o
SACERDOTE mINISTRO DA MISERICÓRDIA DIVINA
SUBSÍDIO PARA confessores e diretores espirituais
APRESENTAÇÃO
«É necessário voltar
ao confessionário, como lugar no qual celebrar o sacramento da reconciliação,
mas também como lugar onde “habitar” com mais frequência, para que o fiel possa
encontrar misericórdia, conselho e conforto, sentir-se amado e compreendido por
Deus e experimentar a presença da Misericórdia Divina, ao lado da Presença real
na Eucaristia»[1].
Com essas palavras o Santo Padre Bento XVI dirigiu-se aos confessores,
durante o recente Ano Sacerdotal, indicando a todos a importância e a
consequente urgência apostólica de redescobrir o sacramento da reconciliação,
como penitentes e como ministros.
Juntamente com a Celebração diária da Eucaristia, a disponibilidade para
o atendimento das confissões sacramentais, a acolhida dos penitentes e, quando
solicitado, o acompanhamento espiritual são a real medida da caridade pastoral
do sacerdote e, com ela, o testemunho da alegre e correta assunção da própria
identidade, redefinida pelo sacramento da Ordem e nunca reduzida a mera função.
O Sacerdote é ministro, isto é, servo e também prudente administrador da
divina misericórdia. A ele é confiada a gravíssima responsabilidade de “perdoar
ou reter os pecados” (cfr. Jo. 20,23).
Através dele, os fiéis podem viver – especialmente no momento atual da vida da
Igreja, pela força do Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida – a jubilosa
experiência do filho pródigo que mesmo tendo retornado à casa do pai por interesses
vis e como escravo, foi acolhido e reconstituído na própria dignidade filial.
Onde existe um confessor
disponível, cedo ou tarde vem um penitente, e onde persevera, até mesmo de
maneira obstinada, um confessor disponível, virão muitos penitentes!
A redescoberta
do sacramento da reconciliação, como penitentes e como ministros, é a medida da
autêntica fé no agir salvífico de Deus, que se manifesta mais eficazmente na
potência da graça, do que nas estratégias humanas de organização de
iniciativas, também pastorais, que ás vezes descuidam do essencial.
Acolhendo com
motivação intensa o apelo do Santo Padre e seguindo a sua intenção mais
profunda, com o presente subsídio, fruto ulterior do Ano Sacerdotal, deseja-se
oferecer um instrumento útil à formação permanente do Clero e uma ajuda à
redescoberta do valor imprescindível da celebração do sacramento da
reconciliação e da direção espiritual.
A nova
evangelização e a renovação permanente da Igreja, semper reformanda, subtraem a sua dinâmica vital da real santificação
de cada membro, que precede, postula e é condição de toda eficácia apostólica e
da almejada reforma do Clero.
Na generosa
celebração do sacramento da divina misericórdia, cada sacerdote é chamado a
fazer a constante experiência da unicidade e do caráter indispensável do
ministério a ele confiado. Tal experiência contribuirá para evitar aquelas
“flutuações identitárias” que, não poucas vezes, caracterizam a existência de
alguns presbíteros. Favorecerá também aquele grato estupor que, como não poderia
ser diverso, cumula o coração daqueles que, sem mérito próprio, foram chamados
por Deus, na Igreja, a partir o Pão Eucarístico e a doar o perdão aos homens.
Encomendamos a
difusão e os frutos do presente Subsídio à Bem-Aventurada Virgem Maria, Refúgio
dos pecadores e Mãe da Divina Graça.
Vaticano, 09 de março de 2011.
Mauro Card. Piacenza
Prefeito
X Celso Morga Iruzubieta
Arcebispo tit. de Alba marítima
Secretário
índice
APRESENTAÇÃO
Introdução: rumo à santidade [1-6]
I – O MINISTÉRIO DA PENITÊNCIA E DA
RECONCILIAÇÃO
NA
PERSPECTIVA DA SANTIDADE CRISTÃ
1. Importância atual, momento de graça
Um convite urgente [7-8]
A missão de Cristo operante na Igreja [9-11]
Abrir-se ao amor e à reconciliação [12-13]
O testemunho e a dedicação dos pastores [14-18]
O exemplo do Santo Cura d’Ars [19-20]
Ministério de misericórdia [21-23]
2. Linhas fundamentais
Natureza do sacramento da penitência [24]
Celebração pascal, caminho de conversão [25-27]
No caminho da santidade [28-31]
Um mistério de graça [32-35]
3. Algumas orientações práticas
O ministério de suscitar as disposições do penitente [36-40]
Celebração litúrgica [41-43]
As normas práticas estabelecidas pela Igreja como expressão da caridade
pastoral [44-47]
Orientar no caminho da santidade em sintonia com a ação do Espírito
Santo [48-50]
Disponibilidade ministerial e acolhimento paterno [51-57]
Uma formação renovada e atualizada para guiar os fiéis nas diversas
situações [58-60]
Novas situações, novas graças, novo fervor dos ministros [61-63]
II – O MINISTÉRIO DA DIREÇÃO ESPIRITUAL
1. Importância atual, momento de graça
Itinerário histórico e atual [64-65]
Formação sacerdotal para este acompanhamento [66-69]
Direção espiritual e ministério sacerdotal [70-73]
A direção espiritual recebida pelos ministros ordenados [74-76]
2. Linhas fundamentais
Natureza e fundamento teológico [77]
Objetivo específico [78-80]
Dinamismo e processo [81-83]
Em todas as vocações eclesiais [84-86]
3. Orientações práticas
Itinerário ou caminho concreto de vida espiritual [87-97]
O discernimento do Espírito Santo na direção espiritual [98-100]
Qualidades do diretor espiritual [101-105]
Qualidades de quem é objeto de direção espiritual [106-109]
A direção espiritual do sacerdote [110-116]
A direção espiritual na vida consagrada [117-121]
A direção espiritual dos leigos [122-124]
Harmonia entre os diversos níveis formativos no caminho da direção
espiritual [125-134]
Conclusão: «Que Cristo seja formado em vós» (Gal. 4, 19) [135-140]
Vocabulário, índice das matérias
Apêndice I – Exame de consciência para os sacerdotes
Apêndice II – Orações
Introdução: RUMO À SANTIDADE
1. “Em todos os tempos e em todas as
nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente (cfr. At. 10,35). Contudo, aprouve a Deus
salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação
entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O
servisse santamente”[2].
No caminho verso a santidade a qual o Senhor nos chama (cf. Mt. 5,48; Ef. 1,4), Deus quis que nos ajudássemos mutuamente, fazendo-nos
mediadores em Cristo, para aproximar os irmãos ao seu eterno amor. É nesse
horizonte de caridade que se inserem a celebração do sacramento da penitência e
a prática da direção espiritual, objetos do presente documento.
A este propósito, chama-nos a
atenção algumas palavras de Bento XVI: «Neste nosso tempo, sem dúvida uma das
prioridades pastorais é formar retamente a consciência dos crentes», e acrescenta o Papa: «Para a
formação das consciências contribui também a "direção espiritual".
Hoje mais que no passado há necessidade de "mestres de espírito"
sábios e santos: um importante serviço eclesial, para o qual sem dúvida é
necessária uma vitalidade interior que deve ser implorada ao Espírito Santo
como dom mediante uma oração intensa e prolongada e uma preparação específica
cuidadosamente adquirida. Depois, cada sacerdote é chamado a administrar a
misericórdia divina no sacramento da penitência, mediante o qual perdoa os
pecados em nome de Cristo e ajuda o penitente a percorrer o caminho exigente da
santidade com consciência reta e informada. Para poder realizar este
indispensável ministério cada presbítero deve alimentar a própria vida
espiritual e preocupar-se por fazer uma atualização teológica e pastoral
permanente»[3]. Nessa linha oferece-se o presente
subsídio aos sacerdotes, na qualidade de ministros da misericórdia divina.
Um ano dedicado a recordar a figura
do santo Cura d'Ars, no 150o. aniversário da sua morte (1859-2009), deixou
uma marca indelével sobretudo na vida e no ministério dos sacerdotes: um «empenho
de renovação interior de todos os sacerdotes para um seu testemunho evangélico
mais vigoroso e incisivo no mundo de hoje»[4].
Esta renovação interior dos
sacerdotes deve abarcar toda a sua vida e todo o seu ministério, modelando
profundamente os seus critérios, a suas motivações e a suas abordagens
concretas. A situação atual exige testemunho e pede que a identidade sacerdotal
seja vivida na alegria e na esperança.
2. O ministério do sacramento da reconciliação,
estreitamente ligado ao aconselhamento ou o direção espiritual, tende a
recuperar, tanto no ministro como nos fiéis, o “itinerário” espiritual e
apostólico, como um retorno pascal ao coração do Pai e à fidelidade ao seu
projeto de amor para com «o homem todo e todos os homens»[5]. Trata-se de iniciar novamente,
dentro de si mesmo e no serviço aos outros, o caminho de relação interpessoal
com Deus e com os irmãos, como um caminho de contemplação, perfeição, comunhão
e missão.
Incentivar a prática do sacramento
da penitência em toda a sua vitalidade, como também o serviço do aconselhamento
ou direção espiritual, significa viver mais
autenticamente a «alegria na esperança» (Rm.
12,12) e, assim, favorecer a estima e o respeito pela vida humana integral, recuperando
a família, a orientação dos jovens, o renascimento das vocações, o valor da
vivência do sacerdócio e da comunhão eclesial e universal.
3. O ministério da reconciliação em
relação com a direção e espiritual é uma urgência de amor: «o amor de Cristo
nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos
morreram. Sim, ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam
para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu» (2Cor. 5,14-15). E isto pressupõe para uma particular dedicação,
visto que os seguidores de Cristo verdadeiramente “não vivem mais para si
mesmos” (ibidem), mas se realizam
pela caridade na verdade.
Todo trabalho pastoral do apóstolo
Paulo, com suas dificuldades comparadas às “dores de parto”, se pode resumir na
urgência de “formar Cristo” (Gal.
4,19) em cada um dos fiéis. O seu objetivo era aquele de “tornar todo homem
perfeito em Cristo” (Col. 1,28), sem
restrições nem limites.
4. O ministério da reconciliação e o
serviço do aconselhamento ou direção espiritual inserem-se no contexto da
chamada universal à santidade como plenitude da vida cristã e “perfeição da
caridade”[6].
A caridade na verdade da identidade sacerdotal deve levar o sacerdote a
orientar todos os ofícios de seu ministério rumo à perspectiva da santidade,
que é a harmonização da pastoral profética, litúrgica e diaconal[7].
A disponibilidade para orientar todos
os batizados rumo à perfeição da caridade é parte integrante do ministério
sacerdotal.
5. O
sacerdote, enquanto
servidor do mistério pascal que anuncia, celebra e comunica, é chamado a ser
confessor e guia espiritual, como instrumento de Cristo, partindo também da
própria experiência. Ele é ministro do sacramento da reconciliação e servidor
da direção espiritual assim como é, ao mesmo tempo, beneficiado por esses dois
instrumentos de santificação pela sua própria renovação espiritual e
apostólica.
6. O presente
subsídio pretende oferecer alguns exemplos simples, factíveis e geradores de
esperança, fazendo referência a numerosos documentos Eclesiais (citados nos
vários pontos) para uma eventual consulta. Não se trata propriamente de uma
casuística, mas de um serviço atualizado de esperança e encorajamento.
I - O Ministério da penitencia e da Reconciliação na perspectiva da santidade
cristã
7.
No início do terceiro milênio, João Paulo II escrevera: «Solicito
ainda uma renovada coragem pastoral para, na pedagogia quotidiana das
comunidades cristãs, se propor de forma persuasiva e eficaz a prática do sacramento
da reconciliação»[8].
O próprio papa sucessivamente afirmou que era seu intento um “um
solícito relançamento do sacramento da reconciliação, inclusive como exigência
de autêntica caridade e de verdadeira justiça pastoral” recordando que «cada fiel, com as devidas
disposições interiores, tem o direito de receber pessoalmente o dom
sacramental»[9].
8.
A Igreja não anuncia apenas a conversão e o perdão, mas é ao mesmo tempo
sinal portador de reconciliação com Deus e com os irmãos. A celebração do
sacramento da reconciliação insere-se no contexto de toda a vida eclesial,
estando sobretudo em relação com o mistério pascal celebrado na eucaristia,
fazendo referência à vivência do batismo e da confirmação e às exigências do
mandamento do amor. É uma celebração alegre do amor de Deus, que se dá a si
mesmo, destruindo o nosso pecado quando o reconhecemos humildemente.
A missão de Cristo operante na Igreja
9.
A missão eclesial é um
processo harmônico de anúncio, celebração e comunicação do perdão, em
particular quando se celebra o sacramento da reconciliação que é fruto da
Páscoa do Senhor ressuscitado, presente na Igreja: «soprou sobre eles
dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados,
ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos» (Jo. 20, 22-23).
A alegria do perdão
torna-se uma atitude de gratidão e generosidade no caminho da santificação e da
missão. Quem experimentou o perdão, deseja que os outros possam chegar a este
encontro com Cristo Bom Pastor. Por isso, os ministros deste sacramento, experimentam
eles mesmos este encontro sacramental, tornando-se mais disponíveis a oferecer
este serviço humilde, árduo, paciente e alegre.
10.
A
prática concreta, alegre, confiada e dedicada do sacramento da reconciliação,
manifesta em que nível um fiel e uma comunidade estão evangelizados. «A prática
da Confissão sacramental, no contexto da comunhão dos santos que concorre de
diversas maneiras para aproximar os homens de Cristo, é um até de fé no
mistério da Redenção e da sua atualização na Igreja»[10].
No
sacramento da penitência, fruto do sangue redentor do Senhor, experimentamos
que Cristo «foi entregue por nossos
pecados e ressuscitado para a nossa justificação» (Rm. 4, 25). Por isto, São Paulo podia afirmar que «Cristo reconciliava consigo o
mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios
a mensagem da reconciliação» (2Cor. 5,
18).
11. A reconciliação com Deus é inseparável da reconciliação com os irmãos
(cfr. Mt. 5,24-25). Esta
reconciliação não é possível sem purificar de algum modo o próprio coração. Mas
qualquer reconciliação provém de Deus, porque é ele quem «perdoa toda a culpa»
(Sl. 103,3). Quando recebe o perdão
de Deus, o coração humano aprende melhor a perdoar a e a reconciliar se com os
irmãos.
12. Cristo urge a um amor sempre mais fiel e, então, para uma mudança mais
profunda (cfr. Ap. 2, 16), a fim de que a
vida cristã tenha os mesmos sentimentos que estiveram em Cristo Jesus (cfr. Fil. 2,5). A celebração, também
quando comunitária, do sacramento da penitência, com a confissão pessoal dos
pecados, é uma grande ajuda para viver a realidade eclesial da comunhão dos
santos.
13.
Tende-se à “reconciliação” plena segundo o “Pai nosso”, as bem-aventuranças e o
mandamento do amor. É um caminho de purificação dos pecados e também um itinerário
para a identificação com Cristo.
Este
caminho penitencial é de extrema importância, hoje e sempre, como fundamento
para construir uma sociedade que viva a comunhão. «Na sua sabedoria, a
Igreja sempre propôs que se tivesse em conta o pecado original mesmo na
interpretação dos fenômenos sociais e na construção da sociedade. Ignorar que o
homem tem uma natureza ferida, inclinada para o mal, dá lugar a graves erros no
domínio da educação, da política, da ação social e dos costumes»[11]
14. Em todas as épocas da história eclesial encontram-se
figuras sacerdotais que são modelo de confessores ou de diretores espirituais.
A Exortação Apostólica Reconciliatio et
Pænitentia (1984) recorda São João Nepomuceno, São João Maria Vianney, São
José Cafasso e São Leopoldo de Castelnuovo. Bento XVI, no discurso à
Penitenciaria Apostólica[12],
acrescentou São Pio de Pietrelcina.
Ao recordar estas figuras sacerdotais, João Paulo II
comentava: «desejo igualmente prestar homenagem à inumerável plêiade de confessores
santos e quase sempre anônimos, aos quais se ficou devendo a salvação de tantas
almas, por eles ajudadas na conversão, na luta contra o pecado e as tentações,
no progresso espiritual e, em definitivo, na santificação. Não hesito em
afirmar que os grandes Santos canonizados saíram geralmente desses
confessionários e, com os Santos, o patrimônio espiritual da Igreja e o próprio
florescimento de uma civilização impregnada de espírito cristão! Honra seja,
portanto, a este silencioso exército de irmãos nossos, que bem serviram e
servem cada dia a causa da reconciliação, mediante o ministério da penitência
sacramental»[13].
15.
Atualmente, em muitas Igrejas Particulares, sobretudo nas basílicas menores,
nas catedrais, nos santuários e em algumas paróquias mais centrais das grandes
cidades, observa-se uma resposta muito positiva por parte dos fiéis ao esforço,
realizado por parte dos pastores, de oferecer um serviço assíduo do sacramento
do perdão. Se «pelo sacramento da penitência, reconciliam os
pecadores com Deus e com a Igreja»[14],
esta mesma celebração penitencial pode dar espaço para o serviço da direção ou
aconselhamento espiritual, para guiar os fiéis cristãos no caminho vocacional,
contemplativo, de perfeição e de missão.
16.
