Tem chegado a este site
alguns pedidos de esclarecimento sobre as calúnias que, há alguns anos, foram
lançadas no Brasil contra a Prelazia do Opus Dei, aproveitando-se do marketing
das calúnias contra Cristo, a Igreja Católica e o Opus Dei, que o anticristão
Dan Brown espalhou pelo mundo com o seu “Código da Vinci”. Ainda que sejam
calúnias em boa parte ultrapassadas, pelo seu próprio caráter grotesco, vez por
outra voltam à baila.
Por isso, a fim de
atender esses pedidos de esclarecimento, reproduz-se aqui – quebrando
excepcionalmente o caráter pessoal do site – o artigo que tem o título acima
indicado, de autoria do Dr. Luiz Eugênio Garcez Leme, Professor
Associado da Faculdade de Medicina da USP, que tem sido divulgado, nos
últimos anos, em vários meios eletrônicos. Parece bem profundo, sério e
esclarecedor sobre os principais temas em que foi semeada a confusão.
Não
tenhas medo à verdade,
ainda
que a verdade te acarrete a morte
São
Josemaria Escrivá (Caminho, n. 34).
O Catecismo da Igreja Católica, ao falar das
"ofensas à verdade", menciona, entre outras, as seguintes:
– A mentira: é o pecado que "consiste em dizer o
que é falso com a intenção de enganar" (n. 2482);
– A calúnia, é o pecado cometido por "aquele que,
por palavras contrárias à verdade, prejudica a reputação dos outros e dá
ocasião a falsos juízos a respeito deles" (n. 2477).
A calúnia, portanto, é uma mentira proferida com a finalidade
de prejudicar a reputação alheia. Mas é importante ter em conta que se pode
caluniar, mentindo de duas maneiras:
a) primeira, dizendo falsidades: este foi o caso
lamentável da calúnia contra o Cardeal Bernardin, de Chicago, acusado há anos
de pedofilia por um ex-seminarista. O Cardeal adoeceu do desgosto (pois toda a
imprensa e a TV difundiram a calúnia) e veio a falecer. Quando estava já no
fim, o acusador, movido por Deus, veio a público declarar que era tudo uma
mentira, inventada por ele para se vingar de uma repreensão (aliás, justa)
recebida de Mons. Bernardin no seminário;
b) segunda, pode-se caluniar dizendo verdades; sim,
dizendo verdades, mas verdades deturpadas, mal interpretadas, desfiguradas...,
até transformá-las em mentiras. É já proverbial a frase que diz: "A pior
mentira é a verdade mal contada".
No processo que terminou condenando Jesus Cristo à
morte na Cruz, esse foi o sistema seguido. Os membros do Sinédrio, os Sumos
sacerdotes que decretaram a morte de Cristo e alcançaram de Pilatos a sua
execução poderiam desafiar-nos, dizendo: – Provem que o que nós dissemos não é
verdade.
E, certamente, três foram as principais acusações
contra Cristo:
1ª – Este homem disse: Posso destruir o Templo de Deus
e reedificá-lo em três dias (Mat 26, 61). São João conta-nos palavras quase
idênticas pronunciadas por Jesus, em resposta à indagação dos fariseus sobre a
sua autoridade: Destruí vós este Templo e eu o reerguerei em três dias (Jo 2,
19);
2ª – O sumo sacerdote perguntou a Jesus: És tu o
Cristo, o filho de Deus bendito? E Jesus respondeu: Eu o sou. Imediatamente foi
condenado por blasfêmia: Ouvistes a blasfêmia, que vos parece? E unanimemente o
julgaram merecedor de morte (Marc 14, 61-64);
3ª – Acusado diante de Pilatos de querer fazer-se rei
e, portanto, inimigo do Imperador romano, quando Pilatos lhe perguntou: És tu o
rei dos judeus? Jesus respondeu: Sim (Marc 15, 2). E esse foi o motivo por que
Pilatos, pressionado pelos sacerdotes, o condenou, como constava do
"título" que, conforme prescrevia a lei, mandou colocar no alto da
Cruz: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus (Jo 19, 19).
Portanto, as três acusações que levaram Cristo a ser
condenado à morte estavam baseadas em "verdades". Mas essas verdades
eram "verdades profanadas", pois, pela deturpação com que foram
contrafeitas, tornaram-se mentiras. Com efeito:
– Jesus, ao falar da destruição e reedificação do
Templo, como explica claramente o Evangelho, falava do templo do seu corpo (Jo
2, 21), que havia de ser destruído na Paixão e se reergueria três dias depois,
ao ressuscitar. A "interpretação" dada era falsa, como se ele
desprezasse o Templo, o lugar mais sagrado dos judeus, e estivesse ameaçando
destruí-lo;
– Ao proclamar-se o Messias, o Cristo Filho de Deus,
Jesus dizia a pura verdade. Era mesmo– e é – o Messias, o Filho do Deus vivo, o
Salvador do mundo. Bem sabia ele que essa verdade escandalizaria seus inimigos
e seria apresentada como uma mentira blasfema;
– Finalmente, ao dizer que era rei, também falava a
verdade: Eu para isto nasci e vim ao mundo, dirá a Pilatos (Jo 18, 37),
mas esclarecerá, face aos seus acusadores: O meu Reino não é deste mundo
(Jo 18, 36), jamais tive a pretensão que me atribuem de reinar nesta terra.
A Paixão, como disse Jesus aos que o prenderam no
Horto das Oliveiras, é a vossa hora e o poder das trevas (Luc 22, 53).
Deus, por um tempo, deixou mão livre a Satanás, e Satanás cumpriu o seu ofício
específico, que é o de mentir. Como lembra o Catecismo da Igreja Católica, «O
Senhor denuncia na mentira uma obra diabólica: "Vós sois do diabo,
vosso pai..., nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8, 44)» (n. 2482).
