Eclesiástico (CNB) 21

21 1 Filho, pecaste? Não tornes a fazê-lo;
e suplica pelas faltas passadas, para que te sejam perdoadas.
2
Foge dos pecados como de uma cobra:
se deles te aproximares, te morderão.
3
Seus dentes são dentes de leões,
que tiram a vida das pessoas.
4
3Toda iniqüidade é como espada de dois gumes:
não há cura para o seu golpe.
5
4O terror e as injustiças acabarão com a riqueza:
a casa que é muito rica será destruída pela soberba
*e, assim, a riqueza do soberbo será arrasada.
6
5A súplica do pobre vai da sua boca até os ouvidos de Deus,
e a justiça lhe será feita sem demora.
7
6Quem detesta a correção está nas pegadas do pecador;
quem teme a Deus, atrai-a ao seu coração.
8
7De longe se conhece o prepotente de língua atrevida:
quem é sensato, sabe que ele cai.
9
8Quem edifica a própria casa à custa alheia
é como quem ajunta pedras para o próprio túmulo.
10
9Montão de estopa é a reunião dos pecadores,
e o seu fim é a geena de fogo.
11
10O caminho dos pecadores é pavimentado de pedras,
mas desemboca no sorvedouro do Abismo.

 A Sabedoria, perfeição do temor de Deus

12 11Quem guarda a Lei controla seus pensamentos;
13
a perfeição do temor de Deus é a Sabedoria e o bom senso.
14
12Não será instruído aquele que não é prudente;
15
13há, porém, uma astúcia que transborda no mal,
*e não há bom senso onde está a amargura.
16
13A ciência do sábio transbordará como cheia benéfica,
e o seu conselho permanece como fonte de vida.
17
14O coração do insensato é como vaso trincado:
nada consegue reter da Sabedoria.
18
15Qualquer palavra sábia que alguém instruído ouvir,
ele a aprovará e a tomará para si;
ouve-a o devasso e não lhe agrada,
e ainda a joga para atrás das costas.
19
16A conversação do insensato é como fardo na viagem,
mas nos lábios do sábio encontra-se a graça.
20
17A palavra do prudente é apreciada na assembléia
e seus conceitos são meditados nos corações.

 O insensato e o sábio

21 18Como casa arrasada, assim é a Sabedoria para o tolo;
a ciência do insensato são palavras que nem se podem repetir.
22
19Para o tolo, a instrução é como grilhões nos pés
e como algemas nos punhos.
23
20O insensato, quando ri, levanta a voz;
o sábio apenas sorri calmamente.
24
21Como ornamento de ouro é para o prudente a instrução,
como bracelete no braço direito.
25
22O pé do insensato facilmente se insinua na casa do próximo,
enquanto o experiente respeita as pessoas.
26
23O tolo olha para dentro da casa pela janela,
ao passo que o instruído ficará de fora.
27
24É sinal de má educação auscultar pela porta:
para o prudente, seria uma grave ofensa.
28
25Os lábios dos imprudentes discorrem sobre tolices,
enquanto as palavras dos prudentes são pesadas na balança.
29
26Na boca dos estultos está o seu coração,
enquanto no coração dos sábios está sua boca.
30
27Quando o ímpio maldiz o adversário,
é a si mesmo que maldiz.
31
28Com o boato, mancha sua alma e será odiado por todos;
também quem permanecer com ele será odiado,
*enquanto quem é calado e prudente será honrado.