Os munera sacerdotais estão
estreitamente ligados entre si, para o benefício da vida espiritual dos fiéis: «Os
presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de
Jesus Cristo Cabeça e Pastor, proclamam a Sua palavra com autoridade, repetem
os seus gestos de perdão e oferta de salvação, nomeadamente com o batismo, a penitência
e a eucaristia, exercitam a sua amável solicitude, até ao dom total de si
mesmos, pelo rebanho que reúnem na unidade e conduzem ao Pai por meio de Cristo
no Espírito»[15].
17.
Os próprios ministros são convidados a receber este sacramento: «Os
ministros da graça sacramental unem-se a Cristo Salvador e pastor pela frutuosa
recepção dos sacramentos, especialmente pela freqüente recepção do sacramento
da penitência, que preparado pelo quotidiano exame de consciência, muito
favorece a necessária conversão do coração ao amor do pai das misericórdias»[16].
Por
isto, a mesma Exortação Apostólica Pastores
dabo vobis convida os ministros a fazerem uso desta prática como garantia
de sua vida espiritual: «Gostaria de reservar uma palavra especial para o
sacramento da penitência, do qual os sacerdotes são ministros, mas devem ser
também beneficiários, tornando-se testemunhas da misericórdia de Deus pelos
pecadores. Retomo quanto escrevi na Exortação Reconciliatio et Pænitentia:
“A vida espiritual e pastoral do sacerdote, como a dos seus irmãos leigos e
religiosos, depende, na sua qualidade e no seu fervor, da prática pessoal
assídua e conscienciosa do sacramento da penitência [...] Num sacerdote que
deixasse de se confessar ou se confessasse mal, o seu ser padre e o exercício
do seu sacerdócio bem cedo ressentir-se-iam, e disso se daria conta a
própria comunidade da qual ele é pastor”»[17].
Mas quando tenho a
grata certeza de que Deus me perdoa sempre de novo, como escrevia Bento
XVI, “deixando-me
perdoar, aprendo também a perdoar aos outros”[18].
18.
A fecundidade apostólica provém da misericórdia de Deus, por isso, os planos
pastorais seriam escassamente eficazes se a prática sacramental da penitência
fosse subestimada: «deve ser atribuída a máxima atenção pastoral a este
sacramento da Igreja, fonte de reconciliação, paz e alegria para todos nós que
necessitamos da misericórdia do Senhor e da cura das feridas do pecado. […] O
Bispo não deixará de recordar, a todos aqueles que, em razão do ofício, é
requerido o cuidado das almas, o dever de oferecer aos fiéis a oportunidade de
se abeirarem da confissão individual. Encarregar-se-á de verificar também que
sejam efetivamente dadas aos fiéis as maiores facilidades para poderem
confessar-se. Considerado à luz da Tradição e do Magistério da Igreja o laço
íntimo que existe entre o sacramento da reconciliação e a participação na eucaristia,
sente-se hoje uma necessidade cada vez maior de formar a consciência dos fiéis
para participarem digna e frutuosamente no banquete eucarístico, abeirando-se
em estado de graça»[19].
19.
O exemplo do Santo Cura d’Ars é muito atual. A situação histórica daquele
momento não era fácil, por causa das guerras, da perseguição, das idéias
materialistas ou secularistas. Em sua chegada à Paróquia, era bem escassa a
freqüência ao sacramento da penitência. Nos últimos anos de sua vida, a
freqüência chegava a ser maciça, inclusive por parte de fiéis findos de outras
dioceses. Para o Santo Cura, o ministério da reconciliação foi “um longo
martírio” que “produziu frutos muito abundantes e vigorosos”. Diante da
condição de pecado, dizia “não se sabe o que se deve fazer: só se pode
chorar e rezar”. Mas ele «não vivia senão para os “pobres pecadores” na
esperança de vê-los converter-se e chorar»[20].
A confissão freqüente, inclusive quando não se têm pecado grave, é um meio
recomendado constantemente pela Igreja com o objetivo de progredir na vida
cristã.[21]
20. João Paulo
II, na Carta aos Sacerdotes da Quinta-feira Santa de 1986, para comemorar o
segundo centenário do nascimento do Santo Cura, reconhecia que «A dedicação
incansável ao sacramento da penitência foi, sem dúvida alguma, o que manifestou
o carisma principal do Cura d'Ars e o que o tornou justamente famoso. Será bom
que este exemplo nos impulsione, nos dias de hoje, a dar novamente ao
ministério da reconciliação toda a importância que lhe corresponde». O próprio
fato que um grande número de pessoas «por diversas razões, parecem privar-se
totalmente da confissão, isso é sinal de que se tornou urgente atuar toda uma
pastoral do sacramento da reconciliação, levando os cristãos a redescobrirem
incessantemente: as exigências de uma verdadeira relação com Deus; o sentido
do pecado em que se dá o fechamento ao mesmo Deus e aos outros; a necessidade
de converter-se e de receber, mediante a Igreja, o perdão, como dom gratuito
do Senhor; e, ainda, as condições que se requerem para celebrar bem o sacramento,
superando os preconceitos, os falsos temores e a rotina em relação ao mesmo. A
situação, como se apresenta, requer ao mesmo tempo que fiquemos muito
disponíveis para este ministério do perdão, prontos a dedicar-lhe o tempo e
atenção necessários e, diria mesmo, a dar-lhe a prioridade em relação a
outras atividades. Os fiéis reconhecerão, desta maneira, a importância que nós
lhe damos, como sucedia com o Cura d'Ars»[22].
21.
O ministério da reconciliação, exercitado com grande disponibilidade,
contribuirá a aprofundar o significado do amor de Deus, recuperando o sentido
do pecado e das imperfeições como obstáculos ao verdadeiro amor. Quando se
perde o sentido do pecado, rompe-se o equilíbrio interior no coração e dá-se
origem a contradições e conflitos na sociedade humana. Somente a paz de um
coração unificado pode dissipar guerras e tensões. «os desequilíbrios de
que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que
se radica no coração do homem. Porque no íntimo do próprio homem muitos
elementos se combatem»[23].
22.
Este serviço de reconciliação, exercido com autenticidade, será um convite a
viver em sintonia com os sentimentos do Coração de Cristo. Isto é uma
“prioridade” pastoral, enquanto que é viver a caridade do Bom Pastor, viver o «seu amor
para com o Pai no Espírito Santo, ao seu amor para com os homens até entregar
em imolação a sua própria vida»[24].
Para retornar ao Deus Amor é necessário o convite ao reconhecimento do próprio
pecado, sabendo que «Deus é maior do que nossa consciência» (1Jo. 3,20). Disto deriva a alegria pascal
da conversão, que suscitou santos e missionários em todas as épocas.
23. Esta
atualidade do sacramento da reconciliação aparece também na realidade da Igreja
peregrina, que «simultaneamente santa e sempre necessitada de
purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação»[25].
Por isto a Igreja olha para Maria, que «brilha como sinal de esperança segura e
de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrino, até que chegue o dia do
Senhor»[26].
24. O sacramento do perdão é um sinal eficaz da presença, da palavra e
da ação salvífica de Cristo redentor. Através deste, o próprio Senhor prolonga
as suas palavras de perdão nas palavras do seu ministro, enquanto, ao mesmo
tempo, transforma e eleva a atitude do penitente que se reconhece pecador e
pede perdão com o propósito de expiação e correção. Atualiza-se então a
surpresa do filho pródigo no encontro com o Pai que perdoa e festeja o retorno
do filho amado (cfr. Lc. 15, 22).
25.
A celebração do sacramento é essencialmente litúrgica, festiva, alegre,
enquanto retorno, sob a guia do Espírito Santo, ao reencontro com o Pai e com o
Bom Pastor. Jesus quis descrever este perdão com as cores da festa e da alegria
(Lc. 15,5-7.9-10.22-32). Torna-se,
então, mais compreensível e mais desejável a celebração freqüente e periódica
do sacramento da reconciliação. Cristo pode ser encontrado voluntariamente
neste sacramento quando esforçamo-nos por encontrá-lo habitualmente na eucaristia,
na Palavra viva, na comunidade, em cada irmão e também na pobreza do próprio
coração[27].
26. Este
sacramento celebra a chamada à conversão como um regresso ao Pai (cfr. Lc. 15, 18). Chama-se sacramento da “penitência
porque consagra um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e
de satisfação do cristão pecador»[28].
Chama-se também sacramento do “confissão”
«porque a declaração, a confissão dos pecados diante do sacerdote é um elemento
essencial desse sacramento. Num sentido profundo esse sacramento também é uma
“confissão”, reconhecimento e louvor da santidade de Deus e de sua misericórdia
para com o homem pecador»[29].
E chama-se sacramento do “perdão”, «porque, pela absolvição sacramental do sacerdote. Deus concede ao penitente
o “perdão e a paz”», e da “reconciliação”,
porque «dá ao pecador o amor de Deus que Reconcilia»[30].
27. A
celebração sacramental da “conversão” é ligada um esforço para responder ao
amor de Deus. Por isto, o apelo à conversão é «uma parte essencial do anúncio do Reino»[31].
Assim, o cristão insere-se no «movimento do “coração contrito” (Sal. 51, 19), atraído e movido pela
graça (cfr. Jo. 6, 44; 12, 32) a
responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro (cfr. 1Jo. 4, 10)»[32].
28.
Trata-se de um itinerário rumo à santidade exigida e possibilitada pelo batismo,
pela eucaristia, pela confirmação e pela Palavra de Deus.
É
assim que age aquela realidade ministerial da graça que São Paulo descrevia com
estas palavras: «desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é
Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos:
reconciliai-vos com Deus!» (2Cor. 5,
20). A chamada do Apóstolo tinha como motivação especial o fato de que Deus
tratou a Cristo como «pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça
de Deus»(2Cor. 5,21). Deste modo,
«libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade» (Rm. 6, 22).
29.
É possível entrar nesta dinâmica da experiência do perdão misericordioso de
Deus desde a infância e antes da primeira comunhão, também por parte das almas
inocentes movidas por uma atitude de confiança e de alegria filial[33].
A propósito, é preciso preparar tais almas com uma catequese adequada sobre o
sacramento da penitência, antes que recebam a primeira comunhão.
30.
Quando se entra nesta dinâmica evangélica do perdão, é fácil compreender a
importância de confessar os pecados leves e as imperfeições, como decisão de
“progredir na vida do Espírito” e com o desejo de transformar a própria vida em
expressão da misericórdia divina para com os demais[34].
Desta forma, entra-se em sintonia com os sentimentos de Cristo «que, sozinho,
expiou nossos pecados (cfr. Rm. 3,
25; 1Jo. 2, 1-2)»[35].
31.
Quando o sacerdote é consciente desta realidade da graça, não pode senão
encorajar os fiéis a aproximarem-se do sacramento da penitência. Então,
sacerdote cumpre o ministério do bom pastor, que busca a ovelha perdida; do bom
samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera o filho pródigo e o acolhe
ao voltar; do justo juiz, que não faz acepção de pessoas e cujo julgamento é
justo e misericordioso ao mesmo tempo. Em suma, o sacerdote é o sinal e o
instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador»[36].
«O Bom Pastor procura a ovelha perdida. Encontra-a, coloca-o sobre seu próprio
ombro, que portaria o madeiro da cruz, e a reconduz ao caminho da eternidade»[37].
32.
O respeito pelo “sigilo sacramental” indica que a celebração penitencial é uma
realidade da graça, cujo itinerário foi já “assinalado” pelo Coração de Jesus,
em uma profunda amizade com ele. Assim, uma vez mais, o mistério e a dignidade
do homem se manifestam à luz do mistério de Cristo[38].
Os efeitos da graça do sacramento da penitência consistem na
reconciliação com Deus (recuperando a paz e a amizade com ele), na
reconciliação com a Igreja (reintegrando-se na comunhão dos santos), na
reconciliação consigo mesmo (unificando o próprio coração). Consequentemente, o
penitente «reconcilia-se com os irmãos que de alguma maneira ofendeu e feriu;
reconcilia-se com a Igreja; e reconcilia-se com toda a criação»[39].
33. A
dignidade do penitente emerge na celebração sacramental, na qual ele manifesta
sua autenticidade (conversão) e o seu arrependimento. Com efeito, «ele se
insere, com seus atos, na celebração do sacramento, que depois se realiza com
as palavras da absolvição, pronunciadas pelo ministro em nome de Cristo»[40].
Por isto, pode-se dizer que «o fiel, enquanto faz em sua vida a experiência da
misericórdia de Deus e a proclama, celebra com o sacerdote a liturgia da
Igreja, que continuamente se converte e se renova»[41].
34. A
celebração do sacramento atualiza uma história da graça que deriva do Senhor. «Na
incessante praxe da Igreja ao longo da história, o “ministério da reconciliação”
(2Cor. 5,18), atuada mediante os sacramentos do batismo e da penitência,
revelou-se sempre um empenho pastoral vivamente prezado, realizado segundo o
mandato de Jesus como parte essencial do ministério sacerdotal»[42].
35. É um
caminho “sacramental”, como sinal eficaz da graça, que faz parte da
sacramentalidade da Igreja. É também o caminho traçado pelo “Pai nosso”, no
qual pedimos perdão enquanto oferecemos o nosso perdão. Desta experiência de
reconciliação, nasce no coração do fiel um anelo de paz para toda a humanidade:
«A ânsia do cristão é que toda a família humana possa invocar a Deus como o
“Pai nosso”»[43].
36.
A atitude de reconciliação e penitência ou “conversão”, desde os inícios da
Igreja, exprime-se de modos muito diversos e em momentos diversos: na
celebração eucarística, nos tempos litúrgicos particulares (como a Quaresma),
no exame de consciência, na oração filial, na esmola, no sacrifício, etc. Mas
seu momento privilegiado é a celebração do sacramento da penitência ou reconciliação,
quando temos, por parte do penitente, a contrição, a confissão e a satisfação,
e, por parte do ministro, a absolvição, com o convite para abrir-se a um
crescimento no amor.
37.
A confissão clara, simples e íntegra dos próprios pecados recupera a comunhão
com Deus e com os irmãos, sobretudo na comunidade eclesial. A “conversão”, como
retorno aos projetos do Pai, implica no arrependimento sincero e portando na
acusação e na disposição a expiar ou reparar a própria conduta. Deste modo, a
própria existência é orientada no caminho do amor a Deus e ao próximo.
38.
O penitente, diante de Cristo ressuscitado presente no sacramento (e também no
ministro), confessa o próprio pecado, exprime o próprio arrependimento, e
empenha-se em expiar seu pecado e em corrigir-se. A graça do sacramento da reconciliação
é graça de perdão que chega às raízes do pecado cometido depois do batismo e
cura as imperfeições e os desvios, dando ao fiel a força para “converter-se” ou
abrir-se ainda mais à perfeição do amor.
39. Os gestos exteriores com os quais se pode exprimir esta atitude penitencial interior são muitos: a oração, a esmola, o sacrifício, a santificação dos tempos litúrgicos, etc. Mas «a conversão e a penitência cotidiana encontram sua fonte e seu alimento na eucaristia»[44]. Na celebração do sacramento da penitência experimenta-se o caminho de retorno descrito por Jesus na parábola do filho pródigo: «Só o coração de Cristo que conhece as profundezas do amor do Pai pôde revelar-nos o abismo de sua misericórdia de uma maneira tão simples e tão bela»[45].
40. Esta graça de Deus, o qual teve a iniciativa de
amar-nos, faz com que o penitente possa cumprir estes gestos. O exame de
consciência se faz à luz do amor de Deus e de sua Palavra. Reconhecendo o
próprio pecado, o pecador assume a sua responsabilidade e, movido pela graça,
manifesta a própria dor e o próprio aborrecimento pelo pecado, sobretudo diante
de Deus, que nos ama e julga com misericórdia as nossas ações. O reconhecimento
e a acusação integral dos pecados diante do sacerdote deve ser feito com
simplicidade e clareza, o que é possível graças a ação do Espírito de amor, que
vai muito além da dor de contrição (por amor) ou de atrição (por temor da
justiça divina).
41.
A celebração do sacramento da reconciliação é uma ação litúrgica que, segundo o
Ritual da Penitência, desenvolve-se a partir de uma saudação e benção, que são
seguidas pela leitura ou recitação da Palavra de Deus[46],
o convite ao arrependimento, a confissão, os conselhos e exortações, a
imposição e aceitação da penitência, a absolvição dos pecados, a ação de graças
e a benção de despedida. O lugar visível e decoroso do confessionário, «munido
de uma grade fixa entre o penitente e o confessor, de modo que os fiéis que o
desejarem possam livremente servir-se dele»[47]
é de grande ajuda para ambos.
42. A forma ordinária
de celebrar a confissão, isto é, a confissão individual, é uma excelente oportunidade
para convidar à santidade e, consequentemente, a uma eventual direção
espiritual (com o mesmo confessor ou com outra pessoa). «Graças,
ainda, à sua índole individual, a primeira forma de celebração permite associar
o sacramento da penitência a algo de diferente, mas perfeitamente conciliável
com ele: refiro-me à direção espiritual. Por conseguinte, é óbvio que a
decisão e o empenho pessoais estão claramente significados e solicitados nessa
primeira forma»[48]. «Sempre que possível, seria bom que,
em momentos particulares do ano ou quando houver oportunidade, a confissão
individual da multidão de penitentes tenha lugar no âmbito de celebrações
penitenciais, como previsto pelo ritual, no respeito das várias tradições
litúrgicas, para se poder dar amplo espaço à celebração da Palavra com o uso de
leituras apropriadas»[49].
43. Mesmo se «em casos
de necessidade grave, pode-se recorrer à celebração comunitária da reconciliação
com confissão e absolvição gerais», segundo a norma do Direito, os fiéis devem
ter, para a validade da absolvição, o propósito de confessar individualmente
seus pecados graves no devido tempo»[50].