O que aconteceu na vida de Jesus reproduz-se, ao longo
da história, na Igreja, nas instituições da Igreja, na vida dos santos e, em
geral, na vida daqueles cristãos que se esforçam por seguir sinceramente Cristo
de perto. Pouco antes da Paixão, durante a Última Ceia, Jesus anunciou aos seus
discípulos de então e de sempre: Se me perseguiram, também vos hão de
perseguir; se guardaram a minha palavra, também hão de guardar a vossa [...].
No mundo haveis de ter tribulações, mas tende coragem, eu venci o mundo!
(Jo 15, 20 e 16, 33).
1) Apresentar coisas santas como coisas
perversas ou absurdas.
Na vida de Jesus, os milagres, as expulsões de
demônios, as curas, o bem que fazia aos doentes e aflitos, foram qualificados
de ações diabólicas: Ele está possuído de Beelzebul: é pelo príncipe
dos demônios que ele expulsa os demônios (Marcos 3, 22). Quando Cristo
anunciou o maior mistério cristão, o da sua entrega salvadora na Cruz,
perpetuada na Eucaristia, e disse: Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna, o povo que o escutava na sinagoga de Cafarnaum
"interpretou" essa verdade como se fosse um anúncio de canibalismo,
uma aberração, e desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já
não andavam com ele (João 6, 54 e 66). Na vida dos seguidores de Cristo
acontecem acusações análogas.
Vamos refletir sobre três casos em que, com
freqüência, se observa que coisas boas e santas são apresentadas por alguns
como coisas más e até horríveis:
A) A entrega a serviço de Deus e das almas. Jesus
ama os corações generosos, que estão dispostos a segui-Lo e, junto com Ele, a
dar a vida por amor a Deus e aos homens. Jesus ama os que livremente decidem
acompanhá-lo e identificar-se com Ele, renunciando ao egoísmo e tratando de
fazer como o Filho do homem, que veio, não para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida para a redenção de muitos (Mat 20, 28).
Jesus ama os que se apaixonam pelo ideal de Amor
imenso que Ele trouxe à terra (ninguém tem amor maior que o que dá a vida
pelos seus amigos: Jo 15, 13), ama os que seguem os Seus passos, que são os
passos da renúncia voluntária, os da obediência santa (Jesus, assumindo a
condição de escravo..., fez-se obediente até à morte e morte de Cruz: Filip
2, 7-8), os da santa pobreza, tão amada por São Francisco de Assis e por todos
os grandes santos (vai, vende o que tens e dá-o aos pobres...; qualquer um
que não renuncia a tudo o que possui não pode ser o meu discípulo: Mat 19,
21 e Luc 14, 33); os da humildade e da abnegação (porque o que quiser
guardar a sua vida a perderá; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do
Evangelho, salvá-la-á: Marc 8, 35); os da renúncia voluntária ao amor
humano, na escolha do celibato por amor do Reino dos Céus: Mat 19, 12)...
Toda a história da santidade, na Igreja, brilha – ao
longo de mais de dois mil anos – com essas virtudes, encarnadas heroicamente
pelas santas e os santos: caridade, abnegação, pobreza, humildade, espírito de
serviço, obediência, dedicação, castidade, etc.
Mas, quando faltam os olhos da fé, ou existem olhos
que, mesmo tendo fé, estão enfermos de preconceitos ou de ódio, então o bem
parece mal, e é como se ouvíssemos as palavras do profeta Isaías: Ai
daqueles que ao mal chamam bem, e, ao bem, mal (Isaías, 5, 20).
A partir da Revolução francesa, sempre que se desatou
o ódio contra a Igreja Católica e se acenderam as perseguições, um dos
primeiros alvos foram as almas dedicadas ou consagradas a Deus, especialmente
as mulheres dedicadas a Deus em mosteiros ou trabalhos humildes.
Durante a Revolução francesa, no período chamado do
Terror, foram fechadas todas as casas religiosas. Além de inúmeros sacerdotes e
leigos que foram martirizados por ser cristãos, as monjas e freiras foram
acusadas de serem umas pobres infelizes mantidas como escravas, de estarem no
convento submetidas, contra a vontade, como numa prisão, de serem impedidas de
exercer a liberdade, de estarem dominadas por superioras tiranas e exploradas
pela obediência, etc.
É comovente o conhecido caso das dezesseis carmelitas
do mosteiro de Compiègne, perto de Paris, que foram guilhotinadas – todas elas
– em 18 de julho de 1794, e que subiram ao cadafalso serenas, cantando o hino Veni
Creator ao Espírito Santo. O seu crime principal foi o fato de se terem
recusado a mentir nos interrogatórios, de se terem recusado a admitir, diante
dos seus carrascos, que fossem infelizes, ou que estivessem escravizadas, ou
exploradas ou retidas no convento contra a sua vontade. O Estado ofereceu-lhes
vida fácil e subvencionada se abandonassem o mosteiro, mas todas reafirmaram
que estavam felizes e viviam encerradas com Cristo no mosteiro de livre e
espontânea vontade, e que preferiam morrer pelo Senhor antes que abandoná-Lo. E
deram, de fato, a vida por Cristo. Todas as 16 foram elevadas à glória dos
altares, como mártires. Eis uma história santa, maravilhosa, que mostra como
uma belíssima "verdade" pode ser deturpada e transformada numa
horrível mentira, pela calúnia.
Há, hoje, outras formas de dedicação total a Deus de
pessoas que não são monjas nem freiras, mas cristãs leigas – entregues a Deus
com todo o seu amor – , e contra as quais se proferem ataques equivalentes:
“Elas são escravas!” A calúnia se repete, mas é mais triste, porque parece que
esse ignóbil procedimento é agora adotado por alguns que se dizem cristãos, e
não por anticristãos hostis à Igreja, como antigamente.
Neste sentido, é penoso o livro "Opus Dei – Os
bastidores", que tenta lançar essa acusação contra a Prelazia do Opus Dei.