 Como tratar os insensatos

22 1 O preguiçoso é como a pedra cheia de lama:
todos assobiarão contra ele, desprezando-o.
2
O preguiçoso é comparável também a um monte de esterco:
quem toca nele, sacudirá os pés.
3
É vergonha para um pai ter o filho indisciplinado;
se se trata de uma filha, é para seu prejuízo.
4
A moça prudente é uma herança para o marido,
mas a que o envergonha torna-se a desonra do pai.
5
A moça atrevida envergonha pai e marido,
e por ambos será desonrada.
6
Discurso inoportuno é como música em velório;
disciplina e instrução são sabedoria em qualquer tempo.
7
9Quem ensina o insensato,
é como quem cola um vaso quebrado;
8
quem diz alguma coisa a quem não ouve,
é como quem desperta o outro de pesado sono.
9
10Quem transmite a Sabedoria a um insensato
é como quem fala com alguém dormindo,
e este, no fim, pergunta: “Quem é?”
10
11Chora sobre o morto, porque lhe faltou a luz;
e chora sobre o insensato, porque lhe falta o bom senso.
11
Sobre o morto, chora um pouco, porque descansou;
12
a vida do insensato, porém, é pior do que a morte.
13
12O luto por um morto dura sete dias;
por um insensato e um ímpio, porém,
todos os dias de suas vidas.
14
13Não fales muito com o tolo,
e não partas em viagem com o insensato.
15
Guarda-te dele, para que não tenhas incômodos
e não te contamines com o seu contato.
16
Separa-te dele e encontrarás descanso,
e não perderás tua paciência com a sua insensatez.
17
14Que há de mais pesado que o chumbo?
e qual o seu nome, se não: “insensato”?
18
15É mais fácil carregar areia, sal, barra de ferro,
do que suportar alguém imprudente, insensato, ímpio.

 Como tratar os amigos

19 16 Travação de madeira bem presa ao
fundamento do edifício não se solta;
assim o coração, confirmado pela reflexão
prudente, nenhum temor o abalará.
20
O coração firmado numa reflexão inteligente
é como o enfeite em parede polida.
21
18Assim como uma paliçada no alto e
pedras colocadas sem cuidado
não resistirão à força do vento,
22
assim o coração hesitante pelos pensamentos estultos
não resistirá diante das ameaças. [23
]
24
19Quem fere o olho faz correr lágrimas;
quem fere o coração, expulsa dele a amizade.
25
20Quem atira pedras nos pássaros, afugenta-os;
assim, quem censura a gritos o amigo, desfaz a amizade.
26
21Se brandiste a espada contra o amigo,
não desesperes: o retorno é possível;
27
22se abriste amargamente a boca diante do amigo,
não temas: pode haver reconciliação;
se, porém, houve gritaria, injúria, soberba,
revelação de segredos ou golpe desleal,
nestes casos, qualquer amigo se afasta.
28
23Guarda fidelidade ao amigo em sua pobreza,
para que possas beneficiar da sua prosperidade;
29
no tempo da sua tribulação permanece-lhe fiel,
para teres parte na sua herança.
30
24Como o vapor e a fumaça da fornalha
aparecem antes do fogo,
assim, antes do sangue, as maldições e injúrias e ameaças.
31
25Não me envergonharei de proteger um amigo
e não me esconderei de sua face;
26se me vierem males por causa dele, agüentarei:
32
todo aquele que o souber, porém, se precaverá contra ele.

 Oração contra o pecado

33 27Quem dará à minha boca uma guarda,
e sobre meus lábios um sinete adequado,
para que não me façam cair, e minha língua não me arruine?

23 1 Senhor, Pai e Soberano de minha vida,
não me abandones ao arbítrio deles nem permitas que eu caia por sua causa.
2
Quem aplicará açoites aos meus pensamentos
e no meu coração infundirá a instrução da Sabedoria,
para que não me poupem nos meus erros e não apareçam meus delitos?
3
Dessa forma meus erros não aumentarão nem se multiplicarão os meus delitos,
e meus pecados não se avolumarão;
não cairei à vista dos meus adversários e meu inimigo não se alegrará à minha custa!
4
Senhor, Pai e Deus da minha vida,
não me abandones às suas sugestões.
5
Não me dês a arrogância dos olhos
e afasta de mim todo mau desejo.
6
Tira de mim as concupiscências do ventre,
e as do leito não se apoderem de mim;
e não me entregues ao desejo irreverente e impudico.