Emitir o juízo acerca da existência das condições requeridas pelo Direito,
«compete ao Bispo diocesano, o qual, atendendo aos critérios fixados por acordo
com os restantes membros da Conferência Episcopal, pode determinar os casos em
que se verifique tal necessidade»[51].
Por isto, «a confissão
individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único modo
ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se
uma impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão. [...] A
confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus
e com a Igreja»[52].
44.
Nos cânones do Código de Direito Canônico
encontramos orientações práticas sobre a confissão individual e a celebração
comunitária[53], como
também sobre o lugar e o modo de disposição do confessionário[54].
Em relação aos ministros, fazem referência às normas ponderadas pela tradição
eclesial e pela experiência, tais como a faculdade de confessar ordinariamente
e a faculdade de absolver em alguns casos especiais[55].
É necessário ater-se, em tudo, aos critérios da Igreja sobre a doutrina moral[56].
É necessário comportar-se sempre como servidores justos e misericordiosos, de
modo que se promova a «honra divina e a salvação das almas»[57].
45.
Estas normas ajudam inclusive a agir com a prudência devida «levando em
consideração a condição e a idade do penitente»[58],
tanto para perguntar quanto para dar orientações práticas e para indicar uma
«reparação oportuna»[59].
É neste contexto do mistério da graça divina e do coração humano que se entende
melhor o “sigilo” sacramental[60].
Outras
normas oferecem algumas pistas para ajudar os penitentes a confessarem-se com
clareza, por exemplo, em relação ao número e espécie dos pecados graves[61],
(número e espécie dos pecados graves), indicando os tempos mais oportunos, os
meios concretos (quais possam ser, em qualquer ocasião, os intérpretes) e
sobretudo a liberdade de confessar-se com os ministros aprovados e que os
mesmos podem ser escolhidos[62].
46.
No Ritual da Penitência encontram-se
orientações doutrinais e normas práticas similares: preparação do sacerdote,
acolhida, celebração com todos os seus detalhes. Estas orientações ajudarão o
penitente a plasmar a sua vida com a graça recebida. Por isto, a celebração
comunitária com a absolvição individual é uma grande ajuda para a confissão
individual, que continua sendo a forma ordinária da celebração do sacramento da
penitência.
47.
Também na Carta Apostólica Motu Proprio
Misericordia Dei, do Papa João Paulo II, sobre alguns aspectos da
celebração do sacramento da penitência, são oferecidas muitas normas práticas
sobre os possíveis modos de realizar a celebração sacramental e sobre cada um
dos seus gestos.
48.
Em todas estas possibilidades de celebração, a coisa mais importante é ajudar o
penitente no seu processo de configuração a Cristo. Às vezes, um conselho
simples e sapiencial ilumina por toda uma vida ou ajuda a levar a sério o
processo de contemplação e perfeição, sob a guia de um bom diretor espiritual
(como veremos na segunda parte deste documento). O diretor espiritual é um
instrumento nas mãos de Deus para ajudar na descoberta daquilo que Deus quer de
cada um no momento presente: a sua ciência não é meramente humana. A homilia de
uma celebração comunitária ou o conselho privado em uma confissão individual
podem ser determinantes para toda uma vida.
49.
Em cada momento é necessário ter presente o processo seguido pelo penitente. Às
vezes será mais útil adotar uma atitude de conversão radical que leve a
recuperar ou reavivar a escolha fundamental pela fé; outras vezes será apenas
uma ajuda no processo normal de santificação, que é sempre, harmoniosamente, de
purificação, iluminação e união.
50.
A confissão freqüente, quando existem apenas pecados leves ou imperfeições, é
como uma conseqüência da fidelidade ao batismo e à confirmação, e exprime um
autêntico desejo de perfeição e de retorno ao desígnio do Pai, para que Cristo
viva verdadeiramente em nós por uma vida de maior fidelidade ao Espírito Santo.
Por isto, «levando-se em conta a chamada de todos os fiéis à santidade,
recomenda-se-lhes que confessem também os pecados veniais»[63].
51.
São essenciais, antes de tudo, a oração e a penitência pelas almas. Assim será
possível uma autêntica disponibilidade e acolhida paterna.
52.
Aqueles que têm a cura das almas devem «prover que sejam escutadas as
confissões dos fiéis a eles confiados, que oportunamente lho peçam, e que lhes
seja dada a oportunidade de aproximarem-se da confissão individual, sendo
estabelecidos, para sua comodidade, dia e hora»[64].
Atualmente, isto se têm feito em muitos lugares, com resultados muito
positivos, não só em alguns santuários, mas também em muitas paróquias e
igrejas.
53.
Esta disponibilidade ministerial tende a prolonga-se, suscitando desejos de
perfeição cristã. O auxílio do ministro, antes ou durante a confissão, estimula
o verdadeiro conhecimento próprio, à luz da fé, em vista de adotar uma atitude
de contrição e propósitos de conversão permanente e profunda, como também de
reparação ou de correção e mudança de vida, para superar as insuficiências na
resposta ao amor de Deus.
54.
O texto final da celebração do sacramento, depois da absolvição propriamente
dita e da despedida, contém uma grande riqueza espiritual e pastoral, e seria
conveniente recitá-lo, visto que direciona o coração à paixão de Cristo, aos
méritos da Bem-Aventurada Virgem Maria e dos Santos, e à cooperação, por meio
das boas obras subseqüentes.
55.
Deste modo, o ministro, pelo fato de agir em nome de Cristo Bom Pastor, sente a
urgência de conhecer e discernir as doenças espirituais e de fazer-se próximo do
penitente, de ser fiel ao ensinamento do Magistério sobre a moral e a perfeição
cristã, de viver uma autêntica vida de oração, de adotar uma postura prudente
na escuta e nas perguntas, de ser disponível a quem pede o sacramento
oportunamente e de seguir as moções do Espírito Santo. É sempre uma função
paterna e fraterna à imitação do Bom Pastor, e é uma prioridade pastoral.
Cristo, presente na celebração sacramental, também espera dentro no coração de
cada penitente e pede ao ministro oração, estudo, invocação do Espírito e
acolhida paterna.
56.
Esta perspectiva de caridade pastoral coloca em evidência que «a falta
de disponibilidade para acolher as ovelhas feridas, mais, para ir ao seu
encontro e reconduzi-las ao aprisco, seria um doloroso sinal de carência de
sentido pastoral em quem, pela Ordenação sacerdotal, deve reproduzir em si
mesmo a imagem do Bom Pastor [...]. De modo particular, recomenda-se a presença visível dos confessores [...]
e uma especial disponibilidade para confessar antes das Missas e mesmo para ir
de encontro à necessidade dos fiéis durante a celebração da eucaristia, se
houver outros sacerdotes disponíveis.»[65].
Em
se tratando de uma «concelebração, exorta-se vivamente que alguns sacerdotes se
abstenham de concelebrar para serem disponíveis aos fiéis que queiram recorrer
a este sacramento»[66].
57.
A descrição que o Santo Cura d’Ars faz do ministério acentua a nota de acolhida
e disponibilidade. Este é o comentário de Bento XVI: «Todos nós,
sacerdotes, deveríamos sentir que nos tocam pessoalmente estas palavras que ele
colocava na boca de Cristo: “Encarregarei os meus ministros de anunciar aos
pecadores que estou sempre pronto a recebê-los, que a minha misericórdia é
infinita”. Do Santo Cura d’Ars, nós, sacerdotes, podemos aprender não só uma
inexaurível confiança no sacramento da penitência que nos instigue a colocá-lo
no centro das nossas preocupações pastorais, mas também o método do “diálogo de
salvação” que nele se deve realizar. O Cura d’Ars tinha maneiras diversas de
comportar-se segundo os vários penitentes»[67].
Em tal contexto, pode-se entender a explicação que deu a um colega sacerdote:
«Dir-vos-ei qual é a minha receita: dou aos pecadores uma penitência pequena e
o resto faço-o eu no lugar deles»[68].
58.
Pode-se aprender do Santo Cura d’Ars o modo de distinguir os penitentes para
que sejam melhor orientados, de acordo com sua disponibilidade. Mesmo
oferecendo modelos de santidade aos mais fervorosos, exortava todos a que
emergissem na «torrente da divina misericórdia» dando motivo de esperança para
as correções: «O bom Deus sabe tudo. Ainda antes de vos
confessardes, já sabe que voltareis a pecar e todavia perdoa-vos. Como é grande
o amor do nosso Deus, que vai até ao ponto de esquecer voluntariamente o
futuro, só para poder perdoar-nos!»[69].
Este
esforço de caridade pastoral « era para ele, sem dúvida, a maior das suas práticas
ascéticas, um “martírio”». Por isto, « o Senhor concedia-lhe o ensejo de
reconciliar grandes pecadores arrependidos como também de guiar para a
perfeição almas que desta tinham sede»[70].
59.
O confessor é pastor, pai, mestre, educador, juiz espiritual e também médico
que discerne e oferece a cura. «Lembre-se o sacerdote que, ao ouvir confissões,
desempenha simultaneamente o papel de juiz e de médico, e que foi constituído
por Deus como ministro da justiça divina e, ao mesmo tempo, de sua
misericórdia, para procurar a honra divina e a salvação das almas»[71].
60. Maria é a Mãe de misericórdia porque é Mãe de Cristo Sacerdote,
revelador da misericórdia. É aquela que, «como ninguém mais, experimentou a
misericórdia... é aquela que conhece mais profundamente o mistério da
misericórdia divina» e, por isto, pode «atingir todos aqueles que aceitam mais
facilmente o amor misericordioso da parte de uma mãe»[72].
A espiritualidade mariana do sacerdote deixará entrever, em seu modo de agir, o
Coração materno de Maria, como reflexo da misericórdia divina.
61. É preciso reconhecer as
dificuldades atuais a exercitar o ministério da penitência, devidas a uma certa
perda do sentido do pecado, a uma certa antipatia para com este sacramento, a
uma presumida não utilidade de confessar-se se não se está em pecado grave, e
também ao cansaço espiritual do ministro, ocupado em tantas atividades. Mas a
confissão é sempre um renascimento espiritual que transforma o penitente em uma
nova criatura e estreita sempre mais sua amizade com Cristo. Por isto, é uma
fonte de alegria, para quem é servo do Bom Pastor.
62. Quando o sacerdote
exercita este ministério, revive de modo particular sua condição de ser
instrumento de um maravilhoso evento da graça. À luz da fé, pode experimentar a
ação do amor misericórdia de Deus. Os gestos e as palavras do ministro são um
meio para que se realize um verdadeiro milagre da graça. Embora existam outros
instrumentos eclesiais para comunicar a graça de Deus (para não falar da eucaristia,
máxima prova de amor), «no sacramento da penitência o homem é alcançado de
modo visível pela misericórdia de Deus»[73]. É um meio
privilegiado de encorajar a não apenas receber o perdão, mas a seguir com
generosidade o caminho da identificação com Cristo. O caminho do discipulado
evangélico (por parte dos fiéis e dos próprios ministros) necessita deste
recurso para manter-se num nível de generosidade.
63. Esta perspectiva do
encorajamento exige do ministro uma maior atenção em sua formação: «consequentemente,
é necessário que ele acrescente a uma boa sensibilidade espiritual e pastoral,
uma séria preparação teológica, moral e pedagógica, que o torne capaz de compreender
a existência da pessoa. Além disso, é-lhe muito útil conhecer os âmbitos
sociais, culturais e profissionais de quantos se aproximam do confessionário,
para poder oferecer conselhos idôneos e orientações espirituais e práticas[...]
à sabedoria humana, à preparação teológica, é necessário acrescentar uma
profunda disposição de espiritualidade, alimentada pelo contato orante com
Cristo, Mestre e Redentor»[74].
Neste sentido, a formação permanente é de grande utilidade, como por exemplo,
as jornadas de formação do clero, com cursos específicos, tal como aqueles
oferecidos pela Penitenciaria Apostólica.
II – O MINISTério DA DIREÇÃO ESPIRITUAL
64.
O aconselhamento espiritual, chamado também de direção e acompanhamento
espiritual, é praticado desde os primeiros séculos da Igreja até os nossos
dias. Trata-se de uma praxe milenar, que deu frutos de santidade e de
disponibilidade evangelizadora.
O
Magistério, os Santos Padres, os autores espirituais e as normas de vida
eclesial falam da necessidade deste aconselhamento ou direção, sobretudo no
itinerário formativo e em algumas circunstâncias da vida cristã. Existem
momentos na vida que necessitam de um discernimento especial e de um acompanhamento
fraterno. É a lógica da vida cristã. «É preciso redescobrir a grande tradição do
acompanhamento espiritual pessoal, que sempre deu tantos e tão preciosos
frutos, na vida da Igreja»[75].
65. Nosso Senhor estava próximo aos seus discípulos. A direção,
acompanhamento ou aconselhamento espiritual originou-se no curso dos séculos, a
início sobretudo por parte dos monastérios (tanto no Oriente quanto no
Ocidente) e, por conseguinte, também por parte das diversas escolas de
espiritualidade, a partir da Idade Média. Sua aplicação na vida cristã
tornou-se mais freqüente desde os séculos XVI-XVII, como pode ser constatado
nos escritos de Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santo Inácio de
Loyola, São João de Ávila, São Francisco de Sales, Santo Afonso Maria de
Ligório, Pedro de Bérulle, etc. Mesmo que predominantemente a direção
espiritual tenha sido dada por monges e sacerdotes, sempre existiram fiéis
(religiosos e leigos) – como por exemplo, Santa Catarina – que prestaram este
serviço. A legislação eclesiástica recolheu toda esta experiência e a aplicou
sobretudo na formação inicial à vida sacerdotal e consagrada. Existem também fiéis
leigos bem formados, homens e mulheres, que desenvolvem este serviço de
aconselhamento no caminho da santidade.
66.
A direção espiritual é uma ajuda no caminho da santificação para todos os fiéis
em qualquer estado de vida. Atualmente, enquanto se observa uma procura de
orientação espiritual por parte dos fiéis, adverte-se ao mesmo tempo a
necessidade de uma maior preparação por parte dos ministros, a fim de poderem
prestar diligentemente este serviço de aconselhamento, discernimento e
acompanhamento. Onde existe tal prática, se dá uma renovação pessoal e
comunitária, surgem vocações, espírito apostólico, alegria na esperança.
67.
No período de preparação para o sacerdócio, aparece sempre mais necessário e
urgente o estudo da teologia espiritual e a experiência desta na própria vida.
Na verdade, o aconselhamento ou direção espiritual é parte integrante do
ministério da pregação e da reconciliação. De fato, o sacerdote é chamado a
guiar no caminho da identificação com Cristo, que inclui o caminho da
contemplação. O auxílio da direção espiritual, como discernimento do Espírito,
faz parte do ministério: «sabendo discernir se os espíritos vêm de
Deus, [os presbíteros] perscrutem com o sentido da fé, reconheçam com alegria e
promovam com diligência os multiformes carismas dos leigos, tanto os mais
modestos como os mais altos»[76].
68.
A formação inicial ao sacerdócio, desde os primeiros momentos de vida no
Seminário, abrange efetivamente esta ajuda: «os alunos sejam
formados com uma peculiar educação religiosa, e sobretudo por uma apta direção
espiritual, de maneira a seguir Cristo Redentor de alma generosa e coração
puro»[77].
69.
Não se trata apenas de uma consulta sobre temas doutrinais, mas, antes, sobre a
vida de relacionamento, intimidade e configuração com Cristo, que é sempre uma
participação na vida trinitária: «A formação espiritual deve estar
estreitamente unida com a formação doutrinal e pastoral graças sobretudo à
colaboração do Diretor espiritual; seja dada de tal maneira que os alunos
aprendam a viver em união familiar e assídua com o Pai por meio de Seu Filho
Jesus Cristo, no Espírito Santo»[78].
70.
Os munera sacerdotais são descritos
tendo-se em consideração a relação dos sacerdotes com a vida espiritual dos
fiéis: vós «sois os ministros da eucaristia, os dispensadores da misericórdia divina
no sacramento da penitência, os consoladores das almas, os guias de todos os
fiéis nas tempestuosas dificuldades da vida»[79].
No
acompanhamento ou direção espiritual dá-se sempre grande importância ao
discernimento do Espírito com o objetivo da santificação, da missão apostólica
e da vida de comunhão eclesial. A lógica do Espírito impele a viver na verdade
e no bem conforme o exemplo de Cristo. É necessário pedir a sua luz e a sua
força para discernir e ser fiel ao seu direcionamento.
71.
Pode-se afirmar que esta atenção à vida espiritual dos fiéis, guiando-lhes no
caminho da contemplação e da santidade, também como um auxílio para o
discernimento vocacional, é uma prioridade pastoral: «nesta perspectiva, o
cuidado pelas vocações ao sacerdócio saberá exprimir-se também numa firme e
persuasiva proposta de direção espiritual [...] Os sacerdotes, pela sua parte, sejam os primeiros a
dedicar tempo e energias a esta obra de educação e de ajuda espiritual pessoal:
jamais se arrependerão de ter transcurado ou relegado para segundo plano muitas
outras coisas, mesmo boas e úteis, se for necessário para o seu ministério de
colaboradores do Espírito na iluminação e guia dos chamados»[80].
72.