Penoso, primeiramente porque conheço muito bem o Opus
Dei. Freqüento os seus meios de formação há mais de 30 anos e sou membro supernumerário
há quase 20. Conheço bem a seção de mulheres (minha mulher é supernumerária e
tenho duas primas numerárias), conheço bem o trabalho com a juventute, a obra
de São Rafael; tenho um filho numerário, outro filho que foi numerário e saiu,
um filho que não é da Obra e duas pequenas que ainda mal têm idade para
freqüentar os clubinhos.
Em nenhum momento de nossas vidas (com a entrada dos
filhos para a Obra, inclusive com a saída de um deles, que, sem qualquer tipo
de estresse ou pressão, continua tranquilamente freqüentando todos os meios de
formação do Opus Dei; com a participação de minha esposa e minha em tantas
atividades que nos enriqueceram espiritual, cultural e formativamente), em
nenhum momento, digo, sentimos pessoalmente e nem tivemos conhecimento de
qualquer tipo de pressão, ingerência pessoal ou profissional,
instrumentalização ou prejuízo, como os que são referidos no citado livro.
Nós e nossos filhos sempre soubemos dos direitos e
obrigações que nos cabem desde o início. Causa espécie que alguns só após mais
de três décadas se tenham dado conta destas realidades prosaicas e voluntárias,
de vez que não existem votos ou qualquer obrigação “religiosa” de se permanecer
na Obra, cujas portas, segundo São Josemaría Escrivá, sempre se encontram abertas
para os que queiram sair.
Dentro do que me é possível conhecer, posso garantir
que as afirmações emanadas no livro vão desde a mais clara mentira até à
ardilosa e solerte deformação de verdades extraídas de contextos distintos
daqueles que são citados. Em algum lugar, os autores, quase sempre travestidos
em pseudônimos ou no anonimato, afirmam que não se trata de uma agressão formal
ao Opus Dei. Concordo plenamente, até porque não creio que houvesse categoria
para tanto. Parece ser muito mais uma tentativa de “ajuste de contas” de
pouquíssimos ex-membros magoados e com o ego ferido contra diretores e
ex-diretores da Obra – nem diria do Brasil, mas principalmente de São Paulo –,
aproveitando-se e prevendo a atitude caridosa, cristã, dos ofendidos de “calar
e rezar”, atitude que, nos anos de fidelidade, os próprios anônimos
questionadores aprenderam e praticaram.
O livro, e todas as ulteriores entrevistas dessas
pobres pessoas (empobrecidas na alma), falam dessa instituição católica –
abençoada por seis Papas (desde Pio XII a Bento XVI, sem faltar um só) e que
tem como única finalidade procurar a santificação e o apostolado por meio do
trabalho – como se fosse uma fábrica de parafusos ou uma empresa de serviços de
manutenção elétrica, dedicadas à exploração dos seus operários. As moças do
Opus Dei que, seguindo livremente e por amor uma vocação divina, se ocupam da
administração doméstica dos centros do Opus Dei, não são funcionárias
contratadas (ainda que todas as numerárias auxiliares tenham perfeitamente em
dia a garantia jurídica de sua profissão hoteleira e a sua carteira de
trabalho). São "membros" do Opus Dei, são fiéis da Prelazia de pleno
direito. E, nesses trabalhos do lar, elas vêem que sempre as acompanham na
execução dessas tarefas domésticas mulheres com título acadêmico superior,
várias inclusive com mestrado e doutorado (que ninguém lhes impediu de fazer,
antes as incentivou a fazê-lo).
Lendo ou assistindo aos diversos "capítulos"
da atual novela anti-Opus Dei, vem-me à memória, adaptada ao caso, uma
conhecida frase do jargão médico homeopático: similia similibus curantur
(coisas semelhantes tratam-se com coisas semelhantes). Digo isso porque acho
inconcebível que se julgue um caminho vocacional católico de entrega e
dedicação a Deus a ao apostolado, a Prelazia do Opus Dei, como o faria um
advogado que, numa sustentação oral sobre contratos, se dedicasse a dar uma
aula de química orgânica, coisa totalmente heterogênea; o direito analisa-se
com o direito. Por isso, um fenômeno pastoral, espiritual e apostólico da
Igreja Católica, como é o Opus Dei, só pode ser tratado honestamente com base
no Evangelho, no pensamento da Igreja, no Magistério dos Papas, na
espiritualidade multissecular católica, nos ensinamentos dos santos. Não é
isso, porém, o que está sendo praticado nessa campanha. O principal promotor e
sustentador da mesma diz apoiar-se, entre outros, em Karl Popper e George
Orwell. É a mesma coisa que pretender julgar a obra científica de Einstein ou o
valor literário da poesia de Manuel Bandeira com base nos sermões de São
Bernardo ou nas orações de Santa Brígida.
Fiquem os "autores" desse livro com Orwell.
Eu prefiro ficar com os Papas: com Pio XII que aprovou definitivamente o Opus
Dei, a sua espiritualidade e as suas práticas ascéticas; com João XXIII, que
doou ao Opus Dei uma chácara pontifícia em Castelgandolfo, para ali fazer uma
casa de encontros e cursos de espiritualidade, e lhe confiou uma obra social no
bairro romano do Tiburtino; com Paulo VI, que, em carta manuscrita, qualificou
o Opus Dei de "manifestação da perene juventude da Igreja"; com João
Paulo I que, antes de ser eleito, acabava de publicar um artigo belíssimo sobre
a santidade do Fundador do Opus Dei; com João Paulo II, que abençoou o Opus Dei
tantas vezes, canonizou o seu Fundador e o erigiu em Prelazia pessoal da
Igreja; com Bento XVI, que acaba de abençoar a estátua monumental de São
Josemaria Escrivá, recém colocada nos muros da basílica de São Pedro, em Roma.
Maior chancela de “autêntica catolicidade” que essa... é difícil.