 Uso e abuso da palavra

7 [Instrução sobre a boca.]
Ouvi, filhos, a instrução sobre a boca:
quem a guardar, não será surpreendido pelos lábios
nem tropeçará em atos perversos.
8
O pecador será apanhado por seus lábios,
e o maldizente e soberbo tropeçará por eles.
9
Não acostumes tua boca ao juramento:
*muitas têm sido as quedas por causa dele.
10
O nome de Deus não seja freqüente em tua boca
*nem o mistures aos nomes de seus anjos
pois não estarás imune de ofendê-los.
11
10Como o escravo, freqüentemente investigado,
não pode ficar livre das marcas dos golpes,
assim, quem jurar e pronunciar o Nome divino a toda hora,
não ficará livre de pecado.
12
11Quem muito jura, enche-se de iniqüidade
e a praga não se afastará de sua casa.
13
Se jurar por inadvertência, seu delito virá sobre ele;
se o fizer por leviandade, pecará duplamente.
14
Se jurar em vão, não será justificado
e a sua casa se encherá de males.
15
12Há ainda outro modo de falar,
comparável à morte:
não seja ele encontrado na herança de Jacó.
16
Dos que temem a Deus todas
essas coisas estão afastadas,
e eles não se envolverão nesses pecados.
17
13Tua boca não se habitue a grosserias descontroladas,
pois nelas sempre há pecado.
18
Lembra-te de teu pai e de tua mãe
quando te sentares no meio dos grandes:
19
para que não venhas, na presença destes,
a esquecer quem tu és
e, envaidecido com a tua assiduidade
junto a eles, chegues a sofrer injúria.
Então preferirias não ter nascido,
e chegarias a maldizer o dia do teu nascimento.
20
15Quem se habituou a destratar os outros
não se corrigirá pelo resto dos seus dias.

 O homem dado à sensualidade

21 16Dois tipos de gente multiplicam os pecados
e um terceiro atrai a ira e a perdição:
22
17a paixão ardente, como fogo aceso
que não se extingue enquanto não se saciar;
23
aquele que se entrega à sua própria sensualidade,
que não pára enquanto não acende o fogo…
24
– para quem se entrega à sensualidade, todo pão é saboroso:
só deixará de prová-lo quando morre –
25
18e quem é infiel ao leito matrimonial
debochando no seu coração e dizendo:
“Quem me vê?
26
As trevas me rodeiam, as paredes me escondem,
ninguém me olha; de quem tenho medo?
O Altíssimo não se lembrará dos meus pecados!”
27
*E não percebe que o olhar divino vê tudo,
porque o medo desse homem expele de si o temor de Deus.
19Seu medo são os olhos das outras pessoas
28
e não sabe que os olhos do Senhor são muito mais luminosos que o sol,
*controlando todos os caminhos humanos e a profundeza do Abismo,
e perscrutando os *corações dos mortais
nos seus recantos mais secretos.
29
20Pois ao Senhor e Deus eram conhecidas todas as coisas antes de serem criadas,
e assim, depois de as ter feito, ele as controla todas.
30
21Tal homem será punido nas praças da cidade
*e afugentado como potro selvagem
e, quando menos esperar, será preso.
31
*Será desonrado diante de todos,
pelo fato de que não compreendeu o temor do Senhor.

 A mulher infiel

32 22Assim também é toda mulher que abandona seu marido
e que faz um herdeiro em outro casamento.
33
23Primeiro, ela foi infiel à lei do Altíssimo;
segundo, pecou contra seu marido;
terceiro, prostituiu-se no adultério
e teve filhos de outro marido.
34
24Ela será trazida para a assembléia
e se fará uma inquisição sobre seus filhos;
35
25seus filhos não lançarão raízes
e seus ramos não darão fruto:
36
26sua memória será entregue à maldição
e não se apagará a sua desonra.
37
27E reconhecerão, os que vierem depois
que nada há melhor do que o temor de Deus
e que nada é mais doce do que observar os mandamentos do Senhor.
38
É grande glória seguir o Senhor:
é dele que se receberá uma longa vida.


