhe fizeres,
pois também o Altíssimo odeia os pecadores
e dá o castigo aos ímpios.

 Amigos falsos e verdadeiros

8 Não é na prosperidade que se reconhece o amigo,
e por outro lado, na adversidade não fica encoberto o inimigo.
9
Na prosperidade, até os inimigos são amigos,
mas na adversidade até o amigo se afasta.
10
Não te fies jamais do teu inimigo,
pois sua maldade é como vasilha de cobre que enferruja.
11
Se ele, na humilhação, anda encurvado, toma cuidado e guarda-te dele:
comporta-te com ele como quem limpa o espelho,
e saberás que, no fim, enferrujou.
12
Não o estabeleças junto a ti
nem se assente ele à tua direita,
para não suceder que, voltando-se para o teu lugar,
ele procure a tua cadeira.
No fim reconhecerás as minhas palavras
e te deixarás mover pelos meus discursos.
13
Quem se compadecerá do encantador ferido pela serpente
e de todos os que se aproximam das feras?
Assim é aquele que se deixa acompanhar por um iníquo
e se enreda nos seus pecados;
*não escapará, até que o fogo o queime.
14
Uma hora ficará contigo;
se, porém, vacilares, não há de perseverar.
15
Nos seus lábios o inimigo traz doçura,
mas no coração arma ciladas para lançar-te à cova.
16
Nos seus olhos o inimigo lacrimeja
mas, encontrando a oportunidade, não haverá sangue que o sacie.
17
Se te sobrevierem males, tu o encontrarás ali antecipadamente
18
e, a pretexto de ajudar-te, cavará debaixo de teus pés;
19
18sacudirá sua cabeça e aplaudirá com as mãos
e, sussurrando muitas coisas, mudará de feição.

 Cuidado com os ricos!

13 1 Quem tocar no piche, por ele ficará manchado;
quem tiver contato com o soberbo, de soberba se revestirá.
2
Não levantes um peso acima de tuas forças
e não te associes a alguém mais nobre e mais rico do que tu.
3
Que tem em comum a bilha com a panela de ferro?
Quando baterem uma na outra, a bilha se quebrará.
4
3O rico pratica a injustiça e ainda reclama;
o pobre, injustiçado, ainda pede desculpas.
5
4Se fores útil, o rico te levará consigo;
se nada tiveres, te abandonará.
6
5Se algo possuíres, viverá contigo e te esvaziará,
e não sentirá remorso a teu respeito.
7
6Se lhe fores necessário, ele te manipulará
e, sorrindo e contando boas coisas, darte-á esperança.
E ainda perguntará: “De que precisas?”
8
7Vai envergonhar-te com suas comezainas
até despojar-te duas ou três vezes.
Por último, zombará de ti
e depois, mesmo vendo-te, não te dará atenção
e ainda escarnecerá de ti.
9
*Humilha-te diante de Deus
e aguarda que ele intervenha.
10
8Cuidado, para que, seduzido pela insensatez, não sejas humilhado.
11
*Não sejas humilde com a tua sabedoria
para que, humilhado, não te seduza a insensatez.

 Como tratar os poderosos

12 9Chamado por alguém mais poderoso, mantém-te à parte,
e ele tanto mais te chamará.
13
10Não te aproximes, para não seres afastado;
também não fiques longe dele, para não seres esquecido.
14
11Não pretendas falar com ele de igual para igual,
nem creias no seu palavreado;
com sua abundância de palavras te experimentará
e, entre sorrisos, perscrutará os teus segredos.
15
12Seu espírito impiedoso guardará tuas palavras
e não te poupará maldades e prisões.
16
13Toma cuidado e presta atenção ao que ouves,
pois andas em risco de te arruinar.
17
*Tu, porém, ouvindo estas coisas,
acorda-te do teu sono.
18
Em toda a tua vida ama a Deus
e invoca-o para a tua salvação.