O cuidado pelos jovens, em particular, com a finalidade de discernir a própria
vocação específica na vocação cristã em geral, requer esta atenção de
aconselhamento e acompanhamento espiritual: «como então escrevia
o futuro Papa Paulo VI, “a direção espiritual tem uma função belíssima e pode
dizer-se indispensável para a educação moral e espiritual da juventude que
queira interpretar e seguir com absoluta lealdade a vocação da própria vida,
seja ela qual for, e conserva sempre uma importância benéfica para todas as
idades da vida, quando à luz e à caridade de um conselho piedoso e prudente se
pede a comprovação da própria retidão e o conforto para o cumprimento generoso
dos próprios deveres. É meio pedagógico muito delicado, mas de grandíssimo
valor; é arte pedagógica e psicológica de grande responsabilidade para quem a
exercita; é exercício espiritual de humildade e de confiança para quem a
recebe”»[81].
73.
A direção espiritual está habitualmente relacionada com o sacramento da reconciliação,
ao menos no sentido de uma conseqüência possível, quando os fiéis peçam para
ser guiados no caminho da santidade, inclusive no itinerário específico de sua
vocação pessoal: «paralelamente
ao sacramento da reconciliação, o presbítero não deixará de exercer o
ministério da direção espiritual. A descoberta e a difusão desta
prática, em momentos diversos da administração da penitência, é um grande
benefício para a Igreja no tempo presente. A disponibilidade generosa e ativa
dos presbíteros para praticá-la constitui também uma ocasião importante para
determinar e sustentar as vocações ao sacerdócio e às várias formas de vida
consagrada»[82].
74.
Os próprios ministros necessitam da prática da direção espiritual, que está
sempre intrinsecamente ligada à intimidade com Cristo: «para
desempenhar com fidelidade o seu ministério, tenham a peito o colóquio
quotidiano com Cristo Senhor, na visita e culto pessoal à Sagrada eucaristia;
entreguem-se de bom grado ao retiro espiritual, e tenham em grande apreço a
direção espiritual»[83].
75. A realidade ministerial exige que o ministro receba pessoalmente a
direção espiritual, procurando-a e recebendo-a com fidelidade, para poder
dirigir melhor os outros: «para contribuir para o melhoramento da sua espiritualidade é necessário
que os presbíteros recebam eles mesmos a direção espiritual. Colocando nas mãos
dum sábio colega a formação da sua alma, a partir dos primeiros anos de
ministério, crescerão na consciência da importância de não caminhar sozinhos
pelos caminhos da vida espiritual e do empenho pastoral. Recorrendo a este meio
eficaz de formação, tão experimentado na Igreja, os presbíteros terão plena
liberdade na escolha da pessoa a quem confiar a direção da sua vida espiritual»[84].
76. Para resolvermos as
questões pessoais e comunitárias é necessário recorrer ao conselho dos irmãos
sacerdotes, sobretudo daqueles que devem exerce-la em função da missão a eles
confiada, de acordo com a graça de estado, recordando que o primeiro
“conselheiro” ou “diretor” é sempre o Espírito Santo, ao qual se precisa
recorrer com uma oração constante, humilde e confiante.
77.
A vida cristã é “caminho” e “viver do Espírito” (Gal. 5,25), como sintonia, relação, imitação, configuração a
Cristo, para participar da filiação divina. Por isto, «todos os que são
conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus» (Rm. 8, 14). O aconselhamento ou direção espiritual ajuda a
distinguir «o Espírito da Verdade e o espírito do erro» (1Jo. 4,6) e a «revestir o homem novo, criado à imagem de Deus, em
verdadeira justiça e santidade» (Ef.
4,24). A direção espiritual é sobretudo um auxílio para o discernimento no caminho da santidade ou perfeição.
O
fundamento desta prática do “acompanhamento” ou “direção espiritual” está na
realidade de ser Igreja de comunhão, Corpo Místico de Cristo, família de irmãos
que se ajudam segundo os carismas recebidos. A Igreja é um complexo de
“mediações” que correspondem aos diversos ministérios, vocações e carismas.
Todos precisam uns dos outros, também e especialmente no campo do
aconselhamento espiritual. Trata-se de procurar e aceitar um conselho que vem
do Espírito Santo por meio dos irmãos.
No
batismo e na confirmação todos recebemos os dons do Espírito, dentre os quais é
relevante o “dom do conselho”. A experiência eclesial demonstra que algumas
pessoas possuem o dom do conselho num grau mais elevado e que, portanto, são
chamadas a servir os outros apresentando o carisma recebido. Às vezes, a
direção ou conselho espiritual é exercido em função de uma tarefa confiada pela
autoridade eclesial ou pela comunidade eclesial na qual se vive.
78. O objetivo da direção espiritual
consiste principalmente em ajudar a discernir os sinais da vontade de Deus.
Normalmente, fala-se de discernir a luz e as moções do Espírito Santo. Existem
momentos nos quais tais consultas são mais necessárias. É necessário levar em
conta o “carisma” peculiar da vocação pessoal ou da comunidade na qual vive
quem pede ou dá o conselho.
79. Quando se procura discernir os sinais da
vontade de Deus, com o auxílio do conselho fraterno, inclui-se eventualmente a
consulta referente a temas de moral e prática das virtudes, e também a
confidência acerca das situações que se queiram esclarecer. Mas, se faltasse o
verdadeiro desejo de santidade, perder-se-ia o objetivo principal da direção
espiritual. Este objetivo é inerente ao processo de fé, esperança e caridade
(como configuração com os critérios, valores e atitudes de Cristo), que deve
ser orientado de acordo com os sinais da vontade de Deus, em harmonia com os
carismas recebidos. O fiel que recebe o conselho deve assumir a própria
responsabilidade e iniciativa.
80. A consulta moral, a exposição confidencial dos
próprios problemas, a vivência prática dos meios de santificação, devem compor
o contexto da busca pela vontade de Deus. Sem o desejo sincero de santidade, que
equivale a colocar em prática as bem-aventuranças e o novo mandamento do amor,
não existiria o objetivo específico da direção espiritual na vida cristã.
81. Durante o processo da direção espiritual é
necessário entrar no conhecimento próprio à luz do Evangelho e, então, apoiar-se
na confiança em Deus. É precisamente um
itinerário de relacionamento pessoal com Cristo, no qual se aprende e se pratica
com Ele a humildade, a confiança e a entrega de si mesmo, conforme o novo
mandamento do amor
Ajuda-se
a formar a consciência instruindo a mente, iluminando a memória, fortalecendo a
vontade, orientando a afetividade e, com coragem, encaminhando-se generosamente
rumo à santidade.
82.
O processo da direção espiritual percorre algumas etapas que não são rigidamente estabelecidas, mas que se
desenvolvem como que em círculos concêntricos: orientar o conhecimento próprio
com a confiança no Deus Amor, na decisão de entregar-se de si mesmo e na
harmonia entre a purificação, a iluminação e a união. É a dinâmica de uma vida
em sintonia com a participação na vida trinitária (cfr. Jo. 14,23; Ef. 2,18),
através da configuração a Cristo (critérios, valores e atitudes, que manifestem
a fé, a esperança e a caridade...) e sob a ação do Espírito Santo, recebido com
fidelidade e generosidade.
Tudo
isto se desenvolve numa série de áreas (relacionamento com Deus, trabalho,
relações sociais, na unidade de vida), nas quais se procura a vontade de Deus
através do conselho e do acompanhamento: caminho de oração-contemplação,
discernimento e fidelidade à vocação, fidelidade e doação no itinerário de
santidade, viver harmoniosamente a “comunhão” fraterna eclesial,
disponibilidade para o apostolado. O acompanhamento e o conselho conduzem
também aos meios concretos. Em todo este processo, é necessário ter presente
que o verdadeiro diretor é o Espírito Santo, enquanto que o fiel conserva toda
a própria responsabilidade e iniciativa.
83.
No caminho da oração (pessoal,
comunitária e litúrgica) será necessário ensinar a orar, cuidando
particularmente da postura filial do “Pai nosso”, que é de humildade, confiança
e amor. Os escritos dos santos e dos autores espirituais podem servir de ajuda
para as orientações neste caminho para “abrir o coração e alegrar-se pela sua
presença” (Santo Cura d’Ars), em um cruzamento de olhares, “eu o olho e ele me
olha” (o camponês de Ars, seguindo os ensinamentos do Santo Cura). Assim, se
aceita o dom da presença de Jesus e aprende-se a fazer desta própria presença
um “estar com quem sabemos que nos ama” (Santa Teresa de Jesus). É o silêncio
da adoração, da admiração e da entrega, como “um olhar simples do coração”
(Santa Teresinha de Lisieux), e o falar como Jesus no Getsêmani.
84.
A partir da chamada de Jesus («Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito.» Mt. 5, 48), o
sacerdote convida todos os fiéis a retomarem «o caminho da
plenitude da vida própria dos filhos de Deus»[85],
para atingir o «conhecimento existencial de Cristo»[86].
As exigências da vida cristã (leiga, religiosa ou sacerdotal) não seriam
compreensíveis sem esta vida “espiritual”, ou seja, a “vida” no Espírito Santo,
que leva a «anunciar a boa nova aos pobres» (Lc. 4, 18).
85.
No caminho da própria vocação
eclesial, é preciso estar atento mormente às motivações e reta intenção,
liberdade na decisão, formação, idoneidade ou qualidades.
Os
especialistas em teologia espiritual descrevem o diretor espiritual como aquele
que instrui em casos e aplicações concretas, que dá as motivações para a
entrega generosa e ajuda, propondo meios de santificação adaptados, a cada
pessoa e situação, segundo as diversas vocações. As dificuldades são
enfrentadas na perspectiva do autêntico seguimento de Cristo.
86.
A direção pode ser habitual ou um acompanhamento transitório ad casum. Além disso, esta pode ser mais
intensa inicialmente. É freqüente que alguns fiéis, no caminho da vocação,
sintam-se convidados a pedir a direção espiritual, graças à pregação, a
leitura, aos retiros e encontros de oração, ou mesmo à confissão. Uma leitura
atenta dos documentos do Magistério pode suscitar a exigência de procurar um diretor com a intenção de viver
mais coerentemente a vida cristã. Esta entrega à vida espiritual conduz a um
maior desempenho na vida social: «a disponibilidade para Deus abre à
disponibilidade para os irmãos e para uma vida entendida como tarefa solidária
e jubilosa»[87].
87.
A partir desta linha fundamental de direção espiritual e levando em
consideração a realidade hodierna, no entrelaçamento entre a graça e as
situações sociológicas e culturais, podemos deduzir algumas orientações práticas,
que sempre são abertas a novas graças e a novas circunstâncias.
A
aplicação do aconselhamento espiritual (direção, acompanhamento) deve levar em
conta a vocação eclesial específica, o carisma peculiar ou a graça especial.
Sendo “uma” pessoa, é necessário conhecer suas circunstâncias concretas de
vida: família, trabalho, etc. Em se tratando de uma vocação ou de um carisma
específico, é oportuno prestar atenção aos diversos momentos do caminho[88].
Eventualmente,
precisa-se prestar uma especial atenção aos casos e situações particulares,
como a mudança de estado eclesial, o desejo de maior perfeição, a tendência ao
escrúpulo, os fenômenos extraordinários.
88.
É oportuno começar o caminho da direção espiritual com uma releitura da vida. É
de grande ajuda ter alguns propósitos ou um plano de vida que enfatize o
relacionamento com Deus (oração litúrgica e pessoal), a relação fraterna, a
família, o trabalho, as amizades, as virtudes concretas, os deveres pessoais, o
apostolado e os instrumentos de espiritualidade. Em tal projeto de vida podem
aparecer as aspirações e dificuldades e o desejo de doar-se mais a Deus. É
muito útil concretizar os meios a serem empregados no caminho da oração, da
santidade (virtudes), dos deveres do próprio estado, da mortificação ou das «pequenas
canseiras da vida quotidiana»[89],
etc.
89. No momento inicial
tende-se a estimular o surgimento dos atos de piedade e de perseverança nas
virtudes, de oração e de adesão à vontade de Deus, de algumas práticas de
apostolado, de formação do caráter (memória, inteligência, afetividade,
vontade), de purificação, de formação à abertura e a uma postura de
autenticidade sem duplicidades. Podem ser enfrentados, então, casos de aridez,
inconstância, entusiasmo superficial ou passageiro, etc. É o momento justo para
«arrancar... e plantar» (Jer. 1,10),
para conhecer a paixão dominante e orientá-la com retidão.
90.
Um segundo momento é definido como adiantamento,
no qual se impele ao recolhimento e à vida interior, à maior humildade e
mortificação, ao aprofundamento nas virtudes e ao melhoramento da oração.
Chega-se, assim, a um momento de maior perfeição, no qual a oração é mais contemplativa, tentando-se
cortar as preferências, distingue-se aí um aspecto “ativo” e outro “passivo”
(ou então, pode-se secundar fielmente a ação da graça, que é sempre mais
surpreendente), aprendendo a passar a noite do espírito (noite da fé). O
aprofundamento na humildade leva aos gestos de caridade.
91.
Cada uma das virtudes necessita de uma atenção específica. As luzes, as inspirações
ou moções do Espírito Santo são recebidas neste caminho, que é de contínuo
discernimento para uma maior fidelidade e generosidade. Os casos concretos de
graças especiais ou de fraquezas espirituais devem ser enfrentados com o devido
estudo, incluindo a colaboração de outras pessoas mais especializadas, com
grande respeito.
É
útil seguir um plano de vida que seja subdividido simplesmente num conjunto de
princípios, objetivos e meios. Ou então indicar-se as metas, o estágio em que
se encontra, aonde se quer chegar, quais obstáculos podem ser encontrados e
quais instrumentos devem ser utilizados.
92.
Exercem uma incidência direta na vida espiritual “o sacrifício
eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã»[90],
para construir a unidade de vida, necessária aos presbíteros[91]
e aos fiéis leigos[92].
Entre
os meios concretos da vida espiritual, além das fontes principais (eucaristia,
Palavra, oração...), são relevantes pelos seus aspectos práticos, a Lectio divina ou a meditação, segundo os
métodos diversos, a prática assídua do sacramento da reconciliação, a leitura
espiritual, o exame de consciência (particular e geral), os retiros espirituais.
A leitura espiritual dos santos e autores de espiritualidade direciona o
caminho do conhecimento próprio, da confiança filial e da dedicação generosa.
93.
É normal que se apresentem algumas crises de crescimento e de amadurecimento no
caminho cristão, que podem ser verificadas de modo diverso. A “noite escura” da
fé pode apresentar-se em vários momentos, mas especialmente quando a pessoa se
aproxima mais de Deus, até experimentar uma espécie de “silêncio” ou “ausência”
de Deus, que é, na verdade, um falar e uma presença muito profunda do próprio
Deus. O acompanhamento espiritual é então mais necessário do que nunca, desde
que se sigam as indicações que nos deixaram os grandes santos e mestres
espirituais.
Existem
muitos momentos de aridez, de derrota, de desentendimento, de calúnia e também
de perseguições no apostolado, que podem vir, por um erro, de pessoas boas (a
“perseguição dos bons”). O conselho espiritual deve ajudar a viver o mistério
fecundo da cruz como um dom peculiar de Cristo Amigo.
94.
Apresentam-se situações particulares na vida cristã. Tratam-se eventualmente de
luzes e moções do Espírito e de desejos de maior dedicação e apostolado. Mas
existem igualmente momentos de ilusões enganadoras que podem derivar do amor
próprio e da fantasia. Podem dar-se também desencorajaramento, desconfiança,
mediocridade ou negligência, e também tibieza, ânsia excessiva de ser admirado,
falsa humildade, etc.
95.
Quando são verificados casos ou fenômenos extraordinários é necessário ater-se
aos autores espirituais e aos místicos da história eclesial. Tenha-se presente
que estes fenômenos podem ser fruto da natureza ou, também no caso de que
proviessem da graça, podem exprimir-se de modo imperfeito por motivos
psicológicos, culturais, de formação, de ambientes sociais. Os critérios que a
Igreja sempre seguiu para constatar sua autenticidade baseiam-se sobre conteúdos
doutrinais da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério, a honestidade da
pessoa (sobretudo a sinceridade, a humildade, a caridade, além da saúde mental)
e os frutos permanentes de santidade.
96.
Existem também doenças e fraquezas psíquicas ligadas à vida espiritual. Às
vezes são de caráter mais espiritual, como a tibieza (aceitação habitual do
pecado venial ou das imperfeições, sem o interesse de corrigi-los) e a
mediocridade (superficialidade, cansaço para o trabalho sem um sustento na vida
interior). Estas fraquezas podem estar ligadas também ao temperamento: ânsia de
perfeccionismo, falso temor de Deus, escrúpulos sem fundamento, rigorismo,
laxismo, etc.
97.
As fraquezas ou doenças de tipo neurológico mais ligadas à vida espiritual
(como a “histeria”) necessitam da atenção de especialistas (em espiritualidade
e psicologia). Geralmente manifestam-se com uma excessiva busca de atenção ou
uma profunda insatisfação de si mesmo (“hysterein”)
que tenta atrair o interesse e a compaixão de todos, produzindo freqüentemente
um clima de agitação eufórica no qual pode ser envolvido o próprio diretor
espiritual (crente de proteger uma vítima ou uma pessoa privilegiada). Estas
manifestações não tem nada a ver com a verdadeira contemplação mística cristã,
que, admitindo a própria fragilidade, não procura granjear a atenção dos
outros, mas exprime-se na humildade, na confiança, no esquecimento próprio para
servir os outros seguindo a vontade de Deus.
98.