A excelência da Sabedoria

 Auto-elogio da Sabedoria personificada

24 1 A Sabedoria faz seu próprio elogio:
*em Deus será honrada e, no meio do seu povo, glorificada.
2
Ela abre a boca na assembléia do Altíssimo
e se gloria diante do Seu poder.
3
*É exaltada no meio do seu povo,
e admirada na santa multidão.
4
    É louvada entre a multidão dos escolhidos,
e abençoada entre os abençoados de Deus, ao dizer:
5
3“Saí da boca do Altíssimo
*como primogênita, antes de todas as criaturas.
6
    Eu fiz com que nascesse nos céus uma luz inextinguível
e como uma névoa recobri toda a terra.
7
4Habitei nas alturas excelsas e meu trono está numa coluna de nuvens.
8
5Sozinha percorri toda a órbita do céu
e andei nas profundezas do Abismo.
9
6Nas ondas do mar e em toda a terra eu estive,
10
*e em todos os povos e em todas as nações
obtive a primazia,
11
sujeitando com o meu poder os corações
de todos os exaltados e humilhados.
7Em todos eles procurei repouso:
na herança de quem estabelecerei morada?
12
8Então falou-me o Criador de todas as coisas e deu-me suas ordens.
Aquele que me criou marcou o lugar de repouso da minha tenda
13
e me disse: “Habita em Jacó,
toma posse da tua herança em Israel
*e deita raízes no meio dos meus eleitos.”
14
9Desde o princípio, antes de todos os séculos, fui criada
e até o mundo futuro não deixarei de existir.
15
10Na Tenda santa, ministrei em sua presença,
e assim me estabeleci em Sião.
11Repousei na Cidade amada,
e em Jerusalém está o meu poder.
16
12Lancei raízes num povo glorioso,
no quinhão do Senhor, na sua herança,
*e fixei minha morada na assembléia dos santos.
17
13Elevei-me como o cedro no Líbano
e como o cipreste, no monte Hermon.
18
14Elevei-me como a palmeira em Engadi
e como as roseiras em Jericó.
19
Elevei-me como a formosa oliveira nos campos
e como o plátano junto às águas
20
15Como o cinamomo e o bálsamo trescalei perfume
e, como mirra escolhida, exalei suave odor,
21
como o estoraque e o gálbano, o bálsamo e o aloés
e como a fragrância do incenso na Tenda.
22
16Como o terebinto estendi meus ramos,
e meus ramos são majestosos e cheios de graça.
23
17Como a videira germinei o encanto
e minhas flores são frutos de honra e beleza.
24
*Sou a mãe do belo amor e do temor,
do conhecimento e da santa esperança.
25
Em mim está toda a graça do caminho e da verdade,
em mim, toda esperança de vida e de virtude.
26
19Vinde a mim, todos os que me desejais
e fartai-vos dos meus frutos.
27
20A minha instrução é mais doce que o mel
e a minha herança, mais do que o mel e seu favo;
28
*minha lembrança dura por todos os séculos.
29
21Os que comem de mim terão ainda fome;
os que de mim bebem terão sede ainda.
30
29Quem me ouve não será confundido;
os que agem unidos a mim, não pecarão:
31
*os que me tornam conhecida, terão a vida eterna.”

 A Sabedoria é a Lei, rio de vida

32 23Tudo isto é o livro da Aliança do Altíssimo,
33
a Lei, que Moisés promulgou para nós,
como herança para a casa de Jacó.
34
*O Senhor prometeu a Davi, seu servo,
que faria sair dele um rei fortíssimo,
o qual se sentaria num trono de honra para sempre.
35
25É a Lei que transborda a Sabedoria como o Físon
e como o rio Tigre, na estação dos frutos novos,
36
26que inunda de inteligência como o Eufrates
e como o Jordão, na época da colheita,
37
27que transborda a instrução como o Nilo
e se apresenta como o Geon no tempo da vindima.
38
28O primeiro não acabou de conhecê-la,
nem o último conseguirá perscrutá-la.
39
29Seu pensamento é mais vasto do que o mar
e seu desígnio é mais profundo que o grande abismo.
40
30Eu sou a Sabedoria, que fiz correr os rios;
41
sou como o canal de águas abundantes que sai do rio
e, como o aqueduto, dá num paraíso.”
42
31E disse: “Irrigarei o pomar de minhas plantas,
saciarei de água os frutos do meu prado”.
43
E eis que meu canal se tornou um rio
e o meu rio assemelhou-se ao mar.
44
32Farei, pois, luzir a instrução como a luz da aurora
e a proclamarei até bem longe.
45
*Penetrarei todas as regiões inferiores da terra,
lançarei os olhos sobre todos os que dormem
e iluminarei a todos os que esperam no Senhor.
46
33Continuarei a espalhar minha instrução como profecia
e a deixarei para as gerações dos séculos,
*e não cessarei de anunciá-la à sua descendência
até a santa eternidade.
47
34Vede que não trabalhei só para mim,
mas para todos os que a Sabedoria procuram.