Acho interessante mencionar que Pio XII, ao aprovar
definitivamente o Opus Dei em 16 de junho de 1950, referia-se ao trabalho
doméstico das numerárias auxiliares com rasgados louvores, afirmando que,
"seguindo o exemplo do Senhor, que veio servir e não ser servido (Mat 20,
28), e da Bem-aventurada Virgem Maria, Escrava do Senhor (Luc 1, 38), movidas
por sincera humildade e caridade, realizam com o espírito contemplativo de
Maria os trabalhos domésticos de Marta, trabalhos a que especialmente se dedicam"
(Decreto de aprovação, "Primum inter").
Por último, e para não prolongar mais esse tema, creio
que seria interessantíssimo que se tornassem mais conhecidos os cursos de alto
nível em Hotelaria, que se proporcionam às numerárias auxiliares do Opus Dei (e
que as capacitam para achar facilmente, se algum dia o desejarem, um emprego
bem remunerado em empresas do ramo), bem como as obras que a garra, a categoria
humana e profissional e a iniciativa de muitas Auxiliares promovem (com uma
“classe” que nada tem a ver com as "coitadinhas" da calúnia) entre
jovens trabalhadoras e mães de família. Eu compreendo que o santo fundador do
Opus Dei dissesse que "tinha inveja" das suas filhas Auxiliares.
B) Outras coisas santas deturpadas: as penitências
corporais.
Jesus chega ao ápice do seu amor no alto da Cruz,
aceitando o sacrifício pleno, toda a dor física e moral, para redimir os nossos
pecados. Como lembrávamos, dá a vida para a redenção de muitos. É a mesma
verdade que recorda o Apocalipse: Jesus é aquele que nos ama, que nos lavou
de nossos pecados no seu sangue (Apoc 1, 5).
Com isso, nosso Senhor nos ensinou o novo valor – o
valor cristão – do sacrifício que fazemos ou aceitamos unidos à sua Cruz, para
reparar pelos nossos pecados e pelos do mundo. Se queremos seguir os passos de
Cristo na senda do amor, temos de acolher sinceramente o seu convite: Se
alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e
siga-me (Luc 9, 23). Uma cruz que o amor faz doce, como experimentaram
todos os santos. Uma cruz que dá alegria, que dá gozo, quando se oferece a Deus
como purificação pessoal e para o bem de todos, como expressava São Paulo: eu
castigo o meu corpo e mantenho-o em servidão [autodomínio]... (I Cor 9,
27); e também: Estou crucificado com Cristo, e já não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim (Gál 2, 20); e ainda: completo na minha carne o
que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja (Colos
1, 24).
Todos os santos desejaram unir-se assim ao Salvador
para, juntamente com Ele, ajudar a que a graça da salvação se derramasse sobre
o mundo inteiro. Por isso, não há um único santo que não tenha praticado, com
fé e amor, a mortificação e a penitência.
Desde o início do Cristianismo, a penitência foi vista
como uma prática de grande valor espiritual, necessária para seguir Cristo de
perto. Lembre-se o rigor com que era vivido o jejum durante os quarenta dias
da Quaresma desde o tempo dos Apóstolos.
Há muitas formas de penitência cristã (ver Catecismo
da Igreja Católica, nn. 1434-1439): trata-se de penitências clássicas – muitas
delas prescritas por Deus já no Antigo Testamento –, como o jejum, as vigílias
de oração à noite, a esmola, e dedicação às obras de misericórdia, ou dormir
sobre madeira ou palha ou sobre o duro chão, como fizeram inúmeros profetas e
como Jesus fez e pediu a vários dos que queriam segui-lo (ver Lucas 9, 57-58).
A respeito deste último ponto, é surpreendente ver
como os que andam empenhados, quase que profissionalmente, na campanha de
detração contra o Opus Dei "rasgam as vestes" maliciosamente, quando
se referem a seguidoras atuais de Jesus que dormem voluntariamente "sobre
tábua". Na realidade, dormem sobre um estrado de madeira bem forrado,
equivalente ao que os ortopedistas recomendam para evitar problemas de coluna
(e que, de fato, os evita!), e o fazem com a alegria de seguir melhor Jesus, e
de unir-se espiritual e materialmente aos pobres que muitas vezes carecem do
mínimo de conforto para descansar bem ou só têm a rua para dormir. Mais uma
vez, similia similibus tractantur. Se faltar um mínimo de conhecimento e
de amor ao Evangelho, inevitavelmente, como diz a Escritura, por mais que
olheis, nada vereis, pois o coração deste povo se endureceu (Mat 13, 14). E
ainda, como dizia são Paulo, Cristo crucificado é, para os que não têm fé,
escândalo e loucura (ver 1 Corintios, 1, 23).
Também são práticas cristãs seculares, milenares e
clássicas na Igreja, o uso do cilício e das disciplinas. Dois
meios tradicionais de penitência sobre os quais se têm feito – propositada e
desorbitadamente (pois é de grande "impacto" sobre o público
desinformado) – um estardalhaço clamoroso, especulações absurdas, exibições e
exageros grotescos e comentários infames sobre "autoflagelação"
(palavra que, na psicologia, contém uma carga negativa tremenda).
Antes de mais, é preciso dizer que o uso atual desses
meios seria considerado brincadeira de crianças pelos nossos antepassados
cristãos. É verdade, mesmo, o que dizia uma paciente que os tinha
experimentado: "É muito mais dura uma sessão de cabeleireiro do que usar
uma hora o cilício; e eu trocaria o incômodo de um minuto com o aparelho
corretor dos dentes por dois minutos de disciplinas". A penitência
moderna, comparada com a dos cristãos leigos (nem falemos dos monges) de outras
épocas, é quase ridícula.