 “Os pobres são o pasto dos ricos”

19 15Todo ser vivo ama o seu semelhante;
assim, todo ser humano ama seu próximo.
20
16Toda carne se une à que lhe é afim,
e toda pessoa se associa a quem lhe é afim.
21
17Que têm em comum o lobo e o cordeiro?
Assim, o pecador e o justo.
22
18Que paz existe entre a hiena e o cão?
ou que sociedade entre o rico e o pobre?
23
19A presa do leão é o asno selvagem no deserto;
assim também, os pobres são o pasto dos ricos.
24
20Como a humildade é uma abominação para o soberbo,
assim o pobre é a execração do rico.
25
21O rico, vacilando, é apoiado por seus amigos;
o humilde, quando cair, será empurrado até pelos conhecidos.
26
22Ao rico que se engana, não faltam os defensores;
falou barbaridades, e ainda o justificam.
27
O humilde se engana, e ainda o acusam;
falou sensatamente, mas não lhe dão atenção.
28
23O rico fala, e todos se calam
e exaltam sua palavra até as nuvens;
29
24O pobre fala, e dizem: “Quem é este?”
e, se tropeça, ainda o derrubam.
30
24É boa a fortuna, quando não há pecado na consciência;
mas péssima é a pobreza, na opinião do ímpio.

 Feliz do justo

31 25O coração do homem altera o seu rosto
quer para o bem quer para o mal.
32
26Sinal de bom coração é o rosto alegre:
dificilmente o encontrarás, e só com fadiga.

14 1 Feliz aquele que não resvalou por uma palavra da sua boca
e que não é atormentado pelo remorso do pecado.
2
Feliz aquele a quem sua alma não condena,
e que não arrefeceu em sua esperança.

 Ai do avarento!

3 Para o avarento é inútil a riqueza;
para o invejoso, para que o ouro?
4
Quem nega para si mesmo injustamente,
ajunta para os outros,
e outro se regalará com os seus bens.
5
Quem é mau para si, para quem será bom?
E não desfrutará dos próprios bens.
6
Quem tem inveja de si mesmo, ninguém
é pior do que ele:
e esta é a paga de sua maldade.
7
Se fizer bem, é por inadvertência *e sem
querer que o faz,
mas no fim manifesta a sua maldade.
8
É perverso o olho do invejoso:
ele vira o rosto e despreza as pessoas.
9
O insaciável olho do cobiçoso não se
contenta com uma parte,
enquanto não consumir de secura a própria vida.
10
O olho mau do invejoso fixa-se no pão alheio
e se descuida da própria mesa.

 A arte de viver bem

11 Filho, se tens posses, faze o bem a ti mesmo
e apresenta dignas ofertas a Deus.
12
Lembra-te de que a morte não tarda:
é um decreto do Abismo, que não te foi revelado,
*e é decreto também deste mundo:
é forçoso morrer.
13
Antes da morte faze o bem ao teu amigo
e, segundo tuas posses, estende-lhe a mão.
14
Não te prives do bem de um dia,
e não deixes perder nenhuma parcela de um bom desejo.
15
Acaso deixarás para os outros os bens adquiridos com esforço
e o fruto dos teus trabalhos, para a divisão da herança?
16
Dá e recebe, e alegra a ti mesmo,
17
*pratica a justiça antes da morte,
porque não há mais oportunidade, no Abismo, de procurar o prazer.
18
17Toda carne envelhece como a roupa
18e como a folha que dá fruto na árvore verde:
19
umas nascem e outras caem;
assim é a geração da carne e do sangue:
uma termina, a outra nasce.
20
19Toda obra corruptível, no fim, acaba
e com ela se vai quem a realizou.
21
*Toda obra excelente será louvada
e nela será honrado quem a realizou.

 Elogio da sabedoria

22 20Feliz aquele que permanece na Sabedoria,
que medita *na justiça
e que, com sensatez, conta com Deus que tudo vê.
23
21Feliz quem repassa no coração os caminhos da Sabedoria,
que penetra com a inteligência os seus segredos
22e vai atrás dela como quem lhe segue o rastro,
percorrendo as suas veredas.
24
23Feliz de quem olha pelas janelas da Sabedoria
e ausculta à sua porta;
25
24quem repousa junto à sua casa
e fixa a estaca às suas paredes;
25quem instala a cabana ao seu lado
e repousa na moradia da felicidade para sempre.
26
Ele faz morar seus filhos à sombra da Sabedoria
e sob seus ramos permanecerá:
27
à sua sombra será protegido do calor
e repousará na sua glória.