 Três coisas boas e três, detestáveis

25 1 Em três coisas o meu espírito se compraz,
as quais têm a aprovação de Deus e dos homens:
2
a concórdia entre irmãos, o amor entre vizinhos,
e um marido e mulher em perfeito acordo.
3
2Três espécies de gente a minha alma detesta
e a sua vida me causa profunda irritação:
4
um pobre soberbo, um rico mentiroso
e um velho enfatuado e insensato.

 Para os anciãos

5 3Na tua mocidade nada ajuntaste:
como encontrarás alguma coisa na velhice?
6
4Que belo é para os cabelos brancos saber julgar
e, para os anciãos, conhecer o conselho!
7
5Que bela é nos velhos a Sabedoria
e, para os honrados, a inteligência e o conselho!
8
6Coroa dos anciãos é a experiência consumada
e a sua glória é o temor de Deus.

 Nove coisas…

9 7Nove coisas, das quais não pode suspeitar o coração, eu exaltei,
e a décima exporei com minhas palavras:
10
o homem que se alegra com os filhos,
e o que vive e chega a ver a ruína dos seus inimigos;
11
8ditoso aquele que mora com mulher de bom senso
*e não ara ao mesmo tempo com o boi e o burro;
quem não cometeu falta com sua língua
e não teve de servir a alguém indigno dele.
12
9Ditoso aquele que encontrou um amigo verdadeiro
e que proclama a justiça a um ouvido atento.
13
10Como é grande quem encontrou a Sabedoria e a ciência,
mas não é maior do que quem teme a Deus!
14
11O temor de Deus está acima de tudo:
15
quem o possui, a quem se comparará?
16
*O temor de Deus é o início do seu amor,
e a fé é o início da adesão a ele.

 A mulher maldosa

17 *Toda ferida é tristeza do coração
e toda malícia é maldade de mulher.
18
13Toda ferida, mas não a ferida do coração;
19
e toda maldade, mas não a maldade da mulher.
20
14Toda desgraça, mas não a causada pelos que nos odeiam;
21
toda vingança, mas não a dos inimigos.
22
15Não há veneno pior do que o da cobra,
23
e não há ira pior do que a da mulher.
16É melhor morar com leão e dragão
do que conviver com mulher má.
24
17A maldade da mulher lhe altera o rosto
e lhe obscurece o semblante como o de um urso.
18Seu marido põe-se à mesa no meio dos vizinhos
25
e, constrangido, suspira amargamente.
26
19É pequena toda maldade em comparação com a maldade da mulher:
a sorte dos pecadores caia sobre ela.
27
20Como a subida pela areia para os pés de um velho,
assim é mulher faladeira para marido quieto.
28
21Não te deixes levar pela beleza da mulher
e não cobices as suas posses.
29
22Irritação, desrespeito e grande vergonha
30
causa a mulher, se tem o comando sobre o marido.
31
23Coração humilhado, rosto sombrio,
ferida no coração, eis a obra da mulher má.
32
Mãos enfraquecidas e joelhos vacilantes,
eis o que faz a mulher que não torna feliz o seu marido.
33
24Da mulher veio o princípio do pecado,
e é por causa dela que todos morremos.
34
25Não deixes, de tua água, nada escapar,
nem dês, à mulher má, liberdade de falar.
35
26Se não anda conforme teus acenos,
*ela te envergonhará à vista dos teus inimigos:
36
corta-a, então, de tua convivência
*e despacha-a de tua casa.