Mas vamos a uma breve explicação, dado que os autores
do livro citado e os entrevistados na tv, promovidos, subvencionados e
instruídos por eles se empenham em fazer filmes de terror. Talvez poucos se
lembrem de que, sobre o cilício, a Bíblia, no Antigo Testamento, fala muitas
vezes (veja-se Isaías 3, 24; Judite 4, 9; Jeremias 4, 8 e 6, 26, os Salmos 35,
13 e 69, 12, I Macabeus, 2, 14, etc.); e também fala dele, como de uma prática
santa (espantemo-nos!), o próprio Jesus Cristo. Fala mesmo. Referindo-se às
cidades da Galiléia onde pregara a Boa Nova do Reino, e que não se tinham
convertido nem feito penitência, Jesus exclamou: Ai de ti, Corozaïm! Ai de
ti, Betsaida! Porque se os milagres realizados entre vós, tivessem sido feitos
em Tiro e em Sidon, há muito tempo teriam feito penitência no cilício
("in cilicio", diz o texto latino) e na cinza (Mat 11, 21). Ou
seja, Jesus diz que teria sido coisa boa que fizessem penitência com cilício.
Como bem explicam os historiadores e especialistas em
Sagrada Escritura, no Antigo Testamento e no tempo de Cristo, o cilício era uma
faixa, um colete, uma camisa ou uma túnica feita de pelo áspero e duro
(tornou-se famoso depois o pelo de cabra da Cilícia, terra de São Paulo, de
onde veio o nome) que, colocado diretamente sobre a pele, incomodava, e era
usado para fazer penitência (em hebraico, chamava-se śaq, de onde,
nas versões mais escrupulosamente literais da Bíblia, foi traduzido, pela
semelhança de som, como sakkos em grego, saccum em latim e também
como saco em diversas versões vernáculas como no Padre Antonio Vieira). São
Tomás More, chanceler da Inglaterra, homem cultíssimo do Renascimento, usava
habitualmente uma camisa de cilício em baixo da camisa comum.
Nos últimos séculos, esse cilício foi substituído por
uma faixa estreita de entrançados de aço ou alumínio, como o das redes de
cabelo, e dotada de pequenas pontas perfeitamente limadas e suavizadas, que só
produzem incômodo ao contato, sem chegar nunca a espetar-se ou ferir. Quem usou
algum desses cilícios atuais e diz que "penetram na pele" ou fazem
"sangrar", de duas uma, ou se enganou e usou outra coisa, ou mente
descaradamente. Há, hoje, dois tipos de cilício (pode-se comprá-los em qualquer
mosteiro de clausura): o grande, de cintura e o pequeno cilício, que é usado na
coxa (o "parvum cilicium", que tanto parece preocupar e sobressaltar
algumas pessoas). Quem já o utilizou, afirma que, mais do que usá-lo, o que
custa é lembrar-se de retirá-lo depois de uma ou duas horas de uso (tão
facilmente se esquece!). Eu não posso deixar de lembrar que um venerado amigo
de meu tio padre, o valeparaibano Pe. José Melo, que foi diretor espiritual
queridíssimo do Seminário do Ipiranga, onde tem uma estátua em homenagem, e
cujo processo de beatificação está em trâmite, não só usava o cilício e as
disciplinas, como os recomendava aos seminaristas.
Quanto às disciplinas, também as usadas antigamente,
por exemplo, pelos discípulos de São Vicente Ferrer e Santa Catarina de Sena,
eram dolorosas e até faziam sangrar. Nos últimos séculos, a humanidade prudente
e higiênica as substituiu por um miúdo entrançado de barbantes comuns (que uma
moça, meio-envergonhada, mal conseguia mostrar na tv, porque realmente não
assustava ninguém) que, por mais que se bata, não conseguem deixar uma única
marca, um mínimo vergão (coisa que conseguem, pelo contrário, algumas mães, com
os tapas que dão nos filhos, e nem se fala se ainda usam o cinto, cem vezes
mais doído que as disciplinas).
No meu caso, posso testemunhar que as sessões de
condicionamento físico com seus exercícios aeróbicos e de resistência a que
tantos de nós, inclusive eu, nos submetemos com conformado incômodo, para
procurar manter a saúde física ganham de longe, em termos de sacrifício e de
desconforto destas inocentes e úteis práticas para se manter a saúde
espiritual.
Por que usá-las, então? Não são nada essencial, nem
seria preciso. Se várias instituições atuais da Igreja as empregam, é porque a
própria Autoridade da Igreja nunca as desaconselhou. Todos podem ter a certeza
de que, se algum dia, essa Autoridade as desaconselhasse, imediatamente os
poucos fiéis do Opus Dei que as utilizam (uma pequena minoria dos membros) as
largariam com a maior tranqüilidade. Todos, no Opus Dei, sabem que a principal
penitência recomendada pelo Fundador é o esforço por viver melhor a caridade, o
amor ao próximo, e o empenho em trabalhar com amor, realizando uma tarefa
intensa e bem acabada.
Mas não deixa de ser um fato que, quem as utiliza (não
é o meu caso) sempre o faz como um piedoso lembrete do segundo mistério
doloroso: Cristo, açoitado pelos nossos pecados, como uma maneira de unir-se a
ele, com uma microscópica parcela de um único dos açoites que ele recebeu por
nós, como agradecimento, recordação enamorada e expiação. A uma das pessoas a
quem perguntaram por que usava às vezes as disciplinas (só o fazia, como tantos
outros, durante o tempo breve da reza de um Pai-nosso ou de um Credo, e uma só
vez por semana), respondeu: "Pelos meus pecados e pelos seus". Outra,
desejosa de maiores penitências, que o diretor espiritual não lhe autorizava,
dizia: "Isto não é penitência, isto é um espanador".
Mais interessante, porém, foi a resposta de uma
terceira pessoa, católica bem informada e culta: – Olhe, disse, você sabe quem
usou habitualmente o cilício e as disciplinas? O Padre Pio (São Pio de
Pietrelcina), Santa Edith Stein, discípula predileta do grande filósofo
Husserl; o nosso Beato Frei Galvão (as freiras do mosteiro da Luz, em São
Paulo, podem mostrá-las a quem quiser), e a Madre Teresa de Calcutá; e consta
que, nos respectivos processos de Beatificação ou Canonização, essa prática foi
louvada pela Igreja como santa e meritória. Quer dizer que, diante dos ataques
atuais, eu prefiro mil vezes ficar com Madre Teresa, Padre Pio, Edith Stein,
Frei Galvão e outros inúmeros santos, antes que com o anticatólico Dan Brown e
esses outros e outras que agora, infelizmente, lhe fazem o coro.