 Quem observa a Lei  adquire a Sabedoria

15 1 Quem teme a Deus faz estas coisas;
quem observa a Lei, adquire a Sabedoria.
2
Ela vem ao seu encontro qual mãe *venerada,
e como jovem esposa o acolhe.
3
Ela o alimenta com o pão *da vida e do entendimento
e lhe dá de beber a água da Sabedoria *salutar.
4Nela ele se apoia e não cai;
4
confia nela e não será envergonhado.
5Ela o exalta entre seus companheiros
5
e faz com que tome a palavra no meio da assembléia.
*Ela o encherá do espírito de Sabedoria e inteligência,
e o cobrirá com um manto glorioso.
6
Ela o cumulará de um tesouro de alegria e júbilo
e ainda lhe dará, como herança, um renome imortal.
7
Os insensatos não a alcançarão
*mas os ajuizados se encontrarão com ela;
os pecadores não a verão,
8pois ela está longe da soberba e do engano.
8
Os mentirosos não se lembrarão dela,
*mas os que amam a verdade nela serão encontrados
e terão bom êxito, até o julgamento de Deus.

 O pecado nada tem a ver com Deus

9 Não é belo o louvor na boca do ímpio,
pois não foi Deus quem lho concedeu.
10
À sabedoria de Deus convém o louvor:
o sábio a louvará com seus lábios,
pois é o seu Dominador quem a ensina.
11
Não digas: “De Deus vem o meu pecado!”,
pois Deus não faz o que Ele próprio detesta.
12
Não digas: “Ele me induziu!”,
pois Deus não precisa dos ímpios.
13
Todo erro é abominável e o Senhor o odeia:
por isso não podem aceitá-lo os que o temem.
14
Desde o princípio Deus criou o ser humano
e o entregou às mãos do seu arbítrio,
*e o deixou em poder da sua concupiscência.
15
Acrescentou-lhe seus mandamentos e preceitos
e a inteligência, para fazer o que lhe é agradável.
16
Se quiseres guardar os mandamentos, eles te guardarão;
se confias em Deus, tu também viverás.
17
16Diante de ti, ele colocou o fogo e a água;
para o que quiseres, tu podes estender a mão.
18
17Diante do ser humano estão a vida e a morte, o bem e o mal;
ele receberá aquilo que preferir.
19
18A Sabedoria do Senhor é imensa,
Ele é forte e poderoso e tudo vê *continuamente.
20
19Os olhos do Senhor estão voltados para os que o temem;
Ele conhece todas as obras do ser humano.
21
20Não mandou ninguém agir como ímpio
e a ninguém deu licença para pecar.

 Infelicidade dos insensatos

22 1Não desejes uma multidão de filhos,
se infiéis ou ímpios.

16 1 Não te alegres com filhos ímpios:
2por numerosos que sejam, não te comprazas neles,
se não tiverem o temor de Deus.
2
3Não te fies na vida deles,
nem contes com os seus trabalhos.
3
É melhor um só, temente a Deus,
do que mil filhos ímpios;
4
e é melhor morrer sem filhos
do que deixar filhos ímpios.
5
4Por uma pessoa sensata será povoada a pátria,
enquanto a raça dos ímpios será extinta.

 A ira de Deus não poupa os ímpios

6 5Muitas coisas assim vi com meus olhos
e coisas mais impressionantes ouviram meus ouvidos.
7
6O fogo arderá na sinagoga dos pecadores
e a ira \divina há de inflamar-se contra uma nação incrédula.
8
7Não o comoveram os antigos gigantes
que se rebelaram, confiando na sua força.
9
8E não poupou os conterrâneos de Ló,
execrando-os pela insolência de suas palavras.
10
9Ele não teve compaixão da nação condenada,
dos que foram expulsos por causa dos seus pecados.
11
10Da mesma forma, os seiscentos mil guerreiros
que se reuniram de coração obstinado.