Com a ajuda do acompanhamento ou conselho espiritual, à luz desta vivência da
fé, é mais fácil discernir a ação do
Espírito Santo na vida de cada indivíduo, que leva sempre à oração, à humildade, ao sacrifício, à vida ordinária
de Nazaré, ao serviço, à esperança, seguindo o modelo que nos é oferecido por
São Lucas na vida de Jesus, sempre guiada pelo Espírito Santo: para o «deserto»
(Lc. 4,1), os «pobres» (Lc. 4,18), a «alegria» pascal no
Espírito (Lc. 10,21).
99.
A ação do espírito maligno é
acompanhada pela soberba, auto-suficiência, tristeza, desencorajamento, inveja,
confusão, ódio, falsidade, desprezo pelos outros e preferências egoístas. Sem o
aconselhamento ou acompanhamento espiritual, é muito difícil definir os campos,
sobretudo quando se acrescem o temperamento, a cultura e as qualidades
naturais. Os campos ou temas aos quais se deve aplicar o discernimento são
aqueles que se referem ao caminho da vocação (nas circunstâncias da vida de
cada dia), da contemplação, da perfeição, da vida fraterna e da missão. Mas
existem outras situações pessoais e comunitárias que demandam um discernimento
particular, como a mudança de estado de vida, as novas luzes ou moções, as
mudanças estruturais, algumas fragilidades, os fenômenos extraordinários, etc.
100.
Assim como o Espírito «sopra onde quer» (Jo.
3,8), não se podem dar normas ou regras rígidas para o discernimento; mas os
santos e os autores espirituais se reportam a certos constantes sinais da ação
do Espírito de amor, que age para além da lógica humana.
Uma
situação espiritual não poderia ser bem discernida sem a paz no coração, que se
manifesta como dom do Espírito Santo, quando não se busca o próprio interesse
ou prevalecer sobre os outros, mas o melhor modo de servir a Deus e aos irmãos.
Então o conselho espiritual (no contexto do discernimento) opera com a garantia
da liberdade interior, não condicionada por preferências pessoas nem pelas
modas do momento.
Para
realizar um bom discernimento são necessários: oração, humildade, desapego das
preferências, escuta, estudo da vida e da doutrina dos santos, conhecimento dos
critérios da Igreja, exame atento das próprias inclinações interiores,
disponibilidade de mudar, liberdade do coração. Deste modo, educa-se para uma
consciência sã, ou seja, para «a caridade, nascida de um coração puro, de uma
boa consciência e de uma fé sincera» (1Tim.
1, 5).
101.
Em geral, pede-se aos diretores que tenham um grande espírito de acolhida e de
escuta, com senso de responsabilidade e disponibilidade, com tom de
paternidade, de fraternidade e de respeitosa amizade, sempre como serviço
humilde de quem oferece um conselho, evitando o autoritarismo, o personalismo e
o paternalismo, além do que a dependência afetiva, a pressa e a perda de tempo
em questões secundárias, com a devida discrição e prudência, sabendo pedir
conselho oportunamente aos outros, com as devidas reservas, etc. Estas
realidades são integradas pelo dom do conselho. Não deve faltar uma nota de bom
humor que, se autêntico, é sempre respeitoso e contribui para redimensionar
muitos problemas artificiosos e a viver mais serenamente.
102.
Para exercitar o dom do conselho requer-se o conhecimento ou ciência (teórica e
prática) da vida espiritual, a experiência desta, o sentido de responsabilidade
e a prudência. A harmonia entre estas qualidades fundamentais exprime-se como
proximidade, escuta, otimismo, esperança, testemunho, coerência, no suscitar desejos
de santidade, firmeza, clareza, verdade, compreensão, amplidão ou pluralidade
de perspectivas, adaptação, perseverança no processo ou caminho.
Geralmente,
o diretor ou conselheiro espiritual (escolhido, proposto ou indicado) é apenas
um, com o objetivo de assegurar a continuidade. Na vida de alguns santos
pode-se observar uma grande liberdade em consultar outros e em mudar de diretor
quando se constata que é melhor para a vida espiritual. A eventual mudança de
diretor deve ser sempre possível e livre, quando existem motivações válidas
para um maior crescimento espiritual.
103.
O diretor deve conhecer bem a pessoa que ajuda, para que procurem juntos os
sinais da vontade de Deus no caminho da santidade e nos momentos especiais da
graça. A diagnose versar a respeito do modo de ser, das qualidades e dos
defeitos, do desenvolvimento da vida espiritual pessoal, etc. A formação dada
corresponde ao momento da graça. O diretor não faz o caminho, mas o segue,
assistindo a pessoa em sua realidade concreta. Quem guia as almas é o Espírito
Santo e o diretor deve secundar a sua ação.
Deve
manter constantemente um respeito profundo pela consciência dos fiéis, criando
um relacionamento adequado para que haja uma abertura espontânea da
consciência, e sempre agindo com respeito e delicadeza. O exercício do poder de
jurisdição da Igreja deve sempre respeitar a reserva e o silêncio do diretor
espiritual.
104.
A autoridade do diretor não é fundamentada no poder de jurisdição, mas é aquela
própria do aconselhamento e da orientação. No entanto, exige uma fidelidade de
base que se traduz numa docilidade filial sem paternalismos. A atitude de
humildade e confiança do diretor o levará a rezar e a não se desencorajar
quando não consiga ver os frutos.
105.
Nas instituições de formação sacerdotal e de vida consagrada, assim como em algumas
iniciativas apostólicas, freqüentemente – justamente para garantir a formação
adequada – indicam-se alguns conselheiros (diretores, mestres) deixando ampla
margem para a escolha do diretor pessoal, em particular quando se trata de um
problema de consciência e de confissão.
106.
Da parte de quem é objeto de direção espiritual deve existir abertura,
sinceridade, autenticidade e coerência, colocada em prática através dos meios
de santificação (liturgia, sacramentos, oração, sacrifício, exame...). A
periodicidade das conversas depende dos momentos e das situações, porque não
existe uma regra fixa. Os momentos iniciais da formação requerem uma
periodicidade mais freqüente e assídua. É melhor que a conversa seja feita
espontaneamente, sem esperar para ser chamado.
107.
A liberdade na escolha do diretor não reduz a atitude de respeito. Se aceita a
ajuda com espírito de fé. A conversa deve ser feita com sobriedade, oralmente
ou lendo qualquer coisa anteriormente escrita, prestando contas da própria consciência
e da situação na qual se encontra em relação ao plano de vida pensado em vista
da direção. O normal é que se peça conselho sobre as virtudes, os defeitos, a
vocação, a oração, a vida de família, a vida fraterna, os próprios deveres
(especialmente o trabalho) e o apostolado. A abordagem de fundo é aquela de
quem pergunta como ser agradável a Deus e como ser fiel à sua vontade.
108.
A autenticidade da vida espiritual é evidenciada na harmonia entre os conselhos
solicitados ou recebidos e a vida prática coerente. O exame pessoal é muito útil
para o conhecimento próprio, além da participação aos retiros espirituais coligados
à direção espiritual.
109.
O cristão deve sempre agir com total liberdade e responsabilidade. A função do
diretor espiritual é ajudar a pessoa a escolher, e também a decidir livre e
responsavelmente, diante de Deus, aquilo que deve fazer, com maturidade cristã.
A pessoa dirigida deve assumir livre e responsavelmente o conselho espiritual,
e se vier a errar não deve descarregar a responsabilidade sobre o diretor
espiritual.
110. O ministério do sacerdote é ligado à
direção espiritual. Contudo, ele também tem necessidade de aprender a receber
esta direção para saber oferecê-la melhor aos outros quando lha peçam.
Quando o sacerdote recebe a direção espiritual,
é necessário levar em conta o fato de que a sua espiritualidade específica
possui como fulcro a «unidade de vida»[93]
no exercício do ministério. Esta «unidade de vida», segundo o Concílio, é
vivida com simplicidade pelos presbíteros em sua realidade concreta, «seguindo,
na prática do ministério, o exemplo de Cristo Nosso Senhor, cujo alimento era
fazer a vontade d'Aquele que O enviou para realizar a sua obra»[94].
São dons e carismas vividos em estreita relação de dependência do próprio bispo
e em comunhão com o presbitério da Igreja particular.
Tanto na
experiência pessoal quanto no exercício ministerial da direção espiritual,
todos os campos da vida espiritual (contemplação, perfeição, etc.) são enfocados
em uma dimensão trinitária, cristológica, pneumatológica, eclesiológica,
antropológica e sociológica.
111. O plano pessoal para vida espiritual
do sacerdote, além de incluir a celebração quotidiana do Sacrifício Eucarístico
e da recitação diária do Ofício Divino, poderia ser composto da seguinte forma:
diariamente, dedicar-se por um tempo à meditação da Palavra e, por alguns
minutos, à leitura espiritual; reservar um momento, todos os dias, para a
visita ao Santíssimo Sacramento ou para a adoração eucarística; periodicamente,
encontrar-se com outros sacerdotes para um auxílio recíproco (reunindo-se para
rezar, para fazer um pouco de partilha, para colaborar, para preparar homilias,
etc.) e para colocar em prática e apoiar as orientações do Bispo em relação ao
Presbitério (projeto de vida ou diretório, formação permanente, pastoral
sacerdotal...); recitar diariamente uma oração mariana, como o Santo Rosário,
para manter a fidelidade a estes compromissos; e, todos os dias, fazer o exame
de consciência, geral e particular [95].
112. Neste
ministério ou serviço de direção espiritual, o sacerdote, como no ministério da
reconciliação sacramental, representa Cristo Bom Pastor, guia, mestre, irmão,
pai, médico. É um serviço intimamente ligado ao ministério da pregação, da
direção da comunidade e do testemunho de vida.
113.
A ação ministerial é estreitamente ligada ao acompanhamento espiritual. «Por isso,
cabe aos sacerdotes, como educadores da fé, cuidar por si ou por outros que
cada fiel seja levado, no Espírito Santo, a cultivar a própria vocação segundo
o Evangelho, a uma caridade sincera e operosa, e à liberdade com que Cristo nos
libertou. De pouco servirão as cerimônias, embora belas, bem como as
associações, embora florescentes, se não se ordenam a educar os homens a
conseguir a maturidade cristã. Os presbíteros ajudá-los-ão a promoverem esta
maturidade, para que até nos acontecimentos, grandes ou pequenos, consigam ver
o que as coisas significam e qual é a vontade de Deus. Sejam ensinados também
os cristãos a não viverem só para si, mas, segundo as exigências da nova lei da
caridade, cada um, assim como recebeu a graça, a administre mutuamente, e assim
todos cumpram cristãmente os seus deveres na comunidade humana»[96].
114.
Quem aprecia verdadeiramente a direção espiritual não apenas a recomenda no
próprio ministério, mas a pratica pessoalmente.
Quando
não se perde de vista o objetivo principal da direção (discernimento da vontade
de Deus em todos os aspectos do caminho de santidade e apostolado), pode-se
encontrar o modo justo de faze-la e recebe-la habitualmente.
115.
O convite a praticar a direção espiritual deveria ser um capítulo importante e
permanente de qualquer plano de pastoral, que deve ser sempre e ao mesmo tempo
pastoral da santificação e da missão. Os fiéis podem ser formados neste caminho
com a pregação, a catequese, a confissão, a vida litúrgico-sacramental,
especialmente na Eucaristia, os círculos bíblicos e grupos de oração, o
testemunho do próprio ministro, que também pede conselho no devido tempo e nas
circunstâncias oportunas. É lógico passar de alguns destes serviços ou
ministérios ao encontro pessoal, ao convite para uma leitura espiritual, para
os Retiros espirituais, estes também personalizados.
116.
Freqüentemente a direção espiritual como ministério está ligada à confissão,
onde o sacerdote age em nome de Cristo e mostra uma atitude de pai, amigo,
médico e guia espiritual. É o servidor do perdão e orienta o caminho da
contemplação e da perfeição, com respeito e fidelidade ao magistério e à
tradição espiritual da Igreja.
117.
As pessoas consagradas, segundo sua diversa modalidade, seguem uma vida de
radicalismo evangélico e “apostólico”, chegando a «uma especial consagração»[97],
«mediante a profissão dos conselhos evangélicos»[98].
Na vida consagrada será preciso levar em consideração o carisma específico
(“carisma fundacional”) e a consagração especial (para a profissão), bem como
as diversas modalidades de vida contemplativa, evangélica, comunitária e missionária,
com as correspondentes Constituições, Regras, etc.
118.
O percurso rumo à vida consagrada segue etapas que prevêem uma preparação
imediata e também para um longo termo, aprofundando a autenticidade da vocação
com o suporte de convicções ou motivações evangélicas (que dissipam as dúvidas
sobre a identidade), de decisões livres, sempre para alcançar a verdadeira
idoneidade (conjunto de qualidades).
119.
Existem problemas concretos que poderiam ser afrontados como de “crescimento”
ou de “maturidade” se a pessoa consagrada dedicasse uma atenção mais assídua à
direção espiritual: problemas que podem ser de solidão física ou moral, de
insucessos (aparentes ou reais), de imaturidade afetiva, de amizade sincera, de
liberdade interior na fidelidade à obediência, de aceitação serena do celibato
como sinal de Cristo Esposo para a Igreja esposa, etc.
120.
A direção espiritual das pessoas
consagradas apresenta aspectos peculiares, além dos já indicados
anteriormente. O seguimento evangélico, a vida fraterna e a missão recebem
impulso de um carisma particular, dentro de uma história da graça, com a
profissão e o compromisso especial a ser a «visibilidade no meio do mundo» de
Cristo casto, pobre e obediente[99]
e a «memória viva da forma de existir e atuar de Jesus»[100].
A direção da pessoa que segue uma forma de vida
consagrada pressupõe um caminho peculiar de contemplação, perfeição, comunhão
(vida fraterna) e missão, que faz parte da sacramentalidade da Igreja mistério,
comunhão e missão. É necessário ajudar a que se receba e se viva o dom assim
como é, pois se trata de «seguir a Cristo mais de perto [...] procurando
alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino»[101],
tendendo a um amor de totalidade, pessoal e esponsal, que torna possível «estar
mais profundamente presente a seus contemporâneos, no coração de Cristo»[102].
121.
Os sacerdotes que são convidados a prestar este serviço de acompanhamento
espiritual saibam «que todos os religiosos, homens e mulheres, como
porção eleita na casa do Senhor, são dignos de cuidado especial, para seu
proveito espiritual em benefício de toda a Igreja»[103].
122.
A chamada universal à santidade, em qualquer concretização da vocação cristã,
não sofre nenhuma redução, porque é sempre chamada à mesma perfeição: «Amai[...]
sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito» (Mt. 5,44.48). A direção espiritual oferecida aos cristãos chamados
ao laicato pressupõe a vocação cristã à perfeição, com a particularidade de ser
fermento evangélico no mundo e de agir a partir da própria responsabilidade
pessoal e em comunhão com a Igreja[104].
O diretor espiritual deve ajudar na relação pessoal com Deus (concretizar o
modo de participação na eucaristia e a oração, o exame de consciência e a unidade
de vida), formar a consciência, ajudar na santificação da família, do trabalho
e das relações sociais. «Trabalhar assim é oração. Estudar assim é oração.
Investigar assim é oração. Não saímos nunca do mesmo: tudo é oração, tudo pode
e deve levar-nos a Deus, alimentar este convívio contínuo com ele, da manhã até
a noite. Todo trabalho honrado pode ser oração, e todo trabalho que for oração,
é apostolado. Deste modo, a alma se enrijece numa unidade de vida simples e
forte»[105].
Como
recordava o Papa Bento XVI, todos os batizados são responsáveis pelo anúncio do
Evangelho: «Os fiéis leigos são chamados a exercer
a sua missão profética, que deriva diretamente do batismo, e testemunhar o
Evangelho na vida diária onde quer que se encontrem»[106].
A
direção ou aconselhamento espiritual dado aos leigos não quer indicar nenhuma
carência ou imaturidade de sua parte, mas é sobretudo um auxílio fraterno (por
parte do conselheiro) para que possam agir espiritual e apostolicamente, atuando
– como autênticos discípulos de Cristo – nas realidades humanas do trabalho, da
família, da sociedade política e econômica, etc., para santificá-las a partir
de dentro e levando sempre a própria responsabilidade e iniciativa.
123.
A direção espiritual dos leigos tende, então, ao caminho da santidade e do
apostolado sem reducionismos, visto que estes não são apenas participantes do
ofício sacerdotal, profético e real de Cristo, como qualquer batizado[107],
mas vivem esta realidade com uma graça especial de sua presença no mundo, que
lhes dá «funções próprias e indispensáveis na missão da Igreja»[108].
Eles
«são chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício,
guiados pelo espírito evangélico»[109],
ajudem a «dilatar o reino de Deus e a informar e atuar com o espírito cristão a
ordem temporal»[110],
ou seja, para «iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais[...], que
elas sejam sempre feitas segundo Cristo»[111].
O acompanhamento espiritual levará, então, a que se tornem participantes da
«própria missão salvadora da Igreja»[112],
fazendo-a «presente e ativa no meio das coisas temporais»[113].
124.
A ajuda do conselho espiritual é necessária tanto para a vida interior quanto nas
diversas circunstâncias quotidianas: sociais, familiares e profissionais,
sobretudo nos momentos da vida familiar e sócio-política nos quais é necessário
apresentar-se e testemunhar os critérios fundamentais da vida cristã. Também na
vida mais atarefada de qualquer apóstolo, se existe o desejo de santidade, é
possível achar um espaço para o aconselhamento espiritual.
125.
O cristão é orientado em um caminho de configuração com Cristo.