 A boa e a má esposa

26 1 Feliz o marido que tem uma boa esposa:
o número de seus dias será duplicado.
2
A mulher virtuosa é a alegria do marido,
que passará em paz os anos de sua vida.
3
Boa esposa é herança excelente,
reservada aos que temem o Senhor:
*ela será dada ao marido em recompensa
pelas boas obras.
4
Rico ou pobre, seu marido tem alegria no coração,
e em qualquer circunstância mostra um rosto prazenteiro.
5
De três coisas meu coração tem medo,
e com a quarta meu rosto esmoreceu:
6
a acusação de uma cidade, o ajuntamento do povo
7
e a calúnia mentirosa,
coisas todas piores do que a morte;
8
6mas dor profunda e aflição é mulher
ciumenta de outra,
9
pois o flagelo da língua a todos atinge.
10
7Como a canga dos bois mal ajustada,
assim é a mulher má:
quem a tem é como se tivesse pegado um escorpião.
11
8A mulher beberrona provoca muita raiva e injúria,
pois a sua torpeza não fica oculta.
12
9A impudicícia da mulher vê-se no movimento dos olhos
e se reconhece pelas pálpebras.
13
10Com a filha atrevida redobra a vigilância,
para que não aproveite a ocasião que encontrar.
14
11Cuidado com o olhar de uma desavergonhada
e não te admires, se vier a te deixar.
15
12Como o viajante sedento, ela abre a boca à fonte
e bebe de toda água que estiver mais perto;
diante de qualquer estaca se assenta,
e a toda seta abre a sua aljava, *até mais não poder.
16
13Pelo contrário, a graça da mulher
dedicada é a delícia do marido,
17
e sua correção lhe revigora os ossos.
18
14Mulher sensata e silenciosa é dom do Senhor
e nada é comparável à pessoa bem educada.
19
15Mulher *santa e pudica é graça sobre graça,
20
e não há medida que determine o valor da alma casta.
21
16Como o sol que se levanta para o mundo nas alturas de Deus,
assim o encanto da boa esposa na casa bem arrumada.
22
17Como a lâmpada que brilha sobre o candelabro sagrado,
assim é a beleza do rosto num corpo bem plantado;
23
18colunas de ouro sobre bases de prata,
assim as pernas graciosas sobre os pés seguros da mulher.
24
*Fundamentos eternos sobre rocha sólida,
tais são os mandamentos de Deus no coração da mulher santa.

 Três coisas sem justiça

25 28Por duas coisas se contristou meu coração
e pela terceira me veio a cólera:
26
o soldado que definha na miséria,
a pessoa de bom senso, votada ao desprezo,
27
e quem passa da justiça para o pecado:
Deus o prepara para a espada.

 A difícil justiça

28 29*Duas profissões me pareceram difíceis e perigosas:
dificilmente o negociante escapará de alguma falta,
e o taberneiro, também, de algum pecado.

27 1 Por causa do lucro muitos pecaram;
quem procura enriquecer-se, desvia os olhos.
2
Como se finca a estaca no meio da juntura das pedras,
assim também, entre a venda e a compra se introduz o pecado. [3
]
4
3Se não te mantiveres firme no temor de Deus,
depressa há de arruinar-se a tua casa.
5
4Quando se sacode a peneira, ficam nela só os refugos:
assim os defeitos da pessoa, na sua maneira de opinar.
6
5Como o forno prova os vasos do oleiro,
assim é a prova da tribulação para os justos.
7
6O fruto revela como foi cultivada a árvore:
assim, a palavra que provém do pensamento do coração.
8
7Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar:
aí está a pedra de toque das pessoas.

 Palavras vãs

9 8Se procurares a justiça, hás de alcançá-la
e dela te revestirás como de um traje de gala:
*habitarás com ela e te protegerá para sempre,
e no dia do ajuste de contas encontrarás apoio.
10
9Os pássaros da mesma espécie aninham-se juntos:
assim a verdade volta para os que a praticam.
11
10O leão está sempre à espreita da caça:
assim os pecados armam laços aos que praticam a iniqüidade.
12
11A fala do temente a Deus permanece na Sabedoria;
o estulto, porém, muda como a lua.
13
12No meio dos insensatos restringe teu tempo;
ao contrário, freqüenta os que têm bom senso.
14
13A fala dos estultos é detestável:
suas risadas são sobre os prazeres do pecado.
15
14A falação de quem muito jura arrepia os cabelos,
e suas disputas fazem tapar os ouvidos.
16
15Nas contendas dos soberbos há derramamento de sangue,
e suas maldições são penosas de ouvir.

 Falta de lealdade na amizade

17 16Quem revela os segredos perde a confiança do amigo
e não encontrará mais amigo íntimo.
18
17Ama teu amigo e une-te a ele com lealdade:
19
se, porém, revelares seus segredos,
é inútil ires atrás dele.
20
18Como alguém que enterrou um falecido,
assim é aquele que perde a amizade do seu amigo:
21
19como aquele que deixou escapar um pássaro das mãos,
assim deixaste partir o teu amigo e não o recuperarás.
22
20Não o sigas, pois já está muito distante:
fugiu, como a corça que escapou da armadilha,
21pois sua alma está ferida;
23
*não podes mais alcançá-lo.
Da própria maldição pode haver perdão,
24
mas revelar os segredos do amigo
é cortar toda esperança.