 A misericórdia, mas também a ira

11Mesmo se um só tivesse sido rebelde,
seria de admirar que ficasse impune!
12 Pois em Deus está a misericórdia mas também a ira:
é paciente, deixa-se abrandar, mas também derrama sua cólera.
13
12Segundo a sua grande misericórdia,
assim é o seu castigo:
ele julga as pessoas segundo as suas obras.
14
13Não escapará o pecador com a sua rapina,
como não ficará em vão a perseverança do justo.
15
14A cada ato de misericórdia, a sua retribuição:
cada um, segundo o mérito de suas obras, a encontrará diante de si,
*segundo a inteligência da sua conduta.
O Senhor endureceu o coração do
Faraó, para que não o reconhecesse,
a fim de que suas obras fossem
manifestadas debaixo do céu.
Sua misericórdia apareceu para todas as suas criaturas:
Sua luz e as trevas, ele as distribuiu aos filhos de Adão

 Esconder-se de Deus?

16 17Não digas: “Vou esconder-me de Deus!”
e: “Lá do alto, quem se lembrará de mim?
17
No meio de um povo numeroso não serei reconhecido;
que é, afinal, o meu ser, no meio de tão imensa criação?”
18
Eis o céu e os céus dos céus,
o abismo e toda a terra e tudo o que neles existe,
na sua vinda serão abalados;
19
também os montes, as colinas e os fundamentos da terra,
quando Deus os encarar, serão sacudidos de tremor.
20
Em nada disso reflete o coração humano,
*embora todo coração seja compreendido por Ele.
21
E os seus caminhos, quem entenderá?
21E a tempestade, que nenhum olho humano percebe?
22
A maior parte de suas obras estão escondidas.
22Aliás, as obras da sua justiça, quem proclama? ou quem as espera?
Há muito tempo elas estão decretadas,
*mas o julgamento de todos vem só no fim.
23
Quem tem o coração mesquinho pensa assim,
e o imprudente e desorientado pensa bobagens.

 Sabedoria de Deus na criação

24 Ouve-me, filho, e aprende a prudência do bom senso.
25
Eu te exporei com precisão a disciplina
e perscrutarei para te ensinar a Sabedoria;
24batende com o teu coração às minhas palavras.
*Proclamo com isenção de ânimo as virtudes
que Deus, desde o princípio, colocou em suas obras
e com verdade anuncio o seu conhecimento.

 A cada criatura sua função

26 Quando Deus criou suas obras, desde o princípio,
quando as formou, distinguiu suas partes,
27
determinou para sempre suas tarefas
e o domínio de cada uma em suas gerações.
Não passam fome nem adoecem
e não falham no que lhes compete.
28
Nenhuma delas embaraça a sua vizinha,
29
e para sempre não deixarão de ser
obedientes à sua palavra.
30
29Depois, Deus olhou para a terra
e completou-a com os seus bens;
31
30animais de toda espécie cobriram a sua superfície
e para ela se dará o retorno de todos.

 A criação do ser humano

17 1 Da terra Deus criou o ser humano
3be o formou à sua imagem.
2
1bE à terra o faz voltar novamente,
3aembora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu.
3
2Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado,
dando-lhe autoridade sobre tudo o que há sobre a terra.
4
Em todo ser vivo incutiu o medo do ser humano,
fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros.
5
Concedeu aos humanos discernimento,
língua, olhos, ouvidos e um coração para pensar;
7encheu-os de inteligência e instrução.
6
*Deu-lhes ainda o conhecimento do espírito,
encheu o seu coração de bom senso
e mostrou-lhes o bem e o mal.
7
8Infundiu o seu temor em seus corações,
mostrando-lhes as grandezas de suas obras.
8
10Concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas,
louvassem o seu santo Nome
e proclamassem as grandezas de suas obras.
9
11Concedeu-lhes ainda a instrução
e entregou-lhes por herança a Lei da vida.
10
12Firmou com eles uma aliança eterna
e mostrou-lhes sua justiça e seus julgamentos.
11
13Seus olhos viram as grandezas de sua glória
e seus ouvidos ouviram a glória de sua voz.
14Ele lhes disse: “Guardai-vos de tudo o que é injusto!”
12
E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo.