Pode-se
falar de diversos níveis ou dimensões da formação: humana, espiritual,
intelectual, profissional, pastoral. São aspectos que se integram e se
harmonizam reciprocamente, na comunhão eclesial e em vista da missão. Trata-se
sempre da pessoa como membro de uma comunidade humana e eclesial.
126.
É preciso considerar de maneira justa a dimensão
ou nível humano, pessoal e comunitário, visto que a pessoa humana precisa
ser avaliada corretamente, ser amada e ser capaz de amar na verdade da entrega.
Isto pressupõe um caminho de liberdade que se constrói à luz da comunhão com o
Deus Amor, onde cada pessoa é uma relação de dom. A pessoa se constrói então em
seus critérios objetivos, na escala autêntica de valores, nas motivações
ordenadas ao amor, nas atitudes de relação e de serviço.
O
aconselhamento espiritual inspira-se no mistério de Cristo, à luz do qual se
decifra o mistério do homem[114].
A pessoa é educada a dar e a dar-se. Por isto, aprende a escutar, a estar
juntamente com os demais, a compreender, a acompanhar, a dialogar, a cooperar e
a começar amizades sinceras.
Estas
virtudes humanas do cristão são cultivadas à luz da fé, da esperança e da
caridade, para pensar, estimar e amar como Cristo. Os textos do Concílio e do
Magistério pós-conciliar convidam a esta formação “humana” que se concretiza na
sensibilidade para a justiça e a paz, a harmonia na diferença, capacidade de
iniciativa, admiração e abertura a novos valores, constância, fortaleza,
disponibilidade para novos empreendimentos, fraternidade, sinceridade,
acolhida, escuta, colaboração, zelo pelos relacionamentos humanos e pelas boas
amizades[115].
127.
O caminho da vida espiritual, justamente porque é um caminho de busca e de
vivência experiencial da verdade, do bem e da beleza, realiza-se na harmonia
entre inteligência, vontade, memória e significados. Então, a formação
exprime-se numa «certa estabilidade de ânimo, pela capacidade de
tomar decisões ponderadas, e por um juízo reto sobre os homens e os
acontecimentos»[116].
É um caminho que harmoniza o comprimento do dever, o amor contemplativo,
o estudo e a ação externa, como um processo necessário para a “unidade de vida”
do apóstolo.
O
aconselhamento espiritual ajuda a conhecer e a superar a própria fragilidade,
no campo das decisões, das lembranças, dos
sentimentos e dos condicionamentos sociológicos, culturais e psicológicos.
128.
A direção espiritual oferece um auxílio para programar melhor o tempo da
oração, da vida familiar e comunitária, da dedicação aos filhos, ao trabalho e
ao repouso, valorizando o silêncio interior e também exterior, e descobrindo o
significado positivo das dificuldades e sofrimentos.
O
acompanhamento a este nível humano e cristão pode responder a três perguntas:
quem sou? (identidade), com quem estou? (relações), qual meu objetivo?
(missão). Sob a ação da graça divina, critérios, desejos, motivações, valores e
atitudes são informados pela
fé, esperança e caridade, com as conseqüentes virtudes morais, ou seja, pela
vida em Cristo. O ser humano-cristão educa-se para realizar-se
amando na verdade de sua doação a Deus e aos irmãos.
Em
todo este processo, é necessário considerar a relação entre a graça e a
natureza (assim como na relação entre fé e razão), distinguindo e harmonizando,
porque «a graça não destrói a natureza, antes, a aperfeiçoa»[117].
Este é um tema de extrema importância no momento de concretizar algumas
orientações e alguns meios que dizem respeito à psicologia e à diferença
cultural, como também à diversidade dos carismas que se inserem nas diferentes
circunstâncias humanas e, sobretudo, aos conteúdos da fé.
129.
É necessário encontrar uma unidade entre natureza e graça, no qual esta última
prevaleça, como participação na vida divina ou vida nova. «Um dos
aspectos do espírito “tecnicista” moderno é palpável na propensão a considerar
os problemas e as moções ligados à vida interior somente do ponto de vista
psicológico, chegando-se mesmo ao reducionismo neurológico. Assim esvazia-se a
interioridade do homem e, progressivamente, vai-se perdendo a noção da
consistência ontológica da alma humana, com as profundidades que os Santos
souberam pôr a descoberto. O problema do desenvolvimento está estritamente
ligado também com a nossa concepção da alma do homem, uma vez que o nosso
eu acaba muitas vezes reduzido ao psíquico, e a saúde da alma é confundida com
o bem-estar emotivo. Na base, estas reduções têm uma profunda incompreensão da
vida espiritual e levam-nos a ignorar que o desenvolvimento do homem e dos
povos depende verdadeiramente também da solução dos problemas de caráter
espiritual»[118].
130. Tendo em vista a tipologia
‘clássica’ seguida pelos Padres da Igreja, como aquela de Hipócrates, o
conhecimento dos temperamentos e dos caráteres pode ser útil para orientar e
moderar: a magnificência, para que não decaia no orgulho e na auto-suficiência
(temperamento colérico); a afabilidade, para que não se desvirtue na vaidade e
na superficialidade (temperamento sangüíneo); a tendência à vida interior e à
solidão, evitando o risco de se cair na passividade e no desencorajamento
(temperamento melancólico); e a perseverança e equanimidade, para que não se
transformem em negligência (temperamento fleumático).
É neste nível ou dimensão
humana que se apresenta o tema da “ajuda psicológica”: «esse
acompanhamento pode, em determinados casos e em condições bem precisas, ser
ajudado, mas não substituído, por formas de análise ou de ajuda psicológica»[119]. Para isto, podem-se consultar os documentos
da Igreja que apresentam quais são as conveniências e as condições para que
estes instrumentos humanos sejam utilizados de maneira justa [120].
131.
Como é lógico, a direção espiritual privilegia o nível ou dimensão espiritual, porque o aconselhamento destina-se
principalmente a melhorar a fidelidade à própria vocação, o relacionamento com
Deus (a oração e a contemplação), a santidade ou perfeição, a fraternidade ou a
comunhão eclesial, e a disponibilidade para o apostolado.
Por
isto, o programa de vida espiritual deve ser pensado com base a um projeto
(linhas de vida espiritual), com alguns objetivos proporcionados a nível de
maturidade espiritual, a serem alcançados pela pessoa acompanhada, com os
respectivos meios correspondentes.
132.
A dimensão humano-cristã e espiritual deve alimentar-se com o estudo e a
leitura. Poder-se-ia falar de uma dimensão
intelectual ou doutrinal da
direção espiritual. A formação intelectual (necessária para a vida espiritual)
deve continuar e ser ampliada na vida, inspirando-se nos santos, nos autores
espirituais e nos escritos clássicos de espiritualidade.
A
direção espiritual, nesta dimensão intelectual ou doutrinal, orientada para o
mistério de Cristo, anunciado, celebrado e vivido: para «o
mistério de Cristo, que atinge toda a história do gênero humano, continuamente
penetra a vida da Igreja e se atua principalmente pelo ministério sacerdotal»[121].
A orientação cristológica da vida espiritual constitui a base mais idônea para
um bom resultado na pregação (numa linha mais kerigmática) e na condução para o caminho da contemplação, da
caridade e do apostolado.
A
direção espiritual, com esta dinâmica doutrinal, favorece o gosto pelo estudo
individual e coletivo, além de incentivar a leitura assídua (individual e
coletiva) dos grandes clássicos da espiritualidade de todos os tempos, do
Oriente e do Ocidente.
133.
No aconselhamento e acompanhamento espiritual está contido necessariamente o
campo da dedicação apostólica. Examinem-se então as motivações, as
preferências, a realidade concreta, o modo pelo qual o dirigido se demonstra
mais disponível para o apostolado. A fidelidade ao Espírito Santo infunde «serena
audácia, que os leva [os Apóstolos] a transmitir aos outros a sua experiência
de Jesus e a esperança que os anima»[122].
Somente com esta liberdade espiritual o apóstolo saberá enfrentar as
dificuldades pessoais e ambientais de cada época.
A
direção espiritual, nesta dimensão apostólica ou pastoral, abrange o modo de
dar testemunho, de anunciar Cristo, de celebrar a liturgia, de servir-nos
diversos campos da caridade.
Quando falta a direção
espiritual para o caminho de perfeição ou na generosidade evangélica, será
difícil que os planos pastorais incluam a orientação principal da própria
pastoral, que é a de guiar as pessoas e a comunidade para a santidade ou a identificação
com Cristo (cfr. Col. 1, 28; Gal. 4, 19).
134.
O caminho da direção espiritual é de ajuda para fazer com que a formação
teológica e pastoral seja relacional. Em qualquer tema doutrinal e prático,
procura-se viver o encontro pessoal com Cristo (cfr. Mc. 3, 13-14; Jo. 1, 39)
e o seguimento evangélico (cfr. Mt.
4, 19-22; Mc. 10, 21-31.38), em
comunhão com os irmãos (cfr. Lc. 10,
1; Jo. 17, 21-23), para partilhar e continuar a sua missão (cfr. Jo. 20, 21). O serviço da direção
espiritual contribui para a formação pessoal e para a construção da Igreja de
comunhão[123].
CONCLUSÃO: «Que Cristo seja formado em vós» (Gal. 4, 19)
135.
Os munera sacerdotais quando são
exercitados com o espírito de Cristo, deixam no coração o fruto da «alegria
pascal»[124] e da
«alegria na esperança» (Rm. 12, 12).
João Paulo II o recordava, ao comemorar o segundo centenário do nascimento do
Santo Cura d’Ars: «Podeis estar sempre convencidos disto, amados Irmãos
Sacerdotes: este ministério da misericórdia é um dos mais belos e dos mais
consoladores. Permitir-vos-á esclarecer as consciências, dar-lhes o perdão e
revigorá-las em nome do Senhor, ser para elas médico e conselheiro espiritual;
ele continua a ser a insubstituível expressão e verificação do ministério
sacerdotal»[125]
136.
O ministério de ser “médico e conselheiro espiritual” não se trata apenas de
perdoar os pecados, mas também de orientar a vida cristã a corresponder generosamente
ao projeto do Deus Amor, e a generosidade com a qual o sacerdote responde a
este objetivo, facilita aquela florescência
efetiva das graças que o Espírito Santo dá à sua Igreja em cada época. O
Concílio Vaticano II o afirma, recordando que «este sagrado
Concílio, para atingir os seus fins pastorais de renovação interna da Igreja,
difusão do Evangelho em todo o mundo e diálogo com os homens do nosso tempo,
exorta veementemente todos os sacerdotes a que, empregando todos os meios
recomendados pela Igreja, se esforcem por atingir cada vez maior santidade,
pela qual se tornem instrumentos mais aptos para o serviço de todo o Povo de
Deus»[126].
Os
munera profético, litúrgico e
diaconal, exercitados com este espírito, farão com que os conteúdos das quatro
Constituições do Concílio Vaticano II sejam aplicadas em uma Igreja que, sendo
“sacramento”, ou seja, sinal transparente de Cristo (Lumen Gentium), é a Igreja da Palavra (Dei Verbum), do Mistério
Pascal (Sacrosanctum Concilium),
inserida no mundo e solidária com este (Gaudium
et Spes), é mistério de comunhão para
a missão.
Tudo
isto implica, como sempre aconteceu nas atuações dos Concílios, o esforço dos
batizados no caminho da santidade e do apostolado.
137.
A pastoral da santidade, que se anuncia na pregação e se realiza de modo
particular com o sacramento da reconciliação e com a direção espiritual, sempre
em relação com a eucaristia, se realiza sempre com o ministério sacerdotal.
São
necessários ministros que vivam alegremente este serviço, que produzirá
certamente grandes frutos e dissipará dúvidas e hesitações.
138.
Precisa-se infundir “ânimo” ou “espiritualidade” nos valores atuais do
progresso e da técnica, como afirma o Papa Bento XVI: «Além do crescimento material, o desenvolvimento deve incluir o
espiritual, porque a pessoa humana é “um ser uno, composto de alma e corpo”. [...] Não há desenvolvimento pleno nem bem comum universal sem o bem
espiritual e moral das pessoas, consideradas na sua totalidade de alma e
corpo»[127].
A
direção ou acompanhamento espiritual dos batizados é um itinerário
entusiasmante, que estimula o próprio confessor ou diretor espiritual a viver
alegremente o seu caminho de entrega ao Senhor. «Este requer olhos
novos e um coração novo, capaz de superar
a visão materialista dos acontecimentos humanos e entrever no
desenvolvimento um “mais além” que a técnica não pode dar. Por este caminho,
será possível perseguir aquele desenvolvimento humano integral que tem o seu
critério orientador na força propulsora da caridade na verdade»[128].
Então,
os sacerdotes experimentarão que «no exercício da sua missão nunca estão sós»[129],
sabendo que quem os envia, acompanha e espera é Cristo ressuscitado, que
caminha com eles na «execução do plano salvador de Deus [...] que se vai
realizando gradualmente [...] para a edificação do corpo de Cristo, até que se
complete a medida da sua idade»[130].
139. A perene reforma da vida da Igreja precisa do tom inequívoco da
esperança. O crescimento das vocações sacerdotais, da vida consagrada e do
compromisso eclesial dos leigos no caminho da santidade e do apostolado, exige
a renovação do ministério da reconciliação e da direção espiritual, exercitados
com um entusiasmo motivado e com uma generosa entrega de si mesmo. É esta a
“nova primavera” desejada por João Paulo II: «nunca como hoje se ofereceu à
Igreja a possibilidade de, com o testemunho e a palavra, fazer chegar o
Evangelho a todos os homens e a todos os povos. Vejo alvorecer uma nova época
missionária, que se tornará dia radioso e rico de frutos, se todos os cristãos
e, em particular, os missionários e as jovens Igrejas corresponderem generosa e
santamente aos apelos e desafios do nosso tempo»[131].
140.
As novas situações e as novas graças são um auspício de um novo fervor
apostólico: «Como os Apóstolos depois da ascensão de Cristo, a Igreja deve reunir-se
no Cenáculo “com Maria, a Mãe de Jesus” (At.
1, 14), para implorar o Espírito e obter força e coragem para cumprir o mandato
missionário. Também nós, bem mais do que os Apóstolos, temos necessidade de ser
transformados e guiados pelo Espírito»[132].
O ministério da reconciliação e o serviço da direção espiritual constituirão
uma ajuda determinante neste processo constante de abertura e de fidelidade de
toda a Igreja e, em particular, do sacerdócio ministerial à ação atual do
Espírito Santo.
Vaticano, 09 de março de 2011.
Mauro Card. Piacenza
Prefeito
X Celso Morga Iruzubieta
Arcebispo tit. de Alba marítima
Secretário
VOCABULÁRIO, ÍNDICE DAS MATÉRIAS
Absolvição dos pecados: 36-47.
Acolhida (v. misericórdia): 51-57; 109-113.
Aconselhamento espiritual (v. direção
espiritual): 70-73.
Alegria: 7-8; 21-23.
Amor a Deus (v. caridade, misericórdia,
perdão): 51-57.
Amor fraterno (v. caridade).
Apóstolo: 133-140
Apostolado: 133-140.
Apóstolos: 9-11; 110-120.
Associações (v. comunidades eclesiais): 117-121.
Atualidade da direção espiritual: 64-76.
Atualidade do sacramento da penitência: 7-23; 61-63.
Batismo: 25-27; 32-35.
Bom Pastor: 28-31; 51-60; 111-116.
Caminho de oração: 81-83.
Caminho de perfeição (v. santidade): 28-31;
81-83; 87-97.
Caráter: 125-134.
Caridade: 64-65.
Caridade pastoral: 44-47; 51-56.
Casos especiais de direção espiritual: 87-97.
Catecismo da Igreja Católica (v. documentos da
Igreja): 25-31; 39-43.
Celebração litúrgica do sacramento da penitência:
41-43.
Celebração pessoal e comunitária: 41-43.
Chamada à santidade: 28-31; 48-50; 87-97; 110-116;
122-124.
Código de Direito Canônico: 44-47; 58-59 (penitência);
87-97 (direção espiritual).
Comunhão eclesial (v. Igreja, comunidade,
normas, vida comunitária): 70-73; 125-134.
Comunhão dos Santos: 9-11.
Comunidade eclesial (v. Igreja, vida
comunitária): 14-18; 25-27; 36-42; 51-57; 74-76; 78-80.
Concílio Vaticano II (passim, nas citações dos documentos): Conclusão (síntese das
Constituições).
Confessionário: 41-47.
Confissão em relação à direção espiritual:
41-42; 74-76.
Confissão dos pecados: 25-27.
Configuração a Cristo (v. imitação, santidade,
seguimento evangélico): 48-50.
Conselhos evangélicos: 117-121.
Contemplação (v. oração): 81-83.
Contrição, dor pelos pecados: 36-43.
Conversão: 12-13; 21-27.
Consciência (v. exame de consciência): 14-18
(formação); 81-83.
Coração de Cristo: 22; 32; 61-63.
Cristo Sacerdote e Vítima: 61-63.
Cristo Bom Pastor: 28-31; 51-57; 110-116.
Cruz (v. mistério pascal): 87-97; 117-121.
Cura d’Ars: 1-6; 19-20; 28-35; 51-59; 74-76.
Dificuldades atuais: 61-63.
Deus Amor (v. amor a Deus, misericórdia): 21-23.