 Planejando maldades

25 22Quem pisca o olho planeja maldades:
quem conhece tal pessoa, mantém-se longe.
26
23Na tua presença falará com doçura e admirará teus discursos;
depois, porém, mudará de linguagem e apontará deslizes nas tuas palavras.
27
24Muitas coisas aborreço, mas nenhuma como alguém assim:
o próprio Senhor o detesta.
28
25Quem atira uma pedra para cima, fá-la cair sobre a própria cabeça:
um golpe traiçoeiro produz feridas no próprio traidor.
29
26Quem abre uma cova, cai dentro dela;
*quem põe uma pedra no caminho do
outro, nela tropeça;
quem prepara uma armadilha para outrem, nela será apanhado.
30
27Quem forja um plano malvado, contra ele o mal se volta
sem que ele saiba de onde vem.
31
28A ilusão e o escárnio atingem o orgulhoso,
e a vingança, como um leão, o colherá de surpresa.
32
29Serão presos na armadilha os que se alegram com a queda dos justos,
e a dor os consumirá antes que morram.

 Ira, furor e vingança

33 30Ira e furor são duas coisas execráveis:
até o pecador procura dominá-los.

28 1 Quem quer vingar-se encontrará a vingança do Senhor,
que pedirá severas contas dos seus pecados.
2
Perdoa ao próximo que te prejudicou:
assim, quando orares, teus pecados serão perdoados.
3
   Um ser humano guarda raiva contra outro:
como poderá pedir a Deus a cura?
4
Se não tem compaixão do seu semelhante,
como poderá pedir perdão dos seus pecados?
5
Se ele, que é um mortal, guarda rancor,
*como é que pede perdão a Deus?
quem é que vai interceder pelos seus pecados?
6
Lembra-te do teu fim e deixa de odiar;
7
pensa na destruição e na morte, e persevera nos mandamentos.
8
7Pensa nos mandamentos e não guardes rancor do teu próximo.
9
Pensa na aliança do Altíssimo
e não leves em conta a falta alheia.

 Evitar as contendas

10 8Abstém-te das contendas e diminuirás os pecados:
11
9quem é irascível provoca as disputas e o pecador perturba os amigos,
lançando a inimizade no meio dos que viviam em paz.
12
10Como no bosque o fogo se alastra em proporção da lenha,
assim a ira se inflama conforme o poder da pessoa:
segundo a sua riqueza crescerá sua cólera.
13
11Uma contenda súbita acende o fogo,
uma disputa violenta derrama sangue
*e a língua acusadora traz a morte.
14
12Se assoprares na centelha, ela se inflamará;
se cuspires sobre ela, se apagará:
ambas as coisas saem da tua boca.                              

 Maldita maldicência

15 13A pessoa mexeriqueira e de duas falas é maldita:
arruinou a muitos que viviam em paz.
16
14A língua do caluniador inquietou a muitos
e os dispersou de nação em nação;
17
destruiu as cidades amuralhadas dos ricos
e subverteu as casas dos grandes;
18
*arruinou as forças dos povos
e desfez nações poderosas.
19
15A língua caluniadora fez com que
mulheres de valor fossem repudiadas
e as despojou do fruto de seus trabalhos.
20
16Quem a levar em conta não terá descanso,
nem terá amigo com quem repousar.
21
17O golpe do chicote produz a contusão,
mas o golpe da língua quebra os ossos;
22
18muitos caíram ao fio da espada,
mas não tantos como os que
pereceram por causa da língua.
23
19Feliz aquele que dela está protegido,
que não passou por sua ira,
que não atraiu o seu jugo
e que pelas suas cadeias não foi preso.
24
20Pois seu jugo é jugo de ferro
e sua cadeia é cadeia de bronze;
25
21a morte que ela provoca é terrível,
e é melhor o túmulo do que ela.
26
22Ela, porém, não obterá o domínio dos justos,
os quais não serão atingidos pela sua chama.
27
23Os que abandonam a Deus cairão em seu poder:
ela arderá neles e não se apagará,
lançar-se-á contra eles como um leão
e como um leopardo os ferirá.
28
24Cerca os teus ouvidos com espinhos
*e não queiras ouvir a língua perversa,
25bmas põe na tua boca portas e ferrolhos.
29
24bGuarda com cuidado tua prata e teu ouro
25ae para tuas palavras prepara uma balança,
*além de freios bem ajustados para tua boca.
30
26Toma cuidado para que não venhas a escorregar com a língua
e não caias à vista dos inimigos que te espreitam,
*e a tua queda não seja incurável nem mortal.