Mais uma palavra importante sobre esse tema da
penitência, que parece "fascinar" tanto o nosso mundo hedonista e
que, por impressionar essa mentalidade de prazer, é explorado, muito
deliberadamente, pelos que querem conspurcar a honra de algumas organizações
católicas, como o Opus Dei. Vejam essas figuras de santos e beatos citadas há
pouco: todos eram corações grandes, cálidos, magnânimos, abertos a compreender
e acolher a todos, e cheios de uma alegria que o mundo não pode dar. Eis um
fato mais do que comprovado: a pessoa penitente, que sabe sacrificar-se,
renunciar, exigir a si mesma, é a mais preparada para vencer o egoísmo e se dar
ao próximo com carinho, com uma infinita compaixão, com afeto, dedicação e
ternura. Ninguém mais desprendido e penitente, mais enamorado da Cruz, que São
Francisco de Assis, e ninguém mais inundado de amor, de bondade, de mansidão,
de alegria e de carinho até pelas coisas mais insignificantes da Natureza. Sim.
Quem se "guarda" do sacrifício, costuma ser um egoísta, fechado para
os outros. É natural que a generosidade dos outros o incomode.
C) Mais uma coisa santa deturpada. A virtude
cristã da castidade:
A castidade é a garantia do verdadeiro
amor, tanto no casamento (fidelidade) como no celibato. Jesus, ao comentar o
sexto Mandamento do Decálogo, apregoou a delicadeza na castidade, afirmando,
por exemplo, que todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já
adulterou com ela no seu coração (Mat 5, 28); e acrescentando, de modo
hiperbólico, metafórico: Se a tua mão direita é para ti ocasião de queda,
corta-a e lança-a longe de ti (Mat 5, 30). Por isso, a moral e a espiritualidade
católica sempre entenderam a necessidade de guardar essa delicadeza da
castidade pregada por Jesus, mediante o autodomínio e o afastamento (cortar,
como Jesus diz) das ocasiões – incluindo a pornografia da TV e da Internet, que
já causaram muitos transtornos obsessivos, que os médicos temos que atender –
de maus pensamentos, desejos ou ações.
Isso pode ser praticado de muitas maneiras, e ninguém
pode arvorar-se como o único que acerta: há, graças a Deus, diversas
espiritualidades e escolas de ascetismo. Mas nunca será por aversão ao sexo
(que – como ensinava são Josemaria Escrivá – é santo e santificador, expressão
muito alta do amor, quando vivido no matrimônio, de acordo com o plano de
Deus)..., nunca, repito, será por aversão ao sexo que esse ascetismo será
praticado, mas por respeito, por veneração à dignidade da mulher e do homem e à
dignidade do próprio sexo, criado por Deus e dado aos homens como um dom de
amor e não como uma banalidade vazia.
Todo cristão, portanto, tem o dever de manter essa
delicadeza, mediante "a ajuda dos sacramentos, a oração, o conhecimento de
si, a prática de uma ascese adequada às várias situações, o exercício das
virtudes morais, em particular da virtude da temperança, que visa fazer guiar
as paixões pela razão", como reza o recentíssimo Compêndio do Catecismo
da Igreja Católica (n. 490), promulgado em 28.06.2005 por Bento XVI.
Pois bem, há pessoas leigas de instituições católicas
(entre elas, que são muitas, graças a Deus, o Opus Dei), comprometidas
vocacionalmente com o celibato, que se esforçam por viver estas recomendações
da melhor maneira possível, dentro dos parâmetros do Evangelho e do Catecismo.
Tendo isso em conta, o mínimo que se poderia esperar de outros católicos (pelo
menos, de pessoas que se declaram tais) é o respeito pelas suas atitudes.
Surpreendentemente, alguns se acirram na acusação, contra eles, de
"sexofobia", de serem "inimigos do corpo", etc. Com isso,
além de "demonizar" atitudes em si puras e santas, falsifica-se
completamente a imagem da instituição. No caso concreto da Prelazia do Opus
Dei, que conta entre seus membros uma grande maioria de mulheres e
homens casados (em face de uma pequena proporção de celibatários), de casais
que vivem o amor humano como caminho de santificação e costumam acolher os
filhos com alegria e generosidade, onde está a sexofobia? Será que os nossos
filhos, nestes casos, nos foram trazidos mesmo pela cegonha, e nós os pais não
ficamos sabendo?
É outra maneira comum de profanar a verdade. Vejamos
agora dois casos:
A) Na pedagogia moderna, após decênios de experiências
de educação mista (meninos e meninas), está crescendo, entre professores e
especialistas do mais alto nível da Inglaterra, dos Estados Unidos, da França e
da Espanha, a convicção de que a educação diferenciada (colégios só de meninas,
colégios só de meninos), no segundo grau, pelo menos na fase
"ginasial" (até a 8.ª série), é mais benéfica e eficiente do que a
mista, sobretudo para as meninas, cuja melhora de rendimento em várias matérias
é comprovada nesse sistema.
É extremamente interessante, do ponto de vista
acadêmico, o estudo através de revisão sistemática, um dos mais sofisticados
métodos de pesquisa atual que foi patrocinado pelo Departamento de Educação dos
Estados Unidos, evidentemente não comprometido com o Opus Dei, intitulado Single-Sex
Versus Coeducation Schooling: A Systematic Review. US Department of Education.
Facilmente accessível para qualquer pesquisador de boa-fé.