Direção espiritual: Itinerário histórico (64-65);
atualidade e importância (64-76); natureza e fundamento teológico (77);
objetivo (78-80); terminologia: direção espiritual, aconselhamento espiritual,
acompanhamento espiritual (77); ação do Espírito Santo, discernimento pessoal e
comunitário do Espírito, oração ao Espírito Santo (66-73; 78-80; 98-100);
buscar a vontade de Deus (78-80; 98-100); itinerário de oração e perfeição
(81-83; 87-97; 125-134); chamada universal à santidade-perfeição da caridade
(81-83); o diretor: qualidades (84-86); o dirigido: qualidades, docilidade,
situações, liberdade de escolha (74-76; 110-116); sacerdote dirigido (74-76;
110-116), ministério do sacerdote (70-73; 110-116), meio de santidade para o
sacerdote (74-76); dirigir espiritualmente segundo as vocações (84-86):
sacerdotes (110-121), vida consagrada (117-121), leigos (122-124); liberdade de
escolha; níveis e dimensões: humana, espiritual, intelectual, apostólica
(125-134); formação para dar e receber a direção espiritual (66-69); nos planos
de pastoral (74-76); testemunho e ensinamento do Santo Cura d’Ars (74-76),
documentos da Igreja (125-134). Ver outros aspectos nas vozes do presente
vocabulário.
Diretor
espiritual, qualidade: 84-86.
Direção espiritual em relação à confissão:
41-43; 70-76.
Direção espiritual por parte do sacerdote:
74-76.
Discípulo, discipulado: 106-109.
Discernimento do Espírito: 66-69; 78-80; 98-100.
Discernimento vocacional: 70-73.
Disponibilidade ministerial: 48-57.
Documentos da Igreja: Ver as notas
bibliográficas, especialmente no final da primeira parte (61-63) e da segunda
(125-134).
Dor pelos pecados (cf. contrição).
Doutrina social, progresso, desenvolvimento:
70-73; 135-140.
Equilíbrio entre a graça e a natureza humana
(v. graça): 64-65;125-134.
Exame de consciência: 36-40; 87-97.
Exame particular: 106-109.
Exercícios Espirituais: 117-121.
Expiação: 36-40.
Eucaristia: 14-18.
Espírito Santo (v. discernimento): 36-40; 78-83;
98-100.
Espírito maligno: 78-80; 98-100.
Espiritualidade: 125-134.
Espiritualidade do laicato: 122-124.
Espiritualidade do sacerdote: 110-121.
Espiritualidade da vida consagrada: 117-121.
Estados de vida: 84-86; 110-124.
Estudo (v. formação intelectual): 66-69.
Etapas da vida espiritual: 81-83; 87-97.
Evangelização (v. apostolado, missão).
Família (v. matrimônio): 32-35. Ver a nota
bibliográfica no final da primeira parte.
Fé: 9-11; 25-40.
Fidelidade a Cristo e à Igreja: 61-63.
Fenômenos extraordinários: 87-97.
Figuras sacerdotais, confessores: 14-15.
Formação para a direção espiritual: 66-69.
Formação dos fiéis: 14-18; 58-59.
Formação inicial: 66-69.
Formação intelectual: 125-134.
Formação dos ministros: 14-18; 58-59.
Formação permanente: 66-69.
Formação espiritual: 66-69; 125-134.
Formação humana: 125-134.
Juventude: 74-76.
Justificação (v. Graça).
Justiça: 74-76.
Graça: 32-35; 61-63; 64-65; 87-97; 125-134.
Glória de Deus (v. santidade, vontade de Deus).
História da direção espiritual: 64-65.
História da salvação (v. liturgia, mistério
pascal, salvação).
Igreja (v. comunhão eclesial, comunidades
eclesiais): 7-11; 14-18.
Itinerário de santidade, de vida espiritual: 28-31;
48-50; 87-97.
Kerigma: 9-11
Leigos: 122-124.
Liberdade de escolha: 44-47; 74-76.
Liturgia: 41-43.
Magistério eclesiástico (v. documentos da
Igreja).
Maria: Introdução; 1-6; 21-23; 60.
Mansidão: 61-63.
Matrimônio: 32-35 (ver a nota bibliográfica no
final da primeira parte).
Ministério e direção espiritual: 70-73; 110-116.
Ministério, ministros da reconciliação (penitência):
24-63.
Misericórdia de Deus e da Igreja: 21-23; 58-60.
Missão (v. apostolado): 125-134.
Missão de Cristo prolongada na Igreja: 9-11.
Mistério pascal (celebração pascal, caminho de
ressurreição): 9-11; 21-23.
Moral (v. virtudes): 61-63; 125-134.
Moral matrimonial (v. família, matrimônio).
Normas disciplinares do sacramento: 44-47.
Noviciados (v. formação inicial).
Oração: 81-83.
Paz (v. reconciliação): 14-18
Pai (v. amor a Deus, Deus Amor, misericórdia,
Pai nosso): 25-27.
Pai nosso: 32-35.
Pastoral: 7-8; 14-18.
Pastoral vocacional: 66-69.
Pastores (v. Bom Pastor, caridade pastoral):
14-18.
Pecado, sentido do pecado: 25-31; 35-40.
Penitente: 36-40.
Penitência: 25-27; 41-43.
Perdão: 25-27.
Perfeição cristã (v. caridade, santidade).
Plano de vida sacerdotal: 117-121.
Presbitério: 110-116.
Primeira comunhão e confissão: 28-31.
Propósitos: 41-43; 51-57; 87-97.
Prudência: 44-47.
Psicologia: 87-97; 125-134.
Qualidade do diretor espiritual: 101-105.
Qualidade do dirigido espiritual: 106-109.
Quaresma (v. penitência): 36-40.
Radicalidade, radicalismo (v. seguimento
evangélico).
Reconciliação: 12-18.
Redenção (v. cruz, mistério pascal, sangue): 9-11;
64-65.
Renovação pastoral: 7-8.
Reserva (segredo): 32-35.
Ressurreição (v. mistério pascal).
Ritual da Penitência: 41-47.
Sacerdote diocesano: 110-121.
Sacerdote e vida consagrada: 117-121.
Sacerdote como penitente e como dirigido
espiritual: 14-18; 74-76; 110-116.
Sacerdócio ministerial: 110-121.
Sacramento da penitência: Instituição (9-11); natureza e
fundamentos teológicos (24); missão de Cristo prolongada na Igreja (7-8);
mistério de graça (14-18); importância atual e necessidade (7-23); celebração
pascal (25-27); frutos de santidade (25-35);
ministro: confessor, atitudes, qualidade, acolhida, chamada à santidade,
deveres, pai, mestre, juiz, médico, pastor (36-40); celebração: liturgia, atos
do penitente e ministério do confessor (41-43); celebração pessoal e
comunitária (41-47); penitente: tipos, situações, qualidade (32-40; 44-47);
confissão dos pecados e contrição, dor pelos pecados (36-40); expiação e
propósitos (24; 36-40); terminologia do sacramento: confissão, penitência,
reconciliação (25-27); o sacerdote como penitente (14-18); dificuldades atuais
(36-40); liberdade de escolha do confessor (44-47); orientações pastorais
(58-59); ministério de misericórdia (21-23; 58-60); fidelidade às normas
disciplinares como expressões da caridade pastoral (44-47); acolhida paterna
(51-57); testemunho e ensinamento do Santo Cura d’Ars (19-20; 51-59; 71-81);
convite urgente à disponibilidade ministerial (48-57); documentos da Igreja
(61-63); formação permanente do confessor e dos penitentes (58-59). Ver outros
aspectos nas vozes do vocabulário presente.
Sacramento da penitência em relação à direção
espiritual: 41-43; 70-76.
Sacrifício: 36-40.
Salvação, diálogo de salvação (v. graça):
110-116.
Sangue de Cristo: 9-11; 110-116.
Santos Confessores: 14.
Santos e a direção espiritual: 64-65.
Santidade: 28-31; 48-50; 87-97.
Seguimento evangélico: 110-124.
Seminário, seminaristas (v. formação inicial):
66-69; 87-97; 125-134.
Serviço (v. disponibilidade ministerial).
Sinais dos tempos: 98-100.
Situação atual: 7-23; 64-76.
Sofrimento: 125-134.
Temperamentos: 125-134.
Tentações (e espírito maligno): 98-100.
Teologia da perfeição (da espiritualidade):
66-69.
Terminologia sobre a direção espiritual: 64-65;
77.
Terminologia sobre o sacramento da penitência:
25-27.
Testemunho dos pastores: 14-18.
Trindade, vida trinitária: 12-13; 51-57.
Unidade da Igreja (v. reconciliação).
Unidade de vida: 110-121; 125-134.
Vaticano II (v. documentos da Igreja, citações
dos documentos).
Vida Apostólica: 117-121.
Vida espiritual (v. espiritualidade): 70-73.
Vida consagrada: 117-121.
Vida sacerdotal (cf. sacerdócio ministerial).
Vida espiritual: 81-83; 87-97.
Virtudes: 110-134.
Virtudes humanas: 125-134.
Vida comunitária (v. comunidade eclesial):
74-76; 78-80; 87-97; 101-105; 117-121; 125-134.
Vocação: 70-73; 84-86.
Vontade de Deus: 78-80; 98-100.
Zelo apostólico (v. apostolado, disponibilidade
ministerial)
Exame de consciência
para os sacerdotes
1. “Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela
verdade” (Jo. 17,19)
Proponho-me seriamente à santidade
em meu ministério? Estou convencido de que a fecundidade do meu ministério
sacerdotal vem de Deus e que, com a graça do Espírito Santo, devo
identificar-me com Cristo e dar a minha vida pela salvação do mundo?
2. “Isto é o meu Corpo” (Mt. 26,26)
O
Santo Sacrifício da Missa é o centro da minha vida interior? Preparo-me bem,
celebro devotamente e, depois, me recolho em ação de graças? A Missa constitui o
ponto de referência habitual em minha jornada para louvar a Deus, agradecê-lo
pelos seus benefícios, recorrer à sua benevolência e reparar pelos meus pecados
e pelos de todos os homens?
3. “O zelo pela tua casa me devora” (Jo.
2,17)
Celebro a Missa segundo os ritos e
as normas estabelecidas, com autêntica motivação, com os livros litúrgicos
aprovados? Estou atento às sagradas espécies conservadas no Sacrário,
renovando-as periodicamente? Conservo os vasos sagrados com atenção? Uso
dignamente todas as vestes sagradas previstas pela Igreja, tendo presente que atuo
in persona Christi Capitis?
4. “Permanecei em meu amor” (Jo.
15,9)
Causa-me alegria permanecer diante
de Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento, em minha meditação e
silenciosa adoração? Sou fiel à visita diária ao Santíssimo Sacramento? O meu
tesouro é o Sacrário?
5. “Explica-nos a parábola” (Mt.
13,36)
Faço diariamente a minha meditação,
com atenção e procurando superar qualquer tipo de distração que me separe de
Deus, buscando a luz do Senhor, a quem sirvo? Medito assiduamente a Sagrada
Escritura? Recito atentamente as minhas orações habituais?
6. É necessário “orar sempre, sem desfalecer” (Lc. 18,1)
Celebro quotidianamente a Liturgia
das Horas integralmente, dignamente, atentamente e devotamente? Sou fiel ao meu
compromisso com Cristo nesta dimensão importante do meu ministério, orando em
nome de toda a Igreja?
7. “Vem e segue-me” (Mt. 19,21)
Nosso
Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro amor da minha vida? Observo com alegria meu
compromisso de amor a Deus na continência celibatária? Detive-me
conscientemente em pensamentos, desejos ou atos impuros; tive conversas
inconvenientes? Coloquei-me em ocasião próxima de pecado contra a castidade?
Procuro guardar a vista? Fui imprudente ao tratar as diversas categorias de
pessoas? A minha vida representa, para os fiéis, um testemunho do fato de que a
pureza é possível, fecunda e alegre?
8. “Quem tu és?” (Jo. 1,20)
Encontro elementos de fraqueza,
preguiça e fragilidade em minha conduta habitual? As minhas conversas estão de
acordo com o sentido humano e sobrenatural que um sacerdote deve ter? Estou
atento para que não se introduzam em minha vida elementos superficiais ou
frívolos? Sou coerente, em todas as minhas ações, com a minha condição de
sacerdote?
9. “O Filho do homem não há onde repousar a cabeça” (Mt. 8,20)
Amo a pobreza cristã? Coloco meu
coração em Deus e sou desapegado, interiormente, de todo o resto? Estou
disposto a renunciar, para melhor servir a Deus, às minhas comodidades atuais,
aos meus projetos pessoais, aos meus afetos legítimos? Possuo coisas
supérfluas, fiz gastos desnecessários ou me deixo levar pela ânsia do
comodismo? Faço o possível para viver os momentos de repouso e de férias na
presença de Deus, recordando que sou sacerdote sempre e em todo lugar, também
nestes momentos?
10. “Escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos
pequenos” (Mt. 11,25)
Existem em minha vida pecados de
soberba: dificuldades interiores, suscetibilidade, irritação, resistência a
perdoar, tendência ao desencorajamento, etc.? Peço a Deus a virtude da
humildade?
11. “Imediatamente, saiu sangue e
água” (Jo. 19, 34)
Tenho
a convicção de que, ao agir “na pessoa de Cristo”, sou diretamente envolvido no
próprio Corpo de Cristo, a Igreja? Posso dizer sinceramente que amo a Igreja e
que sirvo com alegria ao seu crescimento, as suas causas, cada um de seus
membros e toda a humanidade?
12. “Tu és Pedro” (Mt. 16,18)
Nihil sine episcopo – nada sem o bispo – dizia Santo Inácio de Antioquia: estas palavras
são a base do meu ministério sacerdotal? Recebi docilmente as indicações,
conselhos ou correções do meu Ordinário? Rezo especialmente pelo Santo Padre,
em plena união com os seus ensinamentos e intenções?
13. “Amai-vos uns aos outros” (Jo. 13,34)
Tenho
vivido com diligência a caridade ao tratar com os meus irmãos sacerdotes ou, ao
contrário, desinteresso-me deles por egoísmo, apatia ou frieza? Tenho criticado
os meus irmãos no sacerdócio? Tenho estado junto daqueles que sofrem pela
enfermidade física ou pelas dores morais? Vivo a fraternidade afim de que
ninguém esteja só? Trato todos os meus irmãos sacerdotes e também aos fiéis
leigos com a mesma caridade e paciência de Cristo?
14. “Eu sou o caminho, a verdade e a
vida” (Jo. 14,6)
Conheço
profundamente os ensinamentos da Igreja? Os assimilo e transmito fielmente? Sou
consciente de que ensinar o que não corresponde ao Magistério, solene ou
ordinário, é um grave abuso, que causa dano às almas?
15. “Vai e não tornes a pecar” (Jo. 8,11)
O
anúncio da Palavra de Deus leva os fiéis aos sacramentos. Confesso-me com
regularidade e com freqüência, de acordo com o meu estado e com as coisas
santas que trato? Celebro generosamente o sacramento da reconciliação? Sou
amplamente disponível à direção espiritual dos fiéis, dedicando a isto um tempo
específico? Preparo com desvelo a minha pregação e a minha catequese? Prego com
zelo e com amor de Deus?
16. “Chamou os que ele quis. E foram a ele.” (Mc. 3,13)
Estou atento a descobrir os sinais
das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada? Preocupo-me em difundir entre
todos os fiéis uma maior consciência da chamada universal à santidade? Peço aos
fiéis para que rezem pelas vocações e pela santificação do clero?
17. “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt. 20,28)
Tenho procurado doar-me aos outros
na vida de cada dia, servindo evangelicamente? Manifesto a caridade do Senhor
através de minhas obras? Na Cruz , vejo a presença de Jesus Cristo e o triunfo
do amor? Dou ao meu dia-a-dia a marca do espírito de serviço? Considero o
exercício da autoridade ligada ao ofício uma forma imprescindível de serviço?
18. “Tenho sede” (Jo. 19,28)
Tenho efetivamente rezado e me
sacrificado com generosidade pelas almas que Deus me confiou? Cumpro os meus
deveres pastorais? Tenho solicitude pelas almas dos fiéis defuntos?
19. “Eis o teu filho. Eis a tua mãe” (Jo. 19,26-27)
Acudo cheio de esperança à
Santíssima Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes, para amar e fazer com que amem
mais ao seu Filho Jesus? Cultivo a piedade mariana? Reservo um espaço a cada
dia para o Santo Rosário? Recorro à sua materna intercessão na luta contra o
demônio, a concupiscência e o mundanismo?
20. “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito” (Lc. 23,44)
Sou solícito em assistir e
administrar os sacramentos aos moribundos? Considero a doutrina da Igreja sobre
os Novíssimos em minha meditação pessoal, na catequese e na pregação ordinária?
Peço a graça da perseverança final e convido os fiéis a fazerem o mesmo?
Sufrago freqüente e devotamente as almas dos fiéis defuntos?
Oração do Sacerdote antes de ouvir confissões
Senhor, dai-me a sabedoria para que
me assista quando estou no confessionário, afim de que eu saiba julgar o vosso
povo com justiça e os vossos pobres com juízo. Fazei com que eu use as chaves
do Reino dos céus de modo que não abra a quem mereça estar fechado, e não feche
a quem mereça que lhe esteja aberto. Fazei com que a minha intenção seja pura;
o meu zelo, sincero; a minha caridade, paciente; e o meu trabalho, fecundo.
Que eu seja dócil mas não omisso,
que a minha seriedade não seja severa, que eu não despreze o pobre nem adule do
rico. Fazei com que eu seja amável para confortar os pecadores, prudente para
interrogá-los e douto para instruí-los.