 A misericórdia e o empréstimo

29 1 Quem pratica a misericórdia empresta a seu próximo;
e quem o ampara observa os mandamentos.
2
Empresta a teu próximo quando ele precisa;
por tua vez, restitui ao próximo no tempo devido.
3
Cumpre tua palavra e trata lealmente com ele,
e em qualquer oportunidade encontrarás o que te é necessário.
4
Muitos consideram o empréstimo um achado
e causam desgosto aos que os ajudaram.
5
Enquanto não recebem, beijam as mãos do doador
e amaciam a fala diante das riquezas alheias;
6
na época do vencimento, pedirão tempo
e proferirão palavras de enfado e de críticas
e se queixarão do prazo.
7
6Mesmo se puderem pagar, ainda farão dificuldades;
mal restituirão a metade do capital
e o credor a compara a um achado.
8
7E se não puderem pagar, fica fraudado de seu próprio dinheiro
e ainda ganha um inimigo de graça.
9
Pagam-no com injúrias e maldições
e, pelas honras e o benefício, lhe retribuem com a ofensa.
10
7Muitos deixam de emprestar, não por maldade
mas porque receiam ser defraudados sem motivo.

 Generosidade apesar de tudo

11 8Apesar de tudo, sê magnânimo com o humilhado
e não o faças esperar pela esmola.
12
9Por causa do mandamento, acode ao pobre
e, por causa da sua indigência, não o deixes ir de mãos vazias.
13
10Sacrifica o dinheiro por um irmão e amigo,
e não o escondas debaixo de uma pedra para ficar inútil.
14
11Emprega o teu tesouro segundo os preceitos do Altíssimo,
e isto te aproveitará mais do que o ouro.
15
12Encerra a tua esmola no coração do pobre,
e ela rogará por ti, para te livrar de todo mal. [16
-17 ]
18
13Mais que um escudo forte e uma pesada lança,
a esmola combaterá por ti diante do inimigo.

 O homem de bem e a fiança

19 14O homem de bem se faz fiador do seu próximo;
só o abandona quem tiver perdido a vergonha.
20
15Não te esqueças do benefício do teu fiador:
ele expôs a vida por ti. [21
]
22
16O pecador dissipa os bens do fiador
e o ingrato abandona aquele que o libertou. [23
]
24
17A fiança arruinou a muitos que agiam de boa vontade
e os abalou, como a onda do mar;
25
18fez emigrar homens poderosos
que andaram errantes por nações estrangeiras.
26
19O pecador, *transgredindo os mandamentos do Senhor meter-se-á em fianças
mas, tentando obter lucro, cairá sob o julgamento.
27
20Assiste a teu próximo segundo tuas posses
mas toma cuidado, para não vires a cair.

 Viver em casa alheia…

28 21Eis o essencial para a vida: água, pão, roupa
e uma casa, para resguardar a intimidade.
29
22É melhor a subsistência do pobre num casebre,
do que banquete esplêndido no estrangeiro, sem casa própria.
30
23Contenta-te com o pouco ou o muito que tiveres
e não ouvirás os impropérios que sofre um forasteiro.
31
24Vida infeliz a de quem se hospeda de casa em casa:
onde for acolhido, não procederá com
segurança, nem ousará abrir a boca.
32
25Serás recebido como estranho, te alimentarás e beberás constrangido,
e ainda ouvirás coisas amargas assim:
33
26“Vem, estrangeiro, prepara a mesa
e, se tens algo nas mãos, dá-me de comer!”
34
27“Cede o lugar a outro mais digno!
Necessito de minha casa para receber meu irmão!”
35
28São coisas penosas para alguém de bom senso:
a afronta de ser estrangeiro e o insulto do credor.


Eclesiástico (CNB) 21