 Deus nos observa e nos julga

13 15Os caminhos dos mortais estão sempre diante dele,
e não podem ficar ocultos a seus olhos.
14
17Para cada povo designou um chefe,
15
mas Israel foi constituído a herança de Deus.
16
19Todas as obras humanas estão como o sol à sua vista,
e seus olhos investigam sem cessar os seus caminhos.
17
20Não estão escondidas as iniqüidades deles
nem todos os seus pecados, diante de Deus.
18
22A esmola que alguém faz é como um anel de sinete confiado a Deus;
ele a preservará como à pupila de seus olhos.
19
23Depois se levantará e lhes retribuirá,
dando a recompensa a cada um individualmente.
20
24Aos arrependidos Deus concede o caminho da volta
e conforta os que perderam a esperança,
*destinando-lhes a herança da verdade.

 Volta a Deus e louva-o

21 25Volta, pois, ao Senhor e deixa os teus pecados;
22
suplica em sua presença e diminui as tuas ofensas.
23
26Volta ao Altíssimo, desvia-te da tua injustiça
e detesta firmemente a iniqüidade.
24
*Reconhece a justiça e os julgamentos de Deus e permanece constante no estado em que ele te colocou
e na oração ao Deus Altíssimo.
25
27Quem louvará o Altíssimo no Abismo em lugar dos vivos, os que proclamam o louvor de Deus?
26
*Não te demores no erro dos ímpios,
e louva a Deus antes da morte:
28do morto, como quem não existe, o louvor cessou.
27
Louva a Deus enquanto vives;
glorifica-o enquanto tens vida e saúde,
*louva a Deus e gloria-te nas suas misericórdias.
28
29Quão grande é a misericórdia do Senhor
e o seu perdão, para com todos aqueles que a ele retornam!
29
30Nem tudo está ao alcance da humanidade,
pois o ser humano não é imortal.
30
31Que há de mais brilhante que o sol?
E contudo, ele se eclipsa.
Que há de mais ímpio do que o
pensamento de carne e sangue?
*Pois também isso há de ser punido.
31
32Ele examina as potências das alturas celestes,
quanto mais os seres humanos, que são terra e cinza.

 A grandeza de Deus e o nada do homem

18 1 Aquele que vive eternamente, criou todas as coisas em conjunto.
Só Deus será proclamado justo
*e permanece como rei invencível para sempre.
2
Quem será capaz de contar as suas obras?
3
*E quem investigará suas maravilhas?
4
5Quem poderá explicar o poder da sua grandeza?
Ou quem se porá a descrever a sua misericórdia?
5
6Não há o que diminuir nem acrescentar,
nem é possível inventariar as maravilhas de Deus:
6
7ao terminar, apenas se começou,
e ao parar, fica-se perplexo.

 Paciência de Deus para com os mortais

7 8Que é o ser humano? Qual o seu defeito e a sua qualidade?
E qual o bem, e qual o mal que faz?
8
9Quando muito, seus dias chegam a cem anos,
10a uma gota de água do mar são comparados:
como um grão de areia, tão poucos são eles em comparação com a eternidade.
9
11Por isso, Deus é paciente para com os mortais
e sobre eles derrama a sua misericórdia.
10
12Ele viu a presunção do seu coração, que é mau;
*e sabe da sua perversão, que é ímpia.
11
Por isso, redobra a sua benevolência para com eles
*e lhes mostra o caminho da eqüidade.
12
13A compaixão de uma pessoa se volta para seu próximo;
a misericórdia de Deus, porém, para todo ser vivo.
13
Ele repreende, ensina e instrui,
como o pastor que conduz o seu rebanho.
14
Ele se compadece dos que recebem o ensinamento da sua misericórdia,
e dos que se apressam em cumprir os seus julgamentos.

 Vida generosa e prudente

15 Filho, não ajuntes censura aos benefícios,
e ao dar um presente não causes a tristeza de uma palavra má.
16
O orvalho não refrigera o calor?
Assim, a palavra vale mais do que o presente.
17
Acaso a palavra não está acima de um bom presente?
Mas a pessoa bondosa combina os dois.
18
O tolo vocifera asperamente,
e o dom do malcriado faz mirrar os olhos.