Essa opinião de especialistas não é dogma de fé. Não
existem dogmas nessas matérias. Mas evidentemente é respeitável e digna de
consideração. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, as experiências recentes
neste sentido, coroadas de êxito, são vistas como um progresso. No Brasil,
talvez não se tenha abordado tão a sério o assunto. De qualquer forma,
manifestaria uma intolerância inexplicável aquele que, tendo algumas noções –
mesmo que fossem superficiais – de pedagogia, desprezasse essas teses e
experiências sobre educação, ou zombasse delas, tachando-as de
"conservadoras" ou de "inimigas do sexo". Isso seria uma
tentativa ditatorial de impor uma opinião pessoal, talvez já fossilizada, com
desrespeito e desprezo da inteligência, das pesquisas e da liberdade dos
outros.
B) O segundo ponto só é compreensível para uma mente
católica sincera e honesta. Como qualquer um pode verificar no Código de
Direito Canônico vigente, esta lei geral da Igreja, zelando pela fé e a boa
formação dos fiéis, estabelece que, "para garantir a integridade das
verdades da fé e dos costumes, é dever e direito dos pastores da Igreja zelar
para que os escritos ou uso dos meios de comunicação social não tragam prejuízo
à fé e à moral dos fiéis"; e, como uma concretização dessa obrigação pastoral,
determina que os pastores devam "reprovar os escritos que sejam nocivos à
verdadeira fé e aos bons costumes" (Código de Direito Canônico, cânone
823, pár. 1).
Para um autêntico espírito católico, portanto, seria
censurável o pastor da Igreja – bispo, superior religioso, etc. – que se
recusasse a obedecer a essa lei, a cumprir esse dever, alegando a defesa da
liberdade, em detrimento do zelo pela fé e os costumes dos fiéis que lhe foram
confiados e que a Igreja sente o dever de proteger. Por isso, caso alguém
quisesse criticar ou ridicularizar os bons pastores que obedecem fielmente a
Igreja nessas questões, apresentando a sua obediência à Igreja como uma mania
exagerada e medieval, um ódio à liberdade ou uma deformação neurótica..., além
de ofender gravemente um ato de virtude, estaria praticando a "profanação
da verdade", apresentado os fatos reais deformados por uma ótica
preconceituosa e essencialmente errada.
Infelizmente, este é um mal a que poucos, neste mundo
escapam. "Fiz ou falei por bem – dizem – e fui mal interpretado".
Isso acontece nas famílias e em todos os ambientes.
Também Jesus foi caluniado por este meio indecoroso.
Vendo que as multidões, atraídas pela sua Palavra divina e pela sua bondade, o
seguiam entusiasmadas, até esquecer-se de comer (ver Marcos 8, 1-3), os
inimigos de Cristo o acusaram de enganá-las: Ele seduz o povo! (Jo 7,
12). Era "verdade" que atraía o povo, era verdade que o povo se
encantava com Ele, mas não se encantava como os inimigos diziam, por estar
sendo aliciado com enganos e intenções perversas. Seguiam Cristo porque os
"cativava", e Deus cativa mesmo. Como vemos, basta falar de um mesmo
fato e trocar a palavra "cativar" pela palavra "seduzir", e
já temos a "verdade profanada".
Essa mesma calúnia lançada contra Jesus foi e é muitas
vezes lançada contra a "pastoral vocacional" da Igreja e contra os
católicos, felizes com a sua fé, que procuram que outros compartilhem a sua
alegria, e vivam também a vocação e a missão apostólica do cristão com
responsabilidade. O dever do apostolado cristão, tão frisado pelo Concílio
Vaticano II, que é um ato de amor ao próximo, que é desejo de ajudar, que é
procura do bem terreno e eterno dos outros, fica transformado assim, na boca
dos maldizentes, numa intolerável "captação",
"aliciamento", "recrutamento", "enganação", etc.
Parece que são os mesmos que afirmam isso os que, faz
uns meses, enviaram uma chuva de e-mails a membros ou colaboradores do Opus
Dei, dizendo – com uma agressividade de causar arrepios – as piores coisas
dessa instituição da Igreja Católica e tentando "captá-los",
“aliciá-los”, com expressões muito parecidas com uma "coação da
consciência", para que abandonassem o Opus Dei ou forçassem os filhos e conhecidos
a abandoná-lo. Fazem lembrar o final da cena de Cristo na sinagoga de
Cafarnaum, de que fala São João: Jesus disse aos doze: "Vós também
quereis ir embora?" Simão Pedro respondeu: "A quem iremos,
Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (João 6, 67-68).
Todos os santos sofreram com essas tergiversações.
Baste citar o bom Padre Pio de Pietrelcina: "Os jornalistas que falam bem
dele estão pagos – dizia um eclesiástico que o detestava –, o Padre Pio é um
reclame de passarinhos indefesos, para atrair os ingênuos e o dinheiro".
Lá no alto do Céu, o santo Padre Pio ri.
A) Um caso, que não é imaginário. Toda pessoa de olhos
abertos (não precisa ser médico nem sociólogo) sabe que, na sociedade atual,
estão em aumento crescente os distúrbios psíquicos, e especialmente o mal da
"depressão", que se alastra de modo alarmante. Dados da Organização
Mundial da Saúde referem que a depressão afeta 20% da população mundial. O
mesmo estudo estima que os distúrbios de humor, incluindo a depressão, deverão
afetar cerca de 340 milhões de pessoas nos próximos anos. No ano 2020, segundo
a OMS, a depressão será o principal distúrbio mental a atingir a população dos
países em desenvolvimento.
Nesta perspectiva, hoje, a maioria das famílias, a
minha inclusive, tem casos de depressão e/ou de outros distúrbios (síndrome do
pânico, transtornos obsessivos-compulsivos, crises de angústia, dependência de
medicamentos ou drogas, etc.). Por acaso seria decente atribuir esses males à
instituição da família, e deduzir daí que a família é má, que faz mal, que
deixa loucas as pessoas?