Eu vos suplico que me concedais a
graça de ser capaz de afastá-los do mal, diligente para confirmá-los no bem;
que, com a maturidade de minhas respostas e a retidão de meus conselhos, os
ajude a ser melhores; que ilumine tudo que for obscuro, sendo sagaz nos temas
complexos e vitorioso naqueles difíceis; que não me detenha em colóquios inúteis
nem me deixe contaminar pelo que for corruptível; que, salvando os outros, não
me perca. Amém.
ORATIO SACERDOTIS ANTEQUAM CONFESSIONES EXCIPIAT
Da mihi,
Dómine, sédium tuárum assistrícem sapiéntiam, ut sciam iudicáre pópulum tuum in
iustítia, et páuperes tuos in iudício. Fac me ita tractáre claves regni
cælórum, ut nulli apériam, cui claudéndum sit, nulli claudam, cui aperiéndum.
Sit inténtio mea pura, zelus meus sincérus, cáritas mea pátiens, labor meus
fructuósus.
Sit in me
lénitas non remíssa, aspéritas non sevéra; páuperem ne despíciam, díviti ne
adúler. Fac me ad alliciéndos peccatóres suávem, ad interrogándos prudéntem, ad
instruéndos perítum.
Tríbue,
quæso, ad retrahéndos a malo sollértiam, ad confirmandos in bono sedulitátem,
ad promovéndos ad melióra indústriam: in respónsis maturitátem, in consíliis
rectitúdinem, in obscúris lumen, in impléxis sagacitátem, in árduis victóriam:
inutílibus collóquiis ne detínear, pravis ne contáminer; álios salvem, me ipsum
non perdam. Amen.
Oração do sacerdote depois de ter ouvido confissões
Senhor Jesus Cristo, que amais e
santificais as almas com dulçor, venho suplicar-vos: purificai meu coração, com
a efusão do Espírito Santo, de todo
sentimento ou pensamento desordenado; e dignai-vos suprir, com a vossa infinita
piedade e misericórdia, tudo o que, por causa de minha ignorância ou
negligência, for causa de pecado em meu ministério. Confio às vossas
amabilíssimas chagas todas as almas que conduzistes à penitência e que
santificastes com o vosso preciosíssimo Sangue, para que guardeis a todas em
vosso temor, as conserveis em vosso amor, sustentando-as a cada dia e
fazendo-as crescer em virtude, e as conduzais à vida eterna. Vós que viveis e
Reinais com o Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.
Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus
vivo, recebei este meu ministério como um obséquio pelo digníssimo amor pelo
qual absolvestes santa Maria Madalena e todos os pecadores que recorreram a
Vós, dignai-vos suprir e reparar de modo conveniente tudo o que eu tiver feito
de maneira negligente ou pouco digna na celebração deste sacramento. Confio ao
teu dulcíssimo Coração todos e cada um daqueles que confessei e Vos rogo que os
guardeis, preserveis de qualquer reincidência no pecado e conduzais, após as
misérias desta vida, às alegrias eternas. Amém.
ORATIO SACERDOTIS POSTQUAM CONFESSIONES EXCEPERIT
Dómine
Iesu Christe, dulcis amátor et sanctificátor animárum, purífica, óbsecro, per
infusiónem Sancti Spíritus cor meum ab omni affectióne et cogitatióne vitiósa,
et quidquid a me in meo múnere sive per neglegéntiam, sive per ignorántiam
peccátum est, tua infiníta pietáte et misericórdia supplére dignéris. Comméndo
in tuis amabilíssimis vulnéribus omens ánimas, quas ad pæniténtiam traxísti, et
tuo pretiosíssimo Sánguine sanctificásti, ut eas a peccátis ómnibus custódias
et in tuo timóre et amóre consérves, in virtútibus in dies magis promóveas,
atque ad vitam perdúcas ætérnam: Qui cum Patre et Spíritu Sancto vivis et
regnas in sǽcula sæculórum. Amen.
Dómine Iesu
Christe, Fili Dei vivi, súscipe hoc obséquii mei ministérium in amóre illo
superdigníssimo, quo beátam Maríam Magdalénam omnésque ad te confugiéntes
peccatóres absolvísti, et quidquid in sacraménti huius administratione
neglegénter minúsque digne perféci, tu per te supplére et satisfácere dignéris.
Omnes et síngulos, qui mihi modo conféssi sunt, comméndo dulcíssimo Cordi tuo
rogans, ut eósdem custódias et a recidíva præsérves atque post huius vitæ
misériam mecum ad gáudia perdúcas ætérna. Amen.
[1] Bento XVI, Alocução aos participantes do XXI Curso sobre o Foro Interno organizado pela Penitenciaria Apostólica, 11 de março de 2010.
[2] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 9.
[3] Bento XVI, Mensagem ao Em.mo Card. James Francis Stafford, Penitenciário Maior e aos participantes do XX Curso para o foro interno promovido pela Penitenciaria Apostólica, 12 de março de 2009.
[4] Bento XVI, Carta para a proclamação de um ano Sacerdotal por ocasião do 150º. Aniversario do Dies natalis de São João Maria Vianney, 16 de junho de 2009.
[5] Paulo VI, Carta enc. Populorum progressio (26 de março de 1967), 42: AAS 59 (1967), 278.
[6] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 40.
[7] Cfr. João Paulo II, Carta ap. Novo millenio ineunte (6 de janeiro de 2001), 30: AAS 93 (2001), 287.
[8] João Paulo II, Carta ap. Novo millenio ineunte, 37: o.c., 292.
[9] João Paulo II, Motu Proprio Misericordia Dei, sobre alguns aspectos da celebração do sacramento da penitência (7 de abril de 2002): AAS 94 (2002), 453.
[10] João Paulo II, Bula Aperite Portas Redemptori (6 de janeiro de 1983), 6: AAS 75 (1983), 96.
[11] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 34; a Encíclica cita o Catecismo da Igreja Católica, 407.
[12] Bento XVI, Discurso aos Penitenciários das quatro Basílicas Pontifícias Romanas e aos Prelados e Oficiais da Penitenciaria Apostólica (19 de fevereiro de 2007): AAS 99 (2007), 252.
[13] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia (2 de dezembro de 1984), 29: AAS 77 (1985) 255-256.
[14] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 5.
[15] João Paulo II, Exot. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de março de 1992), 15: AAS 84 (1992), 680.
[16] Ibid., 18.
[17] Ibid., 26: o.c. 699; cita a Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia n. 31.
[18] BENTO XVI, Carta aos Seminaristas, 18 de outubro de 2010, 3.
[19] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores Gregis (16 de outubro de 2003), 39: AAS 96 (2004), 876-877.
[20] Beato João XXIII, Carta enc. Sacerdotii nostri primordia, 29: AAS 51 (1959), 573-574.
[21] Cfr. Ibid. 30, o.c., 574-575.
[22] João Paulo II, Carta aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de 1986, 7: AAS 78 (1986), 695.
[23] Conc. Ecum. Vat. II, Cost. past. Gaudium et spes, 10.
[24] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 49: o.c., 745.
[25] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 8.
[26] Ibid., 68.
[27] «O sacramento da penitência, que tem uma grande importância na vida do cristão, torna atual a eficácia redentora do Mistério pascal de Cristo». Bento XVI, Discurso aos penitenciários das quatro basílicas papais romanas, (19 de fevereiro de 2007): o.c., 250.
[28] Catecismo da Igreja Católica, 1423 b.
[29] Ibid., 1424.
[30] Ibid.; cfr. 2Cor. 5, 20; Mt. 5, 24.
[31] Ibid., 1427.
[32] Ibid., 1428.
[33] Cfr. João Paulo II, Discurso aos seminaristas iugoslavos, 26 de abril de 1985.
[34] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, 1458.
[35] Ibid., 1460.
[36] Ibid., 1465.
[37] São Gregório Nazianzeno, Sermão, 45.
[38] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22. O ministério da reconciliação «deve ser protegido na sua sacralidade, além de pelos motivos teológicos, jurídicos e psicológicos sobre os quais me detive nos precedentes discursos análogos, também pelo respeito amoroso devido ao seu caráter de relação íntima entre o fiel e Deus»: João Paulo II, Discurso à Penitenciaria Apostólica (12 de março de 1994), 3: AAS 87 (1995), 76; cfr. Catecismo da Igreja Católica, 1467.
[39] Catecismo da Igreja Católica, 1469; cfr. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia, 31: o.c., 265.
[40] Rituale Romanum - Ordo pænitentiae (2 de dezembro de 1973), Praenotanda 11: editio typica (1974), pp. 15-16.
[41] Ibid.
[42] João Paulo II, Carta ap. Motu Proprio Misericordia Dei : o.c., 452.
[43] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 79.
[44] Catecismo da Igreja Católica, 1436.
[45] Ibid., 1439.
[46] Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 61.
[47] CIC, cân. 964, §2.
[48] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia, 32: o.c. 267-268.
[49] Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 61.
[50] Catecismo da Igreja Católica, 1483; cfr. CIC, cân. 962, 1; CCEO, cân. 721.
[51] CIC, cân. 961; CCEO, cân. 720.
[52] Catecismo da Igreja Católica, 1484.
[53] CIC, cc. 959-963; CCEO, cc. 718-721.
[54] Ibid., cân. 964: “§1. O lugar próprio para ouvir as confissões sacramentais é a igreja ou o oratório. §2. No que respeita ao confessionário, a Conferência episcopal estabeleça normas, com a reserva porém de que existam sempre em lugar patente confessionários, munidos de uma grade fixa entre o penitente e o confessor, e que possam utilizar livremente os fiéis que assim o desejem. §3. Não se oiçam confissões fora dos confessionários, a não ser por causa justa. Cfr. também CCEO, cân. 736 §1.
[55] Ibid., cc. 965-977; CCEO, cc. 722-730.
[56] Ibid., cân. 978, § 2.
[57] Ibid., cân. 978, § 1; CCEO, 732 § 2.
[58] Ibid., cân. 979.
[59] Ibid., cân. 981; CCEO, cân. 732 §1.
[60] Cfr. ibid., cc. 982-984; CCEO, cc.731; 733-734.
[61] Ibid., cân. 988: “§1: O fiel tem obrigação de confessar, na sua espécie e número, todos os pecados graves de que se lembrar após diligente exame de consciência, cometidos depois do batismo e ainda não diretamente perdoados pelo poder das chaves da Igreja nem acusados em confissão individual. §2: Recomenda-se aos fiéis que confessem também os pecados veniais”.
[62] Cfr. ibid., cc. 987-991; CCEO, cân. 719.
[63] João Paulo II, Motu Proprio Misericordia Dei, 3: o.c., 456.
[64] CIC, cân. 986; CCEO, cân. 735.
[65] João Paulo II, Motu Proprio Misericordia Dei, 1b-2: o.c., 455.
[66] Cfr. Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos sacramentos, Resposta Qænam sunt dispositiones a respeito das normas relativas ao momento da celebração do sacramento da penitência (31 de julho de 2001): Notitiæ 37 (2001) 259-260 (EV 20 [2001] n. 1504).
[67] Bento XVI, Carta para a proclamação de um ano Sacerdotal por ocasião do 150º. Aniversário do Dies natalis de São João Maria Vianney, 16 de junho de 2009.
[68] Cfr. ibid.
[69] Ibid.
[70] João Paulo II, Carta aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de 1986, 7: o.c., 695.
[71] CIC, cân. 978 § 1; CCEO 732, § 2.
[72] João Paulo II, Carta enc. Dives in misericordia (30 de novembro de 1980), 9: o.c., 1208.
[73] João Paulo II, Homilia em Maribor (Eslovénia), 19 de maio de 1996.
[74] Bento XVI, Discurso aos Penitenciários (19 de fevereiro de 2007), veja-se também o Discurso de 7 de março de 2008. Os discursos de João Paulo II e de Bento XVI à Penitenciaria oferecem uma catequese abundante sobre o modo de celebrar o sacramento da penitência, encorajando os ministros a viverem-no bem e a ajudarem os fiéis nesta experiência de perdão e de santificação. Além destes documentos já citados, pode-se consultar mais amplamente: Rituale Romanum – Ordo Pænitentiæ (2 de dezembro de 1973); João Paulo II, Carta Enc. Dives in Misericordia (30 de novembro de 1980); Exort. ap. Pós-sinodal Reconciliatio et Pænitentia (2 de dezembro de 1984); Carta ap. Motu Proprio Misericordia Dei, sobre alguns aspectos da celebração do sacramento da penitência (7 de abril de 2002); Penitenciaria Apostólica, O sacramento da penitência nas Mensagens de João Paulo II à Penitenciaria Apostólica - anos 1981, 1989 a 2000 - (13 de junho de 2000); Pontifício Conselho para a Família, Vademecum para os confessores sobre alguns temas de moral relativos à vida conjugal (1997). Nas notas foram citados também os discursos do Papa Bento XVI à Penitenciaria. Vejam-se também: CIC, Lib. IV, parte I, título IV; Catecismo da Igreja Católica, II parte, art. 4.
[75] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 39: o.c., 723.
[76] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 9.
[77] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Optatam totius, 3
[78] Ibid., 8.
[79] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 4: o.c., 663.
[80] Ibid., 40: o.c., 724-725.
[81] Ibid., 81: o.c., 799-800.
[82] Congregação para o Clero, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros Dives Ecclesiæ (31 de março de 1994), 54.
[83] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 18.
[84] Congregação para o Clero, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros Dives Ecclesiæ, 54.
[85] João Paulo II, Carta enc. Veritatis splendor, 115: o.c., 1224.
[86] Ibid. 88: o.c., 1204.
[87] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 78.
[88] No Código de Direito Canônico descreve-se a direção espiritual nos Seminários (cân. 239), nas Casas religiosas (cân. 630), nos Institutos seculares (cân. 719). Vejam-se outros documentos sobre a direção espiritual dos sacerdotes, na vida consagrada, nos Seminários e noviciados, na nota final desta parte, no §134.
[89] Bento XVI, Carta enc. Spes salvi (30 de novembro de 2007), 40: AAS 99 (2007), 1018.
[90] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 11.
[91] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 14.
[92] Cfr. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de dezembro de1988), 59: AAS 81 (1989), 509.
[93] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 14.
[94] Ibid.
[95] Cfr. Congregação para o Clero, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros Dives Ecclesiae, 31 de março de 1994.
[96] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 6.
[97] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de março de 1996), 2: AAS 88 (1996), 378.
[98] Ibid., 30: o.c. 403.
[99] Ibid., 1: o.c., 377.
[100] Ibid., 22: o.c., 396.
[101] Catecismo da Igreja Católica, 916; cfr. CIC, cân. 573.
[102] Ibid., 932.
[103] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 6.
[104] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 31.
[105] São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, 10.
[106] Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 94.
[107] Ibid.
[108] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 1.
[109] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 31.
[110] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 4.
[111] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 31.
[112] Ibid., 33.
[113] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 29; cfr. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici, 7-8, 15, 25-27, 64: o.c., 403-405, 413-416, 436-442, 518-521.
[114] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22.
[115] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 3; Optatam totius 11; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 43-44, 72: o.c., 731-736, 783-787; Diretório para o ministério e a vida dos Dives Ecclesiae, 76.
[116] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Optatam totius, 11.
[117] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, 1, 8 ad 2.
[118] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 76.
[119] João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 40: o.c., 725.
[120] A propósito: Congregação para a Educação Católica, Orientações educativas para a formação ao celibato sacerdotal (11 de abril de 1974); Diretrizes sobre a formação dos seminaristas acerca dos problemas relativos ao matrimônio e à família (19 de março de 1995); Instrução acerca dos critérios de discernimento vocacional relativo às pessoas com tendências homossexuais, em vista de sua admissão ao Seminário e às Sagradas Ordens (4 de novembro de 2005): AAS 97 (2005), 1007-1013; Orientações para a utilização das competências psicológicas na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio (29 de junho de 2008).
[121] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Optatam totius, 14.
[122] João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de dezembro de 1990), 24: AAS 83 (1991), 270-271.
[123] Sobre a direção espiritual, além dos documentos já citados, consulte-se: Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 9; 18; Decr. Optatam totius 3; 8; 19; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 40; 50; 81: o.c., 725, 747, 799-800; Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata, 21; 67; 46: o.c., 394-395, 442-443, 418-420; CIC, cc. 239; 246; Congregação para o Clero, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros Dives Ecclesiae, 39, 54, 85, 92; Congregação para a Educação Católica, Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (19 de março de 1985), 44-59; Carta circ. sobre alguns aspectos mais urgentes da formação espiritual nos Seminários (6 de janeiro de 1980); Diretrizes sobre a preparação dos educadores nos Seminários (4 de novembro de 1993), 55; 61 (diretor espiritual); Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Diretrizes sobre a formação nos Institutos Religiosos Potissimum Institutioni (2 de fevereiro de 1990), 13; 63: AAS 82 (1990), 479; 509-510; Partir novamente de Cristo: um renovado empenho da vida consagrada no terceiro milênio (19 de maio de 2002), 8; Congregação para a Evangelização dos Povos, Guia da Vida Pastoral para os Sacerdotes diocesanos nas Igrejas que dependem da Congregação para a Evangelização dos Povos (1 de outubro de 1989), 19-33 (espiritualidade e vida sacerdotal).
[124] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 11.
[125] João Paulo II, Carta aos sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de 1986, 7: o.c., 695.
[126] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 12.
[127] Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 76.
[128] Ibid., 77.
[129] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 22.
[130] Ibid.
[131] João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio, 92: o.c., 339.
[132] Ibid.