 Ser previdente.  Prever para tudo o tempo certo

19 *Antes do julgamento providencia um advogado para ti
e, antes de falar, informa-te.
20
Antes da enfermidade aplica o remédio;
20antes do julgamento examina a ti mesmo
e, na hora do interrogatório, encontrarás benevolência.
21
Antes da enfermidade, humilha-te
e, no tempo do pecado, mostra a tua conversão.
22
Não deixes que te impeçam de pagar a promessa no tempo oportuno,
e não tardes até a hora da morte para justificar-te,
*pois a recompensa de Deus permanece para sempre.
23
Antes da promessa, pondera bem
e não sejas como aquele que põe à prova o Senhor.
24
Lembra-te da Ira no dia do fim
e, a seu tempo, do castigo, quando Ele desviar a sua face.
25
Lembra-te da fome no tempo da abundância
e das necessidades da pobreza, nos dias de riqueza.
26
De manhã até a tarde o tempo muda,
e tudo isto passa depressa aos olhos de Deus.

 Gente prevenida…

27 Aquele que é sábio está de sobreaviso em tudo
e em dias de pecado se guarda da maldade.
28
Quem é perspicaz reconhece a Sabedoria
e presta homenagem a quem a encontrou.
29
Os que são sensatos nas palavras também agem com sabedoria,
*pois compreenderam a verdade e a justiça
e derramaram como chuva provérbios e sentenças.

 Não vás atrás de tuas paixões!

30 Não vás atrás de tuas paixões,
e dos teus prazeres abstém-te;
31
se dás a ti mesmo a complacência no prazer,
acabarás como alvo do escárnio dos teus inimigos.
32
Não te comprazas em muito banquete;
porção dobrada é pobreza do outro.
33
Não sejas freqüentador de tavernas e beberrão
quando nada tens no bolso:
*serias inimigo de ti mesmo.

19 1 O operário beberrão não ficará rico;
quem despreza as coisas pequenas, aos poucos cairá.
2
O vinho e as mulheres fazem apostatar os próprios sábios;
quem se ajunta às prostitutas, perecerá:
3a podridão e os vermes o terão como herança.
3
A temeridade traz a ruína:
o temerário será eliminado do meio dos vivos
e o proporão como exemplo maior.

 Não sejas leviano

4 Quem acredita depressa é leviano e será prejudicado;
quem peca contra si mesmo, quem o fará escapar?
5
Quem se alegra com a iniqüidade será desonrado;
*quem odeia a correção, verá abreviada a própria vida;
6quem detesta a tagarelice, reprime a malícia. [6
]
7
Jamais repitas uma palavra injusta e dura,
e absolutamente não serás prejudicado.
8
Sobre amigo ou inimigo não fales
e, mesmo se estás a par do delito não o reveles:
9
ao te ouvirem, se precaverão de ti
e, como defendem o pecado, te odiarão.
10
Ouviste algo contra o próximo?
Guarda-o contigo, e tem certeza de que
guardá-lo não te arrebentará.
11
Por uma palavra o tolo entra em dores de parto
como a parturiente com uma criança a nascer.
12
Como uma flecha encravada na coxa,
tal é o segredo no coração do insensato.

 Correção fraterna

13 Corrige o amigo que talvez tenha feito o mal e diz que não fez,
e se o fez, para que não torne a fazê-lo.
14
Corrige o próximo, que talvez tenha dito algo inconveniente;
e se o disse, para que não o repita.
15
Sonda o amigo, pois muitas vezes se faz incriminação sem provas,
16
para que não acredites em qualquer palavra.
16Há quem falhe na língua, mas não intencionalmente:
17
pois quem há que não tenha pecado com a língua?
17Indaga o próximo, antes de ameaçá-lo,
e deixa a Lei do Altíssimo seguir o seu curso.

 A verdadeira Sabedoria

18 20Pois toda sabedoria é temor de Deus
e nela se aprende a temer a Deus:
em toda sabedoria está a prática da Lei.
19
22Não é sabedoria a ciência da maldade
e não é conselho a prudência dos pecadores.
20
23Há uma astúcia que é execrável
e é insensato aquele que é falto de sabedoria.
21
24Entretanto, é melhor aquele que tem pouca sabedoria
e é falto de senso, mas com o temor de Deus,
do que o que tem muito senso, mas transgride a Lei do Altíssimo.
22
25Há uma esperteza eficiente, mas no entanto iníqua.
23
Há quem perverta a graça, para proferir a sentença;
26há quem pareça oprimido e abatido de ânimo,
mas o seu interior está cheio de trapaças.
24
Há quem se submeta muito por excessiva humildade,
27e há quem vire o rosto e finja que não ouve;
sem ser notado, vai levar vantagem sobre ti.
25
Mesmo se, por falta de forças, esteja impedido de pecar,
se encontrar a oportunidade de fazer o mal, o fará.
26
29Pelo semblante se conhece a pessoa;
pelos traços do rosto, a pessoa sensata.
27
30A roupa da pessoa, o seu sorriso,
e o jeito de andar, tudo revela de quem se trata.