Pois bem, esse "raciocínio" maligno –infame
– está sendo empregado contra algumas instituições da Igreja, para denegri-las,
também contra o Opus Dei. No mundo de hoje, é inevitável que, além das
famílias, também os seminários, os conventos, as entidades religiosas, assim
como os colégios, as associações profissionais, os clubes de futebol, etc.,
contem um número relativamente elevado de pessoas que sofrem desses distúrbios.
Essa realidade preocupante, que não é monopólio de ninguém, também tem sido
utilizada para caluniar a Prelazia do Opus Dei, como se ela provocasse
"muitos distúrbios psíquicos" entre os seus membros. Pelo
conhecimento que possuo, tanto como médico e Professor Associado da Faculdade
de Medicina da USP, como por estar ligado ao Opus Dei há mais de 20 anos, creio
que não me engano se digo que, no Opus Dei, a incidência desses distúrbios é
proporcionalmente bem menor que a que se dá nas famílias, e, em geral, em
outros ambientes e instituições como a Universidade ou os Tribunais.
B) Outro caso recente. À mesma instituição foi
assacado que muitos entravam nela, mas poucos continuavam. Insinuava-se que
quase 50 % dos jovens que iniciavam nela uma vida de dedicação a Deus não
agüentavam e iam embora. É óbvio que nem todos perseveram no propósito, mas o
dado, generalizado assim, é falso. E, sobretudo, distorce um fato que todos os
que conhecem por dentro o mundo católico sabem de cor e julgam natural: nos
seminários, noviciados, centros de formação de vocações sacerdotais, etc. de
instituições religiosas ou leigas em que a vocação inclui o compromisso do
celibato, só uns 5 ou 10 %, ou, no máximo, uns 20 % dos que começaram chegam de
fato a se ordenar padres ou a formalizar compromissos definitivos. Um antigo e
já falecido Sacerdote, meu cliente e experimentado diretor de Seminário,
costumava comentar comigo este fato afirmando que “aqueles que saiam eram a
garantia dos que ficavam”. Mais um exemplo de como, com base em alguns dados
"verdadeiros", pode ser montada uma acusação falsa.
Suponhamos agora – desta vez, só vamos
"supor", contando uma "estória" ilustrativa, que não seria
real –, suponhamos, dizia, o caso de um rapaz que, cheio de boa vontade, julgou
que o seu caminho seria dedicar-se a Deus e ao próximo numa instituição
católica onde se vive a plena entrega a serviço de Deus e das almas. Suponhamos
que, decorrido algum tempo – enquanto o rapaz está ainda em período de
experiência – acaba-se descobrindo que o moço padece de grave distúrbio
psíquico de caráter obsessivo-compulsivo, com problemas tão sérios que o
incapacitam para o tipo de vida que, cheio de boa vontade, desejava seguir.
Imaginemos ainda que os dirigentes dessa instituição
se limitassem a mostrar caridosamente a esse rapaz (que nunca lhes falara de seus
problemas), que aquele não era seu caminho e era melhor tomar outros rumos na
vida. “Seria a atitude lógica" – diriam muitos. Mas esta
"estória" que agora narramos tem um desfecho diferente. Na estória,
os dirigentes, preocupados fraternalmente com o moço, levaram-no ao médico, que
aventou a hipótese de problema cerebral. Os dirigentes, então, se empenharam
com afinco em conseguir que lhe fossem feitos exames neurológicos, sem despesa
nenhuma para ele. Constatando-se a ausência de problemas neurológicos, foi
atendido pela equipe psiquiátrica de uma das melhores faculdades de medicina,
sem ônus nenhum para o paciente.
Que diriam vocês, se esse hipotético rapaz de saúde
frágil fosse a um programa de TV, e dissesse que essa instituição o "jogou
na rua". Lembremos que estamos falando de coisas meramente imaginárias,
mas é evidente que, se algo de parecido com isso alguma vez viesse a ocorrer,
já não estaríamos mais diante de verdades deturpadas, mas diante da calúnia nua
e crua.
Durante seu trajeto até o Calvário, Nosso Senhor
certamente reconheceu, como nos diz São Josemaría Escrivá (Via Sacra -
IIIa Estação), “muitos que presenciaram milagres e se alimentaram... na
multiplicação dos pães e dos peixes, que foram curados de suas doenças, que Ele
ensinou, junto do lago e na montanha e nos pórticos do Templo”. Alguns, talvez,
escudados no anonimato, também O agredissem e ofendessem. Nosso Senhor não os
repreendeu ou agrediu. Calado, sacrificou-Se, deu todo o seu Sangue por eles e
por todos nós. Talvez fosse agora acusado de arrogância ou medo por não querer
entrar “em um debate esclarecedor e democrático sobre os erros de lado a lado”.
Dizia alguém, com razão, que o simbolismo de "O
Senhor dos Anéis" lança, não raramente, um jato de luz sobre "a vida
como ela é". Escondido nas nuvens escuras de Mordor, Sauron não deixa de
enviar seus orcs e seus nazgul eletrônicos, para tentar acabar com a Terra
Média e seus bons e honestos moradores: os hobbits, os maravilhosos elfos, os
homens, os anões, os ents. Sempre será a bondade pura a e a simplicidade de um
Frodo e de seu criado Sam, de muitos Frodos e Sam, dispostos a dar a vida pela
verdade e pelo bem de todos, que conseguirá contrabalançar todas as
maquiavélicas armações de Sauron, Sarumã e Golum, e salvar as boas gentes,
livrando-as do perigo mortal do anel do poder, do orgulho, da inveja e do ódio,
que sempre pede o sangue dos bons.
A Paixão de Cristo, modelo que nos inspira a todos nós, também serviu e serve de inspiração para artistas de todos os naipes. Um deles, Paulo Vanzolini, verdadeira glória da música brasileira e da Universidade de São Paulo, termina seu samba “Inveja” afirmando “Ninguém vai longe com trinta dinheiros”.