 Quando falar e quando calar

28 1Há uma correção inoportuna,
*há um indício que se comprova infundado,
e há quem se cale, e esse é prudente.

20 1 2É melhor repreender do que guardar a raiva,
3como é melhor não impedir de falar aquele que confessa.
2
4Paixão de eunuco para deflorar uma adolescente:
3
assim é quem quer fazer justiça pela força.
4
*É bom que o corrigido manifeste seu arrependimento,
pois assim evitarás o pecado voluntário.
5
Há quem, estando calado, seja tido por sábio,
como se torna odioso quem é descomedido no falar.
6
Há quem se cale por não ter a resposta,
e quem se cala porque sabe o momento certo de falar.
7
Quem é sábio mantém-se calado até certo tempo,
mas o leviano e imprudente não esperam a ocasião.
8
Quem usa de muitas palavras será detestado;
da mesma forma, quem arroga o poder para si injustamente.

 Paradoxos e máximas diversas

9 Os males aumentam para o indisciplinado,
e o que ele inventa é para sua própria ruína.
10
Há presentes que não são úteis,
e há presentes que rendem o dobro.
11
Há humilhações que vêm por causa da glória,
mas há quem, depois da humilhação levanta a cabeça.
12
Há quem compre muitas coisas por preço baixo,
mas torna depois a dar por elas sete vezes mais.
13
O sábio torna-se amável por suas palavras,
mas os encantos dos vaidosos se dissiparão.
14
O presente do insensato não te será útil,
porque ele tem sete olhos voltados para ti:
15
dará pouco e reclamará muito,
abrindo a boca como a do pregoeiro.
16
Alguém empresta hoje e torna a pedir amanhã:
é odiosa uma pessoa assim.
17
16O insensato diz: “Não tenho amigos,
e não há gratidão por meus benefícios!”
18
17Os que comem do seu pão têm a língua falsa:
quantas vezes e quantos zombarão dele!
19
*Pois não distribui com bom senso o que deveria reter,
nem lhe é indiferente o que não deveria reter.

 A boca maldosa

20 18É melhor cair no chão do que escorregar com a língua:
é assim que a ruína dos maus vem depressa.
21
19A pessoa grosseira é como anedota importuna,
que anda freqüentemente pela boca dos insensatos.
22
20Da boca do insensato será malvindo o provérbio,
pois ele não o profere no tempo certo.

 Pecados e mentiras

23 21Há quem, pela indigência, esteja impedido de pecar:
e por isso, no sono, não sente remorsos.
24
22Há quem perca a sua vida por vergonha,
e a perderá por causa de um imprudente;
por uma discriminação de pessoas se perderá.
25
23Há quem, por vergonha, faça promessas ao amigo
e assim ganha um inimigo de graça.
26
24A mentira é um opróbrio perverso,
mas se encontra freqüentemente na boca dos insensatos.
27
25É melhor o ladrão do que o mentiroso inveterado,
mas ambos têm por herança a perdição.
28
26O vício do mentiroso é uma desonra,
e a vergonha o acompanha sempre.

 Máximas

29 [Palavras parabólicas]
27Quem é sábio nas palavras progride na vida,
e quem é prudente agradará aos grandes.
30
28Quem lavra a terra, aumenta a quantidade dos frutos;
*quem pratica a justiça há de ser exaltado;
mas quem agrada aos grandes, deverá fugir da iniqüidade.
31
29Presentes e dádivas cegam os olhos dos juízes:
como mordaça na boca, impedem suas correções.
32
30Sabedoria escondida e tesouro oculto:
qual a utilidade de ambos?
33
31É melhor aquele que esconde sua insensatez,
do que aquele que esconde sua sabedoria.

 Sobre os pecados


Eclesiástico (CNB) 11